Os Sentimentos de Riddle



I



Gina e Tom entraram em um acordo de que se ela piorasse ou a febre não cessasse em um mês eles iriam à um médico, sob disfarce, caso contrário tudo ficaria como estava.

Nos próximos dois dias a febre se intensificou, já no terceiro ela não apareceu, o que deixou Gina mais calma. Tinha tanto medo de ter que ir ao Sto. Mungus e alguém reconhecê-la que estava tendo dificuldades para se manter calma e, se ela fosse ao médico... Bom, se ela fosse ao médico seria uma questão dele descobrir que ela estava grávida bem antes do previsto.

Fazia cinco dias desde a noite em que ele descobrira de seus sintomas e então alguém apareceu no castelo que varreu suas preocupações da cabeça.

Ela estava indo buscar uma carta no quarto de Tom para despachar uma carta para a Áustria e estava descendo a escada do saguão de entrada no momento. De repente duas pessoas aparataram no meio do aposento e estavam discutindo. Uma era Lúcio Malfoy e o outro era um rapaz que estava de costas para ela.

- Mas pai, eu juro que não foi minha culpa! Aquela sangue-ruim da Granger é que estragou tudo! - urrava o rapaz, enquanto Lúcio sacudia a cabeça em desaprovação e se virava para a escada da Ala Norte.

- Não interessa! Agora tenho que acertar as contar com o Lord das Trevas. Ou melhor, você tem - dizia Lúcio em altos brados enquanto subia as escadas.

Quando eles se cruzaram na escada, Gina, que estava distraída, levantou os olhos para o rapaz: era Draco Malfoy. Quando seus olhos bateram nele, pareceram ver alguém muito diferente do Malfoy que conhecera na escola. O trabalho deveria estar sobrecarregando-o: ele tinha a barba por fazer, deixando seu rosto fino meio cinzento, os cabelos louros prateados antigamente muito bem penteados estavam compridos e bagunçados e os olhos, embora ainda fossem muito claros, assim como os do pai, pareciam cansados e fundos. Não podia negar que ele estava mais homem do que sempre fora, mais bonito, seu ar era muito menos arrogante... Mas ainda assim parecia assustado demais para ela.

Os olhos dele também passaram distraídos por ela, mas ele estacou e tornou a olhá-la com mais atenção. Seus olhos azuis cinzentos se deteram no rosto dela, depois ele levantou uma sobrancelha num olhar intrigante e mirou-a de alto a baixo.

- Weasley? - perguntou ele, estupefato.

- É, Malfoy - disse ela com um sorriso misterioso no rosto. - O que faz aqui?

- Eu é que pergunto - disse ele com os olhos arregalados.

Ela mirou o rapaz por alguns instantes, depois para Lúcio no alto da escada, que estava esperando.

- Desculpe, Lúcio, mas seu filho é meio lerdo para entender as coisas - disse ela com ironia.

- É o que eu vivo dizendo - disse, fazendo um gesto de impaciência com as mãos. - Draco, venha logo! Não temos o dia todo!

Draco recomeçou a caminhada devagar, ainda olhando de relance para trás.

- Nos vemos por aí, então, Malfoy. - murmurou para o rapaz enquanto ele subia.

- Não tenha tanta certeza disso, Weasley - disse Lúcio em voz alta. - Juro que vou me surpreender se Draco sair vivo dessa.

Ela compreendeu então o que ele estava falando. Deu um sorriso sádico para Draco.

- Oh, boa sorte então, Draco. Mas não diga besteiras, ele está de mal humor hoje e, hum, digamos que a sua situação não está nada boa, quero dizer..., espero te ver mais tarde.

Ele continuou a subir a escada lentamente, lançando a ela um olhar espantado para ela, que retribuiu com um sorriso radiante.

Gina esperou que virassem a esquina para continuar. Ela recomeçou a descer a escada com uma sensação estranha. Fazia tempo que não via Draco Malfoy. Ele estava diferente, mais adulto... Porém ao cruzar o olhar com o dela ela sentiu que ele se assustara. E ela achava estranho as pessoas lançarem olhares assustados a ela. Quando chegava no corredor da Ala Oeste, porém, lembrou-se que aparentemente ela estava morta. Achou essa sensação mais esquisita do que nunca.

Pegou a carta, tornou a descer para subir novamente até o último andar da Ala Norte. Quando passava em frente a sala de planejamentos, seus olhos se voltaram para ela involuntariamente. Será que Tom iria se enfezar com Draco? Lá de dentro ela ouvia a voz de Lúcio falando, depois um urro raivoso que estremeceu a fechadura.

- O QUÊ?! - berrou a voz do outro de dentro da sala e ela se encolheu onde estava.

Continuou seu caminho o mais rápido que pode para voltar o mais rápido possível. Chegou no corujal, despachou a carta e desceu correndo. Parou derrapando em frente a porta. Os berros haviam cessado. Endireitou-se e bateu na porta.

Houve um momento de silêncio, mas logo depois uma voz mal-humorada perguntou:

- Quem é?

- G.W., milorde - disse ela lá de fora.

- Entre.

Ela colocou a mão na fechadura e abriu a porta. Estavam Draco e Tom sentados, cada um de um lado da mesa comprida. Lúcio estava de pé ao lado de Draco. Tom encarava Draco com uma expressão ameaçadora e este olhava para baixo. Gina aproximou-se e sentou na mesa, olhando de um para outro.

- E então? O que foi decidido? D. Malfoy está fora do time?

Draco ergueu os olhos para ela, admirado, mas um olhar de relance na direção de Tom fê-lo olhar de volta para baixo.

- O que você sugere, Weasley? - perguntou Tom para ela numa voz indiferente sem olhar para ela. - O jovem Malfoy aqui fez nosso planos irem por água abaixo, mas temos que levar em consideração que a sangue-ruim Granger estava no meio da confusão... - ele parou de falar por um momento, dando um quase imperceptível sorriso da expressão dela. - E então, Weasley? Precisamos tirar Granger de jogo. - E lançou um olhar cauteloso a ela, com um sorriso enviesado.

Ela encarou-o com olhar aborrecido; não podia contestá-lo na frente de outros. Como não tinha nada para comentar sobre esse assunto, disparou outro, enfurecida.

- Posso ver a planilha da parte do Malfoy?

- O que está querendo insinuar? - retorquiu o Lord das Trevas com irritação.

- Pode ser que esteja errado... D. Malfoy não poderia completar sua parte no plano se as ordens que ele teve estivessem erradas - retrucou com impaciência.

Fez-se silêncio por alguns segundos.

- Accio planilha - disse ele impassível e um pergaminho grande e enrolado que estava em cima do armário voou para sua mão. Ele pegou o rolo o passou para ela. - Dê uma olhada nisso e veja quem está errado, Weasley - disse lentamente.

Ela pegou o planilha e sentou-se e, com um olhar de esguelha para ele, abriu o pergaminho. Então virou os olhos para a planilha e começou a estudá-la. Durante o tempo em que ela passou observando o papel, todos estiveram mirando-a em silêncio. Ela estava analisando o plano, fazendo cálculos mentais e medindo distâncias. Por um momento, começou a acreditar que fazia aquilo em vão, mas então bateu os olhos em um ponto que não deveria estar ali.

- O quê?! Isso está errado! Está completamente errado! - exclamou ela de repente. Se repreendeu em silêncio por não ter visto antes.

- O que está dizendo? - perguntou Lúcio rapidamente, correndo até ela.

- Ah, olhe isso daqui! Olhe só isso daqui! Draco não poderia sair sem ser pego por um auror, não teria tempo. Ele teria apenas meia hora para percorrer o Ministério e quinze minutos para sair de lá! Isso é impossível, ele não poderia concluir o plano sem ser encontrado por um auror! - disse Gina furiosa. Se fosse com ela esse tipo de erro não teria acontecido.

Houve um momento de silêncio, depois Draco e Tom se levantaram ao mesmo tempo. Draco chegou perto dela e do pai e Tom chegou do outro lado.

- Deixe-me ver isso - disse ele impaciente, virando a planilha para si. Ele observou-a por um tempo, obviamente fazendo os mesmos cálculos que Gina. Todos esperavam calados. Então o rosto dele se contorceu de raiva. - Idiota! Eu mato Halley!

Gina ergueu as sobrancelhas, levemente surpresa.

- Halley fez isso?! Como pode deixar Halley arquitetar a parte principal do plano?! - disse, horrorizada. - Se fosse um simples saque, daí sim, mas... - porém um olhar venenoso a ela a fez calar.

- Não sei onde eu estava com a cabeça quando deixei o idiota do Halley planejar isso... - resmungou furioso entre os dentes. - Eu mato aquele imbecil! - cerrou os punhos, arreganhou os dentes e, com uma volta, saiu em passos largos em direção à porta.

Lúcio hesitou, depois deu meia volta e saiu correndo atrás do mestre.

- Espere...!

Ele também saiu apressado da sala logo depois de Tom. Draco e Gina ficaram sozinhos. Ela se levantou e foi até a escrivaninha que tinha uma placa dourada com os dizeres "G. Weasley" gravados.

- Você faz parte do conselho de planejamentos do grupo cinco, Weasley? - perguntou ele admirado de onde estava, meio boquiaberto.

Ela olhou-o, avaliando. Depois respondeu calmamente.

- Sim. Por quê?

- Hum, bem - ele pareceu ligeiramente desconcertado - É que eu soube que só os melhores Comensais fazem parte do conselho.

- Está me subestimando, Malfoy? - perguntou ela sorrindo. - Só porque até hoje você está no grupo dois, não significa que o Lord das Trevas não possa me achar uma Comensal útil. - Ela disse isso e lembrou-se que era verdade, mas que talvez ele achasse que ela era útil também para outras coisas. Sorriu marotamente para si mesma, a cabeça baixa.

- Eu não disse isso - disse Draco rapidamente, aumentando a voz. - Eu só acho estranho que você... quero dizer, você é muito nova para estar aqui.

Ela sorriu. Fitou-o nos olhos cinzentos.

- Todos dizem isso... Ninguém acredita... Bom, Malfoy, sabia que você está falando com o G.W.? Fui eu quem planejou a invasão da casa do Fudge e a chacina do Ministério da Magia o ano passado.

Ele chocou-se visivelmente. Abriu a boca mais do que já estava e mirou-a espantado.

- Você não pode estar falando sério, Weasley - disse com incredulidade na voz fraca.

- Obrigada... Eu sei que foi incrível - gozou, sorrindo.

- Ah - começou ele, rindo - Não seja convencida.

Ela ficou em silêncio um pouco, arrumando as penas espalhadas por sua mesa, depois disse, mais séria.

- Não sei o que você está achando incrível... Seu pai também faz parte do conselho.

Ele não respondeu de imediato.

- É, mas ele não planejava grandes feitos assim. E você é uma mulher e tem dezenove anos - disse com um sorriso torto.

- Isso é um elogio, Malfoy? - disse ela sorrindo, sem corar. - O que está se passando pela sua cabeça?

Ele sorriu curiosamente quando ela disse isso.

- Eu estava pensando que agora que você salvou minha vida, nós poderíamos ir almoçar em algum lugar diferente. Aposto que faz tempo que você não sai daqui.

Ela corou e desviou os olhos.

- Obrigada pela consideração, Malfoy, mas não posso aceitar o seu convite. - Ele pareceu um tantinho desapontado, então ela resolveu inventar uma explicação plausível. - É que eu já... Eu não tenho permissão para sair daqui. E acredite, você não gostaria de sair com G.W. ...

- Então peça a permissão- sugeriu ele, esperançoso, mas ela sacudiu a cabeça.

- Não é assim tão fácil, Malfoy. Eu estou aparentemente morta. Se alguém me vê andando nas ruas... Bom, você sabe.

Eles se calaram por um momento Depois de um tempo, ele perguntou, sério.

- Você não está comprometida, está?

Ela hesitou sem querer - isso poderia estragar tudo. Ela tentou não demonstrar nada.

- Eu... - Mas hesitou. Não conseguiu parecer sincera.

Draco estacou, carrancudo, e encarou-a. Ele meteu as mãos nos bolsos e não disse nada. Ela tentou concertar.

- Eu não estou com ninguém - disse rapidamente.

Ele pareceu aliviado. Deu um suspiro nervoso e sorriu para ela.

