Pais, Filhos e Professor



Cap.11 - Pais, Filhos e Professor
By Surviana





Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas a JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!




O campo estava calmo e tranqüilo. Uma brisa fresca fazia suas vestes esvoaçarem ao léu. À sua frente estendia-se uma imensa plantação de bulbos saltadores; as folhas em tons de azul petróleo contrastavam com o azul clarinho do céu daquele fim de tarde de verão agradável.

Seguiu as instruções que Rosmerta havia lhe passado, e seguiu por uma das trilhas minúsculas entre os arbustos, avistando quem procurava alguns metros adiante. Absorvida em pensamentos, analisando um dos poucos bulbos saltadores que floresceram fora do tempo, estava Marylin. Os cabelos presos displicentemente no alto da cabeça deixavam alguns fios soltos que brincavam graciosamente com a pele do seu rosto. As vestes trouxas estavam sujas de terra em alguns pontos distintos. Ele esboçou um pequeno sorriso quando previu o que ela falaria assim que percebesse sua presença ali.

O vento soprou um pouco mais forte e ele a viu levar as mãos ao pescoço num sinal inconfundível de cansaço. Ela parou abruptamente os movimentos do pescoço que buscavam aliviar a tensão, e abriu os olhos surpresa, como se tivesse sentido estar sendo observada, mas somente sorriu e tornou a fechá-los. Ele ouviu-a sussurrar alguma coisa que soou como “um bom sonho”. Aguardou que ela abrisse os olhos novamente, e arqueou uma de suas sobrancelhas quando a viu mudar o olhar de devaneio para um de surpresa. Desta vez ela se convenceu, e disse exatamente o que ele havia previsto.

- Há quanto tempo está aí? Não acredito que está me vendo nesse estado! Meu santo Merlin! – Ela apressou-se em sacar sua varinha e murmurar Evanesco. As vestes voltaram a ficar limpas, as unhas também. Somente o cabelo não tinha como arrumar assim tão rápido, e Severo achou extremamente desnecessário toda essa preocupação. – Pronto Snape, agora só falta me deixar fazer o Obliviate em você, e apagar essa imagem horrível de sua memória.

- Se arrependeria da tentativa, Srta. Gamp – respondeu divertido.

- Severo! – ela disse em tom de reprimenda, mas já quebrando a distância entre os dois, sussurrou baixinho: – Senti sua falta.

Envolveu suas mãos em torno dele, que a abraçou de volta, descansando seu queixo sobre os cabelos dela. Fazia um mês desde a última vez que se viram, e por mais que o interesse de Snape fosse baseado em um mistério, ele realmente havia sentido falta do cheiro agradável que emanava dela.

Quanto a Marylin, a ausência realmente a havia afetado, mas a fama de Snape o precedia. Não iria enquadrar-se no quadro de mulheres possessivas. Sabia que havia algum motivo especial para tê-lo feito se interessar por ela. A conversa que havia tido com Rosmerta na semana anterior havia amenizado suas expectativas. Sua prima contou-lhe o quanto Snape era reservado e misterioso. Havia sido uma surpresa para ela mesma, que o conhecia há anos, saber que ela havia despertado o interesse dele.

- Ele não apareceu desde que saí de Hogsmeade, Rosmerta.

- Se ele realmente não aparecer, você terá pelo menos uma boa recordação dele. Eu não me surpreenderia se ele não viesse mesmo, Marylin. E por favor, não tente contatá-lo, ele não vai gostar mesmo.


E agora ele estava ali, abraçando-a. Isso era um progresso e tanto. Não queria criar, outra vez, expectativas falsas de um futuro, mas era inevitável tentar controlar a felicidade que sentira quando o vira.

- Se pretende ficar divagando o restante do dia, talvez não devesse ter vindo.

Ela rapidamente voltou a si. – Err... desculpe, Snape – titubeou. - É só que... estou mesmo surpresa. Nunca imaginei que viria até aqui. Vamos para o chalé?

