Mudanças





Já era quase meia-noite e Lily não conseguia acreditar que aquele dia tão maravilhoso estivesse acabando. Era como se o universo conspirasse a seu favor, porque tudo o que ela queria estava acontecendo. Tinha se entendido com seu pai e ele estava feliz de novo, depois de tantos anos de mágoa e tristeza. James a tinha perdoado, eles estavam bem e Charles não a perseguiria mais. E, por último, para fechar aquele dia com chave de ouro, Sirius tinha acordado.


 Meu Deus, Sirius tinha acordado.


A felicidade que Lily sentia era tão grande que ela não sabia como seu peito ainda não tinha explodido. Fitava os olhos brilhantes de James, vendo estampada neles a alegria do namorado; sabia o quanto a notícia da recuperação de seu melhor amigo o tinha abalado e que a vontade dele era sair correndo para ver com seus próprios olhos que Sirius estava de volta.


Mas, ainda havia um porém: Marlene.


Ela continuava sentada na mesa, distante deles, sem saber que a pessoa que mais amava no mundo, à exceção agora de Coisinha, tinha acordado do coma. Lily mal podia esperar para contar, mas tinha medo de que ela se exaltasse muito e acabasse acontecendo alguma coisa com o bebê também. Já tinham tido o suficiente de problemas para uma vida toda.


Só que Lily e James não faziam ideia de como contariam à Marlene sem que ela tivesse um ataque de nervos e era só por isso que ainda não estavam amontoados na cama de Sirius. Precisavam pensar numa estratégia.


James insistia na estratégia do band-aid: contar de uma vez, sem enrolação, como se estivesse arrancando um curativo. Quanto mais rápido, melhor. Lily, entretanto, era contra essa abordagem, porque, se contassem muito rápido, Marlene poderia surtar. Era mais a favor da estratégia do gato no telhado: amaciar o terreno antes de dar a notícia.


Enquanto discutiam como falariam com Marlene, os dois a vigiavam, como se quisessem se certificar de que ela não sumiria. Pela cara de tédio dela, ouvindo o falatório interminável da Sra. Phillip, eles não duvidavam de que isso acontecesse. Ela já virava a cabeça de um lado para o outro, claramente à procura dos amigos, talvez pensando em qual lugar do hotel os dois estavam se agarrando. Se demorassem mais, sabiam que Marlene acabaria pedindo licença para ir atrás deles. Ela não se importava se estaria ou não interrompendo alguma coisa.


Depois de ponderarem por mais de quinze minutos, James largou a bomba nas mãos de Lily e disse que ia tirar o carro para levá-los ao hospital. À ela, caberiam as tarefas de comunicar ao pai que estava deixando sua festa de casamento e contar a Marlene (e impedi-la de ter um piripaque) sobre a recuperação de Sirius. Lily mordeu a língua para não chamar o namorado de covarde.


Com um suspiro, Lily admirou a amiga de longe. Era a menina mais bonita que já tinha visto e, sem nenhuma dúvida, a mais amável. Os cabelos escuros, a pele clara e os olhos azuis, mais brilhantes do que os de qualquer outra pessoa no mundo, davam a ela a aparência de uma bonequinha de porcelana, daquelas que toda menina sonha em ter quando criança. O sorriso fácil e o temperamento forte faziam parte da personalidade sólida e inabalável dela. E o grande senso de lealdade a fazia a melhor amiga que Lily poderia ter pedido a Deus. Era por causa disso, também, que ela desejava tão fervorosamente a volta de Sirius. Porque o sorriso não vinha com freqüência, o brilho dos olhos tinha escurecido e a alegria não era mais constante nos dias de Marlene. Apenas Coisinha podia deixá-la feliz naquele momento, mas, sem Sirius, ela nunca estaria completa de verdade. Ele era o sol que iluminava o mundo de Marlene, era o combustível que a fazia seguir em frente. E já tinha passado da hora de recuperar tudo isso. Lily devia muito à sua melhor amiga e descobriu que o mínimo que podia fazer era devolver a ela a total felicidade. Naquele momento, ficou feliz de saber que seria a primeira pessoa a ver o sorriso maravilhado que surgiria nos lábios dela. Marlene merecia aquilo.


Porém, antes disso, Lily tinha que falar com o pai.


Avistou-o com Marion na pista de dança, rodopiando ao som da balada romântica que a banda tocava. Não conseguiu evitar um sorriso emocionado. Dali para frente, ela esperava que só houvesse felicidade. E algo lhe dizia que estava certa.


- Com licença, papai. – ela pediu.


O Sr. Evans e Marion pararam de dançar e esperaram que ela falasse.


