Anyone of Us (07/10)



Anyone Of Us (Stupid Mistake)

Gareth Gates

Ela voltara ao trabalho, os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo obediente e simples, sorrindo por estar de volta. Amava o trabalho, apesar de tudo. Apesar de não ter valido a pena.

— Bom dia, Mione! – gritou uma garota de cabelos loiros platinados com as pontas rosa-chiclete.

— Bom dia, Cami! – replicou a garota, com o relatório do caso McDowell fazendo volume sob o braço.

— Bom dia, Hermione! – exclamou uma garota de cabelos negros matizados de vermelho-vivo, a cabeça para fora da porta.

— Bom dia, Lidielle! – respondeu a outra, sorrindo. – Apresentação mês que vem, não é? Estarei lá!

— Miy querida do meu coração!!

Um rapaz de uns vinte e pouquíssimos anos atirou-se ao pescoço de Hermione.

— Bom dia, McDowell. – Ela sorriu. – Como você está?

— Ansioso feito um unicórnio para ganhar seu chifre – respondeu ele, soltando-a. – E aí...?

— Nenhuma chance de você ser obliviado, Matt – retrucou ela, feliz, apontando para o pergaminho que trazia nos braços.

— Eu te amo, Hermione! – exclamou ele, beijando a face da jovem e voltando para a sala. Meteu a cabeça para fora da porta e gritou: – Te devo mais essa, Miy!

A garota prosseguiu, sorridente. Era difícil alguém no Departamento não gostar dela. Fora dele, também. Ela estava quase dentro da sala quando trombou com alguém.

— Ah, desculpe, bom dia... – Os olhos castanhos se ergueram, deparando-se com Harry a fitá-la. – Ahn... Senhor.

— Não estamos dentro da sala – disse o moreno, sorrindo. – Não me chame de senhor.

— Tudo bem... Harry. – Ela estendeu ao superior o relatório, sem fitar o rapaz. – Matthew foi virado do avesso nisso aí.

— É? – Ele analisou demoradamente o pergaminho lacrado. – Que bom.

Os dois ficaram em silêncio, um silêncio fundo e denso, tão repercussor que até os "Bom dia!" paravam no ar e caíam duros feitos pedra no chão frio. Harry, de cabeça baixa, murmurou, enfim:

— Olha, Mi, desculpe por ontem... – Ele colocou o pergaminho com extrema cautela no bolso fundo da capa. – Eu não queria ter falado aquilo, eu estava nervoso... Me mandaram um interdepartamental apurando o caso McDowell, e você ia jantar fora... Pensei que você não fosse dar conta, tive medo, oh, meu Merlin, tive medo de ver você ir embora... De eu ter que te mandar embora porque...

— Shh... – murmurou ela, calando-o com um gesto suave. – Eu entendi, Harry. Não se preocupe. Está tudo bem. – Ela sorriu. – Vamos entrar?

— Ah, antes disso... Eu quero te convidar... Sabe, você, os estagiários... Não conheço ninguém do Departamento, à exceção de você e Malfoy, e os nomes de alguns que eu nunca vi o rosto... Pensei que, talvez, sabe, assim... Você pudesse me ajudar nesse ponto.

— Claro! – exclamou a garota, sorrindo. – Hoje à noite?

— Pode ser... – confirmou ele. – Mas espere eu ter o resultado do relatório... Não quero convidar todo mundo e ter que rebaixar McDowell na frente de seus colegas de trabalho...

— Ele não será rebaixado – garantiu-lhe Hermione.

— Confio em seu trabalho – replicou o rapaz, suave. – É só uma garantia.

— Tudo bem. – Ela deu de ombros e entrou na sala. – Cuide-se.

Harry sorriu, o rosto gentil e preocupado transfigurando-se num esgar cheio de malícia e pretensão. Hermione o deixara por Malfoy. Agora deixaria Malfoy por ele.

O rapaz entrou na sala sério e concentrado. O loiro sentara-se à mesa, a atenção voltada estritamente para o trabalho, nenhum olhar direcionado para local algum. Hermione olhava a janela falsa do Ministério, bebendo uma xícara de café forte. Estava cansada. Feliz, mas cansada.