- Que susto você me deu. Eu estava começando a acreditar...

Ele riu. Estava imaginando a cara de Tom se soubesse que Draco passara uma cantada nela. Era bom que ele não soubesse... Senão era uma vez um Malfoy.

Draco começou a caminhar pela sala. Parou em frente a escrivaninha dela, onde empilhava alguns papéis. Ela tentou não olhar para ele.

- Há quanto tempo está aqui? - perguntou, tentando puxar conversa.

- Dois anos, um mês e nove dias - respondeu ela eficiente, sorrindo.

Ele deu uma breve risada. Gina apenas sorriu.

- Está falando sério? - perguntou ele em tom de riso.

- Sim, estou. Por que? - perguntou ela, sorrindo desconfiada.

- Ah, é que geralmente as pessoas não têm a memória tão boa assim - disse Draco desconfiado, fazendo um gesto de impaciência com a mão.

Ela continuou sorrindo com a ignorância dele sobre o que estava acontecendo dentro de Basilisk Hall.

- Eu tenho um dom que poucos têm. É difícil eu esquecer alguma coisa, entende? - Explicou ela divertida. - Um talento raro que eu não teria descoberto se não tivesse vindo para cá.

Ele deu um assobio breve. Draco não comentou nada além disso. Gina continuou de cabeça baixa alinhando um maço de planilhas para colocara na gaveta, sem olhar para ele.

- E você continua igual ao garoto arrogante que eu conheci em Hogwarts? - perguntou ela com um leve cinismo na voz.

Ele não respondeu de imediato. Ela levantou os olhos para ele e sorriu.

- Bem, depende. Do que você está falando? - perguntou ele disfarçando.

- Deixe-me refrescar sua memória... - começou ela, cínica - Você ainda acha que a minha família toda mora em um só cômodo? Ou que eu sou uma garotinha boba e sem graça? Ou que a Mione é pior do que você porque não é puro sangue?

Ele arregalou ligeiramente os olhos. Como ele demorou a responder, ela pegou um maço de relatórios que havia acabado e saiu de perto da escrivaninha, deixando-o lá. Ela parou na frente da escrivaninha com uma placa dourada entitulada "Lord Voldemort" e observou-a um instante com um olhar divertido antes de tocá-la com a varinha e as palavras serem substituídas por "T. Riddle". Depois de segurar uma risada sentou-se, arrumando os papeis novos que tinha trazido. Draco olhou espantado para ela, mas logo após sacudiu a cabeça e voltou ao assunto em que estavam discutindo.

- O que você acha, G.W.? Você é que mudou radicalmente e... - começou ele, mas foi interrompido.

- Alto lá, Sr. Malfoy. Quem disse que eu mudei? - disse ela impaciente, elevando a voz. Ele pareceu um tanto confuso e abriu a boca para falar uma ou duas vezes, mas não conseguiu emitir som algum. - Só o que aconteceu foi que eu descobri que detesto o seu amigo, o Sr. Potter.

Ela fitou Draco, que tinha a testa franzida. Depois abriu outro sorriso.

- O que posso fazer? É a vida... - continuou ela encolhendo os ombros. - Quem suspeita que a pequena Gina Weasley planeja os ataques mais perigosos dos Comensais da Morte? - disse numa voz sonhadora. Então revirou os olhos para ele, apoiando os cotovelos na escrivaninha e o rosto nas mãos. - Tática, "jovem Malfoy"... Apenas tática... - terminou lentamente.

Ele mirou-a por um tempo, pensativo, depois tornou a sorrir.

- Eu ainda acho que você mudou, Weasley. - falou Draco olhando intensamente para ela. - Você nunca demonstrou sinal de ser genial na escola. E você está mais... bem... bonita. Muito mais bonita.

Gina engasgou-se. Tom acabava de entrar pela porta e ela teve certeza de que ele captara as últimas palavras de Draco, pois ele parou de chofre e cerrou as sobrancelhas. Draco não estava vendo-o, estava de costas. Sorria com uma cara idiota para ela, que por sua vez olhava assustada para Tom por cima do ombro dele. Ele aproximou-se lentamente de Draco e ela mirou-o com um olhar meio desesperado, meio significativo.

Ela o viu colocar a mão no bolso da varinha silenciosamente, fixando Draco com uma expressão feíssima.

- O que é que você ia dizendo, Malfoy? - perguntou ele com a voz fria. Draco deu um salto de susto e, com um rodopio engraçado, foi parar atrás da escrivaninha.

Tom lançou a ele um olhar meio intimidador, meio divertido. Draco, porém, parecia não estar achando graça nenhuma. Logo os olhos de Tom se desviaram dele para ela e depois foram pousar na placa dourada.

- Francamente, Weasley! - E com um aceno da varinha o "T. Riddle" desapareceu e o "Lord Voldemort" tornou a ocupar sua superfície. - Por que às vezes ainda age como idiota?

Ela ignorou o comentário.

- Já matou Halley? - perguntou ela segurando o riso enquanto assinava um dos pergaminhos de última hora.

- Não... - resmungou ele claramente aborrecido e pensando em algo, apoiando um cotovelo no próprio braço. - Ele teve sorte dessa vez.

Ela mirou um pedaço de pergaminho onde havia um rascunho de uma invasão. Puxou-o e olhou rapidamente.

- O que é isso - comentou ela em sinal de aprovação. - Não sei o que é mas me parece bom.

Ele andou até a escrivaninha para ver ao que ela se referia.

- Uma invasão ao Gringotes - respondeu ele automaticamente, meramente entediado.

- Está interessante... Vão pôr em prática? - perguntou ela, levemente admirada.

Ele pensou um pouco antes de responder.

- Se o dinheiro acabar... Bom, creio que teremos de fazer. Mas eu não gostaria nem um pouco; aqueles duendes são... terríveis - completou, sem emoção.

Ele continuou com uma cara pensativa, depois pareceu ter se lembrado de algo.

- Ah, Weasley - E inclinou-se um pouco sobre a mesa, procurando alguma coisa. - Pode me dar sua opinião sobre isso?

Ele olhava para ela fixamente. Então ele desviou os olhos e pegou uma pena em cima da escrivaninha junto com um pedaço de pergaminho limpo. Escreveu.


Essa noite, no seu quarto ou no meu?


Ele empurrou para ela ler e Gina deu uma risada irrefreável.

- Seu maníaco pervertido - riu-se ela mais alto do que pretendia, mas pegou a pena que ele ofereceu e respondeu logo em baixo.


O seu é mais confortável.


Ele leu, deu um breve sorriso malicioso e disse finalmente.

- OK, perfeito.

- Já estou desocupando - informou ela em voz alta, levantando-se e apanhando outro maço de papel para levar até a sua escrivaninha. Saiu em direção à sua mesa, onde se encontrava Draco parado.

Ela chegou, ainda sorrindo incrédula da ousadia dele, e depositou os papeis sobre a mesa. Ainda de pé, começou a separá-los para guardar nas respectivas gavetas. Draco se aproximou cauteloso, olhando meio admirado para ela.

- O que ele escreveu? - perguntou.

- Não é da sua conta - cantarolou ela em voz baixa, prontamente.

- Que tipo de caso você tem com o Lord das Trevas? - perguntou ele numa voz muito baixa, mesclada de admiração e de impaciência, prendendo a respiração.

Ela deu uma risada baixa e respondeu.

- O tipo mais sério possível - falou numa voz baixa como a dele.

Ele lançou um olhar emburrado a ela, como se achasse que não era hora de brincadeira.

- Eu nunca tinha visto seu lado realmente contrariado antes, não, Malfoy? Ora, vamos. Somos amigos. Trabalhamos juntos nessa sala oito horas por dia; até mais... - E lançou um breve olhar divertido a Tom, que estava concentrado no diagrama que estava trabalhando. Então tornou a olhar para os papéis que estava arrumando. - Mas por via das dúvidas... não tente me passar uma cantada na frente dele. - Acrescentou com um sorriso carregado de malícia.

Draco lançou um olhar com os olhos arregalados para ela. Ela riu novamente, mas não falou mais nada. Quando terminou o que estava fazendo, Gina pegou uma parte das folhas de papel que havia separado e levou até a mesa com uma placa entitulada "L. Malfoy", deixando-as lá.

Virou-se para sair e parou na porta, girou nos calcanhares e olhou para Draco.

- O que está esperando? Vamos. Você não vai querer ficar com ele aí - e apontou para Tom, que sacudiu a cabeça em sinal de desaprovação, sem desviar os olhos do pergaminho.

- Ah... Cale a boca, Weasley.

Ela ignorou-o a ordem com o mínimo de cautela.

- Anda, Malfoy, você não quer se perder no castelo, quer?

Ele seguiu-a, e pela sua expressão, estava realmente aliviado.

Eles andaram um tanto em silêncio, desceram as escadas da Ala Norte e pararam no saguão de entrada.

- Você nunca esteva aqui antes, não é, Draco? - perguntou ela distraída, coçando atrás da orelha.

Ele pareceu surpreso de ela tê-lo chamado pelo primeiro nome, mas disfarçou. Ele observou o lugar vagamente.

- Tem razão, é a primeira vez que venho aqui.

- Então vai querer conhecer o lugar - afirmou ela com autoridade. Apontou para onde haviam acabado de chegar. - Ali de onde viemos é a Ala Norte. Lá tem mais salas do que quartos: a do seu pai, a minha, do resto dos Comensais do grupo cinco. O corujal, a sala de planejamentos, como você viu e a "sala de castigos". O Salão de Refeições também fica para lá, mas no térreo.

Ela virou-se e apontou para o arco de mármore branco esculpido com gárgulas e demônios que se mexiam à sua esquerda.

- Ali é a Ala Leste. A sala de poções, masmorras e alguns quartos, que inclui o de seus pais.

Ele concordou com a cabeça. Ela tornou a se virar e a apontar para o outro lado, onde havia uma arco de granito escuro esculpido como as mesmas figuras do arco da Ala Leste.

- Ali é a Ala Oeste. Para lá estão os acessos às torres, depósitos e a maioria dos quartos, que inclui o do Lord das Trevas... e o meu. Na Ala Sul temos apenas os jardins. - Ela olhou para ele. - Por onde gostaria de começar, Draco? - perguntou simpaticamente.

Ele pensou um pouco, olhando de uma passagem para outra.

- Hum... Talvez do seu quarto - disse ele, pousando os olhos cinzentos nela com um sorriso malicioso.

- Este local está fora de questão - disse ela rapidamente, séria. - Eu não estou brincando, não comece...

- Mas se você disse que não pode sair daqui... - começou ele numa irritante voz arrastada, mas foi interrompido.

- Eu não queria ter que falar isso, mas você não sabe o que aconteceu com o último Comensal que deu em cima de mim - disse ela rapidamente e fazendo uma careta, sincera.

Ele olhou-a surpreso.

- Não me diga que você o matou, G. W. - falou Draco, incrédulo.

- Não, Draco, não eu... - disse ela com desgosto.

- Se você está querendo dizer que... que o Lord das Trevas... - começou ele lenta e significativamente, sem terminar.

- Mais ou menos - disse ela com impaciência. - Você não viu a cara dele quando chegou na sala de planejamentos hoje? - Ela fez uma pausa. - Estou só alertando, Malfoy. Eu não iria chorar se algo acontecesse a você.

Ele olhou assustado para ela, que retribuiu seu olhar impassível.

- Por onde quer começar? - repetiu secamente.

- Pela Ala Leste - respondeu sem emoção.


II



Quando deu seis e quinze ela chegava em seu quarto. Ela suspirou aliviada que finalmente tivesse se livrado de Draco Malfoy. Deu a volta na cama e sentou-se, espreguiçando-se e suspirando de alívio. Tirou os sapatos e puxou os pés para cima da cama, recostando-se na mesa cabeceira da cama e deitando a cabeça para trás, os olhos fechados.

Quando conseguiu relaxar o suficiente para recomeçar o dia, ouviu um barulhinho de estalo e escutou uma voz.

- Gina.

Ela não abriu os olhos. Era uma voz feminina. Ela estava sonhando...

- Gina.

Ele cerrou as sobrancelhas. Como alguém poderia está-la chamando a essa hora no seu quarto? Abriu os olhos.

- Gina.

Ela endireitou-se e virou a cabeça para a lareira, onde a cabeça de Hermione flutuava entre chamas fracas.

