Sweetest Goodbye



Tudo havia passado muito depressa.

A aula de Poções. O que era um simples enjôo se transformou numa dor de proporções imensas. Em segundos.

Ele se lembrava vagamente de uma explosão. De alguém, provavelmente Harry, o carregando. Da enfermaria. Daquele cheiro terrível. E depois, a escuridão.

E, então, Bárbara. Ele não esperava que fosse tão pequena. Ele não esperava que dormisse tanto. Ele não esperava que mamasse tanto. Ele não esperava... ele não esperava muita coisa.

E elas haviam acontecido.

Draco estava sentado em uma das camas da enfermaria, esperando passar aqueles que seriam seus últimos minutos em Hogwarts. Haviam conseguido tirar suas coisas da masmorra sem chamar muita atenção. O malão, com roupas, materiais e livros estavam encostadas no lado da cama. As coisinhas de Bárbara também estavam lá, numa bolsinha.

E, nos seus braços, sua filha. Estava semi-adormecida, os olhinhos violetas e verdes abrindo e fechando, preguiçosos para manter-se abertos.

Com apenas alguns dias naquele mundo, já teria que fugir. Já estava em risco. Draco apenas esperava que aquilo não durasse para sempre.

Seria demais para ele. E para ela também.

Ouviu uma porta se abrindo e um suave barulho de sapatos. Um pigarrear que ele conhecia. Pelo visto, os minutos que ele pedira a Pomfrey haviam se acabado.

“- Sr. Malfoy?” – hesitou alguns instantes antes de se virar.

“- Está na hora?”

“- Quase. Antes, alguém quer vê-lo. Pode entrar.” – chamou, referindo-se a outra pessoa que estava do lado de fora. Um garoto com uma capa por cima do pijama entrou.

Draco não conseguiu evitar uma risadinha. Ele era mesmo incrível.

“- Vou deixá-los sozinhos. Por alguns minutos” – acrescentou Pomfrey, franzindo as sobrancelhas de forma não muito amigável, pouco antes de sair pelo mesmo lugar que entrara, fechando a porta.

Bárbara bocejou.

Harry adiantou-se uns passos. Draco levantou-se, dando a volta na cama e chegando mais perto dele.

“- Por que veio?” – perguntou o sonserino, os olhos prateados relampejando.

“- Eu precisava... sabe... me despedir.” – murmurou o outro, quase como num pedido de desculpas. Draco relaxou a expressão e deu um meio sorriso.

“- Pensei que já que tivéssemos feito isso, oras! De noi... ”

“- Draco, você começou a chorar.”

O loiro desviou o olhar, corando.

“- Bem, eu... eu...”

“- Eu sei.”

De repente as palavras pareceram que sumiram. Draco continuava vermelho. Harry adiantou-se e levou a mão ao rosto do outro, fazendo uma leve carícia.

“- Eu sei. Eu também tive... tive vontade de chorar.” – confessou – “ Mas... olha, é pouco tempo. Daqui a quinze dias vamos estar...”

“- Eu sei disso. É que... eu ando muito sensível, droga.”

Harry deu uma risadinha e aproximou-se ainda mais.

“- Você nem chorou tanto assim.”

“- Eu fiquei com o rosto vermelho.”

“- Não ficou, Draco.”

“- Eu sei que fiquei.”

Harry viu que não valia a pena começar uma discussão. Abraçou-o, tomando cuidado com o bebê.

“- Vai ser pouco tempo. 15 dias passam depressa.”

Draco apoiou a cabeça no seu ombro, lágrimas teimosas tentando cair.

“- Para você, talvez. Para mim, vai ser ...”

“- Hum, hum.”

Madame Pomfrey voltara. Estava agasalhada e parecia com um pouco de pressa. Os garotos se separaram. Bárbara começou a abrir os olhinhos.

“- Sr. Malfoy, vamos. O trem está pronto.”

A respiração de Draco foi profunda e irregular. Estava claramente nervoso. Harry acariciou rapidamente a testa da filha, e depois encarou Draco. Beijou-o suavemente, lábios encostando-se apenas por alguns instantes.

“- Não vou dizer adeus, porque isso não é uma despedida.”

Draco engoliu em seco.

“- Não é?” – insistiu Harry.

“- É. Eu sei que não é.”

Mas suas palavras não foram o reflexo do que realmente sentia. Madame Pomfrey fez um feitiço de levitação nas malas, aguardando.

Draco finalmente desviou o olhar e foi para a porta, deixando um Harry plantado na enfermaria. Ele não olhou para trás nenhuma vez. Isso apenas tornaria as coisas mais complicadas. Com passos apressados, chegou rápido no corredor. Ele não viu quando Harry sentou-se numa cama e encarou o teto, sem realmente olhá-lo, um sentimento de saudade antecipado crescendo rápido no peito, junto com outro, mais forte e confortante.

