Para o que der e vier



CAP 1
Para o que der e vier


“Você já nos disse uma vez que havia tempo para desistir, se a gente quisesse. Tivemos tempo, não é mesmo?”

“Estamos com você para o que der e vier.”



Aquela atmosfera definitivamente não era de um casamento. Quer dizer, VÉSPERA de casamento, como Hermione me fez entender. Também pudera, depois de tudo que tivemos que passar neste ano”.
Todos estavam a beiras dos nervos, com exceção daqueles que já estavam. Os únicos que pareciam normais eram Rony e Hermione. A simples presença deles ao meu lado já me fazia mais forte. O que não ajudava era a constante visão de Gina passando por mim pela casa. Ter ela a um palmo da minha mãe, e não poder tocá-la fazia meu estômago se contrair de desaprovação. Ás vezes eu até pensava em reconsiderar, afinal, nós nem estávamos mais na escola. Estávamos na casa do Sirius, minha casa agora! Eu não tinha certeza se isso era uma coisa boa, mas era bom sentir que eu tinha uma coisa minha, e o melhor de tudo: eu podia compartilhar ela com os meus amigos. Gina era a única coisa que me mantinha desconfortável, como se eu não me sentisse seguro naquele lugar.
Era como se tivessem jogado uma maldição em nós, pois a cada segundo nos encontrávamos pelos corredores. Até nos lugares mais inapropriados, como quando fui pegar um antigo candelabro para a Sra. Weasley no porão, e ela estava lá. É impressionante como as coisas que nós não queremos que aconteçam, acabam acontecendo. Para falar a verdade, isso na minha vida tem acontecido bastante! Eu devo ter herdado alguma maldição de família. Só pode ser isso...

- O que?

- Hã? – respondi. Hermione me olhava do fundo da sala com aquela expressão bem conhecida de sempre.

- Maldição? De família? O que você está falando? – perguntou ela se deslocando do fundo da sala e vindo sentar no chão a minha frente.

- Nada – tentei fugir do assunto. Será que eu não conseguia nem pensar em silêncio mais?

- Eu ouvi o que você falou Harry.

- Desde que parte? – Fiquei realmente preocupado.

- A não ser que eu esteja enganada, se você tivesse uma maldição de família, com certeza alguém da Ordem saberia, pois eles são bem fáceis de descobrir. E há vários feitiços bons que nós poderíamos usar em você. – disse ela ignorando totalmente a pergunta.

-Bom, nós temos que usa-los então! – disse rindo para ela. Eu não tinha maldição coisa nenhuma. Eu tinha era uma cruz, bem grande e pesada chamada Voldemort.

- Eu já fiz isso – ela riu da minha cara de surpresa – Não que eu achasse que você tivesse uma! Mas é sempre bom ter certeza sabe... bom você entendeu. Não me olhe com essa cara!

- Você já usou um desses em mim também? – Rony entrou em silêncio pela sala, falando bem perto do ouvido de Hermione sem que ela pudesse perceber que ele estava lá a poucos segundos, o que resultou numa Hermione extremamente vermelha e sem jeito.

- Bem, para que você não tome medidas precipitadas – disse ela voltando ao seu estado normal, mas sem olhar diretamente para Rony, que decidira sentar ao seu lado. Depois de todas as brigas por causa de Lilá, ele tentava a todo o momento evitar brigar com Hermione. Ela simplesmente não conseguia esconder a alegria contida nos seus olhos todas as vezes que ele fazia um agrado. Harry não entendia muito bem o que impedia aqueles dois de ficarem juntos. De certo seria a amizade de anos. Vai saber!

– Eu já lancei esse feitiço em todas as pessoas que eu conheço! – disse ela com um sorriso travesso estampado no rosto.

- Você diz isso sorrindo é? Pelo o que eu ouvi falar, esse feitiço deixa a pessoa afetada com sintomas de gripe o dia inteiro! E olha que isso não é nada agradável! – ele disse apontando para o nariz – Eu não conseguia respirar! A cabeça doía e tudo o mais! E pensar que pode ter sido por causa de você ainda por cima!

- Ora! Não seja insensível! Eu só fiz isso porque eu gosto de vocês. – disse abaixando a cabeça de volta para o livro – e para que vocês não fiquem pensando que foi em vão, eu achei uma pessoa que estava amaldiçoada.

- Quem? – perguntei.

