Desconfianças



Desconfianças
By Surviana




Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas a JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!





- Algum problema, Severo? – O diretor o fitava de seu cadeirão.

Severo fôra até o escritório do diretor levar algumas poções que o mesmo havia lhe pedido há alguns dias.

- Não diretor, por que haveria? – devolveu com frieza.

- Desde que chegou ao escritório que está com a mente viajando. E vejo que seus olhos estão pregados no meu armário de doces. Está pensando em como saborear um deles? Qual deseja?

- Não como doces, sabe disso. Tenho muitas coisas para pensar, não perderia meu tempo imaginando sabores de doces trouxas.

- Não sabe a maravilha que são! Sorvete de limão, meu favorito... Mas voltemos ao nosso assunto inicial antes que me dê vontade de saborear um. O que está afligindo você, meu caro?

- Percebi que causo medo nas pessoas.

Dumbledore riu. – Somente se deu conta disso agora? Quantas vezes já sugeri que você vestisse uma capa laranja? Essa escuridão toda lhe deixa mesmo com um ar aterrador!

- Não é questão de capa laranja, diretor! É um assunto muito sério que preciso discutir com alguém. Posso relatar-lhe o que aconteceu para me deixar tão pensativo, se não insistir em falar em doces trouxas e capas idiotas.

- Não está relacionado com sua obsessão de que estão tentando roubar a Pedra Filosofal, está Severo?

- Pode ser que tenha relação, mas não tenho certeza. Por isso estou pensativo, costumo apurar fatos e não viver de especulações.

- Muito bem, mas não aceitaria um doce para acompanhar?

- Não, obrigado – disse o professor com redobrada má vontade. – Lembra-se que tive que buscar a senhorita Granger na família trouxa?

- Ah, a adorável senhorita Granger... Ela vem o incomodando faz tempo, não é Severo? Lembro perfeitamente da briga que teve com a Minerva por causa da aluna.

- Ela não me incomoda, mas está tendo atitudes contraditórias que estão me deixando preocupado.

- O que houve quando foi buscá-la? Nunca nos contou o que aconteceu naquele dia.

- Não aconteceu nada demais. Fizemos as compras escolares e a levei de volta para a casa dos pais.

- Qual a impressão que ela tem de você? – o diretor indagou.

- Devia perguntar para ela...

- Ela já lhe disse o que pensa, senão você não estaria aqui com dúvidas – disse Dumbledore calmamente.

- A senhorita Granger se acha madura o suficiente para dizer verdades aos outros. Poderia ter tirado pontos da Grifinória pela sua impertinência, se não tivesse ficado chocado com tal atitude vinda de alguém tão jovem.

Dumbledore fixou um olhar penetrante em Snape, que o retribuiu. Se houvesse mais alguém no escritório, sentiria a vibração da magia que emanava dos bruxos. Durante vários minutos os olhos azuis fitaram os negros, até que a magia cessou. Ambos ficaram em silêncio por um tempo, até que Dumbledore o quebrou.

- Alguma atitude sua a fez mudar de idéia... Mas acredito que tenha chegado a essa mesma conclusão – ponderou Dumbledore.

- Sim senhor, cheguei.

Ficaram em silêncio mais alguns instantes. Severo fitava o céu azul escuro lá fora. A noite havia caído lentamente desde que chegara ao escritório do diretor. Sua mente trabalhava em buscar a lembrança de alguma atitude que tivesse colocado todo aquele temor na aluna, mas não se lembrou de nada.

Estava acostumado com o fato das pessoas sentirem medo dele, mas com a senhorita Granger deveria ser diferente. Ela foi uma das poucas pessoas de quem ele se aproximou sem estar diante de alunos, nem de comensais, e nem de professores. Ela o conheceu como uma pessoa comum. Ele não se esforçara para ser agradável, nem para ser o contrário; agiu com seu caráter normal, e até percebeu que ela não havia sentido medo, somente admiração e respeito. Tinha que reconhecer que era uma garota bem educada. Porém, aquele olhar de terror que havia visto nela ontem tinha sido diferente.

- Severo? - O diretor livrou-o de seus devaneios. – Acho que você precisa esclarecer alguns pontos com alguém. Se suas suspeitas não forem infundadas, então você pode estar sendo cogitado como suspeito. Isso faria qualquer aluno desconfiar de você, inclusive a senhorita Granger.

- Os alunos não sabem sobre o que estamos guardando na escola, diretor. É uma teoria infundada pensar que eles poderiam suspeitar de mim.

