A Noite Eterna



OK, OK... desisti do chilique, n foi justo o q fiz com vcs. Sorry, povaum!!!! Aí vai o cap oito!


Essa não é mais uma carta de amor

São pensamentos soltos, traduzidos em palavras

Para que você possa entender

O que eu também não entendo

O Que Eu Também Não Entendo,
Jota Quest


I



Trevas.

Tudo o que via era trevas. O escuro. O silêncio.

Silêncio? Não... Não estava silêncio. O silêncio era interrompido por um choro fraco, quase inexistente, ao fim. Quem estava chorando?

Ela chorava.

Ele fazia silêncio.

Talvez passasse das três horas da manhã, pensava. Talvez... talvez ele dormira... Ela não o culpava.

- Não vou dizer para ter calma, para parar de chorar - sussurrou uma voz, cujo dono começou a afagar seus cabelos cor de fogo. Não se dera conta de que estava chorando no colo dele.

"Eu sei que o que fiz não foi certo", continuou a voz. "Eu não consegui lhe contar antes..."

- Você não me contou - soluçou Gina.

- Não... Não deu tempo. - Sua voz parecera amarga de repente.

Fez-se silêncio. Até seus soluços cessaram.

- Desculpe. - A voz de Gina não passou de um murmúrio.

Ele não respondeu. Por um momento sentiu que ele hesitara, mas então, depois de um quase imperceptível instante, ele pareceu tomar fôlego e falou, com a voz fraca:

"Eu vou entender se você quiser ir embora, depois do que aconteceu... Talvez... talvez seja melhor assim, se você preferir."

Poderia ser impressão dela, mas ouvira a voz dele tremer ao dizer isso. Ele parara de acariciar seus cabelos, como se temesse a resposta da garota. Fechou os olhos, mas quando fez isso tornou-se bastante claro para ela que não podia deixá-lo agora.

- Não. Por Deus, Tom, não... Já perdi Carlinhos... Não quero te perder também - sussurrou.

"Me desculpe por te culpar pelo que aconteceu."

Ela sentia que, por mais que duvidasse, ele sentiu-se de algum forma aliviado.

- Não peça desculpas - retrucou a outra voz, calmamente. - Me desculpe você, garota...

Ela limpou os olhos com as costas das mãos. Ela sempre temera, sempre a assustara a idéia de que nada durava para sempre, que sempre correriam riscos... Mas agora acontecera... e não havia mais nada que pudesse fazer.

- Não me chame de garota.


II



Os dias se passaram mais rápidos do que nunca. Quando dera conta, já era Natal.

Não era natural aos Comensais da Morte consolar, por isso ela teve que superar a perda do irmão quase sozinha. Por outro lado, havia algo que ela desconhecia, e que incomodava Tom mais do que tudo. Ele parecia mais distante a cada dia que passava.

Na noite de Natal, um pouco mais de boa comida foi o máximo que houve, como sempre, pois não se podia dizer que algum deles realmente entendesse o que significava aquela data.

Ela não vira Draco Malfoy desde aquele dia. Hermione não aparecia fazia muito tempo. Não tinha notícias de sua família desde seu último encontro com eles, que parecia mais nítido que nunca em sua mente. E Carlinhos estivera lá. Se ao menos ele morresse desconhecendo que a irmã era uma Comensal... talvez ela não estaria sofrendo tanto.

A carta que Tom recebera de Harry era completa incógnita para ela, embora tivesse perguntado umas três vezes, ela a olhara, mas não respondera. Gina não encontrou nem vestígio do pergaminho - suspeitou que ele destruíra-a.

Combinaram de passar a noite juntos.

Estavam no seu quarto. Por alguma razão, estavam se olhando fazia algum tempo, sem nem trocar uma palavra e muito menos se encostar, como se estranhassem-se, até que ela resolveu tomar uma iniciativa.

- Pelo amor de Deus, Tom, o que está acontecendo com você? - perguntou em voz baixa, preocupada.

Ele olhou para ela.

- Eu andei procurando uma coisa que não vou encontrar - disse ele, impassível.

