A Vingança de Rony



CAP 13
A Vingança de Rony


Tinham voltado às cinco horas da manhã para o quarto, mais especificamente o quarto de Hermione. Usando como pretexto a idéia de que não queria acordar Harry, Rony e Hermione literalmente desabaram sobre a enorme cama de casal.

Depois de uma noite tão cheia de acontecimentos, nada parecia melhor do que dormirem um ao lado do outro, simplesmente sentindo o calor dos seus corpos e sendo embalados pela respiração um do outro até que caíssem no sono.

O sol já estava alto quando Hermione finalmente abriu os olhos pela primeira vez. Não lembrava de ter acordado tão bem em nenhum momento de sua vida até aquele momento. Tinha medo de se virar e deparar com a realidade de que tudo aquilo poderia ser sonho, mas os braços que estavam jogados por cima do seu corpo diziam o contrário.

Ele dormia pesado ainda quando Hermione se virou de lado e ficou encarando seu rosto, todo amassado e com a boca entreaberta. Não conseguiu reprimir uma risada ao ver aquilo. Ainda estava com os cabelos molhados do banho que tinha tomado no banheiro de Hermione antes de se deitar, e sem blusa também, o que levou Hermione a olhar automaticamente para a porta, numa tentativa inútil de tentar prever se alguém por acaso tinha os visto naquela situação.

Não acontecera absolutamente nada, é claro. Somente uma continuação dos beijos do lago, dos carinhos e das palavras lindas que saiam da boca de Rony. Mas depois disso, como já era de se esperar, levando em conta todos os acontecimentos e correrias do dia, acabaram se largando pela cama, ainda abraçados, até que Hermione conseguiu ouvir a respiração funda e pesada de Rony e pôde ter certeza de que ele estava dormindo. Dormiu logo em seguida, sentindo o cheirinho de seu shampoo nos cabelos de Rony, aquele cheiro de pêssego que ele dizia sentir na poção do amor, e por esse motivo conseguiu ficar ainda mais feliz com tudo aquilo, isso se fosse possível tal proeza.

Passou uma das pernas por cima do corpo de Rony, e apoiou os braços por cima de seu peito nu, chegando bem perto da boca do garoto e lhe dando um beijo demorado na boca.

- Bom dia dorminhoco – num primeiro momento ele pareceu não acreditar que ela estava ali, até a olhou desconfiado, mas logo em seguida jogou a cabeça para trás com um sorriso de alívio no rosto.

- Eu achei que estava sonhado! – ele disse voltando a colocar a cabeça para frente, com um sorriso ainda maior nos lábios, como se estivesse a dizer a maior bobagem do mundo.

- No começo eu também achei, e se eu estiver enganada, eu espero continuar sonhando. – Ela disse se erguendo e beijando ardentemente a boca de Rony, que agarrou Hermione forte pela cintura e a virou para o outro lado invertendo as posições.

- Eu acho que nós temos um sério problema na questão de saber quem vai ficar por cima nessa relação! – Hermione disse sorrindo enquanto Rony beijava seu pescoço.

- Eu deixo você ficar por cima se você provar que merece.

- Rony Rony Rony... – ela disse com voz reprovadora – Nós nem estamos namorando e você já está pensando bobagens...

- O q-que? – Rony parou imediatamente de beijar Hermione. Ela estava lutando para se concentrar e ficar séria com o que tinha falado. Havia feito tudo àquilo para testar Rony, e ele estava caindo como um peixinho. – Como assim não estamos namorando?

- Eu não sabia disso, não ouvi nada parecido com a palavra namoro até agora! – ela disse rolando o corpo por debaixo do de Rony e saindo da cama lentamente até o sofá.

- Mas é claro que você não ouviu nada sobre isso! Está escrito na minha testa que o meu objetivo é esse! – ele disse ainda sentado na cama sem entender a situação.

- Bom... eu não teria como saber, não é? Tantas pessoas ficando por aí, sem compromisso nenhum... não ouvi nenhum pedido formal, então pensei que não quisesse. – Ela estava chegando no ponto.

- É isso que você quer? Um pedido?

- Não Rony... a pergunta é: você quer?

Rony saltou da cama e colocou rápido o chinelo nos pés.

- Não saia daqui – disse antes de correr para fora do quarto e seguir o caminho para o seu verdadeiro quarto.

Pareceram se passar cinco segundos, e ele já estava ali no quarto, bateu com força a porta atrás de si e chegou perto de Hermione, que ainda estava embasbacada, sentada no sofá com a expressão confusa. Rony trazia algo escondido entre a mão fechado, e Hermione sentiu seu coração parar por um segundo ao imaginar o que seria aquilo. Ele se encaminhou até ela, a fez levantar carinhosamente, se abraçou nela e disse:

- Esse é um pedido oficial, feito por mim, a pessoa mais feliz do mundo... – ele abriu a mão que até então estava fechada e de lá tirou dois anéis.

- Rony! Como conseguiu isso!?

- Você quer namorar comigo? – Hermione continuou quieta, encarando os anéis depositados na mão do futuro namorado.

- É claro que eu quero namorar com você! – ela disse jogando os braços em torno do pescoço de Rony e lhe dando um beijo demorado.

- Você é a pessoa mais complicada que eu conheço, sabia? – ele disse depois de se largar do beijo.

- E você a pessoa mais surpreendente que eu conheço! Afinal... onde conseguiu isso? Do dia pra noite? – ela disse enquanto Rony colocava o anel em seu dedo.

