A primeira vez



 



"A primeira vez a gente nunca esquece"

Lily estava encrencada, tinha certeza. E não era uma encrenca qualquer, era uma grande encrenca. Uma encrenca enorme, gigantesca. E essa encrenca tinha nome e sobrenome: James Potter.


Estava se apaixonando, não tinha dúvidas. Lily nunca havia se apaixonado antes, mas sabia que estava caindo de amores por ele. Como sabia? Simplesmente sabia. Algumas pessoas demoram mais para perceber que estão apaixonadas, mas no fim das contas sempre percebem. Quando essa verdade se abate sobre nós, só nos cabe aceitá-la, certo? Não dá para lutar contra, espernear, fazer escândalo ou dar chilique. Uma vez que nos apaixonamos, é caso perdido e só nos resta aceitar a derrota. Era o que Lily devia fazer.


Era o que ela ia fazer.


Como a garota esperta que era, Lily percebeu logo que estava apaixonada por James. Cada vez que fechava os olhos, via o sorriso dele e relembrava, para desespero de seu coração, do quase beijo que dividiram. Não conseguia tirá-lo da mente, era algo mais forte que ela. Decidiu que não lutaria contra. E foi aí que percebeu que estava muito encrencada, porque se não lutaria contra James e sua paixão repentina, ela lutaria contra...


Seu pai.


Ops.


Ah é, ela estava numa baita encrenca.


Ainda não sabia o que faria, mas certamente precisaria da ajuda de Jane. Conhecer James não estava nos seus planos, muito menos sentir-se tão inesperadamente apaixonada por ele, mas as coisas haviam acontecido muito rápido e não dava mais para impedir. Então não tentaria impedir. James havia entrado de forma repentina em sua vida, mas ela estava grata por isso. Por causa dele, havia feito até novos amigos. Tinha certeza de que ele não havia surgido por acaso, que aquela cafeteria não lhe saltou aos olhos naquele dia de chuva por acaso. Acasos não existiam. E tinha certeza que ele havia aparecido para trazer algo à sua vida. Por isso, Lily estava disposta a mudar o jogo, a deixar a monotonia para trás e viver a vida com se não houvesse amanhã. Ela estava disposta a mudar.


E eles nem haviam se beijado. Imaginem só.


O fim de uma longa semana daquele fim de outono havia chegado, finalmente. Era sábado, mas não um simples sábado. Aquele sábado seria inesquecível, mas Lily não podia adivinhar isso quando chutou as cobertas pesadas para o chão. Como de costume, não tinha pretensões algumas para se divertir aquele dia. Na verdade, tinha aulas de artes e de música marcadas para aquelas manhã e tarde. Lily gostava das aulas de música, estava aprendendo a tocar uma melodia realmente complexa no violino, mas não gostava muito de artes e muito menos de sua professora que falava como se fosse a pessoa mais importante do mundo. Porém, naquele sábado estava sem vontade alguma de fazer qualquer coisa que exigisse algum tipo de esforço mental.


Estava acabando de se arrumar quando a Sra. Phillip abriu de supetão a porta do quarto.


- Estou quase pronta, Jane. – falou com a cabeça baixa, pegando um sapato para calçar. – Só preciso calçar os sapatos e terminar de ajeitar o cabelo.


- Não, querida. – ela levantou a cabeça e mirou os olhos castanhos da empregada, fazendo uma pergunta muda. – Sua professora de música acabou de telefonar para nos avisar que pegou uma virose e está acamada.


- Oh, ela está bem?


- Não sei, Lily, mas temo que não terá aula amanhã também. – Lily murmurou um “isso!” de forma que a Sra. Phillip não ouvisse.


- Tudo bem. Então eu posso ir direto para a aula de artes, não tem ninguém mesmo nesse primeiro horário.


- Ah, é mesmo! – exclamou a senhora, batendo com a palma da mão na testa. – Esqueci de lhe dizer, Lily: a Srta. Hümmer ligou no início da semana avisando que o estúdio passaria por uma reforma e que hoje pintariam as paredes. – Lily fitou a Sra. Phillip lentamente, tentando processar o que ela havia dito. – Ela tem um sotaque alemão engraçado, a Srta. Hümmer, não acha?


- Deve ser porque ela é alemã, Jane! – rapidamente Lily se recuperou do choque de ter dado tanta sorte num dia só. – Caramba, duas aulas canceladas no mesmo dia. Acho que hoje é meu dia de sorte!


- Tem razão, querida. – respondeu vagamente a Sra. Phillip. – Ela é alemã? Ah, mas isso explica os olhos azuis muito claros e os cabelos loiríssimos. Ah e o sotaque, obviamente!


- Jane! Esqueça a Srta. Hümmer! – rindo, Lily deixou os sapatos de lado e olhou cobiçosa para a cama, mas tirou a idéia de dormir novamente da cabeça. – Então, eu estou com o sábado livre, certo? – a Sra. Phillip assentiu. – Legal! Onde está o papai?


- No hotel, querida. Onde mais ele estaria?


- No hotel? Mas hoje é sábado! – a Sra. Phillip a olhou como se ela fosse louca.


- E desde quando seu pai tem sábado, Lily? E é provável que ele chegue um pouco mais tarde hoje, a cidade está cheia de turistas, sabe-se lá por que.


Uau, quanta sorte num mesmo dia. Sem aula de música, sem aula de artes e sem pai o dia inteiro. Não que essa última parte fizesse muita diferença para ela.


