Chegada



Chegada
by surviana




Aviso: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor deste texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas a JKR.

Por favor, não me processem! Só peguei emprestado para me divertir e divertir os outros!





Naquele fim de tarde, após ter deixado a menina Granger em casa, Severo Snape aparatou de volta ao povoado mágico de Hogsmeade. Entrou no bar Três Vassouras e sentou-se numa mesa mais afastada em um canto. Ficou observando a paisagem lá fora. A bela dona do bar aproximou-se dele; uma mulher tipo violão, pernas estonteantes e um belo rosto. Snape continuou a olhar a paisagem, sem notá-la ao seu lado.

- Snape? Algum problema?

Snape piscou os olhos, saindo do transe em que se encontrava.

- Ah, olá Rosmerta... O que disse?

- Perguntei se há algum problema com você. Parece tão... aéreo.

- Não, não há nada... A não ser o fato que estraguei minhas férias numa missão da escola.

- Ah Snape, você e essa sua mania de achar que a escola é um assunto desagradável. Vai beber alguma coisa?

- Sim, por favor, um firewisky duplo.

- Uau! Missão desagradabilíssima. Posso acompanhá-lo no drink?

- Como quiser, embora já saiba que não sou uma boa companhia, ainda mais mal-humorado.

- Estou acostumada com fregueses assim. E não conheço outro Snape senão esse de mau humor.

Rosmerta voltou para o balcão para apanhar as bebidas e Snape voltou a admirar a rua lá fora. Algumas pessoas passeavam pelas ruas despreocupadamente.

- Aqui estão. Trouxe uma garrafa para nós dois. A julgar pela sua cara, um drink não vai satisfazê-lo.

- Muito bom.

Bebeu a primeira dose de um gole só. Rosmerta apenas o fitava. Após mais duas doses, Severo encarou-a.

- Já se deparou com alguém que seria capaz de jurar conhecer de algum outro lugar?

- Sim, isso acontece às vezes com todo mundo.

- Mas nunca de algum outro tempo...

- Como?

- Esqueça, devo estar ficando louco. Diga-me, qual a nova pedida para o inverno?

- Ah, você vai adorar. Comprei um barril novo de uma bebida trouxa: Aguardente. - Ambos riram. - Os trouxas têm um jeito engraçado de chamar as bebidas, e nós sempre adaptamos deles. Estou pensando num nome para ela. Vai gostar mesmo dessa, esquenta pacas e combina com qualquer acompanhamento.

- Precisarei estar entorpecido mesmo.

Rosmerta não entendeu o que Snape quis dizer, mas deixou pra lá. Quem entendia Severo Snape?

Não estava errado quando disse precisar se entorpecer. Durante os dias que se passaram até o início do ano letivo, Severo preferiu ficar em Hogwarts à ir para casa, assim podia ir ao Três Vassouras diariamente, ficar jogando conversa fora com Rosmerta, ou apenas deixar-se observar a rua lá fora, o que o distraía; a bebida também.

Seus fantasmas o estavam visitando todas as noites que tentava não beber. Por várias vezes ponderou a possibilidade de visitar um curandeiro especialista em alucinações. Sua sanidade estava afetada desde aquela viagem ao mundo trouxa. Seus sonhos estavam piores e a poção do sono não funcionava mais. E a proximidade do ano letivo só aumentava aquela tensão.

A forma de aliviá-la um pouco era despejando seu mau humor sobre os outros. Andava tão ranzinza, que as pessoas nas molduras saíam correndo para outras quando o viam se aproximar, temendo serem enfeitiçadas. Na última reunião antes da chegada dos alunos, já com Dumbledore no comando, estava tão insuportável que conseguiu levar a professora Sprout à beira das lágrimas quando discutiam sobre as casas.

O diretor chamou-o na saída:

- Severo? Poderia dar uma palavrinha com você?

- Claro diretor, como queira. – Deixou-se ficar enquanto os outros saíam da sala.

- Há alguma coisa lhe incomodando? – o diretor perguntou, assim que estavam sozinhos.

- Serve o fato que amanhã acaba a paz desse castelo? Ou o de que minhas férias chegaram ao fim?

- Serve, claro que serve. Embora ambos saibamos que não é a verdade.

- Então qual seria a verdade, Diretor?

- Foi isso que lhe perguntei, Severo.

Os dois bruxos se encararam por um tempo.