- Gina. – parecia que meu estômago tinha me abandonado novamente. Por que todos os caminhos levam ao nome Gina?Já não era o bastante ter que vê-la todos os dias? – No segundo ano, depois de todos os acontecimentos com a câmera secreta, eu descobri uma pequena cobra na nuca dela após fazer o feitiço – os dois olharam assustados – Ela não tem mais a cobra o.k.! Falei com McGonagall, ela resolveu tudo.

- Ahhhh! Aquele surto de gripe em Hogwarts foi você então? – disse Rony pasmo. Era impressionante como ele podia fazer pouco caso do assunto de Gina.

- Pode ser que sim! – logo os três estavam dando boas risadas juntos lembrando do estado horrendo de Neville quando estava com gripe – Quase achei que ele ia morrer! Huahsuahsuauashau! – Hermione dava boas risadas. Fazia tempo que Harry não via alguém rindo daquele jeito depois de todos os acontecimentos das últimas semanas.

- Mais pelo menos você salvou a Gina. – estas palavras saíram da minha boca sem que eu pudesse controlá-las. Mergulhei mais uma vez em meus pensamentos. Gina estava comigo neles. E era incrível como Rony e Hermione sabiam quando eu queria um pouco de silêncio. Era como se eles pudessem ler meus pensamentos. E parece que os dois também podiam ler os pensamentos um do outro, pois quando a conversa parecia encerrada, eles se olharam e com um gesto de cabeça Rony chamou Hermione discretamente para seguirem juntos para fora da sala.

*****
- Eu realmente acho que isso de ficar longe da Gina só vai piorar a vida do Harry. – disse Hermione depois de se certificar de que já estava a uma boa distância da porta.

- Nisso eu tenho que concordar com você – disse ele rindo da própria frase.

- Que bom que você acha isso. Pois você deve entender... ficar longe das pessoas que nós gostamos só nos torna mais fracos. Por iss...

- E mentir e tentar esquecer a pessoa que se ama também, não é? – disse ele olhando com o canto dos olhos para Hermione, tomando cuidado para que ela não percebesse. Ela parecia ter sido surpreendida por uma pergunta da qual ela não soubesse a resposta, o que seria muito improvável. Digamos que a expressão dela era a de uma pessoa que tinha acabado de tomar uma almofadada no meio da cara. Daquelas bem fortes! Mesmo assim eles continuaram a andar em direção ao jardim, Hermione com passos mais apressados e desajeitados.

- Ahammm... – disse ela depois de um breve transe. – Quem sabe no casamento alguma coisa entre os dois não desperte novamente? – disse recuperando a fisionomia aos poucos.

- Pode ser... – Rony disse pensativo para logo depois tomar uma atitude meio séria, como se estivesse pensando em algo realmente importante. - pode ser!!!- falou alegre.

- Por que a euforia? – ele não respondeu. Só continuou andando, parecia não ter ouvido a pergunta. “Ai Merlin! POR QUE TUDO AGORA TINHA QUE TER DUPLO SENTIDO??? POR QUE!!? Daqui a pouco eu vou começar a ficar mais nervosa com esse casamento do que a Sra. Weasley!” - Eu já volto – disse Hermione correndo, deixando para trás um Rony que foi ligado novamente ao ouvir as palavras da amiga. Ele tateou o ar com a mão em sua direção, como se estivesse tentando pegar um pomo de ouro invisível. Rindo da situação de Rony, Hermione mandou um tchauzinho rápido para o amigo e desapareceu depois de entrar novamente na casa.

*****



A tarde passou se arrastando naquele dia. Hermione havia passado a tarde inteirar com Gina, e as duas pareciam se divertir por algum motivo secreto, pois andavam de um andar para o outro sorrindo como bobas. Rony resolveu passar a tarde treinando quadribol com Monstro. Este foi obrigado por Harry a obedecer qualquer pedido dos garotos da casa. O que na verdade não foi uma boa idéia, pois Mostro parecia inclinado a atirar a goles sempre no lugar errado! Harry por sua vez, passou a tarde inteira deitado no sofá da sala. O comportamento deles não deixou de ser percebido pela Sr. Weasley, que deu logo um jeito de tirar todos da rotina. Depois de uma longa conversa com Lupin, ela mandou chamar os garotos e garotas até a cozinha.

- Aqui estão. – Ela esperou até que todos chegassem a cozinha, para só então abrir um armário ao lado da porta, e tirar de lá várias esfregões, panos e baldes.

