A Espada de Gryffindor



CAP 14
A Espada de Gryffindor




Hermione estava deitada no gramado de Hogwarts ao lado de Rony. Nada podia ser melhor do que aquilo, nada mesmo.
Depois de tantas lutas eles haviam conseguido o que queriam: haviam matado Voldemort. Livres e sem preocupações, esse seria um ano dado de presente para todos. O único ano de paz desde que vieram para Hogwarts.
- Você consegue acreditar que nós finalmente estamos aqui?
Hermione virou a cabeça, ainda deitada sobre a grama e contemplou o rosto do namorado.
- Nós estamos em casa, Rony. E finalmente estamos seguros – ela respondeu com um sorriso que não lhe cabia nos lábios.
- Pensar que as coisas aconteceram assim tão rápidas, em um passe de mágica. Nada nos aconteceu, nada aconteceu a você ou a qualquer um da Ordem. Ninguém com sequer um arranhão! Só pode ser o destino! – ele disse radiante e passou os braços por cima de Hermione. Sua orelha estava intacta, sem nenhum arranhão sequer. Nada.
- O que você está dizendo Rony? Onde estão os seus arranhões? Sua orelha está... está inteira!
- O que quer dizer com isso, amor ? Pirou!? – ele disse rindo de uma orelha a outra. Não parecia Rony... Definitivamente não parecia ele.
- Não me assuste desse jeito! Fale sério comigo Rony, fale sério e pare de rir, pois está me deixando assustada!
- Assustada? – Foi então que o rosto de Rony se transformou no rosto de Harry. Hermione deu um pulo e bateu com a cabeça no queixo de Harry, que voou para trás gemendo de dor – Você não devia ter feito isso! – disse massageando o queixo.
- O que é isso? O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ? QUEM É VOCÊ?!!! – Hermione gritou ao mesmo tempo em que olhava para os lados assustada. Queria correr, queria gritar mais alto do que já tentara, mas simplesmente não conseguia sair do lugar. Não conseguia ser dona de si mesma.
- Você ficou louca? – Harry disse enquanto tentava segurar os braços de Hermione.
- Por que eu não consigo me mover? Por que isso está acontecendo? – Hermione sentiu o gosto de lágrimas em sua boca, mas o estranho era que ela nem mesmo estava chorando.
- Você só não quer sair daqui. Só isso.
- Onde está o Rony? A Gina? – Hermione disse no momento em que Harry agarrou os seus braços com força e apertou-os com raiva.
- Gina está morta e você sabe disso mais do que ninguém! Não devia ter a deixado usar o colar! Tudo culpa sua!
- Harry pare, por favor! – Hermione disse e sentiu seu coração doendo em seu peito. O que mais queria era chorar, mas uma força estranha não a deixava. – Eu não me lembro! Não lembro de nada, você está me machucando! – ela disse antes de se soltar das mãos de Harry – Eu sinto muito se fiz algo de errado... eu nem mesmo sei o que estou fazendo aqui. Ajude-me a entender... me ajude... é a única coisa que te peço! Não Harry não!
Harry agarrou os braços de Hermione novamente, mas ao invés de machucá-la com a sua força, a abraçou forte. Ela tremia da cabeça aos pés, e não sabia se aproveitava a oportunidade para fugir ou se ficava onde estava. De qualquer forma não tinha certeza alguma se seus pés contribuiriam para isso.
Ele a soltou aos poucos do abraço, e quando voltou sua face para ela, não era mais Harry, e sim Rony quem estava na sua frente.
- Você devia ter visto as estrelas comigo pra sempre – ele disse com os olhos de quem está perdendo a coisa mais importante da sua vida. – Não devia ter me deixado ir tão facilmente...
- Rony! – Hermione abraçou o garoto. Estava apavorada, mas por algum motivo ainda tinha coragem para abraçá-lo. – Por que você diz isso? – Ela disse ao soltar-se dele e olha-lo nos olhos.
- Você me deixou morrer sozinho.
- Meu Deus Rony, não fale uma coisa dessas!
- Você não me amou Hermione...
- Eu te amei sim! Por que está me dizendo isso? Não diga bobagens Rony!
- Você não me amou o suficiente... não me amou como eu te amei. Se assim fosse, não teria me deixado ir. Teria sido minha mulher.
- Sua mulher? Rony eu... – Mas numa fração de segundo tudo ficou claro. Minha mulher. Aquele não era Rony.
- EU JÁ DISSE QUE NÃO SOU SUA MULHER! VOCÊ ESTÁ MORTO SIM, E EU ESTOU MUITO FELIZ QUE ISSO TENHA ACONTECIDO!
A pessoa a sua frente ficou branca. Tinha o rosto de Rony, mas era óbvio que não podia ser ele. O verdadeiro Rony saberia o quanto ela o amava e nunca diria algo como aquilo a ela. Estava totalmente apavorada com a situação, mas por algum motivo que ela não conseguia explicar, seus atos pareciam calculados, parecia estar em outro mundo, um mundo bem diferente do que vivera.
Por um momento ela olhou para os lados e viu que tudo aquilo a sua volta era de mentira. Aquela não era a sua Hogwarts e aquele a sua frente não era o seu Rony. Não havia o cheiro de grama molhada, não havia a típica movimentação no jardim do colégio, não havia aquele clima gostoso e aquela sensação gostosa que o castelo emanava. Nada. Não havia o cheirinho de Rony...
- Você não vai mais me machucar! Eu não vou deixar – Hermione disse, e tentando tirar a varinha do bolso sem sucesso, começou a andar para trás em passos largos e apressados.
- Ninguém pode te ouvir – ele disse e um arrepio correu pelo corpo de Hermione.
- Ninguém vai ouvir quando eu acabar com você! – ela disse não acreditando em suas próprias palavras. – Fique longe de mim, seu verme nojento!