I've been letting you down, down
Estive te deixando deprimida, deprimida
Girl, I know I've been such a fool
Garota, eu sei que estive sendo um grande tolo
Giving in to temptation
Cedendo à tentação
When I should've played it cool
Quando eu deveria ter ficado frio
The situation got out of hand
A situação saiu do controle
I hope you understand
Eu espero que você entenda

O expediente foi tranqüilo. Draco, apesar de ter querido, não pudera falar com Hermione sem o olhar inquisitivo e penetrante de Harry colado às suas costas. Quando o horário de serviço teve seu fim, o loiro aproximou-se da garota, exausto, e perguntou-lhe:

— Muito trabalho?

— O suficiente – respondeu Hermione, sorrindo. E, virando-se para Harry. – Então, tudo bem? Posso chamar o restante das pessoas?

— Bem... Hermione... Para ser sincero… – Harry pediu licença e puxou a garota a um canto. – Eu... Preciso falar com você... Em particular... De preferência bem longe daqui.

— Comigo, sozinha, Harry? – perguntou a garota, um tanto assustada, pegando o casaco. – O que houve?

— Nada de muito... hum... – Ele parecia um tanto desconcertado. – Podemos sair daqui, por favor?

— Ah, sim, claro – replicou Hermione, deixando que ele a pegasse com delicadeza pelo braço e saindo da sala, deixando Draco só. – Vamos para onde?

— Há um bar trouxa aqui perto... Espero que não se importe. É um bom lugar – garantiu o moreno.

A jovem deu de ombros e foi seguindo com o rapaz. Havia muito tempo que ela e Harry não saíam juntos. Assim como fazia tempo que eu não saía com Draco... E quase reatei o namoro por causa de um jantar! Era tudo o que ela menos queria, ou pensava que menos queria, ao menos no momento. Sua carreira começava a deslanchar, e qualquer envolvimento, de qualquer tipo, com qualquer rapaz poderia torná-la vulnerável e insegura. Isso ela definitivamente não queria.

O local que Harry mencionara era um estabelecimento enfiado entre dois gigantescos prédios executivos, cujos azulejos faiscantes azul-piscina contrastavam com os tijolos vermelhos e bem-cuidados do bar. Não era grande, mas não tinha, tampouco, a comum aparência de sujeira e o odor de mofo e cerveja da maioria dos bares daquela região. O garoto atrás do balcão, um jovem de uns dezesseis ou dezessete anos, sorriu ao avistar Harry e conduziu-os à mesa que já parecia ser cativa do moreno. Uma garçonete de olhos pretos e sóbrios foi atendê-los, e, enquanto Hermione pedia a bebida mais leve que pudesse escolher, Harry contentava-se com um copo de whisky.

— Então, Hermione... – começou Harry, delicado e receoso. – Eu não chamei os outros aqui porque... Bom... Houve um pequeno contratempo no caso McDowell.

— O que houve? – perguntou ela, assustada. – Matthew vai ser demitido?

— Não é com Matthew, Mione. – O moreno fez um gesto de negação com a cabeça e pegou o whisky que a garçonete lhe oferecia. – Foi você.

A garota bebeu todo o vinho da taça de um só gole. O rapaz esperou que o impacto dissolvesse-se nos olhos castanhos para apenas então continuar:

— Não podia dizer isso na frente de Camilla Thompson, Lidielle Withbone... Afinal, eles trabalham com você, e...

— Com licença, garçonete – chamou a jovem, tremendo espasmodicamente. – Uma garrafa de whisky, por favor...

— Só um momento, senhora.

A moça seguiu até onde guardava as bebidas e trouxe a garrafa que Hermione pedira. Em poucos segundos, a garota já enchera um copo e entornara-o, sem hesitação alguma, apesar de ser a sua primeira vez com whisky.

— Mione, não faça isso... – pediu Harry, prestativo, reprimindo um sorriso um tanto sádico. Preocupava-se com ela, mas... Sorriu por dentro. Sempre havia um "mas". – Foi um problema no relatório, eles não vão pedir nada, só vão revisar seu pedido de promoção... McDowell está a salvo, não é o que importa?

— Não serei hipócrita a ponto de dizer que é, Harry – replicou a garota, enchendo o copo novamente. – Adoro aquele garoto. Verdade, ele é um anjo. Mas eu faço os relatórios por mim, mais que por eles. Você sabe disso. Whisky?

Ela ofereceu a garrafa a ele, que recusou terminantemente. Precisava estar ao menos lúcido.