- A curiosidade não é proibida, Severo. Muitas crianças inteligentes estão reunidas neste castelo, não me admiraria que algumas delas já soubessem o que está escondido no corredor do terceiro andar.

- O senhor não está querendo dizer que...

- Estou. E também não esqueça da partida no próximo sábado.

Os dois bruxos perderam-se em seus próprios pensamentos. Após um longo período, o diretor estalou os dedos e um elfo doméstico apareceu no meio do escritório. Severo escreveu num pergaminho algumas palavras e ordenou ao elfo que o levasse até o professor Quirrell.

- Boa noite, diretor.

- Boa noite, Severo. – O diretor, ainda sentado, observou o professor sair da sala, e mesmo após alguns minutos, ainda estava observando o local onde antes ele estivera. Pôs-se a andar em círculos pelo escritório.

Mais tarde naquela mesma semana, logo após o jogo de quadribol que apitou, Severo saiu apressado de suas masmorras, jogou a capa por sobre sua cabeça ocultando-se da vista de algum aluno abelhudo que estivesse espreitando pelos cantos do castelo, e desceu apressado os degraus de entrada, seguindo mais rápido ainda até a floresta proibida. Avistou a figura farsante de Quirrell esperando-o na clareira sombria mais à frente.

- ... não sei porque você quis se encontrar aqui, Severo...

- Ah, quis manter o encontro sigiloso afinal os alunos não devem saber sobre a Pedra Filosofal.

- S-s-severo... eu na-ã..

- Você já descobriu como passar por aquela fera do Hagrid?

- M-m-mas, Severo, eu...

- Você não quer que eu seja seu inimigo, Quirrell.

- N-n-não sei o que você...

- Você sabe perfeitamente o que quero dizer. Tentando desfazer os feitiços de proteção com as suas mágicas de araque. Estou esperando.

- M-mas eu n-n-não...

- Muito bem, vamos ter outra conversinha em breve, quando você tiver tido tempo de pensar nas coisas e decidir com quem está a sua lealdade.

Saiu da clareira tão rapidamente quanto entrou, praguejando maldições aos ares que balançavam suas vestes. Aquela conversa estúpida não levou a nada! Aquele bruxo de araque acha que me engana com aquela gagueira fingida. Snape não voltou para o jantar. Desceu até o povoado mágico para esquecer que nenhuma de suas ameaças direcionadas àquele idiota surtiram efeito. Sob o olhar das duas bruxas no balcão do pub, bebia uma dose dupla de firewisky para afastar de seu pensamento as cenas das torturas que gostaria de proporcionar àquele farsante.

A cadeira a sua frente foi arrastada e Severo deparou-se com Marylin Gamp observando-o. Esboçou um cumprimento, somente para demonstrar alguma reação, já que havia sido tão mal educado com ela no dia que se conheceram. Havia praticamente fugido da presença dela.

- Oi, Snape. Foi impressão minha ou fugiu de mim da última vez que nos encontramos?

- Recebi um chamado importante, não tive nem tempo que me despedir. Desculpe-me a grosseria.

- Isso é uma total falta de consideração, uma vergonha para uma pessoa tão bem educada. Mas aceito suas desculpas, se hoje não me fizer mais uma desfeita.

A moça levantou a mão e chamou a bruxa do balcão. Solicitou um drink para si e pediu mais um para Severo. Em nenhum momento despregou os olhos dele, que estava começando a se sentir levemente incomodado com a familiaridade daquele olhar.

Severo tratou de desviar sua atenção para a voz dela; tinha um leve sotaque e era exótica, mas soava com clareza. Procurou concentrar-se em prestar muita atenção no que ela dizia e em não descontar nela suas próprias frustrações com as preocupações que o cercavam. Outra pessoa com impressão ruim e olhar aterrador era o que menos queria neste momento. Pensou mais uma vez no motivo que o levou a travar aquela conversa com Quirrell, mas foi interrompido bruscamente pela voz de Marylin, que estava falando com ele já há algum tempo sem que ele se desse conta.

- ...Gosto muito de esgrima, é meu esporte favorito. Muitos bruxos não o conhecem por ser...

- Esporte trouxa – Severo completou.

- Por que não estou surpresa que você conheça? – Ela sorriu, um belo sorriso, Severo pensou. – Seria uma boa oportunidade de redimir-se.

- Está querendo dizer...

- Estou desafiando-o para um duelo de esgrima, aceita?

