Maus presságios



~ Capítulo 4 ~ Maus presságios ~

"E depois que todas as penas caírem e as asas se desfazerem?"

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- Lily!

Lílian apertou os olhos sem querer acordar. Queria se vingar, queria se perder em desespero insano, qualquer coisa era melhor que voltar àquele mundo de impotência.

- Lílian! - dessa vez se sentiu sacudida pelos ombros e abriu os olhos. Por alguns instantes, pensou que não tinha aberto, estava tudo tão escuro que quase nem fazia diferença estar de olhos abertos ou fechados.

Divisou no meio da penumbra um tênue facho de luz refletida por lentes e reconheceu Tiago. Ele não estava morto, não havia luz verde ou risada assustadora, tinha sido apenas mais sonho... Devia estar ficando maluca, paranóica, estavam em segurança no acampamento, não tinha como Voldermot lhes fazer mal debaixo das barbas de Dumbledore.

- Foi um pesadelo. Devo ter pegado no sono... - murmurou, esfregando os olhos.

- Lumus - uma faísca brilhante surgiu da ponta da varinha de Tiago, iluminando seu rosto de baixo para cima, imprimindo sombras bizarras em seu rosto pálido e cansado. - Você está bem? Você estava chorando...

Lílian meramente sacudiu a cabeça positivamente, logo antes de ouvirem alguém gritar para apagar a luz. Tiago murmurou o feitiço para apagar a varinha e abraçou a esposa com força, fazendo-a se erguer da cadeira onde estivera sentada junto ao posto de vigilância.

- Vamos, Dumbledore quer falar com a gente...

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- Você não pode andar mais rápido com isso?

- Posso, mas aí faria disparar os alarmes, você quer isso?

Ouviu-se um resmungo baixo junto à porta de ferro enferrujada, abafando os sussurros desconexos e o farfalhar proveniente de repetidos movimentos de varinha. Mas não havia nada visível lá. Eram só as vozes sendo jogadas no ar pelo vazio.

- Shhhh...

- Pra você é fácil dizer, não tem usar essa capa. Tem idéia de como está quente aqui em baixo?

- A culpa é sua se não está usando um feitiço desilusório.

- Você sabe que eu odeio essa sensação... essa coisa de ser desiludido...

- Certo, certo, pare de reclamar, acho que já descobri.

- Finalmente!

Um rapaz se materializou exatamente no lugar de onde vinham as vozes. Começando pelos revoltos cabelos negros, os olhos emoldurados por óculos redondos, o corpo metido numa capa de viagem marrom, foi surgindo como se estivesse sendo derramado perante àquela porta de ferro.

- O que você está fazendo? - perguntou a voz ainda sem corpo.

- Não vou precisar dela aí dentro - responde o rapaz.

- Como você pode saber? - nesse momento, ouviu-se um barulho semelhante a um choque seco entre pedaços de metal. O barulho se repetiu e continuou a soar num ritmo cada vez mais eloqüente, até a porta de ferro rolar para o lado, revelando um corredor completamente escuro.

- Eu não disse? - perguntou ele, apontando para a escuridão, tão intensa que parecia impossível enxergar mais que alguns palmos à frente do nariz. - Finite encantem - o jovem brandiu a varinha e uma jovem se materializou à sua frente. Os cabelos vermelhos esvoaçando para fora do capuz da capa e os olhos verdes intensamente brilhantes.

- Ainda acho perigoso ficarmos visíveis assim... - disse ela.

- Não tem peri... - mas ele não pôde terminar seu comentário. Vários estalos ecoaram na clareira onde se encontravam e jorros de luz correram em todas as direções iluminando tudo. Ele agarrou a mão dela e entraram correndo no túnel, sob uma saraivada de rajadas coloridas.

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- Acha que nos seguiram? - perguntou Lílian num sussurro, estava lívida e sem fôlego e apertava o braço contra as vestes tingidas de sangue ressequido.

Depois de correrem por horas num túnel que levava supostamente a um nicho de cavernas subterrâneas onde Comensais tinham improvisado masmorras para os prisioneiros, Lílian e Tiago tinham achado uma saída, bem no meio do campo de batalha onde eram travados centenas de duelos simultâneos entre o exército de Voldermot e a Ordem da Fênix. A confusão era tamanha que eles mesmos não sabiam de que lado vinha o fogo inimigo.