Se Gina não entendeu, ela ocultou isso. Abraçou-o.

- Você está assim desde aquela carta - falou ela baixinho para ele. - Que é que Harry queria?

Ele não respondeu de imediato. Ele se desvencilhou do abraço e fitou-a. Sim, sua expressão se calara assim como todas as vezes em que ela ousara perguntar o motivo de um segredo. Pareceu hesitar por um momento, prestes a contar, mas engoliu em seco e sacudiu a cabeça. Não respondeu.

Talvez não fosse nada, talvez estivesse somente vendo coisas, mas ele não parecia calmo, nem remotamente, nem ironicamente, como costumava ser. Algo o perturbava, e ela enxergava isso através dele. Parecia sequer vê-la, distante, preocupado... O que era aquela carta?

Gina não agüentou mais. Era tão intensa a paixão que ela sentia por aquele homem que a idéia de que ele não estava bem era insuportável. Era inquietante a vontade de confortá-lo, de fazer-lhe esquecer o que quer que estivesse pensando, de acalmar sua aflição, de cessar sua dor silenciosa, mesmo que por alguns instantes...

Gina passou lentamente as mãos pelos cabelos dele. O contato da mão dela com o rosto dele pareceu lembrá-lo de algo; seus olhos escuros e tempestuosos a olharam direito pela primeira vez naquele dia, e continha alguma coisa que ela nunca vira antes, que parecia perpassar qualquer sentimento que já tivesse sentido algum dia.

Ele então se deixou afundar no calor do corpo dela, como que se querendo encontrar algum consolo, abraçando-a como se fosse a última vez. Ela assustou-se com o que sentiu com o contato dele, como se penetrasse na sua mente e chegasse ao seu coração... O que ele sentia era tão forte que ela podia quase sentir também, porque de repente sentiu frio, sentiu-se sozinha, sentiu-se afogando...!

Ela respirou fundo, com dificuldade, porque por um momento imaginou que não houvesse ar a sua volta, mas que estivesse perdida no infinito - um escuro vazio o gelado, que a puxava para o fundo, que a congelava, a matavam aos poucos...

Quero sair, pensou ela desesperada. Abraçou Tom com mais força, porque não era ela que sentia isso... era ele.

A sensação sufocante acalmou, o frio tornou-se menos denso... Gina encostou a cabeça na cabeceira, atrás dela. O desespero foi cessando aos poucos, o sentimento de que estava totalmente sozinha num lugar escuro foi aliviando. Parecia que, ao contato do corpo dela, ao contato de alguém... parecia menos insuportável.

- Já sentiu uma dor incessante dentro de você... Que por mais que você tente... aliviá-la... ela não pára? - perguntou ele num sussurro rouco, o rosto quase completamente oculto pela roupa dela e os próprios cabelos.

Ela sentiu algo entalar na garganta. Era como se quisesse chorar, mas não conseguisse, não pudesse...

Gina olhou para frente, fixando a cortina avermelhada de veludo escuro, um misto de dor e piedade, fazendo com que seus olhos marejassem contra a vontade.

- As vezes... eu queria ser apenas... uma pessoa normal - confessou ele, a mesma voz sussurrante e rouca, pesada, dolorida...

- Não fale - sussurrou ela, desejando mais do que tudo que ele parasse de sofrer. Abraçava-o com calor, com ternura, com amor... Como ele conseguia com que seu poder se expandisse ao ponto de fazer com que outro sentisse o que ele estava sentindo?

- Eu tenho medo, Gina... Eu tenho muito medo... - disse ele com a mesma voz desesperada.

Abraçou-o com mais força, porque era a primeira vez que ela o escutava dizer que tinha medo. Embora isso fosse, talvez, uma prova de que ele era "humano", não pôde deixar de sentir pena. Mas talvez pena não fosse a palavra certa; era compaixão.

De repente ele agarrou os vestes dela com mais força, uma explosão dolorida alfinetou o peito dela, varou seu corpo, fez seus olhos arderem com tal intensidade que as lágrimas começaram a correr pela sua face como se fossem dois rios.

- Não me deixa sozinho de novo, Gina... Por favor!