Se aquilo não era amor, ele não sabia o que era.

Lágrimas começaram a escorrer das esmeraldas.


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“- Aqui estamos, Sr. Malfoy.”

Pomfrey ajudou a colocar as malas na cabine, encarando Draco com uma expressão muito estranha no rosto. Aquilo estava começando a incomodar.

“- Pronto. Agora...”

“- Madame Pomfrey?”

“- Sim?”

“- Por que está me olhando assim?”

A enfermeira observou cuidadosamente o jovem pai. Piscou nervosamente.

“- Nada que importe.”

“- Eu me importo.”

Silêncio. Bárbara remexeu-se nervosamente nos braços de Draco.

“- Bem... eu não queria me intrometer, mas...” – tomou coragem – “Eu ando observando você muito, Draco. E, agora, sei que há alguma coisa que o incomoda profundamente.”

Pausa.

“- Eu apenas acho que... não deve temer. No final, tudo dá certo. Mesmo que não seja da forma como planejamos.” – encarou Draco de uma forma curiosa, quase maternal – “ Bem, agora tenho que ir. O trem já está para partir. Boa noite.”

E se foi, os sapatos fazendo um suave ruído no silêncio do trem. Draco virou-se para a janela e deixou seu olhar se perder na noite.

Por mais que quisesse, as palavras de Pomfrey não haviam deixado-o mais tranqüilo. Ao contrário: ele estava cada vez mais apreensivo.

Ele estava com uma intuição de algo ruim estava para acontecer. Sua intuição nunca havia errado.

Ele rezava para que fosse a primeira vez.


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O relógio da estação de King´s Cross batia 13:00 quando Draco chegou. Estava completamente deserta, com exceção de um homem com vestes remendadas que consultava o relógio a intervalos regulares.

Remus Lupin.

Os olhos do ex-professor percorriam toda a extensão do trem que havia acabado de parar, esperando que um estudante sonserino, ou melhor, um ex-estudante sonserino, descesse com um bebê no colo. O sonserino era no caso Draco Malfoy, e o bebê que ele carregava era sua filha com ninguém menos do que Harry Potter.

Se Dumbledore não tivesse um com um ar incomum de seriedade quando comunicara a Lupin que Draco se refugiaria em Largo Grimmauld, ele teria julgado que era tudo uma piada típica do senso de humor estranho do diretor. Mas, infelizmente, os tempos não estavam para piada.

Lupin ainda não entendia como é que duas pessoas tão opostas como Harry Potter e Draco Malfoy tivessem se aproximado a ponto de fazerem um filho. E, o que era mais intrigante, em tão pouco tempo.

Ele não era de perguntar sobre a vida alheia. Mas tinha que confessar que estava curioso sobre isso. Bem curioso.

Seus pensamentos vagueavam um pouco, mas ele percebeu imediatamente quando um garoto loiro um pouco desajeitado, com uma bolsinha pendurada no ombro e com um embrulho nos braços desembarcou na estação parecendo ligeiramente perdido.

Lupin mais do que depressa foi até ele.

“- Draco” – cumprimentou, com um aceno de cabeça. O garoto pareceu surpreso com a polidez. Também não sabia exatamente como tratá-lo.

“- Profe..., digo...”

“- Pode me chamar de Lupin.” – apressou-se. – “- Suas coisas estão no trem?”

“- Sim... elas estão na primeira cabine à direita. Mas eu...”

“- Não se incomode, eu vou buscá-las. Não deve se esforçar” – acrescentou, já subindo no trem.

Draco estava espantado. Seu ex-professor, o homem que ele havia falado mal pelas costas, e até mesmo abertamente, durante um ano inteiro, estava o tratando com educação, como se nada tivesse acontecido. Ele esperava algum tipo de frieza, mas... fora absolutamente normal.

Surpreendente.

Bárbara começou a choramingar no seu colo, incomodada com a claridade. Enquanto cobria seu rostinho, Draco começou a lembrar-se o motivo pelo qual estava ali. Não conseguiu evitar de pensar que era uma espécie de exílio. E a sensação de apreensão voltou.

“Droga, pare com isso. É apenas uma maldita intuição errada.”

No momento em que Lupin saia do trem com seu malão flutuando atrás, resolveu enterrar o pensamento de que suas intuições nunca estavam erradas. Lembrar da frase de Pomfrey era melhor:

“No final, tudo dá certo. Mesmo que não seja da forma como planejamos.”

Mas algo lhe dizia que ia acontecer muita coisa antes do final.

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