- Na verdade eu lhe daria isso mais pra frente, quando eu não estivesse com a cara amassada de sono e os cabelos levantados desse jeito... – Hermione riu ao perceber os cabelos levantados de Rony. Parecia que tinha leva um choque. – Mas como eu não consigo mais esperar para ver esse sorriso no seu rosto a cada vez que você me olha, eu tive que ir buscar! – Ele olhou pro teto numa fingida desaprovação – comprei na Artigos Bruxos, no Beco Diagonal. Ele fica prateado caso você esteja em segurança, e preto se você corre perigo. Útil não é?

- Muito... – respondeu Hermione enquanto analisava melhor o tal anel. Tinha um brilho prateado forte, e o nome de Rony estava escrito por dentro dele. – Mas espera aí! Como você foi até o Beco? Você não me contou alguma coisa, Ronald! – ela disse brava pensando que ele tinha escapado da casa de William para comprar o anel.

- Eu comprei antes do casamento – disse envergonhado.

- Antes do casamento?

- Bom... eu tinha esperanças... bom... você sabe...

- Não precisa explicar... e não precisa ficar envergonhado também – disse abraçando Rony – eu também tinha esperanças...

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Quando finalmente Rony e Hermione decidiram descer, todos já estavam sentados em uma roda em volta da mesa, entretanto, não estavam almoçando nem muito menos conversando, e uma figura mal tratada estava sentada ao lado de Harry: Lupin.

- Bom dia – Hermione disse enquanto descia as escadas com Rony ao seu lado.

- Bom dia Lupin – Rony disse entusiasmado – visita boa ou ruim? – Perguntou depois de sentar ao lado de Gina, que estava concentrada em um livro a sua frente.

Estavam todos tensos e sérios naquela mesa, só Gina dera uma olhada significativa para eles quando desceram as escadas. Já era de se esperar que ela o fizesse, pois nunca deixava uma oportunidade de deixar Rony envergonhado passar em branco.

- Tiveram uma boa noite? – Gina perguntou antes que Lupin pudesse responder a pergunta de Rony.

- Ótima se quer saber – Hermione respondeu feliz, se sentando ao lado de Harry na mesa.

- Onde você dormiu Rony? – Harry perguntou fingindo inocência, mas para estragar tudo Gina não conseguiu reprimir uma risada.

- No sofá do quarto da Hermione... lembra que você ia dormir lá? – Gina parou de rir na hora e olhou séria para o irmão, virando a cabeça na direção de Harry logo depois pedindo explicações.

- Bom dia pra vocês dois também! – respondeu Lupin cordialmente, interrompendo a briga futura, e dessa vez Hermione pode ver um grande machucado em seu rosto.

- O que aconteceu com você? – ela perguntou, não podendo deixar de reparar na mesa cheia de livros a sua frente.

- Acidente de percurso. Fui descoberto, e por isso ficarei aqui por um tempo.

- Mas isso é horrível!

- De qualquer forma eu precisava vir aqui pra saber as novidades, e parece que vocês têm muitas pra me contar, em especial você Hermione. – Ele disse com um olhar sério em direção a garota. – Eu preciso saber se Snape estava no seu juízo perfeito quando fez o que fez...

- Quem estaria em juízo perfeito fazendo algo desse tipo? – Rony interrompeu Lupin batendo forte a mão na mesa, com a raiva voltando ao seu corpo.

- Os Comensais são pessoas perversas Rony, mas nunca na história se ouvi falar de algo parecido. Geralmente eles torturam com magia, e não com as próprias mãos. É contraditório, você não acha? – Ele olhou para Rony com mais atenção do que nunca. – Eles têm aversão a trouxas, são apaixonados por serem bruxos puro sangue e não negam as suas origens. Se são bruxos... usam magia. Se não gostam de trouxas, ou no caso de Hermione, de nascidos trouxas, não deveriam tocá-la deste modo. – Hermione abaixou a cabeça e começou a encarar o chão por baixo da mesa.

- Você tem razão... isso não é normal. Normal levando em conta os princípios dos Comensais, e de Voldemort. O crucio seria a forma mais fácil de se torturar uma pessoa – ela respondeu ainda mirando o chão a sua frente.

Harry imaginou como devia ser difícil para Hermione enfrentar tudo aquilo. Ela estava visivelmente feliz, estava de bem com Rony finalmente. E por mais que não tivesse certeza de que os dois estavam juntos, podia contar com a sua experiência de que ninguém que se gostasse, em sã consciência, ficaria no mesmo quarto sem fazer nada. Se bem que no caso de Hermione e Rony tudo era possível. Até passar a noite brigando já era uma possibilidade... mas não, eles estavam se olhando de um modo diferente, de um modo intenso como Harry nunca os vira olhar um pro outro. Entretanto, havia algo nos olhos dela que não o deixavam esquecer do momento em que a vira deitada no chão da mina, com as roupas rasgadas e o rosto ensangüentado. Seu supercílio ainda machucado não deixaria que ele se esquecesse daquilo tão cedo.

Por outro lado ele não havia feito nada... nada. E nem ao menos devia se sentir digno de tanta raiva. Fora Rony quem vira tudo acontecer, e seu coração doía mais ainda ao pensar em como o amigo devia ter sofrido vendo a pessoa que mais amava sendo torturada desse jeito tão vil.

Imaginou que podia ser Gina... mais um vez. Hermione sofria tudo o que alguém não devia sofrer. Foi envenenada, foi violentada, e ele só pensava em como aquilo estava sendo duro para todos eles. Em tudo o que teria que dar para acabar de vez com aquilo, para matar de vez essa desgraça em suas vidas.

- Mas Lupin, ele não conseguiu me torturar com o crucio, de alguma forma eu senti tanta vontade de me soltar daquele feitiço, que a idéia de ser torturada era absolutamente descartável pra mim. Eu queria me levantar e pegar ele, e foi nisso que eu pensei enquanto o feitiço se enfraquecia.