- Não há nada. – Severo esperou encerrar a conversa com o tom conclusivo em sua voz.

- Certo Severo, pode ir. Boa noite.

- Boa noite, Diretor.

Snape saiu a passos largos pelo corredor em direção aos seus aposentos. Atirou-se numa poltrona, e com um Accio atraiu para si a garrafa e o copo que o acompanhavam há várias noites. Acendeu a lareira e fitou as chamas crepitarem. Sua mente viajou há um tempo passado, guardado no fundo de sua mente.

Fechou os olhos, dois pontinhos brilhantes pairavam em sua memória.

- Ignore-os. Não olhe para eles, evite-os.

O copo de vidro espatifou-se contra a parede. A garrafa estava vazia, e sua mente lotada.

-

-

Os dias que se passaram até o embarque na plataforma 9/2 arrastaram-se, na opinião de Hermione. Estava tão ansiosa para conhecer o mundo mágico, que cada hora parecia ter seis mil minutos e não sessenta. Leu e releu seus livros milhares de vezes, tentando absolver o maior número de informações possível. Não queria chegar num mundo novo parecendo uma barata tonta. Tinha que mostrar que merecia ter o dom da magia.

Já sabia quase tudo sobre Hogwarts, pelo menos tudo que o livro que ganhara do professor descrevia. Era fascinante! Contava os detalhes do castelo que parecia ter vida própria. Suas lendas, seus mistérios, suas leis; falava das matérias, dos prêmios, dos esportes e das criaturas mágicas que habitavam na floresta da propriedade. As escadas se movimentavam! Moravam fantasmas lá! Haviam milhares de feitiços de proteção!

Tinha que reconhecer que o professor Snape sabia das coisas, ou pelo menos sabia sugerir bons títulos para leitura. Afinal, os livros que lhe sugerira eram simplesmente fascinantes. Nunca em toda sua vida poderia imaginar um lugar como aquele. Cada linha que lia nas páginas de qualquer um deles, aumentava ainda mais sua curiosidade. Não via a hora de embarcar naquele trem que a levaria para aquele mundo totalmente novo.

Finalmente, e um finalmente muito demorado, primeiro de Setembro chegou. Seus pais a levaram a estação de King’s Cross. Sua mãe ainda tentou mais uma vez fazê-la desistir. Não havia funcionado nesses quase dois meses, não seria agora que funcionaria. Como o professor lhe dissera, despediu-se deles a beira da plataforma nove.

Viu sua mãe murmurando algumas palavras enquanto se dirigia para a parede maciça. Devia estar orando para que não funcione. Uma ponta de dúvida começou a surgir em seu peito. E se não funcionasse? Bem, pelo menos teria tentado. Fechou os olhos quando sentiu a parede bem próxima de si. Abriu-os novamente quando ouviu um apito alto. Lentamente visualizou uma locomotiva vermelha, o expresso de Hogwarts. Deu pulos de felicidade, olhou para trás e somente viu a parede maciça por onde passara.

- É verdade!

Haviam várias famílias ali, e concluiu que eram todos bruxos por poderem se despedir na plataforma mágica. De repente, começou a se sentir deslocada. Não conhecia ninguém. Conheço o professor Snape, mas será que os professores viajam com os alunos? Decidiu olhar as cabines do trem, mas seu malão era muito pesado! Estava há um bom tempo tentando fazê-lo subir pelas escadinhas do vagão e não conseguia!

- Quer ajuda?

Uma moça de uns quinze anos, calculou Hermione, sorria para ela. Estava vestida com o fardamento do colégio, e Hermione reparou que havia um distintivo com um “M” nele.

- Sou Penélope Clearwater, monitora da Corvinal.

- Ah, sou Hermione Granger. Não tenho casa ainda.

A garota ajudou-a a pôr seu malão para cima e encontrar uma cabine vazia.

- Espero que fique em uma das casas que são unidas; na minha, na Lufa-Lufa ou na Grifinória. São as melhores. Cada uma se destaca pelas características de seus alunos e alguns dos bruxos mais famosos do mundo foram delas. O próprio diretor, Alvo Dumbledore, foi da Grifinória. A Sonserina é a pior de todas, não que eu não goste dela, mas os alunos de lá são muito arrogantes. Espero mesmo encontrá-la em uma das nossas.

- Ah, obrigada.