O silêncio repentino que se instaurou fez a Sra. Phillip sair do quarto, largando Lily sozinha pensando na beleza daquele dia enevoado. Trocou a roupa que usaria para ir às aulas por um vestidinho de mangas curtas e estampa florida, que ia até a altura das canelas, fazendo-a parecer alguns anos mais velha. Encarou a mesa vazia quando desceu para tomar o café da manhã e sorriu travessa. Sentou-se à cabeceira da mesa, no lugar do pai, e passou a imitá-lo, sem, porém, emitir algum som. Fazia as caras e bocas características do pai, aprendidas através da observação contínua ao longo dos anos. Continuaria fazendo as imitações se Jane não tivesse chegado para lhe servir o café.


- O que faria seu pai se lhe visse fazendo graça às custas dele, hein?


- Provavelmente me daria uma grande bronca, como sempre. – respondeu a menina dando de ombros.


- Provavelmente. Agora tome seu café quietinha, Lily. – mandou a Sra. Phillip e Lily prontamente a atendeu. Quando terminou a refeição, subiu para o quarto e sentou-se na poltrona perto da janela com um livro de contos nas mãos. Estava entretida na leitura quando ouviu o barulho característico de uma buzina. Estranhando, levantou-se e olhou pela janela. Havia um carro parado na frente dos portões da mansão, sem contudo pedir permissão para entrar. Lily apertou os olhos para tentar ver melhor e ofegou ao identificar o motorista do carro. Era Sirius Black.


Seria um resgate, talvez?


No banco do carona estava James e no traseiro, Marlene McKinnon. Ainda sem acreditar no que via, Lily desceu as escadas correndo e encontrou a Sra. Phillip olhando pela porta de entrada para os portões.


- Que carro é aquele, Lily? – perguntou ela para a menina, desconfiada.


- Veja, é o James! – disse, ignorando a pergunta e apontando para o lado do carona. – Vê?


- Oh sim. Quem são aqueles outros dois? O rapaz e a moça...


- Ele se chama Sirius e ela, Marlene. São amigos do James.


- Hum... – entendimento passou pelo semblante da Sra. Phillip, mas foi rapidamente substituído por reprovação. – Aquele rapaz está fumando?! – perguntou assombrada quando viu Sirius jogar a guimba do cigarro pela janela do carro.


- Acho que sim. – respondeu Lily, dando de ombros.


- Que horror! Ele não sabe que isso é prejudicial à saúde?


- Deve saber, Jane. Com certeza sabe.


Naquele momento, Marlene elevou o tronco para fora da janela e sacudiu o braço, chamando-a.


- Oi, Lily! Venha dar um passeio conosco! – a Sra. Phillip olhou desconfiada para Lily, que lhe encarou numa súplica muda. Ficaram assim por alguns segundos até Marlene lhe chamar novamente. – Ande, Lily! Vamos lá!


- Por favor, Jane! – implorou ela, com as mãos entrelaçadas sob o queixo. – Por favorzinho!


- Está bem, vá! – Lily soltou um gritinho agudo e a abraçou rapidamente. A sra. Phillip suspirou pesadamente enquanto Lily subia correndo para buscar um casaco e uma bolsa. Antes de correr porta afora, a menina deu um beijo estalado na bochecha da governanta, que não pôde deixar de sorrir. – Volte antes do entardecer, Lily! Ouviu bem?


- Ouvi, ouvi!


- E não fume, entendeu? Ou você vai ver só a palmada que vai levar no traseiro! – Lily só conseguiu rir depois dessa recomendação. – Estou falando sério, Lily! Se eu souber que você fumou...


- Já sei, já sei! Fique calma, Jane... – a buzina foi acionada, apressando-a. – Prometo, palavra de escoteira.


- Você não é escoteira!


- Que seja! Tchau, Jane! – disse enquanto descia as escadas da entrada correndo. Atravessou o jardim, cumprimentou o senhor que ficava na entrada para abrir o portão e logo estava no carro, sentada ao lado de Marlene.


- Oi, pessoal! – cumprimentou sorrindo.


- Oi, querida. – disse Lene, abraçando-a.


- Oi, Lily. – falou James, virando para trás para vê-la.


- Bela casa, senhorita Lily. – disse Sirius, olhando por baixo dos óculos escuros, sorrindo maroto. Ela ficou vermelha diante da afirmação.


- Como souberam que eu moro aqui?


- Sirius achou seu nome familiar e fez uma pequena pesquisa. – disse Marlene. – Descobriu que você é filha do dono da rede dos hotéis mais badalados da Eu-ro-pa! – exclamou empolgada. – No site dizia que os Evans moram numa mansão no centro de Londres. Não foi muito difícil de achar. E os caras do site estavam certos, sua casa é linda. Parece um palácio!


- Ah, entendi. – Lily olhou pelo vidro de trás para a mansão que se distanciava e soltou um suspiro. – Parece mesmo um palácio, mas às vezes me sinto a Rapunzel.


- Eu disse que ela era uma donzela que precisava ser salva. – resmungou Sirius.


- Sirius... – disse James em tom de aviso.


- O que é? – perguntou o outro monotonamente.


- Tudo bem, James. Acredito que ele esteja certo, na verdade. – segui-se um silêncio um pouco constrangedor, quebrado pela própria Lily. – Então, o que vocês têm em mente?


- Hoje, Lily querida, você vai sair da torre. – disse Marlene, dando uma piscadela para a amiga.


Lily nunca havia saído de casa sozinha e muito menos com mais três adolescentes num carro dirigido por um desses adolescentes, para fazer sabe-se lá o que sabe-se lá onde.


É, Lily. A primeira vez a gente nunca esquece.


Tinham o dia inteiro para curtir, como havia dito James. E ela aproveitaria, é lógico. E o dia começou de verdade quando Lily pegou Marlene olhando insistentemente para seu vestido e seu casaco.


- O que foi, Lene?


- Lily querida, já que, como disse sabiamente nosso caro Sirius, nós viemos para te resgatar, você tem que nos prometer fazer tudo o que mandarmos você fazer. Então, promete? – perguntou Marlene, passando a olhá-la de forma sapeca.


