O Despertar de Uma Maldição

O Despertar de Uma Maldição



I


Gina Weasley estava se recordando daqueles dias... Daqueles dias que não teriam mais volta. Ela suportara por todos esses anos sustentando a idéia de que era melhor assim, como tudo acabou... Mas o seu coração não queria que isso acontecesse, não mesmo. O coração nunca esquece e as feridas jamais cicatrizariam... nem se tivesse toda a eternidade para se esquecer do que acontecera.

Mas foi melhor assim, pensava ela, fixando seus olhos grandes e castanhos em um pontinho de cabelos pretos fora da janela. Talvez isso tivesse que acontecer...

"Se eu não voltar, cuida do nosso filho e... não deixe nunca ele saber quem foi o pai dele" , dissera ele. Foi a última vez que ela o viu. Sentia-se culpada. Devia ter contado... Mas se tivesse feito isso, não estaria cumprindo com o último pedido que ele lhe fizera, e ela não podia nem pensar nisso.

A verdade é que sentia falta, mesmo que fosse feliz hoje, mesmo que não passasse fome nem frio, nunca fora machucada nem magoada... Mas, lembrou-se ela, sentira-se feliz mesmo passando fome, frio, tendo se machucado e sempre tinha algo com o que se entristecer ...Ela sentia falta disso. Agora, sempre teria um vazio dentro dela, que nunca conseguiria preencher... Jamais.



Tudo começara quando estava no sétimo ano de Hogwarts. É, há aproximadamente dezoito anos atrás, quando ela ainda tinha dezessete. Nessa época uma coisa horrível estava acontecendo: Voldemort (porque agora ela não tinha mais medo de pronunciar) e seus seguidores estavam avançando muito e tomando poder em vários lugares. A comunidade mágica estava um caos; O Ministério tentara esconder o fato por dois anos desde o início de tudo, mas não conseguira. Os maiores bruxos estavam sendo mortos e desaparecendo - e ninguém tinha dúvida de que estes também estavam tendo o mesmo destino do que os outros - e a Ordem das Trevas começava a se infiltrar em meios importantes na comunidade mágica, como no Ministério da Magia, Azkaban e sedes do Profeta Diário. Lugares como o Beco Diagonal e Hogsmeade eram invadidos todos os meses pelos Comensais da Morte e pelos aurores, que viviam em constante guerra. Voldemort queria a todo custo destruir Harry Potter, porque este fugira todas as vezes que ele prevera ser a última do garoto. Mas o mais interessante é que e este, o Lord das Trevas, conseguira passar a mão em uma poção da juventude para despistar os aurores, o que significa que todos que o olhassem e não soubessem que ele e Tom Riddle eram a mesma pessoa não o reconheceriam. Ele agora aparentava ter uns dezessete anos - pelo menos foi isso que Gina pensou quando viu-o pela primeira vez. Por um instante ele não conseguiu acreditar no que via - ou em quem via. Isso foi antes do ano letivo, quando ela o viu passeando no Beco Diagonal. Sabia, tinha certeza de que era ele, por que nunca esqueceria. Mas então Gina virou os olhos e fingiu não ver, assustada demais para falar para alguém. Nesse tempo, já namorava Harry fazia uns três anos.

Já no meio do ano, aconteceu uma coisa que ninguém esperava: Em uma visita dos alunos de Hogwarts à Hogsmeade, ela foi raptada pelos Comensais e torturada até não poder mais. Ela não disse onde estava Harry, mesmo porque ela não sabia, eles só andavam se comunicando através de cartas. Foi então que ele entrou na história...

Ele acabara de entrar na masmorra fria e escura onde ele estava presa. Ela viu, com medo, um jovem que aparentava ter aproximadamente a quase a mesma idade sua olhá-la com os mesmos olhos frios e expressão de profundo tédio que assombrava seus pesadelos há muito tempo. Ela sentiu um espasmo de horror e fechou os olhos com força, vendo flashes de um passado distante piscar na sua cabeça, uma sensação estranha de quando se está sendo possuída vindo-lhe à lembrança...

- Ora, ora, ora... Você está resistindo demais, garota - dissera ele num tom muito irônico, sentando-se em uma cadeira diante dela, a voz ecoando-lhe dolorosamente em seus ouvidos. Ela usava roupas ralas e esfiapadas e ela estava descalça, apoiando os pés nos chãos gelados, mas não havia como se cobrir com as duas mãos amarradas, por isso nem tentou. Seu corpo todo doía, mas ela ainda fazia esforço para ficar o mais longe dele possível, pregada na parede fria de pedras.

- Eu já disse que não sei onde o Harry está e nem diria se soubesse! - berrou ela, fazendo sua voz ecoar pela sala de pedra para onde tinham-na levado. Ele a olhava fixamente, balançando a cabeça de vagar, um sorrisinho estampado no rosto.

- Pode gritar o quanto quiser; o dia inteiro, se conseguir... No final todos acabam falando, não é?

E continuou sentado mirando-a durante horas, recostado confortavelmente na cadeira com os braços cruzados vendo-a gritar ofensas para ele até ela perder a voz.

Então Gina resolveu mudar de tática. Lembrou-se então que sabia o suficiente de Tom Riddle para afetá-lo.

- Pelo menos eu tenho sangue puro - disse ela com a voz fraca, levantando os olhos semi oculto pelos cabelos ruivos e suados que lhe caiam na face para ver qual seria a reação. - Não sou como você, sangue-ruim - rosnou ela, as pernas vacilando ao tentar se manter em pé.

Gina viu que ele mudou a expressão quando disse isso, mas depois sorriu e, ao invés do que ela pensava que ele faria, ele apontou a varinha para ela e disse quase descansadamente.

- Crucio.

Mais uma vez em todos aqueles dias ela teve a sensação de que cem facas perfuravam seu corpo, mas muito, muito pior, porque agora ela estava realmente exausta... e agora era realmente Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado quem a estava torturando. Ela sentia todo o seu corpo esticar ao máximo que podia, se retorcer horrivelmente e sua voz gritar tanto que pensou que fosse desmaiar. Foi quando parou.

Ela deixou todo o corpo cair e seus pulsos sangraram quando as correntes que a prendiam a seguraram, cortando-a. Ela não conseguia mais se manter em pé. Só quando sentiu alguém puxando seus cabelos que levantou o rosto à força.

- Isso não é da sua conta, entendeu? - falou ele, muito perto, forçando seu rosto para cima. - Isso não é da sua conta!

- Eu sei, sangue-ruim - atirou ela, teimosa. - E também sei que você foi criado num orfanato de trouxas... E que seu pai não lhe quis, seu infeliz nojento! - cuspiu ela ameaçadoramente tentando manter a voz mais alta possível, mas só o que conseguiu produzir foi uma imitação de voz, um ruído rouco e esganiçado.

PÁ!

Acertou lhe em cheio o soco no rosto que fez o sangue respingar de sua boca. Ela continuou olhando para o outro lado - não sabia se estava preparada para outro desses; quem sabe apagasse de vez. Ela não sabia como estava conseguindo resistir todo esse tempo, por que não desmaiara ainda.

- Quem lhe contou? - perguntou ele com mais frieza do que ela o ouvira se dirigir a alguém até então.

- Você - respondeu ela, rezando para que ele acreditasse.

- Eu não estou brincando - rosnou ele em voz alta, pouco antes de pegar seu pescoço e pressionar contra a parede - Quem lhe contou?

