Epílogo



Eu sou você e você é meu
E o tempo... desaparecerá


Sete anos depois

As estações haviam passado. Folhas haviam caído de árvores, bosques se encheram de flores, neve cobriu as casas, o sol brilhou intensamente no céu.

E ela crescia. Seus cabelos loiros não escureceram nem um tom, e seus olhos continuavam belos como no dia em que nasceu.

Não tinha muitas amigas; passava os dias desenhando paisagens. Morros, campos, jardins. Os desenhos não eram uma obra-prima – ela sabia disso. E continuava.

Era uma menina quieta em todos os sentidos. Não sorria muito, mas, quando o fazia, parecia que iluminava o ambiente ao seu redor.

Mas, naquele dia, não foi assim. Bárbara chegou e subiu quase correndo para o quarto. Da sala, Draco se esticou na cadeira e franziu a testa, intrigado. Cinco segundos depois, ela desceu à toda carregando papel e canetas.

Passou toda a tarde sentada numa cadeira grande demais para a sua pequena altura, espalhando arte abstrata pela mesa. Mas estava estranha.

Perto da hora do jantar, ela largou a caneta vermelha de repente. Saltou da cadeira e foi até Draco, puxando sua camisa para chamá-lo.

“- Pai?”

Ocupado em pegar uma pasta no fundo de uma instante, ele não viu os olhos levemente avermelhados. Mas ouviu a voz embargada. Virou-se com quatro pastas nas mãos, alarmado.

“- Sim?”

“- Eu sou adotada?”

A surpresa pela pergunta fez com que todas as pastas caíssem no chão. Draco mal percebeu.

“- O quê?”

A menina rompeu em lágrimas e abraçou a pai pela cintura.

“- Foi a Madison que disse!”

Perdido, Draco a fez sentar no sofá e enxugou as lágrimas que caiam pelo rosto pálido.

“- Quem é Madison?”

“- Madison Granger-Weasley” – explicou Bárbara entre soluços – “A mãe dela está com um bebê dentro da barriga. E ela falou que só mamães podem ficar com bebês na barriga.” – levantou os olhos – “Então, se eu tenho dois papais, só posso ser adotada.” – outro soluço.

Draco olhou nervoso para os lados, pensando numa forma de explicar aquilo. Respirou fundo e começou.

“- O que a Madison falou não é verdade.”

Ela encarou-o com os olhos cheios de lágrimas.

“- Ela está mentindo?”

“- Não, querida, não é mentindo. Ela apenas não sabe direito das coisas.”

Bárbara fungou.

“- Mas... eu sou adotada?”

“- Não, você não é.”

“- Mas eu não tenho uma mamãe que me gerou. Tenho?”

Draco engoliu em seco.

“- Não... na verdade, papais também podem ficar com bebês na barriga.”

Ela encarou-o, desconfiada.

“- Verdade?”

“- Verdade.”

Ficaram em silêncio alguns segundos.

“- Eu fiquei na barriga de quem?”

Draco teve vontade de rir.

“- Minha.”

“- Então você foi a minha mamãe” – raciocinou Bárbara. Draco ruborizou.

“- De certa forma...”

Ela parecia encantada. Passou a mão no rosto para limpar as lágrimas.

“- Eu lembro que a tia Pansy explicou para mim e Matt que o papai coloca a sementinha na barriga da mamãe, aí o bebê cresce e, quando fica forte, pode sair.” – disse ela, pensativa. Fez uma pausa. “- Mas como o papai coloca a sementinha na mamãe?”

Draco olhou para o teto por algum tempo antes de responder.

“- Bem, os adultos... os adultos sabem, filha.”

“- É coisa de adultos?”

“- Isso.”

Bárbara não pareceu muito satisfeita com a resposta. Depois de alguns segundos, não conseguiu segurar a curiosidade:

“- Como foi que papai colocou a sementinha em você?” – perguntou, inocente.

Draco foi salvo da necessidade de responder pela chegada tempestuosa do marido pela lareira.


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Ele estava escondendo alguma coisa. Sete anos de casados o haviam ensinado que havia sinais absolutamente claros que Draco estava escondendo alguma coisa.

O mais claro deles era, sem dúvida, que ele parecia desconfortável e tenso quando ficavam juntos. Era necessária muita conversa, beijos e agrados para que ele dissesse o que estava acontecendo; na maioria das vezes, eram coisas ridículas. Mesmo após tantos anos, Draco continuava a ser uma pessoa muito fechada.