O frio a engolfou de tal modo que Gina deu um soluço seco, dolorido. A sensação sufocante agora voltara com mais força do que antes e ela mal conseguia respirar direito, tanta era a vontade de chorar tudo o que estava sentindo.

Como ela um dia podia ter chorado de saudades, de mágoa, quando a pessoa que ela amava estava presa dentro de um abismo, presa dentro de si própria? Como ela podia ter pensado sequer remotamente que o que ela sentia as vezes era tristeza, era aflição? Nada que ela sentira era comparado a isso, nada... Era insuportável para ela, estava sufocando com aquilo. Era pior do que ela imaginara, era mais forte do que qualquer coisa que já sentira, era mais poderoso do que tudo o que tudo o que já provara. Chegava a ser maior do que a compreensão dela, chegava a ser maior do que a compaixão que tinha pelos outros... A fazia odiar todos aqueles que nunca sentiram isso, que nunca souberam como é ruim, como é dolorido, como é maléfico... A fazia odiar todos aqueles que tinham família, que eram amados por alguém, que tinham uma mãe e um pai como todo mundo, que tinham amigos com quem contar... A fazia odiar a todos aqueles que a desprezaram, que a rejeitaram, que a subestimaram... Porque ela conseguia resistir a isso... porque ela conseguia fazer com que a dor fosse mais suportável, porque isso fazia a dor acalmar, fazia a dor diminuir...

- Pára! - gritou ela - Pára!

Ela chorava e soluçava como nunca fizera em sua vida. Ela sentia a dor e o choque de compreender, de finalmente compreender o que ele sentia, o que ele era... Ela não conseguia pensar em mais nada.

- Não é - soluçou ela, abraçando-o mais forte ainda. - Não é verdade... Você não está sozinho, meu amor, não está... Eu estou aqui... com você... Não vou te deixar. - Passou a mão desesperadamente pelos cabelos dele.

A dor pareceu diminuir, calmar... Foi se dissipando aos poucos, até que ela não sentia mais nada. A respiração falha, tensa, foi se regulando. O coração disparado foi, aos poucos, voltando ao normal. O frio absurdo se foi, deixando apenas ela e ele, ali, naquele quarto de parede de pedras, onde o fogo da lareira apagara-se com o poder violento que ele irradiara inconscientemente... Estavam a sós de novo, estavam livres daquela sombra nefasta de tristeza e aflição, de dor, de revolta...

Ali, naquele quarto, naquela cama, onde tantas vezes ele usara do corpo dela para tentar se livrar daquela dor terrível, daquele vulto, daquelas lembranças ainda tão nítidas na sua mente, Gina pensava no quão frágil ele lhe parecia de repente, no quão igual ele era dos outros homens, que sofriam, que tinham mágoas...

Dando um suspiro trêmulo, fechou os olhos.


III



Gina não sabia o que esperava. Voldemort chamara todo o grupo cinco na sala dele ao final da tarde, e parecia um tanto pálido demais para os padrões normais. Esperava ansiosamente. As palavras que ele já havia dito era "Recebi uma carta de Harry Potter semana passada."

Ao sair da sala, porém, quinze minutos depois, desejava não ter ouvido nada daquilo. O choque fora tão grande que ela não sabia mais onde seus pés a levavam. As palavras dele ainda se seguiam repetidamente na cabeça dela.

"Ela dizia na carta que queria fazer um acordo, e que queria ser rápido. Disse que os aurores aceitaram uma batalha pelo poder. Quem vencer terá o direito de fazer o que quiser com os outros, então, que estaria disposto a vencer ou morrer, para acabar logo com isso. Para ser claro: ele quer um duelo, onde o lado perdedor sai do caminho para o vencedor. E... eu aceitei."

Por um momento parecia ter tido muita raiva dele, depois passara. Fora tomada por um desespero tão grande que se esforçara para se manter atenta ao que ele dizia.

"Será daqui à dois dias. Amanhã eu vou chamar todos os Comensais da Morte para contar a notícia..."

Mas ela não ouvira mais do que isso. Encarara-o, sem nem escutar o que ele dizia.

