Ela Vai Voltar



Ela Vai Voltar (Todos os Defeitos de uma Mulher Perfeita)
Charlie Brown Jr





<>[Qualquer coisa, o midi é temperamental, tá... Insistam um pouquinho ;D]

Hermione suspirou, organizando os papéis sobre a mesa. Mais um dia de trabalho cansativo e burocrático que, graças a Merlin, logo acabaria. Fechou os olhos por um instante. A sala estava deserta, à exceção dela própria, e o vento fresco do crepúsculo bailava em seus cabelos. Teve um pensamento repentino, acompanhado de uma lágrima reprimida e um ranger de porta. Baixou a cabeça e sentiu aquele perfume inconfundível atravessando a sala em sua direção. Abriu os olhos e fitou a face dura e intensa de Draco, que lhe trouxera uma flor.

Branca, observou Hermione. Ele está disposto a perdoar.

O loiro estendeu-lhe a rosa e hesitou:

— Amigos, então? – Ele estendeu a mão à garota.

— Amigos – concordou Hermione, sorrindo e acariciando as pétalas da flor.

Minha mente nem sempre tão lúcida é fértil e me deu a voz

O pesado trinco da porta virou repentinamente. Hermione escondeu a flor sob a mesa e voltou a atenção aos papéis, escondendo também o sorriso. Draco reassumiu a postura séria que usava quando em horário de serviço e pediu à garota que analisasse o último relatório de campo. Harry entrou, sério, o cenho franzido e os olhos percorrendo um documento interdepartamental. Sentou-se à mesa – que ficava perpendicular à de Hermione, um pouco afastada, e em frente à mesa de Draco – e prosseguiu com a leitura maçante, erguendo os olhos então e deparando-se com Draco e Hermione, muito próximos, discutindo algo em voz baixa.

— O que diabos vocês estão fazendo?! – bradou o moreno.

— Analisando o último relatório de campo – respondeu o outro, tranqüilamente.

— Isso é trabalho exclusivo da senhorita Granger – retrucou Harry. – Agora queira voltar à sua mesa e concentrar-se no seu trabalho, que, segundo me consta, não é tão pouco assim.

— Preciso da análise – disse ele simplesmente.

— Então sente-se e espere! – exclamou o outro. – Ela logo a terminará.

Draco deu de ombros e voltou a discutir com Hermione sobre o quase fracasso da missão. Harry deu um soco na mesa, derrubando pergaminhos, penas e um tinteiro, que se espatifou no chão e deixou a tinta manchando o chão de mármore branca. Os dois viraram-se para ele, que exclamou:

— Não quero saber de distrações em horário de serviço!

— Ótimo – disse o loiro, impaciente, olhando de esguelha para o relógio. – Porque o horário de serviço terminou. – E, virando-se para Hermione: – Quer jantar comigo?

A garota sentiu o olhar de Harry atravessá-la. Ergueu-se, estendendo a mão para Draco, com a rosa segura na outra, e disse em voz clara:

— Adoraria.

E, segurando a mão quente e firme de Draco, ela passou por cima da tinta e saiu para a noite londrina, deixando para trás um Harry realmente furioso.

Minha mente nem sempre tão lúcida fez ela se afastar

Draco fizera reservas em um dos restaurantes preferidos da garota. O local, aconchegante e consideravelmente caro, ficava longe do centro de Londres, cercado por um campo florido e árvores esparsas e bem cuidadas. As mesas de fora, num dia de primavera como aquele, eram muito cobiçadas. O rapaz escolhera a melhor localizada.

— Como você conseguiu, Draco? – perguntou a garota, sorrindo enquanto ele puxava a cadeira para que ela se sentasse.

— É uma reserva antiga – respondeu ele, sentando-se também. – De antes de terminarmos.