Severo queria aparatar até lá, mas Marylin fez questão que fossem caminhando para ir lhe mostrando os diversos tipos de bulbos saltadores que cultivavam na propriedade. Ele conhecia as aplicações da planta, que estavam associadas a poções, profundamente. Marylin lhe explicou os cuidados especiais com os adubos específicos para o cultivo de cada tipo diferente de bulbo, que resultavam na melhoria de suas ações em remédios, poções e até na culinária. O assunto era interessante, e assim a caminhada deixou de ser inútil aos olhos dele.

Ele esperou na sala do pequeno chalé, enquanto ela cuidava da higiene e beleza. Examinou alguns títulos que estavam dispostos em prateleiras na parede diretamente em frente ao sofá. Um deles chamou sua atenção: “Reductio ad absurdum, Salto Temporal”. Folheou as primeiras páginas e descobriu que eram teorias trouxas.

Viagens no Tempo e Outros Paradoxos da Relatividade

A Teoria da Relatividade de Einstein tem nos ensinado a lidar com questões como as Viagens ao Futuro ou o chamado Paradoxo dos gêmeos. Algumas das partículas que detectamos nos nossos laboratórios "vieram do passado", e como tal já não deveriam existir no momento em que são observadas, se o tempo fosse universal, como a física Newtoniana supõe. Só recorrendo à relatividade do tempo poderemos compreender essas observações. Mas será possível viajar ao passado, por intermédio de um buraco negro ou de um túnel no espaço-tempo? Será possível construir uma Máquina do Tempo, como antecipou H.G. Wells pouco antes da Teoria da Relatividade? Poderão existir velocidades superiores à da luz no vácuo? Estas são questões interligadas que têm, recentemente, ocupado alguns relativistas, e que vamos tentar analisar neste exemplar.


- Divertindo-se? – Ela estava parada à porta do corredor, observando-o.

- Você parece ser fascinada por trouxas. Pratica os esportes deles, cuida de plantas como os trouxas e coleciona literatura deles.

- Já vivi com pureza de sangue demais, até chegar a minha vida adulta, Snape. E os trouxas são criaturas fascinantes; eles têm uma força de vontade incrível, encontram soluções para seus problemas sem usar uma única mágica. Os bruxos não deveriam desprezá-los.

- Alguns bruxos não os desprezam, Srta. Gamp.

- Podem não desprezar, mas também não os respeitam. Para mim o resultado é igual. – Ela aproximou-se dele, examinando o exemplar em suas mãos. – Escolheu esse por algum motivo em especial?

- Não... Tinha que passar as duas horas que demorou lá dentro me distraindo, e peguei o livro aleatoriamente.

- Mas que exagero! Duas horas! Não demorei nem dez minutos! – Sorrindo gentilmente, retirou o exemplar das mãos dele e o devolveu a prateleira. – Vamos?

- Onde, exatamente?

- Não acha que tenho algo comestível aqui, Severo, acha?

Ele passou os olhos ao redor do espaço, ainda não tinha reparado muito bem no local. Após alguns minutos observando, concluiu que ali era somente um ponto de apoio para seus estudos. Pilhas de papéis amontoavam-se na escrivaninha próxima à janela. No cômodo ao lado, vasos com mudas diversas, líquidos fumegantes e de variadas cores brilhavam em frascos cristalinos, até pequenos montinhos de excrementos estavam a um canto, em pequenos fardos de um material que lembrava couro de dragão. Mais ao fundo, uma porta dava acesso ao que ele achava ser o vestiário e o banheiro, onde Marylin tinha ido se arrumar.

- Viu? Não tem nada aqui que possamos ao menos transfigurar em algo agradável ao paladar. Vamos jantar no restaurante do povoado mágico de Salém. – Ele franziu a testa. – Não se preocupe, é bem reservado, não vai ter tanta gente por lá. É feriado de independência e as comemorações são intensas. Os bruxos se misturam aos trouxas para fazer a festa ficar mais bonita.