- Mione? - estranhou ela. Depois começou a raciocinar.

- Ei, Gina, pensei que você estava dormindo - disse Hermione sorrindo.

- Eu também - respondeu Gina sonolenta, não conseguindo reprimir um enorme bocejo.

Hermione corria os olhos pelo cômodo.

- Então este é seu quarto? - perguntou, curiosa.

- É - confirmou Gina sem muitas palavras.

A amiga cerrou as sobrancelhas.

- Você está em desvantagem... O quarto dele é bem maior.

Gina riu.

- Acho que nesse ponto nós duas concordamos - disse ela, achando graça. - Que quer que eu faça? Peça indenização?

Hermione também riu. Então perguntou:

- Gina, você ainda não me disse o que faz aí, quero dizer, além daqueles trabalhinhos particulares para o Voldemort...

- Do jeito que você fala parece até que sou um espécie de... - falou Gina com um quê de aborrecimento, sem terminar a frase. - Bem, muito bem... Imaginei que estava demorando demais para perguntar isso... - Ela sentou-se, calçou os chinelos que estavam em baixo da cama e levantou-se, andando exausta em direção a escrivaninha para apanhar a cadeira.

"Você já ouviu falar em um Comensal chamado de "G.W."?" perguntou Gina, já perto da escrivaninha numa voz meramente entediada.

- É claro que já! Quem não ouviu falar em G.W.?! É provavelmente o Comensal da Morte planejador dos crimes mais hediondos da Ordem das Trevas - Então parou e mirou Gina, os olhos um tanto arregalados - Vai me dizer que trabalha para ele?

Gina revirou os olhos.

- Mais ou menos... - disse Gina, abrindo um sorriso vago. - Pensei que você fosse mais esperta, Mione. Não passa pela sua cabeça que G.W. sejam as iniciais de...

- ...Gina Weasley! - completou Mione boquiabrindo-se.

- Exatamente - disse Gina sem emoção, virando a cadeira para frente da lareira.

- M-mas Gina... Eu não acredito que você... planejou aqueles ataques horrorosos! - exclamou Hermione incrédula.

- Ah, bem, acho que exagerei um pouquinho - falou encolhendo os ombros. - E que história é essa de "crimes mais hediondos"? O que a opinião alheia anda falando de G.W.?

Hermione suspirou tristemente antes de responder.

- G.W. é o Comensal mais impiedoso e calculista depois do próprio Voldemort - disse a amiga de uma vez. - É a segunda pessoa mais procurada da Grã-Bretanha; cerca de vinte mil galeões de recompensa pela sua cabeça.

Gina arregalou os olhos de surpresa.

- Você não pode estar falando sério. Eu... eu não acredito nisso! - guinchou Gina, a incredulidade se aprofundando a cada segundo. - Acho então que tenho que... tenho que maneirar da próxima vez e... ler mais o jornal.

Hermione mirou-a por um tempo sem fala, depois não conseguiu conter uma risada.

- Ah, Gina... Só você mesmo para planejar coisas assim e não pensar nas conseqüências... - E fez um breve silêncio antes de começar outro assunto. - Você parece estar cansada, amiga.

Ela suspirou.

- É, estou... - E de repente se lembrou porque. - Ah, Mione, adivinha quem apareceu por aqui hoje - disse animada - Draco Malfoy.

- O quê? - a outra berrou.

- Sabia que você é a segunda pessoa que diz isso hoje? - lembrou ela, pensativa.

- Mas isso é impossível! Draco Malfoy faz parte da Ordem da Fênix...!

Gina sofreu um forte impacto. Piscou atordoada para a amiga.

- Agora eu tenho que dizer "o quê?!" - disse Gina, inclinando-se da cadeira, exasperada. - O quê? O que você está dizendo? D. Malfoy está há mais de ano no grupo dois...

- Não, não pode; Draco está na Ordem, posso jurar...! - dizia Hermione com uma voz aguda, mas Gina não escutou mais do que isso. Estava pensando.

- Mione - chamou Gina, pensativa -, acho que não vamos descobrir de que lado está o Malfoy está se começarmos a discutir. Se Draco está tentando passar a perna em nós ou em vocês, a única coisa que temos a fazer é ficar de olho nele. - Parou um pouco, pensando rápido. - Mas então... Tom tem que saber disso... - depois parou, pensou melhor e abandonou a esperança de contar alguma coisa - Ou melhor: Tom não pode saber disso, senão descobre que estamos nos comunicando - disse irritada, sacudindo a cabeça com uma careta contrariada.

Hermione observava-a quieta.

- ...Então preciso que ele fique de marcação em todos os passos de Draco... - dizia, pensativa. De repente ela se lembrou e deu uma risada - Ah, me lembrei... Não será preciso eu mexer os pauzinhos; ele já está de marcação com o Malfoy.

- O que aconteceu? - perguntou Hermione, curiosa.

- Há, foi hilário, você precisava ver! - disse ela rindo e narrou tudo o que acontecera na sala de planejamentos.

Hermione pareceu interessada.

- Mione, falando em Draco; o que você fez para ele que estragou os nossos planos para raptar Joel MacShirine? - perguntou Gina, lembrando-se.

- Ah, aquilo... Não me diga que ele ficou bravo? - disse Hermione com uma cara curiosa.

- Você está me gozando? Quase que Draco é atirado janela abaixo do terceiro andar da sala de planejamentos! Ele estava apavorado de pensar o que Tom iria fazer com ele quando soubesse do fracasso do plano e... tenho que admitir, eu também fiquei.

- Sério? - disse Mione rindo. - Eu não imaginei que estava estragando um plano do grande G.W. quando perguntei a ele o que estava fazendo.

- Ah, quem dera o plano fosse dado a mim - disse Gina, entre uma risada gutural. - Se o incompetente do Tom tivesse concedido o plano a mim isso não teria acontecido. Mas ele preferiu deixar o idiota do Halley fazer...

Hermione levantou uma sobrancelha.

- Obrigada por me dar outro nome. Vou pedir para seu pai ficar de olho em Halley.

- Ah! Ah, Gina, sua imbecil! De repente me esqueci que estou falando com um membro da Ordem da Fênix - disse Gina furiosa, dando um tapa na testa.

Hermione riu.

- Essa conversa pode ser muito proveitosa - disse a amiga, irônica. - Não gostaria de me dar mais alguns nomes? Já vi que você deve saber de todos que aparecem por aí, não?

- Nem vem! Já estou ferrada porque te contei do Halley. Se bem que não vai ser grande perda se vocês o capturarem... - falou, pensando melhor. Depois Gina parou um pouco, pensando. - Ei, me diga: quem vocês imaginavam que era G.W.?

Hermione fez uma cara de estar com raiva de si mesma.

- Ah, há séculos que nós, Harry, eu e Rony, estamos atrás de Gill Waylet - disse, revirando os olhos com uma careta. - Bom, desde então eu nunca tinha suspeitado de você, porque pensei que estivesse morta - concluiu soturna.

- Naturalmente... Waylet aprontou mais do que eu em público - disse Gina, com um sorrisinho enviesado - Vão me dizer que os três são encarregados de procurar G.W.?

Hermione piscou.

- É... Estou olhando para vinte mil galeões, mas não tenho coragem de te entregar agora que descobri quem é meu procurado.

Gina não disse nada. Estava um pouco desconfortável, já que sua melhor amiga tinha o encargo de capturá-la.

- Mas... - recomeçou Hermione, pensativa - aposto que o Harry desconfiava. Digo, ele sabia que você não estava morta.

- E eu entendo porque ele não contaria a vocês. - resmungou Gina cansada. - Se eu estivesse no lugar dele, não gostaria nem um pouco de chegar para Rony e dizer: sua irmã caçula é suspeita de ser a segunda pessoa mais procurada da comunidade mágica. - Então Gina fez uma pausa, pensativa. - Eu ainda sou a irmã caçula, não sou? - perguntou rapidamente.

Hermione mirou-a com surpresa, depois deu uma gargalhada.

- Isso foi sério? Ha, claro que é, Gina. Você acha mesmo...? Quero dizer, agora não é mais - Gina arregalou os olhos, mas Hermione completou, fazendo-a acalmar-se - Depois que você "morreu" o caçula é o Rony.

- Que susto! - disse Gina, levando uma mão ao coração. - Sério, agora meu coração disparou. Imagina eu ter um irmãozinho e nem saber? A tensão agora superou a hora da cantada de Draco me passou hoje...

Hermione sorriu.

- Ah, essa foi realmente boa. Sabe, acho que se fosse com o Harry, ela batia no Draco...

Gina sorriu.

- É, talvez. Hermione, você não contou à ele, contou? - perguntou baixinho.

- O quê? Do seu caso com o Voldemort? - disse, e Gina confirmou com a cabeça. - Está louca? Se digo uma coisa dessas, no dia seguinte descubro que ele se suicidou. Você não sabe como ele ainda gosta de você, Gina.

Ela assentiu.

- Bem, já que tocamos no assunto, você ainda não me disse quando você e Rony vão se casar.

Hermione riu.

- Sabe, ele ainda não me pediu. Mas eu espero, sou paciente.

- Ei, mas não espere muito! Se ele demorar, me conta que eu mando um berrador - disse Gina entre risadas.

- Gina! Assim você pode me deixar viúva antes do casamento, sabia? - disse Hermione, rindo também, fingindo estar muito brava com a amiga.

- E Gui? Está tendo sorte com a Delacour? - perguntou Gina animada. Ela estava curiosa para saber como estavam seus irmãos.

- Ah, ele está super feliz. Fleur aceitou o pedido - e deu uma risadinha. - E eu vou ser madrinha de casamento.

- Não, sério?! - exclamou Gina, contagiada de incrédula felicidade. - Mione, isso é o máximo!

Hermione sorriu radiante.

Gina sentiu algo estranho. Seu irmão mais velho se casaria em breve e ela não estaria presente... Estava um tantinho desapontada, mas não demonstrou isso para a amiga.

- E os outros, como estão indo? Os gêmeos já foram "fisgados" por alguém?

Gina esperou que Hermione fosse rir, mas está fez uma cara séria que a surpreendeu.

- Isso... está sendo um dos assuntos mais comentados entre a família Weasley - disse Hermione teatralmente, fazendo Gina arregalar os olhos.

- Não me diga que... - mas foi interrompida.

- Bom, não sabemos quem é, mas sabemos que existem duas mulheres na vida deles. - acrescentou teatralmente. - Lembra-se das duas assistentes que foram trabalhar na loja deles faz um tempão?

Gina não podia acreditar no que estava ouvindo. Deu uma risada alta e surpresa, mas se controlou rapidinho - não queria que ela fosse ouvida do corredor.

- O que você está me dizendo? - perguntou incrédula, limpando as lágrimas de riso dos olhos. - Está me dizendo que eles estão levando mesmo a sério as "Gemialidades Weasley"? Que estão levando tão a sério assim?

- Exatamente - disse Hermione, lutando para conter o riso também.

A conversa continuou animada até começar a escurecer. Enquanto Hermione falava sem parar, Gina deu uma olhada de relance no relógio da parede e deu um pulo.

- Minha nossa! Mione, amiga! Tenho certeza que você vai me entender, mas eu tenho que ir. Tem alguém que acaba de sair da carga horária diária há três minutos atrás e está me esperando a dois quartos daqui. - E deu um sorriso travesso. - Se eu der cano vai ficar mal para mim.

- Ah, compreendo perfeitamente - disse Hermione com um sorriso torto de desaprovação. - Eu apareço amanhã.

- Valeu, amiga. - Gina sorria agradecida. Hermione se despediu com um aceno da cabeça e, com um pequeno estalo, desapareceu.

Gina se levantou, espreguiçou-se folgadamente, foi até o guarda-roupas e separou duas peças de roupa: uma camisola preta de alças bastante curta e transparente e um robe longo de cetim negro. Despiu-se e colocou as roupas que selecionara apressadamente. Depois abriu a segunda porta que tinha um espelho grande e penteou os longos cabelos ruivos e lisos com um sorriso incessante no rosto. Estava cheia de vontades, cheia de calores desde o convite dessa manhã. Ele sabia satisfaze-la, e ela sabia satisfaze-lo. Logo não precisaria mais ser formal, como se ela fosse apenas mais uma mera súdita em relação ao seu amo. Logo não estaria mais fingindo nada.

