Prazer, Vítor.



Cap. 20 Prazer, Vítor
By Surviana




Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!





Era noite em Hogwarts. Uma noite escura, fria, talvez a primeira de dezenas que se seguiriam nesta estação. As noites assim sempre eram longas, principalmente para quem a vira chegar pela vidraça da janela à medida que a claridade do dia se escondia ao fundo do horizonte. Nenhum pico de montanha, nenhuma depressão, nenhum morro, absolutamente nada podia ser visualizado devido à imensa escuridão em que se encontravam mergulhadas as terras de Hogwarts. O silêncio sepulcral era quebrado apenas pelo furioso vento que varria o mundo do lado de fora do castelo e desafiava a gravidade a manter as árvores da Floresta Proibida em pé.

Hermione lia um livro intitulado “Ligações Mágicas, um Estudo Aprofundado da Magia Antiga”. O título falava sobre encantamentos que criavam elos mortais com as pessoas envolvidas. No mundo trouxa seriam apenas juramentos, e que – Hermione lembrou com amargura – nos dias de hoje haviam perdido completamente seu valor.

Na comunidade mágica, no entanto, não havia forma de quebrá-los. Alguns deles até apresentavam contra-feitiços, mas eram ligações tão fortes, que os encantamentos para desfazê-los quase sempre envolviam a morte de uma das partes. Outros eram tão poderosos que alcançavam até as futuras gerações em seus juramentos.

Hermione se assustou com a forma tempestiva que Gina entrou no seu quarto e pulou em seu colchão, fazendo Bichento saltar da cama com desgosto e ir aninhar-se no cesto do outro lado do quarto. Os olhos da ruiva brilhavam, e Hermione se perguntava qual o motivo de tamanho entusiasmo.

– Hermione! – A garota fechou os olhos como se estivesse revivendo alguma coisa muito boa. – Eu vou para o baile de inverno!

Hermione sorriu. – Não sei por que você estava tão nervosa por um par. Só faz uma semana que a Profa. Minerva anunciou que haveria um baile! Foi ele?

O sorriso de Gina se apagou um pouco. – Não, mas eu não esperava que fosse.

– Para ser sincera, eu também não – respondeu Hermione.

– Eu vou viver, Hermione. Tudo que você me disse antes é o certo a se fazer. Não posso perder os meus dias esperando pelo Harry. Se ele perceber um dia, nós nos acertamos. Mas se for apenas uma idéia absurda da minha cabeça, ficará a nossa amizade. De uma forma ou de outra, ele já é parte da minha família.

– É assim que se fala, querida. – Hermione sorriu para Gina com carinho. – Então vai com o sonserino?

– Não, Hermione, nós só trocamos alguns beijos. – Hermione a olhou franzindo a testa. – Nem todos são maus lá, sabe? – comentou Gina quando notou a expressão de Hermione. – Ele sempre se portou como um cavalheiro comigo, desde o início do ano letivo que nós dividimos a mesma bancada nas aulas de Poções, e até ele próprio acha o Snape um mal-amado.

A simples menção do nome do professor mudou a expressão de Hermione tão drasticamente que não passou despercebida por Gina. A garota estendeu uma mão e trouxe uma das de Hermione para aconchegar entre as suas.

– Você ainda está triste pelo que ele lhe fez passar na frente dos outros alunos, não é?

Hermione não respondeu de imediato. Refletiu consigo mesma se o porquê de estar tão introspectiva nos últimos dias seria apenas aquele. Percebeu que não, mas que aquilo havia sido um golpe muito baixo do mestre de Poções. Respirou fundo para reprimir a vontade de chorar que insistia em vir toda vez que pensava nele, mas não conseguiu evitar que seus olhos se umedecessem. Sentiu Gina imprimir mais força no aperto em sua mão e criou coragem para responder:

– A verdade, Gina, é que... eu me perdi nos motivos que me deixaram tão triste esses dias. – Levantou o olhar para encarar a amiga e encontrou nos olhos dela uma segurança que ela própria não tinha. – Eu não posso negar para você que aquilo que aconteceu comigo na aula de Poções me afetou muito. Nenhuma das coisas que o Prof. Snape me disse antes me machucaram tanto como aquelas palavras, mas há muito mais coisas em questão.