— Não adianta dizer que não somos egoístas, Harry – continuou ela, já alcoolizada. – Você é. Sempre foi, e eu tive o privilégio de conhecer esse seu lado bem a fundo enquanto namorava contigo. Enquanto namorava com Rony e Draco, também. O seu lado e o deles. E eu sou tão mortal quanto vocês três. Também sou egoísta. Eu quero essa promoção, Harry, eu aceitei suportar esses dois meses por isso. E alguém tirou de mim.

— Pelo amor de Merlin, Mione... Seja ao menos racional, agora mais que nunca...

— Para quê? – perguntou ela, sorrindo, um meio-sorriso debochado e estóico, mas ainda assim, belo. – Teoricamente, você bebe para ficar irracional. Não estrague esse momento da minha vida.

Hermione suspirou, encheu o copo novamente e desafiou o moreno com um olhar. Já era o terceiro copo de whisky. Ela nunca bebera assim em toda a sua vida. Harry, sentado defronte a garota, pedia que ela parasse. Logo chegaria ao limite, e então certamente desmaiaria, ou entraria em coma alcoólico. Além do mais, o rapaz não precisava que ela pusesse mais uma gota de álcool na boca para conseguir o seu intento.

— Vamos embora, vamos, Mi? – pediu o moreno, ansioso. – Por favor.

— Ah, sim, claro... – concordou ela, os olhos trôpegos, mas a fala estável. – Sua casa ou minha? Ah, sua casa. Eu não moro, eu me enfurno.

— Ahm... – O rapaz hesitou por um milésimo de instante, mas depois deu de ombros e enlaçou a cintura da garota. – Eu te levo, tudo bem?

— Tudo bem. – Ela sorriu e deu de ombros, equilibrando-se por completo no moreno.

Harry pagou as bebidas e saiu com a garota para o frio da noite londrina. Seu tempo de serviço proporcionara-lhe dinheiro suficiente para uma casa de campo numa cidadezinha quase sem nome. Ele aparatou de um beco escuro direto para a casa.

Era um local grande e espaçoso. Apesar de a sala ser imensa, com direito a uma lareira quente e acesa, tapetes felpudos e sofás e poltronas confortáveis, os quartos eram poucos, e bem afastados. Harry deitou a garota em um dos sofás e pediu-lhe que esperasse. Seguiu até seu próprio quarto, a fim de verificar se estava tudo em ordem. Era uma oportunidade em um milhão. Precisava aproveitá-la.

Voltou para a sala para encontrar Hermione despindo o casaco pesado e gelado e esgueirando-se até rente a lareira. O moreno enlaçou-a por trás, os lábios roçando-lhe o pescoço alvo, e murmurou:

— Tem uma cama quentinha lá em cima... Quer subir?

A garota apenas assentiu com a cabeça, deixando que ele a guiasse, confiando no rapaz como confiara quando eram namorados. Harry ajudou-a a despir-se e vestir uma camisa. Sabia como a noite terminaria.

[Chorus]
It can happen to…
Isso pode acontecer com…
Anyone of us, anyone you think of
Qualquer um de nós, qualquer um que você possa imaginar
Anyone can fall
Qualquer um pode cair
Anyone can hurt someone they love
Qualquer um pode ferir alguém que ama
Hearts will break
Corações se quebrarão
'Cause I made a stupid mistake
Porque eu cometi um erro estúpido

Harry acordou na manhã de terça-feira quase atrasado para o trabalho. Olhou a silhueta adormecida na cama, o lençol cobrindo em parte o corpo alvo e nu, e sorriu. Ela poderia ter sido mais, mas preferira Malfoy. Preferira ser apenas mais uma. Harry não tinha nada com isso. Certo, talvez ele tivesse adulterado um nadinha o relatório de Hermione. Ainda assim, ela resolvera se acabar de beber. Não era como se ele tivesse culpa. O moreno beijou os lábios ferventes e úmidos da ex-namorada e saiu do quarto, banhando-se e trocando de roupa, aparatando em seguida para o trabalho.

Durante dois longos dias, Hermione não foi ao trabalho. Harry sabia que, se ela já acordara, mal conseguia se mover de ressaca. Draco, por não saber de nada do ocorrido daquela noite, resolveu investigar por si próprio. No terceiro dia de ausência da garota ele soube que seu chefe e a ex-namorada haviam saído do bar juntos, rumo à casa dele, Harry Potter.

