O Baile de Inverno



Cap. 21 O Baile de Inverno
By Surviana




Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!




Hermione se espreguiçou na cama de dossel, afundando ainda mais o rosto no travesseiro macio. Geralmente acordava com muita disposição para encarar a maratona de aulas ao longo do dia, mas esta manhã obrigara todos a continuarem por horas a mais debaixo das cobertas. Era bom ser sábado. O tempo estava extremamente gelado e as paredes de pedra do castelo faziam todos desejarem que o inverno acabasse, mas ele mal acabara de começar.

Se por um lado o inverno fazia todos quererem ardorosamente o fim dele, por outro, a iminência da chegada do Baile de Inverno deixava em todo o castelo um ar de expectativa que não se esvaía a nenhum custo. Nos corredores e salas comunais, era só o que se discutia: quem iria com quem, que cor era o vestido daquela ou dessa garota, que triste era para um garoto da Corvinal ter sido rejeitado por uma aluna de Beauxbatons, o Harry Potter que ainda estava disponível, entre outras centenas de estórias a se contar.

Em meio a tudo isso, Hermione quase não alterou sua rotina de estudos. Os alunos do quarto ano receberam uma pesada carga de tarefas para as férias, mas na semana que antecedera o Natal, ela já as havia terminado. Toda a excitação à sua volta passaria quase imperceptivelmente, não fosse a chateação de Rony dia após dia lhe perguntando quem era o seu par para o baile. Seu vestido fora enviado por sua mãe dias atrás. Ela lhe mandara uma página da revista que Gina lhe emprestou para ajudá-la a escolher vestes bruxas de gala, e sua adorada mãe o encomendara exatamente como à imagem e em sua cor preferida, azul, embora ela não fosse considerada uma cor símbolo de feminilidade.

Na manhã do baile, acordou com uma Coruja-das-Torres batendo em sua vidraça, pedindo sua atenção. Hermione se livrou das cobertas para apanhar o bilhete que ela trazia. Era um bilhete dele, do Vítor; antes mesmo de ler o conteúdo, seu sorriso se abriu ao reconhecer a caligrafia tão particular dele.

Srta. Granger,
Na Bulgária, acordamos cedo quando precisamos encontrar paz, apesar do nosso inverno rigoroso e da ausência do sol. Hoje, a sua imagem esteve na minha cabeça quando despertei. Acho que a proximidade do baile me fez perder a harmonia constante em minha mente, e nela só encontrar você, com seu jeito tempestivo que parece tanto com o clima do meu país. Eu a vi em meus sonhos, e você vestia azul. Na biblioteca – nosso espaço sagrado – encontrei o significado de vê-la assim: as pessoas que preferem o azul são intuitivas, carinhosas, prestativas, gostam de ajudar os outros e têm facilidade para verbalizar suas idéias. Nada podia parecer mais com você, que me traz tanto entendimento quando expressa essa energia criadora única e me deixa simplesmente devotado ao seu conhecimento. Conto os segundos todos os dias para que chegue a hora de tê-la comigo, desta vez, dançando.

Com carinho,

Vítor

Cada dia, surpreendia-se com uma nova habilidade de Vítor. Ele era tão diferente dos garotos que convivia, que tudo nele a conquistava. Quando ela poderia supor que um jogador de quadribol, que não deveria ter absolutamente nada na cabeça além de balaços e pomos-de-ouro, podia lhe escrever um bilhete esplendorosamente lindo, chamando a biblioteca de “nosso lugar sagrado”?

Sorriu...

Vítor era divertido, inteligente e tinha um beijo arrebatador. Embora ela não fosse experiente o suficiente nessa área, imaginava que a maioria dos garotos não beijasse assim. Tinham concordado em manter discrição sobre a identidade um do outro como par no baile e não tinham mais que dois minutos a sós na biblioteca, mas aquela única vez que sobrevoaram juntos as terras de Hogwarts fora suficiente para que ela percebesse que ele era uma pessoa especial.

Foi com o bilhete ao seu lado e o rádio bruxo flutuando junto à banheira que Hermione começou a se arrumar para o baile. Lembrou de Rony perguntando por que precisava de três horas para se arrumar. Não se deu ao trabalho de responder; Rony jamais saberia o prazer de um trouxa em se transformar num símbolo de admiração. Ele nunca entenderia o prazer de pentear os cabelos fio a fio, separá-los em mechas, deslizar a poção com o auxílio de um pente e, enquanto ela faz a transformação, encurvar-se como uma minhoca para fazer as unhas dos pés. Hermione tinha que admitir que não era tão vaidosa assim, mas não conseguiu conter o olhar de satisfação quando se olhou uma última vez no espelho, pronta para dançar diante da comunidade escolar de Hogwarts.