- Ahn... eu não acho que seja uma boa idéia, pessoal. – falou ela, visivelmente hesitante. O que aqueles três malucos pretendiam que ela fizesse? Imaginou mil e uma coisas, mas nenhuma lhe parecia sensata. E tinha certeza que entrariam numa grande encrenca.


Hum... maior do que se apaixonar por um cara que seu pai sequer conhece? Acho que não.


- Prometa, senhorita Lily. – disse Sirius, dessa vez sem tirar os olhos da estrada. James virou-se para trás e sorriu.


- Vamos, Lily. Prometa a nós. – disse. Ela mordeu os lábios em dúvida e olhou para Marlene, que ainda a encarava com um sorriso ridiculamente sapeca.


- Promete?


- Ok, ok! Vocês venceram! – respondeu Lily, levantando as mãos em um gesto de rendição.


- Promete bem prometidinho? De verdade verdadeira? Hein, Lily? – Marlene continuou insistindo, pontuando cada palavra com um cutucão no ombro da menina.


- Prometo, Lene! Bem prometidinho de verdade verdadeira.


- Êêêêêêba! – gritou a amiga, lançando os braços ao redor do pescoço de Lily. Depois que a soltou, voltou a olhar para o vestido e o casaco que Lily usava. – Então, para começar... Quer me explicar por que cargas d’água você está usando essa roupa de vovó? Esse vestido vai até as canelas!


- Ué, qual o problema das minhas roupas? – perguntou Lily, puxando a barra do vestido e admirando-o.


- Ninguém de dezessete anos usa roupas assim!


- Eu uso!


- Aí que está o problema. – dito isso, Marlene cutucou a cabeça de Sirius e ordenou: - Amor, toca para o shopping!


- Tudo por você, cara dama. – respondeu o rapaz galanteador e fez o retorno na estrada. Lily olhou com os orbes arregalados para Marlene. Shopping Center?


Lily jamais havia ido a um shopping center, ainda mais para comprar roupas. Suas roupas eram escolhidas por Jane. Nem nisso tinha autonomia ou podia sequer expressar opinião. Seu pai controlava seu guarda-roupa, porque havia jeitos e modos de “uma verdadeira dama se vestir!”


É, Lily. Para tudo existe uma primeira vez. Que a gente nunca esquece.


- Marlene, não posso comprar nada. Papai controla meu guarda-roupa e eu não tenho acesso ao meu cartão de crédito. Como vou pagar?


- Sabe, querida... eu não sou ultra e mega e multimilionária como você, mas acho que posso pagar por algumas roupinhas. E quanto ao guarda-roupa, você pode muito bem esconder essas roupas que compraremos em algum lugar. Seu pai entra no seu quarto?


- Não me lembro da última vez. – respondeu com um suspiro.


- Viu? E além do mais, você prometeu. Ou quer que achemos que você não cumpre sua palavra?


- E nós não gostamos de desonestos, senhorita Lily. – aderiu Sirius.


- Não gostamos mesmo. – concluiu James entrando na brincadeira. Lily mostrou-lhes a língua. – O que me diz, Li?


Li? Ninguém jamais havia chamado-a por um apelido. E até para isso existe uma primeira vez.


- É claro que eu cumpro minhas promessas, pessoal! Tudo bem, Marlene, só não me enfie numa roupa ridícula.


- Jamais, meu bem. O que seria da minha reputação?


- Você tem uma reputação?


- Não. Mas o que isso importa? – concluiu a morena rindo. – Ah, olhe, estamos chegando. – disse e apontou para a construção que ia se erguendo à frente deles: O London Fashion Mall.


Lily engoliu em seco quando cruzou as portas automáticas, o braço atado ao de Marlene. Os garotos iam andando um pouco atrás, cheios de cochichos e risadas nada discretas.


- Por que eles estão andando tão atrás de nós? E o que será que eles tanto conversam e riem? – perguntou Lily espichando o pescoço para trás e cruzando acidentalmente o olhar com James. – Eles estão olhando para cá! – sussurrou.


- Ah, decerto – Lily franziu o cenho. Nem ela, sempre tão recatada e culta falava palavras como “decerto”. Só Marlene conseguia usar essa palavra sem parecer uma metida. – eles estão falando de nós duas e discutindo coisas de homem, como “ah, a minha é mais gostosa que a sua e blá blá!” ou coisas assim.


- Acha que eles estão falando isso? – assustada, Lily olhou para trás novamente e encontrou o sorriso de James. Encabulada, virou o pescoço tão rápido que o sentiu estalar. Marlene riu e assentiu silenciosamente. – Você não se importa que falem assim de você?


- Não, por que me importaria? James é meu melhor amigo desde, sei lá, a nossa tenra infância, ou algo assim, - sorriu sozinha e Lily pescou mais uma palavra que dificilmente um adolescente usaria – e Sirius sempre foi meu amigo e agora é meu lindo namorado. – ambas riram cúmplices. – E sabe, Lily? Você também não deveria se importar com isso, porque, meu bem, modéstia e totalmente à parte, nós duas somos muito gatas e super gostosas, ok?


- Ah, Lene... – Lily murmurou insegura. Marlene sorriu.


- Lily, modéstia é para os fracos. – e rindo, fingiu jogar os longos cabelos negros. – As loiras que me desculpem, mas eu sou mais as morenas. Ah, e as ruivas, é claro! – Lily soltou uma gargalhada, mas segurou-a rapidamente, repreendendo-se. Marlene percebeu que Lily não havia se permitido rir alto, mas falariam sobre isso depois. Ainda não havia terminado sua conversa de menina com a nova amiga. – Ahn... e eu gosto dos homens morenos também. Bastante, diga-se de passagem. E convenhamos, querida, esses dois aqui atrás são dois piteis. [n/bela: ‘Pitel’ é uma boa palavra pra expressar esse dois gostosos .] Lindos, cheirosos e gostosos. Um é meu! E adivinha? O outro é seu, Lily!


