Uma carta

Capítulo 10 - Uma carta

Nos dias seguintes, Gina evitou tanto Draco quanto Harry. Estava decidida a tomar de uma vez por todas uma decisão e acabar com toda aquela confusão. Draco havia entrado em sua vida de repente. E havia feito com que ela não só mudasse de opinião a respeito dele, mas também que o amasse. Que o amasse de verdade, mais do que ela imaginou que algum dia conseguiria. Ela o amava até mesmo... da maneira que amava Harry. Porém, por mais difícil que fosse, ela tinha que ser madura o suficiente para admitir que aquela relação nunca chegaria a lugar algum. Para Gina, criada em uma família grande, não havia razão suficiente no mundo para que ela os enfrentasse, sabendo que eles estavam com razão. Sim, ela amava Draco. Mas conhecia a família dele e sabia que nenhum deles era gente de bem. Eram todos uns imprestáveis, que nunca iriam respeitá-la. Talvez um dia, se toda aquela guerra que poderia estourar a qualquer momento não existisse mais, eles poderiam ter uma chance juntos. Mas ela sabia que não tinha nem mesmo argumentos para mostrar a ninguém que Draco não era como os pais. E talvez ele mesmo não quisesse isso. Ele havia dito várias vezes que a amava e que não pretendia terminar com ela. Mas como se pode confiar em um garoto, pensou ela. Eles já estavam juntos por algum tempo... Um mês, talvez. Mas Harry a queria. Finalmente, depois de tanto tempo, Harry realmente a queria. Claro que com ele tudo seria mais fácil. Sua família iria ficar até mesmo contente com a notícia e Rony... Bem, talvez Rony fosse um grande incentivador. Ele havia sempre deixado claro para Gina que não aprovava nenhum de seus namorados. Ela sabia que se fosse Harry, ele iria ficar realmente feliz. Isso sem falar que Harry não era como todos os outros garotos, que só pensavam em uma coisa. Ela poderia ter uma relação bem estável com ele. Mas era isso que ela queria?! Plenos quinze anos, e ela escolheria estabilidade e segurança, ao invés de emoções e paixão? Ela não sabia a resposta, mas sabia que com Malfoy estava se arriscando demais. Estava se arrisacando a ser expulsa, quando ficava todas aquelas noites junto com ele, em uma sala abandonada, só indo dormir de madrugada. Estava se arriscando a decepcionar toda a sua família, de uma maneira que ela nunca seria capaz de consertar. Estava se arriscando a perder Harry. Decidiu finalmente, depois de muitos pensamentos e avaliações, que o melhor a fazer seria realmente terminar tudo com Draco. Ela se machucaria menos assim e ele também. Chegou a pensar na possibilidade de continuar a vê-lo, mesmo se começasse a namorar Potter. Ninguém nunca iria desconfiar que eles estavam juntos se a escola inteira soubesse que ela estava com Harry. Pois Hogwarts inteira sempre soube que esse dia chegaria, mais cedo ou mais tarde. Mas depois que pensou no que Harry seria capaz de fazer se descobrisse, achou melhor apenas ignorar tudo o que sentia pelo sonserino charmoso com quem vinha passando as noites. Achou melhor acabar com tudo antes que começassem a se machucar seriamente. Pensou nas palavras que usaria para dizer isso a Draco. Mas percebeu que como em todas as vezes, ela não iria conseguir fazer isso, pois ele realmente tinha um efeito inexplicável sobre ela. Ela não conseguia resistir, simplesmente não conseguia. Iria perder a coragem e não conseguiria tentar uma segunda vez. Resolveu que escrever uma carta seria a melhor saída.

" Draco,

Não tenho idéia do que dizer. Realmente não tenho. Esses dias todos que passamos juntos têm sido simplesmente maravilhosos. E acho que a melhor maneira de fazer isso é assim, de forma objetiva e rápida, evitando maiores sofrimentos para nós dois. Bem, essa é a parte em que fico sem palavras. Mas eu sei que você me entende, porque está na mesma situação. Nós não podemos fazer isso. Nós dois sabemos disso. Temos que parar antes que estejamos envolvidos demais. E esse ponto está próximo, eu o sinto. Temos que fazer com que nossas vidas voltem ao normal e temos que esquecer que algum dia isso já aconteceu. É o melhor para nós dois. Sei que se tivesse que fazer isso pessoalmente, não conseguiria. Então, resolvi escrever. Sou boa nisso, mas não acho que é uma carta de rompimento é boa para ninguém. É simplesmente isso, meu amor. Nós não podemos nos arriscar mais. Eu te amo, Draco. Acho que você nem tem idéia do quanto. Eu te amo de verdade.

Gina"

Ela dobrou e selou a carta, guardando-a na mochila. Só agora percebeu que seu rosto estava banhado de lágrimas. Enxugou-as e ficou sentada perto da janela por algum tempo, observando os jardins e pensando no que havia escrito. Ficou assim por algum tempo, até que o retrato da sala comunal girou e pelo buraco oval entraram Rony, Hermione e Harry.

- Gina?! Por que você não foi almoçar? - indagou Rony, curioso.

- Não estava me sentindo muito bem. - respondeu a garota, se virando e encarando os três, sorridente.

- E você está bem agora? - perguntou Hermione, que tinha uma grande facilidade de ler as pessoas.

- Sim, estou. - disse Gina, sabendo que a amiga não acreditaria.

- Tenho milhões de tarefas para fazer. Já não agüento mais. - falou Rony, se sentando em uma poltrona ali por perto e retirando seus livros da mochila.

- Talvez se você não deixasse que elas se acumulassem dessa maneira, pudesse aproveitar melhor o seu tempo. - disse Hermione, séria.

Ignorando o comentário da garota, Rony se dirigiu a Gina, descontraído:

- Já que você não foi às aulas, posso pegar sua pena emprestada?!
Disse o garoto, e antes que Gina pudesse responder, ele já estava revirando sua mochila.

- Rony, não...

- Pra quem é essa carta?? - perguntou, curioso.

- Não é da sua conta, não é mesmo?!! - disse Gina, furiosa, arrancando a carta das mãos do garoto e olhando feio. - Vou ao corujal.

Saiu apressada, sem olhar pra trás, nem pensar em nada. Não queria nem imaginar o que poderia ter acontecido se tivesse escrito 'Draco' do lado de fora da carta. Foi em silêncio até o corujal, escolheu uma coruja discreta e esperou que ela levantasse vôo.

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