Entrelaçou seu braço ao dele e caminharam até a lareira. Marylin jogou o pó de Flu e exclamou: - Espinheiro! Severo seguiu-a imediatamente. A lareira ficava em um espaço reservado, na entrada do restaurante. Sentaram-se numa mesa ao fundo. Ela estava certa do lugar ser tranqüilo. Saborearam bebida trouxa por sugestão de Marylin, e Severo não perdoou, taxando-a de “amante compulsiva de trouxas”. Ela devolveu na mesma moeda e tirou sarro do fato recém descoberto por Rosmerta, informada por um dos alunos do quinto ano de Hogwarts, de que uma bruxa de doze anos havia decifrado seu enigma. Normalmente, quem quer que fosse receberia uma maldição por estar provocando-o dessa forma, mas ela o fazia se sentir bem.

Absortos na agradável conversa que travavam, não notaram um outro casal de bruxos que chegou ao local e ocupou uma mesa próxima de onde estavam. A bruxa recém chegada imediatamente reconheceu a figura notável de Snape, seus olhos brilharam de excitação e ela cochichou ao seu acompanhante, que olhou na direção do casal e sorriu.

- Consegue ser discreto? – ela falava baixinho, temendo ser ouvida.

- Posso tentar. – O bruxo assentiu com a cabeça, e discretamente retirou de dentro das vestes uma máquina fotográfica preta. Com a mão livre, puxou a varinha e apontou para o equipamento, sussurrou o feitiço, e um traço de luz amarela brilhou por tempo suficiente apenas para se piscar os olhos. – Sem flash!

- A qualidade será mantida? Está escuro aqui, e isso é uma matéria única! O ex-comensal num jantar romântico. Vai me render um belo artigo de primeira página.

Rita Skeeter não despregou os olhos um segundo sequer da mesa ao lado. Impaciente com a demora do bruxo que a acompanhava em tentar posicionar a câmera num ângulo que capturasse melhor o casal, voltou-se de frente a ele.

- Anda lo...

O bruxo caiu duro como pedra no chão ao seu lado, a surpresa estampada em seu rosto. Sentiu a ponta de uma varinha encostar-se em seu pescoço e a voz gélida de Snape próximo ao seu ouvido.

- Finalmente terei meu motivo para liquidá-la? – A bruxa estremeceu, e Severo apertou mais a varinha contra a pele dela. – Só uma mísera linha ou uma imagem distorcida estará de bom tamanho.

- Oh não... eu não... – Rita tentou balbuciar.

- Eu a encontrarei onde menos esperar e cobrarei os direitos autorais, Skeeter. É bom arrumar um esconderijo inalcançável e dar adeus a sua carreira.

Severo soltou a repórter rudemente de encontro à cadeira onde estava sentada, caminhou de volta à mesa onde Marylin assistia a tudo atônita. Como se nada tivesse acontecido ao seu redor, Severo continuou a saborear o prato e ignorou o olhar inquisidor dela, até que se tornou tão insuportável que ele largou os talheres no prato.

- Fale – rosnou.

- Como você...

- Detectando a magia que ele lançou sobre a câmera. Mais alguma coisa?

Ela silenciou e ele continuou o jantar. Quando foram embora, não havia nem sinal da repórter e seu fotógrafo, e Marylin não se atreveu a perguntar à Severo mais nada sobre aquilo tudo. A noite havia sido arruinada.





Quando Hermione acordou no dia seguinte ao de sua viagem ao Beco Diagonal, estava sentindo uma pontinha maior de saudade de Hogwarts. Já passara da hora de descer para o café da manhã que tomava na companhia dos pais, mas ela não sentia fome. Deitada na cama, admirando o teto a sua frente, pensava em todos os acontecimentos do ano letivo anterior, mas pensava com maior pesar na visita à Londres do dia anterior.