- Marlene! – guinchou tremendamente vermelha.


- O que? Fala sério, Lily! O James está totalmente na sua.


- Na minha? Como assim? – com a mesma habilidade que tinha para vocábulos extremamente complexos, Marlene conseguia usar expressões realmente simples, ou as comuns gírias.


- Hum, como vou explicar isso de forma simples? – disse, com a mão no queixo, fingindo pensar. Depois riu. – Li, James está doidinho por você! Tipo, gostando de verdade. Acho inclusive que está se apaixonando...


- COMO É?


- Vai dizer que não está assim também? Ah, mas é claro que está.


- Onde fica mesmo essa loja de roupas? – Lily perguntou nervosa, tentando mudar o rumo da conversa. Em vão.


- No terceiro andar. E não fuja do assunto, mocinha. Confesse, você está doida por ele também!


- Ok, estou! Estou mesmo, de verdade. – suspirou tão profundamente que conseguiu assustar Marlene. Nem quando seu amor por Sirius não era correspondido, Marlene se ouviu suspirar assim.


- Bem, querida, então deixe-me dizer uma coisa: ele quer muito, muito, muito mesmo ficar com você.


- Ficar? Você quer dizer que – baixou a voz e olhou para os lados rapidamente. – ele quer me beijar?


- É claro que sim! – ao ver o olhar totalmente assombrado de Lily, Marlene deduziu tudo. – Espere aí... Lily, você nunca beijou ninguém?


- Não. – respondeu baixando os olhos pra o chão. Marlene meio que se compadeceu.


- Bem... então, meu amor, prepare-se porque de hoje você não passa.


- O QUE?! – gritou tão alto que James, Sirius e algumas pessoas ao redor levantaram os olhos para ela. Pigarreou e baixou a voz. – O que?


Marlene soltou uma sonora gargalhada.


- Querida, não se preocupe com absolutamente nada. Vai ser mágico e fofo. E, Lily, beijar na boca é muito, muito bom! E uma vez que você começa, é meio difícil parar. – piscou para ela.


- Ah, meu Deus! – exclamou, passando as mãos pelo rosto afogueado. Será que aquilo era mesmo verdade? James gostava de verdade dela? Estava se apaixonando como ela estava? E será que ela...


Beijaria pela primeira vez? É, quem sabe?


- Ah!


- Que?! – a súbita exclamação de Marlene a tirou do devaneio. – O que disse, Lene?


- Sabe o que acabamos de ter? – perguntou Marlene, com um brilho nos olhos.


- O que?


- Nossa primeira conversa de meninas! Ah, isso é tão excitante! – Lily olhou para a garota como se esta fosse doida, o que era realmente de se esperar, mas riu.


- Tem razão. Obrigada, Lene. – Marlene a abraçou pelos ombros e sorriu ternamente para Lily.


Maravilha.


É, Lily. Todas nós, meninas, temos nossa conversa de amigas. Nunca é tarde para se ter a primeira, certo? Certo. E como dito antes: a primeira a gente nunca esquece.


Quando saíram do elevador e chegaram à tal loja, Lily respirou aliviada.


- Venha, Lily. Vamos comprar uma roupa bem sexy para você impressionar o James. – com uma piscadela, Marlene puxou-a para dentro da loja.


- Como disse?!


- Relaxe, eu estou brincando.


- É bom que esteja mesmo!


Depois que uma vendedora simpática chegou para atendê-las, as três passaram a revirar as araras de roupas.


- Quantos jeans você tem, Li? – Lily arqueou uma sobrancelha, mostrando que não tinha nenhum. – Certo. Qual tipo de roupa você usa. – Ainda sem emitir uma palavra, Lily apontou para si mesma. Ou seja, vestido estampado e comprido, casaco de crochê e sapatilhas. – É, vai ser mais difícil do que eu pensava.


- Puxa vida, obrigada, Marlene! – falou ela sarcasticamente.


- Disponha. – e virando-se para a vendedora, Marlene concluiu – Kelly, por favor, pegue alguns modelos de jeans tamanho 36, blusas do menor número, saias e vestidos decentes.


- Claro, Srta. Com licença. – e saiu, deixando as duas sozinhas. Os meninos estavam parados na porta da loja e entrariam para aprovar as aquisições de Lily.


- Não acha muito exagero, Lene? – perguntou Lily em dúvida, mordendo o lábio inferior.


- Absolutamente. E quando sairmos daqui iremos à uma sapataria comprar pelo menos um par de saltos para você. Ah, e um par de tênis. – Lily suspirou derrotada e assoprou uma mecha do cabelo, que Marlene segurou entre os dedos. – Você provavelmente me acha a pessoa mais fútil desse mundo, porém eu juro que tenho conteúdo... mas, por Deus, você precisa dar um trato nesse cabelo.


- Não te acho fútil, mas louca... talvez. E meu pai vai perceber se eu mudar o meu cabelo. Marlene, meu pai, sei lá eu por que, controla tudo na minha vida. Se ele souber que saí com vocês, Jane será despedida e eu vou ser mandada para algum internato na América ou algo assim. Muita coisa está em jogo, não posso me arriscar mais. – ela baixou os olhos, mas Marlene segurou seu rosto entre as próprias mãos.