- Acabamos de saber que Sirius acordou do coma, então, espero que me desculpem, mas estou indo para o hospital agora com James e Marlene. – comunicou, sem ligar se o pai permitiria ou não.


Marion, sorrindo abertamente, disse:


- Desculpar pelo quê, querida? Nós não esperaríamos outra coisa de você, é claro que deve ir. É seu amigo naquela cama e só podemos o quanto significa tê-lo de volta.


- Marion está certa. Pode ir, só não chegue muito tarde em casa. – disse o Sr. Evans, sorrindo. Ele não era muito fã de Sirius, mas era bom saber que o rapaz tinha melhorado. Além do mais, depois de tudo o que fizera pela sua filha, ele merecia que ela saísse correndo para vê-lo.


Lily agradeceu com um abraço em cada e respirou fundo antes de se dirigir à mesa onde Marlene se sentava. Estava pronta para qualquer imprevisto, como ter que segurar a amiga caso ela desmaiasse.


Pediu licença para a Sra. Phillip, que disparou várias perguntas, as quais foram ignoradas veementemente, e tirou Marlene dali. Ela foi sem discutir, apenas piscando os olhos azuis de forma indagadora. Só quando já estavam sob o céu estrelado, esperando James chegar com o carro, foi que ela não agüentou mais a curiosidade e disse, soltando o braço do aperto delicado de Lily:


- Ok, Lily Evans, qual é o problema? Por que você foi me arrancar da festa de casamento do seu pai e veio praticamente me escoltando até aqui? Foi porque eu comi aquela bandeja inteira de doces? Eu estou grávida, as pessoas tem que entender que eu como por duas agora, mesmo que isso não seja muito bem aceito pela alta roda londrina. É por isso, não é? Seu pai te mandou me expulsar daqui, já entendi tudo.


Lily segurou a gargalhada, mas se permitiu sorrir. Marlene a olhava indignada, com a cara amarrada e um bico formado nos lábios. Desejou que Coisinha herdasse o sorriso da mãe e que fizesse o mesmo bico quando estivesse chateada.


- Não é nada disso, você não está sendo expulsa de lugar nenhum.


- Então o que é? Por que estamos aqui fora?


Com um suspiro, Lily achou melhor falar aos poucos. A técnica do gato no telhado.


- James foi buscar o carro, estamos saindo.


- E vamos aonde?


Já prevendo a expressão de pânico que tomaria o rosto da amiga, respondeu:


- Ao hospital.


Se o fato de Marlene se exaltar não fosse tão preocupante, Lily bateria palma pela precisão da imagem que se formou em sua mente quando imaginou a cara dela: estava idêntica.


- Sirius! O que foi que aconteceu com Sirius? – ela perguntou, num esforço claro para tentar manter a calma.


Lily segurou os braços dela, para mantê-la de pé caso as pernas fraquejassem, e abriu um sorriso.


- Sirius acordou, Marlene.


As pernas não fraquejaram, não houve grito e não houve desmaio. Mas Lily nunca tinha visto sorriso mais bonito quanto o que se desenhava naquele momento nos lábios de coração de Marlene. E nenhuma palavra poderia descrever a beleza daquele gesto. Uma lágrima solitária desceu pela bochecha, deixando um rastro de maquiagem até o queixo.


- Eu sabia que ele não ia me abandonar, Lily. – falou em voz baixa. – Sirius voltou para mim! Para nós duas! Ele vai poder ver nossa filhinha, vai poder segurar minha mão.


Lily precisava aplaudi-la. Marlene não tinha feito nenhum escândalo e parecia perfeitamente capaz de se sustentar nas próprias pernas, mesmo depois do baque emocional. A força dela era admirável. E a felicidade, visível. Sem saber o que dizer, em parte porque lutava firmemente para não explodir em lágrimas, Lily a abraçou.


- Agora está tudo bem. – foi só o que conseguiu colocar para fora, a voz tremendo.


Molhando o ombro de Lily com seu choro e com a voz embargada, Marlene disse:


- Aonde está James com esse maldito carro?


Lily soltou uma risada. Como amava aquela garota.


Mas James não demorou muito mais e logo os três estavam a caminho do hospital, os corações quase explodindo de ansiedade. Depois que a entrada deles foi permitida pela recepcionista, saíram praticamente correndo até a enfermaria aonde Sirius estava desde fevereiro.


Ele estava deitado, imóvel, na mesma posição que estivera nos últimos cinco meses. A única coisa que indicava que ele estava acordado era o leve piscar dos olhos azuis, presos no teto. A expressão dele era de tédio, como se estivesse cansado de ficar ali. Com sorrisos por entre as lágrimas, os três se entreolharam e constataram: Sirius estava mesmo de volta.