Meteu a cabeça pela porta do quarto com cautela, fechando o robe, olhando para os dois lados do corredor. Os archotes ainda ardiam nos pedestais altos da parede de pedra. Rezando para não aparecer ninguém, Gina se esgueirou silenciosamente para fora do quarto, fechando a porta com cuidado. Cruzou a distância de dois quartos fazendo o menor ruído possível. Sussurrou a senha:

- Sangue de barata.

Ela ouviu a porta se destrancar com um pequeno "clique". Gina entrou o mais rápido possível, ansiosa, e fechou a porta atrás de si.

O quarto estava um pouco mais arrumado do que da última vez que estivera ali. Ela supôs que ele finalmente tivesse deixado um elfo-doméstico arrumá-lo, ou então ele mesmo fizera para evitar a primeira opção. O fogo crepitava imponente e acolhedor na lareira. Tom não estava visível, somente Nagini, que sibilou quando ela entrou, enroscada perto da escrivaninha. Ela deu um pequeno passo para trás.

- Tom? - chamou, olhando de esguelha para a cobra. Ela sempre tivera um pouco de receio de Nagini, embora soubesse que ela tinha ordens de Tom para não fazer-lhe nada.

Ninguém respondeu. Ela correu os olhos ao redor. A porta de acesso à torre estava entreaberta. Ela hesitou, olhando de relance para Nagini, depois empurrou a porta e subiu a longa escada em caracol. Quando chegou na porta, lá em cima, parou, apoiada no arco, procurando ver além da escuridão que cercava a torre. Uma nuvem se moveu da frente da lua e sua luz banhou o topo da torre, dando-lhe visão.

Ele estava lá, a capa pesada de veludo negro escondendo-lhe as costas e os cabelos debatendo-se com o vento, observando a paisagem sombria.

- Tom, você precisa mudar aquela senha. Ela corta o clima. - Ela falou brincando. Ele olhou para trás.

- Gina? - disse-lhe, impassível.

Ela aproximou-se, mas, quando saiu dos limites do arco da porta de acesso à escada, um vento intenso e gélido quase fez seu robe ser arrancado. Um frio cortante subiu pelas suas pernas, e seus cabelos foram violentamente atirados para frente. Ela segurou-os e tirou da frente dos olhos, levantando-os.

Ela recomeçou a caminhada, mas encolhendo-se de frio.

- Não está sentindo o vento? - perguntou ela surpresa. Ele tornara a olhar para a frente.

- Vento? - repetiu ele vagamente. - Quando se tem problemas maiores não se pode sentir o vento...

Ela estremeceu mais com as palavras dele do que com o frio. Quando chegou ao lado dele, esperou ser recebida com o convite de partilhar um pedacinho de sua capa, mas ele não se moveu. Continuou olhando para o nada na sua frente.

Gina olhou para ele, calada. Seus olhos escuros estavam mais frios e inexpressivos do que nunca e ele parecia mais pálido do que o de costume. Sua expressão era a de que não estava vendo nem sentindo nada à sua volta, totalmente indiferente. Ela respirou fundo.

- Qual é o problema? - perguntou finalmente, a voz firme.

Ele não respondeu. Olhou para ela com uma expressão vaga, sem definição... mas Gina teve a sensação sinistra de que se ele tivesse respondido, teria dito: você. Ela estremeceu.

Ela desviou os olhos, incômoda. Passou a admirar a mesma visão que ele estava tendo momentos atrás, vendo sob o escuro uma névoa densa e sombria que encobria as árvores antigas e sinistras dos jardins de Basilisk Hall. Ela sentia que ele ainda a mantinha os olhos nela e sentiu um frio involuntário impregnar-se no seu corpo.

Ficaram um tempo calados, parados como estavam. Então Gina olhou para ele e encarou-o. Tom estava imóvel, indiferente ao vento que soprava com ira, fitando-a incomodamente, um olhar vazio refletido em seus olhos.

Gina, então, deu um passo para frente em direção a ele e o beijou. Ele, porém, não participou; colocou uma mão entre eles e empurrou-a, assustado, para trás. Ela não entendeu.

Ele continuava mirando-a, agora com uma expressão incrédula estampando-se em seus olhos, ele recuou um passo, balançando a cabeça lentamente. Ela viu algo na sua expressão que parecia ser medo, e ela nunca vira essa expressão antes no seu rosto. Gina assustou-se.

Então ele, meio que despertando de um transe, sacudiu a cabeça com força, levando a mão aos olhos. Ela avançou alguns passos, mais parou, temendo mais uma reação daquelas que ele tivera momentos atrás. Ela não sabia o que fazer.

- Por Merlin, Tom, o que está acontecendo? - perguntou ela preocupada, nervosa.

Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo desnorteado. Mirou-a por um instante, depois começou a falar muito rápido, os olhos um pouco arregalados.

- Gina, céus, o que eu fiz? Você está bem? Eu te machuquei? - perguntou ele, nervoso. Ele estava assustando-a desse jeito.

- N-não - gaguejou ela, olhando assustada para ele.

- Ah, que bom. Me desculpe, eu não sei o que aconteceu comigo... - disse ele, mas parecia estranhamente irreal. Ele agora parecia-se mais com o Tom Riddle que ela conhecera naquele diário, há nove anos.

Ele aproximou-se e tomou as mãos dela.

- Pelas barbas de Merlin! Gina, você está gelada! Venha aqui, ou vai ficar mais doente do que está!

Ela arregalou os olhos e aproximou-se, cautelosa. Ele pegou a própria capa e abriu-a por cima das sua costas. Ela abraçou-se a ele, mas ainda cautelosa.

Eles desceram as escadas devagar, ele abraçado a ela. Quando passaram pela porta do quarto, o clima mudou completamente: um calor quente e confortável embalou seu corpo e ele soltou-a. Virou-se para fechar a porta, por onde entrava uma corrente de vento, enquanto ela ia lentamente em direção à cama.

Ela sentou-se, embora ainda achasse o comportamento dele estranho, era bem mais difícil se preocupar naquele quarto aconchegante. Tirou os chinelos e levantou as pernas para cima do colchão, depois afundou-se no meio do endredon de penas e desapareceu, oculta pelas cortinas de veludo verde. Ela viu ele dar a volta na cama, retirar a capa e pendurá-la no cabide.

Ele aproximou-se, retirando a blusa, depois sentou-a e atirou-a no pé da cama. Ela sentou-se e retrocedeu, encostando-se na bela cabeceira de mogno. Ele deitou-se no seu colo e fechou os olhos. Gina acariciou seus cabelos negros com atenção - ele estava cansado. Inclinou-se e beijou-o. Dessa vez, ele participou, e o beijo pareceu vivo e rejuvenescedor.

- Eu não gostei nada daquele Malfoy dando em cima de você - resmungou ele quando Gina se endireitou. Ela riu.

- Percebi.

- Se pego outra dessa ele vai se ver comigo - grunhiu.

- Não será necessário. Já tive uma conversinha com ele - disse ela, sorrindo.

- E essa "conversinha" não incluiu beijos e abraços, incluiu? - perguntou ele, com um sorriso forçado, cerrando as sobrancelhas em um sinal de zelo pela sua posse, no caso, ela.

- O que você está querendo insinuar? - disse ela, rindo. - Que eu não sou uma Comensal fiel?

Ele abriu os olhos.

- Você também vai começar com essa história, é? - perguntou, em tom de riso.

Ela riu, depois continuou, mais séria.

- Acredite, nunca desejei traí-lo... - falou, passando a mão pelos seus cabelos. - Porque eu trairia? Eu só sairia perdendo com isso, não acha?

Ele não respondeu de imediato.

- Você não gostaria de trair Lord Voldemort.

- É exatamente isso que eu estava dizendo - falou, distraída, ainda acariciando seus cabelos. Ele tornou a fechar os olhos. - Você não acha que eu sou uma boa Comensal?

- Eu, particularmente, acho você uma das melhores Comensais da Morte que já me apareceram. Você trabalha bem, nunca me desobedece (quando é sério) e não precisa que pensem por você, você nunca comete erros estúpidos. Além de ser gostosa pacas! - disse ele, com um ar de riso, com malícia.

- É por isso que sou a segunda personalidade mais procurada da comunidade bruxa... - falou ela, baixinho.

Ele tornou a abrir os olhos.

- Como você sabe? - perguntou, ligeiramente surpreso.

- Você queria me privar de ler o jornal? - disse ela, insinuante. Ele deu um muxoxo e fechou os olhos novamente.

- Você não está preocupada, está? - perguntou.

- Por que eu estaria? Isso é muito excitante! - disse ela, sorrindo vagamente. Ela baixou os olhos para ele. - Não acha que nos merecemos? As duas personalidades mais procuradas da Grã-Bretanha? - insinuou ela, descendo a mão por dentro da camisa dele.

Inclinou-se e beijou-o novamente.

Ele continuou de olhos fechados depois do beijo, saboreando-o. Ela enrubesceu um pouco.

- Lembra-se do nosso primeiro beijo? - disse ele, sorrindo marotamente.

- O primeiro beijo que você deu em mim - corrigiu ela, rindo. - Nem me lembre! Aquilo não foi um beijo..., foi uma tentativa de homicídio.

Ele riu.

- Ah, Gina... Só você para me fazer rir agora.

Eles continuaram quietos por um momento, Gina ainda acariciando seus cabelos com as pontas dos dedos distraída e ele deitado em seu colo, recebendo o carinho ocioso.

Ele então sentou-se. Ela imaginou o que teria feito de errado. Ele fitou-a.

- Então... - disse ele numa voz baixa como um sussurro.

Ele acariciou seu rosto de leve, com as costas dos dedos, fazendo-a fechar os olhos. Ela sentiu ele se aproximar e entreabriu os lábios, esperando um impulso forte e ardente, mas ele apenas roçou os lábios nos dela de leve, fazendo-a estremecer com uma sensação de profundo tesão. Ele a estava instigando, fugindo quando ela queria avançar e tornando a roçar os lábios nos dela, fazendo-a sentir um calor intenso se apoderar dela. Ela nunca fora beijada assim, e sentia-se muito diferente de todas as outras vezes. Era um beijo diferente, com seu jeito muito individual de ser desejado, quente... e parecia demasiado cálido, como jamais experimentara.

Ele se afastou. Ela abriu os olhos, inebriada.

- Nossa, Tom! Como é que você fez isso? - perguntou ela abobada, ainda sentindo palpitar o sangue em seus lábios ainda estranhamente quentes do beijo.

Ele sorriu de um jeito diferente, entorpecente. De repente ele parecia mais humano do que já fora algum dia, essa foi a sensação de Gina. E sentiu uma fome imensa de ser devorada novamente por aquele beijo inebriante.

Passou os braços pelo pescoço dele e beijou-o de novo. Mas não foi igual; a sensação era de que só ele conseguia fazer de novo. E ela queria tanto...

Ele pareceu ter lido seus pensamentos e fez de novo... e de novo, e de novo, e de novo... Ele desamarrou seu robe e ela desabotoou sua camisa, sedentos de prazer... Mas ela parou-o, contra a vontade.

- O que foi? - perguntou ele, como se perguntando o que fizera de errado, ainda com a boca pregada no rosto dela.

Ela apontou por cima do ombro dele, para onde Nagini estava.

- Você não poderia mandar ela dar uma voltinha, não? - disse, aborrecida.

Ele sorriu; depois virou-se e sibilou alguma coisa em ofidioglossia para a cobra. Ela começou a se desenrolar lentamente, sibilando de volta. Ele riu.

- O que ela disse? - perguntou Gina, nervosa.

- Ela disse que acha você muito engraçada quando fica com medo dela - disse, revirando os olhos.

- Ah, bem, diga a ela não é nada convidativo ficar num quarto com uma cobra venenosa de três metros de comprimento - falou, impaciente.

- Nagini não pode lhe fazer nada. Eu já lhe disse que mandei ela nunca nem encostar em você...

- Eu sei que não, Tom, mas... Ah, eu sei que parece histeria minha, mas ela parece tão... malvada.

Ele riu de novo.

- Garanto a você que ela não é mais malvada do que eu.

Ela também riu agora.

- Ótimo. Agora eu vou ficar longe de você, então...