- Lily, olhe para mim e me escute bem, ok? – ela assentiu e a amiga continuou. – Muita coisa está realmente em jogo, inclusive a sua felicidade, que é algo extremamente importante. Se arriscar faz bem, Li, e sentir medo é normal, mas isso é algo necessário. Olhe, sei que nos conhecemos há pouquíssimo tempo, mas você me inspira confiança e meiguice, e já me considero sua amiga. E amigas de Marlene McKinnon são para sempre, viva com isso. Enfim, o que eu estou tentando te dizer é que, como amiga, eu não vou deixar você continuar a sacrificar sua felicidade e seu bem-estar pelo seu pai. Essa coisa de donzela indefesa, meu bem, ficou num passado distante que agora será chamado de A.J.S.M.


- A.J.S.M?


- Anterior a James, Sirius e Marlene. Preste atenção agora: comece a viver, Lily! Você tem dezessete anos e pelo visto perdeu um bom pedaço da sua adolescência, mas nós não deixaremos você perder o que ainda resta. Você tem amigos?


- Não. – disse tristemente. Marlene sorriu.


- Não? E essa gata aqui? E aquele dois pedaços de mau caminho ali fora? Você agora tem amigos, que são muito legais por sinal. Então, Lily, escute um conselho de amiga: comece a viver!


- Certo, você me convenceu! – riu para Marlene e foi retribuída.


- E, de qualquer forma, você prometeu.


- Você não vai me deixar esquecer isso.


- Jamais, querida.


Depois do sacode que levou de Marlene, e com razão, Lily foi para o provador com os braços carregados de roupas. James e Sirius sentaram-se num sofazinho em frente ao provador e Marlene a auxiliava com as roupas. A cada roupa vestida, Lily saia da cabine e esperava a aprovação dos amigos. Sirius a todo instante fazia pequenas provocações, sendo constantemente agredido com tapas na cabeça tanto de James quanto de Marlene, mas era com os olhares de James que Lily quase surtava de tão encabulada. Depois de inúmeros rodopios, dúvidas, provocações, tapas na cabeça e aprovações, Lily saiu com duas saias, um vestido próprio para festas e um para usar em quaisquer outras ocasiões, duas calças jeans e algumas blusinhas. Tudo com a total aprovação dos três amigos.


Saíram da loja de roupas e foram à sapataria. Não se demoraram lá; Lily escolheu um par de sapatos de salto, que demandariam muito tempo de aprendizado, na boa, velha, básica e universal cor preta, e um par dos famosos All Star na cor bege. Os meninos carregavam as sacolas, sem emitirem reclamação alguma, porém.


Sim, sim, estes são os modelos da perfeição. E olha que nem existe perfeição.


Eram onze horas da manhã quando entraram num salão que ficava no primeiro andar do shopping. Pelo visto, Marlene tinha alguns contatos, porque logo Lily estava sentada numa cadeira encarando pelo espelho o reflexo do típico cabeleireiro gay: lindo, rico e afetadíssimo.


- Não quero pintar o meu cabelo.


- E não vai, querida! Uma cor divina como essa não deve ser jamais desperdiçada ou substituída. Seu cabelo é único, amor! Apesar de estar bastante desidratado. Há quanto tempo não vai a um salão?


- Muito tempo. – respondeu simplesmente. Ele primeiro fez uma hidratação nos fios rubros e depois a pôs sentada novamente. Lily viu o cabeleireiro pegar as tesouras e inspirou fundo. Mas antes que ele cortasse o primeiro pedaço, Marlene pediu que não tirasse muito do comprimento, mas que o cortasse repicado. Dito e feito, trabalho findado e cabelo cortado, lá estavam os quatro de volta ao carro. E ela estava mais bonita do que antes.


Legal.


Antes que percebesse, estavam estacionando novamente. Lily não pôde conter uma exclamação de felicidade quando viu onde estavam. Três palavrinhas: Parque de diversões. Lily nunca na vida, nem quando sua mãe era viva, havia ido a um parque de diversões. Seu olhar cobiçoso vagava de um brinquedo ao outro sem acreditar.


Nada como três novos amigos para trazer a magia da primeira vez para ela. Uma primeira vez inesquecível.


Compraram tíquetes para cada brinquedo no parque. Não era um lugar muito grande, mas tinha tantas crianças correndo felizes de um lado para o outro, com suas mães e pais correndo atrás deles e gritando cuidados. Sorriu ternamente para as cenas que presenciava, enchendo-se de uma alegria que lembrava jamais ter sentido.


- Obrigada. – disse simplesmente, sabendo que seu sorriso chegava aos olhos e que seu simples agradecimento era mais que sincero.


- Não por isso. Eu sempre gostei mesmo de bancar o herói que salva a donzela no fim da história. Pena que nesse conto de fadas eu seja apenas um coadjuvante. O príncipe é outro. – disse Sirius maroto, recebendo uma cotovelada de James em suas costelas. – Um dia eu arranco o seu braço, fique esperto.


- Veremos isso. – disse James sarcasticamente, voltando seu olhar para Lily, que lhe sorriu. Uma forte conexão se estabeleceu entre os dois, excluindo Sirius e Marlene momentaneamente, mas foi rapidamente quebrada pelo ronco que o estômago de Lily produziu.


Nada como um bom mico para impressionar o cara que você gosta, ah é.


Escolheram o bom e velho cachorro-quente, que, para a total surpresa dos três, Lily nunca havia comido. Quem a auxiliou nessa tarefa foi Sirius.


- Ok, donzela. Montar um cachorro-quente é simples: pegue um pão e coloque uma salsicha dentro. Uau, parabéns, você conseguiu! – ela o fuzilou com os olhos quando ele disse a última parte com voz de bebê. – Agora você põe molho, maionese, ketchup, mostarda, milho, ervilhas e batatinhas. – Lily olhou para a montanha que era seu lanche e se sentiu meio intimidada. E enjoada. Mas não diria isso jamais. Eles pagaram e sentaram-se junto a Marlene e James que já comiam seus cachorros-quente. – Quando eu contar até três, você prova. Um... dois... três!


