Primeiro acesso ao seu coração

Primeiro acesso ao seu coração



Cap.15 Primeiro acesso ao seu coração
By Surviana





Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!





O sol refletia nas águas do rio Sena, uma brisa fresca balançava seus cachos revoltosos e davam-lhe uma aparência relaxada. Hermione fitava o resplandecer do brilho do sol na água escura sem se cansar daquela linda visão. O burburinho de pessoas ao seu redor chegava aos seus ouvidos e de lá não passavam. Seu pensamento estava longe dali, estava fixo num castelo erguido há mais de mil anos, o castelo onde tinha passado os dois últimos anos da sua vida e que a aguardava durante mais cinco deles.

Por que ela não se sentia uma garota de treze anos? Por que mesmo estando com essa idade há quase um ano e perto de abandoná-la, ela parecia ter alcançado ela há muitos anos?

Uma criança ofereceu-lhe uma flor que ela recebeu sorrindo. Ouviu seus pais comentarem algo como “que fofinha!” ao seu lado, mas aquele odor que remetia à natureza empurrou sua mente de volta ao castelo. Algo havia mudado dentro de si. Algo que ela não conseguia perceber, mas que era tangível em seu pensamento e que dizia respeito ao Snape. Professor Snape.

A paixonite infantil que alimentara por Lockhart era algo insignificante diante do formigamento no estômago quando lembrava da madrugada que acordara da petrificação para encontrar aqueles olhos serenos que a encaravam; da palavra dita antes que ele se fosse: “Sempre”. Sempre estaria ao seu lado. Sempre lhe protegeria.

O sentimento que ardia em seu coração e a deixava tão distraída em plenas férias não a abandonou nenhum momento desde aquela noite. As imagens do último ano na escola sempre a preenchiam, junto com uma estranha perspectiva de ilusão.

Essa confusão em sua cabeça lhe rendera duas tardes de leitura de alguns relatos de adolescentes que se viam envolvidas por sentimentos impossíveis e insistentes como o seu. Em nada ajudaram. Alguns deles pareciam simplesmente estórias inventadas por quem queria aparecer em colunas de revistas, outros terminaram de formas tão desastrosas que Hermione nem gostava de lembrar. Finalmente, os que ela mais se identificou foram os que diziam que sempre havia deslumbramentos de garotas muito novas por alguém extremamente interessante, de professores até amigos dos pais, passando até mesmo por médicos. Os especialistas diziam que era absolutamente normal e que sempre passava.

Hermione se agarrou a essa afirmação, mas nenhum deles instituía um tempo definido. Enquanto o que eles chamavam de “deslumbramento” não passasse, ela iria ficar assim, com o pensamento preso às aulas de Poções e aos escassos momentos em que esteve a sós com seu professor, momentos de mútuo respeito e que ela podia afirmar que nenhuma intenção além dos riscos que sua vida corria estavam em jogo.

- Hermione? Filha? – Hermione ouviu uma voz distante chamando. Demorou vários segundos até perceber que era a voz do seu pai.

- Hã... O quê?

- Nós vamos indo para o hotel. Quer ficar mais um pouco? – o pai perguntou, talvez pela terceira vez.

- Ah, não pai, eu vou com vocês. - Preciso parar de pensar nele. Hermione suspirou e se juntou aos pais para fazerem o caminho de volta ao Eiffel Park. Um último olhar desprendido ao brilho do rio fez o brilho do lago de Hogwarts resplandecer em sua memória, e ela se perguntou se o mestre em Poções também gostava de ver os pontinhos brilhando na superfície da água.




A pequena confraternização entre os professores antes da volta às aulas no castelo de Hogwarts era uma tradição imposta por Dumbledore para aproximar os professores novatos com o corpo docente efetivo. Um barril de hidromel era especialmente preparado por Rosmerta para essa ocasião. Todo último final de semana antes do início das aulas, lá estavam os funcionários de Hogwarts contando estórias sobre suas férias, viagens, familiares, cursos de aprimoramento ou apenas admirando a festa para rever os amigos.