Lily e James deixaram que Marlene fosse na frente e ficaram mais afastados para dar a eles um pouco de privacidade. Assistiram a Sirius desviar o olhar para a namorada e ao sorriso que surgiu nos lábios dele. Marlene se abaixou com cuidado e tocou-o no rosto delicadamente, como se quisesse comprovar que era ele de verdade. Sem dizer nada, ela o beijou demoradamente e depois o abraçou com força, chorando baixo no ombro dele. Sirius levantou uma das mãos, que estavam emboladas em inúmeros fios e acessos para soro e medicação, e fez um afago no cabelo de Marlene. Murmurou algo que Lily e James não puderam ouvir e, então, afastou-a. Vagarosamente seu olhar correu pelo corpo dela, demorando-se, é claro, no ventre saliente. Com uma cara de bobo digna de um homem apaixonado, ele pousou a mão ali com extrema delicadeza.


- É uma menina. – Lily conseguiu ler os lábios de Marlene quando ela disse isso e viu um sorriso idiota tomar o rosto de Sirius.


Garotos normais se desesperam quando descobrem que a namorada está grávida. Mas já sabemos que Sirius estava bem longe de ser um garoto normal e era exatamente por isso que Marlene o amava tão loucamente.


Sirius aproximou o rosto da barriga dela e murmurou “Oi, filha” antes de plantar um beijo sobre o umbigo. Marlene abriu um sorriso e disse, praticamente aos berros:


- Ela te reconhece! Veja, Sirius, ela está chutando! Lily, James, Coisinha o reconhece!


Lily e James riram e decidiram se aproximar finalmente. Antes, porém, de conseguirem abraçá-lo, Sirius perguntou, intrigado:


- Coisinha? Você está chamando nossa filha de ‘Coisinha’?


Ela deu de ombros, enxugando as lágrimas.


- ‘Bebê’ é um tratamento muito comum para chamar nossa filha. E eu não podia escolher o nome dela sem você, então, por enquanto, sim, eu estou chamando nossa filha de ‘Coisinha’.


Sirius sorriu.


- É justo. – disse. – Espero que as correntes e cadeados já tenham sido comprados. – diante do olhar indagador de Marlene, ele completou, sem qualquer modéstia. – Nossa filha tem uma genética tão boa, por causa dos pais absolutamente maravilhosos, que vai nascer estonteante. Só sairá do quarto aos dezoito anos e direto para o convento.


É, ele estava realmente recuperado.


- E Sirius Black está de volta. – disse James, antes de avançar contra ele e socá-lo no braço. – Seu desgraçado.


- Ei, Jimmy. Bom te ver.


James riu e o abraçou.


- Se você soubesse a falta que fez, cara.


- Gay. – Sirius respondeu e James ameaçou soltá-lo. – Calma, eu ainda não terminei de te abraçar. Senti sua falta, parceiro, aquele lugar foi uma merda completa sem você.


- A realidade também não foi grande coisa. Na verdade, a realidade foi uma boa merda também.


- Ah, obrigada pela parte que me toca. – disse Lily, metendo-se na conversa. James se afastou para que ela pudesse, enfim, abraçar Sirius. O que ela fez na mesma hora. – Oi. – murmurou contra o ouvido dele, apertando o abraço e plantando um beijo em sua bochecha.


- Oi, princesinha. – ele respondeu, correspondendo ao abraço dela. – Sentiu saudades?


- Enormes, Sirius, e isso ainda é pouco. A falta que você fez é imensurável. Por favor, jamais nos dê um susto desses de novo.


- Ah, Lily, estou pronto para outra! – ela lhe deu um tabefe no braço, fazendo-o rir. – Mas não vou aprontar mais nada, porque, do contrário, terei que ouvir outro discurso seu. Sabe, você fala demais.


Lily arregalou os olhos, sem acreditar que ele pudesse realmente tê-la ouvido naquele dia, três meses antes.


- Você tinha razão: – continuou ele, em voz baixa. – eu odeio escuro. E o sorriso da Marlene é o mais bonito que existe. Obrigado por mantê-lo no rosto dela.


- Não fui eu, você sabe. Foi a esperança de te ver acordar que a manteve sorrindo todo esse tempo. Isso e Coisinha. A ideia de te ter ao lado quando a filha de vocês nascesse nunca abandonou a mente dela.


- Eu não imaginei, nem por um segundo, que você não estaria aqui. – intrometeu-se Marlene, sentando-se na cama depois que Lily lhe cedeu o espaço. – Eu te amo tanto, nem um pouco menos do que antes e muito mais agora. E nada pode mudar isso, muito menos um acidente estúpido. Você poderia ficar nessa cama, em coma, por cem anos e eu continuaria a vir aqui todos os dias, na esperança de ver seus olhos abrirem. E eu sei que um dia eles se abririam...