- Granger! Granger cale essa boca!

- Você ainda não quer ser a minha mulher?

- GRANGER! HERMIONE!

- SEU MALUCO! NÃO ENCOSTE EM MIM! NÃO NÃO!

- ACORDA GAROTA!

- Não! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!


- Finalmente! Estou surpreso por ninguém ter aparecido ainda!

Hermione olhou confusa para os lados sem saber ao certo onde estava e de quem era aquela voz conhecida. Esfregou os olhos, respirando rápido como se tivesse corrido dez quilômetros sem parar.

Sentou naquilo que lhe parecia ser uma cama e tentou se acalmar. Que sonho horrível tinha tido! Seu coração batia descompassado e seus olhos doíam com a claridade do lugar. Mesmo não podendo enxergar um palmo a sua frente sentiu uma sensação boa naquele lugar, como se estivesse segura novamente. Uma sensação muito diferente da apresentada no sonho.

- Você sempre grita assim quando está dormindo, Granger? Eu sabia que você devia ter mais problemas do que aparentava... Tirando o problema de ser você mesma! Óbvio!

Seu palpite estava certo, mas por precaução resolveu tentar enxergar as coisas a sua volta. Ele estava ali do seu lado. Como a pele suada e os cabelos desmanchados e sujos. Com aquele ar superior que era típico dele. Olhando-a como se ela fosse a coisa mais repugnante do mundo.

Devia estar de “molho” há muito tempo, mas continuava com aquela maldita dignidade nos olhos, como se fosse a pessoa mais honrada e importante na face da terra. Bem feito que estivesse ali! Estava pagando por tudo o que tinha feito a eles nesses últimos anos. A ironia era grandiosa... tinha mais uma chance! Era um jovem sem personalidade e mais uma vez tinha a oportunidade para mudar. Era no mínimo injusto com todos eles. Mas era uma coisa que Dumbledore faria. Esse foi o único motivo que a deixou parada em sua cama. O único. Sabia que ele estava debilitado e que era uma fonte de informações valiosa para a Ordem. Esses motivos a impediram de saltar da cama e bofeteá-lo como a muito tinha vontade de fazer.

Era um miserável que merecia toda a sua revolta e sua raiva, mas lá dentro do seu peito ela tinha um pouco de dó dele. Só um pouquinho. Pouco mesmo.

Sentou-se reta na cama e olhou para os lados fazendo que não ouvia as palavras duras dele. Onde diabos estão todos?, perguntou a si mesma enquanto corria os olhos pelo lugar. Era maravilhoso estar ali, mas de jeito nenhum lhe parecia ser um bom sinal.

- O que eu estou fazendo em Hogwarts, Malfoy?

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- Eu ainda acho que não devemos deixá-la sozinha com o Malfoy! Eu vou voltar!

- Não, você não vai, Rony! – Gina puxou o irmão e pegou firme no seu braço para que continuasse caminhando. – Ela está segura e você sabe disso – ela disse puxando o irmão para caminhar mais rápido.

- Como você pode ter tanta certeza disso? – ele perguntou ao mesmo tempo em que quase fez Gina cair tal fora a força que fez para ficar imóvel. A garota quase caiu no chão com a parada abrupta do irmão.

- Por causa disso – ela pegou na mão de Rony e a ergueu alto, muito perto do nariz do garoto. Um anel prateado repousava em seu dedo. – Não foi isso que te avisou que ela estava em perigo, Rony? Não foi? – ela disse quase gritando.

- Sim... ele ficou preto quando eu estava voltando pra casa... mas... – ele tentou continuar, mas parecia não achar as palavras certas para se explicar. – Não me sinto bem deixando ela sozinha com ele... só isso. Não posso mais deixa-la sozinha! Será que você não entende?

- Rony eu entendo que você está sofrendo muito com o que está acontecendo com a Mione. Eu sei que você só pensa em protegê-la, mas escute uma coisa: vocês não podem deixar o medo tomar conta de vocês. – Ela disse calmamente enquanto colocava a mão de Rony para baixo num gesto delicado. – Eu sei o que é viver com medo, Rony... não queira viver desse jeito!

- Sua irmã tem razão – Harry disse. Andava ao seu lado e aproveitou a oportunidade para incentivar Rony a andar novamente.

- Você já fez tudo o que tinha que fazer antes de nós chegarmos aqui. Agora ela tem que descansar.

- Mas eu posso ir depois, não é? – ele disse voltando a caminhar. Era óbvio que ninguém poderia segurar Rony quando o assunto se tratava de Hermione, e Harry, mais do que ninguém, sabia que o amigo não deixaria que ninguém o segurasse.

- Claro que sim! – ele disse e o rosto de Rony se contraiu em um sorriso feioso. – Mas antes nós temos que tratar dos assuntos pendentes.

Caminharam determinados para a sala da nova diretora de Hogwarts. McGonagall estava pelo menos dez anos mais velha do que aparentava ser, se isso fosse possível. Carregava enormes bolsas de preocupação embaixo dos olhos, mas ao contrário do que esses sinais mostravam, ela continuava com aquele jeitão altruísta e mandão de sempre. Caminhou com o corpo bem erguido em direção aos antigos - e esperavam eles que isso fosse por pouco tempo - alunos.

- Quase não acredito no que os meus olhos me mostram! – ela abriu um sorriso cansado, e para a surpresa de todos, ofereceu um abraço apertado a Rony, Harry e Gina.

- Ainda não acreditamos que estamos de volta também... – Gina disse com emoção na voz.

- Quem sabe vocês sejam os primeiros de muitos que ainda virão – Lupin entrou pela porta de repente e ofereceu um sorriso a diretora. – Viemos pedir que nos deixassem ficar no castelo diretora, não há mais lugares seguros fora de Hogwarts.