- Então o verme do Rabicho não lhe contou da brincadeira que aprontaram comigo a seis anos atrás? - disse ela, tentando parecer displicente, embora não conseguisse reprimir a dor na voz completamente enquanto falava, sendo asfixiada por ele. - No meu primeiro ano na escola me colocaram um diário dentro do meu material escolar - o seu diário -, e eu andei escrevendo nele o ano todo, então aconteceram várias coisas que eu não me lembro antes do Harry acabar com aquele... caderno asqueroso. Mas o que importa é isso: eu contava os meus segredos ao diário e ele me contava os seus, até que eu comecei a aprontar coisas que você fazia... como abrir a Câmara Secreta, por exemplo.

Ele soltou do seu pescoço e ela tossiu, a respiração rasa. Ele continuou olhando fixamente, mas com uma expressão estranha no rosto. Depois disse:

- Então foi você? - E deu uma risada baixinha, mirando-a com um sorriso satisfeito. Depois fez um gesto de impaciência com uma das mãos - Mais um plano maravilhoso que foi por água abaixo por causa de Harry Potter - depois ergueu os olhos para ela, que se encolheu instintivamente. - Você não sabe mesmo onde ele está, não é?

E para a surpresa dela, ele fez um gesto com a varinha e desprendeu as correntes que a prendiam, o que fez ela cair com tudo no chão, mas ele não pareceu se importar. Ele virou-se para sair, a capa farfalhando às suas costas e abriu a porta, quando Gina pergunto espantada:

- Vai me libertar? - boquiabriu-se, muito rouca.

- Vai sonhando, garota... - falou, dando um sorrisinho sádico. - Vai sonhando...

Ela apoio os braços no chão frio, tentando se levantar. Cedeu-se, sentindo uma dor excruciante nas costas e nas pernas, a respiração dolorida e rascante saindo trêmula e rouca de seus pulmões. Ela sentiu algo entalar na sua garganta. Estava com mais medo do que nunca estivera. Ela sentia-se quase derrotada, quase disposta a fazer o jogo deles, mas não podia... E não ia se render tão rápido.

Depois disso ela ficou presa por uns dois dias sem ver ninguém. A comida - geralmente nada que sustentasse por muito tempo - eram deixados na masmorra - ela supôs que fosse uma masmorra - por um homem encapuzado na calada da noite. Ela ficava dando voltas pelo pequeno e frio calabouço, iluminado apenas por um archote, quando recuperava energia para fazer isso, pois ainda estava muito fraca das maldições que andavam lançando nela, e pensando preocupada se alguém já havia dado falta dela e se Harry cairia no plano deles. E depois que começara a ter pesadelos de novo; pesadelos que não andava tendo desde o segundo ano. E depois, quando acordava, não conseguia conter o choro quando se lembrava que dentro de alguns dias provavelmente estaria terminada do mesmo modo que Lilian e Tiago Potter, assim como muitos outros.

Um dia, porém, ele voltou para terminar o que começara. Gina já esperava isso, mas não conseguiu suportar calada mais uma rodada de maldição Cruciatus.

- Vejam, ela abriu a boca - disse Voldemort satisfeito quando ela gritou pela primeira vez. Fazia umas duas horas que ela estava recebendo a maldição em intervalos de quinze minutos para se recuperar, para depois receber outra, e se contendo para não gritar, mas as lágrimas de dor já escorriam de seus olhos a muito tempo. - Você tem fibra. Se quiser voltar para nós quando se cansar de ser boazinha... será muito bem recebida - anunciou cínico, como se fosse aquela carreira que todos gostariam de seguir um dia.

Gina gritou um palavrão que ecoou pelo calabouço silencioso.

- Olha a boca. Não fica bem para uma moça ficar gritando essas coisas.

Ele se aproximou uns dois passos - parecia ter reparado nas vestes dela.

- Sai para lá! - gritou ela com a voz rouca, tentando ocultar o corpo com as vestes ralas, se encolhendo no canto da saleta. Ele deu uma risada alta e debochada.

- Que foi? Está com medo de mim? - disse, se aproximando mais e se agachando perto. Gina se encolheu mais, uma mistura de raiva e pânico se espalhando dentro dela.

- Não me machuque mais... Por favor - gemeu ela, tremendo e soluçando.

- Machucar? - repetiu ele numa voz inocente. - Quem falou em machucar? - Gina apertou os olhos quando ele ergue a mão, mas ele só tirou uma mecha de cabelo do rosto dela.

- Então, Gina... - Ele se sentou do lado dela. - Sabia que Potter escolheu bem? Até que você é bem bonitinha...

- Pare com isso, pare com isso... - murmurou ela tapando os ouvidos, ainda tremendo.

Ele olhou para ela, só que dessa vez ela não desviou os olhos. Alguma coisa estranha estava acontecendo. Seus olhos escuros não demonstravam mais desejo de sangue nem frieza, mas alguma coisa indistinguível se passava por eles. Ela se arrepiou toda e desviou os olhos, sentindo uma sensação desagradável.

- Não me leve a mal - falou ele, com um tom de voz que ela não pode reconhecer. - Os outros também não têm sido bons comigo.

- Você não faz nada para merecer ser bem tratado por alguém - retrucou ela, sentindo bem mais coragem do que era para sentir.

Ele franziu a testa.

- A coisa não funciona assim. Isso já acontecia bem antes de eu resolver dar o troco. Se os outros me tratassem bem, eu também os trataria.

- Eu só não te trato bem porque você não me tratou, para começar - disse ela, tremendo bem menos agora.

Ele olhou novamente para ela e ela para ele.

- Tem razão. Me desculpe - disse ele cinicamente.

Ela não podia acreditar. Lord Voldemort pedindo desculpas para ela? Isso era realmente ridículo.

- Escuta, você está tirando uma com a minha cara? - disse Gina, hesitante.

Ele fingiu uma expressão ofendida.

- É sempre assim, não é? Quando peço desculpas ninguém acredita. Sabe, estou pedindo desculpas do fundo do coração - falou solenemente.

- E você lá tem coração? - disparou ela antes que pudesse se conter.

Ele não respondeu de imediato.

- Talvez.

Simplesmente "talvez". Gina sentiu medo, muito medo.

- Olha, para mostrar que estou dizendo a verdade, vou lhe tirar desse calabouço horroroso. Você fica em um quarto decente até eu te libertar. Isso está abaixo do padrão de qualidade de vida, olhe só para esse lugar - apontou. Gina mirou as paredes feias e geladas de pedra, respingadas do próprio sangue de agora a pouco, onde havia um único archote onde ardia uma chama velha; do outro lado tinha as correntes e num outro canto um vaso sanitário realmente em estado crítico, fora o montinho de palha mofada onde eles estavam sentados.

"Acho que vou mandar reformar isso. Esse lugar é realmente feio." Depois parou, como se mal acreditando que tivesse dito aquilo.

- Bom, pelo menos eu já sei em quem votar nas próximas eleições - disse Gina, teimando. Pelo menos poderia tirar sarro com a cara dele antes de morrer - Voldemort para Ministro da Magia.

Ele semicerrou os olhos, depois começou a rir sem emoção. Disse que seria a única. Depois se levantou e ofereceu ajuda para ela se levantar. Gina hesitou por um momento, depois aceitou.

- Por que está fazendo isso? - perguntou ela já em pé, desconfiada, mas com cautela.

Ele a mirou mais uma vez, mas não respondeu.

- Você não vai querer passar mais tempo nesse buraco, não é? - perguntou, franzindo a testa.

- N-não - disse ela, temendo perder a promessa de um quarto razoável.

Ele sorriu novamente. Era estranhamente tenso quando ele fazia isso. Gina já estava tão aterrorizada com ele que parecia impossível que este fosse capaz de sorrir, mas ficava misteriosamente bonito quando o fazia. Ela se repreendeu em silêncio por se pegar pensando isso.