Com os dedos entrelaçados aos dele, ele contava o que acontecera poucas horas antes. Harry se esforçava para não rir.

“- Ela perguntou como os bebês são feitos, então?”

“- Não...” – corrigiu Draco – “... ela perguntou como foi que você colocou a sementinha em mim.”

Harry deu uma risada.

“- E o que você respondeu?”

“- Nada. Você desabou na minha frente no segundo seguinte!” – Harry fechou a cara.

“- Foi apenas um erro de cálculo.” – Draco revirou os olhos ceticamente.

“- Sei...”

Harry achou que era melhor mudar de assunto.

“- Então foi por isso que ele me perguntou depois do jantar se ela podia ter um irmãozinho?”

Draco se apoiou nos cotovelos e o encarou, surpreso.

“- Ela perguntou isso?” – Harry assentiu com a cabeça – “O que você respondeu?”

“- Que iria falar com você”. – respondeu ele em voz baixa. Draco ficou em silêncio.

Depois que Bárbara cresceu mais um pouco, ele começara a pensar seriamente em ter mais um filho com Draco, ou até dois. Mas depois de pesquisar um pouco, veio o balde de água fria; só ela ter nascido perfeita já era quase inacreditável. As chances dela de ganhar um irmãozinho ou irmãzinha eram praticamente nulas, segundo vários livros velhos e empoeirados que Harry desencavara de inúmeras estantes. Acabara se conformando com a idéia que ela seria mesmo sua única filha.

Ou pelo menos era isso que ele pensava.

“- Eu preciso contar uma coisa.”

Harry o encarou. Draco não esperou resposta:

“- Na verdade, eu não tenho certeza. É melhor que...”

“- Diga...” – pediu Harry, curioso. Draco olhou para a parede.

“- Pode ser só paranóia minha, sabe.” – olhou para o teto – “Mas andam acontecendo coisas estranhas.”

“- Como...”

Draco respirou fundo.

“- Semana passada, eu passei mal. E pouco depois, eu... vomitei.”

“- Você está doente e não me...”

“- Então, há uns três dias, eu quase desmaiei.” – prosseguiu ele, como se não tivesse ouvido Harry reclamar – “E estava muito enjoado. E comecei a me lembrar de algumas coisas que aconteceram e pensei na possibilidade de estar... você sabe.” – pausa de alguns segundos – “De novo.”

Harry arregalou os olhos. Draco não conseguiu evitar um risinho antes de continuar:

“- Eu fui ao St. Mungus hoje. Mas como você pediu para que eu voltasse para casa antes do almoço, não pude saber com certeza se...” – não terminou a sentença. Harry grudou os lábios ao seus, e, quando se separaram, ele sorria de orelha a orelha.

“- Você tem certeza?”

“- Certeza absoluta, não. Não consegui fazer o exame.”

“- O que você acha?”

Ele encarou por alguns segundos os olhos verdes brilhantes antes de responder.

“- Eu acho que sim.” – Harry deu outro grande sorriso e o beijou na testa.

“- Vamos contar à Bárbara?”

“- Amanhã, ela está dormindo! E... porque você está me olhando assim?” – Harry piscou inocentemente.

“- Nada, só estava pensando em perguntar de quanto tempo você está.” – Draco o olhou desconfiado.

“- Não sei, já falei.”

“- Então, pode ter sido naquele dia em cima da pia do banheiro?”

Draco ruborizou intensamente.

“- Talvez.”

“- Estou ficando bom em fazer filhas em você em banheiros.” – comentou ele.

“- Não necessariamente filhas. Pode ser menino dessa vez.” – Harry tirou alguns fios de cabelo da seu rosto.

“- Pode ser.”

“- Você quer outra menina?”

Harry levantou sua camisa e acariciou suavemente sua barriga com os dedos. Draco estremeceu.

“- Ficarei feliz se for saudável. E vou amar exatamente da mesma forma.”

E ele sabia que era verdade.


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Era de noite quando ela entrou no quarto dos pais. Como em muitas outras noites, subiu na cama e se aconchegou no meio deles. Nunca contaria que fazia isso a ninguém; não era mais bebê para dormir junto com seus papais.

Mas que era bom, era.

Ela sabia que tinha algo diferente. Talvez fosse pelo leve sorriso de um deles. Ela sabia que estavam felizes.

Quando acordassem, seria sábado. Poderia até convencê-los a fazer um irmãozinho para ela. Ou uma irmãzinha. Fechou os olhos e adormeceu, sorridente.

O dia seguinte seria muito, muito bom.

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