- Mas o seu plano não deu certo, Lupin? O que aconteceu?

Hermione mais uma vez tinha razão. Dumbledore havia deixado o seu segredo, que não era mais tão segredo assim, nas mãos de outras pessoas confiáveis.

- Nossa missão estava indo bem Minerva. Mas Hermione sofreu muitos traumas na viajem, Rony se machucou feio, e todas as nossas suspeitas estavam certas.

- Sobre Draco? – ela perguntou enquanto enrugava a testa e mantinha os olhos fixos em Lupin.

- E sobre Snape. Mas eu tenho certeza de que saberemos mais alguma coisa quando Hermione acordar.

- Que diabos aconteceu com essa menina? – McGonagall perguntou alterada, gostava mais de Hermione do que de qualquer um dos seus alunos.

- Em resumo, Snape começou a persegui-la e tentou... tentou...

- Tentou estupra-la! Foi isso o que aconteceu! – Rony disse furioso enquanto a nova diretora levava as mãos à boca, apavorada com a notícia.

- Mas isso não é possível! Eles não fazem essas coisas...

- Não vai fazer mais – Rony disse sério e McGonagall o olhou profundamente por um instante, e passando-se um tempo em silêncio, compreendeu o que estava acontecendo.

- Quem? – ela olhou automaticamente para Harry.

- Eu. – Rony respondeu.

- Oh! – ela olhou para os lados sem saber o que fazer ao certo. Deu a volta em sua própria mesa, a antiga mesa de Dumbledore, e se sentou exausta na grande cadeira a sua frente. – Eu preciso ouvir isso sentada. Vamos sentem-se! – ela mexeu a varinha e mais do que rápido quatro cadeiras se materializaram em frente à mesa. – Me contem tudo. Nos mínimos detalhes!

Harry e Lupin se comprometeram a contar toda a história a Minerva. A diretora contraia o rosto de modo diferente a cada parte da história que eles contavam. Sua maior surpresa foi saber que Snape estava morto, e havia sido feito por Rony. Ela o olhou com toda a pena que conseguiu reunir e soltou um suspiro longo entre um acontecimento e outro. Dava a impressão de que queria esquecer tudo aquilo, ou em outra hipótese, fazer as coisas voltarem no tempo. Mas as coisas não podiam ser mudadas. Não podia voltar atrás e fazer Dumbledore ficar no povoado de Hogsmead, não podia fazer com que Hermione não saísse de suas vistas, não podia fazer Gina nunca tê-lo amado.

Snape tornara a casa de William um lugar inabitável a partir do momento em que aparecera. Além de não ser um lugar seguro depois que ele os achou, o acontecimento e a morte do antigo professor marcaram aquele lugar com um sentimento e sensações de medo e morte. Não podiam mais ficar naquele lugar. Não enquanto tudo não acabasse.

Parecia-lhe inevitável tudo o que acontecera. Tudo os trazendo de novo para casa, a tão amada Hogwarts da qual nunca queria ter saído.

Muitas pessoas dizem que os meios justificam os fins, mas esses meios têm que ser tão doloridos? Tão injustos?

- Snape guardava isso no bolso da capa – Rony tirou um cálice de dentro da jaqueta.

- Mas isso é a taça de Lufa-Lufa! – Minerva tomou o cálice em suas velhas mãos e o analisou com todo o cuidado. – Isso não pode ser possível, Sr. Weasley! É inacreditável que ele o levasse consigo... tão desprotegido!

- Pode acreditar – Rony respondeu com um meio sorriso.

- Ele não estava em seu juízo perfeito Minerva – Lupin disse em resposta às poucas palavras de Rony. – Ainda não sei o porquê de ele ter feito isso, mas quem sabe Hermione saiba o motivo.

- Mas e o colar? Já sabem como destruí-lo? – McGonagall perguntou ao mesmo tempo em que levantava da cadeira e corria os olhos pelos quadros a sua volta.

- R.A.B. diz em sua carta... – Harry percebeu o quão idiota era chamar alguém desse jeito – ele disse que não tinha o antídoto, como se não o possuí-se mais... ou o tivesse perdido. – Harry tirou a pequena carta de seu bolso - Chegará o dia em que um melhor do que eu o encontrará, e quem sabe esse alguém ainda tenha consigo o poder para destruir-lo. - ele falou e depois dobrou o papel cuidadosamente e colocou-o dentro do bolso novamente. - Ainda tenha foi o que ele disse. Nós temos que encontrar um antídoto... e tentar conserva-lo pra que não acabe. Bom... parece uma boa teoria, não acham?

- Mas essa teoria não nos leva a nada! – Gina respondeu. Até então estava quieta ouvindo a conversa, no entanto, agora, parecia ter algo dentro de si que precisava se soltar. Precisava falar alguma coisa. – Não serve de nada se nós nem ao menos sabemos de que antídoto ele está falando. Nós precisamos saber o que é pra depois desvendar esse mistério. Candidato-me a passar os meus dias inteiros a procurar a resposta. Vinte quatro horas por dia na biblioteca pesquisando, incluindo a seção restrita e passagem livre pelo castelo. É tudo que eu preciso diretora! Só me dê isso e eu juro que vou achar pelo menos um ponto pra nós nos apoiarmos. Vou achar alguma coisa. Por favor!

Minerva olhou um longo tempo para Gina. Com certeza estava pesando os prós e os contras do assunto. Achava que Gina havia pedido mais do que Minerva lhe daria, mas ficou sabendo que estava errado num estante depois.

- Está bem, Srta. Weasley. Tem toda a minha permissão.

