Problemas amorosos



Karina saiu do quarto e dirigiu-se para a sala de espera. Era um compartimento pouco iluminado e com cadeiras à volta de uma mesinha que continha revistas como “O Semanário das Bruxas”. Em duas dessas cadeiras, opostas uma à outra, estavam sentados Draco e Ian. Ian parecia estar a dormir sossegadamente, enquanto que Draco tinha a cabeça acente na mão e tinha os olhos fechados, mas não parecia estar a dormir.

Karina aproximou-se silenciosamente e tocou-lhe no ombro.

- Draco... – murmurou amavelmente.

O rapaz levantou a cabeça e olhou-a estupidificado.

- Karina... o que fazes aqui? – perguntou Draco levantando-se. – Não devias estar...

- Shiu – murmurou Karina tocando-lhe nos lábios com o dedo indicador. – Eu queria ver se estavas aqui...

- Onde querias que eu estivesse? – perguntou Draco, pondo-lhe os braços à volta da cintura.

- Não sei... em casa a dormir... – murmurou Karina dando-lhe um beijo.

- Achas? Eu amo-te e não te deixava por nenhuma coisa deste mundo, por mais valiosa que ela fosse. – murmurou Draco beijando-a.

Ian abriu os olhos e ficou a olhar para os dois furioso. Como é que se atreviam a fazer aquilo à sua frente? Era indecente, uma enorme falta de educação.

- Quero ficar contigo para sempre – disse Karina, encostando a cabeça ao ombro de Draco e de olhos fechados.

- Eu também mor, adoro-te – disse Draco, abraçando-a contra si.
Ian levantou-se e saiu da sala de espera.

Nunca tinha passado por aquilo antes, só lhe apetecia torcer o pescoço a Draco!

- Aquele loiro oxigenado... – murmurou fechando as mãos com força. – Mas que merda... isto só me acontece a mim. Eu hei-de ficar com ela para mim... mas...

- Então o que fazes por aqui? – perguntou uma voz feminina.

Ian olhou para o lado e deu de caras com Phillipa.

- Isso pergunto eu! – fez notar Ian sorrindo-lhe. – Eu estou a fazer o meu trabalho, contrataram-me para proteger a Karina...

- Hã hã. – acenou Phillipa. – Mas eu sei que há aí alguma coisa que te perturba.

- Que me perturba? Não estou a ver o que possa ser, a não ser que seja a sua beleza. – riu-se Ian galanteadoramente.

- Não mudes de assunto – pediu Phillipa corando. – Diz-me a verdade.
Ian olhou para o céu escuro e cravejado de estrelas brilhantes e soltou um suspiro.

- Sinceramente não sei – murmurou. – É tudo tão confuso...

- Estás perdido de amores pela Karina, é? – inquiriu Phillipa cruzando os braços.

- Eu... – murmurou Ian, mas algo o fez hesitar... ele amaria mesmo Karina? Já não tinha a certeza se o que sentia era mesmo amor. Mas ele beijara-a! Isso não chegaria como prova? Algo lhe dizia que não. Então porquê aquela antipatia por Draco Malfoy? Porquê aquele instinto super-protector, e todos aqueles ciúmes?

- Sim... – murmurou Phillipa.

- Eu não sei. – murmurou Ian, soltando uma gargalhada. – Não sei mesmo!

- Hum... estou a ver... eu acho que estás a agir como um irmão mais velho. – opinou Phillipa.

- É, talvez. – concordou Ian pensativamente.

- Alguma vez tiveste irmãs? – perguntou Phillipa curiosa.

- Não, tive um irmão, mas morreu aos dois anos. – declarou Ian.

- Lamento... – sussurrou Phillipa.

- Foi melhor assim. Ele tinha problemas de coração. Eu tinha dez anos quando isso aconteceu, fiquei de rastos, como se me tivesse caído uma tonelada de alguma coisa em cima. – afirmou Ian tristemente.

- Mas isso já foi há muito tempo, o melhor que tens a fazer é esquecer. – declarou Phillipa amavelmente. – Não podes estar dependente do passado.

- Nem sei porque te contei isto, desculpa, a sério. – pediu Ian lamentosamente.

- Quem tem quer pedir desculpa sou eu, por te ter feito recordar o teu... passado. – murmurou Phillipa pegando-lhe na mão. – E já sabes, se precisares de mim é só dizer, estou aqui para o que der e vier.

- Obrigado. – agradeceu Ian sorrindo-lhe feliz. – Sem dúvida que o Harry deve ter muita sorte em ter-te como namorada.

- Oh... – disse Phillipa modestamente encolhendo os ombros. – Não sou assim tão... tão coiso.

- Muita sorte mesmo. – repetiu Ian e deu-lhe um beijo na mão.

- És um cavalheiro, não haja dúvida! – riu-se Phillipa corando ainda mais.

- Huu! Tão não...

- A sério. As damas devem adorar-te. – comentou Phillipa.

- Nem por isso. Não conheço muitas. Trabalho muito e sempre na sombra. – afirmou Ian. – E não fiz muito sucesso com a Karina.

- Isso não quer dizer nada! Todos sabemos que a Karina e o Draco se adoram. – observou Phillipa. – Mesmo que passem a vida a discutir.

- Sim, também já reparei. – riu-se Ian. – Tão depressa andam quase aos murros como aos beijos.

- Cada um pior que o outro.

- É verdade. – murmurou Ian olhando Phillipa nos olhos. – Tens toda a razão...

- Eu vou ver como está a Karina. – afirmou Phillipa desviando o olhar.

- Então vai lá, não te incomodo mais. – murmurou Ian olhando para o chão.