Hermione baixou a cabeça, entristecida. Lembrava-se nitidamente daquele dia. Ela fora chamada para assumir um cargo no mesmo local em que Draco trabalhava,e, para evitar comentários, ela resolvera se afastar. Então, sob a acusação de que ela não mais o amava, eles haviam terminado o namoro de dois anos. O diálogo vez por outra formava-se novamente em sua mente, fresco, doído:

— Draco, por favor, não seja egoísta... – pedira ela, chorosa.

— Egoísta? – replicara ele, engolindo em seco. – Eu nunca pensei em te deixar, por qualquer coisa que fosse. Não pense que foi fácil lutar por você, Hermione.

— Eu sei, mas, por favor, tente entender – suplicara a garota, a voz tremendo. – Não quero ficar longe de você, não para sempre, eu não poderia...

— Poderia – respondera ele, frio. – Poderia viver, sim, e poderá. Terá seu trabalho, e eu também trabalho ali... Nos veremos, e você poderá suportar. Você suportou dezoito anos sem mim; pode suportar outros dezoito.

— Não agora que eu sei o que é ter você a meu lado! – exclamara ela, atirando-se ao pescoço do loiro.

— Hermione... Meu amor, perdão por isso... – Ele a beijou levemente, um beijo sem qualquer lembrança de amor, apenas um carinho, uma despedida, e desvencilhou-se dela. Com, no íntimo, uma esperança quase apagada de que ela voltasse para ele. E um mês se havia passado, e ela não parecia propensa a reatar o relacionamento.

Mas ela vai voltar (2x)

— Algo errado, Hermione? – perguntou ele, observando-a, sorrindo.

A garota negou com a cabeça. A última vez em que falara daquela maneira com Draco fora no dia anterior ao término do namoro. Ela forçou um sorriso, ao que ele lhe disse:

— Se não quer sorrir, não o faça. – Ela relaxou a musculatura num sorriso verdadeiro. – Amo seu sorriso... Seus olhos... Você, de todas as coisas e pessoas que eu perdi, é, sem dúvida, a única que eu daria tudo para ter de volta.

A garota abriu a boca para replicar, mas um garçom chegou, e Draco desviou o olhar, pedindo as bebidas. Hermione pediu algo leve para comer, e o rapaz acompanhou-a no pedido. Ela ergueu os olhos para encontrar o loiro sorrindo para ela. Antigamente, isso seria um convite a uma aproximação, mas Hermione tinha consciência de que ferira aquele ser orgulhoso e que ele não se rebaixaria a tanto em tão pouco tempo.

Ela não é o tipo de mulher que se entrega na primeira
Mas melhora na segunda e o paraíso é na terceira

O garçom chegou com o vinho logo em seguida. Era um líquido claro, com um perfume inebriante. O preferido de Hermione. Draco serviu-os, erguendo o copo em um brinde ao sucesso da garota. Ela repetiu o gesto, bebendo em seguida, o álcool relaxando-a, mesmo que em pouca quantidade. O loiro, percebendo isso, convidou-a a dançar. A comida não chegaria antes de meia hora; eles tinham tempo.

— Apenas uma música – pediu ele, carente.

Hermione sorriu, erguendo-se e indo com ele até a pista de dança, onde alguns casais já exercitavam os passos de uma dança não de todo calma. Draco conduzia-a com leveza e perfeição, os corpos não mais encostados do que o estritamente exigido pela música.

Ela tem força, ela tem sensibilidade, ela é guerreira
Ela é uma deusa, ela é mulher de verdade

As mãos firmes do rapaz apoiavam a cintura fina e suave de Hermione, que sentia o toque com uma certa saudade. Vencera tudo para chegar até aquele emprego no Ministério – que afinal mostrara não ser tudo o que ela almejara. Vencera tudo, até mesmo, pensava ela, o amor que sentia pelo loiro. Mas, ao sentir as mãos que tão bem conhecia roçando em si daquela maneira quase impessoal e extremamente apaixonada, que é própria da dança de casais, o sentimento pareceu voltar, sufocando-a aos poucos.