Harry e Rony viraram os rostos na mesma hora para se encarar, e até mesmo Gina ficou surpresa com o consentimento. Santa Hogwarts, pensou Harry enquanto encarava o rosto sorridente de Lupin. Minerva conjurou um copo de água e um pequeno comprimido, ao qual Harry achou muito parecido com os remédios trouxas, e colocou a pequena bolinha na boca, seguido da água logo depois.

- São os nervos – ela disse e Harry conseguiu entender o que na verdade era aquilo. Sentiu muito que a diretora estivesse passando por aquele mau bocado.

- Sobre o cálice de Lufa-Lufa... têm alguma idéia de como destruí-lo? – Gina perguntou a Harry subitamente.

- Suponho que nós tenhamos muito que pesquisar – ele respondeu se largando ainda mais na cadeira.

- Seria ótimo se pudéssemos destruí-lo assim como fizemos com o diário, não acha? – Gina sorriu enquanto perguntava.

“Ah Gina como eu amo você!”

Era uma chance que eles tinham, era uma esperança que ardia forte no peito de Harry. Não tinha nada para dar certo, mas por algum motivo estranho essa idéia lhe deu um novo animo.

- Diretora, a espada de Gryffindor... Eu posso usá-la por um minuto? – Harry se levantou da cadeira de um pulo e aproximou-se de onde a espada estava. Pendurada na parede por um fino cordão de metal dourado... Parecia chamá-lo.

- Você não acha que vai conseguir com isso, acha? – Rony falou desanimado e continuou recostado na cadeira, mostrando sua total descrença no plano.

Harry o olhou encorajado e tirou do bolso o pequeno colar de Corvinal. Depositou-o sobre uma das pequenas mesas do aposento, ergueu a espada o mais alto que pode e tornou a baixá-la com toda a força que conseguiu.

A mesa quebrou-se ao meio com um estrondo forte e jogou poeira para todos os lados. Ao se dissipar, Harry se abaixou e procurou o calor entre os fragmentos da pequena mesa, e o achou totalmente intacto.

- EU NÃO ACREDITO NISSO! – Harry disse bravo e Minerva lhe dirigiu um olhar mais ofensivo ainda, deixando claro que não queria alterações em sua sala. – Desculpe.

- Bom... pelo menos nós tentamos, não tentamos? – Gina disse acariciando as costas de Harry para que se acalmasse.

- Parecia tão certo...

- E porque você não tenta com o cálice, Harry? – Harry olhou assustado para os lados à procura da voz. Aquela voz a que tanto sentia saudades, que tanto fazia falta... – Tente Harry. – Foi então que ele ouviu de onde a voz vinha. A imagem de Dumbledore, sorridente, acenava para ele em um dos quadros atrás da escrivaninha da diretora. Sentiu seu coração murchar depois de vê-lo. Resolveu não olhar mais para aquele ponto, queria não sentir mais aquela dor...

- Passa o cálice Rony – Harry pediu com a cabeça baixa e infeliz.

- Toma, cara – Rony levantou com a face tão triste quanto a de Harry e entregou o cálice nas mãos do amigo. – Vai dar certo. – Ele disse e se afastou puxando Gina pela mão para o lugar mais longe possível.

Harry tomou o cálice e deu uma última olhada para o quadro onde o antigo diretor estava. A imagem de Dumbledore piscou para ele saiu caminhando para o lado, como se fosse à direção da parede vazia ao seu lado. Não pôde mais vê-lo depois disso. Talvez não quisesse ficar pra saber que estava errado.

Harry ergueu mais uma vez a espada para o alto, prendeu a respiração e olhou para todos os presentes na sala. Correu os olhos por Lupin, que continuava sentado a cadeira como se nada estivesse acontecendo, depois para a diretora, que parecia mais branca do que o normal, e enfim para Rony e Gina, que estavam abraçados a um canto da sala, e Harry pode ver a esperança nos olhos deles.

Juntou força nos braços, mais força do que da vez anterior e quando ia baixar a espada seus olhos pousaram sobre o quadro de Dumbledore mais uma vez. Olhou para os outros quadros ao seu lado e nenhum deles estava habitado por alguma imagem. Ninguém. Todos haviam seguido os passos de Dumbledore e saíram dali.

Então percebeu o risco que estava correndo. O risco que estava colando os seus amigos. Baixou a espada ao lado do corpo e respirando como se tivesse jogado uma partida de quadribol disse:

- Vocês não podem ficar aqui. É perigoso.

- Nós não vamos deixá-lo aqui sozinho! – Gina respondeu se soltando dos braços do irmão.

- Vocês vão sim! – ele disse e Gina o olhou, brava.

- Como quiser! – disse para depois sair batendo a porta atrás de si.

- O que deu nela? – Rony perguntou incrédulo.

- O que aconteceu Rony, é que por mais que ela queira ficar ela acredita na minha palavra. Se não acreditasse, teria ficado e ninguém nesse mundo a faria sair.

- Você tem certeza disso? – Lupin e Rony disseram juntos.

- Vocês querem que eu minta ou que diga a verdade? – ele disse olhando para a diretora.

- Diga a verdade, Sr. Potter.

- A verdade é que eu não tenho certeza de nada. Nunca tive. Mas vocês sabem que os meus palpites sempre estiveram perto de serem verdadeiros...

- Como o Snape... – Rony disse o interrompendo.

- Isso.

- Vamos sair daqui – McGonagall disse apressada, como se estivesse prestes a rever o que tinha dito. – Vamos vamos... Rápido! – ela disse dando uma corridinha até a porta enquanto empurrava Rony e Lupin a sua frente. – Saia logo Harry... Estaremos aqui fora te esperando – e fechou a porta atrás de si.

Tudo aconteceu muito rápido. Harry ergueu a espada sobre a sua cabeça no mesmo instante que Minerva fechara a porta e tornou a baixá-la um segundo depois.