- Porque eu nunca vou abandonar você. – ele completou, olhando firme para ela. Aparentemente, os dois se esqueceram de que não estavam sozinhos, porque passaram a se encarar como se só existissem eles no mundo. E de certa forma, era isso mesmo: no mundo de Marlene e Sirius, eram apenas eles dois. – Nunca vou abandonar vocês duas. – completou, olhando significativamente para a barriga de Marlene. Puxou-a para um beijo singelo e encostou sua testa à dela. – Eu te amo.


Percebendo que já não havia mais nada para eles ali, Lily e James se despediram e deixaram-nos sozinhos. Aquele era o momento deles, o reencontro deles. Poderiam matar as saudades de Sirius depois, a prioridade era de Marlene. 


Voltaram nos dois dias seguintes antes de Sirius finalmente receber alta. Contaram tudo o que tinha acontecido durante o tempo em que ele esteve desacordado e ouviram suas opiniões. Quando Charles foi mencionado, ele disse:


- Eu sempre falei que ele não prestava. Se eu não estivesse enfiado aqui, pode estar certa, Lily, de que eu quebraria a fuça do infeliz.


- Eu sei que sim. – ela riu. – Mas, de qualquer forma, Marlene assumiu seu papel e fez questão de ameaçá-lo. Ela ficou perigosa depois que engravidou.


- Fiquei mais perigosa. – Marlene revidou. – Eu já era perigosa antes, mas agora que meu instinto materno está aflorado, viro uma arma de destruição em massa quando machucam quem eu amo.


Eles riram e James implicou:


- Coisinha vai andar enrolada em plástico-bolha.


- E correntes e cadeados. – emendou Sirius, rindo. – Não, estou brincando. Nossa filha vai correr, cair, ralar o joelho e vir chorando para mim, pedindo beijo.


- E vai ser tão linda que vai deixar uma fila de meninos atrás dela. – disse Lily. – Imaginem-na com as melhores características de vocês dois. Os olhos, os cabelos, as covinhas do Sirius, a boca de coração da Marlene...


- O carisma dela e o sarcasmo dele... – adicionou James.


- A inteligência de nós dois... – somou Sirius.


- A minha espontaneidade e o bom-humor dele... gente, nossa filha vai ser perfeita! – finalizou Marlene. Colocou as mãos na barriga e fez um carinho – Viu, Coisinha? Você vai nascer perfeita.


Aparentemente, Coisinha também concordava com isso. A barriga de Marlene fez um movimento engraçado e o contorno de um pezinho apareceu claramente contra a pele dela.


- Ah! Que esquisito! – ela exclamou, acariciando o lugar com o dedo. No mesmo segundo, o pezinho sumiu. – Será que ela sentiu? Filha, você está fazendo esquisitice? Coisinha, você é esquisita?


Uma ponta apareceu e sumiu na barriga no lugar em que Coisinha desferiu um chute. Marlene riu e massageou a área.


- Acho que não, pelo chute forte que me deu. Bom, pelo menos, personalidade ela tem.


- Igual à mãe. – disseram os outros três e Marlene gargalhou, feliz e sorrindo como não sorria desde o acidente.


A semana passou. Sirius saiu do hospital, embora ainda estivesse debilitado, e foi para a casa de Marlene. Ele ficaria por lá até estar completamente recuperado e poder procurar um lugar para morar com a namorada e a filha, para, enfim, formar sua própria família.


Como não estava totalmente bem, Sirius não pôde ir à formatura de Lily, e Marlene optou por lhe fazer companhia. Nenhum momento entre eles podia ser desperdiçado, já que ninguém devolveria os cinco meses que os separaram.


A cerimônia de colação de grau e a festa ocorreriam no enorme ginásio do colégio. A sensação de pisar ali pela última vez era melhor do que Lily poderia ter imaginado. Tudo o que ela queria era dar adeus ao lugar que fora seu pequeno inferno durante a vida inteira. A satisfação era imensa.


Ela se juntou às colegas de beca no palco e ficou distraída enquanto a diretora falava. Sequer prestou atenção quando a menina escolhida para ser oradora assumiu o lugar no púlpito. Estava pensando na vida, no que seria dali em diante. Imediatamente, seu olhar procurou James no meio da platéia, sentado entre o Sr. Evans e Marion. Os dois sorriram um para o outro e ela teve certeza de que era ele quem estava no seu futuro. Com James ao seu lado, Lily não precisaria se preocupar com mais nada: ele a protegeria de qualquer coisa.