Ele pediu para segui-lo quando saíram do calabouço, também para que não tentasse fugir porque estava desarmada e ele nem precisava tanto da varinha para fazer mágica. Ela obedeceu, pensando que seria louca de tentar fugir de Lord Voldemort sem varinha, ainda por cima dentro do quartel general dos Comensais da Morte. Segui-o sem fazer barulho desnecessário.

Ela boquiabriu-se quando viu no castelo que se encontravam. Não era Hogwarts. Era um castelo muito sombrio e frio, escuro. Várias gárgulas e estátuas horripilantes estavam postadas pelos corredores e nas paredes. O chão estava coberto com tapetes longos e verdes, com figuras de serpentes em linhas prateadas. Os archotes estavam acesos e as janelas eram altas e não tinham vidro - ainda bem que não era inverno, pensou a garota, tremendo descontroladamente a brisa que batia no seu corpo através das roupas ralas e rasgadas. As paredes de pedras emanavam um frio desagradável.

- Bem vinda ao castelo secreto de Salazar Slytherin - disse Voldemort, vendo-a olhar para todos os lados curiosa.

- Castelo secreto? - repetiu ela - Não bastava uma Câmara Secreta e o cara tinha também um castelo secreto?

- Exatamente. O velho Salazar não era lá muito sociável - explicou ele.

- Bem, isso explica o descendente - retrucou ela. Ele hesitou ao dar o próximo passo, mas não respondeu.

Continuaram andando por alguns minutos, Gina ainda olhando assustada para todos os lados. Passaram por uns dois Comensais encapuzados e muito bem vestidos comparados a ela, ambos fizeram uma reverência e continuaram seu caminho. Pararam, então, em frente a uma porta de madeira polida com portal de serpentes prateadas. Ele sibilou alguma coisa e fez Gina ficar de cabelo em pé - ela não gostava de ofidioglossia. A porta se abriu silenciosamente.

- Que foi? - perguntou ele, que parecia estar achando muita graça. - Que eu saiba seu namorado também é ofidioglota.

Gina não pode deixar de concordar - era a pura verdade.

- É, mas ele nunca faz isso na minha frente.

Ele encolheu os ombros e revirou os olhos com desdém.

- Bom, vai entrar? - indicou a porta, na qual ela se dirigiu com cautela. Ela ainda não confiava exatamente nele.

Ele entrou e seu queixo caiu. Era maior do que sua casa inteira se fosse medir. Embora tivesse as paredes de pedra como no resto do castelo, não deixava de ser um belo quarto. Tinha uma bela cama grande de casal, um grande armário de madeira polida, combinada com a porta, uma escrivaninha, uma porta que possivelmente daria para um banheiro e uma grande e acolhedora lareira (mas que no momento estava apagada).

- E então? - perguntou ele, um tom de voz impassível.

Ela se virou, acordando de repente, caindo na real. Ele estava a uns cinco passos dela; ao fundo, a porta fechada. Ela recuou alguns passos - não gostava da idéia de estar em um quarto trancado com Voldemort.

- É... maior que a minha casa toda! - exclamou ela com a voz fraca, temendo desviar os olhos dele.

Ele sorriu novamente, fazendo Gina recuar um passo. Ela tinha medo dele; já descobrira que ele era capaz de coisas mais absurdas - mas também tinha medo de fazer algo idiota. Ela já confiara nele uma vez, e se dera muito mal. Ele começou a dar passadas descansadas em direção a ela, que começara a recuar. Ele tinha um sorriso um tanto maníaco no rosto.

- Deve ter roupas quentes naquele armário, se não me engano - disse ele, apontando, ainda avançando, os olhos penetrando os dela. - Espero que não se importe com a cor preta.

Gina ainda dava passos para trás maquinalmente, congelando os olhos nele. O velho sentimento de pânico se apoderando dela de novo, as mãos começavam a suar frio.

- Tem uma lareira, um banheiro, uma cama e uma escrivaninha, que infelizmente você não chegará a usar - disse ele, ainda forçando um sorriso estranho, ainda dando passos na sua direção.

Gina gelou, o coração batendo disparado, quando suas costas tocaram algo frio e sólido, que depois ela descobriu ser a parede, tamanho era sua tensão. A qualquer momento agora...

Ele veio a parar bem a uns dois centímetros de distância dela, os rostos tão próximos que ela viu seu rosto apavorado refletido nos olhos dele. O único homem que já chegara assim tão perto dela fora Harry. Ele não demostrava nem sinal de que fizera qualquer coisa desconcertante. Gina havia enrijecido, seu corpo petrificara-se completamente.

Então ele passou a mão pelo rosto pálido dela calmamente, depois pelos seus lábios quentes e avermelhados, ainda fitando-a nos olhos com um ar que mesclava inocência com superioridade. Gina começou a chorar, mas ao mesmo tempo tentava conter-se. Só Deus sabia o que ele faria com ela depois. Ele inclinou-se e sussurrou nos seus ouvidos.

- Não se preocupe... Não vou machucá-la... - disse baixinho, o mais suave possível. As lágrimas desceram mais ainda, agora não conseguindo segurar os soluços. Ela mordeu o lábio inferior para não gritar.

- Mas já está me machucando - murmurou ela, tentando manter o choro baixo.

Ele não respondeu, aproximou-se ainda mais. Seus corpos estavam colados agora e ele começou a brincar com os seus cabelos ruivos.

- Você não sabe o que é machucar... - respondeu ele, a voz soando mais baixo que um sussurro, tanto sonhadora como fria e perigosa. Ele já não sorria.

- Você é nojento - chorou ela, a raiva misturando-se com o desespero.

Ele desceu a mão de seus cabelos para seus ombros, escorregou pelos seus braços e depois para sua cintura. Mas algo estava acontecendo. Ele estava tocando nela e ela não conseguia fazer nada. Ela sentia medo, repulsa e ódio, mas não reagira ainda - não conseguia. Tinha medo dele torturá-la de novo, repulsa daquele corpo forte e ameaçador contra o seu e ódio daquele ato reles, covarde e nojento. Mas tinha outra coisa que a estava incomodando mais do que ele... e vinha dela mesma! Uma atração estranha que ele exercia nela. Ele a dominava com um olhar, com um toque. Não podia negar que ele era atraente. Bonito, forte e poderoso. Ela... ela nunca tivera poder algum sobre os outros ...E ele estava tendo sobre ela agora.

- Mande um recado para Harry Potter - disse ele, mais perto do que nunca. - Lord Voldemort está de olho na namorada dele...

Foi tão rápido que Gina não pode fazer nada... Mesmo se quisesse fazer. Os lábios dele se encontraram com os dela de um modo muito violento e dominador. Um espasmo de horror passou por ela, mas ela não fez nada. Nunca havia sido beijada assim antes, um beijo ousado e sem amor, frio. Um beijo pretendendo apenas desejos materiais, sem concessão do outro.

Mas ela não conseguia empurrá-lo, ele era forte demais. O beijo estava sufocando-a. Ele estava segurando-a com força e ela não conseguia se soltar. Parecia estar-se afogando, mergulhando num pesadelo sem volta, num frio eterno e que parecia a estar despindo de todas as suas forças. Parecia estar sugando sua energia. Ela ia desistir... Mas não podia... Harry estava contando com ela.

Como se suas forças voltassem repentinamente, ela conseguiu se desvencilhar de seus braços e empurrá-lo. Arfou quando se viu livre dele, como se nunca tivesse respirado direito. Caiu no chão de joelhos largou-se, chorando desabalada.

- Saia, por favor! Me deixe! - choramingou ela com a voz fraca e furiosa consigo mesma.