Havia sido divertido apresentar aos seus pais o mundo ao qual ela agora pertencia. Havia sido mais divertido ainda reencontrar seus amigos e conhecer melhor os pais de Rony. Mas havia faltado uma coisa que ela teve em sua primeira visita: a presença de um certo bruxo.

Sentiu que não havia apresentado devidamente seus pais ao mundo da magia. Ela mesma não conhecia o Beco Diagonal o suficiente para servir de guia para alguém. O professor Snape tinha sido um excelente instrutor, parecia conhecer aquele lugar como a palma da mão. Com certeza ele devia ter crescido naquelas ruas, acompanhando seus pais em todas suas compras, fossem elas de ingredientes para poções ou artefatos mágicos, ou até compras de presentes natalinos.

Ela havia mostrado aos pais o Caldeirão Furado, encantado para que os trouxas não o percebessem. Abrira a passagem de pedra no pátio sujo do fundo do bar. Mostrara as lojas, o banco, o boticário; havia tagarelado tudo o que sabia sobre aquele recanto mágico no coração de Londres, mas faltava a segurança de afirmar o que estava contando. Os livros não mentiam, mas era muito diferente repetir o que estava escrito naquelas páginas, do que contar as experiências que vivenciara algum dia ali, naquelas mesmas ruas. Sentiu falta dele.

Saudades do professor Snape? Agitou a cabeça para os lados, sacudindo os pensamentos. Não! Claro que não! Aquela experiência com ele no Beco Diagonal a deixara deprimida, isso sim! Suspirou. Não adiantava querer impor isso à sua cabeça. A verdade era que o professor Snape havia sido seu primeiro contato com o mundo mágico, e ela tinha certeza que por mais que ele falasse por monossílabos, conseguira conhecer de uma forma especial cada lojinha que visitaram juntos.

Há algumas semanas atrás, estava ansiosa demais pela nova visita ao Beco Diagonal para comprar a pequena lista de livros que o professor Snape havia lhe passado. Mas ontem, durante a viagem de volta para casa, lamentou não necessitar mais da companhia dele. E hoje, já estava contando os dias para voltar à Hogwarts e revê-lo. Somente a saudades dos amigos era maior do que a que sentia por ele, mas como já havia encontrado com os garotos, só sobrara o mestre em Poções.

Começou a se preocupar com a insistência da imagem dele ficar na sua mente. Tudo bem que ele tinha mesmo sido o primeiro bruxo que conhecera, mas essa explicação para sua afeição à ele estava começando a se tornar ultrapassada. Afinal, ele nunca a tratava bem, a não ser naquela vez no final do ano letivo anterior, mas as circunstâncias exigiam que ele a tratasse melhor, e ele também estava atendendo a um chamado direto da professora McGonagall, e tinha que, no mínimo, se esforçar em ser agradável para não levar uma reprimenda da vice-diretora.

Então por que isso? Virou-se de lado na cama, tentando afastar de uma vez por todas aquela melancolia que se instalara em seu coração. Foi inútil. A primeira coisa que viu apoiado na sua mesinha de cabeceira foi o exemplar de "Hogwarts: uma história" que havia deixado lá desde a noite anterior. Soltou um muxoxo de frustração e enterrou o rosto no travesseiro.

- Chateada? – Jane estava parada na porta, analisando a filha encolhida na cama. – Por que não desceu para o café?

- Não senti fome. Acho que são as ansiedades da volta às aulas.

Jane deitou-se ao lado da filha na cama. – Ainda somos amigas? – perguntou com um sorriso maternal no rosto.

- Sempre...

Abraçou-se à mãe, fechando os olhos e curtindo a sensação de conforto que estar nos braços dela lhe trazia. Deixou-se ficar assim por um longo tempo, em silêncio, somente sentindo as mãos dela afagando seu cabelo. Quando um barulho de uma tossida forçada a despertou de seu conforto, as preocupações já haviam se esvaído, e sorriu ao ver a figura do pai na porta do quarto, esforçando-se em fazer cara de poucos amigos.