O tecido etéreo azul-pervinca lhe caiu tão bem que ela mesma se perguntou se não havia magia nele. A poção que usou nos cabelos os deixou tão lisos e brilhantes que a fez desconfiar se a imagem no espelho era mesmo a sua. A maquiagem era tão suave que o toque sob sua mão não podia ser o de sua pele. Só podia ser magia. Riu de si mesma e mais uma vez se lembrou de Rony dizendo: “você precisa de três horas?” Bom, para fazer um milagre, preciso sim.

Um friozinho deslizou em seu estômago quando pôs a mão na maçaneta da porta. E se os garotos estivessem na sala comunal? Olhou o relógio sobre sua mesa de cabeceira, sete e vinte da noite. Eles com certeza estavam se arrumando. Desceu as escadas lentamente, a sala comunal estava vazia, os alunos que não iam ao baile foram embora há algumas semanas e os que ficaram estavam disputando um lugar em frente ao espelho de seus respectivos quartos. Sorte sua.

Caminhou lentamente em direção a saída do castelo, buscou uma saída lateral para não cruzar com os alunos que, como ela, se arrumaram mais cedo. Evitou também a saída da cozinha por conta dos alunos da casa Lufa-Lufa, situada próxima a mesma. A alternativa foi usar uma das saídas de acesso às estufas. Seus saltos ecoavam no piso de pedra enquanto se dirigia à saída, e a cada janela que passava, podia vislumbrar o gramado do castelo coberto de fadinhas brilhantes. Ao dobrar o corredor lateral, avistou a saída e praguejou baixinho; havia alguém parado à porta.

Era muita inocência sua achar que numa noite festiva como o Natal, acompanhado ainda de um evento tão badalado quanto o Torneio Tribruxo, não cruzaria com ninguém no corredor. Mas ela era Hermione, a senhorita perfeccionista Hermione Granger, que gostava de tudo bem explicado e bem arrumado, que escrevia reto numa folha de pergaminho sem ajuda de régua, que sempre colocava os pingos nos is e que queria tudo do seu jeito e no seu lugar.

E o que ela mais queria nesta noite era que o Vítor a visse antes de outros... Foi para ele que se arrumou, para ele que passou quase três horas diante do espelho, para ele que folheou revistas de moda, para ele que enviou um pedido de socorro à sua mãe para fazer o vestido que gostara. Foi pensando nele que prendeu o cabelo em um nó e que pincelou o blush nas bochechas. Somente para ele colocou o brilho labial e se pegou sorrindo, imaginando quanto tempo ele ficaria lá. Somente para ele. Por que diabos precisava cruzar com alguém? E faltava tão pouco para encontrá-lo; a estufa número um estava logo ali, após a passagem...

Respirou fundo e endireitou o andar, limpou a garganta ao se aproximar, e antes que algum som saísse de sua boca, o intruso em seu caminho para Vítor se virou para olhá-la. Seu olhar se encontrou com o dele, e todos os seus sentidos estremeceram, deixando-a tão confusa que seus joelhos fraquejaram.



Festas... Para celebrar o que, especificamente?

Severo soltou um muxoxo impaciente. Por que tantos risos, roupas coloridas e fadinhas cintilantes? Gostaria de saber o que esses elementos acrescentavam ao cérebro de alguém, além de fazê-lo trabalhar dobrado no que diz respeito ao sentido da visão. Afinal, discernir alguém no meio desse “esplendor” todo não era algo tão simples como cozinhar uma poção do sono.

Mas há um motivo muito forte para essa celebração toda, segundo alguns imbecis. Como foi mesmo o comentário do patético Bagman mais cedo? Celebrar a “amizade”. Teria gargalhado se isso fosse do seu feitio, mas apenas teve um embrulho estomacal e foi uma boa hora para se retirar do Salão Principal e de seu colorido almoço natalino.

A tarde passou rapidamente, lembrando-o que seu papel de anfitrião da Sonserina seria posto à prova aquela noite e que ele e seus alunos deveriam estar às oito em ponto em frente às portas do Salão Principal para “confraternizar” com as outras Casas e convidados de Hogwarts. Ao pensar nisso, sentiu uma necessidade terrível de ar. Só assim para ouvir os gritinhos daqueles cabeças-ocas e vê-los dançar uma noite inteira. Era engraçado um rato das masmorras como ele precisar de ar, mas a idéia de estar rodeado de pirralhos em roupas de gala era, na melhor das explicações, sufocante.