Severo viu a oportunidade perfeita de esquecer suas próprias angústias, pelo menos no momento em que estivesse distraído com o esporte. Sempre cultivou a postura de conhecer seus adversários antes de qualquer duelo. Agora que conversou melhor com a mulher a sua frente, sentia uma leve vontade de conhecê-la mais profundamente. Ali também estava sua oportunidade de esclarecer, com sutileza, algo que o perturbava desde muito tempo atrás. Além, é claro, de estar em companhia de uma mulher atraente, algo que não fazia há muito tempo.

- Duelo aceito, mas sem ressentimentos no fim, senhorita Gamp.

Ela sorriu mais uma vez. - Não se baseie em aparências, Snape. Pode sair muito machucado.

Ambos levantaram-se. Marylin demorou um pouco mais com Rosmerta, informando-a de onde iria em companhia do sério professor de Hogwarts. Ao saírem juntos do bar, ela retomou a conversa sobre o esporte.

- Quando a Rosmerta me disse que havia um clube aqui no próprio povoado, fiquei encantada. Um lugarejo tão afastado e pequeno como Hogsmeade abrigar um clube de esgrima? Era quase impossível na minha concepção. Lá nos Estados Unidos, somente nas capitais é que encontramos algum lugar legal.

- O velho Toffyt era muito ligado ao esporte. Disse-me que desde pequeno sua família trouxa o viciara à espada.

- Eu comecei um pouco tarde, na verdade somente após minha pesquisa mais aprofundada sobre os esportes trouxas. Fascinei-me quando li que a esgrima é o único esporte olímpico em que duas pessoas de diferente peso, força, altura, idade ou sexo, se enfrentam diretamente, utilizando uma arma. Bem interessante, não?

- Muito.

Chegaram à loja da rua mais afastada do povoado. O velho bruxo a quem Snape se referiu estava sentado com alguns bruxos mais jovens na primeira salinha que passaram. Marylin já aparentava ser muito íntima do lugar. Cada um seguiu para seu vestiário, e quando estavam prontos, voltaram a encontrar-se numa das salas do clube. Diferentemente das pistas trouxas, a esgrima dos bruxos não precisava de espadas especiais; cada bruxo enfeitiçava sua própria espada e instantaneamente a lâmina cegava, evitando cortes. Não precisavam também de sinalização para toques; o feitiço lançado no próprio salão envolvia os corpos adversários e indicava cada ataque feito com sucesso num painel ao fundo da sala.

Severo e Marylin encaram-se no meio da sala. Por um longo momento ficaram imóveis, apenas se observando. Severo moveu-se para frente com cautela, Marylin partiu para cima dele, almejando acertar suas costelas. Por puro reflexo, Severo conseguiu bloquear o ataque à tempo, e suas espadas encontraram-se no ar. Uma chuva de fagulhas saiu das lâminas, e Severo não escondeu a surpresa de saber que a moça era mesmo boa.

Marylin aproveitou o momento de admiração e girou para o lado atacando sua direita. Mais uma vez ele conseguiu deter o golpe. Ele somente defendia-se, analisando suas chances contra a moça. Ela atacou ainda uma terceira vez, ferozmente, mirando agora sua cabeça. Surpreso, Severo decidiu lutar seriamente; ela era feroz e rápida, teria muito trabalho.

Começou a realizar seqüências de golpes diversos, mas a mulher também se defendia bem. Não importara quantas vezes ele fôra inventivo, ela o bloqueara em todas. Seus corpos quase se tocaram por diversas vezes; a tensão que emanava de suas peles entre uma ação e reação, os afastava e os juntava novamente no ímpeto da luta. As imagens dançavam na sombra do feitiço da sala.

Não contou o tempo, lutaram procurando erros no adversário. Fintavam e fintavam, e quase viam seus próprios espíritos pensando antes de suas atitudes. A espada queimava em sua mão; agora já sentia o peso dela. Mas seu momento chegou antes que cansasse de verdade.

Marylin jogou-se para frente de maneira abrupta e Severo deu um passo para o lado, passando a ponta de sua espada na altura do maxilar dela, que congelou ao toque da lâmina gelada. Ambos respiravam ofegantes. Cansados demais para conversar, cada um dirigiu-se mais uma vez aos vestiários. Severo terminou de trocar-se mais rapidamente do que ela, e a esperou na saleta onde antes Toffyt estivera conversando com os calouros.

Marylin não demorou a juntar-se a ele. Os cabelos molhados caíam pelas suas costas e um leve aroma floral ocupou o olfato de Severo, alguns segundos antes de ouvir a voz dela.