Todos os anos, alguns ex-professores também costumavam aparecer para se inteirar das novidades que ocorreram no ano letivo que se passou e reduzir a saudade de tão divertido grupo de colegas de trabalho. O bar era reservado somente para a ocasião, mas o diretor sempre insistia com Rosmerta que ela poderia deixá-lo aberto a todos, afinal, alegria devia ser compartilhada.

Um pouco mais afastado das mesas, próximo à entrada dos banheiros, um casal conversava em voz baixa, encobertos pelo biombo adornado de pequenas fadinhas que agitavam as asas.

- Bom... Você deve ter precisado sair cedo, família esperando ou mesmo o trabalho como diretor de uma das Casas de Hogwarts, qualquer que tenha sido o motivo, sim, eu realmente esperava uma despedia, mas alguém chegou a tempo de me lembrar que você não segue regras de etiquetas antes que eu pudesse me deprimir.

- Quanta gentileza... Depois agradeça em meu nome, estou lisonjeado em ter um excelente porta-voz – Snape respondeu com sarcasmo.

- Mas o que ficou para trás passou, esse é o lema principal. O que importa é o agora. Eu consegui o apoio para minha pesquisa Severo. Parto em dois dias para o Egito, dois anos de pesquisa pré-programada desde o início da minha tese. Porém, tenho certeza que ao chegar lá vou estender por no mínimo o dobro do tempo, afinal o Egito é fascinante.

- Estive lá por duas vezes em convenções distintas sobre poções – ele comentou.

- E quanto a nós... eu só... – Ela baixou os olhos ao falar, cedendo ao olhar penetrante de Severo. – Foi tudo muito bom. Mesmo com alguns problemas, você sempre será especial.

Severo a segurou pelo queixo, levantando o rosto dela até que Marylin pudesse encará-lo. – Eu acho que não andou conhecendo muita gente legal para achar isso justamente de mim. – E o canto de sua boca se levantou num pequeno sorriso.

Ela o olhou com ternura, se aninhou no abraço dele para esconder a emoção que sentia, e ficaram assim alguns minutos. Severo afagava de leve os cabelos do topo de sua cabeça, e Marylin sentiu que aquele era um dos momentos mais ternos que tinham passado. Ela ainda pôde ouvir a voz dele lhe dizendo que tudo daria certo no seu investimento e que sempre que precisasse de ajuda, ele não mediria esforços para ajudá-la. Com pesar, ela soltou-se dele, o olhou um instante e deu-lhe um sorriso triste antes de sair na direção da porta do bar.

Severo a acompanhou com o olhar até ela desaparecer pela vidraça da janela. Essa era sua deixa, e ele também saiu, pegando o caminho oposto ao feito por Marylin, seguindo a trilha de Hogsmeade até Hogwarts. Embora essa partida dela tivesse chegado numa boa hora, antes de um envolvimento maior, Marylin era uma ótima companhia, era inteligente, divertida ao mesmo tempo em que sabia ser grossa e carinhosa nos momentos certos. Embora não a amasse, estava perdendo uma grande mulher, e linda também, diga-se de passagem.

E lembrar que tudo isso era por causa do maldito tempo não ajudava em nada. Pior que isso, somente o fato que o seu tormento estava apenas começando. O ano letivo se estendia a sua frente como a nuvem escura que ameaçava enegrecer o céu em pleno verão.




O verão passou rápido como um raio na opinião dos alunos. Num piscar de olhos, já estavam embarcando no trem que os levaria de volta ao castelo. Uma outra piscadela, e eles já estavam implorando que chegasse o Dia das Bruxas para ao menos terem uma diversão diante de tanta carga de deveres.