Draco sentia. Sabia que ela não o esquecera, bem como ele não pudera esquecê-la. Teve ganas de parar a dança, separar-se da garota, jantar e ir embora, sem deixar que seu coração sobrepujasse a razão. Não deveria deixar que nada além de um impessoal jantar entre colegas de trabalho acontecesse àquela noite.

Se eu queria que isso fosse um impessoal jantar entre colegas de trabalho, pensou ele, cético, não deveria tê-la convidado, apenas, não para esse local, não para dançar essa musica, não para tomar vinho e conversar sobre o passado.

E, pesaroso, ele compreendeu que, independente do que ele fizesse após a dança, estaria fazendo a coisa errada. O jantar nunca tivera a pretensão de ser impessoal. Ele queria Hermione de volta. Ele a queria de volta com todas as suas forças.

Ela é daquelas que tu gosta na primeira
Se apaixona na segunda e perde a linha na terceira

A música terminou, e Hermione pediu que Draco a soltasse. Absorto em seus pensamentos, ele não a ouviu. Ela pediu novamente, despertando-o.

— Mais uma, Mione – pediu o rapaz em tom de súplica.

A garota pareceu avaliar o pedido, mas, ao final, respondeu afirmativamente. A música era lenta, exigia uma aproximação maior. Draco hesitou, mas acabou fazendo o que fora ensinado a fazer. A mão esquerda envolveu a cintura de Hermione novamente, puxando-a para junto de si, sem resistência da parte dela. Ele sabia que inspirava uma confiança desregrada naquela jovem de cabelos castanhos e olhos brilhantes.

Por que ele faz isso?, perguntou-se ela, embalada pela melodia que tocava e pelo perfume entorpecente do rapaz. E por que eu cedo assim, também? Ah, meu Merlin, por que eu tive que perdê-lo...?

Draco não podia ler mentes, não a mente dela, ao menos. Era uma invasão a que ele não se queria prestar. Não podia continuar cego à apreensão e à dúvida de Hermione, tampouco.

— Algo errado? – perguntou ele novamente.

— Não... – Ela suspirou. – Apenas estava me lembrando... a noite seguinte à última vez que dançamos assim... – Ela sorriu, enrubescendo levemente.

— Eu lembro – murmurou ele, o rosto colado ao dela. – Pena que acabou...

Aquele foi o comentário que a fez perceber o quanto errara ao deixar que ele se fosse. A segunda música terminou, foi iniciada uma terceira, mas a garota mal percebeu. Tantas noites que haviam passado juntos...

Ela é discreta e cultua bons livros
E ama os animais, tá ligado eu sou o bicho

*~*~*~*Flashback*~*~*~*

Hermione sentara-se no chão rente à lareira, um livro aberto sobre o colo. Draco, sorrateiro, postara-se atrás dela, apoiando o queixo no ombro da garota.

— O que você está lendo? – perguntara ele, curioso.

— "Medo de Perder" – respondera ela, sorrindo e mostrando a capa para o rapaz.

— Ouvi falar... Dizem que é bom – comentara Draco, envolvendo a cintura da jovem.

— É, sim... Draco, não, eu quero terminar de ler isso ainda hoje...

Ela rira, os olhos lendo várias vezes as mesmas palavras, desconcentrada. Um cachorro latira do lado de fora da casa, e Draco berrara:

— Cala a boca, Nostradamus!

— Credo, Draco, não precisa gritar assim com o coitadinho! – Ela se erguera e abrira a porta, e o labrador dourado entrara no aposento, pulando e arfando, feliz.

Hermione sentara-se no mesmo local, o livro novamente aberto e pousado no colo, a mão a afagar o pêlo brilhante e sedoso do cão. Era pouco mais que um filhote, apesar do tamanho. Logo depois, o animal resvalara para um sono tranqüilo e profundo. Draco deitara-se do outro lado da garota e ganira como um filhote de cachorro.

— O que foi? – perguntara ela, confusa.