- Como o impérios - disse Harry. – Se eu me concentrar profundamente, nem ao menos sinto que estou sendo atingido. Eu não posso dizer que qualquer um conseguiria o que eu consegui, pois nem eu sei como consigo me controlar dessa forma, mas eu acredito que se uma pessoa se concentra realmente num objetivo, ela consegue desfazer o feitiço.

- Se ela quiser muito – Rony disse resumindo todas as palavras de Harry.

- Resumindo em uma frase, é exatamente isso – disse Harry, enquanto lançava um olhar de tristeza à Rony, que parecia estar vendo a cena da mina passando em sua cabeça mais uma vez, trazendo a tona aquelas imagens que tanto o deixavam furioso e ao mesmo tempo triste por Hermione.

- A única coisa que passava na minha cabeça era a idéia de que eu deveria me soltar, deveria sair daquele estado. E eu estou começando a achar que nós somos muito mais fortes do que esses feitiços.

- Você quer dizer que nós devemos treinar? – Hermione perguntou, e parecia gostar muito da idéia.

- Não vejo como, eu consegui lançar o feitiço contra Snape, mas com certeza não conseguirei contra vocês – respondeu Rony.

- Mas há outros tipos de feitiços, Rony – disse Lupin – feitiços que qualquer auror tem de enfrentar para passar nos testes de perseverança e força. Nós podemos usá-los em vocês – ele coçou o pescoço pensando seriamente no assunto. – Será extremamente difícil, pois só bruxos com magia avançada conseguem suporta-la, mas vocês estão participando dessa guerra, e creio que podemos tentar.

- Vamos treinar hoje mesmo – disse Rony antes de todos. Olhou para os amigos procurando objeções, mas não encontrou nenhuma, só olhares de afirmação.

- Muito bem então. Mas eu repito mais uma vez: não será nada fácil para vocês.

- Não tem problema, só a certeza de que nós estaremos mais preparados para a próxima vez que virmos aquele verme, eu já fico mais feliz – disse Rony encarando um pequeno buraco na mesa.

- Mas Rony, você tem que saber que nós devemos pega-lo vivo – disse Hermione, mesmo já sabendo que a resposta de Rony não seria a esperada.

- Não vejo por que! – ele disse e ela respirou fundo antes de continuar.

- Nós não queremos imitá-los Rony!

- Você não sabe como é...

- Eu sei sim! Mais do que ninguém eu sei como é! – Os olhos de Hermione se encheram de lágrimas, mas nem sequer uma rolou pelo seu rosto, pois ela secou-os rápido. – Me prometa que você vai tentar não mata-lo, Rony! Prometa-me!

- Eu... eu vou tentar... – ele disse buscando as mãos de Hermione e entrelaçando as mãos dela nas suas – eu prometo – disse dando um selinho em Hermione.

- Também prometo – Harry disse ao se recuperar do choque de ver Rony beijando Hermione. Era totalmente novo, mas era reconfortante. – Com exceção de Voldemort, é claro.

- Estou nessa – disse Lupin.

- Eu também – disse Gina, e nesse momento Harry lhe lançou um olhar preocupado, mas resolveu ficar quieto ao ver a expressão da namorada.

- Vou ensiná-los os feitiços que a Ordem usava. Não matar requer sacrifícios de nossa parte, e vocês têm que entender muito bem essa parte. Um bom exemplo é Allastor Moody, que já matou muitos comensais, mas sempre quando não havia mais alternativa. Nas outras oportunidades ele saía com algum pedaço de pele faltando – Lupin olhou divertido para a orelha de Rony – Rony já recebeu a marca registrada dos aurores.

- Háha, muito engraçado – disse passando a mão na orelha e fazendo uma careta de desgosto.

- Faremos igual em Snape quando o acharmos – Harry disse com confiança na voz.
- Então a sua teoria estava certa? – Gina tirou os olhos do livro que estava lendo e mudou de assunto como se nem estivesse envolvida na conversa passada. Dirigiu sua pergunta a Lupin. – Ele fugiu... e consequentemente deve estar louco ou coisa parecida.

- É bem provável que sim, mas pode ser que nunca tenhamos certeza – ele respondeu.

- Nós podemos dar veritasserum ao Draco, não podemos? – Harry falou esperançoso.

- Ele está debilitado Harry – Lupin disse e seu rosto se contorceu em pena – está acordando de vez em quando, delira e depois volta a dormir. Só se ouve o nome de sua mãe saindo de sua boca. A única coisa que sabemos é que Snape o levou até o castelo e que ele torturou Narcisa... foi só isso que conseguimos antes dele desmaiar.

- Veritasserum? - Harry perguntou.

- Sim...

- Mas então nós ainda podemos conseguir mais informações?

- Quando ele conseguir ficar mais de cinco minutos acordado, sim.

- Pode ser que ele saiba algo sobre o colar – Harry retirou um bilhete amassado do bolso traseiro da calça. – Escutem isso.


Ao Lorde das Trevas

Sei que há muito estarei morto quando ler isto, mas quero que saiba que ainda vivo na esperança de que este horcrux seja destruído.

Talvez este seja o horcrux mais poderoso e indestrutível, mas só para seres perversos que não conhecem o amor como você. Chegará o dia em que um melhor do que eu o encontrará, e quem sabe esse alguém ainda tenha consigo o poder para destruir-lo.

R.A.B.


- Horcrux mais poderoso e indestrutível? – Rony franziu a testa e soltou um longo suspiro – isso só pode ser brincadeira!