Gina se sentou mais próxima de Hermione e deixou que a cabeça dela recostasse em seu ombro.

– Ninguém pode remoer uma magoa por tanto tempo, Hermione – disse Gina. – Eu sei que deve ser difícil para você, mas a vida está passando e você nem notará se ficar se importando com o que os outros pensam. E se formos ver o lado bom, o Prof. Snape acabou ajudando você; seus dentes agora são perfeitos!

Hermione sorriu enquanto Gina massageava seus cabelos, esperando que esse gesto, juntamente com suas palavras, pudesse passar para a amiga um mínimo que fosse de paz. Hermione se sentia tão por baixo desde o episódio com Snape, que cada vez que entrava numa aula de Poções, seu peito doía ainda mais do que havia doído quando ele proferira aquelas palavras maldosas. E era ruim deixar que Gina pensasse que aquele episódio em especial a tinha deixado assim. Se ela soubesse de tudo... Mas era um segredo apenas seu e dele, e não podia desabafar com ninguém, teria que conviver com aquele sentimento dentro de si e confortar-se a si própria.

– Tudo vai se resolver, você vai ver... – Ouviu Gina dizer. – Quando um montão de coisas ruins acontece de uma única vez, quer dizer que as dádivas que estão chegando serão muito maiores. Você só precisa ter um pouquinho de paciência, querida...

Hermione não respondeu. Talvez tenha sido ela própria quem dissera essas palavras para Gina em uma das vezes em que a ruivinha estivera chorando sobre seu colo por causa de Harry. O fato era que os conselhos que dava para as outras pessoas não pareciam se aplicar a si mesma. Tinha vontade de explicar a Gina que não tinha mais forças para esperar uma solução para aquilo tudo, mas não podia.

Um movimento brusco de Gina arrancou-lhe de seus pensamentos. Elevou lentamente o olhar em direção a porta e viu suas companheiras de quarto dando meia-volta dali ao sinal da ruiva.

Mas a presença das duas garotas serviu para que Gina lembrasse um fato curioso que as duas haviam comentado com ela. Um sorriso travesso atravessou sua expressão, e ela descobriu como arrancar a amiga daquela tristeza. Sentiu seu peito aquecer quando percebeu a bela oportunidade que tinha de elevar o astral da amiga.

– Sabe, Hermione, eu sei de uma coisa muito boa sobre você que acho que poderia animá-la...

Hermione somente murmurou um “o quê” em resposta. Seu coração lhe dizia que Gina queria apenas ajudar a amenizar sua dor e que absolutamente nada poderia levantar seu astral nesse momento.

– Eu acho que você já tem um par garantido para o baile... – continuou a garota, e Hermione riu forçosamente quando ouviu o disparate de Gina. – Estou falando sério! Eu mesma já percebi muitos indícios disso. É de se admirar que você não tenha notado também, já que é sempre tão perceptiva.

Hermione se ajeitou na cama ainda enxugando os resquícios de lágrimas que brilhavam em seus olhos e olhou para a garota seriamente. – Gina, eu adoro sua companhia, só ter você aqui mesmo sem me dizer nada já é suficiente para diminuir um pouquinho esse pesar aqui dentro. Não precisa de nenhuma história bonita para que faça eu me sentir melhor, juro.

Gina sorriu. – Você é mesmo uma tonta... Por acaso não se perguntou o que Vítor Krum tanto faz na biblioteca?

Hermione arregalou os olhos para a amiga. Gina chegou a achar, por sua cara de espanto, que Hermione ia enchê-la de perguntas sobre como descobrira isso, mas a morena simplesmente caiu numa gostosa gargalhada que a fez deitar-se na cama sem poder suportar seu próprio peso. Quando se acalmou o suficiente para voltar a falar, olhou para Gina como se esta fosse uma comediante.

– Você é uma excelente levantadora de astral, Gina! Há poucos minutos eu não podia sequer imaginar que sorriria tanto. – Hermione ainda sorriu alguns instantes enquanto olhava Gina com uma expressão não menos divertida no rosto.