A garota despediu-se de Hermione e voltou a descer pelo trem. Ela trocou suas vestes enquanto não havia ninguém na cabine e recostou sua cabeça contra a vidraça. Pensou em seus pais. Essa seria a primeira vez que passaria tanto tempo longe deles. Não é hora para saudades ainda Mione, você acabou de chegar! Pegou sua varinha no malão e o livro padrão de feitiços, e começou a praticar os feitiços descritos no primeiro capítulo. Um barulho na cabine interrompeu suas ações.

- Ah... Oi... Posso me sentar aqui com você? As outras cabines estão cheias...

Era um garoto de rosto redondo e parecendo muito desajeitado.

- Pode sim, qual seu nome?

- Neville Longbotton e você?

- Sou Hermione Granger. Por acaso sabe se os professores viajam no trem conosco?

- Não... Não sei, mas acho que não... Devem nos esperar para dar as boas vindas no colégio.

- Sei... Mas e você já sabe em qual casa vai ficar? Estive lendo algumas linhas sobre o colégio e gostaria de ficar na Grifinória, você não?

- Bem... Meus pais foram da Grifinória, espero ficar lá também.

- Seus pais são bruxos?

- Sim... – Neville pareceu muito envergonhado em falar sobre os pais – Minha avó também foi de lá.

Passaram à manhã conversando. Na verdade, era muito mais Hermione quem falava sobre tudo que havia lido nos livros. Neville era um bom ouvinte e apenas concordava com algumas coisas que entendia por já ter ouvido alguém da sua família comentar. Hermione também demonstrou alguns feitiços simples que havia conseguido executar com o auxílio do livro, Neville pareceu maravilhado. Uma bruxa com um carrinho de doces passou na cabine por volta do meio-dia e Hermione comprou algumas guloseimas para experimentar.

- O que é isso que você está segurando na mão?

- Ah, esse é o Trevo, meu sapo de estimação.

O sapo coaxou alto e deu um pulo da mão do garoto, saltitou até a porta ainda aberta da cabine e sumiu pelo corredor. Hermione gritou assustada. Neville saiu correndo atrás do sapo, deixando-a sozinha. Ela sentou-se no banco com as mãos no coração por conta do susto. Pouco depois o garoto voltou com a voz chorosa, lamentando não ter encontrado seu animalzinho.

- Ajudo você a procurar.

Saíram os dois porta afora, de cabine em cabine, perguntando pelo sapo. Entraram na última do vagão. Haviam somente dois garotos lá. Hermione esperava conhecer mais alunos da escola e se enturmar. Não que não estivesse acostumada a ficar sozinha, pois era filha única, mas esse era um mundo totalmente novo, e talvez devesse mesmo fazer amigos, já que não tinha família nele, teria que, no mínimo, construir uma boa teia de amizades.

Os garotos lhe pareceram muito desligados. O ruivinho queria impressionar fazendo uma mágica que parecia recém saída de um desenho animado; com certeza ele levaria a maior bronca se fizesse aquilo na frente do professor Snape. O outro era pra lá de famoso, e pela cara de espanto que fez, nem sequer sabia disso. Não ia muito com a cara de pessoas assim, lhe pareceu que eles eram extremamente desleixados por não levarem a magia a sério, e gente assim vive se metendo em confusão. E ela não podia se dar ao luxo de ser expulsa do mundo mágico, quando tinha acabado de chegar! Voltou para sua cabine, era melhor ficar sozinha. Ou quem sabe com o Neville; ele era muito desajeitado, mas tinha um bom coração.

- Vou perguntar ao maquinista se ainda vamos demorar muito para chegar, você pode aproveitar o tempo e trocar suas vestes, Neville.

Passou pelas cabines onde as pessoas davam gritinhos e pulinhos de alegria. Devemos estar perto.

Escutou um barulho vindo da cabine dos dois garotos e foi lá verificar. Passaram três por ela, parecendo muito assustados.

- O que foi que aconteceu?

Observou os doces espalhados pelo chão. Esperou uma resposta deles, mas pareciam que não há haviam notado. Depois de ouvi-los conversar sobre uma família de bruxos, o ruivo pareceu finalmente vê-la.

- Podemos fazer alguma coisa por você?

- É melhor vocês se apressarem e trocarem de roupa. Acabei de ir lá na frente perguntar ao maquinista e ele me disse que estamos quase chegando. Vocês andaram brigando? Vão se meter em encrenca antes mesmo de chegarmos lá!