- Por que alguém iria atrás de uma horcrux e a deixaria no mesmo lugar onde a achou? – Gina perguntou.

- Pra que alguém melhor do que ele a achasse... isso ficou meio óbvio – respondeu Hermione. – Mas a questão é: melhor que ele? Ele que se dispôs a procurá-los e a destruí-los? Não vejo como alguém pode ser melhor que isso!

- Ele não tinha alguma coisa, algo que precisava para destruir o horcrux. Não tinha o antídoto – Harry falou e procurou os olhos de Lupin.

- Nos resta saber que antídoto é esse – Lupin respondeu ao olhar.

- Antídoto para destruir um colar? Queime-o – disse Gina simplesmente.

- Já tentei ontem à noite – disse Harry.

- Mas afinal de contas Harry, onde está o tal colar que você achou? – disse Hermione impaciente.

- Aqui – Harry tirou o colar do bolso e depositou sobre a mesa. Era o colar mais lindo que Hermione já vira, tinha um coração cravejado de diamantes em sua ponta, e dele saia um brilho que chegava a doer os olhos.

- É um horcrux mesmo? – Rony perguntou.

- Sim... eu posso sentir. – Harry disse e todos os olhares se encaminharam para ele. Poderia fazer papel de louco, mas tinha toda a certeza de que aquilo era sim o horcrux que estavam procurando. Podia sentir magia negra no ar, não sabia como, mas sentia o coração apertado quando tocava naquele colar.

- Eu não sinto nada – Hermione disse encostando a mão no colar. – Me parece normal, por mais que eu esteja sentindo uma vontade enorme de usá-lo.

- Eu também – Gina falou e a mão de Harry se fechou sobre o colar.

- Nem pensem em fazer isso! Em nenhuma hipótese pensem em fazer uma bobagem dessas! Ouviram? – Ele disse furioso guardando o colar mais uma vez no bolso. – Não quero nem saber o que vai acontecer a vocês se colocarem isso. A mão de Dumbledore foi um bom exemplo do perigo que isso trás.

- Do mesmo jeito ele teve que colocar o anel para consegui destruí-lo. E se nós também tivermos que fazer isso? – Hermione perguntou e virou seu rosto na direção de Lupin em busca de respostas.

- Dumbledore estudou a história daquele anel – Lupin respondeu enquanto fechava o livro que estava a sua frente e mostrou a capa onde se via o titulo “Relíquias da História”. – Ele teve que usa-lo até que sua mão estivesse totalmente sem vida, e depois de feito isso, devolveu-o ao seu antigo dono: Salazar Sonserina.

- Ele leu que deveria fazer isso? – Rony disse tomando o livro das mãos de Lupin.

- Ele leu, e leu mais um pouco e mais uma infinidade de meses até descobrir o que deveria fazer. Depois disso teve que encontrar o corpo de Salazar. E posso afirmar uma coisa a vocês: não foi nada, mas nada fácil mesmo achar o corpo.

- Teremos que achar a resposta para destruir o colar? – Gina perguntou.

- Exatamente.

- Isso não vai ser nada fácil, não é? – perguntou a ruiva mergulhando de volta nos livros.

- Nem um pouco... e eu temo que isso seja mais difícil do que a própria busca pelo horcrux – Lupin disse puxando o livro das mãos de Harry. – Dumbledore nos deixou uma base valiosa de pesquisa. Sabemos que os horcruxes são relíquias antigas, com grande valor histórico e pertencente a grandes nomes, o que nos leva a crer que sejam os fundadores de Hogwarts.

- A taça de Lufa-Lufa, o anel de Sonserina, o pingente...

- E algo de Grifinória ou Corvinal. Sim Hermione, isso mesmo. E pelo meu pouco, mas necessário conhecimento de jóias, tenho a impressão de que essa é uma relíquia muito valiosa e tudo nos mostra que foi de uma mulher.

- De Corvinal.

- Isso.

- Mas segundo Dumbledore, não há uma relíquia de Corvinal – Harry disse sentindo os pensamentos se embolarem em sua cabeça.

- Que ele soubesse. Pode ser que tivesse mudado de opinião ao ver um colar como esse.

- Você o achou no corredor, não é Harry? – Gina se pronunciou de repente.

- Sim... Simplesmente estava caminhando quando senti uma sensação estranha. O achei logo no fim do túnel, abandonado sobre um monte de terra.

- Isso quer dizer que alguém planejou isso, você não acha? Quer dizer... achar uma coisa tão importante no chão de um túnel não é nada difícil. É até fácil demais se vocês querem saber. Tenho pra mim que alguém queria que vocês encontrassem o colar. Pode ser que ele seja falso, que não seja um horcrux...

- Ou que ele seja exatamente isso – Hermione interrompeu a amiga – se nós estivermos certos quanto à loucura de Snape, e eu posso dizer mais do que ninguém que acredito nessa história. Tenho quase certeza de que ele não está mais ao lado de Voldemort, e ao contrário do que vocês possam pensar, creio que foi ele quem nos entregou o horcrux, de mão lavada, sem que nós percebêssemos nada de imediato.

- E por que ele faria algo desse tipo? – Rony perguntou.

- Eu vi nos olhos dele Rony... eu não sei como e nem sei explicar o porque, mas eu vi alguma coisa nele que eu nunca tinha visto antes. Ele estava completamente fora de controle e acredite em mim quando digo isso, pois ele nem sequer conseguiu lutar conosco. Não conseguiu proferir nenhum feitiço por completo e com a força que nós sabemos que ele tem. Ele fugiu quando você chegou Harry... você consegue me entender?

- Ele desapareceu sem mais nem menos? – Lupin perguntou e Hermione só mexeu a cabeça afirmando.

