Open Your Eyes (24/12)

Open Your Eyes (24/12)



Open Your Eyes

Snow Patrol

Draco deixou a cabeça pender para trás. Já se calara havia tempos; chorara demais. Os olhos fechados, nenhuma lágrima.

Foi minha culpa. Se eu não a tivesse tocado...

Suspirou. Era tarde demais para arrepender-se. Devia concentrar-se na realidade, que não era tão boa assim. Olhou para Harry, que ainda escondia nas mãos o rosto úmido de lágrimas. O moreno não conseguia consolar-se.

— Doutor! – gritou ele ao ver o médico que cuidava da garota desmaiada. – Como ela está?

— Sedada – respondeu o outro. – É cedo demais para qualquer diagnóstico.

— Complicações? – arriscou Draco, antevendo a resposta.

— Acredito que sim.

Dito isso, ele se retirou. Harry olhou para Draco, mas o loiro deu de ombros. Sentia que o moreno considerava-se culpado, e assustou-se ao perceber que ele próprio considerava Harry o início do fim de sua feliz vida. Olhou através do vidro. Uma garota jazia na cama, o ventre de nove meses erguendo o lençol, sedada de tal forma que parecia apenas dormir. Draco esticou a mão, como se esperasse tocá-la. Sentiu os dedos tocarem o vidro e escorregarem pela superfície lisa e brilhante. Não era a mesma coisa. Ela estava longe. Muito longe. Longe demais.

— Eu vou para casa tomar um banho, Potter – disse Draco, erguendo-se e deixando a jovem jazendo na cama. Suspirou. – Avise-me se ela acordar. Talvez queira me ver.

— Obrigado, Malfoy – murmurou ele, com um esgar que parecia um sorriso. – Você foi um cara bacana.

O loiro levou dois dedos à têmpora e afastou-os logo em seguida, numa espécie de continência que era mais um agradecimento ou uma resposta a ele. Deu as costas ao moreno e saiu, os espelhos refletindo seu real estado de espírito. Estava vulnerável demais.

All this feels strange and untrue
Tudo isso parece estranho e irreal
And I won't waste a minute without you
E eu não vou perder um só momento sem você

Draco adentrou a casa, vazia e gelada. Olhou para os retratos pendurados na parede. Baixou todos os que mostravam Hermione, aquele rosto sorridente, os olhos quentes, o jeito um tanto infantil, mas muito responsável. Se ela pudesse vê-lo, não queria que fosse através dos quadros. Queria que ela não o visse naquele estado. Era por causa do que acontecera a ela, e ele sabia, mas, como sonserino inveterado, não podia suportar a própria vulnerabilidade.

Entrou no banheiro, abrindo o chuveiro no máximo. A água gelada caiu em seu corpo nu como se mil chicotes o estivessem açoitando. Enfiou a cabeça sob a água e apoiou as mãos espalmadas contra os azulejos claros, os olhos fechados, sentindo a água correr em suas costas e pelo seu rosto. Droga de teia de mentiras! Maldita a hora em que ele resolvera terminar o relacionamento com Hermione!

— Eu morria de medo de te perder, eu juro... – Ele suspirou. – Agora que eu perdi, Hermione, o que sobrou para mim? Merlin, o que sobrou para mim?

Ele abriu os olhos e encarou a água gelada que o açoitava. Suspirou. As memórias inevitáveis o acoitaram, como feras buscando uma presa fácil.

My bones ache, my skin feels cold
Meus ossos doem, minha pele parece fria

*~*~* Flashback *~*~*

— Caramba, Draco! – exclamou ela, sorrindo. – Não tinha nada mais seco?!

— Até tinha. – Ele espirrou. – Mas nunca seria a mesma coisa.

— Eu vou pegar uma pneumonia! – replicou Hermione, despindo as roupas encharcadas. – E, pior, a culpa será sua!