- Ah, não seja por isso... - e rindo, sibilou mais alguma coisa para Nagini, que começou a rastejar mais rápido do que antes em direção à porta. Ele pulou por cima de Gina e, de um salto, chegou até a porta para abri-la para a cobra, que saiu, lançando a ele um olhar de censura.

Ele então aproximou-se de Gina devagar, olhando-a. Então derrubou-a de costas na cama e começou a beijá-la. Quando ele deixou-a respirar e desceu para o seu pescoço, ela disse:

- Bem que você podia arranjar um bichinho de estimação menos asqueroso, como todo mundo... - dizia ela, brincando.

- ...certo. - arfou ele, enquanto tentava levantar a camisola dela. - Então vou arranjar uma acromântula, como o patife do Hagrid... Ou então outro basilisco...

- Ah, esquece... - disse Gina rindo.


III



Ele não se lembrava de ter conhecido alguém mais atraente em toda a sua vida. Era fascinante o modo como ela estava deitada graciosamente, num sono puro e doce, embora há meia hora atrás estivessem praticando um momento que estava muito longe de ser puro. Ele simplesmente fixava a expressão serena no rosto dela enquanto dormia.

Ele observava pensativamente os longos cabelos ruivos flamejantes dela caírem soltos e suaves sobre seu corpo, os braços abertinhos ociosamente, as pernas longas e belas emaranhadas nos lençóis... Enfim, seu corpo todo era uma miragem para os olhos. Ele já aprendera a admirá-la enquanto dormia...

Já passavam das duas da manhã e a luz fraca do fogo da lareira próximo a se extinguir bruxuleava no corpo nu dela. Já se passavam quinze minutos desde que ele estava olhando-a. Já se passavam quase meia hora desde que cada um caíra para um lado e pegara no sono... Pelo menos ela pegara.

Ele semicerrou os olhos, exausto, sonolento. Quem olhava para Gina Weasley comportadamente vestida não imaginava o que ela era quando não estava. Ela conseguia cansá-lo... Conseguia render-lhe uma noite de prazer como nada conseguiria superar. Voldemort sorriu, satisfeito.

A cortina do lado da porta estava puxada. Ambos temiam que alguém batesse na porta durante o ato, e certamente se alguém a visse ali iria causar perguntas embaraçosas, como, por exemplo, o que Gina Weasley está fazendo nua na cama de milorde à essa hora da madrugada? Ele não queria esse tipo de pergunta.

Ele voltou-se para Gina novamente, que ainda dormia silenciosamente. Ela parecia tão frágil... Falsa impressão. Gina Weasley estava longe de ser frágil. Muito ao contrário: ela era perigosa até demais. Talvez não fisicamente, talvez não exteriormente... Mas ela tinha um gênio terrível. Ele sorriu novamente, pensando: "Depois ela é que tem medo de Nagini... Nagini é quem deveria ter medo dela."

De certa forma, Voldemort sentia certo orgulho pessoal de ter conquistado aquela mulher (ou seria ela que o conquistara?). Consolava-o saber que ela não era de mais ninguém, e que Harry Potter devia estar se roendo de raiva disso. Harry Potter. Como é que Potter deixara escapar uma bruxa poderosa e maravilhosa como Gina? Como ele fizera isso? Gina era tão madura, tão paciente, que ele sabia que ele deveria tê-la irritado profundamente para ela tomar a decisão drástica de abandonar família e amigos e mudar de lado assim, de repente. Para ele, porém, veio em boa hora.

Os pedidos dela de não matar os velhos amigos e familiares eram cumpridos e ela pagava trabalhando espetacularmente bem no planejamento dos ataques e... bem, em outros tipos de trabalho também. Ele simplesmente "adorava" satisfazer-lhe os pedidos, porque sabia que ela trabalharia cada vez melhor... para pagar.

Repreendia-se sorrindo por isso. Não devia estar se aproveitando dela, afinal, era apenas uma menina, se bem que não aparentasse. Ele se sentiria extremamente estúpido e irresponsável se a engravidasse. Seria mais fácil se ele a matasse, nesse caso. Continuava olhando vagamente para ela.

Alguma coisa nela estava enfeitiçando-o e ele sabia que isso era perigoso. Mas porque se afastar de Gina Weasley agora? Ela era boa no que fazia e ele só saía ganhando de tê-la. Voldemort sabia que estava mudando. Ela estava mudando-o. Talvez mudar agora fosse arriscado...

Posso por tudo a perder se me apaixonar por ela, pensou sério. O problema é que não conseguia fazer mal a ela. Não conseguia deixá-la de lado. O sangue lhe subia à cabeça quando outro homem se aproximava muito dela. Como iria não se importar se alguém a pegasse? Sentia-se responsável pela garota.

Tinha que livrar-se dela.

O fogo da lareira se apagou, e os contornos dela ficaram visíveis somente por umas linhas clareadas pela luz da lua, que batia na vidraça do alto teto do quarto, na torre. Ele continuou mirando-a, ainda que no escuro, pensando se deveria ir lá e se deitar perto do calor dela novamente, abraçá-la, beijá-la... Por fim deu um breve suspiro e desencostou a cabeça da coluna de mogno da cama onde estava, sentado ao fim da cama, observando-a de baixo para cima. Levantou-se, a capa roçando o chão e aproximou-se dela silenciosamente.

- Boa-noite, garota - murmurou ele, puxando o lençol e cobrindo-a delicadamente. Inclinou-se e beijou de leve seus lábios, não tendo a intenção de acordá-la. Ele sentiu um sorriso fraco se moldar no rosto dela, e endireitou-se.

Com uma última olhada, virou-se e saiu do quarto, já completamente vestido.


IV



Gina acordou no dia seguinte exausta. Olhou para o lado, na cama, mas ele não estava mais lá. Ela olhou no relógio da parede: quinze para às oito da manhã. Ele já havia descido para o café da manhã. Ela bocejou.

Gina sentou-se, sonolenta, e o lençol simplesmente escorregou de seu corpo, fazendo-a encolher-se de frio. Pegou a camisola ao pé da cama e vestiu-a, depois foi encontrar o robe ao avesso em cima da escrivaninha. Ela riu, imaginando como ele teria ido parar lá.

Depois de se vestir, Gina abriu a porta com cautela para sair. Quando passou pelo arco viu um movimento aos seus pés, e deu um salto. Depois, levando a mão ao peito de susto, viu Nagini tentando entrar no quarto. A cobra fitou-a por um momento.

- Desculpe por ontem, amiga, mas eu não podia partilhar o nosso momento intimo com você...

A cobra sibilou baixinho em resposta, e passou por Gina sem olhá-la. Ela sacudiu a cabeça, sorrindo, e foi em direção ao seu quarto. Lá trocou-se, escovou os dentes, penteou o cabelo e lavou o rosto. Então desceu. Encontrou Taurus Goldenfire, um dos espiões do Profeta Diário, no meio da escada e aproveitou para pedir uma assinatura para ela.

- Agora mesmo, G.W. Amanhã você recebe, mas por enquanto, fique com o meu, já li mesmo... Tenho certeza que você vai achar algo interessante aí - Entregou seu exemplar para ela com um sorrisinho e, dizendo isso, chegou ao saguão de entrada e desaparatou.

Gina passou por baixo da escada principal da Ala Norte e empurrou a porta do salão de refeições, que já estava com quase todos os lugares ocupados. Apenas o dela e de Taurus estavam desocupados, mas ela sentou-se, como o de costume, numa das extremidades da mesa, deixando apenas um lugar vago na mesa.

Ela olhou ao redor antes de começar a comer. Halley, hoje ao seu lado, estava comendo uma torrada e nem deu sinal de que ela se sentara. Bellatrix estava no final da fileira, mais perto de Tom, e não conversava com o marido ao seu lado, que, por outro lado, falava sem parar com Bridged. No outro lado estavam Lúcio e Narcissa conversando em voz baixa. Ao outro lado de Narcissa estava Anthonin Dolohov, lendo o Profeta Diário quieto e, mais adiante, Jack Miller, fazendo um desenho em um guardanapo com geleia (ela desviou os olhos dessa cena pavorosa com censura), em frente à Romulus Challanger, que falava com Luttianis Koller, depois pousou os olhos na pessoa que se sentava na sua frente, que era Algernon Rockwood. Então olhou para Tom, que bebia café com uma expressão de nem ter notado que ela acabara de chegar.

Ela passou manteiga em uma torrada e enchei um copo até a borda de leite. Halley olhou, estranhando. Ela fingiu não ter notado e, de um fôlego só, bebeu o copo tudo.

- Vai com calma, Weasley. Vai afogar no copo de leite - disse Tom, lá do outro lado, enquanto ela bebia, e quase que ela cuspiu tudo. Os Comensais perto dela deram risadas, menos Jack, que continuou concentrado na sua obra. Ela não olhou para ele, embora fosse isso que ele talvez quisesse. Cerrou as sobrancelhas e se concentrou na torrada. Ela não gostava quando ele a gozava na frente dos outros.

Deu uma mordida na torrada e abriu o jornal que carregava consigo. Ela leu a primeira página, sem grandes novidades, contendo apenas um artigo uma critica sobre seu "mestre", mas isso era freqüente. Ela tornou a encher o copo, dessa vez de suco de abóbora, e virou a página. Na segunda página do jornal tinha uma lista de procurados. Ela viu dois nomes no topo da lista: Aquele que não deve ser nomeado, 50.000 galeões; G.W., 19.570 galeões. Era seguida de perto por Bellatrix e Rodolphus Lestrange, ambos 10.000 galeões por cabeça. Ela percebeu que Bellatrix e Rodolphus, além de muitos outros do resto da lista, tinham fotos boas, ao contrário dela e de Tom, que tinham um quadrado em branco e uma foto pequena e borrada, respectivamente.

Ela tornou a encher o copo, mas dessa vez de suco de abóbora. Ela deu uma grande golada e, com a mão direita, abriu a outra página do jornal. Cuspiu, salpicando o jornal de suco. Ela arregalou os olhos para a manchete, pega de surpresa.

- Você está atrasada, Weasley. É a última que cospe no jornal hoje - disse Tom divertido, recostando-se na cadeira. O resto dos Comensais riram.

Halley foi o último a parar e Gina olhou para ele com cara feia.

- Não pense que não sei que você se deu mal ontem, Halley - disse-lhe, fazendo seu sorriso embaçar rapidinho, e ela voltou a atenção para o jornal. Na página de anúncios, havia um grande quadro chamativo no topo, que prendera seus olhos quando virara a folha.


FESTA DE FIM DE ANO EM B.HALL - PARA COMENSAIS DE TODAS AS IDADES


Saudações, Comensais da Morte! Comunico a todos vocês, perdidos, fugidos ou metidos em alguma missão ultra-secreta: festa de fim de ano em B. Hall, dia 28, próxima sábado, com início às 20 horas, traje social.

Sem compromissos, folga para todo mundo (estou falando sério, Fudge), se quiser vir venha, se não, não precisa... É claro, temos que mostrar aos inimigos que estamos numa boa, dando uma pista interessante do nome do nosso esconderijo, fazendo festa de fim de ano e todo o resto... É, morram de inveja!

Esse semana o conselho de planejamentos vai sair da rotina e discutir coisas da festa, despesas, decoração... Verão, não será a B.Hall que vocês conhecem. Muita comida, bebida, música ou vivo... Venham acompanhados, é claro, de um par de dança (gente nossa, por favor).

Ah, antes que eu me esqueça, os Comensais mais capacitados que quiserem emprestar seus elfos-domésticos por uma semana, à vontade!

Atenciosamente,

Lord Voldemort.



Gina se engasgou.

- Isso é sério? - perguntou, atônita.

- Claro que é - disse Tom, achando graça.

- E como é que eu não soube disso antes?! - perguntou com uma voz aguda.

- Você está se achando, Weasley. Você não tem autoridade para ficar acima da surpresa - disse, gesticulando um mão com impaciência. Alguns comensais riram, incluindo Jack.

- Mas e então, esperto? Como pretende fazer uma festa em uma semana? - disse mais alto para se sobrepor às risadas.

- Com a ajuda de meus fiéis Comensais, ou não? - respondeu displicente, os olhos faiscando em sua direção.

- Oh! Desculpe - disse ela rapidamente, entre as risadas dos outros.

Ele abanou com a mão, recusando as desculpas.