– Então, Srta. Sabe-Tudo, acho que vou ter que apelar para a lógica com você; só com o cérebro mesmo para te convencer. Vamos, responda-me, ponto um: por qual motivo ele não sai da biblioteca?

– Porque lá é de longe o lugar mais interessante deste castelo – respondeu Hermione prontamente. – Ainda mais para ele que não tem aulas por aqui. Deve ser absolutamente monótono não ter o que fazer, então uma boa leitura preenche suas horas.

– Essa é a sua visão da biblioteca, mas pode não ser a dele, minha querida... – respondeu a ruiva. – Ponto dois: por que então ele perguntou à Parvati e à Lilá, claro que a seu modo reservado, se você e o Harry eram namorados?

– O quê você disse? – Hermione a olhou, surpresa.

– Informação nova, querida? – Gina sorriu vitoriosa. – Pois bem, avistei-o dias atrás papeando com as duas enquanto eu procurava você pelo castelo no dia seguinte ao anúncio dos campeões do Torneio. Claro que muito sutilmente eu me inteirei do teor da conversa, apenas por uma pura curiosidade minha, nem de longe eu imaginava que o assunto, que é óbvio que aquelas duas não perceberam, era apenas uma pequena e importante informaçãozinha básica sobre você.

Hermione balançava a cabeça em negativa enquanto sorria. – Isso tem quase dois meses. Você é louca, Gina, já lhe disse, não precisa de uma hist...

– Ponto três – falou a ruiva mais alto, interrompendo Hermione –, por que ele não tira os olhos de você enquanto finge ler aqueles livros grossos?

Hermione abriu a boca para responder e foi impedida por um dedo levantado de Gina.

– Quatro: ele fica simplesmente desolado quando seu fã-clube chega e com os sorrisinhos espanta você da biblioteca. – A garota pausou para respirar. – E cinco: andou, se possível ainda mais carrancudo que de costume, quando aquele artigo asqueroso da víbora Skeeter insinuou que você e o Harry são algo mais que amigos.

Hermione tinha uma expressão de total descrença quando Gina terminou sua narrativa. Não respondeu de imediato; era algo tão absurdo que não conseguia sequer formular respostas plausíveis àquelas hilárias perguntas.

– Hermione – disse Gina carinhosamente –, você esteve tão mergulhada nos problemas das outras pessoas que não percebeu nada disso acontecendo ao seu redor. Eu sou uma excelente observadora, você sabe, sempre vivi ao derredor de vocês somente para saber tudo sobre o Harry. Eu sei cada gosto dele, cada tipo de sorriso ou de expressão fechada, e tudo isso por apenas observá-lo. Eu só passei a observar o Krum depois que as meninas me contaram sobre o que ele havia conversado com elas e prestei mais atenção nele quando você estava por perto. Se você não tivesse com tanta coisa na cabeça, teria percebido também.

– Isso é tão absurdo, Gina! O Vítor Krum é famoso, com certeza deve ser comprometido e, se não o for, pode ter qualquer garota do mundo aos seus pés. Elas o perseguem por onde ele vai, por que ele se importaria em me notar?

– Não foi você mesma quem afirmou que elas só o perseguem porque ele é famoso? Ele não deve ser burro, Hermione, também sabe disso. O fato de você simplesmente não parecer notá-lo é que a diferencia das outras e deve torná-la atraente para ele.

Hermione sorriu novamente. – Você também não fica atrás dele... Gina. É tão inimaginável o Krum estar interessado numa traça de livros insuportável como eu e, como se não fosse o bastante, feia.

– Pare de se menosprezar que isso sim é feio! – a garota respondeu com dureza e, suavizando um pouco a voz, completou: – Você é a menina mais linda desta escola, sempre ajudando as pessoas, dizendo-lhes palavras carinhosas, cuidando de cada uma delas e nunca desejando o mau até a quem maltrata você. Ser bonita é isso e não seguir padrões de belezas ditados pelos outros. Não precisa me responder nada daquilo que lhe perguntei, só reflita, observe-o. Quem sabe não é uma chance de conhecer alguém legal? E dando certo ou não, no final do Torneio, ele vai embora.