Estavam numa espécie de estrada cercada por paredes resistentes que um dia servira de trincheira durante a Guerra dos Gigantes no século XIII e a 87ª. Revolta dos Duendes. Todo o ar ao redor estava parado e gélido, provavelmente havia dementadores por perto. Assobios eram ouvidos vindos de todas as direções, o ar acima de suas cabeças era continuamente cortado por faíscas multicoloridas, bolas de fogo ardente, sombras agourentas e ondas de impacto barulhentas.

- Acho que nem eles são malucos a ponto de vir pro meio desse fogo cruzado - falou Tiago, infeliz, seu rosto se contorcendo numa careta de dor. Se apoiava na parede, equilibrando-se num só pé. A canela erguida estava ligeiramente fora de alinhamento com o resto da perna, efeito de um potente golpe de bastão de um trasgo que o atacara de surpresa na fuga desenfreada. Para a sua sorte, Lílian estava mais atenta, e derrubara o monstro idiota com um feitiço, mas não conseguiu evitar ser atingida por uma azaração que traçara a fogo um corte na altura de seu estômago.

Uma estranha chuva vermelha começou a cair e, por um instante, os dois olharam apalermados para cima, o mesmo pensamento os assaltando simultaneamente: estava caindo sangue do céu?!

Mas sangue não podia queimar daquela maneira, e a substância vermelha dava uma sensação de ardência assim que tocava a pele, deixando uma marca cinzenta que pulsava dolorosamente. Tiago puxou a varinha de dentro da capa e conjurou um escudo protetor. Logo em seguida, ele escorregou para o chão, ainda encostado na parede. Lílian se abaixou ao lado dele, encolhida sobre o abdômen.

- Nós vamos sobreviver, não vamos? - perguntou ela, quase sem voz.

- Claro que vamos - falou Tiago, de olhos fechados. - Lembra do que prometemos? Vamos ficar juntos pra sempre. Vamos morrer bem velhinhos, teremos até bisnetos...

- Você... você vai continuar a me amar mesmo quando eu ficar velha, toda enrugada e não lembrar mais nem da azaração contra bicho-papão? - e sorriu tristemente, piscando para evitar as lágrimas.

- Lílian, você sabe desde quando eu te amo? - ele abriu os olhos e passou o braço pelas costas da esposa, passando os dedos lentamente pela têmpora dela. - Sabe quando eu me apaixonei por você? Foi quando você pegou minha mão na Plataforma Nove e Meia...

- Peguei sua mão?

- Foi... quando pegamos o Expresso no primeiro ano - respondeu ele, corando um pouco ao se lembrar da sensação de olhar dentro daqueles olhos verdes pela primeira vez. - A Marlene estava correndo e me derrubou e você me ajudou a levantar.

- Ah, sim... mas, Tiago, nós tínhamos onze anos!

- E o que isso importa? Da maneira como te amo hoje, eu poderia jurar que te amo desde que nasci, antes disso talvez, e que nunca serei capaz de te amar menos que isso...

Lílian se levantou subitamente, olhando ao redor com os ouvidos atentos. Tivera a impressão de ouvir um rumorejo vindo de uma sombra adiante. Mas não era propriamente uma sombra, e sim algo escuro, tremulante, que se erguia esvoaçando até quase dois metros de altura. Parecia uma enorme capa vazia capaz de planar acima do chão.

Um barulho de vidro trincado atraiu seu olhar para o chão, onde uma poça avermelhada acabara de congelar. O mato ao redor deles, já queimado pela chuva amaldiçoada, agora estava rígido como estalagmites, e até ela mesma sentiu um frio enorme que parecia penetrar seus ossos, paralisar seus pulmões e anuviar seus pensamentos.

Lílian se sentiu tonta e cambaleou, e só não caiu porque Tiago tinha se levantado e a aparou, ao mesmo tempo em que gritava alguma coisa e um raio de luz prateada serpenteou pela escuridão.

"É sua mãe..." a voz da professora Minerva ecoou na cabeça de Lílian. "Ela não está bem..."

Abriu os olhos vagarosamente. Por um instante, teve a impressão de que estava tendo outro pesadelo, mas a dor forte do profundo corte na barriga foi uma prova bem clara de que aquilo era realidade. Tiago estava caído ao seu lado, os braços esticados na tentativa de protegê-la, e foi com alívio que ela constatou que ele continuava respirando.