Ouviu passos lentos se aproximarem, distantes ainda, mas audíveis a alguém treinado para espião, como ele era. Mulher, os saltos denunciavam. Leve, quarenta e cinco quilos, talvez um pouco mais. Um metro e sessenta e cinco de altura, segundo a sombra que podia ver pelo canto do olho. Nervosa, sua respiração a denunciou quando chegou perto o bastante. Um bom exercício mental analisar alguém antes de vê-lo. Fez se esquecer de sua iminente tarefa.

Virou-se para lhe dar passagem, e seus olhos se encontraram por um momento. O choque percorreu os olhos cor de mel que o encaravam. Sem precisar desviar os olhos da íris, já sabia de quem se tratava. Aquela era a cor que perturbou seus sonhos durante anos, a única cor que podia brilhar naquele castelo inteiro e que ele jamais se cansaria de olhar.

Ser espião tem algumas vantagens. Mascarar emoções é uma delas, e é algo que já nasceu com Severo, um dom, ainda que não estivesse preparado para aquela visão. Tampouco para sentir o toque de uma mão tão fria quanto a sua própria. Sim, um toque. Espião também reage rápido. Ela perdera o equilíbrio, ele a apoiara, e no breve instante em que seus dedos encostaram nela, imagens surgiram, sem querer, sem poder, mas mesmo assim vieram, e o espião não pôde deixar de olhá-las por inteiro. Não pôde deixar também de olhá-la por inteiro. Não pôde deixar de vê-la vestida de aluna da Corvinal em suas remotas lembranças e de perceber hoje como o azul lhe caía bem, como ressaltava seus olhos cor de mel que nunca, mesmo com suas memórias arrancadas, saíram de seu pensamento.

A realidade ao seu redor o alcançou quando o cintilar das fadinhas no gramado ponteou o cabelo dela ainda mais e lhe conferiu mais brilho. Sua mão soltou o pulso magro dela, e Severo constatou no brilho de seus olhos que Hermione ainda o olhava com o mesmo choque de segundos antes. Ela não notou que ele já a havia soltado – imagens do ano anterior ainda sacolejavam suas entranhas, e nesse instante, ela se deu conta que sua viagem no tempo não fora em vão. Ambos não perceberam, nem aceitaram, mas fora palpável o amor que existiu além daqueles olhares.



Piscou os olhos três vezes seguidas, ele ainda estava à sua frente e ainda a olhava. Restaram ainda alguns segundos de contemplação mútua antes que ele passasse por seu ombro direito e seguisse em direção ao Salão Principal. Minutos transcorreram até que ela mesma reagisse, que ordenasse aos seus pés que andassem, que murmurasse ao seu coração vibrante que se acalmasse.

Mas havia algo estranho nisso tudo, era estranha a sensação que a preenchia enquanto a adrenalina ia sumindo do seu sangue. Por que sorria? Porque estava tão satisfeita consigo mesma? Por que estava com uma gostosa sensação de felicidade a preenchendo? Por que as fadinhas pareceram ainda mais brilhantes? Por que ao se fazer cada uma dessas perguntas somente sorria em troca?

Avistou a delegação de Durmstrang próxima à estufa número um; Krum facilmente percebido entre os demais. Alguns olhares e sussurros lhe acompanharam quando os dois se cumprimentaram. Seguraram as mãos, e Hermione sorriu tão deslumbrantemente que Krum se sentiu o jovem mais sortudo entre os presentes no baile. Sussurrou isso ao pé do ouvido de Hermione, e a sensação de satisfação dentro do coração dela vibrou mais ainda.

As portas de carvalho da entrada do castelo se abriram, e Krum e Hermione seguiram para a entrada do Salão Principal. Foi divertido ver as diversas reações nos rostos das pessoas quando eles passaram juntos. Hermione se divertiu quando Rony passou batido por ela sem vê-la e quando Harry finalmente a olhou de verdade e se deu conta que ela era ela.

— Oi, Harry! Oi, Parvati!

Leu os lábios de Harry formarem a frase “você está linda”, e a imagem de Malfoy lhe olhando estupefato foi ainda mais engraçada que isso.

Mas não foram verdes, azuis, nem cinzentos que lhe fizeram se sentir a garota mais sensacional do baile. Não foram elogios, nem olhares de desprezo, e nem mesmo a companhia agradável de Krum. Foram apenas olhos negros, pele fria e palavras não ditas. Foram apenas lembranças. Foi o azul. Foi o professor mais intragável e não podia ser mais ninguém além dele que, sem falar, sem reagir, sem elogios e sem surpresas, a fazia feliz, apenas com um olhar.