- Você é ótimo, Severo. Posso dizer que foi meu melhor adversário desde que comecei a praticar o esporte.

- Digo-lhe o mesmo, senhorita Gamp. As aparências realmente me enganaram.

Ela sorriu. – Mas não o venci. Poderíamos repetir a dose durante minha estada com a Rosmerta? Adoraria aprender alguns de seus “truques”.

- Quando quiser, mas não tenha tanta certeza que revelarei meus segredos.

Severo descobriu que era muito agradável passar horas na companhia de Marylin, mesmo que os duelos sempre o cansassem bastante. Seu humor melhorou muito após a descoberta de tão boa desafiante, e uma vez por semana encontravam-se para o combate. Após o sexto duelo, ela conseguiu finalmente vencê-lo, e Severo atribuiu a derrota a carga extra de trabalho desencadeado pelos exames finais das turmas de Hogwarts, mas Marylin não aceitou desculpas e praticamente o obrigou a comemorar com ela; estava eufórica. Enquanto caminhavam de volta ao pub, Marylin sorria e o alfinetava. Ele mantinha sua seriedade.

- Todos esses dias juntos e nunca o vi sorrir de verdade. Afinal, aqueles seus sorrisos sarcásticos não contam – ela afirmou com simplicidade.

Severo ponderou um pouco antes de responder. Não queria abrir sua vida pessoal para Marylin, mas precisava deixar um pouco de sua vida exposta se quisesse descobrir o ponto chave que o fez se aproximar dela.

- Não tenho muitos motivos para sorrir, senhorita Gamp.

- Bom, também não ando tendo muitos ultimamente, mas hoje você me proporcionou uma felicidade imensa.

- Não estava em minha melhor forma, a senhorita sabe disso.

- Vai sempre insistir nisso. Não me importo, achei que foi uma grande vitória minha. Você ainda consegue lembrar dos momentos onde sentiu uma felicidade que o deixasse tão empolgado como a minha de hoje?

- Não. Se pensar muito talvez encontre, mas não será fácil.

Pararam de caminhar na trilha estreita até a cidade. Ela deu um passo em sua direção e olhou-o mais profundamente.

- Você esconde tantos mistérios, Snape... – Estendeu sua mão e tocou levemente a face pálida do professor. Ele não recuou ao seu toque. – Seus olhos me mostram isso.

Ele mergulhou nos olhos dela. Os dois pontinhos brilhantes lhe chamavam de volta a uma realidade muito distante no tempo. Ele esqueceu qual era a data de hoje e fechou seus próprios olhos quando sentiu lábios quentes pousarem levemente sobre os seus. Correspondeu ao carinho com uma sensação de leve esquecimento de onde estavam. A pressão dos lábios aumentou, com ambos totalmente envolvidos pelo momento, até que a necessidade de respirar se fez mais forte. Separaram-se e Marylin se sentiu premiada quando um leve sorriso escapou da boca do mestre de Poções, um pouco antes de seus lábios juntarem-se novamente aos dele.



As semanas se arrastaram, na opinião de Hermione. Ela e os meninos descobriram tanta coisa sobre a Pedra Filosofal nesse último mês, que ela fazia questão de evitar ao máximo pensar no assunto, mas os pensamentos sempre invadiam sua mente.

A descoberta que Harry havia feito de quem verdadeiramente estava por trás da idéia de roubar a Pedra Filosofal, lhe causava dor: Você-sabe-quem. Durante alguns de seus intervalos nas aulas, visitou a biblioteca para descobrir alguma coisa sobre seguidores de Você-sabe-quem. O que encontrou a deixara ainda mais angustiada, Comensais da Morte, assim eram chamados os bruxos que o seguiam no auge do seu poder. Não encontrou o nome do seu professor de Poções em nenhuma das matérias que leu nos jornais antigos da biblioteca, mas tudo fazia sentido. Se ele estava cumprindo uma ordem daquele calibre, só poderia ser um fiel seguidor das Trevas.

Martirizou-se quando leu sobre o preconceito aos nascidos trouxas, imaginando o que teria acontecido se ela tivesse permanecido mais algum tempo sozinha com o professor na sala de aula, no dia da discussão sobre Draco Malfoy. Se essa matéria tivesse sido lida antes de ter ido defender o Neville, jamais teria ficado a sós com o professor Snape. Não queria nem imaginar o que teria acontecido se o Beco Diagonal não fosse um lugar tão movimentado. Balançou a cabeça, afastando as imagens negativas que começaram a se formar dentro dela. Será que o diretor sabia que ele era um dos seguidores de Você-sabe-quem? E se sabia, por que permitira que ele fosse buscá-la? Alvo Dumbledore é o bruxo mais poderoso da atualidade. Acho que sim... Afinal, nada aconteceu a si própria, nem no Beco Diagonal nem na visita a sala de Poções.

