Estrelas Tortas



CAP 17
Estrelas Tortas







Abriu os olhos e só o que viu foi a escuridão a sua frente.

Não sabia se estava morto ou se estava vivo, mas a única certeza que tinha era que tudo lhe doía. Era difícil saber onde seu corpo estava; se estava deitado, sentado ou até mesmo flutuando. Só doía demais.

Parecia muito com a dor de receber uma Avada. Tudo tinha sido tão estranho. Num momento estava bem, como se nada mais importasse e tudo fosse uma maravilha. Mas agora era diferente, tudo estava girando e o seu corpo parecia querer se desprender aos poucos, membro por membro. A cabeça então... Estava estourando. Tanta dor só podia ser sinal de vida, pois ninguém que estivesse morto sentiria tanto.

Continuou com os olhos abertos, ou pelo menos sentia que estavam, e tudo a sua frente era um clarão que não machucava, só ofuscava. Sentia a cabeça mover-se, e num impulso gritou o nome de Voldemort.

Só podia estar louco. Chamar o nome da pessoa que quer te matar, estando naquela situação...

De repente sentiu-se quente, e muito confortável. A dor foi embora e em seu lugar veio uma vontade estranha de fechar os olhos, pensar um pouco na vida, e finalmente dormir. Um tanto estranho, mas extremamente convidativo. O corpo relaxou completamente, e quando finalmente estava por se entregar ao sono, um toque estranho passou por entre seus cabelos. Um arrepio gostoso correu sua espinha e o coração começou a bater descompassado. De novo o toque, e dessa vez mais lento e gostoso que o primeiro.

Começou a sentir que estava delirando. Que provavelmente estava caído no chão daquela câmara estranha, que guardava os corpos de Griffindor e sua esposa, e num momento de medo, se viu de cima, como num sonho, deitado no meio dos corpos sem vida. Exatamente no meio deles, ali para sempre, sem que ninguém nunca o achasse.

A dor voltou com tudo, agitou-se e resolveu que não continuaria ali deitado entre os esqueletos mutilados. Sairia dali nem que fosse a última coisa que fizesse. Força de vontade e preguiça de se levantar brigaram no seu subconsciente.

- Harry.

A parte de trás de sua cabeça latejou forte ao ouvir o seu nome.

- Harry?

De novo. Queria que aquela voz parasse de chamar seu nome, que deixasse a dor passar de uma vez por todas e nunca mais a sentisse novamente.

- Harry?

O Branco a sua frente começou a escurecer, escurecer, e quando se deu conta tudo a sua frente estava embaçado, como se uma nuvem de poeira marrom e cinza cobrissem seus olhos e não o deixassem ver nada mais que uma pequena claridade de sol. Sim era o sol! Isso queria dizer que não estava mais na câmara? Não sabia dizer ao certo. Mas a única coisa que sabia era que continuava a doer muito, e dessa vez algo pressionava o seu braço como se quisesse segurar-lhe à força. Pra que, se estava totalmente imóvel?

Em meio a toda aquela imagem embaçada, distinguiu varias cabeças ao seu redor. Comensais! , foi a primeira coisa que passou por sua cabeça, mas de repente percebeu que todas aquelas pessoas estavam de branco, e alguém muito especial lhe fazia carinho na cabeça.

Estava numa cama, deitado e imobilizado. Mexia-se freneticamente e os curandeiros e médicos a sua volta pareciam muito preocupados. Quem sabe estava a salvo, quem sabe fosse um sonho... Só saberia quando conseguisse ver mais de um palmo a sua frente sem aquelas misturas de cores que seus olhos produziam para deixá-lo louco da vida.

Foi quando viu Gina. Seu coração bateu ainda mais forte e naquele momento tudo a sua volta ficou claro. Viu um sorriso vitorioso no rosto da namorada. Por favor, não seja um sonho. Rolou os olhos ao redor, e pode ver as pessoas a sua volta, erguendo varinhas e trazendo poções coloridas por todos os lados.

Sentiu a vida, vida mesmo, daquelas que te deixa bem e que te faz querer se levantar, toma conta de seu corpo. Queria poder se mexer e tocar Gina, só uma vez, pra saber que tudo aquilo era verdade. Se ele estava mesmo em um hospital, se estava realmente vivo, e se aquela ali ao seu lado, aparentemente de pé e muita aflita, fosse mesmo ela.

- Você vai ter que sair.

Ouviu uma voz dizer. Nessa hora seus cabelos foram puxados pela mão de Gina, que estava com o rosto furioso. No que pareceu a Harry, ela devia estar se segurando ao seu cabelo para não ter que sair da sala.

- Vai ter que sair.

Repetiram mais uma vez. Queria matar esse infeliz! Ela largou as mãos de seus cabelos e com a cara mais chateada do mundo o olhou. Baixou a cabeça e depositou um beijo em sua testa.

Harry fechou os olhos para sentir melhor aquele beijo. Como se ele fosse eterno. Desejou com todas as forças que por um milagre ele finalmente dormisse, pra que o tempo passasse rápido e finalmente quando acordasse, depois daquela operação toda que estava acontecendo, ele visse Gina novamente ao seu lado.

Ela se afastou e Harry ouviu um “obrigado” se esvair pela sala. Tentou olhar por cima da cama, estender o olhar para mais longe, só para saber quem era a pessoa que o estava fazendo sofrer. Entretanto, a única coisa que conseguiu foi sentir um puxão no pescoço.

- Não! – gritou e sua voz saiu alta demais para quem estava fraco. – Gina!

Barulhos de equipamentos se chocando e pessoas conversando encheram a sala. O corpo de Gina se aproximou do seu e pegou em sua mão. Ninguém fez objeções, nem mandaram que ela fosse embora.

- Está tudo bem, Harry. Acabou. – Ela disse pertinho da orelha dele enquanto um curandeiro examinava seu peito, que por sinal, doía muito.