Ela não olhou para ver o que ele estava fazendo, mas ouviu quando a porta bateu. Não se levantou; ficou deitada de bruços no chão de pedra durante horas, que para ela pareceu uma eternidade. O que ela fizera não tinha perdão, não tinha volta. Ela traíra Harry da pior maneira possível: o traíra com seu pior inimigo. Se ele a tivesse agarrado à força, daí sim não seria sua culpa, mas somente dele... mas não fora isso; ela deixou... deixou que ele a tocasse e a beijasse sem fazer nada, até a hora em que se tornara insuportável... insuportável. E não era o bastante para que aprendesse.

Para ele também não era o bastante.


II



Gina abriu os olhos. Continuava parada em frente a janela do seu quarto. Não era um quarto de paredes de pedra e frio, nem tão grande - era um quarto de bom tamanho, as paredes revestidas de papel branco e salmão, com móveis brancos e impecáveis, de janelas grandes e claras de vidro, por onde entravam os últimos raios do sol da tarde de outono que chegavam mosqueados de passar pela árvore de folhas secas no jardim à sua frente.

Ela levou um tempo para perceber onde estava.

Olhou para os pulsos, onde as marcas das correntes ainda eram visíveis. Aquilo acontecera. Ela nunca se machucara tanto em toda sua vida. Era a dor e humilhação em todos os sentidos.

Era uma das recordações que gostaria de se esquecer para sempre, mas estava marcada em seu peito, recusava-se a sair. Sem ela não teria sido feliz nunca. Quem sabe pensaria que fosse feliz, mas seria somente algo superficial e essa felicidade escoaria como água entre os dedos sob a menor dificuldade. Sem aquela recordação não saberia nunca o significado de ser feliz de verdade.

Ainda podia senti-lo tocar seus cabelos e sussurrar palavras desconexas aos seus ouvidos toda vez que fechava os olhos e se concentrava. Ela sabia que ele sempre estaria ali, como uma brisa para a confortar quando sentisse medo, por mais que desejasse que o vento o levasse dali para muito longe. Ainda podia senti-lo... Podia sentir seu cheiro impregnado na sua pele.



Fazia sete meses que Gina já estava liberta. Fazia sete meses desde que o pior acontecera. Fazia sete meses desde o beijo. Agora ela ainda tentava se recuperar, embora não tivesse contado para ninguém que fora mais do que torturada e espancada. Ainda sentia vergonha de pensar naquela noite.

Dois dias depois havia sido libertada - alguém obviamente alterara sua memória, porque não se lembrava de nada que tivesse feito em dois dias, contudo ainda se lembrava nitidamente daquela maldita noite.

As marcas da tortura ainda estavam nítidas: ela voltara pesando cinco quilos a menos do que quando desaparecera, tinha marcas roxas por toda a extensão do abdômen e nas pernas, tinha um corte na boca - o que ela supôs que fora conseqüência do soco - e seus pés estavam feridos de pisar no chão gelado da masmorra.

Ela aparecera num campo relvado no sul da Inglaterra, ao lado de uma trouxa de roupas e de sua varinha e as vestes de seu corpo ela nunca vira antes. Ela vagueou pelos campos da vasta área rural até a noite para terminar pegando carona com o Nôitbus Andante. Foi uma felicidade para todos quando ela desembarcou na porta d'A Toca. O primeiro que ela viu foi Harry.

- O que está fazendo aqui? Está louco? Não quero ver você aqui amanhã! - foi a primeira coisa que dissera para Harry com um voz fraca. - É o plano dele, Harry... Esse é o plano dele... - e foi a última coisa que disse antes de desmaiar, para só acordar uma semana depois.

Gina só conseguira se recuperar quando voltara a rotina de Hogwarts. As lições e as correrias a faziam esquecer tudo o que passara do "castelo de Slytherin", embora todos contestassem o jeito com que ela fora fria e conseguira fingir que nada acontecera. Ela estava definitivamente mais calada e mais triste, mas não deixou de comer; se apegara a vida de forma que nenhuma outra pessoa faria. Voldemort dera a ela uma nova chance de rever sua vida e mudar o que não gostava. Ele permitiu que ela vivesse. Ela nascera de novo, numa época em que o caos era lei e que frieza era indispensável para a sobrevivência. Agora ela via que a vida era curta e injusta... e que cada um tinha que lutar para mudar seu rumo para a direção que quisesse. Foi o que ele fez, contudo cometera um erro: interferira na vida das outras pessoas; Mas não parecia existir a palavra "erro" no vocabulário dele... e as pessoas continuariam sofrendo. A vida era curta... A vida era realmente curta...

Mas as noites assaltavam-na com os pesadelos - pesadelos cruéis e pesados, que sempre a faziam acordar suando e se sentindo pior do que quando ia se deitar - e ela tinha medo de dormir... Tinha medo de fechar os olhos. Mas não estava sendo preciso fechar os olhos para se lembrar de seus gritos ecoando pela masmorra fria, enquanto uma dor excruciante cortava seu corpo ao som de uma voz fria e cruel dizia sem vacilar: "Crucio!". Os sons não paravam quando ela tampava os ouvidos - estavam dentro dela.

Apenas o silêncio da noite já a fazia temer o amanhã e o depois de amanhã...

O ano veio e se foi. Ela se formou com boas notas tirou licença para aparatar. Harry e ela já haviam ficado noivos depois que ela saíra da escola - agora ela usava uma aliança ofuscante de ouro. Parecia que tudo estava voltando ao normal.

Aparentemente...

De repente, Rony é apanhado pelos Comensais, desaparecido por uma semana e seis dias. O estado dele quando foi liberado não podia ser pior. Gina caiu no choro quando lhe contaram o que a Ordem das Trevas tinha feito com seu irmão. Era horrível. E ela não pode deixar de se lembrar do que acontecera com ela mesma durante o tempo em que desaparecera, mas sempre que se lembrava outra lembrança entrava na sua cabeça - o beijo. Aquela cena não parava de se repetir na sua mente e sempre que ela surgia Gina começava a passar mal. Talvez não carregasse tanto desgosto se ela não tivesse participado tão intimamente. Ela relutava-se em aceitar que fizera aquilo, que poderia ter impedido se quisesse, mas sempre acabava vendo que não havia escolha. Ela definitivamente o deixara beijá-la, mesmo que depois tivesse se arrependido profundamente.

Era um dia frio de inverno e a neve batia nas vidraças. Ela estava um pouco deprimida, observando tristemente o fogo da lareira crepitar, sentada na poltrona de seu pai na sua casa. Foi quando Harry aparatou do seu lado.

- Harry?! - exclamou, dando um grande sobressalto quando este colocou uma não no seu ombro. - Que susto! - exclamou, levando a mão ao peito. Ela realmente se assustara, ou melhor, andava assustada.

- Desculpe, não quis te assustar - disse ele, inclinando-se para dar-lhe um abraço - Eu fiquei com saudades.

- Eu também, meu amor - disse ela carinhosamente, aproveitando uma das poucas oportunidades de ficar com seu noivo. Eles se sentaram abraçados e Gina deu um grande beijo nele, mas Harry estava estranho.

"Tem alguma coisa errada?", perguntou ela, olhando os olhos tristes dele. Gina tinha um mal pressentimento.

- Precisamos conversar - disse ele muito tenso.

- Por favor, Harry, aconteceu mais alguma coisa? - disse ela desesperando-se. Ela via tristeza como nunca vira igual nos olhos dele. Já estava quase chorando.

- Ainda está acontecendo - disse ele sombriamente. Eles se encararam nos olhos durante alguns segundos, depois acrescentou, simplesmente - Vi Rony essa manhã.

Gina consentiu, mas não entendeu. Por que ele estava dizendo que estava tudo errado?