Só despertou quando sentiu a cotovelada de Adele espetá-la na costela. Seu nome tinha acabado de ser anunciado. Com um sorriso, Lily se levantou para receber o canudo. Recebeu os parabéns da diretora e trocou o lado da cordinha do capelo. Estava oficialmente formada. Finalmente livre.


Quando a cerimônia se deu por encerrada, as formandas jogaram os capelos para o ar e correram para receber os cumprimentos dos familiares. Lily foi agarrada primeiro pela Sra. Phillip, que chorava compulsivamente em seu ombro e se dizia muito orgulhosa dela. Charles, que estivera pianinho desde a surra que levara de James, em respeito aos dois, apenas estendeu a mão para ela e a parabenizou. Se dependesse de Lily, ele nem estaria ali, mas a Sra. Phillip faria mais perguntas do que eles poderiam responder caso Charles perdesse a formatura. Então, lá estava ele. O Sr. Evans e Marion a abraçaram ao mesmo tempo e, por fim, a passagem foi permitida a James.


- Como se sente? – ele perguntou, sorrindo, antes de dar um beijo singelo nela.


- Livre.


- Imaginei.


Lily riu e deu a mão a ele.


- Vocês ficarão para a festa? – perguntou para os outros quatro. Sabia que eles diriam que não, mas não custava confirmar.


- Oh, não. – disse a Sra. Phillip. – Essa festa é só para vocês, não faria sentido ficarmos aqui.


- Mandarei Henry vir te buscar quando terminar, lá para as 3 da manhã. – o Sr. Evans disse, arrancando um sorriso de Lily. Ficar até o fim de uma festa era algo que ela não conhecia.


- Não se preocupe em acordar Henry de madrugada, papai. James está de carro, esqueceu? Ele pode me deixar em casa depois da festa.


O Sr. Evans deu de ombros.


- Tudo bem. Mas quero que você esteja em casa até as 03h30min da manhã, no máximo. Entendeu, Lily? – ela assentiu. – Ótimo, então vamos embora. Você vem conosco ou prefere ficar, Charles?


- Vou junto. – ele respondeu. Completou para Lily e James. – Divirtam-se vocês dois.


- Iremos, não se preocupe. – James respondeu, tentando controlar a acidez na voz. Era a primeira vez que os dois se falavam desde o casamento.


- Bom, vamos indo. – disse Marion, antevendo o clima ruim que se instalaria ali caso demorassem mais. – Divirtam-se, meninos. – e, assim, eles foram embora.


Uma banda estava no palco em que, momentos antes, acontecia a cerimônia, e as cadeiras dos convidados foram colocadas nas mesas para abrir espaço para a pista de dança. Lily puxou James pela mão e os dois se juntaram à massa de jovens que já dançava.


Porém, não ficaram muito tempo na festa. Embora estivessem se divertindo, ambos sabiam que Lily não gostava daquelas pessoas e não se sentia confortável no mesmo ambiente que elas. Portanto, James não se surpreendeu quando ela, torcendo o nariz para as outras meninas, disse que queria ir embora.


- Para onde você quer ir? Ainda está cedo. – ele perguntou.


- Para qualquer lugar, só quero me ver livre desse lugar e dessas pessoas de vez.


James hesitou por um instante antes de dizer:


- Bom... meu pai e Liam estão viajando, então minha casa está vazia... se você quiser ir para lá...


Lily sequer parou para pensar.


- Vamos.


James arregalou os olhos, surpreso.


- Sério? – ela assentiu. Ele nem ousou perguntar de novo, com medo de que ela mudasse de idéia. – Então, vamos.


Os dois entraram no carro em silêncio, sentindo-se meio desconfortáveis. Ambos sabiam que Lily concordar em ir para a casa vazia de James seria o primeiro passo para continuar de onde eles pararam no dia do aniversário dela.


Lily sentia o coração martelar contra as costelas quando James abriu a porta de casa. Os únicos sons ouvidos eram o ranger das escadas e o barulho das respirações pesadas deles. James fechou a porta do quarto atrás deles e, para deixar o ambiente mais confortável ou mais romântico, Lily não sabia dizer, ele acendeu apenas a luz do abajur.


Timidamente, James puxou Lily para perto e lhe beijou com delicadeza. Sem se soltarem, ela retirou o paletó dele e ele, a beca dela. O beijo se tornou mais caloroso quando tombaram juntos na cama, mas James o interrompeu para poder retirar os sapatos e as meias enquanto Lily tirava as sandálias. No segundo seguinte, eles se atracaram num beijo voraz.