Agora não sabia onde estava indo, até que se deu conta de que parara em frente à sua sala, no quinto andar.

Sentiu um impulso. Precisava ficar sozinha um pouco.

As palavras dele significava que um deles, ou Harry ou ele, teriam que morrer. Completava a profecia que Harry lhe contara que estava em torno dos dois. Poderia completar também a profecia que ela escutara.

Sentia-se confusa.

Sentara-se confinada em seu escritório, observando a neve cair agourenta lá fora, pela vidraça embaçada. Não queria que ele a visse chorando por isso.


IV



Era o último dia do ano.

Gina mal pode suportar o dia que passara desde que Tom falara com eles. Sentia-se estranhamente tensa. Tinha uma má impressão sobre tudo isso.

A noite estava muito feia. A tempestade fustigava nas vidraças com tanta força que parecia prestes à arrancá-las. Os archotes de vários corredores estavam apagados por causa do vento. Estranhamente, parecia representar o que Gina estava sentindo naquele momento.

Sentada em sua cadeira, de frente para o fogo da lareira, como se esperasse ver Hermione irromper das chamas para que pudesse desabafar com a amiga, encontrava-se a garota calada. Temia o que estava por vir.

Escutou o rangido da porta.

Fechou os olhos maquinalmente.

Uma brisa gélida entrou junto com ele antes que a porta fosse fechada.

Ela não queria se virar.

- Gina.

Por mais que lutasse contra a vontade, virou-se lentamente.

Embora quisesse odiar, se enfurecer, machucar, descobriu que era impossível quando encontrou os olhos dele. Parecia um tanto espantado, o rosto pálido fitando-a com menos avidez do que o normal. Havia um pouco de neve nos seus cabelos e capa, negros como o escuro, e seus lábios pareciam roxos de frio.

- Por que está me evitando? - perguntou ele, em voz baixa.

Era tão doloroso encará-lo...

- Você... você arrisca tudo, sua vida, e ainda me pergunta?! - disse numa voz trêmula.

Ele continuava olhando-a incomodamente.

"Gina, eu posso não voltar mais... nunca mais"

Ela levantou-se.

- Eu sei - respondeu, olhando-o como se fosse a primeira vez que fazia isso.

Entreolharam-se por um momento, em silêncio.

Queria poder contemplá-lo para sempre...

- Eu te quero esta noite, Gina.

As palavras dele pareceram desprender um tipo de encanto que a fez ter um calafrio involuntário, como da primeira vez... Como da primeira vez...

Como se esperasse isso desde o momento em que ele pusera o pé dentro daquele quarto, Gina correu para os braços dele, e, enquanto se beijavam, lutava fortemente contra as lágrimas.

Quando se afundavam na cama, em meio à um abraço faminto e desesperado, Gina sussurrou em seu ouvido.

- Eu te amo.

Aquela noite eles se amaram como nunca tinham feito antes, e, quando se deitaram quietos e abraçados no meio da noite, Gina tinha um sorriso nos lábios e uma pequena lágrima escorria de seus olhos.

Tinha quase certeza de que ouvira um "eu também".


V



Por algum motivo, não queria acordar. Suspeitava que assim que abrisse os olhos, tudo o que tivera aquela noite ruiria com a mais débil facilidade.

O lençol branco cobria seu corpo, aconchegante. Ela ouvia alguém que se vestia à suas costas. O ruído parou e ela esperou um beijo ardente de bom dia. Ele não aconteceu. Pouco depois Gina ouviu barulho de passos e, logo em seguido, o de uma porta que se abria e se fechava.

Lentamente, bocejou e abriu os olhos. Calmamente, observou umas pequenas manchinhas na fronha do travesseiro ao lado. Ouvia o vento fustigar na janela. Uma nesga de sol opaco brincava na cortina vermelha aveludada.

Gina queria que não fosse verdade...

Com a agilidade repentinamente aguçada, sentou-se rapidamente. O que estava fazendo ali, enquanto Tom acabara de sair do quarto sem se despedir?