- Sabe, tem alguma coisa engraçada aqui... O homem da casa estava lavando a louça, enquanto as duas voltaram para cama... Humpf!

Elas se olharam divertidas, e sorriram, convidando-o a juntar-se a elas. Aquela manhã, a família Granger fez jus ao julgamento que todos que os conheciam faziam: “uma família linda e feliz”. O futuro ainda reservava muitas surpresas, mas enquanto ele não chegava, estar rodeado das pessoas que verdadeiramente a amavam fizeram Hermione feliz o resto das férias.

Quando o dia de viajar para Hogwarts chegou, ela acordou animada. Seu malão estava arrumado há semanas e já havia decorado todos os livros de Lockhart. Os pais a levariam para a estação de King’s Cross. Ela e o pai se entreolhavam indagadores por sua mãe ainda não ter descido as escadas para irem embora. Quando ela desceu, Hermione viu o motivo em suas mãos.

- Esqueceu? – perguntou à filha, mostrando o livro grosso em suas mãos.

- Não cabe mais nada na minha mala...

- Mas esse não é o livro que o professor Snape lhe deu? O que fala tudo sobre a escola?

- Err... não... sim.

Os pais se entreolharam, confusos.

- De todos os livros que não são de suas matérias e que está carregando, por que você deixou para trás justo este que tem um valor especial? – Foi Allan quem perguntou dessa vez.

- Por nada, pai, e nós estamos atrasados! Não posso perder o trem.

- Não tente desviar nossa atenção, Hermione. Conhecemos você melhor que ninguém. Vamos mocinha, por que não quer levar o seu livro?

- Já disse, por que não acreditam em mim? Não cabe mais nada no meu malão, e já sei o livro quase todo de cor, não tem porquê levá-lo. Podemos ir agora?

Allan concordou com a cabeça, e saiu para a garagem. Jane ainda deu um olhar significativo para a filha, que baixou os olhos e saiu atrás do pai. Jane deixou o exemplar de "Hogwarts: uma história" sobre a mesa de centro da sala, e seguiu para encontrar a família esperando-a no carro. Tinha alguma coisa errada por trás daquilo, mas ela preferiu esquecer e aceitar a explicação não convincente da filha. Afinal, ela nunca mentira antes.





- Mary, querida... anima essa aura! Faz tanto tempo que não me visita, e quando vem fica assim deprimida...

- Quatro meses, Rosmerta! Quatro! Sem uma notícia. Não que eu esperasse alguma coisa dele, mas sumir assim!

- Ele deve estar muito ocupado com as aulas. Que isso não saia daqui, mas eu acho que tem alguma coisa estranha acontecendo no castelo. As visitas ao povoado foram canceladas e há um rumor de que algo terrível aconteceu com alguns alunos.

- O que pode ser tão terrível que não virou notícia nos jornais? São apenas rumores, Rosmerta, a única coisa palpável aqui é essa ausência...

- Mas isso justificaria a ausência dele muito bem, querida. Se há mesmo algo terrível acontecendo naquele castelo, os professores estão com suas obrigações triplicadas, e você realmente não acha que o Snape lhe mandaria cartinhas de amor quando não pudesse aparecer, não é?

As duas bruxas riram. Marylin pareceu mais animada com a explicação de Rosmerta, mas mesmo assim saiu para uma caminhada pelo povoado, perdendo um bom tempo admirando o imponente castelo na paisagem ao fundo, e se perguntando o que estaria acontecendo por dentro daquelas torres e torrinhas. Uma pergunta que demoraria muito tempo a ser respondida.





Snape, confortavelmente acomodado no sofá posicionado em frente à lareira, examinava uma vasta pilha de pergaminhos amarelados. Cuidadosamente, lia e relia algumas inscrições que havia neles, consultando vez ou outra um pesado volume que estava em seu colo. Em um pergaminho ao lado, reescrevia alguns trechos colhidos de um ponto e outro da perícia.