Harry tentou perguntar como estavam todos, tentou perguntar se Hogwarts estava segura e se Voldemort havia morrido, mas a única coisa que saia de sua boca eram baforadas de ar. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Queria falar com Gina, mas não conseguia. Queria entender tudo o que se passava, mas não entendia como uma pessoa que estava no hospital tinha conseguido acabar com Voldemort. “Acabou”. Foi isso que Gina dissera, e a conhecia muito bem para saber que ela não mentiria numa situação dessas. Podia ser que alguém o tivesse pegado.

Fechou os olhos, bem apertados, e tornou a abri-los, o mais que pôde na direção de Gina. A garota ficou assustada, olhou para o rosto de Harry tentando absorver aquela expressão confusa. A boca de Harry mexia freneticamente e seus olhos estavam arregalados.

- Ele não consegue respirar! – ela gritou e imediatamente uma varinha passou por cima de seu nariz, num movimento muito rápido.

- Não, ele está bem. Está respirando normalmente. – Alguém respondeu.

Gina apertou mais forte a mão de Harry. Vê-lo naquele estado estava fazendo seu coração se partir em mais de dois pedaços. Só se mantinha de pé para vê-lo acordar, só não estava deitada na cama – pois ardia em febre – porque não conseguia aceitar a possibilidade de não vê-lo a cada minuto.

Viu nos olhos dele que ele sentia a mesma coisa que ela. Que a amava e que queria falar alguma coisa. Talvez uma última palavra, um adeus dolorido... ou até mesmo para dizer que estava bem.

Fechou os olhos mais uma vez, e dessa vez abriu-os devagar, sem mexer a boca ou fazer cara de desespero. Uma lágrima correu pelos olhos de Harry. E como se ela soubesse ler o que os olhos dele diziam, abaixou-se e disse bem perto do seu ouvido:

- Estão todos bem. Ele está morto.

E finalmente conseguiu fechar os olhos e ficar em paz.

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Era como se uma montanha extremamente pesada tivesse sido tirada de suas costas. E se existisse algo mais pesado que isso, com certeza ela também serviria de exemplo.

Estava deitado sobre uma cama branca e alta do chão, muito confortável. E ao seu redor tudo era branco e iluminado, como se o ambiente refletisse o seu estado mental. Tinha certeza absoluta de que podia flutuar a cada momento, tal era a leveza de seus pensamentos. Estava feliz como nunca estivera. Aquilo ultrapassava todas as felicidades que tivera até a aquele momento. Já tinha passado por muita coisa boa sim, mas no fundo sabia que quando a guerra viesse por acabar, ele se sentiria muito melhor, muito mais leve e despreocupado. E convenhamos isso sim é que é alegria. Tudo agora tinha uma facilidade imensa. Quando fazia planos, não pensava mais nos perigos. Quando pensava nos perigos... via que eles eram muito menores que os anteriores, e isso o fazia rir a toda hora, como uma pessoa apaixonada normalmente faz.

Era no mínimo irônico; era na média impossível. Mas era exatamente o que os jornais diziam: “ Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado morre como um trouxa pelas mãos de Harry Potter”, ou até mesmo aquele outro título, que, para a surpresa de Harry, o intitulava de “ O Menino Que Sobreviveu De Novo”.

O que os jornais não sabiam, era que Harry havia recebido duas Avadas na luta com Voldemort, e por causa disso, Fred e Jorge insistiam em chamá-lo de “Menino que sobreviveu de novo e de novo”.

- É uma pena que você não estivesse acordado no dia que a notícia vazou. Fizemos uma festa de arromba no Beco Diagonal! – Fred dizia feliz, enquanto Jorge se segurava para não interromper o irmão e contar a sua versão da história. – No dia seguinte tiveram que recrutar bruxos em massa para apagar a memória dos trouxas que viram os foguetes e as pessoas que insistiam em comemorar onde não deviam.

- Inclusive nós – interrompeu Jorge – voamos de vassoura por um bom pedaço de Londres, rindo das caras de horror dos trouxas!

- E foram presos por isso! – Disse Rony, que parecia respirar mais levemente depois de todos aqueles anos. Sentiu que provavelmente deveria estar como o amigo.

- Ah sim nós fomos! – Fred disse feliz da vida. – Encontramos o Olívio lá, e depois de umas duas horas até organizamos uma festinha na prisão.

- Vocês foram para Askaban? – Harry perguntou preocupado.

- Que é isso Harry! Você acha mesmo que isso iria acontecer? Nós fomos mandados para uma pequena cadeia bruxa nos subúrbios de Londres. Um lugar meio sujo... – e acrescentou – mas muito alegre!

Queria mesmo estar acordado para ver tudo aquilo. Provavelmente também seria preso, pois não recusaria de jeito nenhum um vôo com os gêmeos Weasley. De quebra levaria Gina, Rony e Hermione, só pra curtir um pouco mais.

Segundo Hermione, Harry havia ficado duas semanas em coma total encima daquela cama de hospital. Devia ser por isso que seus braços estavam marcados, vermelhos e em alguns pontos até pretos. Os médicos disseram que se Harry tivesse sido socorrido por uma médica trouxa, certamente morreria.

Tinha no peito duas cicatrizes enormes, produtos dos Avadas de Voldemort, os joelhos ainda estavam machucados, e suas costelas doíam como nunca. Tinha quebrado duas delas, nada grave, mas que demorava em ser concertado.

Não conseguia parar de pensar em como tudo havia sido estranho. Ele havia se machucado muito, mas por causa de dois feitiços fortes proferidos pelo segundo maior bruxo de todos os tempos – Dumbledore não perdera sua primeira posição. E mesmo assim, mesmo recebendo dois ataques que para qualquer um seria mortal, ele continuava vivo, como se tivesse sofrido um acidente de carro ou algo parecido.

Voldemort por sua vez, havia virado história de vez. Só apareceria nos livros e nunca mais tornaria a fazê-lo sofrer. E por que tinha tanta certeza disso? Simples.