Ela abocanhou um pedaço do lanche e mastigou vagarosamente, apreciando o gosto. Aquilo era bom. Muito bom mesmo. Bom de verdade.


Cachorro-quente era ótimo, concluiu ela sabiamente.


Primeira vez a gente nunca esquece.


- O que achou? – perguntou James, sorrindo.


- Delicioso!


- De onde veio isso tem muito mais, donzela.


- Sirius, pare de chamá-la de donzela! – brigou James. – Acho que já a tiramos da torre.


- Como vocês são brigões! – exclamou Lily rindo, parecendo bem feliz.


- São assim desde que se entendem por gente. No fundo, eles se amam. – disse Marlene.


- Não amamos, não! – exclamaram os outros dois em uníssono, parecendo indignados e fazendo Marlene revirar os olhos.


- Que seja. Então, querida, quer comer mais alguma coisa?


- Não, esse cachorro-quente me deixou empanturrada... – naquele momento, uma carrocinha algodão doce passou na frente da mesinha onde eles estavam sentados. Meu Deus, algodão doce era algo que ela nem recordava mais o gosto. – Pensando bem, acho que eu quero um... – antes que concluísse, James já havia se levantado e comprado um algodão doce. Branquinho. -... é como uma nuvem. Obrigada, James. – eles sorriram um para o outro. – Alguém aceita?


- Todo seu. – responderam os três. Sem que ela visse, James retirou um pequena máquina fotográfica do bolso e bateu uma foto dela comendo o algodão doce, com os dedos da mão melados de açúcar e um sorriso bobo no rosto enquanto se deliciava.


Aquela foto ele guardaria para sempre. Com toda certeza.


Nunca pessoa alguma havia tirado uma foto sua para que guardasse de lembrança, muito menos um menino. E para isso também existe uma primeira vez.


Esse negócio da primeira vez estava rendendo, vou te contar.


Quando uma feliz da vida Lily terminou de se lambuzar com o doce, eles foram brincar pelo parque. Primeira parada: O trem fantasma!


Marlene ficou de olhos fechados todo o percurso, ao lado de Sirius, que parecia constantemente com sono e bocejava de propósito para mostrar seu completo descaso. O que era mentira, porque ele estava se divertindo totalmente. James, por sua vez, se sobressaltava a cada movimento mais brusco de um fantasma; mais tarde ele confessaria morrer de medo de seres sobrenaturais, vai entender; mas Lily nem sequer piscava os olhinhos verdes, olhando para todo lado freneticamente e rindo histérica cada vez que um bicho, ou coisas assim, pulava nela. Quando voltaram para o sol morno da tarde, Marlene parecia tremer e James olhava de um lado para o outro, fingindo que não teve medo nenhum. Já Lily e Sirius implicavam um com o outro, relembrando as passagens nada assustadoras do trenzinho.


Lily foi a todos os brinquedos do parque, algumas vezes forçada por sua promessa feita no carro mais cedo, mas se divertia de verdade. Mas tinha um brinquedo que ela estava evitando com todas as forças, rezando para que seus amigos não se lembrassem da existência dele.


Mas não foi bem sucedida. Sem que percebesse, já estava parada na fila, olhando aflita para a imensa estrutura de metal.


- Por favor, gente. – implorou. James riu quando percebeu uma ruguinha de medo entre as sobrancelhas dela.


- Não! – exclamaram os três. Ela continuou a suplicar, mas eles estavam irredutíveis.


- Você prometeu, donzela Lily... e lembre-se, nós gostamos de pessoas honestas que cumprem sua palavra. – disse Sirius. Antes que James dissesse alguma coisa, ele completou. – Ela ainda é uma donzela, James. Por pouco tempo, mas é.


- Eu sei que prometi, mas olhem o tamanho dessa coisa, ela vai me matar. É sério, eu vou morrer e a culpa será toda, todinha de vocês. Como pretendem viver com esse sentimento terrível de culpa corroendo o âmago de seus seres?


O quê?


Aprendendo a chantagear direitinho, Lily. Isso é que é primeira vez.


Os três ficaram olhando para ela, até Sirius irromper numa gargalhada de furar os tímpanos.


- Pare de ser dramática, ora essa! – disse Marlene, revirando os olhos azuis. – Você não vai nos convencer, Lily.


- Guarde o seu talento para o drama para quem acredita. – ironizou Sirius, passando os dedos pelos olhos molhados de lágrimas.


- É verdade, Lily. Juro que você não vai morrer, acredite em mim. – anuiu James, olhando firmemente nos olhos dela. Como não sucumbir? – E pare de ser medrosa.


- Você teve medo no trem fantasma! Por que não posso sentir medo de andar nesse troço? – ela estreitou os olhos, desafiando-o a falar mais alguma gracinha.


- Ok, eu tenho medo de fantasmas, e daí? O sobrenatural me assusta, ok? – respondeu o menino fazendo um gesto de rendição.


- É um baitola mesmo. – gracejou Sirius, levando um safanão na orelha do amigo. – Eu juro que vou arrancar seu braço.


- Cão que ladra não morde, Sirius. – falou James e voltou-se para Lily que o encarava com os braços cruzados sobre o tórax. – Como eu ia dizendo, eu tenho medo mesmo de trem fantasma, mas isso daí é fichinha, não se preocupe. Já fui várias vezes.


- Ok, vamos balancear essa equação direitinho. – disse Lily, fazendo o gesto típico da balança. – Hum... ficar em terra firme, em perfeita segurança, ou ficar a dezenas de metros do chão, correndo o sério risco de morrer, com um cara que tem medo de fantasma? – ela pesou o lado da “terra firme”. – Ops, acho que já tenho a resposta.


Que menina irônica, essa Lily.


- Haha, muito engraçada. Mas continua sem convencer qualquer um de nós. – James continuava impassível.