As mãos de Lily tremiam enquanto ela tentava abrir os botões da camisa de James, que, por sua vez, começava a baixar o zíper do vestido dela, que desceu até a sua cintura. Ela ergueu os quadris e permitiu que ele retirasse a peça e pudesse admirá-la apenas de calcinha e sutiã.


Lily não pôde evitar um sorriso ao ver a expressão apaixonada que James tinha no rosto ao olhar para ela. O brilho nos olhos dele lhe dava a certeza de que estava pronta e de que ele faria daquela uma noite maravilhosa.


O restante das roupas foi arrancado num piscar de olhos e James buscou um preservativo na gaveta. Estavam prontos.


- Se eu te machucar, peça para parar. – ele disse, sério. Pulou o clichê de perguntar se ela estava preparada, porque podia ler isso nos olhos dela.


Lily sorriu, nervosa.


- Você não vai me machucar. – e o puxou para outro beijo.


Com cuidado, James deslizou para dentro dela, parando vez ou outra para ver como ela estava. Os olhos verdes estavam semicerrados e a expressão em seu rosto era uma mistura de dor e satisfação. Moveram-se juntos, até o fim.


As unhas de Lily cravadas nas costas dele. O rosto de James enterrado na curva do pescoço dela. Um gemido rouco, em uníssono, e ele desabou.


Rolou para o lado e a encarou.


- Você está bem? – perguntou em voz baixa, fazendo um carinho suave na bochecha dela.


- Ótima. – respondeu Lily, também sussurrando. Ela hesitou por um segundo antes de dizer, rindo. – E aí, foi bom para você?


James soltou uma gargalhada alta.


- Cadê aquela garota tímida por quem eu me apaixonei?


- Ainda está aqui em algum lugar, mas você me faz agir assim. Está reclamando?


- Absolutamente. Aliás, gosto muito de você assim, desinibida. – ele disse, arrancando uma risada dela, cujas bochechas se tingiram de vermelho. – Adoro quando você fica com vergonha. Na verdade, adoro tudo em você.


- James, não precisa falar essas coisas legais, você já me levou para a cama. – ela falou, marota.


Ele gargalhou mais uma vez e a puxou para mais perto, aconchegando-a em seu peito.


- Você está muito engraçadinha hoje.


- É que eu estou feliz. – ela se apertou mais a ele. – Será que ainda temos tempo antes de eu ir para casa?


- Você já quer repetir a dose?


- Na verdade, eu ia pedir para cochilar um pouco.


- Ah. – ele fingiu desapontamento, mas Lily já estava de olhos fechados e não percebeu. – Lily?


- Hm? – ela resmungou, sonolenta.


- Eu te amo.


- Eu também te amo, James. – murmurou, sorrindo, antes de pegar no sono.


Uma hora depois, James a sacudiu levemente e Lily abriu os olhos para encará-lo. Não conseguiu evitar sorrir diante do fato de que acordara ao lado dele, mesmo que tivesse sido depois de um pequeno cochilo. Ele também a encarava da mesma forma.


- Eu podia fazer isso todo dia. – disse James, sorrindo.


- Eu também. – Lily respondeu, sabendo que ele não se referia ao sexo. – Precisamos mesmo ir?


James assentiu.


- São quase 3:00h.


Soltando um muxoxo, Lily catou as roupas espalhadas ao pé da cama e se vestiu. Quando se virou, pronta para ir, viu que James ainda estava deitado na cama. Tinha ficado a admirá-la enquanto ela se vestia.


- O que foi?


- Nada, é só que... eu não sei o que você faz comigo. É inacreditável o quanto eu te amo. Quando eu te beijei pela primeira vez, tive certeza de que você é o amor da minha vida. Acha esquisito pensar nisso quando só tínhamos nos beijado uma vez?


- Não. – ela respondeu, sentando-se ao lado dele. – Eu sempre acreditei que você sabe quando encontra sua alma gêmea ou o que for. Que a sensação de beijar o amor da sua vida é única. Sabe, sinos badalando ou pensamentos embaralhados ou pisar em nuvens, qualquer coisa assim. Foi exatamente assim que eu me senti quando nos beijamos. Você foi o primeiro cara que eu beijei, mas eu nunca tive dúvidas de que você é o amor da minha vida.


- Casa comigo? – James perguntou, de repente. Mas, diferente de quando ele mencionou isso no dia do aniversário dela, Lily não ficou chocada.


Sorrindo, ela respondeu:


- Quando você quiser.


- Eu estou falando sério.


- Eu também.


James sorriu e deu um beijo nela antes de começar a se vestir.


- Então, se prepara.