— Você fez carinho no Nostradamus quando ele pediu – replicara ele, emburrado. – Também quero.

Hermione sorrira, fechando o livro e deitando a cabeça no peito do namorado, murmurando trechos de um poema que aprendera.

*~*~*~* Flashback*~*~*~*

Minha mente nem sempre tão lúcida é fértil e me deu a voz
Minha mente nem sempre tão lúcida fez ela se afastar (2x)
Mas ela vai voltar

— "Eu fui até o céu pra te ver, até o fim do mundo pra te ter. Te roubei pra mim e fui só teu enquanto pôde ser assim. Matei, morri e sofri: matei a solidão, morreu meu lado são, sofri a dor da finita canção. Estou contigo hoje e sempre; sempre contigo, sempre em sua mente." – murmurou Draco, os olhos fechados, compenetrado.

— Como? – Hermione surpreendeu-se.

— Pensou que eu não me lembraria do poema? – perguntou ele, envolvendo-a num abraço carinhoso.

— Talvez... Como está Nostradamus? – Ela pareceu preocupada.

— Normal... Tem sentido sua falta... – Ele hesitou. – E, sabe... Ele não foi o único...

Ele roçou com os lábios os da garota, pedindo. Hermione entendeu onde o rapaz queria chegar e tratou de desvencilhar-se. Não podia ceder. Se o fizesse, acabaria com sua carreira, e com a dele. Draco suspirou e seguiu com ela até a mesa, onde ficaram conversando durante alguns minutos sobre o labrador, até o jantar chegar. Comeram em silêncio, sem muito apetite, comentando sobre assuntos triviais. Quando acabaram de jantar, ele ofereceu uma carona a ela.

— Não, não se preocupe, eu posso ir de metrô – respondeu ela, sorrindo.

— Você pode aparatar – disse ele, sorrindo também. – Mas algo me diz que o que você quer está estacionado ali na esquina.

A garota fez um gesto de negação com a cabeça, baixando os olhos e sorrindo. Draco acompanhou-a até a moto que comprara havia pouco, mais uma diversão que um meio de transporte.

— Vamos pra minha casa? – perguntou ele, pondo o capacete e observando a garota fazer o mesmo.

— Está louco? – replicou ela, rindo. – Preciso ir para casa, Draco, amanhã...

— É domingo e eu estou livre, e você também. – Ele teve uma idéia repentina. – Nostradamus sente tanto a sua falta... Por favor, pelo nosso filhote...

Hermione suspirou, vencida, e agarrou a cintura do rapaz. Usar Nostradamus como desculpa fora golpe baixo, ele sabia, mas não era uma mentira. O cachorro realmente sentia falta da dona.

Chegaram na casa gelados. Hermione tremia sob o casaco fino e Draco tinha a aparência azulada de um homem exposto à neve sem roupas adequadas. Eles abriram a porta dos fundos e Nostradamus pulou sobre os donos, arfando, lambendo a face da garota, os olhos brilhando como se sorrindo. O rapaz desviou a atenção do cachorro, brincando com ele, até conseguir que o animal deitasse no chão, esperando por carinho. Foi Hermione quem atendeu primeiro.

— Senti sua falta, Dam – murmurou ela, beijando a fronte peluda e macia do cão. Abraçou-o, sorrindo e chorando, o corpo esquentando com o calor do bichinho.

— Vou fazer um café – disse Draco, esfregando as mãos para acabar com o frio. – Já volto.

Deixa eu te levar pra ver o mundo baby
Deixa eu te mostrar o melhor que eu posso ser (2x)

Hermione entreteu-se com Nostradamus, enquanto Draco fazia o café. Trouxe uma xícara quente para a garota e tomou outra entre as mãos. Dam, como sempre, pediu, ganindo baixinho, um gole da bebida.

— Não, Dam, você não pode beber isso – disse Hermione, sorrindo.

— Nostradamus, vai dormir – falou o rapaz, impaciente.