- Mas não me incomodas. – informou Phillipa sem o olhar nos olhos.

- Claro que incomodo, só sirvo para isso. – murmurou Ian.

- Ian, tu sabes que isso é mentira! – declarou Phillipa seriamente.

- Vai ter com a Karina. – ordenou Ian. – Eu vou dar uma volta por aí.
E afastou-se pelas ruas de Londres.

Phillipa dirigiu-se tristemente para a sala de espera . Como esta estava deserta dirigiu-se para o quarto de Karina. Bateu à porta.

Esperou durante uns segundos e alguém veio abrir tempo depois, era Draco.

- Phillipa, por aqui a estas horas? – inquiriu o rapaz espantado.

- Sim, porquê? Só tu é que podes ver a doentinha? – perguntou Phillipa brincando com o rapaz. – Posso entrar? Ou vocês estão muito ocupados?

- Que raios de ideia! Claro que podes entrar. Faça favor. – disse com uma vénia.

- Ó Karina, tens aqui um homem... – observou Phillipa entrando para dentro do quarto.

- Xiiiiii! Não tenho tanta certeza. Nunca me deu provas disso. – disse Karina cinicamente.

- Ai que piada que tu tens! – comentou Draco ironicamente.

- Eu sei que sou muito cómica, obrigada Draquinho. – agradeceu Karina levantando a mão em sinal de agradecimento.

- De nada Karininha. – agradeceu Draco.

- Fico feliz por ver que vocês já se tão a dar bem. – observou Phillipa.

- Desde quando? Daqui a nada já lhe estou a dar porrada. – riu-se Karina.

- E eu a torcer-te o pescoço. – disse Draco poisando-lhe a mão no pescoço.

- Huuuuu! Que medo! – disse Karina.

- Ai que dois. Então e tu Karina, está tudo bem? – perguntou Phillipa.

- Tudo às mil maravilhas, não vês? – inquiriu Karina.

- Então não vejo? Se não fosse assim não estavas tão contente. – observou Phillipa sorrindo.

- Tu é que não pareces muito feliz. – observou Karina.

- Mas estou. – contrariou Phillipa mentindo.

- Draco, fazes-me um favor? – pediu Karina.

- Estou às suas ordens eminência. – respondeu Draco.

- Vais lá fora ver como está o tempo? – pediu Karina sarcasticamente.

- Como quiser imperatriz! – respondeu Draco.

- E se não estiver a chover dança um bocadinho assim ao estilo dos índios, para ver se chove. – informou Karina.

Draco fez uma vénia e saiu.

- Agora estamos a sós. – sorriu-lhe Karina sentando-se na cama e encostando-se à almofada. – Anda cá miga.

Phillipa sentou-se sobre a cama e soltou um suspiro.

- Vá, estou-te a ouvir, fala. – ordenou Karina.

- Eu ando com uns problemazinhos...

- Problemas amorosos? – adivinhou Karina num tom sarcástico.

- Sempre certeira. – riu-se Phillipa. – Eu... eu acho que já não amo o Harry.

- Oh sim, estou a alcançar. Não gostas mais do Harry mas não tens coragem para lhe dizer, não é? – perguntou Karina.

- É mais ou menos. – riu-se Phillipa corando imenso. – Eu gosto do teu amigo Ian.

- Do Ian? Hum... a menina tem bom gosto, sim senhora. – comentou Karina acenando com a cabeça.

Phillipa voltou a suspirar.

- Estás mesmo mal... – disse Karina. – O melhor que tens a fazer é dizer isso ao Harry. Vais com calma e ele no máximo fica um bocadinho triste. Sei que não te vai tentar matar, ele é muito bom rapaz. – declarou Karina dando um beijo na amiga.

- Achas que sim?

- Claro que sim! E sei quem vai ficar contente com esta história toda. – riu-se Karina.

- Quem? – perguntou Phillipa curiosa.

- A Ginny Weasley. Ela sempre gostou do Harry. Um amor... não correspondido. – observou Karina.

- Hã... interessante. – murmurou Phillipa pensativamente. – Mesmo muito.

- Agora não te esqueças, falas primeiro com o Harry e só depois é que te atiras ao Ian. – avisou Karina piscando-lhe o olho.

- Obrigada ‘miga. – agradeceu Phillipa abraçando Karina com força.

- Calma ou ainda me matas! – riu-se Karina.

- Desculpa. – pediu Phillipa largando a amiga. – Mas estou mesmo muito contente. Parece o dia mais feliz da minha vida e ainda nem sei porquê. Eu sempre gostei do Harry, mas assim de um momento para o outro...

- Não te apoquentes. É normal estares assim, viste aqui falar com a “je”, isso deixa qualquer pessoa bem. – riu-se Karina. – Isto nem parece um hospital.

- É melhor ir-me embora, precisas de descansar. – decidiu Phillipa levantando-se.

- Está bem, mas não te esqueças de falar com o Harry. – pediu Karina com um ar sério. – Se não fico muito aborrecida contigo.

- Podes estar descansada, eu falo com ele. Agora até vou para casa preparar o meu discurso. – informou Phillipa.

- Fazes muito bem, isso é um assunto delicado, não pode ser dito às três pancadas, se não o Harry fica podre. – avisou Karina.

- Vou seguir os teus conselhos, não te preocupes. – declarou Phillipa, deu-lhe um beijo na cara e saiu do quarto.

- Ai, ai... Espero mesmo que isto não dê para o torto. – suspirou Karina. – Eles são os dois óptimas pessoas e não me posso dar ao luxo de os deixar ficar tristes, são meus amigos.

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