Um pouco antes das visitas chegarem para vê-lo depois de acordado, foi caminhando com dificuldade até o banheiro. E para sua grande surpresa, alem de uma cara absolutamente cansada e pálida, aquilo que pensou que carregaria por toda uma vida, como uma marca para se lembra do passado, tinha sumido completamente. Nem mesmo um arranhãozinho. Nada. Seu rosto estava todo marcado e alguns arranhões lhe percorriam o rosto de fora a fora, entretanto, ela não estava mais lá.

- Onde está a minha cicatriz? – Chamou, segurando a testa como se essa fosse explodir de repente por causa da falta daquele sinal familiar. – Onde está? – Até virou um pouco a cabeça para olhar-se no espelho, mas depois percebeu que aquilo era totalmente desnecessário e completamente idiota. A cicatriz não mudaria de posição.

- Ela sumiu. – O enfermeiro respondeu tão calmo que Harry teve vontade de lhe dar um chute no traseiro para que se motivasse um pouco ou para que entendesse a sua surpresa diante do ocorrido.

- Eu sei que ela sumiu! – disse contrariado pela face harmoniosa da pessoa à sua frente, podia jurar que ele estava achando aquilo tudo muito divertido. - Eu quero saber o porquê!

- Harry Potter – ele enfatizou o nome e Harry teve vontade de rir da cara do enfermeiro. Por um momento imaginou Fred e Jorge aprontando uma com ele. Parecia-se muito com um pato anormalmente grande e desengonçado. Além de aparentar ter uma batata na goela, tal era a dificuldade para falar. – Existem casos de cicatrizes que somem quando a pessoa que a provocou vem a falecer. – Falou como se uma pessoa sem muita importância tivesse morrido. – Sua cicatriz já havia desaparecido quando veio para este hospital. Não sei lhe dizer o porquê disso. Desculpe-me.

- Não foi nada. – Sentiu-se constrangido por ser tão grosso com pessoas lerdas. Cada um tinha um jeito de ser, e Harry sabia que tinha que mudar um pouco esse seu lado resmungão. – Obrigado.

Desde aquele momento não parava de se olhar no espelho. Achava-se tão esquisito e tão diferente do que era antes. Aparentava estar mais novo, não só pela felicidade que estava sentindo, mas também por aquela marca que finalmente tinha ido embora.

Aquilo parecia um sinal que marcava o final de uma era negra em sua vida, onde só os seus amigos lhe traziam paz ao espírito. Tudo de ruim estava pra trás. O perigo eminente, Voldemort, a cicatriz, a tristeza. Afinal, todos estavam bem, Hogwarts estava a salvo e a espera de sua melhoria...

- Não acredito que Hogwarts não abriu por minha causa! – Harry exclamou, e no fundo se sentia lisonjeado e extremamente empolgado. Pelo menos não perderia nem um minuto de Hogwarts e não teria que estudar matérias atrasadas.

- Você achou mesmo que a Minerva abriria a escola sem você lá? – Rony disse sorridente. Hermione estava ao seu lado, enlaçando um braço pela cintura de Rony.

- Ela até deu uma entrevista dizendo que só abrirá a escola quando você colocar o pé no Expresso de Hogwarts. Várias pessoas ficaram bravas com essa atitude, mas os jornais adoraram a novidade. Quanto mais assunto polêmico melhor!

- E bota coisa polêmica nisso tudo! – Fred se pronunciou. – O Ministério está enlouquecendo desde que você destruiu Você-Sabe-Quem. Pessoas voando por aí, soltando luzes pra tudo o que é lado, fazendo magia a torto e a direito na frente dos trouxas.

- E nós nunca vendemos tanto também – Jorge formou um sorriso travesso no rosto. – A “Adaga de Harry Potter” tem vendido bastante.

- E o bonequinho de Voldemort se estrebuchando também fez o maior sucesso. – Acrescentou Fred.

Não deixou de achar aquilo tudo muito engraçado. Com certeza compraria os artigos de Fred e Jorge, mas não sabia ao certo se queria lembrar de tudo aquilo que tinha passado. Ainda não entendia muita coisa.

- Como vocês me acharam? – perguntou enterrando as mãos num pacote de feijõezinhos de todos os sabores.

- A magia do esconderijo de desmanchou de repente.

- Provavelmente depois que você matou Voldemort. – Hermione completou o que Rony dissera. – Aquilo era magia muito poderosa Harry. Eu e Draco entramos na fortaleza e fomos transportados para fora com uma rajada de vento muito forte. Nem chegamos a dar o sinal para entrarem. Aquele sinal não foi mandado por nós. Quase tive um treco quando vi aquele feitiço subindo aos céus.

- Então foi tudo um plano? – Harry perguntou novamente.

- Um plano pra te deixar sozinho lá dentro. – Disse Rony. – Eu atravessei a porta naquela hora e caí no meio da batalha, totalmente desprevenido. Não sei como não morri de susto na hora.

- E o Malfoy?

- O Malfoy tentou lutar contra Greyback depois que fomos levados pra fora. – Hermione soltou um suspiro leve e infeliz pela boca entreaberta. – Bom... ele está no andar de cima agora... – Disse olhando para o teto. – Na sessão de ferimentos irreversíveis.

- Irreversíveis?

- É... ele foi mordido, então você já deve saber o resto... – ela falou e abraçou Rony apertado, como para assegurar que ele estava seguro agora.

- Mas ele não fez nenhuma bobagem, não é?

- Claro que não. Fez tudo como planejado. – Harry se sentiu mais aliviado em saber.

- E a adaga? – Gina falou de repente e Harry sentiu seu coração saltar. Era muito bom ouvir a sua voz novamente.

- A adaga está no ministério, juntamente com o anel...

- O anel? – Harry interrompeu Hermione. – Também conseguiram pegar o anel?