Hermione sorriu agradecida pelas palavras da amiga. Gina se levantou da cama e deu-lhe um beijo na testa.

– Já que está melhor, vou para o meu quarto e chamar as meninas de volta; devem estar querendo dormir, mas estavam respeitando o seu momento.

A ruiva seguiu em direção à saída e foi interrompida pela voz de Hermione:

– Você é uma excelente amiga, Gina, e uma grande bruxa também.

Gina apenas sorriu em sua direção e saiu do quarto. Hermione se aconchegou mais em seus lençóis e fechou os olhos sorrindo. Era bom contar com alguém em meio a isso tudo, mesmo que essa pessoa tivesse idéias tão malucas.

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Hermione se encontrava estudando na biblioteca numa quinta-feira ensolarada, talvez uma das últimas com sol do ano, quando avistou Vítor Krum sentado na mesa ao seu lado. Ele devia mesmo gostar de ler para estar ali o tempo todo. Uma pessoa normal leria tanto? Hermione sorriu. Ele deve pensar o mesmo de mim. Uma lembrança lhe cruzou a memória quando seu olhar encontrou o dele por alguns segundos, e as palavras de Gina ditas algumas noites atrás ecoaram em seus ouvidos.

Por que ele não tira os olhos de você enquanto finge ler aqueles livros grossos?

Hermione balançou a cabeça espantando o pensamento; era apenas coincidência. Apenas dez minutos foram o necessário para que a certeza absoluta de que era puro acaso se dissipar e dar lugar a uma dúvida. Nesses últimos minutos, seus olhares se cruzaram por três vezes, e em todas elas, Hermione apenas o olhou porque teve a nítida impressão de estar sendo observada, e em todas elas, Krum segurou o olhar com o dela até que ela desviasse o seu.

São apenas as minhocas de Gina – Hermione repetia enquanto tentava devolver sua atenção ao livro. Um aviãozinho de papel pousou levemente sobre o livro, tapando a frase que ela lia pela terceira vez, e Hermione sorriu, lembrando-se da escola trouxa que freqüentava – lá era muito comum os garotos atirarem aviõezinhos ou bolinhas de papéis uns nos outros. Olhou para os lados procurando o autor da obra de arte e mais uma vez cruzou seu olhar com o de Krum. Ele indicou o pequeno avião, e Hermione abaixou os olhos para a página do livro que lia e ainda pôde ver as dobras do pergaminho em formato de avião se abrirem e mostrarem o bilhete.

“Preciso de um favor seu... Vou entrar no corredor dos exemplares sobre animais mágicos. Pode lançar um Repello para que eu leia em paz?”

Hermione o olhou, surpresa. Ele lhe deu um leve sorriso, e antes que a garota respondesse, os risinhos irritantes do fã-clube dele alcançaram seus ouvidos, seguido de imediato por um barulho de arrastar de cadeira que fez Hermione olhar novamente na direção de Krum e só avistar um pedaço de suas vestes dobrando a esquina do corredor.

Lançou o feitiço repelente assim que as garotas apontaram na entrada da biblioteca, o grupinho de garotas percorreu com o olhar toda a extensão de corredores naquela sessão e, como não avistaram o motivo de sua perseguição, resolveram ir procurá-lo em outro lugar.

Hermione revirou os olhos para o grupinho. Fechando o exemplar que tinha nas mãos, seguiu até o corredor dos animais mágicos e desfez o feitiço, não deixando de sorrir quando Krum se assustou pela aproximação de alguém. O rapaz soltou um suspiro ao ver quem era. Eles se olharam alguns segundos, e Hermione percebeu que falar por bilhete pareceu bem mais confortável para o rapaz. Resolveu ajudá-lo.

– Hermione Granger, prazer.

Ela estendeu a mão para ele, mas diferentemente do que esperava, ele não a apertou. Muito delicadamente, segurou a ponta dos seus dedos e elevou sua mão até o alcance dos seus lábios, sem em momento algum desprender os olhos dos seus. A mão de Krum era grande, e embora o toque tenha sido delicado, foi um movimento tão firme que Hermione imaginou que ele não a soltaria mais. Quando os lábios dele se encostaram em sua pele, ela sentiu que eles eram extremamente quentes e pousaram em sua mão com tanta suavidade que ela desejou que ele prolongasse o toque por mais tempo.