A preocupação com o Harry também afetara seu humor. O que seria dele se Snape realmente recuperasse a Pedra e a entregasse a Você-sabe-quem? Não era segredo em parte alguma do Mundo Mágico que Harry fora o responsável pela queda de Você-sabe-quem. Certamente que ele perseguiria Harry até que conseguisse vingar-se da vergonha que passara.

Havia perdido algumas noites com pesadelos onde a poção que cozinhava em seu caldeirão emitia uma fumaça que conversava com ela e dizia-lhe que estava sendo injusta com o professor Snape, e que por isso devia sufocar-lhe até que ela fosse pedir desculpas a ele. Hermione sempre acordava com falta de ar após os pesadelos, e isso a deixava com uma alta dose de mau humor. A proximidade dos exames exaltou a dosagem de adrenalina em sua corrente sanguínea, e ela se viu no meio de reações fisiológicas diversas, desde palpitações até dores de cabeça incessantes.

Somado a tudo isso, a vergonha de ter perdido cinqüenta pontos para Grifinória e a detenção que tivera que cumprir, rebaixaram seu ego para um nível inferior ao do chão. Agora vivia calada, quieta no seu canto. As palavras duras que havia recebido nessas últimas semanas ecoavam em sua mente. A lembrança da detenção doía em seu peito. O tom de decepção nas palavras da professora Minerva ecoava em seus ouvidos: Estou desapontada com você, Hermione Granger. Achei que tinha mais juízo. Esses ecos a deixavam ainda mais triste do que a ameaça invisível da Pedra Filosofal.

As regras realmente haviam deixado de ser uma preocupação constante em sua mente, mas não esperava ser descoberta daquela forma. Ajudar as pessoas era uma atitude maravilhosa, mas não justificava seu erro. Toda alegria que ela pôde sentir ao ver Draco Malfoy ser capturado, transformou-se em frustração. Seus pais costumavam dizer constantemente para nunca se alegrar com o mal de outras pessoas pois ele podia voltar-se contra você. Hermione agora entendia o significado dessas sábias palavras. Mas não teria sido injusto? As intenções dela e de Harry eram boas, enquanto as de Draco Malfoy eram somente o de prejudicá-los e, de quebra, demitir o Hagrid.

As semanas realmente arrastaram-se, e quando finalmente os exames passaram, as preocupações findaram e as férias chegaram. Hermione respirou aliviada e queria apenas contemplar os jardins antes de começar a arrumar sua bagagem de volta a casa, mas Harry percebeu que tudo estava apenas começando. A ameaça a Pedra Filosofal era mais real que nunca, e Hagrid confessou que alguém maligno agora sabia como passar pelo Fofo e a Pedra não estava mais segura. Hermione gemeu com a afirmação.

O trio saiu correndo em busca de uma indicação ou ajuda para encontrar o diretor de Hogwarts. A urgência em encontrar uma saída para os problemas de seu amigo e de todo Mundo Mágico a fizeram mais uma vez esquecer a cautela e encher-se de coragem, até para falar novamente cara a cara com a professora Minerva, coisa que ela evitava desde sua detenção.

- Sugiro que vocês voltem para fora e aproveitem o sol.

Seu sangue gelou nas veias quando as palavras da professora Minerva confirmaram que o bandido havia finalmente conseguido tirar o diretor da escola. O que fariam agora? Sem Dumbledore para protegê-los, o mal triunfaria, a Pedra seria roubada e a era das Trevas voltaria a pairar sobre o Mundo Mágico.

- É hoje à noite. Snape vai entrar no alçapão hoje à noite – Harry disse com um tom levemente desesperado na voz. - Ele já descobriu tudo o que precisa e agora tirou Dumbledore do caminho. Foi ele quem mandou aquela carta, aposto que o Ministro da Magia vai levar um choque quando o Dumbledore aparecer.

- Mas o que é que podemos...

Hermione perdeu a fala e toda a cor de seu rosto. A imagem a sua frente encarava-a com um sorriso estranho e torto, parecia até que a enxergava pela primeira vez em todo o ano.