- Na verdade, ela foi bem engraçada, James. – riu Marlene, mas ao receber as olhadelas raivosas do amigo e do namorado, apressou-se em completar: - É, mas não conseguiu nada, mocinha! E veja, o carrinho acabou de chegar. Sirius, meu bem, você vem comigo.


- Como se eu já não suspeitasse, querida. – resmungou ele, seguindo a namorada até um dos vagões.


James foi empurrando as costas de Lily, até que ela não tivesse escolha a não ser entrar no vagão. Ele sentou-se ao seu lado e apertou a mão dela.


- Eu vou morrer! – choramingou ela. – E vou voltar para puxar seu pé!


- Você não vai morrer, eu te protegerei! – ele falou brincando, mas ela sabia que havia um fundo de verdade.


Ah, a paixão...


Quando houve o primeiro tranco, Lily soltou um grito esganiçado, arrancando uma risada de James, que continuou a apertar sua mão. Ela estava com os olhos firmemente fechados.


- Abra os olhos, Lily! – ele gritou, o vento abafando o som da voz dele.


- Não mesmo! – ela gritou de volta.


- Vou soltar sua mão e você vai abrir os olhos, ok?


- Não! James, não! – mas ele já tinha soltado. Assustada, ela abriu as pálpebras de supetão. E ficou maravilhada. O carrinho da montanha russa passava naquele segundo sobre a parte mais alta e Lily pôde ver boa parte de Londres como um grande borrão de cores. Ela riu como nunca havia rido antes e imitando James, levantou os braços, gritando de felicidade.


A primeira vez numa montanha russa, sentindo o vento bagunçar o cabelo, ressecar os olhos e a boca era mesmo uma experiência inesquecível. Tê-la com um gato ao seu lado é mais que inesquecível.


Quando o carrinho parou, ela saltou rindo como louca, com James sorrindo bobamente para ela. Marlene e Sirius apareceram ao seu lado, rindo da bobeira dela.


- Isso é muito legal! Vamos de novo, por favor! – ela surtou. James apenas pegou seu braço e a arrastou para longe da montanha russa. – Ei, eu quero ir mais uma vez, por favor!


- Outro dia, Lily. Estamos atrasados, logo você tem que estar em casa, mas ainda queremos levá-la a um último lugar.


- Onde?


- Já foi à London Eye? – ele perguntou e ela responde negativamente. James não pareceu surpreso. Ela nunca havia ido à roda-gigante que margeava o Rio Tâmisa, mesmo tendo morado a vida inteira em Londres. Os seus horários eram tão rígidos e sempre cumpridos à regra que Jane nunca havia ido até lá com ela. – É para lá nós vamos.


Ela nem sequer respondeu, apenas sorriu abertamente e correu para o carro.


- Essa garota é maluca. – disse Sirius, acendendo um cigarro e tragando longamente.


- Não, Sirius. Ela só é infeliz. – concluiu Marlene, passando um braço pelo braço dele.


- Era infeliz. Podem ter certeza de que não é mais. – corrigiu James, sorrindo para os amigos. – Vamos. – finalizou e eles a seguiram.


Menos de quinze minutos depois, Lily e James estavam devidamente acomodados numa das cabines da roda-gigante. Sirius e Marlene resolveram tomar um sorvete a beira do rio enquanto os esperavam.


Passaram alguns segundos em silêncio, observando as águas logo abaixo deles, até um aparentemente agoniado James quebrou o gelo.


- Lily. – chamou e ela se virou para ele. – Olhe, sei que isso tudo parece bastante impulsivo. E acho que é mesmo, mas desde aquele dia na cafeteria, em que nos conhecemos, eu venho pensando demais em você. – ela fez menção de falar, mas ele a impediu. – Não, me deixe falar antes. É meio estranho se sentir desse jeito, não sei explicar bem. Não acredito em amor à primeira vista, mas atração com certeza. Num primeiro momento, foi só isso que senti por você, apenas atração. Mas isso rapidamente virou uma bola de neve e na segunda vez em que te vi, há alguns dias, eu tive certeza de que precisava sair com você, porque você me parecia tão intocável, tão diferente. Resolvi levar você para conhecer meus amigos primeiro, pois seria menos desconfortável. E foi.


- Foi mesmo. Você tem grandes amigos, James. Estou muito feliz que sejam meus amigos também. Sirius e Marlene são indescritíveis e eu sou muito grata por vocês terem entrado na minha vida, mesmo repentinamente.


- As coisas não planejadas são melhores. Bom, tirando esse dia.


- Por que fizeram tudo isso por mim, James? Eu os conheço há tão pouco tempo, não que esteja reclamando, mas jamais esperaria algo assim. Por que se deram ao trabalho de, como a Marlene mesmo disse, me tirar da torre?


- Bem, toda princesa precisa do seu final feliz, certo? – ele sorriu ternamente para ela. Os olhos verdes brilharam intensamente, mas ela demorou um pouco para registrar o que ele havia dito.


- O que quer dizer?


- Lily, estou apaixonado por você.


Dessa vez ela registrou rapidinho, hehe.


Foi a vez de ela sorrir. James viu o sorriso mais bonito do dia despontar no rosto dela, mas permaneceu sério. Aquele era momento pelo qual ambos haviam esperado desde o encontro na cafeteria naquele dia chuvoso.


James dirigiu as mãos para a cintura dela e a sentiu estremecer. O coração dela nunca havia batido tão rápido quanto naquele momento e ela achava seriamente que ia senti-lo sair pela boca.