A garota puxara um roupão do cabide do banheiro. Draco insistira em levá-la em casa, mas a chuva e a moto não haviam combinado muito bem. Ela envolveu-se com o tecido felpudo e fitou o loiro. Um esgar denunciava o sorriso que ela não queria admitir.

— Que foi? – perguntou ela, quase assustada.

— Você fica linda molhada, sabia? – replicou o rapaz, tocando-lhe a face.

Ela desvencilhou-se das mãos inesperadamente quentes e corou. Draco sabia que ela ainda estava abalada pelo relacionamento com Harry; havia pouco tempo, os dois ainda saíam juntos. Hermione ainda tinha muito medo do que poderia acontecer com ela e o loiro. Apesar disso, o sonserino topara o desafio de provar a ela que não lhe faria mal. Era um senhor de um desafio, mas ele já estava até o pescoço naquilo. Tarde demais para voltar atrás.

*~*~* Fim do Flashback *~*~*

And I'm getting so tired and so old
E eu estou ficando tão cansado e tão velho

Ele esperara. Esperara que ela superasse. Ajudara-a. Brincara com ela e a amara. O tempo passava e olhava, desdenhava, mas e daí? Ele não tinha motivos para ter pressa. Não tivera, naquela época. E então, repentinamente, passara a ter. olhou-se no espelho. Quanto do que ele via era realmente ele? Metade? Um terço, talvez? Um centésimo?

Nada, concluiu, deprimido. Sem ela, nada era real. Nada parecia real.

Saiu do banheiro, os cabelos molhados pingando e ajudando a deixar uma trilha pelo chão. Hermione odiava aquelas trilhas de água.

Isso foi há muito tempo, pensou. Tempo demais. Estou velho o suficiente para não me prender a um passado. Por melhor que ele seja.

Cansado. Essa era a palavra. Cansado de lutar vinte e quatro horas por dia numa batalha que desde o princípio ele soubera estar perdida. Vestiu o jeans que ela lhe dera no primeiro dia de namoro. Ele lembrava nitidamente da situação. Fora um encontro num bosque, e ele aparecera de calça social. Hermione comprara o jeans no mesmíssimo dia. Haviam rido muito. Ele suspirou. Vestiu a camisa, deixando-a completamente aberta, numa displicência irritante. Depois, saiu de casa, subiu na moto e foi guiando até o hospital.

The anger swells in my guts
A raiva me corrói por dentro
And I won't feel these slices and cuts
E eu não vou sentir esses arranhões e cortes

*~*~* Flashback *~*~*

Ela fugira. Novamente. Draco a encontrara perto de uma fonte, no centro de Londres, e a levara para casa. Tudo o que sentia era raiva. Uma raiva gerada pela preocupação excessiva que ele tinha em relação à namorada. Ela se atirou no sofá, indefesa.

— Por que toda essa inconsequência, Hermione? – bradou ele, furioso. – Por Merlin, o que deu em você?

— Ah, Draco, cale a boca! – exclamou ela, sem se mover ou fazer qualquer esforço.

— Não, Hermione, não calo droga nenhuma! Pombas, você é uma mulher adulta, não uma criancinha pequena que eu tenho que ficar segurando pela mão!

— Então não segura! – replicou ela, se erguendo. – Você nem ao menos quis saber por que eu fugi!

— Eu implorei e você nem se dignou a responder!

— Você deveria saber!

— Acontece que eu não sou tão adivinho assim!

A garota atirou-se sobre o loiro, ferindo-o com as unhas. O rosto sereno era arranhado e cortado pelas mãos da menina, que ele conteve, segurando-lhe os pulsos enquanto ela se debatia feroz e freneticamente. Cansada, Hermione deixou que ele a enlaçasse e começou a chorar e soluçar. O rapaz afagou-lhe os cabelos, carinhoso.

— Eu sei que está tudo muito rápido para você, mas eu prometi não te magoar, não prometi? – Ele fitou-a.