- Boa tarde. – Desviou finalmente os olhos dela, cravando-os em Harry. – Vocês não deviam estar dentro do castelo num dia como este.

- Estávamos... – começou Harry, sendo cortado pela voz suave do professor.

- Vocês precisam ter mais cuidado. Andando por aqui assim, as pessoas vão pensar que estão armando alguma coisa. E Grifinória realmente não pode se dar ao luxo de perder mais nenhum ponto, não é mesmo?

Hermione corou junto com Harry. Snape estava lhes lembrando a vergonha que passaram diante de toda sua Casa. Virou com os garotos para ir embora, mas a mesma voz suave os chamou de volta.

- E fique avisado, Potter, se ficar perambulando outra vez à noite, vou providenciar pessoalmente para que seja expulso. Bom dia para vocês.

Hermione o viu seguir para a sala dos professores. Ele me olhou diferente. Parecia que hoje de verdade ele a enxergara, embora a tenha excluído de suas palavras, afinal ela também havia sido pêga perambulando à noite e ele só ameaçou o Harry de expulsão. Mas ele realmente me olhou estranho.

- Um de nós tem que ficar de olho no Snape, esperar do lado de fora da sala dos professores e segui-lo se ele sair – ouviu a voz de Harry, arrancando-a de seus pensamentos. – Hermione, é melhor você fazer isso.

A idéia lhe aterrorizou. – Por que eu?

- É óbvio, você pode fingir que está esperando pelo professor Flitwick, sabe como é, - e Rony fez voz de falsete – “Ah professor Flitwick. Estou tão preocupada, acho que errei a questão catorze b...”

- Ah, cala a boca!

Se os garotos imaginassem o que na verdade a preocupava, se um deles ao menos tivesse lido a matéria de jornal que havia encontrado na biblioteca, não a colocariam nessa posição. Porém o mal era maior, ela achava injusto pensar somente na sua própria pele enquanto outras tantas também corriam perigo. Correu em direção a sala dos professores e manteve guarda nervosamente, até que o barulho da porta se abrindo a fez virar-se abruptamente naquela direção e, mais uma vez naquele dia, ela viu-se cara a cara com aquela expressão estranha no rosto do seu mestre em Poções, que parecia enxergar até sua própria alma.



N/A: Milhões de desculpas pela demora na atualização! Obrigada pelos reviews, penúltimo capítulo da temporada “Pedra Filosofal”. Espero que curtam e deixem comentários. Agradecimentos especiais a minha beta Ferporcel que correu para corrigir esse capítulo (não sei o que seria de mim sem você!).

Os seguintes diálogos pertencem à história original:

- ... não sei porque você quis se encontrar aqui, Severo...

- Ah, quis manter o encontro sigiloso afinal os alunos não devem saber sobre a Pedra Filosofal.

- Você já descobriu como passar por aquela fera do Hagrid?

- M-m-mas, Severo, eu...

- Você não quer que eu seja seu inimigo, Quirrell.

- N-n-não sei o que você...

- Você sabe perfeitamente o que quero dizer... as suas mágicas de araque. Estou esperando.

- M-mas eu n-n-não...

- Muito bem, vamos ter outra conversinha em breve, quando você tiver tido tempo de pensar nas coisas e decidir com quem está a sua lealdade.

- Sugiro que vocês voltem para fora e aproveitem o sol.

- É hoje à noite. Snape vai entrar no alçapão hoje à noite. – Harry disse com um tom levemente desesperado na voz - Ele já descobriu tudo o que precisa e agora tirou Dumbledore do caminho. Foi ele quem mandou aquela carta, aposto que o Ministro da Magia vai levar um choque quando o Dumbledore aparecer.

- Mais o que é que podemos...

- Boa tarde, Vocês não deviam estar dentro do castelo num dia como este.

- Estávamos... – começou Harry.

- Vocês precisam ter mais cuidado. Andando pr aqui assim, as pessoas vão pensar que estão armando alguma coisa. E Grifinória realmente não pode se dar ao luxo de perder mais nenhum ponto, não é mesmo?

- Um de nós tem que ficar de olho no Snape, esperar do lado de fora da sala dos professores e segui-lo se ele sair. Hermione, é melhor você fazer isso.

– Por que eu?

- É óbvio, você pode fingir que está esperando pelo professor Flitwick, sabe como é, - e Rony fez voz de falsete – “Ah professor Flitwick. Estou tão preocupada, acho que errei a questão catorze b...”

- Ah, cala a boca!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.