No dia anterior a primeira visita a Hogsmeade e ao tão esperado banquete, Hermione se sentia extremamente chateada consigo mesma por estar desejando que o dia acabasse. Sua carga horária estava lotada, e o uso do vira-tempo sempre a deixava esgotada ao final de cada dia. Tinha que ser muito rigorosa com a agenda para não esquecer nenhuma das aulas, e extremamente atenciosa na contagem das voltas para não errar o número de horas que precisava voltar para chegar até onde precisava.

A euforia da felicidade que sentiu quando a Prof. Minerva lhe confiou tamanho segredo havia passado, dando lugar a uma fadiga sem tamanho. O feriado seria muito bem vindo.

O professor de Runas Antigas a liberou dez minutos mais cedo que o restante dos alunos por Hermione ter conseguido decifrar as seis runas novas que ele apresentara, em um tempo que ele considerou pequeno demais para tamanha precisão. Ficara feliz, dez minutos seria tempo suficiente para descarregar a mochila no dormitório e “voltar” para a aula de Aritmancia carregando vários quilos a menos.

Como era tranqüilo o dormitório sem os barulhentos alunos da Grifinória conversando entre si. Guardou seus livros na cômoda junto à cama e desceu as escadas circulares, parou um instante na sala comunal para apanhar uma pena no chão e deixá-la sobre a mesa. “Crianças desorganizadas”.

Foi tudo tão rápido que Hermione realmente se perguntou se aquilo havia acontecido. Uma breve brisa gelada arrastou um dos seus cachos pelo seu ombro e uma pequena estrela brilhou a sua frente. “Estrela dentro do castelo, e de dia?”

Piscou os olhos seguidas vezes e foi até a janela, abrindo-a devagar. O vento que dessa vez brincou com seus cachos era quente, muito longe da temperatura que ela havia sentido. “Havia mesmo sentido?”

Olhou o relógio de pulso e lembrou que precisava correr, só faltavam dois minutos para chegar na escadaria principal e encontrar os alunos que desceriam correndo das aulas.

Enquanto descia os degraus quase correndo, reviveu os minutos anteriores e repetiu para si mesma que não passou de uma ilusão a sensação gelada que passou por seu corpo, abriu o decote e puxou a correntinha das vestes. Apreciou um instante a ampulheta, e quando seu relógio de pulso encostou o ponteiro dos segundos no ponteiro dos minutos, ela girou-a três vezes.

Os borrões passaram por ela, e Hermione aguardou silenciosamente tudo parar. Quando tudo voltou ao normal, uma leva de alunos passou por si indo de um lado a outro. Ela seguiu uma das aglomerações e subiu as escadas em direção à sala de aula.

O pequeno grupo separou-se dela no segundo corredor que cruzaram, Hermione se perguntou por que somente ela seguia pra aula de Aritmancia. Será que estou atrasada? Olhou o relógio no braço, e ele indicava que somente um único minuto se passara desde que voltara as três horas no vira-tempo. Ela se tranqüilizou e continuou andando.

Somente ao final do quarto corredor, foi que ela avistou alguém além dela mesma. Era o fantasma da Grifinória, mas ele passou tão rápido de uma parede à outra que Hermione sequer teve tempo de abrir a boca para cumprimentá-lo. Será que há algo errado? O Nick sempre flutua tão lentamente, por que será que está correndo tanto? Ela sentiu essa certeza se espalhar pelo seu corpo na forma de um arrepio quando chegou à sala de aula.

A porta à sua frente estava entreaberta, mais um sinal de que algo diferente estava acontecendo. Hermione atrasou os passos e, muito silenciosamente, se aproximou da entrada. A maçaneta tinha sinais de poeira espalhados pelo recente contato de uma mão. A porta rangeu nas dobradiças quando Hermione a empurrou lentamente. A garota soltou um leve gemido por ter feito esse barulho indesejado denunciando sua entrada que ela pretendia que fosse a mais discreta possível.

Mas não havia ninguém lá, nenhum aluno, nenhum sinal do professor. A sala de aula parecia a muito abandonada. Hermione passou um dedo por uma das carteiras empoeiradas, algumas até tinham teias de aranha. Será que ninguém cuida da limpeza de Hogwarts? E quanto à aula, onde será?