Um clarão forte irrompeu do cálice e um grito horroroso tomou conta de toda a sala. Harry sentiu sua pele queimar e sua roupa soltar fumaça, mas nada que o fizesse morrer de dor física. Seu problema era o grito. Um grito como de um espírito agourento. Tinha estudado sobre eles no quarto ano, e tentava ao máximo se lembrar de alguma coisa que prestasse para acabar com aquela tortura. Não conseguia se mover por causa do grito, aquilo o prendia no lugar e não o deixava se mover.

Espírito Agourento... Espírito Agourento ...

Sua mente também estava paralisada. Lembrou de Hermione nessa hora.

Vamos! Pense! Pense!

Havia um encantamento... um feitiço que podia usar contra aquilo. Sua cabeça doía cada vez mais e ele começou a pensar que se não fizesse algo logo, sua cabeça provavelmente estouraria e ele morreria no meio daquela sala. E se ele morressem, tudo estaria perdido.

Nodlesh... isso! Era isso! Mas faltava algo... faltava mais uma palavra! Nodlesh Yentis. Não! Nodlesh Yenfis... Não! Sim, lembrei! É isso! Por favor, seja isso... seja um espírito agourento... seja...

- NODLESH YENDIS!

Tudo ficou claro mais uma vez. O espírito estava de pé a sua frente, ainda com a boca aberta, mas dela não saia mais nenhum som em conseqüência do feitiço de Harry. Era a coisa mais feia e assustadora que Harry já vira. Parecia ser uma mulher, por mais que Harry nunca tenha visto uma tão horripilante. Lembrou das aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas e pode ver como tudo aquilo que estudara era verdade. Era até pior.

Seus cabelos brancos e compridos se arrastavam no chão, o que era uma surpresa pelo tamanho daquela criatura, que devia ser uns vinte centímetros a mais que Harry. Era esquelética, e ao contrário do que os livros diziam, ela usava um vestido longo e preto, ao invés do verde tradicional, e nele não havia nenhum capuz como havia estudado.

Ficou impressionado em como lembrava das coisas quando estava sob pressão, mas não tão impressionado quanto estava por encarar aqueles olhos vermelhos a sua frente.

Espíritos agourentos apareciam quando uma pessoa estava para morrer... pelo menos era disso que se lembrava. Mas não havia sentido nenhum naquilo. Ela era um produto do cálice, uma coisa que tinha saído dele e poderia aparecer para qualquer um que conseguisse quebrar o horcrux.

Harry se acalmou e pensou no passo a seguir. Ela continuava a sua frente, com aquela boca estranhamente aberta o olhando de modo estremecedor. Não podia simplesmente sair da sala, pois corria o risco de botar a vida de alguém em perigo.

Compreendeu que o grito deveria tê-lo matado, e que agora deveria decidir sobre o que fazer. Fechou os olhos e tentou pensar. Pensou e pensou... e a única coisa que conseguia imaginar era a hora em que estaria fora daquela sala. Foi então que ela começou a gritar novamente. Dessa vez bem mais baixo que da última, mas Harry achou que a tendência era cada vez mais aumentar.

Num impulso repentino, entrelaçou os dedos no cabo da espada e num movimento rápido cravou a lâmina inteira no Espírito. Sentiu a carne rasgando aos poucos e o grito se dissipando. Tirou a lâmina e jogou a espada no chão, como se estivesse com medo de pega-la de novo.

Uma luz vermelha saiu do grande rombo que Harry fizera no Espírito Agourento e sem mais nem menos a criatura explodiu, jogando Harry com uma velocidade imensa contra a parede.

Bateu com força na parede e tentou se levantar com dificuldade. Andou cambaleando até a porta e a abriu lentamente.

Gina se jogou por cima dele, sorrindo feliz. Seu corpo doía inteiro, sua cabeça latejava, mas a felicidade em seu coração não o deixava reclamar de nada.

- Só resta um – Rony disse feliz, dando um soco no ar como uma criança. Aproveitou o momento oportuno, onde Harry se encontrava com diversos arranhões e queimaduras leves e disse alegre, não conseguindo conter a ansiedade em ver Hermione: – Vamos cuidar de você agora... já para a ala hospitalar!


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- Eu é que tenho que te perguntar isso, Granger! O que você está fazendo aqui?

Hermione respirou fundo antes de continuar.

- Pode ter certeza de que eu estou mais perdida que você – ela respondeu olhando na direção da porta a espera que alguém entrasse. – Se bem que eu faço uma idéia sim...

- A única coisa que eu sei é que o Weasley entrou desembestado aqui dentro com você no colo – ele disse com raiva na voz. – O Potter e a garota Weasley também... Chorando! E ainda por cima ficaram um bom tempo brigando porque não sabiam se deixavam você ou não aqui sozinha comigo – ele olhou para a suas próprias pernas que estavam completamente engessadas. – Eu sabia que o Weasley tinha merda na cabeça... Não queria sair daqui de jeito nenhum.

Hermione riu ao saber da preocupação de Rony. Draco fez uma cara de nojo ao ver o sorriso no seu rosto. Quando ele já estava preparado para lhe dirigir algum comentário ofensivo, Hermione tomou a palavra e fez com que ele se calasse.

- Você não deveria estar dormindo? – ela perguntou com um sorriso enviesado. – Ouvi dizer que estava tendo alucinações e não ficava acordado mais de cinco minutos!

- Se você quer mesmo saber, Granger, isso não lhe interessa – ele respondeu, mas não conseguiu esconder a mentira por debaixo de seus olhos.

- Você é muito idiota mesmo, não é! Nós estamos precisando de sua ajuda... Estamos precisando de informações para ir atrás de Voldemort e você está aí, se fazendo de morto! Você é um infeliz, Malfoy! Depois de tudo que ele fez você passar... fez sua mãe passar...