- Sim. Foi pego junto com o corpo de Voldemort.

- E como ele estava?

- O anel?

- Não! O Voldemort! –falou impaciente.

- Não me deixaram ver, é claro. Lupin chegou até o lugar onde você estava naquela noite. Um tipo de câmara que guardava os restos de Godric Griffindor e da sua esposa. Acharam ele caído ao seu lado, com a Adaga enterrada no peito. Não tenho muita certeza do que vou falar agora, mas acho que depois de todos os horcruxes destruídos, ele provavelmente ficou mais fraco... – Hermione parou para pensar e voltou a conversa. – Vou começar a estudar mais sobre isso.

- Eu ouvi a voz da minha mãe – disse sem pensar. – E a sua também. – SE dirigiu a Gina, que só fazia acariciar o seu cabelo.

Ela estava bem diferente do dia em que havia acordado pela primeira vez. Naquele dia estava abatida e levemente pálida, produto de uma febre alta que disse ter depois que Harry ficou mais de uma semana no hospital. Disse que não havia um dia em que não estivesse no hospital para vê-lo. Muitas vezes a expulsavam de lá, dizendo que ele iria sobreviver sem visitas. Oras! Como se a presença dela não fizesse diferença. Fazia... e fazia muito.

- A minha voz? – Gina parou de fazer carinho e se apoio na cama para mais junto de Harry.

- Quando eu estava morrendo... eu ouvi uma voz, que parecia com a da minha mãe, me dizendo pra não desistir e pra não me deixar morrer. Logo depois eu ouvi a sua voz... Seguida de uma dor muito forte onde estava o amuleto que você fez. Acho que foi isso que me manteve vivo.

Os olhos de Gina se encheram de lágrimas e de felicidade. Harry não queria que ela chorasse, mas para ele aquilo também estava sendo muito difícil. Gostava muito dela, tanto que chegava a doer. E pensar que ela tinha sido o motivo por ele estar vivo... Isso era a melhor coisa do mundo.

- Eu disse que eu voltaria pra você. E você acabou por me tirar da morte.

Ficaram todos em silêncio. Como se aquilo tudo fosse um espetáculo muito lindo que não pudesse ser interrompido de jeito nenhum.

Por fim, quem já era de se esperar, veio por quebrar o silêncio:

- O ambiente ficou doce demais por aqui, me desculpem ser tão sincero... Mas eu acho que eu vou indo sabe – disse Jorge jogando os cabelos para trás e olhando os ponteiros do relógio. – A loja tem que abrir a qualquer minuto...

- E nós não queremos ter o risco de pegar alguma diabete ou algo parecido... – acrescentou Fred.

- Voltamos hoje à tarde com alguma comida, cara. – Disse Rony.

- E jornais e livros para estudar – disse Hermione e no mesmo momento todos os rostos se viraram para ela com um olhar de incredulidade. – Vamos! O Harry tem que se preparar para o final do sexto ano! Estamos quase chegando aos NIEM’s!

- Os NIEM’s são no sétimo Hermione.

- E daí? – ela respondeu brava e Jorge só soltou uma risadinha tosca.

- Até logo então Harry! – disse Jorge sem olhar para Hermione nos olhos. - Que as pulgas de mil camelos infestem o meio das pernas da pessoa que arruinar
seu dia, e que os braços dessa pessoa sejam curtos demais pra se coçar...

- Melhora logo, ta? – Gina se abaixou e lhe deu um beijo demorado e que lhe tirou um pouco das forças.

Quando se soltaram, não havia mais ninguém na sala a não ser eles.
- Se você continuar a cuidar de mim assim... eu vou querer ficar mais um pouco aqui nessa cama sabe...

- Se você fizer isso eu vou chamar o Monstro pra cuidar de você. – Ela disse brincalhona.

- Retiro o que disse. Sabe Gina... as vezes eu acho que você nasceu pra me salvar... eu andei pensando sobre isso. Você acha que é bobagem?

- Não... – ela disse séria, mas depois tomou um sorriso no rosto e acrescentou: - Mas é muita sorte... pois eu fui a última de sete filhos.

- Mais vale chegar atrasado neste mundo do que adiantado no outro... – Gina sorriu pela observação.

- Você vai ficar bem?

- Se ficar melhor estraga.

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De tão bom que a coisa estava, começou por estragar aos poucos...

Harry chegou até a pensar que aquilo era normal, uma coisa do acaso e que agüentaria na marra, como muita gente faz. Mas como não tinha o costume de lidar com aquele tipo de pessoa, acabou por se irritar profundamente.

Tudo começou quando saiu finalmente do hospital. Estava magro e ainda meio doído, mas nada que lhe tirasse um sorriso largo do rosto. Havia decidido ficar no beco diagonal, e mais especificamente no Caldeirão Furado. Não que aquele lugar fosse bom de se ficar, mas era onde havia menos pessoas chatas e desconhecidos intrometidos.

Sim... Chatos. Muitos muitos muitos, e se pudesse falar mais muitos com certeza falaria. As pessoas estavam tão chatas que Harry até formulara uma tese em sua cabeça.

Você é chato? Nunca saberá. O chato não se sabe como tal, ou melhor, sabe sim, mas sempre tem a esperança de sair da categoria e ser aceito como não-chato. Por isso, chateia todo mundo. O chato é antes de tudo um carente.

- Ele precisa falar com você, se não o dia dele não é completo – disse Rony depois de uma visita ao Beco. – Ele está lá embaixo repassando tudo o que você disse.

Esse infeliz era o seu visinho. E não pergunte o nome porque Harry nem se deu ao trabalho de perguntar. Pessoas chatas existiam por todos os lados, mas não tinha noção de como a fama os atraia para mais perto.

Segundo Rony, o chato é, antes de tudo, um carente. Ele vive do sangue dos outros, do ar dos outros, o chato precisa de você para viver.