Aquilo tudo estava muito esquisito. Hermione voltou os poucos passos que avançara dentro da sala, mas no instante que pôs o primeiro pé fora do recinto, ela ouviu um gemido baixinho. Seu coração acelerou, e por uns minutos ela ficou parada sem saber o que fazer, virou-se vagarosamente para olhar na direção de onde achava ter vindo o som.

As cortinas pesadas soltavam poeira pela leve brisa que passava através da janela entreaberta, mas nada que pudesse ter soltado um gemido. Balançou a cabeça para os lados tentando se livrar de algo que achou ter imaginado. Quase voltou a andar, quando ouviu o som novamente, um pouco mais forte que da primeira vez, e esse segundo som foi seguido de alguém deslizando as costas pela parede e sentando-se no chão próximo as cortinas que o estavam ocultando.

Era um jovem, como ela pôde perceber. Devia ser apenas poucos anos mais velho que ela. Vestia vestes de estudante, e ela notou que ele apertava com força o braço direito. Hermione viu gotas de sangue pingando no chão ao lado dele, mesmo com ele tampando o possível ferimento com as abas de suas vestes.

- Você está bem? – Ela se aproximou, empurrada por uma vontade de ajudar quem quer que fosse.

- Nãã-o-o... – a voz dele lhe pareceu levemente familiar – se apr-oo-x-im-ee.

Um gemido de dor escapou da boca dele ainda mais forte que os dois primeiros. Hermione ignorou a reprimenda do rapaz e se ajoelhou a lado dele.

- Deixe-me ver isso, por favor. Não vou piorar, só preciso saber de quanta ajuda precisa, posso buscar alguém para você...

- Na-ã-ão-o, eu nãão...

As palavras morreram quando as mãos de Hermione pousaram sobre a que apertava com força o braço machucado. Duas mãos pequenas e frias, levemente trêmulas tocaram sua pele e retiraram bem devagar sua própria mão esquerda de cima do corte. Ele a ouviu prender a respiração quando viu o grosso espinho ainda fincado em seu braço. Talvez a garota tenha se assustado com o tamanho da ferida, porque foi só nesse momento que ela olhou em seus olhos.

Hermione sentiu seu peito apertar e gelar mais ainda do que quando percebera que havia algo errado. Tamanha foi sua surpresa, que ela desequilibrou-se de seus próprios joelhos e, sem querer, apertou com força o braço que ainda mantinha em suas mãos. Com a mão livre, o rapaz a segurou antes que tombasse de lado. O esforçou que ele desprendeu talvez o tenha machucado ainda mais, porque Hermione sentiu os dedos dele tremerem sobre sua pele. Ela se esforçou em se recuperar. Precisava ajudá-lo, mas não entendia nada de feitiços de cura, nem sequer de como estancar sangue, fechar cortes, nada! Absolutamente nada! Isso era matéria a ser estudada após os N.O.M.s, e embora já ela tenha lido alguma coisa sobre o assunto, não era capaz de experimentar um feitiço tão complexo.

- Eu não estudei feitiços de cura ainda... Você pode me ajudar?

As palavras dele saíram mais sofridas ainda que da primeira vez, e Hermione sentiu um bolo querer subir por sua garganta quando ele terminou a fala.

- Es-s-tá en-f-eee-itiçado... O e-spin-h-o... Arghhhh... – Ele pausou pra respirar um pouco. – Pre-c-i-sssa seeer p-ux-ad-oo... dep-oi-s euuuu-eu acho q-uee cons-iii-go feech..

Hermione olhou ao redor examinando o ambiente em busca de algo que o distraísse, mas não havia nada que servisse. Despejou os livros de sua mochila pelo chão e apanhou seu diário do meio deles, era o mais próximo de uma mordaça que podia chegar. Não precisou explicar nada, o próprio rapaz pegou-o de sua mão e o pôs entre os dentes.