- Isso não pode continuar assim, estou pondo todos vocês em risco - continuou ele, muito sério.

- Não querido, isso aconteceria de um jeito ou de outro - disse ela, tentando confortá-lo, mas ele apenas sacudiu a cabeça.

- Não. Você era minha namorada e Rony é meu melhor amigo. Por que acham que te pegaram? Certamente que queriam saber onde eu estava, não foi? - perguntou ele, perfurando-a com os olhos. Ela ficou sem reação. Era a primeira vez que tocavam nesse assunto.

- Sim, queriam - respondeu.

Harry se levantou.

- Entende então que será melhor se vocês ficarem longe de mim? Não manterem mais contato? - disse ele sem olhar para ela. - Vejam o que fizeram com você e com o Rony... Eles são perigosos, Gina, eu não posso deixá-los fazerem mal a vocês. Se eles pegam Mione, não sei se vou me conter... Vou cometer uma burrice.

Gina tinha lágrimas nos olhos agora. Levantara-se também.

- Escuta Harry, eu não vou deixar você sozinho. Eu apanho mais se for preciso - disse de mansinho, a voz embargada - Não vou deixar você carregar toda essa responsabilidade nas costas. Essa guerra também é minha, é de todos nós...

- Não! - interrompeu Harry virando-se bruscamente, fazendo Gina assustar-se - Voldemort quer a mim apenas! Não se metam mais nisso! - disse ele com a voz alterada.

Gina se assustara, seus olhos marejados. Harry nunca falara com ela assim antes.

- Você pensa que quem ama pode esquecer o outro assim, de uma hora para a outra? - perguntou ela, também alterada, ainda chorando. - Você acha que eu teria coragem de perder o contato com você por medo de sofrer mais? Que eu deixaria tudo como "problema seu"? Você acha? Então está na hora de acordar, Harry Potter, eu não sou mais criança! - berrou ela, sentindo o sangue subir ao rosto, os cabelos ruivos se bagunçando um pouco.

Harry olhou para ela com os olhos muito tristes e vermelhos, como se dissesse "eu não tenho escolha", depois falou com a voz baixa:

- Estou terminando o nosso noivado. - E tirou a aliança, jogando-a no chão.

Gina boquiabriu-se. Parou de chorar com o choque, mas tremia como nunca, não sabia se de susto ou raiva.

- Como? - perguntou ela. Pensou que estivesse delirando.

- Você ouviu. Está tudo acabado entre nós - disse numa voz rouca, sem encará-la.

- Não! Você não pode fazer isso comigo - disse espantada e desesperada - Você não tem esse direito, Harry... Não pode, não pode...

Harry fechou os punhos para impedir suas mãos de tremerem, mas não voltou atrás.

- NÃO PODE! - gritou Gina, descontrolando-se. - O que é que você quer? Acabar comigo? Pois eu prefiro que você use uma Cruciatus! Dói menos! - Ela retirou a sua aliança também e atirou contra ele com raiva.

Ele se esquivou e deu um passo em direção à ela, mas Gina correu escada acima antes mesmo que ele a tocasse. Escancarou a porta do seu quarto e retirou duas malas surradas de cima do guarda-roupa e jogou-as sobre a cama. Depois abriu-o e retirou as roupas que mais gostava e as mais quentes.

Vozes indistintas ecoavam na sua cabeça; gritavam com ela. Gina estava desesperada e recorrera a uma atitude desesperada. Ia sair dali.

- O que está fazendo? - perguntou uma voz nervosa e rouca atrás dela; Harry acabara de entrar pela porta.

- Estou indo embora - respondeu ela displicente, as lágrimas silenciosas correndo pelo seu rosto. Ainda não tinha certeza se estava fazendo o certo; só o que queria era se ver longe dali, onde haviam recordações dela e de Harry por toda parte.

Harry correu para perto dela e tentou impedi-la de enfiar as roupas nas malas, segurou seus braços.

- Por favor, me DEIXE! - gritou ela de novo, puxando o braço devolta com força. Ela se sentiu de volta na masmorra fria, onde precisava gritar.

- Por favor, Gina, me escute... - Mas Gina estava fechando as malas já. - Gina, não faça essa tolice, você não tem para onde ir! - gritou ele, puxando mais uma vez o braço dela e fazendo-a virar-se para ele. - Você não tem para onde ir, já pensou nisso? - disse, sacudindo-a, tentando faze-la cair em si.

Gina fechou os olhos molhados pelas lágrimas e tentou puxar na memória algum lugar para que pudesse ir, mas nada lhe vinha à mente. Na casa da Mione, Harry a descobriria; Hogwarts não precisava de mais funcionários; nenhuma amiga de escola iria querer ceder abrigo à garota que já fora pega pelos Comensais uma vez; eles podiam querer ir pegá-la de novo. Mas aquilo fê-la lembrar-se de outra coisa.

De repente uma voz já bem conhecida sua invadiu sua mente - "Se quiser voltar para nós quando se cansar de ser boazinha... será muito bem recebida". Gina hesitou. Certamente que não queria fazer aquilo! ...Será que não? Ela virou-se maquinalmente, desvencilhando-se de Harry e dirigindo-se à mesinha com gavetas que ela usava para escrever as coisas. Abriu a gaveta com tanta violência que algumas folhas de pergaminho voaram longe vários objetos pesados bateram-se dentro dela. Ela derrubou todos os objetos de porcelana que estavam em cima da mesa no chão com o braço, puxou qualquer pedaço de pergaminho, arrancou uma parte já escrita e puxou uma pena, molhando tão rápido no tinteiro que derrubou-o no chão, deixando-o espatifar. Escreveu uma pequena carta, apoiada na mesa:


Cansei de ser boazinha. Onde vocês me apanham? Responda pela mesma coruja.

Gina Weasley



Gina assobiou com um dedo na boca e instantes depois Píchi aparecia na janela piando. Ela levantou a carta para prender na perna da coruja, mas Harry puxou-a de suas mãos rapidamente. Gina viu o correr os olhos e franzir a testa. Sabia que ele ia perguntar, por isso respondeu antes mesmo dele abrir a boca.

- Há sete meses atrás alguém me disse que se eu cansasse de ser boazinha eu poderia procurá-lo. - disse com ferocidade, arrancando a carta das mãos dele e amarrando na perna da coruja - Não lhe devo mais satisfações. - E dizendo isso deu um olhar significativo à Píchi e despachou-a.

Harry continuou olhando para a garota pensativo, depois arregalou os olhos - parecia ter descoberto o que ela acabara de fazer.

- Você disse sete meses? Você... você o quê? VOCÊ ESTÁ LOUCA, GINA! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO! - berrou ele, mais espantado e preocupado do que com raiva.

- JÁ FIZ! VOCÊ NÃO MANDA EM MIM, HARRY! SAIA DA MINHA FRENTE! - gritou ela, pegando as malas e dando um passo à frente, mas ele a barrou.

Era uma sorte que só eles estivessem em casa na hora, senão já teriam atraído todo mundo no quarto dela. Ela então começou a se questionar como é que eles a deixaram ficar em casa se ela corria constante perigo de ser pega e torturada novamente. Ela compreendeu, com um peso no coração, que todos se importavam mais com Rony do que com ela. Até Hermione que sempre fora sua melhor amiga não insistiu para que ela fosse com eles até o hospital - mas afinal, pensou Gina, Mione era quase a mulher dele. Ela sentiu mais lágrimas descer de seus olhos.

Gina fez outra tentativa de passar, mas Harry não deixou, então ela largou uma mala no chão e puxou sua varinha do bolso.

- Já disse para sair da minha frente! - disse ela ainda alterada, mas com a voz carregada de ameaça.