Quando Lily entrou em casa, meia hora depois, não conseguia disfarçar a felicidade e deu graças a Deus por não ter ninguém na sala esperando-a. Subiu as escadas correndo, pronta para se jogar na cama e dormir o sono dos justos, mas, ao abrir a porta do quarto, deu de cara com Charles.


Ela soltou um suspiro cansado.


- Sério, Charles? Agora?


Charles se levantou do sofá antes mesmo de responder.


- Não se preocupe, eu só estou fazendo um favor para o seu pai. Ele me pediu para ficar aqui e esperar você chegar.


- Ótimo, já estou aqui, bem na hora. Se é só isso, pode ir. – Lily disse, abrindo passagem.


Charles se adiantou para fora do quarto, mas parou a poucos passos da porta.


- Eu queria te dizer uma coisa, Lily.


Ela o encarou, desconfiada.


- Vá em frente.


- Vou me mudar.


- Quê?! – exclamou, surpresa. Isso não era, nem de longe, o que ela imaginava que ele diria.


- Você não ouviu errado. Já achei um apartamento barato em Tottenham e um estagio remunerado que vai me sustentar por uns tempos.


- Charles, eu... você não prec...


- Eu prometi que te deixaria em paz, Lily. Estou cumprindo minha promessa.


E, dito isso, ele saiu, fechando a porta atrás de si, deixando-a com uma sensação de culpa.


Sim, Lily o queria longe. Mas longe dela. Não da Sra. Phillip ou daquela casa. Ela sabia que Charles não fazia isso para ter mais responsabilidade ou para atingir um crescimento pessoal. Fazia simplesmente por causa dela. Rezando para não se arrepender, ela foi atrás dele.


Eram quase 4h da manhã, tinha acabado de ter a melhor noite de sua vida e, mesmo assim, estava batendo à porta do cara que tinha causado uma bela confusão em sua vida amorosa. Isso não estava certo.


Charles abriu a porta após duas batidas. Estava vestido apenas com uma samba-canção, mas Lily não ligou. Entrou no quarto sem pedir permissão e sentou na cama dele.


- Claro, entre. – ele resmungou. – O que foi, Lily?


- Por que resolveu se mudar?


- Prometi que te deixaria em paz.


- E a sua solução foi sair dessa casa?


- Você queria que eu fizesse o que?


- Que simplesmente parasse de dar em cima de mim, Charles. Nós éramos amigos, pelo amor de Deus!


- Não, nós não éramos.


- Éramos, Charles. E eu não quero que você vá embora.


- Por quê?


- Porque eu gosto de você. E, se você parar de me perseguir, talvez possamos voltar a ser amigos. Temos que conviver, Charles, principalmente por causa da sua mãe. Não quero que fique longe dela mais do que já ficou.


- Lily, não estou preocupado com a minha mãe agora, eu não vou morar no Alasca. Mas eu e você não podemos ser amigos.


- Por que não?


- Porque eu te amo. – ele sequer titubeou antes de dizer isso. Falou como se estivesse comentando do tempo.


Lily também não ficou surpresa. Suspirou pesadamente.


- Charles...


- Você queria que eu dissesse o que, Lily? Você sabe que é verdade. E eu não posso ficar nessa casa, tão perto de você sabendo que não posso te ter! Eu não tenho mais estrutura para manter aquela porra de sorriso cínico toda vez que eu te vejo com o Potter quando, na verdade, eu estou dilacerado por dentro. Surpresa, o cafajeste tem coração!


- Eu nunca duvidei que tivesse. – ela respondeu simplesmente. – Mesmo assim, Charles, eu não quero ser a razão para sua mudança. Se tiver que sair, faça por você.


- Mas é por mim que eu faço isso, Lily. Se um dia eu superar o que sinto por você, aí quem sabe nós possamos ser amigos. Mas agora ou num futuro próximo, nem pensar. É o que eu preciso fazer.


Ela sabia que ele falava sério. A decisão estava mesmo tomada.


- Sinto muito. – Lily disse, realmente sentida, levantando-se. Charles abriu a porta para ela.


- É, eu também.


Lentamente, Lily caminhou de volta para o seu quarto. Sentia-se culpada, mas sabia que Charles tinha razão. Não devia ser fácil para ele. De alguma forma, entristecia-a o fato de despertar um sentimento tão nobre quanto o amor em alguém e não poder correspondê-lo. Não era justo com ele.


De fato, uma semana depois, lá estava ele, colocando as caixas com suas coisas na velha Betsy. Charles se despediu da mãe, que não estava preparada para ver o filho se desgarrar dela completamente e ir morar sozinho, do Sr. Evans, a quem agradeceu a hospitalidade, e de Marion. Por último, vinha Lily.


Eles se encararam por alguns segundos até que Lily, depois de tomar coragem, rompeu a distância que os separava e o abraçou.