— Você não mudou nada, Draco – comentou ela, afagando a barriga do cão.

— Em um mês? – Ele riu. – Se eu demorei anos e anos para entender que eu queria estar com você, acha que eu mudaria minha atitude em relação ao nosso filhote em apenas trinta dias?

Ela sorriu, saudosa. Aquela casa fora sua durante um ano e meio. Um ano e meio em que ela e Draco moraram sob o mesmo teto, junto a Nostradamus, simplesmente felizes. O rapaz percebeu a melancolia nos olhos da ex-namorada e enlaçou-a, confortador.

— Tem certeza de que não quer voltar a morar aqui, Mione? – perguntou ele, solícito.

— Tenho, sim – respondeu ela, suspirando. – Eu não suportaria.

Ele – Draco indicou o cão com a cabeça – ficaria muito feliz.

— Eu sei... Mas não posso.

Ela sorveu o café aos golinhos, a bebida quente dissipando o frio, aquecendo-a. O rapaz, atrás dela, já bebera o conteúdo da própria xícara.

— Por favor, fica aqui... Só essa noite.

Fazer da vida o que melhor possa ser

— Draco... – Hermione suspirou, baixando a cabeça.

— Eu juro, só essa noite – prometeu ele, suplicante. – Você dorme lá em cima; eu posso ficar com o quarto de hóspedes.

Nostradamus virou-se repentinamente, deitando a cabeça no colo da garota. Ela concordou com um aceno quase imperceptível, e Draco sorriu, radiante. Afinal, não haviam voltado; fora apenas um passo. Mas, ao menos, era um passo.

A garota subiu as escadas, o labrador em seus calcanhares, e só quando chegou no piso superior percebeu que não tinha roupa para dormir e menos ainda para ir para casa na manhã seguinte. Manifestou essa preocupação para o rapaz, que abriu-lhe o guarda-roupa do quarto de hóspedes. Ali, algumas calças jeans e camisas ainda jaziam, penduradas nos cabides. Ela virou-se para ele, incrédula, ao que Draco sorriu.

— Lamento, Hermione, mas eu não pude tirá-las daqui. Não fui forte o suficiente.

A garota chegou a achar duas ou três peças de roupa íntima no armário. Não havia pijama, mas o rapaz oferecera-se para ceder-lhe um. Ela tomou banho, vestiu-se, e, com um boa-noite carinhoso, deitou-se na cama de casal. Draco repetiu os passos dela, e estava se encaminhando para a porta do quarto de hóspedes quando ouviu que a jovem murmurava alguma coisa para Nostradamus.

— Sabe, Dam, eu ainda o amo demais... – Ela afagava as orelhas do cão, distraída. – Será que eu fiz bem me separando dele?

O labrador dourado pulou na cama, aninhando-se ao lado de Hermione, e Draco não pôde resistir ao impulso. Foi até a garota e deu-lhe um beijo suave e carinhoso nos lábios. Apenas um beijo de boa-noite, sem nenhuma súplica, nenhum convite, nada. Depois, retirou-se e deixou-se cair na cama, ainda pensando na ex-namorada.

Se ela ainda me ama, por que não volta para mim? Ah, as mulheres... Sabia que seria complicado envolver-me com essa garota temperamental... Mas, fazer o quê; eu ainda a amo, e não há nada que eu possa fazer quanto a isso... A não ser esperar.

E, seguindo essa linha de pensamento, ele adormeceu. No outro quarto, Nostradamus e Hermione também dormiam, tranqüilos.

Traçar um rumo novo em direção ao sol

Acordaram na manhã seguinte muito depois das oito horas da manhã. Hermione tropeçou e quase caiu enquanto lavava o rosto no banheiro. Draco se ergueu de um pulo e foi ver a causa do barulho.

— Estou bem – disse a garota, sorrindo. – Juro, só tropecei.

— Certas coisas não mudam... Ou talvez mudem; você não caiu dessa vez.