Harry recuou e deixou ela passar, mas continuou olhando triste e preocupado para ela. Gina sentiu algo que ela classificou como culpa, mas fingiu não sentir nada.

Ela passou pela porta rapidamente sem olhar para trás, temendo perder a coragem do que estava para fazer. Quando estava na sala, olhou para a aliança atirada no chão e sentiu algo indistinto se apoderar dela. Quem sabe estava para dar a volta por cima, mas também... poderia estar fazendo a maior burrada de toda sua vida. Antes dela sair pela porta que se abria magicamente com violência, ouviu um ruído de passos ao pé da escada e ouviu a voz carregada de Harry chamar seu nome. Ela parou, escutando, contudo não se virou.

- Pense bem no que vai fazer - Harry falou, com tremendo desgosto. - Não vou impedi-la. Como você disse, eu não mando em você. Mas pense..., pense então o que será melhor para você e faça sua escolha. Só você tem o direito de decidir.

Gina não baixou a cabeça nem se virou; já estava decidida. Apenas falou com a voz mais displicente possível, segurando o choro:

- Adeus, Harry. - E saiu porta afora, para o frio branco da neve esvoaçante, sozinha novamente num mundo grande e sujo.



Harry observou-a sair calado, depois andou desolado pela sala, as mãos na cintura, tentando se convencer de que aquilo não acontecera, que era apenas um pesadelo. O vento gélido que vinha da porta entrou na casa e apagou a lareira crepitante com um só sopro. Harry sentou-se na poltrona onde Gina estava e apanhou a aliança ofuscante do chão. Depois desabou com a cabeça sobre uma das mãos e começou a chorar como nunca chorara antes. Ele a perdera. Perdera sua amada para seu inimigo... E provavelmente nunca a veria novamente.


III



Gina recordava-se daquilo como se fosse ontem. Claro, fora uma das decisões mais duras que já tomara. Caminhou até a cômoda onde guardava suas coisas e abriu uma gaveta. À primeira vista guardava apenas pergaminhos limpos, tinteiros e penas, mas quem observasse atentamente veria uns vestígios de papeis antigos e páginas de jornais velhos e amarelados abaixo das folhas brancas.

Com uma das mãos levantou os pergaminhos limpos e com a outra retirou uma pequena carta amarelada, onde era visível uma caligrafia caprichosamente rebuscada e diferente, que ela conhecia desde seu primeiro ano.


Espere em frente ao portão da Travessa do Tranco as 11 horas da noite em ponto. Dois Comensais irão lhe buscar. Você não pode se arrepender depois. Se ainda quiser se juntar a nos, espere como o combinado, se não, apenas não apareça.

Atenciosamente,

Lord Voldemort



Gina sorriu ao reler a carta. Pensa agora na importância que tivera aquela carta para ela na época e que agora parecia uma brincadeira de mal gosto.

Lembrava-se que estava para se tornar mais importante do que sempre fora, cuja única importância que já tivera era ser a namorada de Harry Potter, o jovem corajoso que lutava contra o Lord das Trevas.

Ela achou graça quando pensou isso. Havia dito a Harry naquela época que não era mais criança, mas na verdade ainda era. Era apenas uma criança... Agora sim não era mais, mas tarde demais.

Na época ela não sabia em que enrascada estava se metendo. Mordeu o lábio inferior lembrando-se do que fizera. Depois apertou a carta junto de si, sentindo que ia chorar. Mas resistiu, relutou insistentemente. Agora conseguia controlar seus sentimentos.



Gina havia saído de casa fazia umas catorze horas. Já se passava mais de cinco horas que recebera a resposta de sua carta, já havia ido ao local combinado e estava sendo levada pelos dois Comensais da Morte encapuzados e mascarados.

Ela não estava vendo para onde estava sendo levada, só sabia que era através de uma chave de portal que retornaria ao castelo de Slytherin. Era estranha a sensação de que estava se misturando com as pessoas que a torturaram à apenas alguns meses atrás, mas ela havia crescido nesse meio tempo. Aprendera a ser fria também, aprendera a não ter medo de seus atos.

Estava sendo levada por um beco escuro numa rua trouxa, silenciosamente. Todos os três tocavam num cetro de prata e aguardavam as onze e meia da noite. De repente, quando deu a hora, ela sentiu um solavanco no umbigo e começou a sentir que estava sendo desviada para muito longe, como se o vento a estivesse varrendo. Depois tudo parou com a mesma rapidez de que começara. Ela sentiu seus pés baterem em um chão de pedras e se equilibrou antes de a chave de portal a soltar, impedindo-a de cair.

Um dos encapuzados depositou a chave de portal sobre uma mesa de madeira talhada e fez sinal para seguirem. O outro comentou, enquanto saiam da saleta em que apareceram:

- Detesto chaves de portal - reclamou.

- Psiu! - ordenou o outro, e este se calou.

Gina sentiu que se não estivesse tão nervosa teria achado engraçado.

Andaram por vários corredores até que pareceram ter chegado ao seu destino. Bateram na porta uma vez e esperaram a resposta, depois entraram.

- Gina Weasley, meu amo - disse o Comensal que havia mandado o outro calar-se, fazendo uma reverência.

Gina observou que entraram num aposento menor do que o quarto onde havia ficado na outra vez; haviam vários quadros pela parede e umas duas mesas com capacidade para quatorze pessoas e várias escrivaninhas individuais, todas com vários rolos de pergaminho, penas e tinteiros. Era um escritório.

Voldemort estava no fundo da sala, aparentando seus falsos dezessete ou dezoito anos, escrevendo alguma coisa. Ele não levantou os olhos quando Gina e os dois Comensais entraram, esperou o Comensal dizer o que viera fazer ali e dispensou-os. Quando ouviu a batida da porta, porém, levantou os olhos para Gina, parecendo ter terminado o que estava fazendo.

- Quer dizer então que estou vendo uma cena inédita: alguém que já foi pego por nós querendo fazer parte do grupo - disse ele, sarcasticamente.

Gina não respondeu nem intimidou-se. Retribuiu o olhar com determinação.

- Por favor, sente-se - ofereceu ele, fazendo um gesto em direção a cadeira em frente. Ela obedeceu, fazendo ouvir-se seus passos pelo chão de pedra ecoar pela sala enquanto ela atravessava-o. Quando sentou-se, procurou agir o mais displicentemente possível.

- Por que está aqui? - perguntou ele, com irrefreada curiosidade.

- Estou fugindo - respondeu ela secamente, mas com sinceridade. - Aqui é o último lugar que alguém pensaria em me procurar.

Ele lançou a ela um olhar divertido, depois disse:

- Tem certeza que quer fazer isso só para se esconder? É uma responsabilidade que você não pode descartar mais pelo resto da vida. Está disposta a correr o risco?

Gina não hesitou; já havia pensado em tudo isso antes.

- Não é só por isso, mas... - começou seriamente, mas interrompeu-se, sentindo que era por demasiado pessoal. - Acho que dou conta do recado - falou, em tom de desafio

Ele sorriu misteriosamente. Depois, ficou sério.

- Acho que devo lhe explicar as regras, por mais que isso não seja um jogo. - Ele fez uma pausa, contando nos dedos - Os Comensais da Morte são dividido em grupos: existem os que trabalham de dia e os que trabalham a tarde, em grupos maiores ou menores do que os outros. Isso é um sistema de segurança, já que o pertencente ao grupo só conhecerá aqueles que são do seu grupo e não poderão denunciar a todos caso for pego por um auror.

- Sim, eu sei - resmungou ela.

Ele continuou.