Hermione olhou para os olhos que a encaravam mais uma vez, passando uma segurança que não tinha, mas que precisava demonstrar.

- Vai doer só um pouquinho... – Ele assentiu com a cabeça, e antes que terminasse o movimento, ela puxou o espinho da pele dele e ouviu por entre os dentes cerrados um uivo de dor seguido de uma respiração seca quando o diário deslizou e caiu com um pequeno som abafado no chão empoeirado. – Consegue fechar agora? Precisa ser rápido – Hermione perguntou, preocupada com quantidade volumosa de sangue que agora saía da ferida completamente aberta.

A mão esquerda dele tateou o chão por detrás das cortinas até encontrar a varinha caída a um canto. Hermione não o ouviu dizer palavra alguma, mas seus olhos viram a ponta da varinha brilhar e o corte parar de escorrer sangue, mas ainda assim continuar aberto. Alguns minutos se passaram até ela perceber que a respiração dele voltara ao estado normal. Os olhos do rapaz estavam fechados. Talvez ele estivesse apreciando a sensação da dor deixando seu corpo.

Ela aproveitou esse momento para reparar nas feições dele e deixar que uma certeza impossível se alojasse em seu peito. Ele tinha um rosto magro e pálido; talvez a palidez estivesse ainda mais acentuada pela situação que passava no momento. O rosto tinha feições bonitas, embora o tamanho exagerado do nariz lhe desse um ar austero para um jovem que não aparentava ter mais que dezesseis anos. Os cabelos eram compridos, lisos e negros, tão negros quanto os olhos que a encaravam agora.

Hermione tentou disfarçar seu embaraço quando notou que ele percebera o quanto detivera sua atenção fixa nele. Tentou disfarçar sorrindo levemente e apontando para a ferida. - Belo feitiço.

Ele devolveu-lhe um pequeno sorriso e apontou o espinho no chão. – Bela puxada. – Hermione sorriu-lhe novamente, e o garoto suspirou. – O feitiço só estancou o sangue, eu ainda também não estudei tão profundamente assim feitiços curativos. Uma visita à ala hospitalar seria o mais adequado.

Hermione o viu estender a varinha para as suas vestes e seu diário, no segundo seguinte as gostas de sangue que ali estavam desapareceram. Ela estava surpresa com a habilidade dele em feitiços não-verbais. Saiu da sua posição ajoelhada e começou a enfiar seus livros de volta a mochila. Quando terminou, o garoto estendia-lhe o diário gentilmente, ao que ela agradeceu prontamente. Ela o pôs lá dentro da mochila junto com o restante do material e apoiou-se na mão dele, ainda estendida, para pôr-se em pé. Ambos dessa vez notaram suas gravatas. Ela era uma grifinória, ele um sonserino.

A surpresa apareceu estampada na face dele, e a mão que ainda a segurava soltou-a rapidamente. Ele deu-lhe as costas. – Qual o seu nome? – A voz agora adquirira um tom quase raivoso que deixou Hermione confusa.

- Não acho que meu nome trará sua simpatia de volta. Deu para perceber isso pela sua expressão ao ver as cores da minha Casa.

Ainda sem se voltar para ela, ele perguntou com o mesmo tom de raiva na voz:

– Não está com eles, está? Por que me ajudou então?

- Bom... Eu não sei quem são o “eles” a quem você se refere. E quanto a ter lhe ajudado, eu faria isso por qualquer pessoa que precisasse de mim. Se a cor da gravata o incomoda tanto... - Ela acenou sua própria varinha sussurrando um feitiço simples de coloração. Os tons de vermelho e dourado em sua gravata mudaram instantaneamente para azul e prata. – Mas claro, não preciso agradá-lo tanto...