– Vítor.

Ambos sorriram.

– Deve ser chato ser perseguido o tempo todo, não é? – perguntou Hermione.

– É, e esse é o motivo que me faz querrer voarr o tempo todo, bem alto, parra que nem ao menos as vozes cheguem lá – respondeu o búlgaro. Hermione sorriu. – Eu vi você com o Harry Potterr algumas vezes, já prrecisou escondê-lo também?

– Aqui em Hogwarts não adianta de muita coisa querer escondê-lo. As aulas não esperam, ele precisa comer junto com os outros, treinar e jogar quadribol, então acaba sempre perseguido. Mas nada comparado ao assédio trazido pela sua participação no Torneio. Isso sim está passando dos limites.

– Fala porr conta do jorrnal? – Vítor tornou a perguntar.

– Sim, principalmente por ele. Essa repórter que está cobrindo o Torneio distorce um pouco a realidade e acaba levando para os que estão lá fora uma imagem de Harry que não é verdadeira.

– Sei perrfeitamente como son essas coisas. – Havia um leve tom de amargura na voz quando Vítor respondeu.

Hermione sorriu. – Eu não agüentaria um minuto no seu lugar.

– Medo da fama?

– Não, odeio voar.

– Mas non pode serr! Como alguém non gostarria de voarr? – Vítor perguntou incrédulo.

– Costumo ser mesmo fora de padrões – respondeu Hermione.

– Non é serr forra de padrróns... – Vítor a olhou intensamente. – É só uma questón de serr especial.

Hermione piscou, não acreditando no que ouvia. Suas bochechas coraram levemente, mas ela permaneceu encarando Krum nos olhos.

– Se me perrmitirr, eu a levarrei num vôo que non a deixarria enjoada. Tudo depende do conhecimento das condicions climáticas e físicas. Se sabemos desses valorres, nós os combinamos usando um cálculo específico parra vôos, e eu poderria levá-la sem nenhum desconforrto.

Hermione pareceu incrédula. – Isso é sério?

– Sim, e com prrática até focê conduzirria o vôo adequado a si prróprria. Os estudos também son aplicados na minha prrofisson, Senhorrita Grrangerr, ou pode terr cerrteza que eu non gostarria dela. Non há muita coisa que durre parra semprre, mas o conhecimento é uma delas, e eu gosto de saberr sobrre o que faço. Enton... foarria comigo?

– Eu... – Hermione sentiu suas pernas baquearem quando duas vozes passearam em seu pensamento, a primeira delas mais suave e fria lhe dizia que não havia chance para os dois nesse tempo; a segunda também era suave, porém animada, e disse-lhe que aquela poderia ser uma chance de conhecer alguém legal. Levantou os olhos e encarou Krum; os olhos dele demonstravam ansiedade. – Eu aceito. Mas depois não vale dizer que não avisei que odiava voar.

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Dois dias depois, um vento revoltoso, porém quente, envolvia as terras de Hogwarts. Aos sábados, as garotas do quarto ano da Grifinória se demoravam mais no dormitório que no resto da semana. Uma coruja-das-torres batia insistentemente no vidro da vidraça, e o barulho deixou as ocupantes de mau humor. Parvati Patil saltou da cama e quase derrubou a coruja do parapeito quando arrancou o pergaminho atado a pata dela.

– Droga, Hermione – reclamou a garota quando entregou o papel à colega de quarto e voltou para debaixo de suas cobertas.

– Desculpe – murmurou Hermione quando apanhou o pergaminho e abriu-o, lendo.

Saltou da cama segurando firmemente com uma das mãos o cabelo rebelde. Aproximou-se da janela, olhou para os lados, quando viu na distância uma figura passar veloz cortando o céu, pausando a alguns metros longe da janela e acenando.

– Você é louco?