Vestiu-se o mais rápido que pode, desejando por tudo não ter perdido a hora. Se fosse, se apressasse-se... Talvez o veria uma última vez, antes que ele saísse...

Escancarou a porta. O corredor do segundo andar da Ala Oeste estava totalmente deserto.

Tentando por tudo não se desesperar, correu até o fim dele e olhou para os lados. Não havia ninguém tampouco. Correu e debruçou-se no parapeito. Constatou horrivelmente que o saguão estava vazio.

Sentindo a boca seca de repente, incrédula, virou à esquerda e começou a correr desesperada em direção às escadas.

Talvez eu ainda o possa encontrar lá fora...

Parou de chofre. Um barulho. A porta às suas costas, a grande porta do quarto número quinze, se abrira. Gina prendeu a respiração e virou-se.

Ali, intacto à sua frente, ele surgira. Por um momento ela sentiu-se como se um grande arroubo de felicidade lhe explodisse no peito, mas no instante seguinte, a sensação fluiu quase que com a mesma velocidade com que viera.

Ele encarou-a com seus olhos frios. Encarou-a, sim, mas como se mal a conhecesse.

Começou a andar, agora fixando um ponto da parede à frente, e ia passando por ela. Por um instante, Gina pensou quase com desespero que ele não fosse parar.

Ele hesitou. Então, sem mais nem menos se virou para ela, que deu um passo para trás, esbarrando na parede fria. O jeito como ele lhe dirigia o olhar...

Tom Riddle falou, cada palavra seguida por um vapor quente que saia de sua boca...

- Se eu não voltar, cuida do nosso filho e... não deixe nunca ele saber quem foi o pai dele.

Gina boquiabriu-se. Uma longa e transparente lágrima lhe escorreu dos olhos ao mesmo tempo em que ele lhe puxava a gola das vestes e lhe beijava breve e rispidamente.

Suando frio, o vapor que saia de suas bocas mais denso que nunca, Tom soltou-a. Os olhos fechados e apertados, ele virou-se novamente para frente e retomou seus caminho.

Momentaneamente sem ação, Gina o viu parar ao topo da escada e baixar a cabeça. Ela não via o que ele estava fazendo... As mãos dele, com os longos dedos encobertos pelas luvas negras, ergueram-se na altura do rosto. Ele ficou assim parado por alguns segundos, então pareceu limpar os olhos e erguer a cabeça de novo.

Como se nada tivesse acontecido, Lord Voldemort olhou para frente e começou a descer as escadas.

Parecendo sair de seu repentino transe, Gina Weasley gritou para ele:

- Você não pode me deixar!

Ele fingiu não ouvir.

- Você não pode fazer isso! Eu não sou nada sem você, Tom! - gritou Gina, correndo ao seu encalço.

Ele continuava a ignorá-la insistentemente. Ela tocou o ombro dele. Voldemort virou-se, mas não a encarou nos olhos.

Como se o som se desligasse momentaneamente, os olhos ligeiramente arregalados de espanto, Gina viu-o agarrar seus braços e empurrá-la para além de uma porta entreaberta. Em seguida ele agarrou a maçaneta e bateu a porta, que se trancou imediatamente.

Escuro.

Somente escuro e o som dos passos dele que se distanciavam ao longe.

- TOM!

Bateu na porta com toda a força que tinha. Não conseguia fazê-la abrir.

i>Ela não podia deixar que ele fosse embora...

...que ele fosse embora de sua vida!

- TOM!

Ficou, ao que pareceu uma eternidade, dando socos na superfície maciça da porta, sem que conseguisse produzir um único efeito.

"Não... Não me deixe, por favor... Não me deixe..."

Escorregou pela porta, sem forças, e caiu suavemente de joelhos no chão. Mesmo que estivesse vendo, se não estivesse tão escuro, sentia que seria incapaz de ver... Sentia que as lágrimas a cegavam...

Ela não sabia se passara duas, três, oito horas... Só sabia que o tempo não passara para ela. Embora lutasse para manter acesa o restinho de esperança que tinha no peito, lutasse para nunca desistir, ela sabia... Sabia que, assim como perdera Carlinhos... Sabia que ele não ia voltar...