— Potter, preciso falar com o senhor – disse Malfoy ao fim do expediente. – É sério.

— Diga, Malfoy – instigou-o o moreno, leviano.

— Onde está Hermione? – perguntou o rapaz, preocupado.

— Dormindo na minha casa de campo, ou algo assim – respondeu o outro, dando de ombros. – Ela estava completamente bêbada, e resolvi não deixá-la a sós.

Mais algumas perguntas e Draco descobriu onde ficava a casa do moreno. Sabia que não devia confiar em todo aquele "bom-samaritanismo" proveniente de Harry: era uma reputação impecável dentro do Departamento, mas uma vida pessoal muito comentada e bem pouco... ortodoxa. Ainda assim, ele seguiu as informações, acabando por encontrar a jovem tal qual Harry a deixara: imóvel, nua, os lábios arroxeados de frio. Sem hesitar, o loiro tirou-a daquele local e levou-a para a casa onde haviam vivido juntos. Nostradamus parecia feliz ao avistar a dona, mas logo deu-se conta do que ocorrera com a garota, e parou de arfar e latir. Draco subiu as escadas e vestiu a garota com apenas uma camisa, pois Hermione levara suas roupas na última vez em que estivera ali, e limpou-lhe o rosto e as costas com um pano úmido.

— Nostradamus, não a deixe só, por favor – pediu ele. – Preciso sair para trabalhar... compensar esse tempinho em que estive fora... Cuide dela, por Merlin, Dam.

Dito isso, Draco retirou-se, deixando o labrador deitado junto à garota, aquecendo-a. Hermione gemeu. Nostradamus aconchegou-se contra o corpo ainda frio da menina e fechou os olhos. Ela não acordaria ainda.

Draco chegou ao trabalho muito preocupado com a garota. Trombou com Harry no meio do caminho para a sala e quase caiu.

— Esqueceu de ligar os olhos, Malfoy? – sibilou o moreno, cáustico.

— Quanto ela bebeu? – perguntou o outro, aéreo.

— Ela quem? – replicou Harry, sem entender.

— Hermione, quanto ela bebeu? – repetiu ele, preocupado.

— Sei lá, uma garrafa de whisky quase inteira. – Ele deu de ombros. – Não sou babá de bêbado, tá? Nem que seja uma funcionária minha.

— Cala a boca, Potter! – exclamou o loiro, raivoso. – Hermione nunca teria cometido erros naquele relatório! Alguém o adulterou e eu acho que sei quem foi!

— Quer me acusar, doninha? – retrucou ele, arregaçando instintivamente as mangas.

— E precisa? – Draco virou-se e respirou fundo, indo na direção contrária por três ou quatro passos.

— Você ama aquela vaca... – Harry fez um som de asco. – Que deprimente... Hermione não presta para homem nenhum, Malfoy.

O sangue sempre frio do rapaz ferveu ao ouvir isso. Draco andou, decidido, e deu um soco muito bem dado em Harry.

— Talvez você não preste para mulher alguma, seu canalha! – berrou ele. Algumas portas se abriram.

— Desgraçado... Eu te mato!

Harry ergueu-se e foi para cima de Draco. Quem Malfoy pensava que era para defender a garota que mais desprezara homens no Ministério inteiro? A fúria toldava-lhe os olhos e os sentidos; quando Draco arrancou-lhe um filete de sangue das têmporas, ele mal sentiu. Não sabia por que fazia tudo aquilo, não tinha tanta honra assim para defender... Não era um homem ortodoxo e não se importava de ser chamado de cafajeste e afins; seu ego agradecia, significava que ele era o assunto. E ele nunca perdera uma mulher; sempre as descartara, nunca o contrário.

— Draco! – exclamou uma voz feminina, apartando os dois com um feitiço.

— Olá, Diel – disse ele, sorrindo, o olho esquerdo desfigurado por um hematoma assustadoramente inchado. – Que houve?

— Olhe para você, seu retardado, brigando no meio do corredor... Olhe as suas roupas, seu insano! – A garota parecia à beira das lágrimas. Do outro lado, Camilla ajudava Harry a se erguer. – O seu olho, Draco! O que você pensa que 'tá fazendo?!

— Suspenso, Malfoy – disse Harry, o rosto manchado de sangue que ainda escorria do ferimento na têmpora. – O restante do mês inteirinho sem nem aparecer por aqui. Depois conversamos.