Ela pegou a toalha de rosto que segurava e atirou nele. O rapaz agiu como se estivesse ofendido e resolveu descer as escadas, exclamando:

— Excelente, eu hospedo a garota e ela me atira uma toalha na cara! Mas é muita falta de consideração, mesmo... Gratidão mandou lembranças, ouviu?!

Hermione riu, sabendo que era apenas brincadeira. Diga-se de passagem, fora uma brincadeira recorrente enquanto os dois ainda namoravam. Ela pegou a toalha do chão e atirou com uma pontaria inacreditável no cesto de roupa para lavar. Depois, desceu também as escadas, abriu a porta para Nostradamus e foi até a cozinha. Draco preparava o café da manhã, muito compenetrado.

— Não precisa cozinhar só porque eu estou aqui – disse ela, encostada no batente da porta.

— Não estou cozinhando – replicou ele, sem erguer os olhos. – São apenas panquecas.

— E vai ter alguma para mim? – perguntou a garota, sorrindo.

— Só um instante... – Ele virou a última panqueca com a perícia de um chef. – Voilà!

Tomaram o café enquanto conversavam sobre assuntos irrelevantes. Draco sabia cozinhar como nenhum outro; as panquecas estavam deliciosas. Após o café, a garota subiu, trocou de roupa e se despediu do rapaz.

— Você realmente precisa ir? – perguntou ele, retendo-a pelos pulsos.

— Preciso, sim, e você sabe muito bem. Ainda há os relatórios, Draco... Não é algo que se possa passar para trás.

Suspirando, ele a soltou, e Hermione aparatou. O jovem atirou-se a uma poltrona e murmurou para si mesmo:

— Complicada, esquiva, linda, teimosa... O que eu fiz para merecer isso, meu Merlin?

Me sinto muito bem
Quando vejo o pôr-do-sol

O dia passou rápido. Debruçada sobre uma pilha de papéis de caráter oficial, ela escrevia, as mãos doídas de câimbra. O relógio batera todas as horas do dia, impecavelmente, e apenas uma ou outra vez a garota se erguera. A missão fora comprometida por um movimento de esquiva de um dos aurores mais jovens, e era função dela esmiuçar a história no relatório. Já estava no quarto rolo, relatando detalhe por detalhe da manobra, os olhos cansados de tanto olhar para o pergaminho. O telefone tocou na sala, mas ela não se deu ao trabalho de atender. A pena deslizava, a tinta desenhando letras precisas, até o fatídico e glorioso ponto final. Ela se ergueu, espreguiçou-se e foi até a janela. O sol se punha, tingindo as nuvens de um vermelho muito vivo, enrubescendo a paisagem. As últimas réstias de calor atravessaram o corpo da garota, confortando-a, instigando-a a sorrir. E ela o fez.

Só pra fazer nascer a lua

— E lá se foi o sol – murmurou ele, afagando a cabeça de Nostradamus. – Como esse domingo passou rápido... O que foi uma sorte, diga-se de passagem... Amanhã eu verei-a novamente... – Ele fitou o cachorro. – Às vezes eu te invejo, Nostradamus. Ela dormiu ao seu lado. E não quer nem sentar no mesmo sofá comigo.

O labrador latiu, e Draco voltou a atenção novamente à noite que se desdobrava do lado de fora da casa. A lua, um crescente suave, prateado, iluminava a face pálida do loiro. E, como uma certeza pronunciada pelos céus, ele soube: ela voltaria.

Minha mente nem sempre tão lúcida é fértil e me deu a voz
Minha mente nem sempre tão lúcida fez ela se afastar
Mas ela vai voltar (2x)

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~* Harry/Hermione/Draco *~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Então... Primeiro capítulo... Levando em consideração o trailer, talvez ele deixe um pouco a desejar. Qualquer coisa, eu ainda editarei-o, direitinho, quando terminar a fic.

^ ^ Kisses ^ ^

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.