Acenou a varinha em direção a porta quando ouviu uma batidinha de leve. Quando ela se abriu, o garoto de cabelos platinados e olhos cinzentos sorriu para ele e sentou-se na poltrona, ao lado do sofá onde o próprio Snape estava.

- O que está fazendo com esses pergaminhos velhos? – Snape continuou o exame de cada uma das páginas, e Draco esticava o pescoço para ver o que era tão importante nelas. – Que língua é essa?

- Latim antigo.

- E o que está procurando aí, professor? – Dessa vez o garoto esticava-se para ler as anotações de Snape no pergaminho limpo.

- Informações sobre a Câmara Secreta. Ordens do Diretor.

- Ah, é isso... Achei que fosse algo mais interessante.

O garoto parou de se esticar e deixou-se cair de encontro ao encosto da poltrona, olhando o fogo crepitar. Snape pôs os pergaminhos e o livro de lado, e voltou sua atenção para o garoto à sua frente.

- Não acha nada de interessante nos ataques aos alunos?

- Sangues ruins não me interessam, professor... são escórias.

- E essa é a sua opinião ou a do seu pai?

Draco pareceu titubear com a pergunta do professor, mas falou demonstrando segurança na voz:

- É a opinião de qualquer membro da família Malfoy.

Snape preferiu mudar o rumo da conversa para não constranger mais o garoto, que já parecia extremamente acuado.

- Onde estão seus parceiros? Não costumam desgrudar de você.

- Dor de estômago. Andaram comendo demais no almoço de Natal; aqueles idiotas só pensam em comida.

Snape continuou estudando as ações do garoto, que parecia levemente deprimido.

- O que o está incomodando, Draco? Parece-me um pouco inseguro.

- Professor Snape, é o... o meu pai... ele anda me pressionando por notas melhores.

- Suas notas não são tão ruins se comparadas às de outros alunos, mas não posso deixar de aconselhá-lo a se esforçar mais. Está tendo um desempenho deplorável em Herbologia e Transfiguração.

- Ele me rebaixou na frente dos outros, me comparando com aquela Granger nojenta!

- Contenha-se, Draco. Não esqueça dos bons modos em meus aposentos. – O garoto encolheu os ombros. – Agora me conte; como foi isso?

- Nas férias, quando fomos ao Beco Diagonal comprar o material escolar. Disse-me que só tenho talento para ser um ladrão e saqueador...

O tom de amargura na voz do garoto fez Snape estender-lhe a mão e puxá-lo para sentar-se ao seu lado. Draco não fez resistência, uma leve tristeza presente em seu olhar quando encarou o professor.

- Ele não acredita que posso ser mais do que isso, professor...

- Sabe, Draco... Os pais às vezes falam coisas ruins somente pelo calor do momento, isso não quer dizer que aquela opinião dada na hora da raiva reflita o que sentem de verdade. O seu pai certamente deve esperar grandes coisas de você.

- O seu pai também falava assim com o senhor, professor? – perguntou pressuroso.

- Muitas vezes, Draco, muitas vezes.

O menino e o bruxo mais velho fitaram o fogo por um longo momento, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Quando Draco voltou a falar, a amargura estava de novo presente em sua voz.

- Eu vi os pobretões dos Weasley... e também vi os pais trouxas da Granger nesse mesmo dia lá no Beco Diagonal, e eles não pareceram o tipo de pais que falam assim com os filhos... Por que alguns pais são melhores que outros, professor?

- Nenhuma pessoa, bruxo ou trouxa, é melhor que a outra, Draco. Todos são apenas diferentes, pelo grau de dificuldade ou facilidade que têm em demonstrar suas emoções. Talvez seja esse o problema do seu pai, enquanto que não é segredo para ninguém o quanto vive reclamando da Narcisa por super protegê-lo, não é?

- Minha mãe... ela é tão... tão... diferente do meu pai. Às vezes acho que gosto mais dela do que dele, isso soa estranho para o senhor?