- Use óculos escuros. – Disse Hermione transformando os óculos de grau de Harry em óculos de sol. – Ele fica desorientado quando não vê teus olhos. Pra resumir, essas pessoas adoram ver o próprio rosto refletido em teus olhos desesperados. Com você de óculos, ele desiste e vai embora. Não dê resmungão e nem xingamentos. Ele vai grudar mais ainda em você se fizer isso.

- Então eu tenho que ser simpático com ele? – Perguntou Harry, já sem muita paciência.

- Não adianta fingir simpatia na esperança que ele parta. Não há solução. Também não reclame por que você que escolheu vir pra cá!

Outra coisa que incomodava eram os repórteres. Vinha de todo lado, surgiam de detrás das mesas e aparatavam as suas costas quando estava tomando sorvete ou olhando as vitrines. Mas o que mais deixava Harry envergonhado, tão envergonhado que tinha vontade de aparatar e não aparecer nunca mais era o chato da foto: “posso tirar uma foto com você?”. Pronto. Lá está Harry na rua, abraçado a um idiota de bigode, com todo mundo olhando. Flash E o cara some em um segundo, com um rápido “obrigado”. Enquanto isso uma fila de outras pessoas já vai se juntando para tirar uma casquinha.

- Amanha é um novo dia Harry. Vamos pra Hogwarts novamente. Terminar o ano letivo e passar de ano como sempre fazemos. E dessa vez eu te aposto como tudo vai ser melhor – disse Gina antes de seguir para casa com Rony e Hermione. – Por que você não vem com a gente? – ela perguntou pela milésima vez.

Harry tinha a esperança de achar algum lugar para passar as próximas férias. Algo que pudesse chamar de casa. Mas sabia que aquilo deveria ficar em segredo por um tempo. Queria fazer uma surpresa para Gina, e, além disso, as paredes costumavam ter ouvidos. Todas as paredes de todos os lugares. Não via a hora de dar mais uma passada em sua futura casa e depois seguir para o Expresso de Hogwarts.

- Eu te conto quando chegarmos a Hogwarts.

E por um milagre aquele dia amanheceu muito lindo, uma típica manhã de primavera que dava vontade de sair para rua e ficar caminhando a manhã inteira.

Seguiu ele mesmo, recusando a ajuda do ministério e de quem quer que fosse. Queria fazer as coisas sozinhas agora. Já estava cansado daquela super-proteção que sempre teve ao seu redor. Das pessoas o olhando como se o que estivessem vendo trouxesse muito perigo e fosse extremamente valioso.

Seguiu para o Expresso de Hogwarts. Sentia-se dono de si mesmo e totalmente independente. Parou na frente da plataforma e olhando para os lados passou correndo por ela, aparecendo um segundo depois do outro lado, onde vários alunos estavam conversando felizes e se despedindo de seus entes.

- Harry! – ouviu uma voz chamar, e ao se virar deu de cara com o antigo professor de poções: Slugorn.

- Ah olá professor! – estava muito feliz de vê-lo novamente. Havia até esquecido de perguntar o que havia sido feito do professor, e sentiu-se culpado por não ter lembrado daquela pessoinha que tanto o ajudara com as suas informações. – Vai dar aula este ano, não vai? – perguntou com um sorriso forçado no rosto. O professor pareceu muito feliz com o gesto.

- Sim sim fui convidado para dar as últimas aulas desse ano. Mas sinto em dizer que quando você for para o sétimo ano, não serei mais o seu professor.

- Mas por quê?

- É exatamente sobre isso que vim lhe falar – Slug olhou desconfiado para os lados e chamou Harry para mais junto de um banco vazio, e o fez sentar.

- Aconteceu alguma coisa? – Harry perguntou preocupado.

- Aconteceu... – ele pareceu muito envergonhado de repente. – Você destruiu o colar do Escorpião, não é? Você e a menina Weasley.

- Sim fomos nós.

- É por esse motivo que não vou mais dar aulas. Vou voltar pra casa... e tentar reconquistar a minha antiga paixão que não consegui recuperar.

Harry sentiu sua boca abrir levemente em uma expressão de total surpresa. Não sabia por onde começar a falar.

- Você é o R.A.B? – foi só o que conseguiu falar.

- Não. Rachel Abigail Burnes é o R.A.B. Minha antiga parceira.

- E você não conseguiu voltar a amá-la?

- Na verdade ela não acreditou que eu conseguisse faze-lo. E acabou por me deixar depois de um ano. Estava cansada de esperar.

- Sinto muito.

- Não sinta. Você e Gina me deram um novo motivo para viver. Não precisa sentir nada. Eu magoei muito uma pessoa e já hora de voltar.

- Magoamos sempre aqueles que amamos.

- O que queres dizer é que magoamos sempre aqueles de quem temos pena. – Disse Slugorn e Harry quase achou que ele estava certo, mas decidiu ficar calado.

- O homem está sempre disposto a negar tudo àquilo que não compreende. Talvez algo ruim acontecesse se ela continuasse ao seu lado. Talvez não tivesse conseguido sobreviver. Poderíamos não estar aqui hoje.

- Sabe Harry... Hoje é um ótimo dia para se morrer. – Ele disse olhando para cima, sonhador, caindo na gargalhada logo depois. – Não me dê ouvidos. Estou velho demais...

- Se está velho demais, por que não vai atrás dela agora? Ao invés de ficar e esperar terminar o ano letivo?

- Não posso fazer isso com Minerva... não me perdoaria nunca.

- Se é o que você acha! – disse Harry com aquela sua voz estranha, que deixava qualquer um em questionamento.

Slugorn olhou para ele e depois contemplou o céu, a espera de um sinal ou algo que o ajudasse a escolher o caminho que deveria tomar. Um instante depois o trem soltou um apito forte, anunciando que logo partiria, fazendo o professor saltar da cadeira assustado.

- Acho que eu já vou indo. – Harry se levantou e apertou a mão de Slugorn. Este se levantou de súbito, olhou para os lados e respirou fundo.