— Eu te amo, Draco – murmurou ela, engolindo em seco. – Mais do que você pode imaginar, e mais do que eu posso suportar. E eu não suporto, Draco. Eu não consigo suportar os dias, de manhã, quando eu acordo e você já se levantou... Eu penso que um dia eu vou acordar, você não estará lá e nem em lugar nenhum... Eu tenho medo, muito medo. Muito mesmo.

Ele a comprimiu contra si, compreendendo. O trabalho de auror. O risco. Era uma sombra permanente em seu relacionamento com Hermione, e seria, sempre. Sempre.

*~*~* Fim do Flashback *~*~*

I want so much to open your eyes
Eu quero tanto abrir seus olhos
Cos I need you to look into mine
Porque eu preciso que você olhe para os meus

Ele apeou a moto e desceu já em frente ao hospital. Subiu as escadas, dispensando os elevadores a que ainda não havia se acostumado. Era um hospital trouxa, pois, em se tratando de acidente físicos envolvendo gestações, os bruxos tinham de admitir que os humanos não-mágicos os superavam. Resoluto, ele encaminhou-se para o quarto, na porta do qual ele e Harry haviam revezado plantões noturnos, lágrimas e preocupações. Uma enfermeira, acompanhada de um médico, adentrara o aposento antes que o loiro o fizesse. Draco sabia que chegara justo na hora. A mulher enfiou uma seringa no braço lânguido e esguio da paciente, retirando o sangue de sempre. Não muito, apenas o estritamente necessário para os exames de rotina, a maioria envolvendo nutrientes, principalmente ferro e glicose. Depois, começaram as preparações para a bateria de exames. Ultrasonografia. Tomografia. Ajustaram o aparelho que media a saturação sanguínea, e o apito estridente e compassado do monitor de batimentos cardíacos era o único som, aliado ao incessante ruído rouco e mecânico do respirador. A enfermeira – Shirley era seu nome – trocou o soro e saiu. O médico a seguiu. Com um aceno de cabeça, Draco entrou.

Ela estava pálida. Sempre o fora, desde que ele se lembrava, mas estava muito mais naquele dia. O loiro pegou a ficha, presa aos pés da cama. Anemia. Hipoglicemia. Nenhum estímulo respiratório. Saturação sanguínea estável nos últimos cinco dias. Batimentos regulares e firmes. Nenhum problema com o bebê. O desenvolvimento dos pulmões, rins, sistema nervoso e coração, que eram os fatores mais preocupantes, estavam normais. Ele crescia como qualquer criança. O rapaz pousou a ficha e sentou-se ao lado dela. Tinha dez minutos a sós com a jovem, antes que a enfermeira viesse com a intravenosa de nutrientes.

— É noite lá fora – murmurou ele, sorrindo de maneira quase imperceptível. – Harry está esperando que você acorde. Eu também. Os médicos não acham que eu vá entender o que eles escrevem na ficha, e só por isso eu tenho alguma pista do que se passa com vocês. Você podia acordar. Eu sei que eles dizem não haver esperança, mas, por Merlin, não posso acreditar que seja verdade. Você já se meteu em enrascadas por minha causa, e não posso imaginar que eu tenha algo a ver com isso... Simplesmente não consigo. – Ele beijou a mão fraca e gelada. – Agora você fica aqui, imóvel, sem me olhar, sem dizer nada, sem... Droga! – Draco desviou o olhar da garota. – Eu sei que você não pode me ouvir, mas eu queria, céus, quero, e como, que você acorde... Nem que seja para me xingar, brigar comigo, com o mundo, com quem você quiser, mas apenas acorde...

Tell me that you'll open your eyes [x4]
Diga-me que você abrirá seus olhos

Era inútil, ele sabia. Os médicos haviam sido claros demais. Ela tivera contrações. Quase perdera a criança. Não havia praticamente nenhuma esperança de salvarem as duas. Draco, junto a Harry, fizera a escolha que sabiam ser a que a garota faria: decidiram que a prioridade era o bebê. Fora menos de meia hora de uma dicussão que desde o princípio já tinha seu resultado. Eles sabiam que ela amara o bebê, apesar de tudo o que a gravidez lhe trouxera. Sempre souberam.