Os olhos de Draco ficaram vermelhos de repente e Hermione, por um segundo, achou que veria a cena mais inacreditável acontecer, mas Malfoy apertou os olhos e fechou a cara. Estava triste, mas não conseguia esconder aquela expressão maldosa no rosto.

- Pelo jeito ele fez com você também – Draco disse apontando para o rosto de Hermione. Este estava dolorido como nunca, Hermione o sentia inchado e levemente cortado na boca e perto dos olhos. Sentia seu nariz doer também... graças a Rony talvez não ficasse deformada.

- Snape fez isso comigo – foi só o que ela disse, mas a reação de Draco foi totalmente o contrário do que ela pensava que seria. Ele ficou mais vermelho do que já estava e socou a cama onde estava deitado com as mãos, colocando toda a sua força e toda a raiva que sentia para fora. – Você não precisa ter tanta raiva, Malfoy, ele já está morto.

- Morto? – ele parou de bater na cama no mesmo instante, virou o rosto na direção de Hermione e ela pode ver que ele estava com a face molhada de lágrimas.

- Rony o matou – Hermione disse e Draco pareceu muito surpreso com a notícia.

- Como? – ele insistiu, e dessa vez não parecia mais o Malfoy, era como uma criança que perguntava à mãe o porquê das coisas. Estava arrasado e curioso. Respirava rápido enquanto olhava com olhos vidrados para Hermione.

- Ele... ele bateu em mim... – ela disse e sentiu a voz falhar – Rony nos encontrou e descontou toda a raiva nele, assim como você estava fazendo com a cama, e eu posso dizer que foi mil vezes pior – Draco riu da observação e Hermione ficou muito surpresa com aquele gesto. – Ele matou Snape de tanto bater nele... por fim ele acabou morrendo de fraqueza... estava magro e louco... não tinha mais muito tempo de vida.

- Você sonhou com ele, não sonhou?

- Por que acha isso? – Hermione não estava gostando daquela conversa, queria que Draco parasse de perguntas coisas que ela não queria responder.

- Primeiro você estava chorando, e depois começou a gritar como uma louca, dizendo que não queria ser a mulher dele e que ele já estava morto. Snape está morto, não está? Só pode ser ele – ele disse com cinismo.

- As pessoas sonham Malfoy! Às vezes pode não ter explicação!

- É aí que você se enganar, Granger. Quem grita e se debate como estivesse indo pra forca como você fez não está sonhando qualquer bobagem. Fico surpreso em perceber que ninguém apareceu ainda para saber quem estava morrendo de dor aqui dentro... aquela enfermeira – ele acrescentou. – E outra coisa... – ele continuou como se estivesse explicando algo muito óbvio – ninguém com o rosto marcado desse jeito pode estar bem. Tem certeza de que você não fez nada que ele não gostasse?

- Eu não tenho que contar nada pra você Malfoy! Eu nem deveria estar aqui sozinha com você!

- Ora, por favor! Eu não consigo sentir minhas pernas e você vem dizer que está em perigo? O único risco que você sofre é o de que eu lance um cuspe bem grande em você. E mesmo assim eu não sei se eu teria forças para lançá-lo até aí.

- Então você quer saber o que aconteceu comigo, quer mesmo? – Hermione levantou da cama e chegou perto de Draco ao lado da cama dele. O garoto se encolheu na cama tal fora a velocidade e a revolta de Hermione quando fizera isso. – Ele achou que eu era sua mãe! Achou que eu deveria ir embora com ele, achou que eu era um espírito e que eu devia perdoá-lo pelo o que fez. Ele matou a sua mãe e depois foi atrás de mim, Malfoy! Como se eu fosse um tipo de substituta. E o pior não foi isso... ele tinha lapsos de memória. Lapsos em que aquela mente doentia voltava e ele fazia as piores coisas que uma pessoa pode fazer. Isso tudo que você está vendo – ela apontou para o próprio rosto – não é nada comparado as cicatrizes que eu tenho pelo corpo! Você não sabe o que é passar pelo o que eu passei Malfoy! Então faça o favor de tirar essa expressão nojenta dessa sua cara e comece a colaborar! Tudo o que ele fez comigo ele deve ter feito com a sua mãe – Draco olhou com raiva para Hermione nessa hora – e a única pessoa que tem culpa nisso tudo está lá fora – ela apontou o dedo para a janela – e você... você está aqui na minha frente. Como um cachorrinho que apanhou muito e não consegue mais sair da casinha! Um covarde! É isso o que você é! Um covarde dos maiores, porque nem vingar a sua mãe você consegue!

- A pessoa que eu mais odiava já está morta. Agradeça ao Weasley por mim – ele disse não conseguindo olhar nos olhos de Hermione.

- Merlin! Você é burro Malfoy? – Hermione disse cobrindo o rosto com as mãos na tentativa de não gritar com o garoto. – As pessoas que você ama estão morrendo e você não vai fazer nada?

- A única pessoa que eu amava está morta.

- Não vai pelo menos tentar? – ela disse enquanto voltava para a sua cama e sentava cansada na mesma. – Não consigo entender... simplesmente não consigo entender como uma pessoa pode só amar uma pessoa.

- Você não pode entender muitas coisas, Granger.

- Pare de me chamar de Granger, bosta! Não aquento mais isso! Você não precisa ter raiva de mim... eu é que deveria ter raiva de você. Destruiu com tudo o que podia ter sido, destruiu com Hogwarts... você não devia ter raiva de mim, Malfoy, não devia!