- A não mãe! A gente já limpou a casa semana passada! – Rony implorava de joelhos.

- Bom. Se Você não quer morar num chiqueiro, é melhor pegar essas coisas e subir as escadas até o segundo andar. Estejam muito bem agradecidos que eu não mande vocês fazerem isso duas vezes por semana!

- Isso é escravidão sabia! – Dizia Rony com o rosto vermelho de fúria. – Fred e Jorge não precisavam fazer isso quando estavam em casa.

- Isso porque eles não limpavam tão bem quanto você Roniquinho. – e ela deu um sorrisinho irônico para os outros presentes. A menção do nome Roniquinho tinha um efeito bem acentuado em Rony. Isso conseguia torna-lo mais vermelho que os próprios cabelos. E desta vez não era de vergonha, e sim de revolta. Os olhos de Harry e Gina não puderam deixar de se encontrar enquanto riam da situação, o que fez Gina ficar encarando Harry por um longo tempo, até que ele desviou o olhar e meteu as mãos nos bolsos não sabendo mais o que fazer. Ele não devia ter feito aquilo. Ela parecia a ponto de chorar, o que deixou Harry realmente mal, pois até então, Gina havia sido muito forte e não havia chorado nem uma vez. Na sua frente é claro. Pois ele não achava que ela seria tão insensível, afinal, até ele já tinha chorado. O que já tinha sido tomado por uma longa e triste fase de silêncio. Eram poucas às vezes em que sentia falta de falar com alguém, até mesmo com os seus amigos, e nem chorar ele conseguia mais. Era como se estivesse anestesiado.

- Vou separá-los em pares. Nananinanão!– disse ela com um sorriso ao ver as garotas se aproximarem uma mais perto da outra. – Eu andei reparando no grude de vocês duas hoje à tarde, viu! Eu quero um trabalho bem feito, por isso vou separar vocês. E é claro que vocês não vão ficar juntas conversando ao invés de trabalhar.

Ela parou para pensar por um momento e então se pronunciou.

– Gina vai com o Harry e Hermione vai com Rony.

Harry e Gina pareciam desapontados. Abaixaram as cabeças e ficaram em silêncio. Rony parecia normal, normal até demais comparado ao estado de Hermione, que ficou agitada e não sabia mais onde colocar as mãos, por isso resolveu ficar tentando alisar inutilmente um cacho de seu cabelo.

- Eu não acho que seja uma boa idéia Molly. – Hermione parou imediatamente de mexer no cabelo e olhou vidrada para Lupin que começara a falar. – Vamos deixar que os irmãos fiquem juntos. Faz tempo que eu não vejo esses dois se falando.

- Vai ser assim então – Hermione parecia inconfundivelmente aliviada, até soltou um suspiro sem querer, para logo depois tomar um sorrisinho amarelo no rosto. Harry e Gina também pareciam aliviados, mas ao contrário de Hermione, pareciam ainda mais tristes. Só Rony pareceu meio brabo, como se fosse uma criança da qual alguém tivesse tirado um pirulito à força.

- Bem... tenho muito trabalho a fazer no local do casamento. Por isso já vou indo. E Molly? Lembre-se de que todos têm que estar lá às 10 da manhã o.k.?

- Sim sim. Já fui informada.

- Nós vamos tão cedo? O casamento só é à noite! – disse Rony.

- O “todos” ao qual Lupin se referiu foram aos membros da Ordem querido. Vocês ficarão em casa sozinhos amanhã.

- Ufa. Já estava pensando que passaríamos mais um dia limpando coisas.

- Bom dia para todos então. Vou deixá-los trabalharem a sós. – dizendo isso Lupin foi se retirando da cozinha. Mas não sem antes pegar no ombro de Harry e puxa-lo para um canto fora da cozinha onde ninguém mais pudesse ouvi-los.

- Não fique tão triste assim Harry. Eu sei que eu não vou poder convencer você a parar com essa história de ficar longe da Gina, mas não deixe que isso destrua o seu dia a dia. Logo as coisas vão melhorar e vocês vão estar juntos novamente. – disse Lupin com um sorriso paternal.

- Eu não vejo as coisas dessa maneira, não. – Harry disse tomando para si uma expressão fechada no rosto. Não gostou que o amigo se metesse nos seus assuntos. Tentar esquecer parecia uma tarefa que nunca seria cumprida. Se dependesse das pessoas a sua volta, ele continuaria sofrendo de tanto ouvir o nome dela em meio as frases. – Como você pode dizer que as coisas LOGO vão ficar bem? Já são mais de décadas com este problema!