- Isso é estranho – disse Lupin – porque outro motivo ele estaria na mina se não para pega-lo, Harry? Encontrou Hermione e Rony e depois fugiu. É no mínimo estranho.

- Nós temos que falar com o Draco... – disse Rony - e temos que descobrir que maldito colar é esse e como destruí-lo.

- Vamos ter que esperar um tempo...

- Eu espero o tempo que precisar esperar – Harry respondeu tentando se acalmar frente às respostas que não chegavam. Suas dúvidas só aumentavam ao invés de diminuírem. Era desconfortante, era horrível sentir que estava perdido em meio a tantas pistas e charadas. Precisava descobrir antes que algum outro descobrisse, antes que mais alguém se machucasse...

- Nós podemos almoçar agora, e depois ir treinar nos jardins, o que acham? – perguntou Lupin.

- Ótima idéia. E enquanto William não prepara o almoço, nós podemos continuar pesquisando sobre o colar e sobre Corvinal. Se Dumbledore não achou nada sobre ela, eu acho que nós vamos ter que nos empenhar o dobro pra conseguir.

- Eu me encarrego de procurar enquanto vocês treinam – disse Gina, e nesse momento Harry lembrou-se de que ela não deveria estar mais ali com eles. Deveria estar em casa, segura dentro de quatro paredes e fora de qualquer perigo que não fosse tropeçar em seus próprios pés. Ele sabia que aquilo era extremamente egoísta de sua parte, mas não conseguia reprimir esse sentimento que o deixava sem defesas. Essa sensação horrível de não vê-la segura ao seu lado.
- Você não quer voltar pra casa Gina? – Foi só o que conseguiu proferir. Não tinha mais como escolher por ela, pois isso não parecia a coisa certa a se fazer. Gina era mais madura do que a sua idade e sabia muito bem pesar as coisas com responsabilidade. Ela estava ali, querendo ajudar, e isso lhe causava um aperto no peito sem precedentes. Não havia como explicar esse medo de que algo horrível estava por vir, mas ao mesmo tempo, por mais que tentasse esvair esses pensamentos, sabia que um segundo sem Gina era um fim do mundo. Vê-la ir embora seria quase pior do que vê-la ficar. Era contraditório, mas era o que o seu coração lhe dizia. Dizia-lhe que ela devia decidir, e não ele.

- Eu vou ficar... – os olhos ficaram vermelhos de uma hora para outra – já me envolvi demais para ir embora agora – disse esfregando os olhos numa tentativa inútil de não chorar. – E não me diga pra ir! – Ela disse exaltada, se levantando da cadeira e indo na direção de Harry – Por favor – disse suplicando dessa vez enquanto uma lágrima solitária corria pelo seu rosto – por favor, Harry, não diga pra eu ir embora, não diga por favor!

Não havia mais o que discutir, já estava mais do que certo que deveria ser feito. Harry alojou a namorada de encontro ao seu peito, num abraço apertado e cheio de angustia. Nessa hora William apareceu para avisar que o almoço estava pronto. E ao contrário de todas as vezes que William aparecia, desta vez nenhum desastre aconteceu, todos se encaminharam para a cozinha em silêncio, deixando Harry e Gina a sós.

- Eu não me arrependo de ter te deixado em casa da primeira vez – começou a falar ainda abraçado na namorada – mas depois que você apareceu lá na cabana, quando eu senti que o meu coração ia saltar pela boca, tudo ficou mais claro pra mim. Eu não sei ser feliz sem você. Eu não sei...

- Você pode ter certeza de que eu não vou fazer nada que você não aprove...

- Você não precisa da minha aprovação! – Harry disse para depois beijar a testa de Gina.

- E não preciso mesmo! – disse Gina e um sorriso perpassou pelos seus lábios.

Gostava do jeito como ela fazia as coisas modificarem... de como fazia a tristeza ir embora de uma hora pra outra. Devia ser por isso que ele gostava tanto dela. Dentre outras mil coisas importantes que ele via nela, a mais importante de todas era o simples dom que ela tinha de lhe fazer feliz. Apesar de tudo ele era feliz quando estava com ela. Rony, Hermione, Lupin, todos os Weasley e todas as pessoas que lhe eram importantes... Todos o faziam feliz, mas Gina tinha o poder de tornar isso completo.

- Eu juro pra você que eu vou achar a resposta pra você ... eu vou fazer de tudo pra achar – ela disse antes de dar um selinho carinhoso em Harry.

- Mas só depois que você me der outro beijo.

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Haviam se dirigido todos para perto do lago, onde treinariam os feitiços prometidos por Lupin. Almofadas, cadeiras, pedras e até um sofá já estavam a postos para o treinamento que Lupin lhes daria.

William e Gina ficaram encarregados de ajudar nas tarefas, e até mesmo arriscavam tentar alguns feitiços, aos quais só Gina conseguia fazer, tal era a força de seus feitiços. Depois de Harry, ela conseguia ser a mais forte lançadora de feitiços entre o grupo, e Harry já começava a se preocupar com toda aquela motivação.

- Acho melhor você parar antes que eu queira te levar pra batalha junto comigo!- ele fez que estava brincando, mas sua cabeça funcionava a mil por causa daquela possibilidade.

- Não se preocupe amor. Eu não vou tirar a sua glória! – ela disse atirando um travesseiro na cara de Harry.

- Vocês dois! – Hermione gritou de um canto logo atrás de Harry. Estava suja dos pés a cabeça de tanto lutar contra os feitiços de Rony. Os treinos de Rony enquanto Hermione estava no hospital haviam surtido efeito, e ela estava passando um bom sufoco para se livrar deles. A principio Rony não queria judiar muito dela, mas quando Hermione gritou com ele, como já era de costume dos dois, Rony colocou um pouco mais de força e partiu para o ataque.