- E então? - falou ele calmamente. - Concede-me a honra de acompanhá-la à festa?

Os Comensais pararam de rir abruptamente. Bellatrix, que até agora não demonstrava nem sinal de estar em algum lugar mais perto do que Júpiter, esbarrou no próprio prato com estrépito. Olhou para ele surpresa, mas ele não estava olhando - tinha os olhos fixos em Gina.

Ela viu todos olharem aquietos para ambos, pegos de surpresa. Lúcio corria os olhos dela para ele, e Narcissa ergueu as sobrancelhas.

Gina corou um pouco, mas sorriu e respondeu.

- É claro.

Ele levantou-se.

- Ótimo. Pelo menos uma Comensal decente... Ah, esqueçam. Vejo vocês mais tarde, então. - E dizendo isso, cruzou o salão e saiu pela escada na Ala Norte.

Todos olharam para ela.

- Bem, até parece que eu ia dizer "não"... - disse ela, encolhendo os ombros e tornando a virar um gole de seu suco. Jack deu uma risada anasalada, sem levantar os olhos de sua obra de arte, fazendo os outros rirem também, inclusive ela.

Ela terminou de tomar seu café e de ler seu jornal, sem mais surpresas. Ela bocejou, vendo o grupo cinco tomar café, sem grandes emoções. Ela sentiu que eles estavam dormindo tanto quanto ela e que iriam ficariam ali até dar a hora do grupo três chegar. Então, se levantou, pegou o jornal e saiu, subindo pela mesma escada que Tom subira minutos atrás. Enquanto subia os degraus, pensava na festa. Vou precisar fazer um vestido novo, pensou Gina, sorrindo, afinal, iria acompanhar o Lord das Trevas em público, pela primeira vez.

Ela imaginou que teria que falar com Jack para pedir que ele lhe comprasse tecido em Londres, ou talvez ela mesmo pedisse permissão para ir até o Beco Diagonal disfarçada. Enquanto percorria os corredores, seu cérebro arquitetava todos os passos para fazer um vestido de baile bom, bonito e prático, até o final da semana. Quando subia pela escada, ouviu a mesma voz que a instigava de noite ecoar pelas corredores em volume amplificado.

- Comensais do grupo cinco diurno: reunião na sala de planejamentos já, agora, neste exato momento! Estão pensando o quê? A folga é só no sábado!

Ela sacudiu a cabeça, com desaprovação, mas sorrindo. Segundos depois ele virava a curva e tinha uma visão da sala de planejamentos. Ele estava dependurado na porta. Olhou para ela com as sobrancelhas erguidas.

- Como você é rápida, Gina - disse.

Ela abanou a mão.

- Não seja idiota - disse ela com impaciência.

Quando se ela chegou perto da porta, ele encarou-a. Então começaram a rir. Ela passou reto.

- Por que esse nervo todo? - perguntou ela sorrindo, quando ele abriu caminho para ela passar.

Ela andou até sua escrivaninha e atirou o jornal sobre ela, com a outra mão, tirando o cabelo dos olhos.

- Bem, se quisermos ter uma festa para sábado, temos que nos mover, não? - perguntou ele, lá da porta.

Ela virou-se para ele, incrédula. Ia retrucar, mas pensou melhor e disse apenas:

- Tem toda a razão.

Ele continuou olhando para fora e ela voltou a se virar.

- Weasley, pegue um pedaço de pergaminho. Acho que vamos precisar anotar umas coisas durante a reunião. Quantos grupos estão no castelo hoje? - perguntou, mais sério do que antes.

- Ah, deixe-me ver... O grupo um, o quatro, o nosso, o oito e o nove - informou ela, contando nos dedos. - Cinco.

- É mais do que o suficiente - disse ele, pensativo. - Temos que planejar todo o evento hoje e dividir tarefas em grupos. Vamos arranjar material para a festa antes do pôr-do-sol.

- Vai ter que me dizer depois como pretende fazer isso... - falou ela em voz baixa, lendo um relatório que colocaram sobre a sua mesa no dia anterior. - Ah, Tom, será que você podia me dar folga amanhã? - disse ela, sem levantar os olhos do papel.

- Folga? E o que eu ganho com isso? - perguntou ele, sorrindo com um ar irritante.

- Ah, sim, prometo que fico com você a noite inteira amanhã... - respondeu, rindo também. - Mas é sério, Tom...

- E posso saber por quê? - perguntou ele, erguendo uma sobrancelha, ainda com ar de riso.

- Eu preciso ir até o Beco Diagonal fazer compras. - E levantou os olhos para ele. - Você me convidou para a festa. Não quer que eu esteja exuberante? - provocou.

Ele olhou para ela, sorrindo misteriosamente.

- Com certeza - falou, em tom de aprovação. - Mas você já é exuberante sem fazer esforços.

Ela corou.

- Não me deixe envergonhada - pediu ela, sorrindo.

Ele riu baixinho.

- É claro que eu te dou folga. - E, dizendo isso, apontou a varinha para o quadro de avisos e o status de "Weasley - terça-feira" mudou para "liberado". - Mas tome cuidado. Se alguém desconfia que você...

- Poupe seus avisos, eu já sei - disse ela. - Ninguém vai me reconhecer, não se preocupe.

Ele tornou a olhar para fora.

- Lá vem Miller. É um recorde.

Ela sacudiu a cabeça, tornando a olhar para o relatório.

- Andem logo! Não tenho o dia todo! - gritou para, provavelmente, o grupo cinco virando a esquina.

Instantes depois, todos que estavam no café da manhã lá em baixo entravam pela porta, arrastando os pés. Depois todos se sentaram à mesa e foi dada início à reunião, que durou umas duas horas, no mínimo.



Gina chegou ao seu quarto exausta aquela tarde - ficara responsável de supervisionar o grupo três com os preparativos da festa. Ficaram confirmados que gastariam do próprio dinheiro para a festa e só roubariam o mínimo para prazer próprio. Tom abriu mão de suas economias por vontade própria, porque, afinal, ele não poderia ir simplesmente a um estabelecimento e comprar o que quer que deseje, de acordo com ele mesmo. Gina concordava intimamente, embora se divertisse com a idéia de que ele não precisava comprar realmente, nem se quisesse, pois apenas a visão dele entrando pela porta de sua loja já era o suficiente para o matar o proprietário de um ataque cardíaco. Ela não disse isso a ele, achou que somente lhe inflaria o ego.

Ela olhou no relógio.

Exatamente no momento em que ela vê que são seis da tarde em ponto, Hermione aparece na lareira.

- É bom ver você, Mione - disse ela, sorrindo cansada.

- Esse trabalho está te estressando, heim? Quais são os planos para a festa? - perguntou Hermione seriamente.

- O quê? Como...? - mas depois se lembrou e deu um sorriso torto. - Ah... Você leu a carta...

- Eu e o país inteiro, querida - corrigiu Mione, rindo.

- É - e riu nervosamente. - Eu chego a não acreditar... Cada coisa que esse cara me apronta... E tem gente que pensa que ele mete medo, ha! Ah, Mione, estou de folga amanhã.

- Bom para você, Gina - disse Hermione não muito entusiasmada.

- Quero dizer que vou ao Beco Diagonal, fazer compras - esclareceu Gina, rindo.

- Ah, sério? - Hermione arregalou ligeiramente os olhos. - Você morreu para o mundo, Gina, esqueceu-se?

- Eu sei - falou impaciente. - Eu vou estar disfarçada. Mas o que acha de nos encontrar-mos lá? Meu querido amante não precisa saber disso.

Hermione pensou um pouco.

- Ótimo - disse, sorrindo radiante. - Finalmente vou rever minha melhor amiga pessoalmente.

Gina também sorriu radiante.

- Perfeito. Perfeito mesmo...!

Gina começou a despir sua capa, depois a blusa. Sentou-se no chão, em frente à lareira.

- Hoje Tom levou um corte feio - disse ela, revirando os olhos. - Saiu com o restante do grupo cinco para saquear um bar, um carregamento de cervejas amanteigadas e acabou sendo pego de raspão por um feitiço. Ele acha que foi o dono do bar, mas não tem certeza, porque na hora que aparataram todo mundo começou a correr.

- Quem duvida? - disse Hermione secamente.

- Isso não é problema, mas seria se fosse coisa mais séria. Ele não é tão bom em feitiços de cura como Madame Pomfrey. O Avada Kedavra é realmente difícil de se fazer, e ele nem sua quando lança.

- É, eu sei - disse Hermione, contrariada. - Embora ainda acho que você devia admirar pessoas diferentes daquelas que não suam quando lançam um Avada Kedavra, como, por exemplo, uma que luta limpo e não lança Avada Kedavras.

Gina riu.

- Sei... Vou tentar.

Hermione sorriu.

- De onde você está falando, Mione? - disse Gina, lembrando-se de perguntar.

- Da minha casa. Daqui é mais fácil - esclareceu a amiga.

- Entendo. Só perguntei por perguntar - disse, encolhendo os ombros. - Acho que não vou poder ficar por muito tempo. Tenho que descer daqui a pouco... Onde marcamos nosso encontro? Amanhã de manhã, por volta dar onze horas, no Caldeirão Furado, pode ser?

- Pode, pode sim - disse Hermione apreensiva.

- E não fale para ninguém que vai se encontrar comigo, sim? Muito menos para Harry.

- Eu sei. Só nós duas, certo... Eu não levaria ninguém mesmo. E como você vai estar?

- É melhor eu te procurar. Não tenho certeza de como estará minha aparência - falou Gina com sinceridade.

Bateram na porta. Ela calou-se.

- Lá vai G.W. para o extra... - resmungou. - Até amanhã, amiga.

Hermione desapareceu. Gina levantou-se, não sentindo vontade nenhuma de retornar ao trabalho. Calçou os chinelos e abriu a porta.

- A que devo a honra de sua visita, Rabicho? - perguntou ela numa voz monótona.

- O Lord das Trevas está chamando por você na sala dele - disse o homenzinho na sua frente sem rodeios, com irritação.

- Na sala dele? A oito? Na Ala Leste? - perguntou, estranhando.

- Essa mesma - respondeu ele no mesmo tom irritado.

Ela deu um enorme bocejo.

- ...maldita data que esse infeliz escolheu para uma festa... - resmungou, limpando os olhos.

- O que disse, Weasley? - perguntou ele, desconfiado.

- Eu disse "maldita data que esse infeliz escolheu para uma festa"! - disse ela em voz alta e ele pulou para trás. - Por que, algum problema?

Ele fez uma careta.

- Se você não sabe, Gina, não vou ser eu quem vou dizer - retrucou rudemente.

- Ótimo. Diga ao Lord das Trevas que eu estou de saco cheio! Ou melhor, eu mesma digo, com licença... - falou, entrando e calçando as botas de couro de dragão e vestindo a capa, de má vontade, depois saiu, esbarrando em Rabicho e batendo a porta com força.

Ele pôde não ter entendido nada, mas ela não estava nem aí. Ela imaginou o que ele estaria pensando, que talvez ela não escapasse agora de um castigo... Ela sempre soube que Rabicho, como um bom puxa-saco, tinha inveja dela e que ele adoraria vê-la sendo torturada pelo seu amo... Mas isso não chegaria a acontecer, se dependesse dela.

Chegou, puxou os cabelos por cima do ombro direito e entrou sem bater.

- Olha aqui; que história é essa de interromper minha folga, meu querido? - esbravejou cinicamente, quando viu-o sentado no fundo da sala num sofá preto, inclinado na mesinha.

Ele levantou os olhos para ela.

- Não faça perguntas - disse ele com um quê de impaciência. - Venha aqui.

Ela foi e sentou-se ao lado dele. Ele entonou alguma coisa em ofidioglossia e ela ouviu o estalo da porta se trancando.

- Hum... Safadinho, heim? - disse ela, sorrindo maliciosamente.

Ele retribuiu o sorriso, antes de beijar-lhe longa e ardentemente.

- Acho que entendi o trabalho que G.W. precisa fazer - disse ela, quando pararam para tomar ar. Ele não respondeu, apenas beijou-a novamente.

Quando ela viu que eles tinham afundado no sofá se beijando ela deu um tempo.

- Trabalhando muito? - perguntou Gina, sorrindo.

- Você não imagina - respondeu ele, abrindo o zíper da jaqueta dela.