Shirley entrou no quarto novamente. Era uma afro-americana de pele lisa e macia, grandes olhos castanhos e brilhantes, e um sorriso tão esperançoso que chegava a ser contagiante. Andava como qualquer enfermeira do hospital, quando se encontrava sob o olhar dos médicos. Quando entrava no quarto da paciente, no entanto, sorria e fazia os procedimentos de praxe como se ela estivesse prestes a ver a garota sair andando no dia seguinte. Todos os dias, ela se despedia um pouquinho da jovem imóvel. Ela nunca pensava que a paciente iria morrer. Para ela, enquanto ela vivesse, mesmo que por aparelhos, estava viva. Viva, com todo o peso da palavra. E Draco sabia: ele não desanimava por isso. Não era porque ele gostava da garota, porque queria que ela vivesse, porque queria desafiar os médicos, a estupidez de Harry e dele próprio. Ele acreditava porque Shirley acreditava. E algo naquela mulher era o espelho da crença. Do caminho. Ele sabia.

— Senhor Malfoy? – hesitou ela. Draco ergueu a cabeça. – O médico não vem até daqui a uns quatro ou cinco minutos... Deseja falar com ela mais um pouco?

— Ela não me ouve, Shirley, e você sabe disso – murmurou o loiro, balançando a cabeça.

— Meu avô dizia que, se mesmo os mortos nos ouvem, porque os que dormem não o poderiam fazer? – Ela sorriu, enquanto aplicava a intravenosa. – Não desista. Se você desistir, ela não terá mais ninguém. Logo, a criança a deixará, e, sem ela, pra quem a menina vai viver?

— Eu só queria que ela pudesse abrir os olhos... Mesmo que ela não pudesse me ver... Ao menos eu teria a certeza de que ela está viva.

Shirley pegou a mão do loiro entre as suas e fitou-o fundo nos olhos. Ele entendeu que ela amava a garota. Amava-a pela coragem, pela história que ele havia contado, por tudo o que ela havia passado. Se ele, Draco, e Harry não a ajudassem a sobreviver, ela, Shirley, o faria. Porque a jovem merecia. E, com isso martelando em sua cabeça, quando o médico entrou, Draco deixou o aposento.

Get up, get out, get away from these liars
Levante, vá embora, saia de perto desses mentirosos
Cos they don't get your soul or your fire
Porque eles não entendem sua alma ou seu fogo

— Ela já está ali há três meses! – exclamava Harry para os médicos, apontando o quarto. – Quando ela vai sair?

— Senhor, eu já disse, ela não vai sair andando dali, ela está morta, e o senhor sabe disso... – dizia o médico, impaciente.

— Ela não pode ter morrido! – replicou o moreno, quase partindo para cima do outro homem.

— Doutor Turrow! – exclamou Draco, chamando a atenção do médico. – Peço que o deixe comigo. Eu o farei entender.

Aliviado, Turrow saiu de perto dos rapazes, e o loiro aproximou-se de Harry.

— Shirley está com ela, lembra? – perguntou ele ao moreno. – Ela não está morta, você já ouviu Shirley falando, ela não está morta. Deixe de ser inconseqüente e aprenda uma coisa, Potter: os médicos não são os senhores da verdade. Eles não dizem se uma pessoa vai viver ou morrer, e, dependendo disso, ela vive ou morre. Eles podem ajudar, ou não, mas a morte ou a vida não depende deles. Eles sabem mentir. Eles não fazem de propósito, mas, sim, eles mentem, quando a esperança é mínima. Mas não é porque ela é mínima que se pode dizer que deixou de existir. Eles não entendem o que nós passamos, e por isso, e você vai entender a expressão, creio que você esteja malhando em ferro frio. Os médicos não vão dar esperança se nem eles próprios acreditam que ela exista.