- O que foi? – Gina perguntou e nessa hora um travesseiro bateu em cheio em seu rosto. – Cachorr...

- Nós precisamos treinar lembra? – disse com a autoridade de uma professora, e Lupin se juntou a ela atenuando o pedido.

- Vou dar cinco minutos a vocês! Só cinco minutos!

- Vou me lavar um pouco então – Hermione disse olhando para a sua roupa cheia de lama e sujeira – você me paga quando eu voltar! – disse apontando um dedo acusador na direção de Rony, que só riu e se atirou no chão para descansar.

Atravessou a pequena colina que separava o lago da casa de William. Queria se recompor um pouco para dar o troco em Rony, pensou consigo mesma.

Dirigiu-se para a casa de William. A porta da casa estava aberta. Franziu a testa, aborrecida. Quem abrira? Havia combinado com todos que a casa permaneceria trancada quando ninguém estivesse dentro dela. Por mais que a casa fosse um esconderijo supostamente perfeito, sempre haveria suspeitas e possibilidades a se levar em conta. Estavam em guerra, e tudo tinha que ser planejado.

Um número excessivo de pessoas tinha a chave: ela própria, Rony, Harry, William, e até Lupin, deixando de lado Gina. A chave possuía um encantamento muito forte, e no seu ver ninguém tinha voltado para a casa.

Ela entrou. Tudo parecia normal, tudo no lugar e perfeitamente intacto. Moscas dançavam no ar, no meio da sala, varejeiras azuis passeavam encima da toalha, e um par de vespas brigavam furiosamente em torno da rolha do pote de mel que William abrira depois do almoço. Lembrou como Harry havia falado mal do campo e dos insetos, e só agora podia entendê-lo.

Encaminhou-se até as escadas, mas antes de pisar no primeiro degrau, sentiu uma coisa mexendo em seu bolso. Quando se deu conta, sua varinha voou para fora da jaqueta e saiu picando pela sala.

Snape estava postado na frente da porta.

Hermione deu um grito de medo, depois se recuperou e correu em direção à varinha que estava jogada por detrás do sofá.

- Feitiços inaudíveis são uma maravilha de invenção, você não acha? – ele disse com aquele mesmo sorriso asqueroso da noite passada.

- Como você entrou aqui?! – Hermione falou antes de ser arremessada para trás com outro feitiço.

- Eu tinha uma chave.

Oh não! A minha chave! Como pude ser tão idiota?, ela pensou enquanto procurava por sua chave dentro da jaqueta.

- Peguei ontem na mina... você lembra? – ele se aproximou.

- RONYYYYYYYYYYYYYYY!!!! – Hermione gritou o mais forte que suas cordas vocais permitiram.

- Não seja idiota, você sabe que eles não podem ouvi-la – ele parou no meio da sala, e ficou encarando Hermione com um sorriso estranho no rosto, parecia um olhar sonhador. Estava louco... só podia estar!

- O que veio fazer aqui? – Ela usaria de outra tática. Não sabia se ele estava louco, mas se estivesse, colaboraria e daria corda para a conversa dele até que alguém sentisse sua falta. Não tinha sua varinha em mãos... só podia fazer isso nessa hora.

- Vim vê-la.

Ela percebeu que tremia, não de medo, mas de raiva.

- Sinto sua falta Narcisa.

Era a prova de que precisava. Ele estava totalmente pirado e isso já era um assunto encerrado. Sua expressão era triste, seus ombros largos estavam ossudos, e o seu rosto enrugado parecia encolhido. Estava digno de pena. E não havia mais em seu rosto aquele antigo tom severo, mas uma infelicidade que dava até pena.

- Você não devia ter me matado! – Hermione respondeu, sua voz tremendo em cada palavra.

- Mas eu não queria, eu lhe disse isso antes de morrer! Eu não queria! – ele começou a ficar vermelho como um pimentão e Hermione teve medo de que Snape começasse a chorar de repente.

- Ele pediu e você aceitou.

- Mas eu me arrependi! Levei seu filho para Hogwarts, dei a horcrux ao Harry...

- Você deu? – Hermione se assustou com a revelação.

- Sim! Deixei o colar onde ele pudesse ver, para que pudesse destruí-la! Mas aqueles pirralhos estavam lá, aquela sangue-ruim e aquele Weasley! Eles nem sequer suspeitaram, não precisa se preocupar com isso, o Lord nunca saberá.

- Então você me deixa ir embora? – Hermione se moveu devagar em direção à porta, com o coração batendo a mil em sua garganta.

- NÃO! VOCÊ TEM QUE ME PERDOAR! Eu fiz de tudo para proteger Draco! Você não lembra? Eu fiz tudo por você! Eu entreguei a horcrux ao Potter como você me disse pra fazer. Eu posso matá-lo ao final, quando ele destruir o Lord, eu posso matá-lo assim como nós planejamos. Eu matei muito antes dele, vai ser fácil fazer mais uma vez.

- Vá a outro lugar se quer perdão! – Hermione inflou de raiva lembrando que aquele homem havia matado Dumbledore. – Eu o odeio por tudo o que fez! Eu o odeio Snape! E você nunca vai ser perdoado pelo o que fez! Nunca!

- Como você pode dizer isso? – ele tentou agarrar as mãos de Hermione. – Você é minha mulher!