Vítor apenas sorriu e girou a vassoura para o outro lado, desaparecendo quando contornou a torre da Grifinória.

– Com quem você está falando? – Lilá e Parvati tentavam se espremer atrás de Hermione, esticando o pescoço para ver com quem ela falava lá fora.

– Hã... e-eu... é... era só o Harry me chamando para dar uma volta... e-eu... er... preciso me arrumar.

Hermione rumou para o banheiro enquanto as colegas voltaram às suas camas, e, meia hora mais tarde, seguia até a torre de astronomia. Preferiu evitar o café da manhã para não dar vexame na frente do maluco do Krum. Pois é, um maluco; o vento estava revoltoso, se ele não tinha percebido. Mas não seria ela a louca? O que estava fazendo ali se achava que voar era simplesmente terrível?

Ele já a esperava. O sorriso que lhe deu assim que apareceu à porta foi tão cheio de carinho que Hermione não pôde deixar de corresponder.

– O dia está ensolarado, mas esse vento está quase tempestivo – comentou ela, olhando pela janela.

– Sim, está. Eu acho que lhe disse que tínhamos de combinarr alguns fatorres parra que você foasse bem, non?

– Krum, eu não sei se é uma boa idéia. Eu realmente tenho pânico de voar e acho que não fará muito bem a nós dois.

Vítor não a ouvia, estava murmurando uns feitiços voltados para o céu lá fora, e Hermione se aproximou mais para ouvi-los.

– Quanto pesa, Senhorrita Grranger? – perguntou o búlgaro.

– Quarenta e sete quilos.

– Bom, enton está ótimo. Nasceu sob que signo?

– Virgem.

– Elemento terra. Non é mesmo comum um virginiano sem pés no chon, literralmente. Serria norrmal apenas uma horra de vôo porr vez, mas merrcúrrio está brrilhante hoje, enton isso nos dá trrês horras. Vamos lá!

Hermione ia falar que não era mesmo uma boa idéia quando a mão de Krum apertou a sua e arrastou-a para o peitoril da janela. Passava-lhe um calor tão agradável, que suas preocupações quase se esvaíram ao montarem em suas vassouras. Ela ainda cogitou olhar para baixo, mas a mão de Krum a impediu, segurando seu queixo e fazendo-a olhar para frente.

– Apenas um impulso brreve; para começarrmos é melhorr apenas planarr.

E o vôo realmente foi diferente. Quando seus pés impulsionaram a vassoura para o alto, Hermione sentiu o vento quente acoitar seus cabelos e aquecê-los sob o sol no mesmo instante em que seu coração se aquecia e uma paz gostosa preenchia seu ser. Parecia mesmo que tudo ao seu redor contribuía para um vôo perfeito; os pássaros que a acompanhavam vez por outra, o vento que lhe guiava quando precisava mudar de direção, as árvores que se balançavam dançando junto com eles no passeio, e principalmente, a companhia agradável de Krum que lhe deixava incrivelmente feliz.

As três horas passaram tão rápidas que nem mesmo ela queria que o passeio terminasse tão cedo, mas Krum foi enérgico em fazê-la pousar. Não voltaram à torre, mas pousaram no campo de quadribol – vazio aquele ano que não haveria torneio interno.

– Foi realmente agradável, Krum, obrigada – Hermione confessou sorrindo.

– Eu tenho um livrro que ensina sobrre a combinaçon dos elementos parra um bom fôo. Emprresto-lhe depois.

– Eu vou adorar a leitura, com certeza.

– Se conseguirr semprre rreunir esses fatorres, terrá fôos até melhorres para lembrrar.

– Bom, é que às vezes precisamos voar tão repentinamente que não dá tempo de fazer cálculos.

– Os momentos inesperrados são semprre os melhorres – disse Krum.

– Depende muito da companhia – respondeu Hermione.

– Non se ela forr uma constante.

– Constantes costumam tornar-se chatas.

– Enton sua política é de diverrsidade?

– Não, não. – Hermione sorriu. – Eu é que sou um poço de chatice mesmo e costumo preservar tudo: rituais, lembranças, regulamentos, amizades. Dificilmente encaro novidades.