Harry foi com Camilla até uma das salas, onde a garota começou a cuidar dele. Lidielle saiu com Draco do Ministério, aparatando com o amigo direto em sua casa. A jovem ajudou-o a se limpar e a reduzir o inchaço do olho.

— Quer me contar o que houve? – perguntou ela, afagando os cabelos loiros de Draco.

— Eu sei que Hermione não me ama... Mas eu não pude... Diel, eu não pude, eu enlouqueci quando ele a xingou...

— Eu sei... Onde ela está?

— Lá em cima. – Ele apontou o próprio quarto. – Acho que ainda deve estar dormindo.

— Vamos subir, então. – Ela foi com o loiro até o andar superior e sentou-se ao lado dele na cama. – O que houve com ela?

— Álcool – respondeu ele, simplesmente, chamando Nostradamus.

Lidielle ficou em silêncio por algum tempo, virando então Hermione de lado e pressionando o diafragma da garota. Hermione vomitou e acordou, pálida feito a morte, a pele azulada de frio e os olhos opacos e desfocados.

— Eu vou deixar vocês dois, tá? – Ela deu um beijo na bochecha de cada um dos amigos. – Até.

Foi o tempo de Lidielle sair do quarto e Hermione desmaiou. Draco deu de ombros e tirou o jeans que manchara de sangue, deitando-se então ao lado da garota. Ela estava viva. Era o que importava.

It can happen to…
Isso pode acontecer com…
Anyone of us, say you will forgive me
Qualquer um de nós, diga que você vai me perdoar
Anyone can fail
Qualquer um pode falhar
Say you will believe me
Diga que você vai acreditar em mim

Foi com certa repulsa à luz que Hermione acordou novamente, sentindo uma pressão perto de seu diafragma que lhe deixava enjoada. A mão pálida e lanhada de Draco jazia sobre seu estômago, o corpo seminu mal tocando o dela. A garota se ergueu, desequilibrada, e correu ao banheiro, voltando a vomitar. Tudo o que acontecera depois que ela bebera o whisky parecia uma memória distante, desfocada, irreal. Ela se lembrava de ter saído com Harry e... acordara na cama de Draco? Tremendo, ela se olhou no espelho, a súbita percepção de que estava nua sob a camisa do ex-namorado. Estava pálida, abatida, torturada de cansaço e com olheiras.

Desolada, a jovem sentou-se a um canto do banheiro, forçando a mente a se lembrar. Lembrava-se de Harry... Harry levando-a para a cama, os beijos, as carícias... depois nada... e então Draco tomando-a para si, naquele quarto, o sorriso ébrio do loiro em seus lábios... Parou de lembrar. Não queria, não queria saber o que ocorrera... Era desgostoso, doentio... Ela abanou a cabeça, querendo afastar aquilo de sua mente, mas a memória parecia cada vez mais lívida, uma e outra, indo e voltando, torturando-a, envolvendo-a, sensação por sensação, sentido a sentido, a aversão crescendo como uma erva daninha, crescendo, crescendo, crescendo e brotando cada vez mais...

Draco ouviu o grito fino e apavorado da ex-namorada no banheiro. Ergueu-se de um pulo, pegou o roupão e foi vestindo-se ao aposento. Encontrou a garota deitada no chão, o corpo convulsionando no ritmo de soluços febris e as lágrimas correndo e correndo e correndo como um rio.

— Hermione, o que houve? – perguntou ele, ajoelhando-se ao lado da jovem.

— Eu estava bêbada! – Ela exasperara-se. – Bêbada, Draco, como você teve estômago para se aproveitar de mim naquela situação?! – Hermione parou por um instante por causa de um espasmo de náusea. – Como você pôde?!

— Mione, eu não fiz nada, eu não... Hermione, por favor, deixa eu explicar...

— Eu não acredito que você fez isso comigo. Como você pôde? Como?! – Ela ergueu-se e deixou que o espasmo de náusea tomasse conta de seu corpo. Draco segurou os longos cabelos castanhos enquanto a garota quase punha para fora o estômago.

— Vamos conversar, Hermione, eu não... – A consciência súbita de que ela não se lembrava de nada e talvez estivesse confundindo os tempos fez com que ele parasse a discussão. – Desculpa.

A garota ergueu a cabeça e lavou a boca na pia, fitando o ex-namorado com olhos tristes.