Hermione quase desabara ao som da palavra. Como uma pessoa podia ser tão ruim? Tão sem sentimentos? Eles, Snape e Narcisa, juntos. Pode até ser que eles não estivessem realmente juntos como ele dizia estarem, mas mesmo assim ele a amava, ou pelo menos alimentava um sentimento doentio por ela. E a matara. A torturara. E agora estava louco, vendo Narcisas onde não existiam e falando asneiras e verdades a torto e a direito. Queria matar Harry depois que ele destruísse Voldemort. Isso já era o suficiente para odiá-lo mais do que podia suportar.

- NÃO SOU SUA MULHER! NUNCA FUI NADA SUA! ASSASSINO! – Hermione gritou em meio a lágrimas e correu desesperada em direção a porta. Não queria nem mais ver Snape na sua frente. Estava com nojo dele. Nojo daquela história maluca. Nojo porque ele nem sequer se importava com os outros a sua volta, só se importava com a Narcisa que havia matado. Não tinha dúvidas de que aquela culpa que ele estava sentindo não era produto da loucura, pois Snape não era desse tipo. Era produto da sua mente suja e maléfica. Ele já era louco por natureza e ninguém percebera.

- Você é minha mulher – exclamou. Puxou-a na sua direção, por cima da mesa, e com a mão livre agarrou-lhe a cintura.

Hermione foi tomada completamente de surpresa. Aquilo era última coisa que podia esperar de um homem que supostamente amava a mulher a quem estava machucando. Automaticamente gritou e afastou-se, mas Snape a estava segurando com força e puxou-a de volta com um arranco.

- Não há ninguém aqui para ouvir seus gritos – disse ele. – Estão do outro lado do lago.

De súbito Hermione se sentiu terrivelmente apavorada. Estavam sozinhos, e apesar de magro, ele era muito forte. Após tantas milhas de estrada que percorrera, tantos anos que arriscara o pescoço, a viajem que fizera, e agora estava sendo atacada pelo homem que havia considerado a tempos atrás um aliado!

Snape viu o medo estampado nos olhos de Hermione, e como se voltasse ao normal, como se fosse o Snape de sempre, disse com a voz mais grossa e os olhos lampejando em fúria:

- Assustada, você, Granger? Talvez seja melhor ser boazinha dessa vez, ou vai levar mais um corte no rosto, e muito maior do que o anterior. – Tentou beija-la na boca. Hermione mordeu seu lábio com toda a força de que foi capaz. Ele urrou de dor.

Ela não viu o soco se aproximando. Explodiu no seu rosto com tanta força que lhe passou pela cabeça a terrível idéia de que talvez tivesse esmagado os seus ossos. Por um momento perdeu a visão e o equilíbrio. Soltou a mesa e sentiu que estava caindo, e tombou no chão com um baque surdo, machucando as costas e por milagre não ferindo a cabeça. Sacudiu a cabeça para clareá-la e tentou pegar a varinha que se encontrava a poucos centímetros de sua mão. Antes que conseguisse, seus dois pulsos foram agarrados e ela ouviu Snape dizer:

- Nem pense nisso – ele soltou suas mãos, socou-lhe o rosto de novo e pegou a varinha.

Hermione tentou se libertar, retorcendo o corpo. Ele se sentou sobre suas pernas e levou a mão esquerda ao seu pescoço. Ela agitou os braços e de repente, a ponta da varinha estava a uma polegada do seu olho.

- Fique quieta, se não arranco seus olhos – ameaçou.

Por que estava fazendo aquilo? Por quê? Estaria ela representando o mundo que o rejeitara?

Ele inclinou-se para frente, pondo-se a cavalo em cima de Hermione, com os joelhos ao lado de seus quadris, conservando a varinha junto ao seu olho. Snape fez menção em rasgar a blusa de Hermione fora. Estava a ponto de vomitar, não conseguia mais respirar só de pensar que ele podia querer fazer aquilo novamente.
Nesse momento a porta abriu.

Seu coração deu um pulo de esperança. Os raios de sol que entraram pela sala cintilaram por entre suas lágrimas, ofuscando-a. Snape ficou imóvel e ela conseguiu respirar novamente.

Ambos olharam na direção da porta. Quem era? Hermione não conseguiu enxergar. Que não seja William!, pediu ela. Eu ficaria tão envergonhada! Ouviu um urro de cólera. Era uma voz de homem. Piscou, afastando as lágrimas, e reconheceu Rony.

Pobre Rony! Era quase pior do que se tivesse sido William. Rony, que tinha uma cicatriz no lugar do lobo da orelha esquerda para lembrá-lo para sempre da terrível cena que presenciara. Agora testemunhava outra. Como iria reagir?

Snape começou a pôr-se de pé, mas Rony foi rápido demais para ele. Hermione o viu atravessar o cômodo de um pulo e soltar um chute com o pé calçado por uma bota, pegando Snape em cheio no queixo. Ele caiu de costas em cima da mesa. Rony avançou, tropeçando em Hermione sem se dar conta, batendo em Snape com os pés e os punhos, lançando a varinha de Hermione para longe das mãos de Snape. Ela afastou-se do caminho, como medo de se machucar mais ainda. O rosto de Rony era uma máscara de fúria ingovernável. Golpeou Snape repetidas vezes, com ambos os punhos. Snape recuou desequilibrado, em torno da mesa, tentando fragilmente se defender com os braços erguidos. Rony o pegou no queixo com um murro poderoso, e Snape tombou de costas, olhando para cima aterrorizado.

Rony estava descontrolado. Sua raiva era tanta que só atingir Snape com um feitiço era muito pouco. Queria bater nele, bater muito e aproveitar que o seu adversário estava confuso demais para achar a própria varinha nos bolsos internos da capa. Queria machucá-lo para que Snape sentisse toda a dor que ele também estava sentindo.

