Saudade Adormecida



“Por que ninguém fechava a maldita janela para o sol não entrar?”

Draco abriu os olhos com dificuldade por causa do cansaço. Levou alguns segundos para lembrar o motivo de tanto cansaço, mas conseguiu. Charlotte havia aparecido no meio da noite dizendo ser a ajuda que Narcisa havia pedido para seu filho na batalha por sua sobrevivência. O que tinha sido bem complicado de entender, pois, pelo que a garota havia explicado, Narcisa a havia expulsado de casa junto com a mãe dela, Patience – babysiter de Draco -. Ambos ficaram até muito tarde conversando e esclarecendo dúvidas e matando a saudade adormecida que freqüentava seus pensamentos.

- Acredito que minha mãe tenha sido a última esperança da sua. A senhora Malfoy sempre confiou tudo o que pode em Patience e, agora, sem muitas opções de confiança, sua mãe deve ter se lembrado de que em algum canto do mundo havia uma pessoa que amava tanto seu filho quanto ela mesma. – Dissera Charlotte na noite anterior diante da dúvida de Malfoy sobre a escolha da mãe.

Ele olhou para os lados e se viu deitado em sua cama no seu quarto. Simplesmente não lembrava de como chegara ali. Só lembrava estar conversando com sua amiga, então, depois de dizer que ela fora a pessoa que mais sentira falta na vida, a garota sentou-se do seu lado e o abraçou, emocionada. Foi nesse abraço carinhoso que Draco encontrou dificuldade em retribuir o afeto e acabou dormindo nos braços dela.

Levantou-se, agora mais acordado, e foi até o grande espelho que tinha ali. Notou que as olheiras haviam melhorado e que sua aparência não estava mais tão deprimida. Isso levantou um pouco seu ego a pouco ferido.

Desceu as escadas rapidamente, perguntando-se onde Char poderia estar e deparou-se com uma sala vazia e uma cozinha tão vazia quanto. Alteou a sobrancelha, intrigado. Onde a garota tinha se enfiado? Procurou no quarto dos pais, apesar de duvidar que ela pudesse estar lá, e nos outros aposentos da casa, sem sucesso. Draco dirigiu-se para o jardim e, com uma idéia brilhante, ele correu até a pequena casa nos fundos do quintal em que Patience e Charlotte costumavam morar a muito tempo. E não teve erro, ao entrar pela porta destrancada, deparou-se com uma cama mal-feita e uma garota um tanto bonita esparramada nela.

Ele se aproximou e sentou na beira da cama levemente. Ficou observando ela dormir. Um sono leve, sem preocupações, tranqüilo. Draco sentiu vontade de deitar ali com ela e ficar assim para sempre. Estendeu a mão e passou os dedos finos delicadamente sobre a face dela, retirando alguns fios cabelo da mesma. Char abriu os olhos, assustada.

- Desculpe, não queria te acordar! – Apressou-se em dizer Draco, levantando-se de sobressalto. Ela sorriu, sonolenta.

- Não tem problema. Dormi muito? – E sentou-se na cama.

- Não, eu só não sabia onde você estava. Procurei por toda a casa até lembrar disso aqui. – Disse ele referindo-se a pequena casinha.

- “Isso aqui” me deixa tão saudosa quanto você, se quer saber. – Retrucou ela, com um quê de falsa irritação com a metidisse do Malfoy.

- Eu não...

- Não precisa se desculpar. – Interrompeu Char mesmo que soubesse que não era exatamente isso o que ele ia fazer. Ele alteou a sobrancelha, sorrindo.

- Vamos lá pra dentro? Precisamos decidir o que vamos fazer primeiro e tomar um café da manhã.

- Pensei que já tínhamos decidido, Draco. Precisamos da ajuda deles. É a única maneira de protegermos você e seu pai tanto do ministério quanto do Lord das Trevas.

- Ninguém pode contra o Lord das Trevas, Char. – Retrucou ele parecendo mal-humorado.

Ambos caminharam lado a lado silenciosos até a Mansão dos Malfoys, entraram e foram até a cozinha, onde Draco se sentou num banco alto e ficou observando Charlotte fazer algo para eles comerem graciosamente. Ela parecia dançar a cada movimento que fazia, provocando algo dentro do garoto.

Quanto estavam os dois comendo é que voltaram a conversar novamente.

- Potter é uma pessoa que não nega ajuda a quem precisa, Draco. E você precisa.

- Ah. A gente pode apostar sobre isso se você quiser. – Disse ele perturbado. – É culpa minha que Dumbledore está morto e ele não vai perdoar. Não que eu precise que ele perdoe, claro.

- Teremos que explicar sua situação calmamente. Dizer que você não podia negar algo ao Lord, pois ele estava irritado com seu pai. Falaremos que sua mãe comprou a própria morte para proteger você e que o último pedido dela foi o de você se salvar e ao seu pai.

- Você não entende, não é? – Draco disse irritado.- Potter se importa tanto comigo e com a minha família quanto se importa com Snape!

- Isso é bom?

- Aff.. – Bufou ele.

Ela ficou confusa, mas ignorou a impaciência dele.

- Draco, deixe de ser orgulhoso.

- Orgulhoso?! É a única coisa que me resta se você ainda não reparou! – Ele se levantou bruscamente, batendo com a mão na mesa. Saiu da sala.

- Como vou lidar com toda essa “metidisse Malfoylesca”? – Char perguntou frustrada para o copo de suco em sua mão. Bebeu ele todo de um só gole e foi atrás de Draco. Encontrou-o no quarto dos pais, deitado na cama, olhando com uma expressão revoltada para o teto. Char se aproximou devagar, não conseguindo evitar sentir compaixão pela causa dele. Draco não demonstrou tê-la visto entrar.

Ela foi até a cama e deitou ao lado dele, folgada. Draco continuou olhando para o teto, disposto a ignorá-la infantilmente. Ela se aproximou dele devagar e enlaçou a cintura de Draco num abraço afetuoso. O garoto se assustou e finalmente olhou-a.

- Eu voltei porque quero te ajudar, mas primeiro você terá que ajudar a si mesmo, Draco.

Ele não respondeu, não conseguia pensar direito com aquela garota abraçando sua cintura fazendo-o suar em todos os poros de seu corpo, nervoso. Com muito esforço e relutância ele obrigou sua própria mão a ir até os cabelos flamejantes dela e lhes acariciar, fazendo-a contorcer o rosto em uma expressão de prazer.

Foi quando os dois ouviram um estrondo no andar de baixo e a voz de vários homens entrando rapidamente na mansão. Char e Draco se olharam assustados.

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