Lílian pôde ver a sombra se afastando, mas uma outra figura cambaleante se aproximava. Tinha o rosto chupado, a pele colada nos ossos, e os cabelos castanho desciam até os ombros. Sorria maldoso, girando a varinha entre os dedos compridos e finos.

- Ah, o que temos aqui? Pupilos do velho bonzinho... - riu o homem, um brilho demente se acendendo em seus olhos sombrios. - De que adiantou espantar o dementador se vão morrer de qualquer jeito?

Lílian fechou os olhos e, reunindo todas as forças que lhe restavam, murmurou, num fio de voz:

- Avada Kedavra...

Um relâmpago verde perpassou suas pálpebras e ala ouviu o barulho do corpo tombando. Aterrorizada com o que iria ver, Lílian abriu os olhos. O comensal estava caído de borco há poucos passos de distância, morto, os olhos azuis arregalados, vidrados e inexpressivos, a boca escancarada num esgar de surpresa.

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Querida Lily,

Você já está melhor? Fiquei sabendo que você e Tiago se machucaram. Não foi nada grave, foi?

Minha situação aqui não é muito diferente da sua. Tudo está sempre escuro, o céu tem um brilho meio vermelho e às vezes temos até a impressão de que vai chover sangue, Moody acha que estão preparando algum truque pra nos assustar. Nenhum fogo parece suficientemente quente e também é difícil manter acesos mesmos as fogueiras mágicas.

Minha avó me escreveu dizendo que vai pedir ajuda à ordem para proteger a mansão da família. Está dando um monte de coisas para amigos guardarem, diz que não quer as mãos nojentas de nenhum Malfoy nos seus quadros renascentistas e na sua louça da dinastia Ming pintada à mão e não sei mais o quê. Ela tem falado em reunir a família e levar para algum abrigo, mas não acho que seja uma boa idéia. A maior parte das minhas tias ia simplesmente atrapalhar tudo com suas manias de elites da sociedade e auto-aclamação. Espero ansiosamente que minha prima Natália complete onze anos e vá para Hogwarts, pelo menos assim vou ter certeza que ela vai estar segura.

Remo tem agindo tão estranhamente quanto possível. Anda sempre à minha cola como uma sombra, tentado me convencer a voltar pra casa. Ele diz que não preciso ficar aqui, que pode lutar por mim, ele quer fazer tudo por mim. Ontem acordei com um barulho de explosão, fiquei tão assustada que nem reconheci onde estava. Remo entrou na barraca derrapando e disse que ia ficar comigo. Por que ele sempre faz isso, Li? Ele gosta de me ver sentir culpa? Amar alguém que ele sabe que não o ama, ou pelo menos, não o ama da mesma forma, diminui de alguma forma os outros sofrimentos dele? Ele se sente altruísta quando coloca o meu bem estar acima do dele e isso o ajuda a se sentir em paz consigo mesmo?

E eu sei que ele precisa disso. Remo pode parecer, mas não é mais forte que nós. Convive com um sofrimento muito grande desde criança, mas não ficou dormente às pressões que nós sentimos. Ele quer me usar, Lílian, quer me usar pra deixar de sentir medo. Se eu permitisse que Remo lutasse por mim, ele poderia seguir sem medo, porque saberia que está protegendo a pessoa que ama.

Por que eu não posso fazer isso? Por que eu não posso lutar pela pessoa que amo e, com isso, deixar de ter medo? Eu sei, você vai dizer que eu escolhi assim e é a mais pura verdade. Mas se eu tivesse escolhido diferente, talvez estivesse na mesma situação, já que o Sírius não é exatamente alguém que aceite ser protegido.

Vivemos num mundo tão desfigurado pela guerra que as maiores tragédias começam a parecer totalmente naturais. Héstia Jones perdeu os pais há duas semanas e ontem se juntou a Caradoc Dearborn numa bebedeira descontrolada, acabaram caindo num fosso. Tivemos que pescar os dois de lá com duas vassouras transfiguradas e ela passou o resto da noite chorando desconsolada no meu ombro.

Eu não consigo chorar. Três primos meus morreram e eu não consegui derramar uma única lágrima. Você lembra se eu chorava em Hogwarts? Remo disse que não se lembra e também me elogia por ser tão forte, mas eu me sinto mais fraca que nunca. Parece que os golpes me atingem e param em mim, nunca passam e eu nunca consigo chorar.