Isso porque ficara ali, pensando. Agora sabia o que eram as manchas no travesseiro dele.

Eram lágrimas.

"Se eu não voltar..."

Eu quero que você volte, pensava Gina desesperada.

"...cuide do nosso filho..."

Eu cuidarei... Volte, Tom... Volte, pelo amor de Deus...!

"...e não deixa nunca ele saber quem foi o pai dele."

Tentarei... Mas, então, se ele for tão inteligente quanto você, meu amor... não vou conseguir... - Ela arranhava a porta com as pontas dos dedos.

"Adeus, Gina."

Nessa hora, uma dor tão grande se apossou dela que Gina parou de chorar, com choque... Ela não conseguia acreditar!

A porta se abriu, lentamente com um ruído. Isso só podia significar uma coisa: a magia do castelo, ligada ao último dos Slytherin, se fora. Tom se fora.

Caída ao chão frio, um grito de infelicidade se libertou dela.

O grito fora ouvido ao longe, ecoando em todos os cômodos do castelo, em todas as árvores ao redor...

A maldição se concluíra.



Gina não sabia quanto tempo se passara, nem se tinha frio ou fome - nada mais lhe importava.

Em toda Basilisk Hall, apenas uma pessoa se encontrava ali. À porta de um armário entreaberta, encostada na parede, os olhos ocultos pelos cabelos, Gina estava imóvel. Que importava se ficasse ali para sempre, esquecida?

Ouviu passos no andar de baixo. Não ia se levantar e ir ao encontro de quem quer que fosse. Não ia deixar saber que estava ali.

Porém, parecia inevitável. A pessoa, fosse quem quer que fosse, não parou de andar para todos os lados. O castelo vazio fazia dez vezes mais barulho do que o normal.

Estava perto agora.

- Gina?

Ela virou a cabeça lentamente, procurando ver quem era atrás da cortina de cabelos, embora já soubesse. Jamais esqueceria aquela voz...

- Vai embora, Mione.

Mas a amiga não foi.

Hermione se aproximou até ficar na frente dela. Não podia ignorar - ergueu os olhos.

Hermione trazia uma capa preta dobrada nos braços. Gina reconheceria aqueles fechos de prata em qualquer lugar...

Quando os olhos das duas se encontraram, a outra sacudiu a cabeça lentamente. A minúscula, quase extinta esperança que havia dentro da garota, desapareceu.

Engoliu em seco.

- Como foi que me achou?

- Harry me contou como chegar aqui - respondeu Hermione simplesmente.

Por alguma motivo, Gina se encolheu ao som daquele nome como se a amiga o tivesse gritado.

- Eu precisava te achar. Isto - a outra enfiou a mão dentro das vestes e puxou um envelope - deve ser seu. Ninguém mais conseguiu abrir.

Ela olhou o pergaminho. Nas letras de seu amante, estava escrito "Para Gina Weasley".

Gina pegou o envelope com as mãos trêmulas, e o abriu. Puxou uma carta longa, em alguns pontos borrada e quase ilegível.


Querida Gina,

Se essa carta chegou a suas mãos é porque já estou mais do que morto. Lacrei com um feitiço que permitia somente você abri-la, porque você é a única pessoa a quem eu confio de verdade os meus maiores segredos.

O primeiro é que eu me senti atraído por você desde aquele dia nas masmorras, e minhas intenções quando lhe levei para aquele quarto eram muito piores do que somente lhe beijar. O segredo, porém, é que eu não consegui fazer o que pretendia quando vi o medo e o horror que você tinha por mim nos seus olhos.

O segundo é que você conseguiu fazer com que eu pensasse duas vezes antes de matar alguém. A primeira vez que isso aconteceu foi quando você me impediu de matar seu irmão; arriscou sua própria vida para salvar a mim e a ele, sabendo que somos de lados opostos. Confesso que isso talvez tenha feito eu ter alguma honra desse dia para a frente, nas outras lutas.