- Vão conseguir outro professor? – ele perguntou, e parecia uma criança perguntando algo muito complicado a uma mãe.

- Em menos de um dia.

Slug passou as mãos pela testa e fungou antes de conjurar malas ao seu lado.

Tudo havia acontecido tão rápido que Harry nem se lembrava tanto de R.A.B. Parecia-lhe algo que ficaria para o passado, um ponto de interrogação que seria desvendado por algum desavisado por aí. Mas pensando por um lado, toda aquela história parecia fazer o maior sentido. Quem melhor para destruir os horcruxes do que a própria pessoa que tinha entregado a verdade sobre eles para Voldemort?

Um orgulho imenso tomou conta do seu coração ao contemplar o rosto contorcido em expectativa do professor. Um grande homem. Por mais fraco que fosse por bebidas, comidas e coisas matérias, lá dentro ele tinha guardado uma grande, muito grande coragem. Queria fazer algo por aquele homem gordinho a sua frente. Faze-lo parar de suar e olhar para os lados freneticamente. Dizer-lhe que devia partir antes que fosse tarde demais. Era o que Dumbledore faria. - Disse a si mesmo.

- Se vai partir, certifique-se de que é mesmo aquilo que você quer.

O professor virou o rosto para Harry tão rápido que um estralo se pode ouvir. Enxugou o suor da testa e olhou demoradamente para o Expresso de Hogwarts, ao qual, a principio embarcaria em direção a Hogwarts.

- Você não devia dizer-me para ficar? – ele disse se dirigindo a Harry, sem tirar os olhos do Expresso.

- Não sou teu pai. Sou teu amigo.


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Entrou no Expresso de Hogwarts e caminhou pelos corredores estreitos dos vagões até conseguir ouvir uma risada vinda da última cabine à esquerda. Seguiu feliz até lá e abriu a porta, vendo Rony, Hermione e Gina sentados, rindo de algo que parecia muito engraçado.

- Estou vendo que cheguei atrasado para a diversão mais uma vez. – Disse se sentando e dando um beijo em Gina.

- Gina fez o nariz de Neville desaparecer e não sabia como fazê-lo voltar. Ele saiu correndo da cabine agora a pouco. – Disse Hermione misturando desaprovação e diversão num sorriso que forçava para desfazer.

- Sabe que eu gostei do efeito...

Harry estava louco para contar a novidade sobre o R.AB. Mas achou que não valia pena estragar com aquela felicidade toda.

- E o Malfoy, que está com a cabeça raspada! – Rony disse e bateu forte com a mão na perna, se segurando de tanto rir. – Parece um rato pelado.

Hermione ficou séria de repente e ela e Gina se olharam misteriosamente.

- Bem que você gostava do seu antigo ratinho pelado, não é Rony? – Gina soltou e Hermione escondeu uma risada com uma tossida fingida.

- Por que Malfoy raspou a cabeça? – Harry quis saber.

- Ele teve que fazer várias operações graves, e por isso tiveram que raspar a cabeça dele. Você também teve que raspar, mas por algum motivo que ninguém soube explicar, tudo voltou no dia seguinte.

- E ele está no trem hoje?

- Infelizmente – respondeu Rony remexendo em uma mala pequeninha que trazia ao seu lado.

- Rony não gosta de Draco – Gina disse sem mais nem menos. – Ele acha que ele gosta de Hermione...

- Eu não acho isso! – Rony soltou as mãos rapidamente da mala e apontou um dedo furioso na direção de Gina.

- Ah acha sim – dessa vez foi Hermione quem se pronunciou. – Sabe o que é Harry... – ela olhou divertida para Rony. – Ele me defendeu de Greyback na luta, e hoje antes de entrarmos no trem – ela parou e fez uma careta fingindo surpresa – ele me deu um oi!!!

E como se fosse coisa arranjada, Draco apareceu na porta da cabine. Com aquele antigo sorriso convencido que sempre pairava seu rosto. Se não estivesse careca daquele jeito, podia jurar que tinha voltado uns anos atrás e vivenciava aquelas desagradáveis visitas que o sonserino sempre fazia a sua cabine, só pra encher o saco.

- Falando de mim. – Ele disse se dirigindo a Hermione. E por um segundo Harry achou que Rony podia estar certo. Mas vendo pelo rosto de Hermione, ela nem sequer se dava conta daquilo, e da parte dela, Harry sabia que nada viria. Draco parecia resplandecer certa admiração por ela quando a olhava, mas nada que passasse disso.

- Estávamos falando do seu novo corte de cabelo – disse Gina olhando para Rony.

- Dizem que cresce ainda mais bonito que antes quando se corta! – ele disse passando a mão pela cabeça nua. – Imaginem só!

- Não sei não, algo me diz que não vai crescer tanto assim. Melhor, algo me diz que nunca mais vai voltar, e se voltar, vai vir pintado de rosa. – Rony disse com um sorriso travesso no rosto.

Draco tirou um gorro verde do bolso e colocou na cabeça em sinal de desavença, olhou sem muita cerimônia para Rony e deu de ombros. Rony levantou e pegou o gorro da cabeça de Draco e jogou nas mãos de Harry. Draco soltou uma exclamação de raiva e foi na direção de Harry, que na mesma hora jogou o gorro para Rony, rindo da brincadeira boba do amigo.

- Devolve pra ele, cara. – Draco bufava ao seu lado.

- Claro devolvo. Mas com uma condição. – Hermione cruzou os braços e se sentou mais para o canto, perto da janela, brava. Rony só olhou para ela e deu uma piscadela discreta e voltou seu rosto para Draco. – Quer fazer uma aposta? Se você ganhar, fica com o gorro, se eu ganhar, você vai até o banheiro e dá descarga nele, e não usa mais nenhum gorro por um mês.