– Enton como explicarria minha companhia num prrogrrama que simplesmente odeia?

– Explicaria como uma boa surpresa. E você? Como explicaria a companhia da “insuportável” sabe-tudo?

– Não saberria dizer com palavrras.

– E como vou saber? – Hermione se fingiu de indignada.

– Saberá.

A distância entre eles foi vencida por Krum, e Hermione foi pega de surpresa por um beijo caloroso. Quando sentiu os lábios dele sobre os seus, pareceu que um choque elétrico havia sacudido seus vasos sangüíneos, e sua pressão arterial subiu para duzentos. Krum tinha uma pegada tão intensa que suas pernas bambearam e apoiou-se nele para não desabar. Seu corpo forte simplesmente a envolvia e não havia como deixar de retribuir ao seu abraço – era absolutamente irresistível. Ele parecia ter um imã em chamas que atraía quem chegasse muito perto. Quando ambos quase não respiravam soltaram os lábios, mas os braços fortes não a soltaram.

Ambos sorriram. Ela sobre o peito dele. Ele mergulhado nos cachos emaranhados dela.

– Isso foi absolutamente louco – disse ele quando se controlou.

– Altamente – respondeu Hermione, ainda ofegante.

– Pelo menos acho que deixei clarro o que é estarr em companhia da Sabe-tudo.

– Não me imaginava tão intensa.

– Eu soube desde que a vi.

Hermione sentiu suas bochechas arderem. Se tivesse diante de um espelho, com certeza perceberia o tom rosado em que elas foram tingidas.

– Obrigada por hoje, Krum.

– Vítor, por favor – ele a interrompeu.

– Foi incrível. Tudo. Nem sei como te agradecer – completou ela.

– Dançarr serria bom. Focê já tem parr parra o baile de Natal?

– Não... – respondeu numa voz tão baixa que foi quase inaudível para Krum. Respirando fundo, acrescentou: – Na verdade os alunos de Hogwarts foram avisados apenas ontem sobre ele, nenhum de nós conhecia a tradição do torneio.

Krum internamente sorriu, não tinha dado tempo ainda de ninguém convidá-la. Mas ela ainda pode recursar – disse uma voz em sua cabeça, e ele a sacudiu para evitar que o pessimismo o dominasse.

– Me concederria a honrra de acompanhá-la? – perguntou ele.

Hermione baixou os olhos, não imaginava ir ao baile com outra pessoa que não fosse um de seus amigos. Eles seriam companhias extraordinariamente agradáveis e ela se sentiria muito mais à vontade com eles do que com um desconhecido. Nos segundos que ela teve para ponderar o convite, duas vozes passearam em seu pensamento, a primeira delas mais suave e fria dizia-lhe que não havia chance para os dois neste tempo; a segunda também era suave, porém animada, e disse-lhe que aquela poderia ser uma chance de conhecer alguém legal. Levantou os olhos e encarou Krum; os olhos dele demonstravam ansiedade.

– Sim, mas com uma condição. – As sobrancelhas do búlgaro se estreitaram levemente, e Hermione sorriu. – Você vai ter que dançar tão bem quanto voa.

O garoto soltou a respiração que estava presa e sorriu de volta.

– Vou trreinarr echaustivamente até lá.

– Muito bem – Hermione respondeu

Olharam-se por instantes. Krum a soltou, e Hermione rumou ao castelo, assomada de um terrível calor – aquele beijo fora surpreendentemente quente. Krum era agradavelmente quente e a fazia se sentir tão desejada, como nunca se sentira antes. Adorou senti-lo de perto.

Krum permaneceu onde estava, acompanhando-a com o olhar subir as escadarias de mármore e entrar no castelo. Cruzou os braços sobre o peito enquanto admirava seus cachos revoltos balançarem a cada passo dela. Ela beijava bem, perfeitamente bem para alguém tão jovem.

– Adorrável – murmurou para si mesmo.




N/A: Obrigada por não desistirem. Obrigada a Xuxu, Shey e Nanda pelas palavras de estímulo. Mesmo descobrindo uma nova paixão, não abandonarei HP, promessa. Beijos, Su_Snape.

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