Ele olhou-a pelo canto de olho, e ela simplesmente deu-lhe um sorriso maroto quando seus olhares se encontraram. A expressão dele se suavizou, e ele falou novamente com a mesma voz tranqüila:

- Eu preciso ir à ala hospitalar fechar o corte. Você tem aula agora, não é mesmo? Qual seu professor? Posso conversar com o diretor que me ajudou e justificar seu atraso, mas preciso saber seu nome para isso. – Ele estendeu-lhe a mão novamente, para selar a apresentação. – Eu sou Sn...

- Eu sei quem você é! – ela o cortou apressada demais.

Severo a observou desconfiado. Notou ela corar ligeiramente e anotou mentalmente que descobriria por si próprio quem era aquela garota misteriosa e por que ela insistia em tanto segredo.

- Então a garota está em vantagem, porque eu não faço a mínima idéia de quem você seja. Mas se não quer falar, tudo bem, arranjo um nome pra você... Deixe-me observar-lhe bem...

Hermione quase sorriu enquanto ele a examinava. Severo olhou as feições delicadas da garota, uma pele limpa e alva, cabelos extremamente revoltosos que quase rasgavam a grossa faixa que os prendia num rabo-de-cavalo, mas que se amenizavam nas pontas e transformavam-se em cachos, os dentes da frente um pouco exagerados, mas que ainda sim faziam um conjunto harmonioso com os lábios rosados. Mas o que mais lhe chamara a atenção agora que a observava tão de perto foram os olhos. Eles eram de um tom cor de mel que ele nunca vira antes, tão umedecidos que o brilho que saia deles lhe deixara um momento totalmente absorto e reforçara ainda mais todo o mistério dela ter aparecido ali. Severo precisou se esforçar em voltar para a realidade e lhe dizer o nome que pairou em sua mente.

- Tére.

Ela sorriu. – Francês...

Sem perceber eles já estavam na entrada da ala hospitalar. Hermione estacou na entrada; Snape percebeu a parada e segurou a mão dela, olhando-a mais uma vez.

- Obrigado, Tére. Espero que você não se complique por minha causa. – Ele ergueu a mão delicada dela até seus lábios e beijou-a de leve.

Hermione sentiu uma pedra gelada descer em seu estômago e o coração acelerar com o gesto delicado dele. Não pôde responder; Snape entrou no recinto, e antes que ela pudesse lhe desprender mais um olhar, sentiu os borrões da onda temporal lhe alcançarem e, no imediato segundo, estava parada na escadaria principal junto à uma leva de rostos conhecidos e cansados pelo fim das aulas do dia.

Sem tempo para pensar no que acabara de acontecer, Hermione se juntou aos amigos e fez seu caminho até a sala comunal da Grifinória, o tempo com que sua cabeça esteve ocupada com os deveres passara tranqüilamente, mas foi só a carga de tarefas acabar, e tudo voltou a tona.

Sua cama sequer se desarrumara, e no peitoril da janela, a aluna da Grifinória viu a noite chegar e se ir, admirando o céu escuro que remexia suas lembranças, fazendo a imagem daquela cortina de cabelos negros que esteve tão próxima de si mais cedo pairar sobre seu pensamento.




N/A:

Agradeço de imenso coração à BastetAzazis, que me presenteou com uma fic maravilhosa e que me inspirou a essa primeira cena de viagem no tempo. Todo esse capítulo é dedicado à ela, que com suas palavras lindas tocou meu coração e me trouxe uma enxurrada de inspiração. OBRIGADA MESMO, LINDA! Eis o link para a fic:

http://www.fanfiction.net/s/3216574/1/

À FerPorcel, que é a beta mais maravilhosa do mundo e que sempre me dá força para continuar.

E minha imensa gratidão às irmãs Mari Black e Carol Lestrange, que me encheram de palavras carinhosas e elogios, me dando a atenção que estive precisando nesses últimos tempos.

E a todos os leitores que sentem carinho por mim. Obrigada!

N/A 2: O nome Tére é o diminutivo do francês Mystére, que quer dizer mistério.





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