Draco entrou mais para dentro da cabine e sentou-se ao lado de Hermione, o que deixou Rony vermelho de raiva, mas quando se sentou, cruzou os braços e soltou um suspiro longo. Harry desconfiava que ele tivesse ouvido toda a conversa de antes e estava ali só para provocar Rony.

- Então ta... – disse com desconfiança. – Qual é a posta?

Harry e Gina se aproximaram mais da dupla. Hermione observava de canto.

- Só que é uma aposta em que o cara tem que ser bom em matemática – advertiu Rony.

A boca de Draco ficou escancarada de desprezo.

- Olha quem fala! Sempre fui ótimo em matemática!

- Topa ou não topa? – desafiou Rony, guardando o gorro verde no bolso de trás.

- Já topei! – disse, e era visível que estava se divertindo bastante com aquilo tudo. – Mas se você perder, vai ter que rapar a cabeça também.

Hermione ficou branca de repente, e quando Rony disse que aceitava, ela se afastou da janela e se espremeu pra mais perto da roda que se formara. Ficou quieta, com as mãos juntas fazendo uma prece.

Rony pediu um pedaço de papel e um lápis, entregou-os a Draco e virou-se de costas para ele.

- Escreva aí um número de três dígitos – disse. – Eu fico aqui, sem ver.

Draco escreveu: 451

- Agora – continuou paciente – escreva o mesmo número invertido e faça a subtração, mas atenção! O resultado tem que ser positivo.

- Como, positivo?

- Por exemplo. Não pode ser o resultado de 208 menos 802. Não dá pra tirar 802 laranjas de uma árvore que só tem 208. Tem que ser sempre o número maior menos o menor.

- Tudo bem – disse Draco e escreveu: 451-154=297

- E aí? – perguntou Rony. – Chegou ao resultado?

- Já – respondeu Draco dobrando o papel.

- Se você me disser o primeiro ou o último número, eu adivinho o número inteiro.

- Duvido – Draco sorriu.

- Fala o número, pô!

- O primeiro é dois.

- DOIS! – disse Rony com uma cara de tremendo esforço mental. Franziu a testa, começou a fazer contas no ar. Colocou as duas mãos na cabeça e berrou:

- 297!

Draco arregalou os olhos. Todos, até Hermione, quiseram olhar o número escrito no papelzinho. Havia acertado na mosca!

- Você olhou! – gritou o outro inconformado. – Não pode ser!

- Olhei o quê! – disse sorrindo Rony. E disse mais: - Tudo bem. A boneca careca não precisa chorar. Se quiser pode tentar outra vez. Vou dar mais uma colher de chá.

Draco, agora com o papel colado no rosto, escreveu 901. Inverteu para 109 e fez a subtração. Falou o último número do resultado – 2 – e dobrou o papel muito bem dobrado.

Rony se concentrou. Andou em círculos. Agachou-se e pegou um lápis no chão como se estivesse fazendo cálculos terríveis. Fechou os olhos com o rosto enrugado. De repente, saltou para cima do banco e apontando o dedo para o rosto de Malfoy disse:

-792!

Draco estava abismado. Não era possível! Rony tinha acertado de novo. Com raiva, Draco pegou o lápis e o papel da mão e jogou no chão, com raiva.

- Como você fez isso? – quis saber mal-humorado.

- É que eu sei ler mão – respondeu com a cara mais séria do mundo. Harry sentiu Gina o cutucar e quando a olhou, esta estava segurando a risada.

- Ler mão? – Draco olhou de Rony, que estava extremamente sério, para Hermione que parecia mais confusa que ele. – O que uma coisa tem a haver com a outra?

- TUDO! Quer ver? Dá a sua mão aqui e abre – disse segurando as mãos de Draco com as duas mãos. Teve que puxa-las com força para que Draco não as tirasse, pois parecia muito desconfiado de tudo aquilo. Como ninguém parecia saber o que ia acontecer em seguida, Draco resolveu que não teria problema nenhum. Harry ficou surpreendido com a cara séria de Gina quando Draco perguntou com o olhar o que tudo aquilo significava. Ela sabia mentir muito, muito bem.

Rony começou a examinar as linhas da mão de Draco. Explicou qual era a linha da cabeça. Mostrou a do amor e a do destino.

- Cacilda! – murmurou de repente, com cara de quem não podia acreditar no que estava vendo.

- Que foi? – perguntou o outro, tentando tirar as mãos, mas Rony não deixava de jeito nenhum. Gina apertou as mãos na de Harry e soltou uma risadinha muito baixa.

- Vejo água... sim... – disse em profunda concentração. – Vejo... um lago... nossa! Vejo um lago em seu destino!

- Um lago?

Foi quando Rony deixou escorrer da boca um cuspe enorme, enchendo a palma da mão de Draco.

A gargalhada foi geral.

Até Hermione se segurava nos bancos e ria sem parar. Enquanto Draco, aflito, limpava a mão na calça e os outros se equilibravam nos bancos de tanto rir, Rony catou o gorro no bolso e jogou-o para Malfoy.

Draco se levantou e pegou o gorro verde na mão, furioso, procurou a varinha no bolso, e quando parecia que a tinha achado, Rony saltou do banco e saiu escorregando pela porta da cabine. Draco foi atrás sem pestanejar, balançando a varinha de um lado para o outro.

- Eu vou atrás – Hermione disse saindo da cabine, ainda rindo.

- Nós já devemos estar chegando a Hogwarts – disse Gina, se levantando do banco e se dirigindo até a janela da cabine. Lá fora uma lua muito amarela enfeitava o céu negro, e as estrelas ao redor davam um toque mais mágico a tudo aquilo.

Harry se aproximou dela e a abraçou por trás, olhando para o céu assim como ela fazia.

- Você acha que eles vão ficar bem? –Gina perguntou de repente.

- Eles quem?

- O Malfoy e o besta do meu irmão.

- Ah vão sim! Acho até que isso vai virar amizade um dia – Gina só deu de ombros e não descolou os olhos da paisagem lá fora.