- E ainda tem tempo para essas coisas? - perguntou ela novamente, rindo.

- Não acha mesmo que vou ficar no seco por causa dessa festa, acha? - perguntou ele com veemência. Ela pigarreou.

- Pensei que era para isso que existissem as noites...

Ele deu uma risada alta até demais.

- Depois de tudo que vou fazer nesses dias você acha que ainda vou passar noites em claro? Você está me gozando! A noite eu vou dormir, Gina, minha querida...


V



No dia seguinte Gina acordou mais tarde do que o de costume. Já eram dez horas e cinco quando olhou no relógio. Ela levantou-se e se espreguiçou, no mínimo muito feliz com a data. Finalmente ela iria se encontrar com Hermione, depois de dois anos longe. Saiu da cama de um pulo e correu para o banheiro, despiu a camisola e escovou os dentes, lavou o rosto e voltou para o quarto trajando apenas a peça intima de baixo, cantarolando. Abriu o guarda roupa e começou a procurar alguma coisa que não fosse preta. Ela escutou alguém aparatar atrás dela.

- Bom-dia, Tom - disse ela sem se virar para ter certeza. - Dormiu bem?

Ela ouviu-o aproximar-se.

- Por que essa felicidade toda? - perguntou ele, abraçando-a por trás.

- Minha primeira folga em quatro meses e primeira vez que saio desse castelo em seis e você ainda pergunta? Você andou explorando meu trabalho - disse ela, rindo.

Ela virou-se para ele, sorrindo. Ele beijou-a demoradamente.

- Diga isso de novo e você verá o que é ditadura - disse ele com a voz abafada, seus lábios apertados contra os de Gina, antes de beijá-la novamente. Ela passou os braços em volta do pescoço dele.

- Você está fazendo isso de propósito... Para mim desistir e ficar aqui com você, heim? - sussurrou ela baixinho, rindo.

- Acho que você descobriu minhas intenções - disse ele, numa voz calmamente displicente.

Beijaram-se novamente.

- Sinto em desapontá-lo, mas não vou ficar aqui no meio dessa baderna - falou ela, com um sorrisinho sádico.

- Posso saber a que horas você volta? - perguntou ele, abraçando-a com mais força entre os braços.

- Não sei... Acho que depois das quatro... - respondeu ela, pensativa.

- Tenha cuidado. Os aurores estão por toda parte. Se desconfiam de você...

- Eu sei, Tom. Eu não vou andar de olhos fechados batendo nas paredes. Não sou tão inútil assim. - Ela falara isso com menos irritação do que no dia anterior. - Não se preocupe comigo. Preocupe-se com essa festa, sim? Tem tanta coisa para fazer...

- Sim... Por isso seja uma boa colaboradora e fique aqui para ajudar - pediu ele, apertando-a com mais força ainda contra o corpo dele.

- E te acompanhar na festa vestindo trapos? - guinchou ela, sorrindo.

- Eu não me importo - ele respondeu, beijando lhe o pescoço.

- Eu me importo, milorde. Agora pare com isso. Preciso me vestir...

Ele parou e levantou os olhos para ela. Deu-lhe outro beijo longo antes de soltá-la.

- Antes de ir, me avise - ordenou, um pouco autoritário demais. Ela fez sinal de positivo com o polegar e ele desaparatou.

Ela terminou de escolher a roupa que usaria, decidindo-se por uma blusinha marrom, uma jaqueta jeans velha, uma calça de malha cor vinho e um sobretudo preto. De todas as roupas, apenas o sobretudo era coisa recente; o resto era roupa que ela trouxera de casa. Gina então prendeu os longos cabelos num rabo de cavalo alto na cabeça, deu várias voltas e fez um coque, depois amarrou-o sob um pedaço de paninho branco com uma faixa vermelha.

Quando olhou-se no espelho, mal se reconheceu. Parecia um tipo realmente esquisito. Instantaneamente ela se lembrou de Luna Lovegood, rindo-se disso. Então foi até o guarda roupa novamente e abriu a gaveta onde guardava seus cosméticos. Atualmente deveriam estar coberto de teias de aranha, se não estivessem fechados numa gaveta. Carregou na maquiagem. Mais uma olhada no espelho e ela podia jurar que não era ela. Sentindo que faltava só alguma coisa, mirou a varinha entre os olhos e transfigurou a cor deles para um verde água. Duraria mais ou menos umas vinte e quatro horas. Sorriu com o sucesso do feito.

Pegou uma bolsa grande de couro de dragão e desceu.

Era realmente espantoso: pelos corredores, pessoas passavam gritando instruções para outras no fim deles, alguns pendurados numa escada ou até em vassouras, limpando e decorando os esculpidos ao alto das paredes de pedra. Algumas pessoas olhavam para ela enquanto estava passando, e voltavam ao trabalho rindo. Ela sabia que estava estranha, mas se contentava em rir também.

Quando chegou no saguão, viu quem ela estava procurando num instante. Também pudera; ele não era uma figura que se passasse despercebido, berrando mais do que qualquer um para o terceiro andar, a capa remexendo tanto com os gestos exagerados que parecia estar num vendaval.

Ela pigarreou. Ele olhou. Por uma fração de segundo ela pensou que ele fosse rir, mas conseguiu se conter e arregalou os olhos ligeiramente, dizendo, com ar de riso:

- Weasley? É você mesma?

Ela sorriu. Era tanto barulho que ninguém estava prestando atenção a eles mesmo, então ela disse, com voz baixa:

- Posso sacar dinheiro do seu cofre ou devo usar minha conta conjunta com o Harry? - perguntou, sorrindo com indiferença.

Ele fez uma careta.

- Só não gaste tudo - disse-lhe, fazendo uma chavezinha de bronze aparecer, com um gesto de mão, no meio do ar. Ela pegou.

- Não se preocupe. Costumo ser bem econômica - disse ela, com um sorriso sincero. - Até logo.

Como estavam no meio dos outros só podiam falar. Fez um gesto de despedida e desaparatou.

Ela abriu os olhos lentamente, mal acreditando que finalmente estava fora de Basilisk Hall. Um sol gostoso da manhã batia em seu rosto e ela se via no meio de uma ruazinha apinhada de gente, todas trajando diferentes tons de cores, cheios de sacolas nas mãos. Ela abriu um grande sorriso. Fazia muito tempo desde a última vez que estivera ali. Ainda era "viva" na época.

Olhou no relógio de pulso. Cinco para as onze. Achou melhor ir direto para O Caldeirão Furado, imaginando se Mione já estaria a sua espera.

Enquanto andava, via diversas lojas que não estavam ali quando passara da última vez. Lojas novas de produtos para quadribol, farmácias, livrarias, roupas, caldeirões... Mas uma delas prendeu seus olhos, entitulada Gemialidades Weasley. Com o coração acelerando, Gina aproximou-se do vidro, com cautela. A loja estava razoavelmente cheia. Na maioria jovens na idade da escola, todos se divertindo muito com os artigos, puxando uns aos outros para ver alguma coisa.

Num momento extremamente nervoso, que fez a barriga dela rodar de excitação, Gina viu um homem ruivo e de estatura média passar pela portinhola do balcão, e parecia ter saído da salinha que tinha nos fundos. Ela engoliu em seco. Ainda que o homem usasse um corte de cabelo moicano e uma capa longa, pesada e desbotada, ela sabia, tinha certeza, não havia como se enganar. Ele colocou dois dedos na boca, e, embora estivesse do lado de fora, teve certeza de que ele assobiara pedindo atenção. Ela viu um outro homem igualzinho levantar a cabeça por trás do balcão. Sentiu um puxão engraçado no umbigo.

Um dos gêmeos levantou a mão pedindo silêncio. Eles estavam tão diferentes desde a última vez que os vira que ela não soube dizer quem era. Ele subiu no balcão e pareceu começar um discurso muito sério que ela não conseguiu escutar, mas que acabou em muitas gargalhadas da clientela quando terminou de falar. Depois o outro gêmeo deu-lhe um comprimido e um copo d'água. Fez-se um silêncio tenso antes de continuar. Então, com um gesto exagerado e engraçado, ele jogou o comprimido na boca e virou o copo d'água. O que estava no chão começou a contar no relógio. Dez segundos depois, com espanto, Gina viu um par de compridas orelhas cinzentas substituir as normais, junto com uma explosão de risadas dos clientes. Então ele se virou e puxou a capa para o lado do corpo, deixando à mostra um inconfundível rabo de burro. Ela também riu junto com os outros. Ela quase pode ler nos lábios do outro: um galeão cada.

Ela viu no instante seguinte o que era. Um dos gêmeos acabara de fixar uma placa branca num mural atrás do balcão, que dizia: "Bala Metamórfoga - tranfigure-se em homem-gato, homem-coelho, homem-burro, homem-cão, homem-unicórnio e até em homem-dragão ou homem-lagarto (não temos certeza)! Unidade separada: um galeão; pacote sortido: dez galeões."

O que tinha rabo e orelhas tornou a se virar. Por um momento, ela teve certeza de que seus olhos se cruzaram com os dela. O sorriso do rosto se embaçou rapidinho quando viu ele arregalar os olhos para ela, piscando abobado. Ela desesperou-se e deu um passo para trás. Ele abaixou-se e falou restritamente com o outro, enquanto ela aproveitava para desaparecer no meio da multidão.

Quando conseguiu alcançar uma ruazinha perpendicular ao lado de uma grande loja de produtos para poções, olhou para a porta do loja, onde os dois acabavam de sair, olhando para os dois lados. Um deles parecia descrente, mas o orelhudo continuava insistindo, olhando para todos os lados. O outro tocou o ombro dele e pareceu falar algo com muito pesar. Este olhou demoradamente para o irmão e depois sacudiu a cabeça, suspirando. Com um tapinha nas costas dele, o gêmeo em estado humano normal convenceu o outro a entrar. Gina suspirou também; sabia que estavam falando dela, e até podia imaginar o que estavam dizendo.

Sentindo-se péssima, retomou o caminho para o em direção ao Caldeirão Furado. Tocou o terceiro tijolo da parede para abrir a passagem e entrou, ansiosa. Escuro e apertado como sempre, O Caldeirão Furado não mudara nada, tirando os vários pôsteres de alguns dos membros da Ordem das Trevas que estavam sendo procurados. Ela procurou não olhar muito para eles.

Sentou-se numa mesa e não precisou esperar muito; logo ela via Hermione entrando pela porta dos fundos.

- Mione! - gritou ela, levantando-se de um salto. O rosto da amiga iluminou-se de repente. Gina correu para ela e as duas se abraçaram.

- Como está? - perguntou Hermione, radiante.

- Ótima. Melhor impossível - disse a outra, ainda mais sorridente.

- E como vai a saúde? - perguntou a amiga.

- Ótima também. Não tive mais nada depois daquele dia.

Hermione fitou-a por um momento.

- O que fez com seus olhos? - perguntou, erguendo as sobrancelhas.

- Ah, não se preocupe. É só um feitiço - disse, esclarecendo.

- E o seu amigo? - perguntou Hermione, baixando a voz.

- Hum, acho que vai vir aqui me vigiar... Sabe, ele pode pensar que marquei algum tipo de encontro com Draco Malfoy por aqui... - respondeu, fazendo uma cara pensativa.

As duas riram.

- Não brinque com isso - pediu Hermione, um pouquinho mais séria, enquanto saiam para os fundos.

- Ah, sem problemas. Consegui driblá-lo hoje. Ele vai ficar ocupado o dia todo e, mesmo que viesse, sabe que perto de mim ele não te toca, certo? - disse Gina, com um sorriso enviesado.

- Sei. Você é grande, Gina - falou a amiga com ar de riso, mas séria.

- Por que está brincado? É claro que sou grande - disse ela com ar de superioridade, parando. - Porque acha que consegui arrastar o bruxo mais temido da atualidade para minhas garras?

- Ora, deve ser porque você encheu o saco - brincou a amiga solenemente.

As duas riram novamente.

- Não acredita no meu poder de sedução? - perguntou Gina, que não conseguia mais segurar a risada. Ela tentou parar quando Hermione tocou o terceiro tijolo à esquerda.

- É para ser sincera? - perguntou Hermione, numa voz maliciosa.

- Não... Não precisa. - disse serenamente, ainda sorrindo radiante.

- Aonde vamos primeiro?