- Escute uma coisa aqui Harry – E Lupin encarou Harry seriamente desta vez. – Você pode não perceber, mas as coisas estão chegando ao seu final, você não sente isso? – Harry só fez ficar em silêncio. O que ele sentia era um longo estado de pânico que se agravava a cada ano. Como ele pode dizer uma coisa dessas? Pessoas morrem! Pessoas que eu amo... – Depois desses anos em que você foi para Hogwarts, Voldemort tentou inúmeras vezes voltar ao poder, e em muitas delas ele não teve sucesso.

- Mas isso foi sorte nossa. Só isso. – ele disse contendo o turbilhão de palavras que queria sair de sua boca. Só agora Harry percebeu como precisava gritar com alguém. Só para aliviar. Mas não seria nesse momento. Ainda!

- Não foi não Harry. – Lupin parecia ter um brilho nos olhos agora. Esse cara ta chapado, né!? - Nós estamos mais fortes e mais unidos do que nunca. – Ele parou por um momento e pareceu pensar na frase que diria a seguir. – Os centauros Harry. Eles ficaram realmente muito agitados depois que Dumbledore morreu. Não Harry. – Ele disse quando percebeu que o garoto ia se pronunciar. – Não é como há meses atrás. – Lupin havia lido seus pensamentos – Eles foram até o castelo pedir para que nós tivéssemos muita atenção e cuidado, pois os últimos dias estão chegando. E é muito difícil as estrelas estarem erradas! – Lupin arregalou os olhos ao terminar.

- Mas eles sabem quem vai ganhar a guerra? – Harry perguntou sentindo o medo da resposta.

- Não – a expressão de vitória no seu rosto desapareceu.

- Então eu acho que nós voltamos à estaca zero. Nós todos sabemos como Voldemort é poderoso!

- Haja o que houver no final tudo vai dar certo. Você acha mesmo que essa história de que o bem sempre vence no final é brincadeira? – ele riu triunfante - Eu não acho que seja. E...

- Do que adianta o bem vencer se ele já tirou de nós tantas pessoas boas? – Harry sentia que estava começando a jogar pra fora toda a raiva que sentia há muito tempo. – DE QUE ADIANTA SE ELES NÃO ESTÃO AQUI PARA VER TUDO MUDAR?

- Você só está brabo Harry. Você sabe que muito bem que a nossa luta é dura. E que ela exigiu sacrifícios. – Harry agora parecia muito envergonhado por tudo que havia dito. – Eles lutaram muito para que nós estivéssemos aqui hoje.

- Desculpe.

- Não foi nada. A raiva nos faz dizer coisas que nós não queremos. Escute só – e nesse momento Lupin olhou para os lados e se aproximou bem do ouvido de Harry – A descoberta dos Horcruxes vai acabar com esta história de uma vez por todas. – ele se afastou de Harry e deu mais uma checada ao redor e depois deu uma breve olhada em seu relógio – Tenho que ir Harry. – E foi se dirigindo até a porta de entrada.

- Mas espero um pouco. – Harry parecia pasmo. – Como o senhor sabe sobre os... Os horcruxes?

- Só fique sabendo de uma coisa Harry. – Lupin parou a meio metro da porta. Ele parecia diferente do normal. Parecia Dumbledore! Harry sentiu seus ombros vacilarem ao ver a expressão sábia, digna de respeito nos olhos de Lupin. – quando você precisar de ajuda para sair daqui para ir atrás delas. Pode contar comigo. – dizendo isso ele deu um tapinha amigável no ombro de Harry e seguiu para fora da casa.

Depois de um estado de choque momentâneo, Harry ainda conseguiu gritar para que Lupin esperasse, e recebeu a resposta a tempo de Lupin aparatar.

- Outro dia eu explico Harry. Outro dia.

Harry ficou parado no mesmo lugar por um tempo. Queria processar todas as informações que havia recebido. E pela primeira vez em semanas ele tinha uma vontade enorme de estar junto dos amigos, e contar-lhes tudo o que Lupin tinha dito. Despejar um pouco da raiva também ajudou. Ele realmente não queria repetir a mesma cena de um ano atrás, quando gritou com os amigos naquele mesmo quarto onde hoje ele dormiria. Aquilo foi uma injeção de ânimo. A limpeza já não parecia tão ruim assim.



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