— A culpa foi minha... Não deveria ter ficado bêbada... – Ela baixou os olhos.

— Está tudo bem, agora. Não se preocupe. Fique aqui até... Não sei, até você melhorar.

O olhar suplicante do rapaz fez com que ela aceitasse continuar na casa. Ainda estava enjoada demais para fazer qualquer coisa, mesmo voltar para seu apartamento. Como Draco estivesse suspenso, os dois passavam algum tempo conversando e brincando com Nostradamus.

No terceiro dia depois que Hermione acordara, o loiro voltou para casa com uma caixinha de presente. Ansiosa, a garota mal pôde esperar que ele a entregasse. Quando Draco finalmente o fez, Hermione abriu-a sem hesitação. O presente pulou sobre a garota, arfando e latindo.

— É uma fêmea... – Draco sorriu. – Dam precisava de companhia, e um bichinho a mais é sempre bom.

— Sharra... – murmurou a garota, afagando o pêlo da filhote de labrador preta. – Esse é o nome dela. Sharra.

— De onde veio esse nome? – perguntou o rapaz, curioso.

— De um livro. – Ela sorriu e chamou Nostradamus. – Viu, Dam, ela é sua nova amiguinha.

O labrador olhou desconfiado para a cadelinha. Sharra deitou-se no chão, a barriga para cima, e Dam afagou-lhe a pele com a pata dianteira. A fêmea latiu e virou, pulando nas costas do labrador dourado. Sharra tinha cerca da metade do tamanho de Nostradamus, mas apenas um ano e meio a menos.

— Acho que eles se gostam – comentou Hermione, sorrindo, erguendo-se em seguida e correndo para o banheiro.

Draco levantou-se e seguiu os passos da ex-namorada, encontrando-a ajoelhada no chão, vomitando novamente.

— O que houve? – perguntou ele, assim que ela terminou.

— Não sei... Não era para eu estar assim – murmurou ela, nauseada.

— Talvez seu organismo seja muito fraco para álcool – conjecturou o rapaz, ajudando-a a erguer-se e limpar-se. – Se daqui a uma semana você não melhorar, você vai ao médico.

— Sim, senhor, capitão. – Ela sorriu.

I can't take, my heart will break
Não posso suportar, meu coração vai se quebrar
'Cause I made a stupid mistake
Porque eu cometi um erro estúpido
A stupid mistake
Um erro estúpido

O mês se passou sem mais contratempos. Hermione continuava bastante enjoada, mas não comentava com Draco, então ele nada sabia. Sharra e Nostradamus se davam muito bem, e Draco voltara a trabalhar. O conselho que presidia o Ministério convencera Harry a manter o rapaz sob seus serviços. Voltava tarde, normalmente quando Hermione já adormecera, e acordava quando ela já se levantara. Viam-se pouco, exceto aos domingos. E foi em um desses domingos que Hermione acordou mais enjoada que o normal.

— Mi, quer o quê para o café? – perguntou Draco, como fazia habitualmente.

— Só o café, Draco, por favor – pediu ela, sentando-se à mesa, a cabeça repousando nas mãos.

— Tanto faz. – Ele deu de ombros.

Hermione esperou pacientemente que o ex-namorado preparasse o café. Quando este chegou à mesa, porém, o cheiro forte da bebida embrulhou-lhe o estômago, e a cena que se repetira aquele mês inteiro voltou a acontecer.

— Mione... – começou Draco, fitando-a da porta do banheiro.

— Tá, eu sei, médico. – Ela se ergueu, lavou o rosto e se trocou. – Pronta.

A ida ao médico demorou bem pouco. Hermione chegou no consultório de um médico – quase um medibruxo – e sentou-se, esperando as habituais perguntas. O doutor, no entanto, dispensou Draco e limitou-se a questionar a garota:

— Há quanto tempo está enjoada?

— Quase um mês – murmurou ela, deprimida.

— Algo de incomum nesse meio-tempo? – O homem entrelaçou os dedos e apoiou neles o queixo.

— Fiquei bêbada, dormi com dois caras diferentes, ganhei um cachorro, nada pára no meu estômago... O que mais? Minha menstruação ainda não veio, estou com insônia, criei um vício por queimar a mão no fogão de manhã cedo... Tudo normal – completou ela, sarcástica.

— Vou pedir alguns exames... Pode ser reação alérgica, stress, ressaca, alguma infecção, gravidez...