A mesa que acomodou os campeões e os juízes estava estrategicamente posicionada para ser vista por todos no Salão. Mas só importava ser vista por quem ela queria, só importava papear com Krum a noite inteira e dançar livremente pelo Salão, mostrando aos demais que a felicidade existia até mesmo para uma sabe-tudo. Que o amor independe de se estar junto, mas que sobrevive ao tempo, que vence fronteiras, que adormece, mas que continua vivo. Que para ser amado por alguém, você só precisa ser você mesmo, estar de bem com você mesmo, e que não adianta quantas máscaras você mesmo coloque em seu rosto, um dia, todas elas caem e lhe mostram como você verdadeiramente é.



Ciúme.

Como era mesmo a definição que tinha desse termo? ”O ciúme é uma constrangida homenagem que a inferioridade presta ao mérito”.

Um gole de Whisky de Fogo.

Constrangimento é pouco. O que se pode dizer de um professor na casa dos trinta com ciúmes de uma aluna de quinze anos? Pedofilia talvez seja mais apropriado.
Dois goles de Whisky de Fogo.

Inferioridade. Sim, uma boa palavra para justificar que um mestre em Poções famoso em algumas revistas do ramo ao redor do mundo esteja sentado numa cadeira se remoendo de ciúmes de um jogador de quadribol.

Desta vez o copo esvaziou.

Mérito. Parabéns ao magnífico campeão de Durmstrang que exibiu a sabe-tudo grifinória no Baile de Inverno. Aplausos. Suas mãos simularam aplausos ao casal, enquanto que seus olhos captaram mais um sorriso dela e uma aproximação maior do insuportável jogador a sua nuca descoberta.

O copo enchido magicamente voltou a esvaziar.

Mãos quentes seguram suas mãos, oferecendo-o o vidrinho que enchera mais cedo na companhia de Pomfrey. Olhou em volta, Rosmerta o olhava com reprovação. Ignorou-a. Chegou a hora do baile propriamente dito, essa era uma pior visão. Aquelas mãos que desperdiçavam tempo catando uma bola que voava pousariam onde mãos que trabalhavam com ervas deveriam estar. Onde parou sua decência? Precisava vomitar.

Rosmerta perdeu a paciência.

— Quer que mais alguém perceba?

Seu cérebro inebriado pela bebida e pelo ciúmes demorou a processar as palavras ditas pela comerciante.

— O que disse?

— Que por enquanto apenas eu percebi que o Diretor da Sonserina está bêbado.

Severo a fulminou com o olhar. Ela lhe estendeu novamente o vidrinho com a poção, mais uma vez negou. Negou até tentar levantar da cadeira e se dar conta que estava bêbado. O chão estava mesmo rodando sob seus pés ou o assento da cadeira se transformara numa chave de portal?

Rosmerta o puxou de volta ao assento. — Beba logo isso, seu teimoso insuportável! Que tipo de notícia no Profeta Diário você quer ler amanhã?

Destampou o frasquinho e bebeu. O efeito da poção esverdeada foi instantâneo, seu cérebro voltou à ativa e ele lançou um olhar gélido à Rosmerta, que lhe olhava divertida.

— O que deu em você, Severo? Enlouqueceu? Beber em serviço!

— Esse colorido todo me deixa irritado. A bebida alivia os efeitos, borrando tudo.

— Inclusive sua compostura. Que vergonha! O diretor de uma Casa bêbado no Baile de Inverno do Torneio Tribruxo. Skeeter amaria publicar isso.

Severo não respondeu, apenas se retirou, precisava trocar de mesa ou voltaria a beber por estar ouvindo bronca de uma vendedora de bebidas. Uma volta no jardim, quem sabe. Não, havia muito brilho por lá. Sua masmorra nunca fora tão desejável. O campo de quadribol, seu cérebro disparou um alerta. Jamais. Fora ali que culminara sua tormenta. Precisava de sua Penseira ou enlouqueceria, mas diretores não saiam do Salão até seus monitores estarem em número suficiente para coordenar os alunos de sua Casa. Maldição!

Precisava de um exercício mental. Fixou seus olhos num ponto do Salão e deixou sua mente viajar até o chalé nas montanhas. Seria um bom lugar para ir agora. Perto de quem se quer bem, um porto seguro quando não há em que se equilibrar. Por que existem emoções, afinal? Para justificar a bebida.

