Confissões L/T






Autora:
Gabrielle L.


Título: Confissões

Shipper:
 Lupin/Tonks

Resumo:
 Em algum lugar ao norte de Londres em Novembro de 1997, Lupin escreve em um papel tudo que stava escondendo de sua amada.


Confissões, por Remo Lupin



Sinto como se fosse fazer algo péssimo. Eu sei. Mau pressentimento. Mas sabe quando, apesar de ruim, isso parece inescapável? ...Não, não é inescapável. Tenho de confessar, afinal, que me atrai de uma maneira... Ardil? Dissimulada? Mesquinha? Não sei um adjetivo que caiba. Não é algo imenso. Não. É algo, talvez, mínimo. Um detalhe. Que tem me perturbado toda a paz.


         Você conhece a minha decisão; e eu continuo certo dela. Mas eu não consigo me contentar com o modo como deixei as coisas – o modo como deixei, veja bem. Cada dia de todos esses meses tem me consumido de modo anormal, pelo fato de eu simplesmente não saber como lidar com essa situação. Eu entendo que não é nada digno simplesmente evitar você, mas também não saberia como me comportar se ainda nos víssemos normalmente.


         Porque, no fundo, eu não saberia mais o que argumentar. É lógico perceber que nós não tínhamos um futuro (...?). Eu não tenho um futuro (!). Então, não pretendo furtar o seu. Só que... Ao mesmo tempo, é tão inexplicável que seja como é. É simplesmente frustrante. Haver em mim esse “é” perene, incômodo... atemporal.


         Eu não posso dizer que não significou nada ou que eu não sinto sua falta. Eu estaria mentindo. Sinto. Sobretudo, sinto falta de não precisar te explicar. E é sombria a certeza que tenho, cada vez mais concreta, que ninguém vai (me) entender como você.


         Mas, afinal, não voltaremos a nos falar – eu não vou desistir do meu esforço em lhe manter a uma distância segura. E é isso o mais imbecil em te escrever agora. Eu tenho encarnado todo esse paradoxo. Porque eu tenho tentado. Contudo, eu não consigo. Deixar. Você. Não consigo deixar de querer saber de você. De sentir uma horrível curiosidade de saber de que cor se tingiriam seu cabelos ao ler essas minha palavras. Ou o que você está fazendo, pensando, sentindo... Talvez você mereça saber da verdade, ou de alguma verdade, ao menos. E talvez você saiba o que fazer com tudo isso. Porque eu não sei.


         Eu não quero parecer covarde, como se estivesse fugindo. Apesar de não me importar com o que pareça. E de já o ser... Só que agora, não sei claramente do que estou fugindo e onde estou me refugiando. Eu nunca me senti tão incapaz de discernir o certo do errado, tão incapaz de compreender o que há dentro de mim mesmo.


         Me pego, às vezes, imaginando qualquer motivo pra aparatar próximo a sua casa e, quem sabe, lhe apreciar de longe. Será que perceberia a minha presença? Não sei até que ponto isso é vaidade: mas me pergunto se você pensa em mim, se lembra, o que lembra. Queria só uma daquelas nossas conversas abstratas nas quais nós sabemos nos perder e fingir tão bem... Um pedaço seu, puro e abstinto de riscos.


         E volto a mim com um baque: os riscos. Há uma razão maior que nos exclui. Você é simplesmente irreal pra mim. E eu sou, pra você, como já lhe expliquei inúmeras vezes. Além disso, há uma guerra lá fora, há dor e medo, esfregando a realidade em nossas faces: é insano ignorar todos esses perigos – ou atraí-los para ainda mais perto (!). Mas é ardilmente tentador condescender a essa irrealidade e ser parte integrante do seu mundo, porque ela, no fim das contas, tem todos os traços e cores do mundo paralelo que eu pensava, quando jovem, em construir pra mim. Agora penso que não foi exatamente saudável ter descoberto o quanto estive próximo... Não há como escapar à verdadeira natureza das coisas.


         Eu gostaria muito de mandar pro inferno a verdadeira natureza das coisas, como você sempre faz quando eu lhe digo isso. Eu gostaria, pequena. Mas sempre que os vejo, animalescos, sanguinários... Eu deveria lhe trazer aqui, porque você finalmente perceberia. Mas só de pensá-la há quilômetros desse lugar, já sinto um instinto selvagem de proteção. Então, eu sei, não posso deixá-la com um lobisomem. Eu simplesmente não posso fugir da minha própria natureza. 


         Como tudo em mim ultimamente, isso aqui não tem uma conclusão. Eu não sei como dar conclusão a isso. Mas eu desejo, desejo com tudo em mim, de que tenha, de alguma forma. Como quando gostaria de que meu silêncio dissesse coisas ou que uma única palavra pudesse explicar tudo. Desejo veementemente de que isso seja conclusivo pra você e pra mim, de qualquer forma. E gostaria de saber do futuro e de poder ficar em paz. Porque eu desejo, muito mais que a minha, a sua paz e felicidade.


         Cada uma dessas letras exigiu um esforço exaustivo, a pena me pesando uma tonelada. E não faço a mínima idéia do que pretendo com isso. Talvez seja a coisa mais imbecil que eu já tenha feito, em todos os meus dias. Talvez eu seja o maior idiota que você já conheceu. Espero que não me odeie por isso. Apesar de poder encontrar uma masoquista satisfação em pensar que você me odiaria, quase alívio – me distrairia de toda a raiva e repulsa que tenho sentido de mim mesmo. Eu não sei o que há comigo...


         Você não sabe o quanto eu sinto por ser tão egoísta e lhe escrever agora. Eu realmente gostaria que tudo pudesse ser diferente. Não duvide. Eu sei, tenho certeza de que o que vou fazer é péssimo, lhe enviando essa carta, e já me arrependo antes mesmo de o fazer.


         Mas estou cansado. Cansado de sentir sua falta. De pensar demais em você. De ter medo de errar. E de doer em mim, tudo isso, desse modo.


         Por favor, me perdoe...

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Comentários (3)

  • Dih Potter

    EU adoro a Tonks... tem um pouco de mim nela (destranbelhada... rsrs) Fiquei com mt raiva do Lupin quando ele quiz abandonar a mulher e o bb que estava por vir, ainda. Graças a Harry ele desistiu da ideia... \O/ 

    2012-07-23
  • MiSyroff

    Realmente, não tinha comentado no capítulo da carta...Uma das mais lindas que já li aqui, embora possa ser influenciada por esse shipper, que me tira do eixo também.Parabéns Gabi ^^ 

    2012-04-11
  • Anne A.

    Gente! Cadê os comentários?Fic Maravilhosa! Não sei nem o que dizer. Escrever Remo/Tonks, confesso, é algo que me assusta. Amo demais esse casal e o fim que eles receberam me faz ser temerosa quanto a ler ou escrever sobre esse shipper e de ser insulficiente ao que eles merecem, mas você foi mais que sulficiente, foi perfeita!Parabéns! 

    2012-04-10
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