— Como é que é? – interrompeu-o Hermione.

— Reação alérgica, stress... – recomeçou ele.

— Essa parte eu entendi, eu quero saber da última! – exasperou-se a jovem.

— Ah, sim, claro... Gravidez – repetiu ele, sorrindo. – Se você dormiu com dois caras diferentes na mesma noite e bêbada feito um cachorro, há chances. – Ele conduziu-a até a porta. – Agendaremos os exames para o mais breve possível.

Hermione atirou-se no sofá, a cabeça doendo com aquela perspectiva. Uma gravidez era tudo, mas absolutamente tudo o que ela nunca aceitaria. Draco, vendo-a abalada, perguntou-lhe o que o médico dissera.

— Nada – murmurou a garota. – Voltarei para fazer exames. Ah, Harry, se alguma coisa, qualquer coisa estiver errada comigo por sua causa ou por causa de Draco, eu mato vocês dois...

She was kind of exciting
Ela era meio excitante
A little crazy I should've known
Um tanto louca, eu deveria ter sabido
She must have altered my senses
Ela deve ter alterado meus sentidos
'Cause I offered to walk her home
Porque eu me ofereci para acompanhá-la até em casa
The situation got out of hand
A situação saiu do controle
I hope you understand
Eu espero que você entenda

[Chorus]

*~*~*~

— Você ainda não me respondeu, Harry... – murmurou a garota, magoada.

— Ah, Milla, eu estava por aí... Não se preocupe – disse ele, sorridente.

Harry atirou-se no sofá, olhando, feliz, para a namorada. A cada dia Camilla ficava mais linda. Pela primeira vez desde Hermione, ele realmente gostava de uma garota – o que não o impedia de ter suas aventuras de vez em quando. A garota sentou-se ao lado do rapaz, deitando a cabeça loura no ombro do moreno.

— Lidy me contou que você esteve com Hermione no começo do mês... – Ela suspirou e sua voz baixou. – Achei que você fosse mudar.

— Meu amor, ela não significa nada para mim – disse Harry, beijando com ternura a testa da namorada. – Foi só... Acho que eu estava com pena... Não valeu a pena.

— O problema é que nunca vale, Harry. – Ela o fitou, desconsolada. – Nunca vale, e você não muda.

— Milla, eu juro que eu paro...

— Quando? – perguntou Camilla, desamparada. – Quando eu estiver grávida? Depois que eu estiver casada? Quando eu for velha? Eu não quero perder tempo ao lado de alguém que não gosta de mim.

— Eu te amo – murmurou ele, suplicante.

— E muitas garotas já ouviram isso. – Ela suspirou. – Mas eu não irei embora, não ainda, Harry. Mais uma chance para você. Não estraga tudo.

Ela se ergueu, caminhando em passos lentos para o quarto que dividia com o namorado. Harry ficou no sofá, apenas olhando-a, até que a face séria de Camilla desdobrou-se em um sorriso, e ela chamou-o com as mãos. Gostava dele, apesar de saber que o moreno era um canalha do mais alto calão. Amava-o.

A stupid mistake
Um erro estúpido

— E como foram os exames? – perguntou Draco, preocupado.

— São só exames – respondeu a garota, sorrindo.

— E aí, o que você tem? – replicou ele, apreensivo.

— Não sei, não abri os resultados – retrucou Hermione, abrindo a porta da casa.

— Por que não? – perguntou o rapaz, entrando logo após ela.

— Quero privacidade para isso – respondeu a jovem, subindo as escadas com Dam e Sharra em seus calcanhares. Não contara para Draco tudo o que poderia estar havendo com ela.

Hermione sentou-se na cama, o envelope com os resultados dos exames firme entre seus dedos. Esfregou o olho, apreensiva, tentando adiar. Dam latiu, apressando-a.

— Não me pressiona, Nostradamus! – exclamou ela, encarando o cachorro.

O labrador dourado ganiu, e ela suspirou. Teria que abrir, não saberia viver com a dúvida. Receosa, a garota rasgou o lacre que fechava o invólucro e tirou de lá o resultado suscinto dos exames. Começou a ler, então. Negativo para reação alérgica. – Seu estômago revirou. – Negativo para ressaca. – O coração de Hermione parecia bater cada vez mais forte. – Negativo para três tipos de infecção. – E agora? Não havia muito mais possibilidades... – Positivo para stress.