- Por favor, me supere logo. – ela murmurou no ouvido dele, fazendo-o soltar uma risadinha – Porque, apesar de tudo, eu gosto de você, Charles e odeio não poder ser sua amiga.


- Potter nunca pode saber que você disse isso, né? – ele murmurou de volta.


- Jamais. – eles riram de novo e se separaram. – Fique bem, ok?


- Eu vou sobreviver.


Ela assentiu e deixou que ele entrasse no carro. Com um último aceno para os outros, Charles saiu do terreno da mansão. E, possivelmente, da vida de Lily.

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N/a: Pelo meu relógio do computador, são 23:38h, então ainda é Natal, por isso considerem esse capítulo um belo presente. Presente mesmo porque eu quero ver alguém reclamar dele, já que, né, só acontece coisa boa. BOA DEMAIS, NÉ? Well, Sirius acordou e todo mundo ficou extremamente feliz. Lily terminou o colégio, viu-se livre das meninas mais tenebrosas desse mundo e, de quebra, ainda perdeu a virgindade (isso merece um UHUUUUUUUUUUUUUUUL). A cena não ficou pesada, né, galero? Mariana Radcliffe disse que está quase um pornô, mas eu duvido, hahahaha. E, sei lá, acho que ficou linda porque o James é sensacional e eu sou louca por ele. E, por fim, Charles se mudou. Escrevi essa cena de última hora, mas achei necessária. É como se, finalmente, as coisas estivessem realmente se acertando. Tudo entrando nos eixos. Por isso, eu digo que não vai demorar para a fic acabar. Ainda não sei ao certo quanto falta (já mudei o planejamento zilhões de vezes), mas não é muito. Bom, depois falaremos disso. Espero que tenham gostado do capítulo, portanto, COMENTEM! Vejo vocês em 2012. Beijinho beijinho tchau tchau.

Liv 

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Comentários (6)

  • Lana Silva

    Se chorei ou se sorrir o importante é que o capitulo foi sensacional. Nossa eu fiquei muito feliz com o capitulo. Ahh é lindo demais ver o Sirius e Marlene juntos, eles são tão lindos, eu chorei muito, muito mesmo. Acho que nenhum capitulo me tocou tanto quanto esse, foi surpreendemente lindo. Ameii mesmo amore, perfeitoo *-*beijoos! 

    2012-07-25
  • Sah Espósito

    voce ta deixando seus leitores muito curiosos.... saudades de capitulo novo!!!Bjs e até mas!

    2012-01-13
  • Deb Rezende

    Pff, desmaiei. Adorei. Como sempre, morri de amor com o Sirius. Sério, onde se encontra um desses pra vender no mercado? Porque, vou te contar, to precisando. Mas, mais do que isso, ONDE VENDE UM JAMES POTTER? Gente, que coisa fenomenal. James me faz querer chorar gliter. To louca pra Coisinha nascer! Quero logo o próximo! Beijão!!

    2012-01-04
  • Sah Espósito

    O Sirius acordou, a Lily terminou a escola... ela e o James tiveram a primeira vez   ouuwww to amando tudooo   FELIZ NATAL E FELIZ ANO NOVO AUTORA MARAVILHOSA E QUE 2012 VENHA COM TUDO PRA VOCE   Bjsss e aguardo proximos

    2011-12-28
  • Natti Black

    quando vi que tinha mais um capitulo, eu quaase pireeei! Adoreeeei este capitulo, awnnti O Sirius fooi tãaaaao fofo com a Lene que eu quase "entro" lá para agarra-lo ( eu me mereço¬¬) beem , a cena não ficou pesada, muito pelo ao contrario ficou muuuito romantica, não preciso dizer que eu estou apaixonada pela fic não é mesmo ? Pois bem, apesar do Charles ser lindo e um badboy eu não gostava dele,eu acho até bom ele ter ido embora ( sabe , eu odeio qualquer um que James ou Sirius desaprovem ú.ú).Então é isto,Até 2012 e fliz ano novo para você Livia 8D

    2011-12-26
  • mariana radcliffe

    OLIVIA estou sem palavras. a não ser que você queira saber que eu chorei igual uma moça nas cenas do Sirius e Marlene. a parte pornô eu já sabia e já disse que tá maravilhosa, o James é muito fofo pra sempre. MAS O CHARLES :( foi triste blz, eu adoro ele (tenho problemas com cafajestes <3), espero que ele supere a Lily logo também e que faça parte do final da fic, que não pode terminar sem ele, FAS FAVÔ NÉ QRIDA. ó Liv, o capítulo tá perfeito, quero mais logo e adeus.

    2011-12-25
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