O loiro recostou-se na cadeira, e esperou que Harry se acalmasse. Draco tinha razão. Eles só podiam acreditar, e esperar. Apenas isso.

Take my hand, knot your fingers through mine
Pegue minha mão, entrelace seus dedos nos meus
And we'll walk from this dark room for the last time
E nós sairemos desse quarto escuro pela última vez

Eles estavam sentados já havia algum tempo, quando uma garota apareceu na frente dos dois. Cabelos loiros e compridos, rosto afilado, resquícios de algum tipo de tinta rosada nas pontas dos cabelos. Harry se ergueu e beijou a face corada de Camilla.

— Cami! – exclamou Draco, abraçando a prima. – Merlin, Cami, como é que você desaparece por tanto tempo? E como está Stella?

— Foram apenas três semanas, Draco – disse ela, sorrindo. – Stella? Minha filha? Aquela coisinha pequena que tiraram de mim e que nenhum de vocês pôde ver?

— Ela mesma, Milla, não se faça de besta, vamos, diga, mulher! – exclamou Harry, impaciente.

— Vejam por vocês mesmos.

Ela deu as costas aos rapazes, que a seguiram até a UTI neonatal. Stella Eloyse Potter era uma menina pequena, uma penugem loira na cabecinha branca, bochechas rosadas e grandes olhos azulados. A enfermeira tirou a criancinha da incubadora e entregou-a a Camilla. Stella quase não sobrevivera ao parto, pois, apesar de a gravidez ter ido até o final, ela não maturara os pulmões. Fora do ventre da mãe direto para a UTI. Era a primeira vez que Harry a via.

— Malfoy, olhe, ela é tão pequena... – murmurou ele, orgulhoso.

— É um bebê, Potter. – O loiro sorriu. – Isso significa que... acabou?

Camilla acenou com a cabeça. Draco pegou Stella no colo, e Cami entrelaçou os dedos nos de Harry. Era a última vez que sairiam daquele quarto. Pra sempre.

Every minute from this minute now
Cada momento a partir deste momento, agora
We can do what we like anywhere
Nós podemos fazer o que gostamos em qualquer lugar

— E agora, o que pretendem? – perguntou Draco, devolvendo a criança à mãe.

— Vou sair da casa da Mione, com certeza – disse Camilla, feliz. – Harry vendeu o chalé. Compramos uma casa nos arredores de Londres. Há um pátio grande, e um bocado de espaço.

Camilla sentou-se, a criança adormecida no colo. Olhou pelo vidro, direto para a cama onde jazia a jovem pela qual Draco e Harry tanto velavam.

— Nada? – perguntou a Draco. Ele negou com a cabeça, entristecido. – Não fique assim. Não é qualquer uma. É Hermione. Ela vai ficar bem. – Ela se ergueu. – Posso vê-la?

— Só um momento – pediu o loiro. – Shirley!

A enfermeira veio, com seu jeito profissional, que se apagou para dar lugar a um sorriso quando viu o embrulhinho nos braços de Camilla.

— Stella... – murmurou ela, olhando para a loira. – Pode levá-la junto, para ver sua amiga. Vou com vocês. Tenho que verificar o soro.

Draco ficou do lado de fora. Harry também. Estava feliz. Olhou para o loiro, sorrindo.

— Se Stella sobreviveu, e se o bebê de Hermione também vai sobreviver, ela vai abrir os olhos, Malfoy. – Ele deu um tapinha no ombro do rapaz. – Ela vai abrir os olhos.