O garoto olhou para o professor, esperando a resposta à sua pergunta, mas Snape continuou olhando a chama na lareira durante muito tempo, até responder:

- Eu acho que você devia voltar à sua sala comunal e levar uma das minhas poções aos seus amigos. Eles ficarão recuperados, e você não ficará mais com tantas caraminholas na cabeça.

Deu um leve sorriso ao garoto que continuava encarando-o. Snape apanhou a varinha na mesinha ao lado do sofá e convocou um frasco com uma poção esverdeada dentro, entregando-lhe. Draco se despediu com um boa noite e saiu da sala. No instante seguinte, Snape apanhou sua capa de viagem, um punhado de pó de Flu e sumiu na lareira.





Vozes alteradas e risadas ecoavam no pub bem escondido entre as lojas sombrias da Travessa do Tranco. Um grupo de umas oito pessoas fazia uma algazarra tamanha em torno do bruxo de cara pontuda. Snape caminhou entre as mesas, dirigindo-se ao foco da atenção de tanta euforia.

O olhar frio de Lúcio Malfoy recaiu sobre ele, quando um dos bruxos que lhe faziam reverência cambaleou para um dos lados, já tonto de tanto whisk de fogo. Um sorriso de escárnio apareceu na face pálida do loiro, acompanhado pela frieza habitual de sua voz arrastada.

- Ora ora, caros amigos, vejam quem resolveu aparecer na nossa comemoração. – Os demais também se viraram na direção de Snape. – À que devemos tamanha honra, Mestre em Poções?

Snape não esboçou nenhuma reação, mantendo o olhar grave sobre o bruxo à sua frente. Ele pareceu perceber o recado e acenou com uma das mãos para os bruxos que o cercavam afastarem-se, cada qual para um dos cantos do bar, e Snape e Lúcio ficaram a sós na mesa. O loiro indicou a cadeira a sua frente, e Severo ocupou-a.

- Serei breve. Espero que não precise repetir, pois não o farei. – A voz dura e o olhar feroz, imprimindo mais força a sua afirmação. – O Draco não seguirá seus passos, com ou sem notas melhores em Hogwarts. É melhor deixá-lo longe de qualquer uma de suas ações imundas ou vai se arrepender de ter cruzado meu caminho, Lúcio.

O loiro simplesmente gargalhou após a afirmação, seus olhos expressando total descrença, apanhou o copo que havia sido deixado de lado e deu um longo gole na bebida. Snape pôde sentir o hálito cheirando a álcool quando ele resolveu falar, o tom de desprezo enchendo cada sílaba.

- Arrume uma bruxa ou trouxa qualquer, seu mestiço fétido, e faça um filho nela para controlar as ações dele. Do meu filho, cuido eu.

Levantaram-se ao mesmo tempo, ambos com a mão direita em cima de suas próprias varinhas. Lúcio mantinha um sorriso zombeteiro no rosto, e Snape, uma expressão selvagem.

- O recado está dado – Snape sibilou e virou-se, saindo do bar antes que Malfoy tivesse alguma chance de protestar, sem nenhum receio de receber uma maldição pelas costas. Lúcio não era tão imprudente como demonstrava. No dia seguinte, Snape não apareceu às refeições, tampouco respondeu ao chamado urgente do Diretor para comparecer a Ala Hospitalar; ele ainda tinha uma visita a fazer, e essa o machucava profundamente.





N/A: Olá pessoal! Aí está a continuação de nossa história, agora envolvendo o mistério da Câmara Secreta. Agradecimentos a minha beta estupenda Ferporcel, e a todos que estavam esperando o início desta nova temporada. Beijos!

O texto sobre a teoria da relatividade eu copiei descaradamente do site:
http://oal.ul.pt/RESUMOS/PALESTRAS2003/paulo_crawford.html
Estou aqui rezando para não me fuzilarem! Rsrsrsrsrsrsrs

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