- Se eu não tenho pena de mim, porque você deveria ter? – ele perguntou e Hermione se deu conta de que devia ter dado a entender que não tinha raiva dele, e sim pena. Sentiu muito em perceber aquilo, sentiu ainda mais depois que ele disse sem nem pestanejar. – Eu odeio você sim, Granger. Odeio tanto que eu não sei mais aonde colocar tanta raiva. Eu só não odeio você mais do que eu odeio o Potter. Só isso.

- Você sabia que o ódio é um indicio de admiração? – ela perguntou e por alguma razão inexistente um sorriso perpassou seus lábios. – As pessoas odeiam aquelas pessoas a quem admira demais. Admiram tanto que não suportam ama-la. Admiram e sentem ciúmes porque nunca poderão ser amigas. Na verdade os maiores ódios existem entre aquelas pessoas que são muito parecidas.

- Granger... nunca ouvi tanta bobagem em uma frase só – ele disse e riu debochado ao ver a face contrariada de Hermione.

- Você não quer ouvir a verdade.

- Eu não quero ouvir essa sua voz enjoada, isso sim. Será que você não podia simplesmente deitar de novo e sonhar... com gritos e tudo... seria melhor do que ouvir essas bobagens.

- Idiota.

- Insuportável.

- Eu sou insuportável? Não sou eu quem tem o coração tão pequeno ao ponto de não amar mais de uma pessoa!

Ela havia pegado pesado. Ele parou por um minuto e olhou para ela com aquela mesma cara assustada de antes.

- O que foi? Falei algo que não devia?

- Não... eu acho que você está certa – ele disse e se recostou confortavelmente ao travesseiro, fechando os olhos e continuando a falar. – Não gosto de ninguém, nem de mim mesmo, nem ao menos alguém gosta de mim. Não preciso de ninguém.

- Mas há pessoas que precisam! – ela disse e ele nem ao menos se mexeu. – As pessoas podem vir a gostar de você se você mudar um pouco esse seu jeito! Olhe pra você! – ela disse e ele continuou parado como se não ouvisse uma palavra. – Você é jovem... tem tempo pra decidir o que quer fazer. Não deixe que a sua vida se torne tão mesquinha quanto foi a de Snape... tão horrível quanto a de Voldemort... pessoas precisam de você! – ele continuou sem reação - Eu preciso de você, porra!

Ele abriu os olhos de repente e a olhou confuso. Estava surpreso com a frase, estava surpreso pelo simples motivo dela “precisar” dele.

- Por que eu ajudaria você?

- Por que se você não fizer isso... vai se arrepender no final.

- Isso é uma ameaça?

- Entenda como quiser, Malfoy. Você vai ficar sozinho no final das contas. Mais sozinho do que nessas ultimas semanas em que esteve aqui em Hogwarts. Pelo menos por enquanto você tem alguém que se importa se você vai sobreviver ou não. Mas depois...

- Eu não me importo.

- Ora vamos! Admita que você não esteja feliz por ter companhia? Admita!

- Você ficou louca – ele disse arregalando os olhos na direção dela – não que você já não fosse...

- Olhe só! Você está conversando comigo, Malfoy, e isso já é uma coisa bem estranha da sua parte. Eu sei que estar aqui a mais de duas semanas, sozinho e se fingindo de doente não deve ser nada fácil – ele tentou esconder um sorriso – mas pra uma pessoa que me odeia tanto, eu não vejo ações que correspondam a isso.

- Não se iluda!

- E por que eu não posso me iludir? Isso é bom, é ótimo! Se iluda e quem sabe as coisas que você quer se tornem realidade algum dia!

- Você está delirando de novo...

- Cala a boca Malfoy – ela disse calmamente.

- Ninguém me manda calar a boca! – ele disse tentando se levantar inutilmente.

- Isso não é verdade. Acabei de fazê-lo.

- Você não sabe ser engraçada, então pare antes que eu vomite, ok?

- E você pare de me tratar como se não se importasse com a minha companhia.

- Eu queria que você morresse, sabia?

- Você só quer o que não pode ter.

- Está dizendo que nunca vai morrer?

- Não eu não disse isso... eu disse que não vou morrer porque você quer.

- É impressão minha ou você está tentando se tornar minha amiguinha, Granger? – ele disse debochado e ela sorriu ao ouvir o comentário.

- É aí que você se engana, e sabe por quê? – ela disse o olhando séria dessa vez, e do mesmo modo ele também o fez. – Você quer tudo o que não pode ter, mas odeia tudo o que tem. Curioso não é? Eu não quero ser sua amiga, pois com certeza você acabaria me odiando por isso. Eu só quero a sua colaboração. Mais nada que isso... só a sua colaboração.

- E o que você me daria em troca? – ele disse.

- Respeito.

- Você já tem o meu respeito – ele disse e ela o olhou espantada. – Está de casinho com o Weasley, e isso deve ser muito dolorido. Você é uma pessoa extraordinária por conseguir algo desse tipo. – Ele disse sorrindo e acrescentou: -Mas eu ainda te odeio, não fique tão feliz. – Ele disse e deitou mais uma vez a cabeça sobre o travesseiro.

- Isso quer dizer sim?

- Quer dizer “depende do que você vai pedir”.

- Ahhh! Eu sabia que você aceitaria! Sabia que não era tão ruim assim quanto tentava ser! – ela disse rindo e pela primeira vez se sentiu leve. Leve como se um uma rocha que apertava muito o seu coração fosse tirada de cima dele.

- Só vou fazer isso pra ver a cara de decepção de vocês no final. Não vai dar certo, é no mínimo difícil o que vocês estão tentando fazer. Terão sorte, muita sorte mesmo se conseguirem sair dessa vivos.

- Não sabe o que está dizendo... RONY!