O terceiro é que eu iria lhe matar quando você estava no hospital, depois daquele ataque no dia do baile, assim que me disseram que você esperava um filho meu. Eu queria a todo custo acreditar que a responsabilidade era toda sua e que eu não tinha culpa por isso ter acontecido... Mas eu não consegui, tanto acreditar nisso como te matar. Tudo aquilo que eu lhe disse naquela hora era verdade - eu queria que você morresse feliz.

Você já me ouviu dizer uma vez que queria ser uma pessoa normal. Além de todo o poder, além de toda o domínio que você pode ter sobre as pessoas, é ruim não ter ninguém em quem você possa confiar de verdade, é ruim desconfiar dos seus próprios amigos, é ruim saber que ninguém gosta de você, mas sim do seu poder... A pessoa se cansa disso, depois de um tempo.

Você também me ouviu dizer que tinha medo, muito medo. Meu quinto segredo é que eu sempre tive muito medo de lhe perder, Gina. Eu não suportaria ver você ir antes de mim. Eu não saberia o que fazer...

E meu sexto segredo, Gina, é aquele em que você preferiria não acreditar, porque acreditar nisso somente iria lhe fazer sofrer mais... Eu sempre fui estúpido e orgulhoso demais para dizer isso pessoalmente, embora eu não acreditasse totalmente em mim mesmo e não queria admitir. Meu maior segredo é que eu te amo, sempre te amei e continuarei te amando...

E o meu último segredo... é que cansei de viver essa vida horrorosa que eu tenho, que eu pensava ser preciosa demais para se extinguir um dia... Cansei de viver temendo sua perda, temendo minha própria ira... Cansei de detestar, cansei de odiar... Cansei de saber que tudo o que eu vivi e fiz não passou de fantasia... Cansei. Tudo não passou de uma brincadeira boba, de querer ter o mundo inteiro para poder se divertir... Não acho mais graça nisso. Suponho que enfim, eu cresci! Cansei de viver, Gina, sinto muito.

Cuide do nosso filho e tente me esquecer. Eu não te merecia e nunca te mereci, tanto que quebrei a promessa que havia lhe feito. Você me foi mais do que amante, saiba disso. Você foi mãe e irmã que eu nunca tive. Obrigado por me ver com outros olhos.

Talvez com essa carta você aprenda que mesmo os mais fortes são tão fracos quanto nós mesmos, e que por mais que eles tentem parecer que não são humanos, eles falham, porque errar faz parte da nossa natureza... e amar também.

Se algum dia a noite lhe parecer eterna, lembre-se que sempre há um amanhecer. Suas lágrimas serão chuva, e sua tristeza será trevas. Sorria e o sol nascerá. Sinta-se só, e te lembrarás de que estou com você.

Me desculpe por isso.

Somente seu,

Tom Riddle



Quando terminou de ler, percebeu que não podia mais fingir que não se importava. Ela não o veria mais, ele não voltaria...

Abraçando a carta, como se desejasse sentir um pouco dele que se perdera por ali, ela chorou. Não sabia que seria a última vez que choraria assim, de saudades, de dor, na frente de alguém... Os olhos apertados e cegos, sentiu-se fraca de repente, como se dali em diante ficaria fadada a viver trancada no escuro, sem mais ver a luz do sol. Sentia que não conseguiria mais ser a pessoa que fora. Ela estava certa.

Então, limpou os olhos e levantou-se. Hermione encarou-a, parecendo ligeiramente magoada.

- Para onde você vai agora? - perguntou a amiga, mirando-a com um misto de culpa e piedade.

Nada mais era real. Ela sabia que, desta vez, o sol não nasceria. Ela sabia que a noite seria eterna.

- Vamos - disse ela com a voz firme, apanhando a capa da mão da outra e prendendo na própria roupa - para o Ministério da Magia.


Genteim, obrigadão pra quem comentou! Eh uma ajuda e tanto!!! Valew!!! Mas acho q vou querer masi 20 para postar o nono cap... Brincadeirinha!!!!! Bjusss!!

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Comentários (1)

  • mariana neves de amorim

    Nossa, Serio, eu acabo de chorar lendo isso... sei que já faz um bom tempo que vc posto, mais ainda assim não pude deixar de comentar...

    2012-10-31
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