O copo continuava ao seu lado.

Foram longas horas de tortura até que Lermack lhe disse que tudo estava sob controle. Levantou-se e, com um olhar para Dumbledore, comunicou a sua retirada. O longo caminho até o corredor dos seus aposentos parecia não ter fim. Queria se livrar das roupas, dos pensamentos, queria voltar à sua solidão após um rompante imbecil de ciúmes. Queria apagar pensamentos sórdidos que sua carne tinha. Pensamentos que o envergonhavam, que arrepiavam seu corpo de asco, mas que estavam entranhados à sua condição humana e que se reprimiam durante tanto tempo, que começava a se achar incapaz de controlá-los por mais tempo.

— Ou controlo ou não sou digno de ser um Snape.

Dobrou o corredor que dava acesso às escadas úmidas e somente constatou que aquela seria uma noite difícil. Longa. Insuportável. Da última janela com visão externa do castelo, ele mais uma vez a avistou. Seus pés estacaram contra sua vontade, somente para vê-la por mais um momento em seu deslumbrante traje a rigor, os cabelos já frouxos do nó bem feito que vira mais cedo. Bufou constatando que isso possivelmente fora fruto das longas danças com o jogador búlgaro. Ambos estavam sentados num dos bancos conjurados no jardim conversando, cúmplices. Ele cochichou algo em seu ouvido, ela sorriu, ele se aproximou um pouco mais, e para seu rancor, ela não se afastou. Típico sinal de consentimento, não precisou pensar para saber o que veria à seguir e não esperou ver para crer.

Ela tem uma vida e merece vivê-la. Foi ele quem desperdiçou a sua. Mas fora ela quem cruzara seu caminho e bagunçara o que podia ser um lado tranqüilo de sua vida infeliz.

Parou em frente à entrada das masmorras, os pensamentos descontrolados. Apoiou a mão esquerda na maçaneta, murmurou a senha pausadamente.

Mas ele a permitiu entrar.

E ao longo dos anos cometeu erros seguidos com a vã ilusão de sufocar sua ignorância quanto à identidade dela. Achou que lembranças e magia negra a trariam de volta. Tatuou uma caveira, serviu ao Lorde das Trevas, destruiu uma família, abandonou a mãe nas mãos de torturadores de trouxas. Por nada. Somente para ver o destino trazê-la sem nenhuma cobrança, apenas em uma forma que o torturaria por anos.

Transformou-a na melhor amiga do que sobrou da família que ele destruiu, para lembrar-lhe que ele não sabe o valor de se ter uma. Transformou-a em sua aprendiz, para mostrar-lhe que ele podia aprender com os seus cabeças-ocas. E trouxe-a em forma de menina, para pôr à prova sua masculinidade, seu autocontrole, sua decência.

Seu corpo doeu. Sua raiva fervilhou. Esmurrou a mesa. Soltou um urro de rancor. Apanhou o pó de Flú acima da lareira. Invocou as chamas. Partiu.

O cheiro de álcool preencheu suas narinas. Pessoas estranhas lhe encararam, nenhuma sustentou seu olhar. No balcão, chamou o barman e apontou algumas mulheres vestidas em vestes minúsculas. Mostrou o dinheiro. Duas delas lhe acompanharam. Não durou muito. Despejou nelas sua carga de desejo. Livrou-se do sêmen que fervilhou indecente por sua pupila.

Voltou a Hogwarts. Despejou na Penseira todas as imagens desta noite torturante. Um feitiço as congelou e engarrafou. Livrou-se delas. Livrou-se da imagem dos olhos de Hermione, de seu vestido azul, de seu sorriso, de seu cabelo. Livrou-se de sua própria indecência. Voltou a ser o Prof. Snape. Severo Snape.




N/A: Esclarecendo algo que pode ter passado batido: a Hermione dormiu em paz esta noite, ela sabia que Severo a amava, vocês acham mesmo que tinha algo a ser discutido com o pobretão do Weasley? *risos*

Esse capítulo foi curtinho devido à falta de inspiração, mas gostei dele mesmo assim.


Link para o significado do Azul: http://bonsfluidos.abril.com.br/edicoes/0010/cores/a.shtml
A frase final do último parágrafo da segunda parte do capítulo foi inspirada na música Além do olhar de Ivo Pessoa, link para a letra: http://letras.terra.com.br/ivo-pessoa/815567/.
A frase sobre o ciúme é de autoria de Mme Puisieux.
A seguinte frase foi retirada da história original: - Oi, Harry! Oi, Parvati!

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