- Perebas andou brigando, nós não. Você se importa de sair para podermos nos trocar?

- Está bem. Só vim pra cá porque as pessoas nas outras cabines estão se comportando feito crianças, correndo pelos corredores. E você está com o nariz sujo, sabia?

Saiu porta afora. Acabou de ter a certeza de que aqueles dois eram sinônimos de confusão, e ia evitá-los ao máximo. Voltou à companhia de Neville, quando sentiu o trem parar lentamente. Seu coração parecia querer saltar pela boca. Ouviu um... gigante? chamando pelos alunos do primeiro ano, e caminhou ao lado de Neville pelo caminho íngreme. Estava maravilhada com a visão do castelo no alto de um penhasco com milhares de torrinhas acesas e não notou que se sentara no mesmo barco que os dois garotos encrenqueiros. Estava absorta em admirar aquela gigantesca construção à sua frente.

O gigante simpático encontrou o sapo de Neville quando desembarcaram, bateu com força numa porta, e uma bruxa de cabelos negros e expressão fechada os recepcionou: Professora Minerva McGonagall. O nome era o mesmo que havia em sua carta; ela era a diretora substituta.

Hermione ouviu, com redobrada atenção, cada palavra da bruxa sobre as casas de Hogwarts. Tomou um susto ao ouvi-la falar sobre o teste de seleção. Mentalmente, repassou cada uma das páginas dos livros que havia decorado. Assim que ela saiu, começou a recitar os encantamentos que lhe vinham à cabeça para não fazer feio diante de toda a escola. E se não fosse selecionada para nenhuma casa? E se os bruxos no salão ao lado a humilhassem por ser uma intrusa no meio deles? Procuraria o professor Snape; ele havia levado a carta para ela, e não podia estar enganado. Mas não o vira até agora... Será que ele a ajudaria a ficar?

Quando deu por si, já haviam recomeçado a andar em fila indiana. Entraram no Salão Principal, e Hermione reparou que era exatamente como descrito no livro, e comentou com Neville, que olhava o teto abobalhado:

- É enfeitiçado para parecer o céu lá fora, li em Hogwarts: uma história.

Observou a professora colocar um chapéu surrado num banquinho e de repente ouvi-lo cantar. Todos aplaudiram ao final da canção. Pela letra da música, desejou estar na Grifinória. Já guardava essa vontade desde que a Monitora dissera-lhe que o diretor havia pertencido àquela casa. Os nomes eram chamados, e nada do seu chegar. Passou os olhos pela longa mesa dos professores. Reconheceu o professor Snape sentado em uma das extremidades. Podia jurar que ele estava olhando-a, porém não retribuiu o belo sorriso que lhe dera.

- Hermione Granger!

Tomou um susto tão grande que saiu correndo em direção ao banquinho, enterrou o chapéu na cabeça e ouviu sua vozinha lá dentro de sua mente:

“Hum... Uma mente brilhante... Ousadia e lealdade... Inteligência e paciência... Senso de liderança... Onde ponho você criança? Corvinal? Sua inteligência se sobressairia, seu espírito de líder se consolidaria! Mas e sua ousadia, a perderia? Já me decidi... Grifinória!”

Ficou tão feliz! Era uma Grifinória como Alvo Dumbledore e como a professora Minerva! Passou o resto da noite distribuindo sorrisos e conversando alegremente sobre as matérias que a aguardavam. Sentiu-se muito sonolenta após o jantar. Assim que foi apresentada ao seu quarto, trocou-se e mergulhou nas cobertas quentinhas.

-

-

- Maldição!

Um punho fechado mergulhava de encontro à superfície da mesa de madeira em uma das masmorras.

- Desejo idiota!

Condenava-se intimamente por ter cogitado a hipótese de um nascido trouxa ser remetido a sua casa. Estando perto teria muito mais certeza. Sua mente nunca errara, poderia estar a milhares de anos luz distante, mas sempre estaria certa. Desejar tê-la em Sonserina, poderia evitar...

Evitar algo que já estava marcado? Não havia escapatória. Melhor esquecer... Um sorriso frio passou por seus lábios.

- Ou desprezar.




Reviews sempre bem vindos! Agradecimentos a minha beta maravilhosa FerPorcel.

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