- Ao Gringotes. Minha bolsa está mais vazia do que a cabeça da Fleur Delacour - comentou Gina com voracidade.

Hermione olhou para ela, enquanto andavam.

- Você não devia dizer isso. Ela vai se casar com o seu irmão - falou, meio que censurando.

- Ora, mas eu não fui convidada para o casamento, fui? - sibilou Gina, fingindo estar furiosa. Hermione riu de novo.

"Quando vai ser, afinal?", perguntou ela, imaginando se tinha a possibilidade de ela dar um pulinho lá para ver Gui por um breve momento.

- Acho que daqui a duas semanas, se não me engano - falou Hermione pensativa, enquanto se espremiam pela ruazinha entupida de gente.

- Posso comprar um presente para Gui - falou ela, vagamente. - E mandar, sem nome.

- Não sei se é uma boa idéia, mas não deixa de ser bem intencionado...

Nessa hora ela tornou a passar em frente à loja dos gêmeos. Lançou um rápido olhar em direção ao vidro, mas eles não estavam visíveis. Ela desapontou-se um pouquinho.

Hermione percebeu.

- Por que está aflita? Não foi você que fugiu de casa para virar má? - perguntou a outra com ironia.

- Mione, me diz uma coisa: o que deu nos dois para cortarem o cabelo daquele jeito? - perguntou, perplexa, lembrando-se.

Hermione riu.

- Bem, depois que você sumiu, o clima lá n'A Toca andava meio triste. Acredite, você faz diferença naquela casa... Bom, então um dia eles apareceram por lá com o cabelo assim. Estava todo mundo na sala e, bem, caímos na risada, óbvio. Rimos tanto que até esquecemos que estávamos tristes por mais ou menos uma semana, por aí...

Gina sorriu. Imaginava a cena direitinho, embora outro pensamento lhe atordoava.

- Eu... Eu faço tanta falta assim? - perguntou ela timidamente.

- Mais do que imagina - foi a resposta de Hermione. Gina calou-se, pensando com tristeza.

Só voltaram a se falar quando entravam no Gringotes.

- Agora... Cadê aquela chave? - perguntou-se em voz alta, revirando os bolsos. - Ah, achei - falou, erguendo a chavezinha de bronze na mão.

Hermione olhou com curiosidade.

- Não me diga que vai sacar dinheiro do cofre de Voldemort - disse Hermione.

Gina engasgou-se.

- Cale-se - sibilou. - Diga esse nome no meio do Gringotes mais uma vez e todos vão olhar para a nossa cara.

Hermione olhou para os dois lados, verificando. Olhou para Gina com um olhar culpado.

- Ah, não faz mal... - acalmou Gina, com um sorriso enviesado. - Vamos.

Gina fez tudo corretamente, sem deixar transparecer um pingo de culpa quando disse o nome "Tom Riddle" para o duende e, dez minutos depois, saia da loja com os bolsos retinindo em moedas. Elas pararam um pouco na frente das escadas do banco, pensando depressa aonde iria primeiro.

- Aonde vamos agora? - perguntou Hermione, olhando para ela.

- Acho que... Madame Malkin - respondeu pensativa. - Preciso comprar tecido.

A outra concordou com a cabeça e as duas começaram a se mover. Gina voltara a pensar no modelo do vestido: havia feito um rascunho na noite passada antes de dormir, num pergaminho, do modelo que gostaria de fazer para si própria. Ela sabia que era capaz de fazê-lo até o fim de semana com os horários livres que tinha, por mais complexo que fosse.

Eles passaram na loja e sairam com uma grande sacola trinta minutos depois. As duas estavam rindo por causa do espanto da dona da loja quando ela disse que faria um vestido com aquele tanto de tecido para sábado.

- Sério agora, Mione, acho que ela se assustou por que eu disse que a festa era sábado - disse ela, imaginando.

Hermione olhou para ela.

- Será que ela, hum... desconfia?

- Bem, eu não venderia pano à uma pessoa que diz que vai à uma festa esse sábado... - disse para a amiga, pensativa.

- Seja como for...

As duas continuaram meio sérias por um tempo. Quando elas passaram em frente à uma loja de roupas e acessórios femininos elas pararam.

- Uau, veja só esse colar, Gina - exclamou Hermione, parecendo fascinada.

Gina observou a peça minuciosamente. Os brilhantes ofuscavam tanto que ela não conseguia vê-lo direito, mas também ficou boquiaberta com os detalhes.

- É lindo... - sussurrou, o nariz pregado no vidro da vitrine.

As duas ficaram admirando-o por mais um momento, esquecendo-se do tempo, depois Gina acordou, com um sorrisinho enviesado.

- É, mas dê só uma olhada nesse preço - disse, apontando para uma etiqueta onde se liam em letras douradas "87 galeões".

- Ah... Céus, quem gastaria oitenta e seta galeões em uma jóia? - perguntou-se Mione, abismada.

Gina olhou demoradamente para a amiga, depois sorriu.

- Não, não... Eu não... O que ele não faria comigo se soubesse que gastei quase noventa galeões em um colar? - perguntou, um sorrisinho amargo.

- Dinheiro não é problema para ele, é? - disse Mione, sorrindo insinuantemente.

- Se você está me induzindo a gastar esse dinheiro que está no meu bolso e fazer essa besteira... - começou ela, olhando com censura para a amiga. Depois lhe ocorreu um pensamento: - Espera aí...! Você quer que eu compre o colar só para ter uma chance de eu lhe emprestar um dia, não é, sua safada? - disse, cutucando a outra.

Hermione riu.

- Não, só estou dizendo que... que é um bom investimento - disse, dando um sorrisinho.

Gina encarou-a.

- Está bem... Conta outra. "Bom investimento" ...

- Gina... Não precisa falar assim - disse-lhe, sorrindo.

Elas riram um pouquinho, mas pararam bem depressa. Gina trocou a risada por um pigarro forçado.

- Hem hem.

Uma mulher acabara de sair pela porta e parou ao escutá-la.

As duas se entreolharam e tornaram a encarar a mulher. Esta, que estava ali na sua frente, fora professora de Defesa Contra as Artes das Trevas no seu quarto ano, olhava-as friamente.

Gina começou a preocupar-se se ela lhe reconheceria, mas esta continuava a encarar Hermione friamente.

- Cuidado, Umbridge... Eu vi um centauro passando por aqui faz pouco tempo - disse Hermione desdenhosamente, com um brilho cruel em seus olhos. Os lábios de Umbridge se crisparam e esta virou o rosto e foi-se.

Demoraram um pouco para falarem alguma coisa. Gina sacudiu a cabeça.

- Cruzes... E nós pensando em comprar um colar na mesma loja que Umbridge freqüenta... - disse num murmúrio audível.

As duas riram.

- Vamos, vamos sair daqui...



O dia para Gina foi fascinante, um dos melhores que ela tivera desde que chegara em Basilisk Hall. Agora ela estava sentada à escrivaninha do seu quarto, cortando os tecidos nos tamanhos certos para então começar a montar o vestido do baile. Enquanto trabalhava, estava se lembrando do quão divertido havia sido passear com Mione pelo Beco Diagonal; lembrava-lhe os velhos tempos.

Ela comprara todos os acessórios necessários e todo o material para sábado, embora estivessem ficado bastante tempo correndo de um lado para o outro vendo as novidades e colocando a conversa em dia. Ela estava muito feliz, tanto que esqueceu os seus problemas.

O quase imperceptível estalo anunciou a chegada de Tom no quarto.

- Você está ficando bom nisso - disse ela sem olhar. - Meus irmãos quando aparatam parecem uma buzina de ônibus... pelo menos pareciam.

Ele riu às suas costas.

- Se tem que ser discreto quando se é um fugitivo do Ministério.

- Eu sei. - Ela não parou de fazer o que estava fazendo, mas o tom que falou em seguida foi quase acolhedor. - Teve muito trabalho hoje?

- Se tive... Foi um dia agitado. O que é que você está fazendo? - perguntou ele, aparecendo no seu campo de visão pelo lado. Ele parecia realmente cansado.

- Você é quem devia tirar uma folga amanhã. Parece que está mal se agüentando em pé - disse, lançando-lhe um olhar preocupado.

- Não pareço, estou - respondeu ele. Fez uma pausa antes de falar novamente. - Teve um bom dia?

- Sim, e pelo jeito, ao contrário de você.

Ele tornou a sair de seu campo de visão. Passado um pequeno tempo, ela escutou claramente botas sendo atiradas no chão.

- É claro que você pode dormir no meu quarto hoje, assim ninguém vai te achar no seu - disse ela sem se virar.

- Eu não disse nada - retrucou ele da cama.

Ela sorriu.

- Então estou errada.

- Não, absolutamente certa - respondeu ele.

Gina continuou seu trabalho quieta e não disse mais nada. O quarto ficou em silêncio por muito tempo, até a hora em que resolveu parar para dormir. Virou-se e foi deitar.

Ele estava em um sono tão pesado que ela achou um pecado acordá-lo, por isso fez menos barulho possível. Ela deu-lhe um beijo de boa-noite, fitou-o com um sorriso maternal nos lábios por um momento, afagando seus cabelos negros intensos... Então deitou a cabeça no travesseiro e, exausta, adormeceu aos poucos.

A semana se passou lenta e torturante. O trabalho era muito e cansativo, mais cansativo do que planejar ataques e invasões. Toda vez que ela tirava uma hora para descansar alguém a chamava, até que ela teve a geniosa idéia de pegar um pergaminho e escrever com letras grandes e ameaçadoras um majestoso "NÃO PERTURBE" e pregado na porta com um feitiço que gritava quando alguém batia na porta; o quarto era protegido com um feitiço de silêncio, que expelia qualquer tipo de som que estivesse além de fronteira da madeira da porta, confiando assim, uns bons minutos de sono. Gina, porém, nas vésperas da festa, resolveu tirá-lo depois que Tom aparatou rindo em seu quarto, dizendo que ela poderia matar alguém do coração com aquilo.

Quarta-feira, quando Gina entrou na sala de planejamentos, encontrou Tom, Lúcio, Rodolphus e Romulus quase sem fôlego de tanto rir, enquanto um Jack, uma Bellatrix e uma Narcissa observavam a cena com um misto de graça e censura. Ela estranhou e, quando perguntou, Lúcio limpou os olhos da manga da camisa, pegou uma carta que estava em cima da mesa, pigarreou e leu (em meio ao silêncio repentino que se fez entre os rapazes): "Prezadas senhoritas... Durante esses poucos dias em que tiramos para preparar tudo, houve um debate e uma enquete. O que aconteceu foi que As Esquisitonas ganharam de trezentos e sessenta a zero em qualquer outro grupo musical. Como é de vontade da maioria, gostaríamos que aceitassem o convite de virem tocar em B.Hall às oito horas na noite de sábado até às cinco horas de domingo, para entreter um grupo de idiotas desocupados. Espero resposta o mais breve possível. Atenciosamente, Lord Voldemort e todo o conselho de planejamentos". Ele virou o pergaminho, olhou para ela num breve relance e leu: "NÃO!".

A simples menção da palavra fez os homens caírem na risada novamente. Os outros pareciam lutar consigo mesmo para não rir; certamente achavam que aquilo era patético. Gina sorriu com censura, mas não riu tanto quanto os homens.

Naquela tarde de sexta-feira o tempo penosamente estava custando tanto para passar que Gina pensou que o relógio de parede não estivesse funcionando. Se Tom não tivesse ficado fora o dia todo, talvez as coisas não estivessem se saindo terrivelmente erradas, o que lhe custava um horrendo esforço para consertar. Desde que ficara responsável pelo serviço deste, no começo do dia, não tivera um momento de descanso e nem parara para comer, e sempre que o via por breves momentos em que retornava ao castelo tinha um ataque de histeria. Além disso tinha que andar mascarada pelo castelo, porque os integrantes dos outros grupos não podiam ver seu rosto.

Ela dava graças à Deus por aquele ser o último dia de trabalho para essa maldita festa...


Nota: Adorei escrever esse cap. Bjus pra Natalia e pra Ariane, q foram as q mais leram minha fic, q eu saiba... Estou fazendo o possível para postar o cap 4 o mais rapido possivel, mas tenhu q passar os codigos, e isso ta me matando. Sinceras desculpas por isso. Bjusss, povu!

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