Foi um alívio. A mera chance de estar grávida acabara de se esvair. Havia ainda algumas anotações no papel, mas não deviam ser importantes... Sharra pulou na cama ao lado da jovem, apoiando no ventre de Hermione a cabeça peluda. Sorrindo, aliviada, ela continuou lendo os exames.

She means nothing to me
Ela não significa nada para mim
(Nothing to me)
(Nada para mim)

Camilla revolveu-se na cama. Havia pouco mais de dois meses que estava com Harry, e ainda assim, suas saídas intempestivas perturbavam-na. Virou-se para encarar o namorado, os olhos claros esgueirando-se direto para o olhar do rapaz. O moreno acariciou-lhe a face, beijando-lhe a testa com ternura.

— Você a tem visto? – perguntou Camilla, tentado parecer firme.

— Ela não tem ido ao trabalho... – Ele suspirou. – Por Merlin, Milla, foi só uma aventurinha.

— São sempre aventurinhas... – murmurou ela, magoada.

— Eu juro que foi a última, querida... Odeio quando você me olha assim... Faz com que eu me sinta um verme.

— Você merece – replicou a garota, aconchegando-se contra ele. – Promete que nunca mais vai fazer isso? Promete mesmo?

— Prometo, sim, Milla... – Ele afagou os cabelos matizados da garota. – Você sabe que elas não significam nada para mim, e nunca significarão.

Ele fechou os olhos, sentindo que a namorada logo adormeceria. Hermione já era passado. Usara-a uma vez, e era o suficiente. Não a incomodaria mais, não valeria a pena. Ela não tinha como acusá-lo de nada. Ele não a estuprara, não a ferira, não deixara marca alguma.

Ou ao menos era o que ele pensava.


I swear every word is true
Eu juro que todas as palavras são verdadeiras
Don't wanna lose you
Não quero te perder

Draco não conseguia suportar a ausência de sons no andar superior. Fosse o que fosse que Hermione tivesse, ele pensava que deveria saber, afinal, ela estava sob sua proteção. Sem achar alternativa, o rapaz subiu as escadas e adentrou o quarto. Vazio. Foi até o banheiro, mas não havia ninguém. Procurou por todos os cômodos da casa, mas estava vazia. Assobiou, para tentar achar os filhotes, e ouviu um ganido alto vindo de debaixo da cama onde, poucos minutos antes, Hermione lera os exames.

— Ei, menina – murmurou ele, chamando Sharra, que parecia assustada. – O que foi, hein? Onde está sua mamãe?

A cadelinha ganiu novamente, tentando tirar de trás da mesa de cabeceira alguma coisa. Draco afastou o móvel e encontrou ali um pedaço de papel dobrado. Era o resultado dos exames de Hermione. O rapaz desdobrou-o, perguntando-se o que aquilo fazia jazendo tão ignorado no chão, e começou a ler:

Reação Alérgica: Negativo para os oito primeiros tipos.

Alta taxa sangüínea de álcool e sintomas de fadiga geral por ingestão de elementos alcoólicos: Negativo.

Infecção Gastrointestinal: Negativo.

Infecção Cardiovascular: Negativo.

Infecção Respiratória: Negativo.

Stress: Positivo (recomendado tratamento urgente).

Percebendo que havia mais escrito, o rapaz virou a página. Compreendeu na hora o que ocorrera ao ler o último resultado do exame:

Gravidez: 99,8% de possibilidade.

Ela fugira. E, se dependesse de si mesma, provavelmente nunca voltaria. Parecia o fim.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~* Harry/Hermione/Draco *~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Por Merlin, Morgana e todos os seres mágicos do lago, isso é uma miragem!!

Tá, eu sei que me superei dessa vez e que vocês já não estavam mais agüentando passar por aqui e ver sempre que não havia uma atualização... Mas esse capítulo foi definitivamente desgastante! Dou graças por tê-lo conseguido acabar. Enfim... Comentem... Eu me sacrifiquei por esse capítulo, apesar de e achar que ele não está tão bom quanto eu gostaria.

Outra coisinha: Vocês se deram ao trabalho de ler... Até o final... Então... Comentem, please!!

^ ^ Kisses ^ ^

P.S.: Natália, eu disse que eu terminava hoje... Viu, de vez em quando eu consigo cumprir minhas promessas literárias ^ ^

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