"E como isso daqui não funciona sem ordem, o Comensal que desrespeita o outro ou briga é castigado severamente, sem exceções." Ele fez uma pausa e Gina fez sinal de entendido com a cabeça. "Depois que todo Comensal deve lealdade eterna ao seu mestre, ou seja, eu, e a todos os outros companheiros - o que significa que aquele que denunciar por vontade própria ou armar armadilha para qualquer um de nós, não viverá para contar história."

- Entendi - falou ela.

- E tudo aqui, como roupa e comida, são roubados. Seria ridículo um Comensal da Morte procurado chegar a um balcão de uma loja e pedir tecido ou comida - disse ele, como se dizendo que aquilo era óbvio.

- Terminou? - perguntou Gina indiferente.

Ele fez que sim com a cabeça.

- Certo. Agora eu queria perguntar se eu posso ser privada de algumas atividades. - falou ela.

- Quê? - perguntou ele rapidamente, com um olhar avaliador.

- Bem, eu queria não sair em missões expostas demais. Eu posso cuidar dos planos dos ataques e dos saques e dos planos de fuga, sou boa nisso. Sabe, não quero é precisar sair muito. E também não quero precisar matar nem torturar ninguém.

Ele pareceu pensar no caso dela.

- Eu não sairia em desvantagem recrutando você, Gina Weasley? - perguntou ele, meio que cinicamente indeciso.

- Bem, se eu disser que fiz cinco meses de curso para ser auror e sei perfeitamente como funciona a cabeça deles, não sei se estaria dizendo isso. Sei armar esquemas e táticas perfeitamente. Aposto como planejam passo à passo cada ataque, invasão ou captura que pretendem fazer, não? - disse ela, sorrindo.

- É, realmente. - Ele recostou-se pensando um pouco - Veremos o que você sabe fazer, Weasley. Se não der certo, você sai para as missões normalmente; senão, tudo bem, você fica do jeito que pediu.

- Puxa, valeu mesmo - disse ela, aliviada. Sentiu-se muito mais calma.

Ele franziu a testa.

- Ah, mais uma coisa: quando se dirigir a mim tenha um pingo de sensatez e não diga nada como "e aí, cara?", OK? - Gina sorriu.

- Certo, senhor - disse ela, ainda sorrindo.

- Acho que você pegou o espírito da coisa - falou ele revirando os olhos.

Ela se levantou.

- Ah, só mais uma coisa. Venha até aqui, preciso te marcar com a Marca Negra - disse ele em um tom eficiente.

Ela concordou com a cabeça e se aproximou. Ele se levantou e apoiou uma mão na mesa; com a outra, girava a varinha entre os dedos. Ela apenas contornou a mesa e parou em frente a ele. Estava na hora de ver se aquela atração valia alguma coisa...

- O que foi? - começou ele, mas ela levantou a mão para faze-lo calar.

- Cale a boca que agora eu vou falar - ordenou ela, com se ele fosse obedecer. Mas Gina não estava preocupada; se morresse, não seria por falta de aviso.

- Você beija muito mal - disse ela, ameaçadoramente. - Um beijo tem que ser assim...

E ela fez. Avançou, puxou-o e o beijou, do mesmo modo que beijava Harry. Ele não fez nada; tampouco pudera. O beijo foi longo e ardente, parecia que aquela atração era maior do que ela pensara. Não sentiu nojo, não sentiu nada, só um arrepio estranho que não sentia quando beijava Harry.

Ela endireitou-se, surtindo o efeito do beijo, olhou para ele - que estava no mínimo perplexo - com um sorriso maroto e caminhou em direção a porta, sem olhar para trás.

O primeiro passo fora dado, disse Gina para si mesma. Ela provaria... provaria para todo mundo que não era mais criança.

E a Marca Negra ficara esquecida.


IV



Alguma coisa então dera certo... Ela caíra no grupo cinco, o grupo dele e dos melhores Comensais.

Mas depois disso a coisa começou a ficar muito mais séria. No café a manhã, ela o pegava lançando olhares e disfarçando quando ela olhava, mas não se dirigira a ela até então.

Porém três dias depois, quando ela caminhava e explorava o castelo, uma mão cobriu sua boca, abafando seus gritos de susto, e puxou-a à força para dentro de uma sala que parecia ser um aposento fora de uso, escuro e silencioso.

Uma voz murmurou ao seu ouvido, que confirmou todas as suas suspeitas.

- Não grite se não quiser morrer. Eu vou lhe soltar...

Ela foi solta e então se virou. Era mesmo quem ela pensara que era. Ele não sorria nem nada, o rosto impassível.

- O que você quer? - perguntou ela educadamente, mas já imaginando a resposta.

Ele não respondeu; ao invés disso avançou e lhe deu um beijo. Passava três dias e lá estava ela beijando-o de novo, pensou ela com ironia. Ela tomou isso como a resposta, e não recusou.

Dessa vez o beijo ainda era voraz, mas era bem menos frio, pensou ela, enquanto aproveitava da situação à vontade. Ela seria capaz de fazer um relatório sobre isso se quisesse - ela estava mais analisando do que participando.

Depois desse eles se afastaram um pouco para tomar ar e depois para se beijar de novo, e de novo, e de novo, de novo... Gina só sentiu que era hora de cortar a farra quando as mãos dele começavam a entrar pela sua roupa e subir pelas suas costas.

Ela segurou seu braço e interrompeu o beijo.

- Isso fica para a próxima - disse ela em tom de aviso, e se afastou em direção à porta. Ele, porém, segurou sua capa, parando-a.

Ela o encarou com determinação, aqueles olhos escuros e castanhos se entreolhando com fúria, e se desvencilhou.

- Saiba quando parar. Você pode ser meu amo, agora, mas o corpo ainda é meu - e dizendo isso, saiu. Ela sentiu uma pontada de raiva por ele não ter feito nada para impedir. Queria que ele a puxasse de volta e a beijasse de novo, continuasse o que havia começado... Mas ele não o fez, e ela não sabia o que a esperava...

Depois disso, nos dias seguintes, as coisas se mostravam que não estavam indo tão bem assim. Os olhos dele pareciam faiscar toda ver que se viam no corredor ou à mesa, e seus lábios pareciam se crispar de ódio. Ela fingia não ver e, embora sentisse medo, ocultava.

Ela apenas esperava hora em que ele se cansaria de brincar e a matasse. Ela não tinha mais nada a perder, ela não tinha... não tinha do que temer, iria morrer de qualquer jeito. Iria morrer, e se não fosse ele a matá-la, morreria a serviço... Não sabia se poderia enfrentar os próprio amigos.

Ele procurava passar mais tempo em seu quarto quanto fosse possível - que por sinal era o mesmo que ela ficara da outra vez. Ela pegara pano no estoque, qualquer um podia fazer isso, e passava o dia costurando roupas para si. Se tinha uma coisa que ela ainda se orgulhava de fazer era criar e fazer modelos de roupas. Nunca tivera dinheiro para comprá-las, então as fazia. E ficavam do jeito que ela queria.

O fato é que ela fez um vestido justo com um decote tão insinuante e provocante e que caíra tão bem em seu corpo que ela estranhou que nenhum Comensal tivesse pulado sobre ela ali na porta do seu quarto mesmo. Ela sorriu despreocupada. Só estava esperando... A qualquer momento agora ele ira passar por ali e iria notá-la... Sim, o quarto de ambos ficavam no mesmo corredor como uma ironia do destino (ou não), pensou ela divertida. Em alguns minutos teria o bruxo mais poderoso do mundo em suas mãos e ela não perdia por esperar. Foi quando ele passou...