- Basta, Rony! – pedia Hermione, com medo da violência do namorado. Este a ignorou e adiantou-se para chutar Snape novamente. Foi quando o antigo comensal achou a varinha entre a sua capa. Esquivou-se, levantou-se rapidamente e atacou Rony com um feitiço muito fraco, efeito de sua tontura. Rony foi pego de surpresa e mais do que rápido procurou a sua varinha.

Rony tinha muito mais força diante o debilitado Snape. Era quase pior do que ver William apanhado... na verdade era muito pior, pois Rony não parecia ele mesmo. Mas de nada adiantava ser mais forte em força quando o seu adversário tem uma varinha em mãos e você não. Sentiu um súbito medo de que Rony não conseguisse achar sua varinha, e parecia que isso estava se tornando realidade, pois o namorado sacudia as vestes freneticamente em busca dela.

- Crucio! – Snape tentou gritar, mas apenas um fiapo de voz saiu de sua boca. Rony havia exagerado nas pancadas, e o antigo professor cambaleava de um lado para o outro tentando proferir feitiços.

- SECTUSEMPRA!!! – Rony gritou e o feitiço ricocheteou em Snape. Só podia ter usado um feitiço de escudo para repelir o ataque poderoso que Rony lançara. – EXPELIARMOS! - Rony gritou mais uma vez e o feitiço atingiu em cheio Snape, que foi lançado de costas na parede e escorregou devagar até o chão.

Rony ficou parado por um minuto, respirou fundo e olhou profundamente para aquele corpo magro e supostamente indefeso estirado no chão. Era um miserável e estava debilitado. Respirava com dificuldade e não conseguia mais nem levantar a mão para proferir um feitiço.

- Vamos amarrá-lo Rony – Hermione disse e pela primeira vez desde que entrara na casa Rony a olhou. – Nós não precisamos matá-lo... você lembra... RONY!

Um feitiço de cor verde passou raspando ao lado da cabeça de Rony, e o garoto deixou que sua varinha caísse no chão tal fora o susto. Snape aproveitou a oportunidade e rastejou pelo chão com a varinha erguida na direção de Rony, que não teve como se mexer. Hermione viu em seus olhos que Snape ia matá-lo. Sentiu seu chão desaparecer e num impulso desesperado, segurando a primeira coisa que suas mãos puderam alcançar, foi na direção de Snape, e brandinho um vaso extremamente pesado, jogou com toda a força o objeto sobre ele. Errou a cabeça, mas acertou seu cotovelo direito. Ela ouviu o barulho do impacto e logo depois o vaso se quebrou em centenas de pedaços no chão. O golpe deixou a mão de Snape insensível e a varinha caiu de seus dedos.

O modo como tudo acabou foi espantosamente rápido.

Rony abaixou-se, pegou a varinha e, mais uma vez lançou um feitiço. Um Rictusempra muito poderoso saiu de sua varinha e golpeou forte o adversário. Hermione ficou horrorizada. Snape soltou um grito agudo, que chegava a doer os ouvidos. Abriu a boca para gritar de novo, mas não veio nenhum som. Seu rosto ficou branco, e depois cinzento, os olhos se fecharam e ele caiu no chão.

Hermione correu na direção de Snape, ajoelhou-se ao seu lado. Suas pálpebras tremeram, ainda respirava com dificuldade, mas a vida estava se esvaindo de seu corpo.

- Ele está morrendo – disse Hermione tremendo da cabeça aos pés.

Rony assentiu. Não estava muito comovido.

- Já vi homens melhores morrendo – disse. – Já vi homens que mereciam muito menos a morte do que ele.

Hermione ficou chocada com a sua impiedade, mas nada disse sobre isso. Acabara de se lembrar da primeira vez em que Snape a havia violentado. Não sabia o que teria feito na pele de Rony, mas tinha certeza de que não agüentaria ver um amigo ser torturado daquele jeito. Ele tinha feito o que qualquer um faria em seu lugar. Sentiria raiva e lutaria até o seu objetivo. Mas ele havia parado por um momento. Havia olhado para ela e lembrado da promessa que tinha feito, e isso valeu mais do que mil palavras e gestos. Não queria matá-lo, pois ela tinha certeza de que ele seria muito capaz de proferir um Avada contra Snape. Entretanto, um rictusempra, um simples feitiço, já foi o necessário para nocautear aquele homem horrível.

Ela olhou mais uma vez para Snape. Ele abriu os olhos e fitou-a. Ficou quase envergonha pela pouca compaixão que sentia por aquele homem moribundo. Pensou, enquanto o encarava, que ele próprio nunca fora compassivo, clemente ou generoso. Sempre cultivara ressentimentos e ódios, comprazendo-se com gestos de perversidade e vingança. Sua vida poderia ter sido diferente, Snape, pensou Hermione. Você poderia ter desculpado os seus inimigos da juventude, podia ter perdoado a todos que o julgaram e tido a coragem de passar para o lado do bem. Poderia ter se tornado um grande professor. Poderia ter amado mais ao invés de pensar em vingança. Poderia ter sido leal a Dumbledore. Poderia ter sido feliz.

Seus olhos se arregalaram subitamente.

- Me ajude... isso dói! – ele gemeu.

Ela gostaria que ele se apressasse e morresse logo para não ter que ver mais aquele sofrimento.

Seus olhos se fecharam.

- Terminou – disse Rony, que passou um dos braços ao redor de Hermione.
Snape parou de respirar.

Hermione levantou-se com a ajuda de Rony, e trazendo um cálice dourado em suas mãos disse com muito pesar:

- Ele foi, mas deixou um pingo de esperança em nossas mãos – disse para depois abraçar o namorado e finalmente chorar.










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