I want so much to open your eyes
Eu quero tanto abrir seus olhos
Cos I need you to look into mine
Porque eu preciso que você olhe nos meus

Draco pregara o nariz no vidro. Havia mais de uma hora que Camilla, Stella e Shirley estavam ali, naquele quarto, o vulto imóvel de Hermione ocultado em parte pelas duas mulheres. Stella estava ao lado de Hermione, brincando com os cabelos quase lisos e sem vida da jovem. Apreensão. Elas não se mexiam, praticamente. Vez ou outra, Shirley verificava o soro, o monitor, tirava a mão da pequena Stella de perto do tubo endotraqueal fixado à boca da paciente, sorria. Nada mais. Conversava com Camilla, repetia os procedimentos anteriores, e ficava.

Foi assim durante minutos.

Horas.

Duas ou três horas. Ou mais. Ele não sabia.

E ela se mexeu. Não Stella. Não Shirley. Não Camilla.

Hermione.

Tell me that you'll open your eyes [x8]
Diga-me que você abrirá seus olhos

Draco adentrou o quarto como um furacão. Pegou a mão da jovem, tocou-a com carinho. Estava quente. Os olhos se apertavam, em quase contrações de dor.

— Hermione! – Ele não entendia. – Shirley, o que está havendo? Por que ela não abre os olhos?

O monitor, então, subitamente, parou de apitar. Ficou um único ruído, contínuo, longo. Shirley tirou a bebê de perto da jovem, entregando-a a Camilla. Stel chorava. Draco não quis sair, mas foi obrigado por um médico, acompanhado de vários outros, e de enfermeiras. Ficou, junto a Camilla, esperando. Esperou por horas a fio. Adormeceu.

Não sonhou.

*~*~*

— Draco – chamou a voz tão conhecida de Camilla.

— Hm...? – murmurou o loiro, entreabrindo os olhos.

— O médico quer falar com você – disse a loira, sem Stella nos braços.

Draco se ergueu, e as memórias abateram-se sobre ele sem piedade. Hermione. O monitor. A face de Shirley, transtornada de terror.

— Cadê Shirley? – perguntou ele a Camilla, passando a mão pelos cabelos.

— Não sei – disse a loira. – Ela sumiu. Ninguém sabe dela.

Ele ficou receoso. Se Shirley se fora, seria porque não queria encará-lo e dizer que o pior ocorrera? Levantou-se de um pulo e foi na direção que Cami indicara. O médico o esperava, sentado, em frente à sala de cirurgia.

— Doutor Turrow? – Ele cutucou o médico.

— Senhor Malfoy. – Eles trocaram um cordial aperto de mãos. – Aconteceu uma coisa...

— Por favor, senhor, apenas não me diga que ela... – Ele não pôde continuar.

— Sua esposa – Draco esboçou um sorriso. Dissera, na recepção, que o sobrenome de Hermione era Malfoy – está mais do que bem. Um milagre, senhor. Está se recuperando dos efeitos da anestesia. O problema é com a criança.

— Merlin! – exclamou ele, baixinho. – O que houve? Ela está bem, não está? O senhor disse que estaria...

Turrow limitou-se a negar com a cabeça e convidar o rapaz a ver a jovem. Hermione não podia falar por causa do tubo, e tinha os olhos fechados de exaustão. Mas essa não era a surpresa. O médico indicou um pequeno berçário, onde duas crianças jaziam, adormecidas, supervisionadas por enfermeiras. Turrow fitou o loiro, como se perguntasse “E então?”.

— Qual dos dois bebês é meu? – perguntou Draco, confuso.

O médico negou com a cabeça, e finalmente sorriu. Deu as costas, e estava quase se ausentando da sala quando se voltou para o loiro e, antes de sair, disse:

— Ela foi a única mulher que atendemos hoje, senhor Malfoy.

All this feels strange and untrue
Tudo isso parece estranho e irreal
And I won't waste a minute without you
E eu não vou perder um só momento sem você

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~* Harry/Hermione/Draco *~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Yeeeeeessss!!!

Último capítulo de presente de Natal pra vocês!!

E mantenham o olho na fic, oks? Não me abandonem!!

Obrigada a todos que leram e comentaram, que me deram forças para ir até o fim, que ainda não é este!!

Até mais!! o/

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