E eu também quase não sonho. Pra dizer a verdade, praticamente não durmo. Sturgis diz que vou ficar doente, está o tempo todo empurrando para mim poções fortificantes, mas dia após dia eu me sinto definhar em desesperança. Eu queria conseguir buscar consolo quando preciso. Mas, talvez porque eu tenha sempre guardado pra mim tudo que sentia, hoje não consigo simplesmente abraçar uma pessoa e chorar.

Há dias Remo perguntou o que eu queria fazer quando a guerra acabasse. Eu respondi que queria esquiar. Sei que é coisa de trouxas, mas eu sempre quis experimentar. Ele olhou pra mim com uma cara estranha, me encarando como se eu tivesse dito algum absurdo, e disse que não estava brincando. Eu também não estava, oras, tudo bem que esquiar pode não ser a coisa mais fantástica e excitante do mundo, mas não precisava também desprezar...

Ele não se conformou com a minha resposta e saiu da barraca sacudindo a cabeça e resmungando. Só mais tarde me ocorreu que ele estava falando de algo bem mais amplo, planos de verdade, objetivos de vida. Então, esquadrinhando meus desejos e meus anseios atuais e da época de estudante, cheguei à conclusão de que não sei o que vou fazer depois da guerra. Meu calendário mental chega apenas até o dia em que vamos poder dormir em paz de novo, em camas limpas e macias e sem culpas. Nada além disso.

Há alguns meses Dumbledore nos pediu para fazer a segurança na Plataforma nove e meia para o fim do ano letivo em Hogwarts, lembra? Tenho pensado muito naquele dia e me lembro de ter ficado impressionada com o tamanho de algumas daquelas crianças. E pensar que nós chegamos a ser tão pequenos assim, demos risadas gostosas como aquelas e enchemos os bolsos de ovas de sapo... Deus, as crianças aqui nem mesmo olham direito umas para as outras, parecem estar de luto e cada risada ecoa como uma ofensa à dor coletiva...

Como eles vão viver, Lílian? Vão se espremer em acampamentos de apoio gélidos e chorar quando ouvirem feitiços incendiários cruzando os céus? Vão viver num mundo já pacificado, mas traumatizado pela guerra?

Não sei, mas espero sinceramente que eles pelo menos tenham a chance de viver alguns de seus sonhos antes de perderem a crença na vida. Eu te invejo tanto por poder se prender a Tiago como se fossem um só apesar de tudo...

Eu queria ser um só com Remo. Mas não, somos apenas dois e infinitamente mais frágeis que vocês. Esse sentimento tem me feito sonhar com Sírius. Acordo com um pulo e, assim que consigo finalmente reorganizar meus pensamentos, encostou a mão nos lábios, incrédula, pois quase ainda sinto a sensação de lábios quentes colados aos meus. Remo pergunta se estou me sentindo bem porque meu rosto está vermelho, e se oferece para me levar a um curandeiro do acampamento. Eu digo que não é nada, mas sinto que ele lê algo nos meus olhos e sabe exatamente o que acontece.

Eu queria poder dizer a ele que nunca vai acontecer, isso é, eu deixá-lo para seguir esse sonho idiota. Não vale a pena. Sei que o que tenho com Remo é muito mais especial, uma grande e verdadeira amizade mais completa e profunda que qualquer amor estúpido que eu possa sentir por Black.

Droga, se eu tivesse minha varinha aqui, apagaria esse parágrafo de cima todinho. Tive que deixar ela com Frank, ele vai tentar consertar uma rachadura no cedro que expôs o cerne de pêlo de unicórnio. Bom, simplesmente ignore que eu escrevi, foi uma grande bobagem. Que sentimento pode ser mais completo e profundo que o amor?

Saudades,

Marlene.

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Mto obrigada pelos comentarios: Adriana Potter, Ameria Asakura Black (eu resolvi escrever qd li um topic do animagos pedindo sujestões d fics T/L com eles casados, + kuase naum tm u.u), Bárbara (eu vou ler sua fic, assim q acabar minhas provas, ok?) e isa potter (c eu naum postar o cap no sabado pode ter certeza q foi pq esse pc vagal deu pau d novo -_-")
Pra qm tah c perguntando qd o Harry vai entrar na historia, vai ser logo, pra dar uma pausazinha no drama q tah d+ ^-^y

Bjins e teh + o/

Bel_Weasley.

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