- Ele mudou muito não é? O Malfoy...

- Uma coisa que eu aprendi, é que o coração tem razões que a razão desconhece... Talvez nunca saibamos o que impulsionou ele a mudar. Ele me disse sob o efeito do veritasserum que mudar era como morrer...

- A vida é feita de mudança. Quem não muda, paralisa.

- Você está certa.

- Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado. É assim que perdemos pessoas especiais...

- E o Malfoy é uma delas?

- Acho que sim... Afinal, ele salvou a Hermione. E indiretamente, ele salvou a todos nós.

- No fundo ele tinha problemas enormes, assim como nós tivemos. E vamos continuar tendo, enquanto ainda existirem pessoas malucas que sigam os ensinamentos de Voldemort.

- Mas nós vamos estar lá pra ajudar.

- Vamos – ele enfatizou.

Naquela noite, depois que desceram do Expresso e viram Hogwarts de longe, Harry, Rony, Hermione e Gina pararam um ao lado do outro e contemplaram o castelo de longe. Parecia ainda maior e mais lindo do que nunca. Devia estar mesmo, pensou Harry. Todos olharam para o céu cheio de estrelas. De repente, Harry se lembrou de uma aula que tivera, quando olhando para o telescópio, podia ver as estrelas mais de perto. De longe, elas pareciam iguais, mas, chegando perto, achou as diferenças de cada uma. Eram todas diferentes. Uma era muito mais brilhante que a outra, em outra faltava um pedaço, uma era meio apagada, outra era meio torta...

Estrelas, estrelas, estrelas! Pensou muito nelas nesse curto período de tempo que mais pareciam anos. Tinha ficado cerca de um mês fora de Hogwarts, um pouco mais, mas mesmo assim queria voltar de qualquer jeito, o mais rápido possível, e agora que chegava ali, sentia que o tempo era curto demais.

Talvez nunca soubesse se as estrelas estavam certas. Se elas tinham dito realmente que tudo daria certo... só sabia que gostava delas. E não parecia ser o único. Hermione e Rony se beijavam em silêncio ao seu lado, como o casal apaixonado que eram.

Estavam em casa. Sob um teto de estrelas brilhantes e reconfortantes. Ao lado das pessoas que amavam.

Olhou ao redor e viu os rostos dos seus antigos colegas passando. Todos felizes, e para sua surpresa, havia um olhar de agradecimento e de extremo alivio em todos eles.

Quando olhava para as pessoas que não conhecia, parecia que tudo estava indo muito bem, que tudo estava certo para elas. Que só ele, seus amigos e as pessoas da Ordem tinham problemas tão difíceis. Que a vida dos outros era relativamente tranqüila. Que todos eram iguais, como as estrelas que a gente vê no céu. Mas, se aproximar-mos um pouco, assim como Harry um dia fizera com o seu telescópio, ah, nem se fala! É outra história! Cada estrela é diferente. Cada pessoa é diferente. Cada um é especial.

Ainda tinha problemas, ainda tinha que perseguir os outros comensais que haviam fugido, ainda tinha um ano muito duro pela frente. Mas agora estava em casa, estava com seus amigos. E estando ao redor de pessoas que se gosta, tudo pode ser resolvido...

Antes de entrar na carruagem para seguir para o castelo, Harry olhou mais uma vez para fora e olhou as estrelas. Quando elas pareceram piscar para ele, foi nisso que pensou:


“Que a gente é como um pedaço da noite.
De longe, estrelas perfeitas.
De perto, estrelas tortas! ”


FIM




NA.:


Olááá pessoalll!!!! Chegamos ao fim da fic. Lutei muito pra escrever esse último capítulo sabe... mta coisa na cabeça e nem um pouco de facilidade pra coloca-la na papel, mas finalmente eu consegui.
Mta gente vinha me pedindo par colocar mais cenas de h/hr ou h/g, mas eu achei que ia ficar coisa demais sabe. Uma fic não precisa ser inteiramente de romance, ou inteiramente de cenas de amor e tal. Gostei do final desse jeito, um jeito que fecha, que mostra que tudo esta bem e que eles vão continuar lutando. Quem sabe eles não voltam em uma próxima fic, ein? Boa idéia, não acham? Vou trabalhar na possibilidade...
Mas eu só posso dizer que nunca pensei que fosse ficar tão feliz, assim de primeira, com essa fic. Vocês me trataram muito bem e me mimaram bastante, as vzs até demais e eu me prevaleci deixando de postar antes e tals... e eu posso dizer com toda a certeza que esse ano foi um ano muito especial pra mim. E é ótimo saber que vocês reconhecem um trabalho como esse.
Mais fics virão, podem ter certeza, e eu espero ter permissão pra convidar cada um de vocês para lerem-nas. Um abraçooo enorme pra todos. UM BEIJOO GRANDE, e até a próximaa!


(*) Texto do chato foi retirado do livro Amor é Prosa Sexo é Poesia, de Arnaldo Jabor.

(*) Brincadeira dos números e do cuspe for reitirado do livro Podre Corinthiano Careca.

(*) Frase final retirada do Livro Estrelas Tortas, de Walcyr Carrasco.



Mika, carina granger, Lucy Jully, lééli, Lia Black , Barbara Fox , Raiza Miranda,Tammie, Roseane , Lukinhas***** , Tamara Siviero Dos Santos, daniel m. dos santos, Patoloko, Lucy Lovegood ,
Tarí Tinuviel, Raissa, Lulu, lari_petry, Patilion, Pedro James Potter, Gabi, daniella, bibi*, Iolanthe Spencer,
rhu, Maira,Fernanda Monteiro Machado, Christy, Clara Slytherin , Rafaela Klein, Mariana Vieira, *Suzannah Black*,
Letícia Aquino, Warley Brant, india , Lady Eldar, Amanda Alves Silva, Nanah* e a todos os outros...



Obrigado a todos!


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