- Não se mexa. – ele pediu. Lentamente, aproximou-se e, olhando-a intensamente, tocou os lábios dela com os seus. Instantaneamente, os dois fecharam os olhos. Lily não sabia muito bem o que fazer com as mãos, então simplesmente o abraçou. Entendendo isso como um sinal verde, James aproximou o corpo e aprofundou o contato, que se tornou um beijo calmo e suave. Quando os dois já suplicavam por ar, separaram-se devagar, mas não interromperam o abraço. Lily afundou a cabeça no peito dele, rubra de vergonha, e sentiu-o depositar um beijinho em seus cabelos.


Primeiro beijo! Primeiro beijo! Primeiro beijo!


Não é preciso dizer mais nada, concordam?


Permaneceram abraçados, olhando para o pôr do sol que se estendia pelo horizonte. Lily nunca havia achado o pôr do sol tão lindo quanto naquele momento, se é que isso pode ser mais clichê.


Até para isso existe uma primeira vez.


Espere aí, pôr do sol? Lily soltou James como se tivesse levado um choque.


- O que houve? O que eu fiz de errado? – perguntou ele, repentinamente desesperado.


- Você não fez nada, James. Mas eu preciso estar em casa antes do entardecer ou Jane me mata. E eu falo sério! A montanha russa é fichinha perto dela! Precisamos ir!


- De Rapunzel você vira Cinderela! – ele disse sorrindo.


Respirando consideravelmente mais aliviado, James a puxou pela mão e os dois correram de encontro ao casal de amigos. Rapidamente, Sirius já acelerava pelas ruas um pouco mais movimentadas, por causa do horário de saída do trabalho. Quando o céu se tornou escuro em definitivo, ele estava parando em frente aos portões da mansão.


- Obrigada pelo dia maravilhoso, gente. Vocês realmente me fizeram feliz. – agradeceu com um sorriso brilhante.


- Em especial o meu amigo aqui, não é, senhorita Lily? – brincou Sirius, nem se importando com o tabefe que Marlene lhe deu dessa vez. James apenas suspirou cansado, mas sorriu para ela.


- Ah, com toda certeza. – respondeu ela entrando na brincadeira. Ela olhou por cima do ombro. – Preciso ir, Jane está surtando.


- Espere, Lily! – pediu Marlene, puxando um papelzinho e uma caneta da bolsa. – Esses são nossos números de telefone. Ligue se precisar de um resgate, donzela.


- Obrigada, Lene. Obrigada, meninos. Até mais. – virou-lhes as costas e atravessou correndo os jardins.


Encontrou a Sra. Phillip quase tendo um filho na sala de estar.


- Lily Elizabeth Evans! Onde você estava? EU DISSE QUE QUERIA VOCÊ EM CASA ANTES, AN-TES, DO ENTARDECER! E JÁ ESTÁ ESCURO LÁ FORA! ONDE VOCÊ ESTAVA COM A CABEÇA? – surtou ela totalmente.


Ah, a primeira bronca por chegar atrasada em casa.


- Desculpe, Jane. De verdade, mas nós perdemos a noção do tempo. Mas foi sem querer e eu prometo não fazer isso de novo.


- Ótimo! – respirando mais calmamente, a Sra. Phillip ficou curiosa. - O que você fez o dia inteiro?


Lily sorriu feliz.


- Eu tive a minha primeira vez, Jane. – foi demais para a Sra. Phillip. Ela caiu sentada no sofá, a mão sobre o coração, os olhos e a boca escancarados.


- Você o que? O q-que q-quer dizer? Lily, não, n-não, não, não, não! Não vá me dizer que...


- O que? – ficou aturdida por um segundo, mas depois a ficha caiu. – O que?! Claro que não foi isso que eu quis dizer! Por Deus, Jane! Não, claro que não!


Um tsunami de alívio atravessou o corpo e a mente da Sra. Phillip. Mas rapidamente sua curiosidade maior que qualquer coisa a fez se recuperar.


- O que quer dizer, então, Lily?


- Eu quis dizer que tive a minha primeira vez na vida, Jane. – a empregada continuou sem entender. – Entende? Eu vivi pela primeira vez. Eu descobri que estou viva, Jane. Viva! – e rindo escandalosamente, Lily subiu as escadas para seu quarto, deixando uma embasbacada Sra. Phillip para trás.


A velha Jane Phillip então sorriu, feliz como não se sentia há muito tempo por ver sua menina redescobrir a vida. Ela tinha muito o que agradecer aqueles meninos.


Definitivamente, essa primeira vez Lily jamais esqueceria.


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N/A: AHAHAHAHAHAHA, SEUS MENTES SUJAS! TODO MUNDO PENSOU COISA FEIA! E NÃO TENTEM NEGAR! FICARAM IGUAIZINHOS À SRA. PHILLIP! HIHIHIHIHIHI
fala sério, foi meio surpreendente esse capítulo, não? Eu amei de verdade escrevê-lo e acho que vocês devem gostar dele. A Merlene é muito diva, né? Queria ser como ela, fato! O Sirius é, bom, me faltam palavras para descrevê-lo. E o James, que homem perfeito, gente! Eu podia cruzar com um desse na esquina, né? HAAHAHAHAHAHAHAHA

obrigada pelos comentários, meus amores. agradeço de coração. espero que gostem do capítulo, porque a primeira vez a gente nunca esquece! :D

beijos enormes, pessoal!
amo vocês,
Liv :*

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH Nossa que demais *-* a primeira vez que eu fui no parque de diversões nossa foi algo muito mágico eu pirei e foi há dois anos eu estava com 15 foi demais. E foi com meus amigos, serio eu ri demais. Fui em um brinquedo lá que fica de cabeça pra baixo ai eu fiz todo mundo que tava no brinquedo cantar quando acabou eu queria ir de novo, e de novo  kkkk acho que é uma experiencia fantastica, imagina para uma garota que viveu a vida toda trancada em casa ?! Amei flr *-* capitulo perfeito!

    2012-07-23
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