Foi muito rápido. Ele vinha pelo corredor, a capa enfunando às suas costas, quando estacou de repente, notando a presença dela. Seus olhos viraram fendas, ele olhou para os dois lados e depois disparou:

- O que está pensando que é isso, Weasley? Não vai querer andar por aí com isso; um Comensal tarado pode lhe agarrar - falou, com uma nota de cinismo muito bem empregada.

Ela sacudiu a cabeça, sorrindo.

- Bem, não foi o senhor mesmo quem disse que quem desrespeita outro Comensal é severamente castigado? - insinuou, cinicamente também.

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Com certeza o chapéu seletor lhe colocou na casa errada, garota. - falou, muito seco.

- Ah, é? - disse ela, fingindo-se levemente intrigada, com cinismo superior ao que ela imaginara que fosse possível atingir no momento.

Ele franziu a sobrancelha e seus olhos se semicerraram de um modo ameaçador, as narinas se dilatando de fúria.

- Ora, você é muito ousada... Até demais para dizer a verdade. Vou te ensinar a não brincar com seu superior. Você vem me tentando desde o dia em que chegou aqui - E apontou a varinha para ela, que nem teve tempo de se apavorar, já caía no chão estuporada.



Gina só se deu conta onde estava quando sentiu uma onda de calor se espalhar pelo seu corpo de dentro para fora e que a fez acordar. Ela piscou abobada, não se lembrava direito do que havia acontecido. Ela tentou retirar os cabelos dos olhos mas não conseguiu - suas mãos estavam presas..., acorrentadas. Ela encontrava-se novamente na masmorra escura.

Desesperando-se, o coração acelerando num ritmo assustador, Gina deu um salto e tentou se desvencilhar das correntes desesperadamente, mas, com um sobressalto, reparou que estava sendo observada. Lord Voldemort a observava do outro lado do feio aposento, encostado à parede. Ela encarou.

Ele somente permaneceu em silêncio por um momento, também encarando, como se avaliasse, seus olhos escuros sendo somente duas fendas ameaçadoras e inexpressivas... Então, ele abriu um pouco mais os olhos e começou a falar.

- O que você pensa que isso é, Weasley? Uma brincadeira? Um jogo? Não, garota, isso é uma guerra... aqui as vidas estão em jogo. Não se pode resolver vir para cá para fazer ciúmes no ex-namorado, é repugnante pensar que tem gente que pensa assim. Você. O que você veio fazer aqui? - perguntou, olhando fixamente, o rosto ainda inexpressivamente sério.

Gina ia responder ríspida, parecer desleixada, mas fraquejou ao peso daquele olhar duro... Todo seu fingimento quebrou e ela sentiu uma onda terrível de pânico se apoderar dela... e pela primeira vez na vida se sentiu completamente sozinha... Completamente sozinha e abandonada! E então começou a chorar pelo que nunca chorara antes. Ia morrer, era isso que ela sentia... E não tinha mais medo de dizer o que sentia.

Começou a falar, a voz tremendo e mesclada a furiosos soluços descontrolados.

- Eu... eu não tinha mais nada quando saí de casa. Eu não tinha nada e nem ninguém... Não tinha lugar para ficar. Em toda a minha vida nunca fui notada por ninguém antes que eu e Harry começamos a namorar e ele... ele me via com outros olhos... - disse ela com amargura, olhando para o chão, a vista embaçada pelas lágrimas - Não me via como aquela garota boba e idiota que não tinha nenhum talento em especial, nenhuma beleza física extraordinária, nenhuma grande inteligência, calada... Alguém me vira pela primeira vez como mulher... Então começaram a me notar. Pela primeira vez na vida me olhavam e acenavam. Mas alguma coisa ficou estranha de... depois que eu voltei. Eu também comecei a olhá-los com outros olhos ...E comecei a ver como todos são podres! - grunhiu ela em uma nota trêmula de raiva.

Ela fez uma pausa, tentando pensar em como transformar o que ela sentia em palavras. Parecia quase impossível... Ela não podia odiar os velhos amigos e familiares, mas algo a fazia pensar que era isso que estava acontecendo. Ela semicerrou os olhos, fixando o chão com mais vontade.

"Eu não queria mais ficar no meio deles. Suponho que sempre acharam que eu não podia me expor a grande perigo porque sou mulher, a mais nova da família e frágil... Mas eu não sou frágil, nunca fui. Eles não me deram oportunidade para mim poder mostrar o meu poder, minhas artimanhas... Ninguém nunca deu bola para minhas idéias, ninguém pensava que eu pudesse ser alguém na vida sem a ajuda de outro... E eu queria mostrar para eles! E se era o único jeito, seria contra eles. Mas eu não tenho medo que me machuquem, me matem... Eu nunca fui ninguém mesmo, não iria fazer diferença... nenhuma."

Ela levantou os olhos. As lágrimas pararam de correr, de cegá-la. De dentro emanava uma raiva de imensa voracidade e nunca se sentira mais revoltada. Quem sabe ela não quisera acreditar que poderia dizer que a família a ignorava e que não faria diferença se ela desaparecesse... que todos pensariam que ela estava morta, não planejando um ataque contra eles, do lado contrário. Como era tola em negar que isso de fato acontecia, pensou ela, com raiva, com fúria... Ela não era realmente ninguém. Olhou sem medo para Voldemort.

- Então eu vim para cá... Quem sabe aqui eu seria alguém. Quem sabe aqui alguém sentiria minha presença ou minha ausência... E só o que eu queria era um pouco de poder que eu nunca tive. Mas vejo que me enganei - sua voz soou fraca e trêmula ao pronunciar a última frase - Eu vou morrer!...

Ela continuou encarando-o por um momento, depois tornou a desviar os lhos para o chão, amargurada. Ela aguardou em silêncio seu veredicto, mas ele parecia estar pensando ainda e demorou um pouco para dizer a primeira palavra. Ela realmente sentia sua última esperança ir por água abaixo, sua última chance... Fracassara. Fracassara e agora ia morrer.

Quando ele falou, seu tom de voz era inexpressiva, mas ela sentiu que ela tremera um pouco ao começar.

- Você veio para cá com intuito de se vingar de sua família... Isso é sensato - disse ele pensativo. Parecia estar pensando não somente no caso dela, mas no dele mesmo, também. Ele começou a andar em círculos pela saleta, parecendo temer ficar parado. Então virou-se para ela.

- Eu não vou lhe matar, não se preocupe...

Ele parou em frente à ela, olhando-a seriamente.

- Sempre tem alguém que vai sentir sua falta. Sempre tem... Mesmo que não se saiba... - disse. Gina reparou no jeito estranho como ele a olhava.

Ele inclinou-se para ela e sussurrou nos seus ouvidos, fazendo-a tremer descontroladamente, mas não por medo.

"Desde a primeira vez que coloquei os olhos você... uma garota ruiva que não queria contar o paradeiro de Harry Potter e que eu tinha que torturar, eu jurei para mim mesmo que um dia eu possuiria aquele corpo provocante que me fez hesitar... E que não morreria sem faze-lo. Foi por isso que não a matei."

Gina fechou os olhos com uma estranha tensão quando ele se encostou e passou uma mão pela sua nuca com determinação e subiu pelos seus cabelos cor de fogo, a outra pelas suas costas. Ela não podia se desvencilhar, estava acorrentada - mas ela também não queria.

- Então faça isso agora - gemeu ela, já se afundando de desejos e calores quando eles se beijaram novamente. Esse foi diferente, muito, mas muito mais quente do que os anteriores e traspassava mais desejo e determinação de terminar o que começaram antes.

E terminaram. Foi a sua primeira vez... e também a primeira de muitas que viriam a acontecer. Na manhã seguinte, Gina já não era mais uma garota tola e preocupada... e também já não era mais virgem...


Palavra-chave: tom e gina

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.