Hermione levantou rápido da cama e correu ao encontro do namorado que acabara de entrar pela porta. Abraçaram-se e beijaram por bem uns dois minutos até se soltarem. Draco os olhava tentando passar uma expressão de nojo no rosto, mas o que mais se via em seus olhos era a surpresa. Harry e Gina entraram logo depois, felizes e constrangidos pela cena.

- Você está bem? – Rony perguntou ainda abraçado a Hermione. Olhava bravo na direção de Draco como se ele fosse se levantar a qualquer minuto.

- Estou ótima! – ela disse beijando mais uma vez Rony. – Porque viemos pra cá tão rápido? Não achou mais seguro ficar lá? – ela perguntou na direção de Harry.

- Exatamente isso.

Hermione se dirigiu para a sua cama e deitou-se nela mais uma vez. Estava exausta e só agora percebia isso.

- Não me lembro de nada depois do que aconteceu.

- Você desmaiou – Rony respondeu se sentando no canto da cama.

- Se o Snape conseguiu nos achar, então provavelmente aquele não era um lugar tão seguro quanto pensávamos que fosse. Não pensamos duas vezes antes de vir pra cá – disse Harry e nessa hora McGonagall entrou pelo aposento.

- Srta. Granger! Está acordada! – ela disse feliz correndo em direção à cama de Hermione, mas antes que chegasse deu uma olhada para o lado, e com a expressão confusa, disse – Você também Sr. Malfoy?

Ele balançou a cabeça e ficou encarando as mãos.

- Ele acordou com os meus gritos – Hermione mentiu – estava sonhado! – ela disse tentando parecer convincente.

- Certo – ela olhou mais uma vez para Draco e voltou a falar com Hermione. – Você está bem?

- Sim estou.

- Hermione... eu sei que você talvez não queira falar sobre isso, mas nós precisamos saber o que aconteceu antes do Rony chegar.

- Eu sei... já esperava isso – ela disse conformada.

Contou tudo o que havia acontecido. Mesmo com Draco ao seu lado lhe dirigindo olhares confusos ela teve de contar. O mais surpreso de todos foi ele, tirando Rony que ficava bufando ao seu lado.

- Ele estava louco, só isso.

- Ele já era louco antes de fazer o que fez – Draco disse de repente e todos olharam em sua direção, menos Rony, que parecia se segurar no lugar pra não avançar em Malfoy. – Eu não sei nada sobre o colar, nem sobre o cálice ao qual vocês já destruíram, mas eu sei onde ele está, e eu posso leva-los.

- E como nós vamos saber que você não está mentindo? – Rony perguntou.

- Usem o veritasserum mais uma vez! – ele disse dando de ombros.

- Quando ele vai poder sair daqui? – Harry perguntou à diretora.

- Acho que daqui a umas duas semanas ele já consegue caminhar – ela respondeu.

- Duas semanas para treinar... – Harry disse.

- E pra procurar um jeito de destruir o colar – acrescentou Gina.

- Tudo bem Malfoy, nós aceitamos a sua ajuda – Harry disse debochado – mas antes usaremos o veritasserum em você, e discutiremos bem esse assunto, afinal, temos duas longas semanas pela frente.

- Então trate de divulgar a minha morte e a de Snape Cicatriz, pois se você acha que o Lord vai ficar esperando você encontra-lo... está bem enganado.

- Como assim? – perguntou Hermione.

- Granger... – ele disse revirando os olhos – logo você me pergunta isso? Voldemort já deve ter escapado do seu esconderijo há tempos, e só vai voltar depois que não houver nenhum perigo de ser descoberto. Como vocês já me fizeram falar – ele olhou bravo para Minerva – eu e Snape estamos sendo perseguidos...

- E se vocês estiverem mortos... – concluiu Hermione.

- Ele volta pra toca – Draco finalizou erguendo a sobrancelha, orgulhoso de si mesmo. – Mas eu creio que não será preciso que eu “morra”. Snape oferecia muito mais perigo do que eu...

- E como você pretende nos levar até lá? – Hermione perguntou curiosa.

- Eu consigo entrar no esconderijo – ele mostrou a marca negra aos presentes.

- E depois? – Rony perguntou.

- Eu levo alguém como se fosse um prisioneiro. Uma pessoa no máximo, e juntos desarmaremos os feitiços de proteção pra que vocês possam entrar.

- Digamos que eu aceite essa sua idéia – Harry disse olhando sério para Draco – você acha que vai dar certo?

- Pra falar a verdade eu tenho quase certeza de que depois que eu desarmar os feitiços e vocês entrarem, vocês todos irão morrer. Mas aí já é com vocês, não é Granger?

- Isso mesmo – Hermione respondeu nervosa.

- Vocês andaram conversando? – Rony perguntou levemente furioso. - O que disse pra ela? – ele levantou, mas Hermione o puxou pela camisa e o fez sentar.

- Eu mais fiquei ouvindo do que falei, pode ter certeza disso – ele disse debochado. – Ah eu já ia esquecendo: obrigado.

- Obrigado? – Rony disse confuso com a mudança de assunto.

- Por matar Snape.

Rony ficou surpreso e por milagre ficou quieto e mais tranqüilo depois das palavras de Malfoy.

- Então eu entro no esconderijo com você – Harry continuou como se a conversa não tivesse sido interrompida – e depois nós damos um jeito de fazer os outros...

- Não, Potter, eu acho que você entendeu errado! – Draco se ergueu o máximo que suas pernas engessadas permitiram. – Eu disse que ia levar alguém comigo. E esse alguém não é você.

- E quem você vai levar então? – Harry perguntou sentindo seu corpo esquentar aos poucos, louco para explodir com Malfoy.

Draco olhou para todos os presentes, e como se não houvesse nada mais óbvio que aquilo, disse sem pestanejar:

- Vou levar outra pessoa... Vou levar a Granger.





















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