Sacrifício



Medo. Era tudo o que conseguia sentir. Medo por sua vida, pela de sua mãe, pela de seu pai. Sabia que havia feito a coisa errada, devia ter confiado em Dumbledore. Mas tinha certeza que nem ele conseguiria ajudá-lo.

Draco não conseguia esquecer da imagem de Dumbledore caindo sem-vida no chão da Torre de Astronomia e Hogwarts. Talvez ele fosse sua última esperança de sobrevivência... Ou não. O garoto sabia que teria que matar Dumbledoire e isso seria favorável, pois somente assim ele poderia redimir os erros do pai perante o Lord das Trevas e ganhar sua honra. Contudo não tivera coragem. Matar não era simples como havia imaginado. E agora, sentado sozinho naquele quarto escuro e mofado, não via como Milorde o pouparia. Sabia o que o havia reservado para o futuro: morte certa. Com ELE não havia perdão fácil e Draco tinha certeza que ele não tinha planos para um adolescente de 16 anos sem muita experiência.

O garoto encontrava-se deitado em uma cama dura que nem parecia possuir colchão ali. Ele virou-se de lado, encolhido, e se viu refletido num espelho grande e sujo com uma rachadura no meio em que era bem difícil se ver algo com nitidez. Ele fitou o garoto pálido que o encarava no outro lado do espelho. Ele estava com um aspecto deprimente: seus cabelos louros estavam sujos e mal cuidados, caindo desordenados por sua testa. A pele branca estava suja em diversos pontos do corpo. Seus olhos, sempre muito expressivos, encontravam-se opacos, sem vida, cansados. Ele precisava sair dali. O pequeno quarto em que estava era tão medíocre quanto os outros aposentos da casa, ele não pôde acreditar quando Severus Snape o trouxera ali dizendo que era sua casa. Se não estivesse em uma situação tão desastrosa o orgulho de Malfoy não o deixaria nem entrar naquela “coisa”.

Havia um dia e meio que estava deitado ali, sujo, cansado. Sabia também que o Lord não deixaria Snape o protegê-lo muito tempo, só enquanto o pacto não se quebrasse. E para que isso acontecesse Snape ou Narcisa, sua mãe, teriam que morrer. Snape não morrera tão pouco, mas ele sabia que a mãe também não, ou o Lord já o teria buscado para dar a merecida “recompensa” por seu fracasso. Draco passara o tempo todo deitado ali, naquela cama dura, se recusando a comer e se levantar. Toda via não se cansara de pensar em um meio de escapar dali. Se fugisse haveria chance de sobrevivência, o que não havia se ficasse ali para esperar. Snape o ficava observando o tempo todo, saindo somente às vezes para algum lugar, mas quem ficava ali cuidando nesses meios tempos era Rabicho. Era nessas horas em que Malfoy pensava ter alguma esperança de fuga. Rabicho era incansavelmente tolo para tentar impedi-lo, de qualquer maneira.

- Draco, - ouviu a voz de Snape vindo da porta que acabara de se abrir com um solavanco.- sua mãe quer vê-lo. Terá que ser rápido, levante-se. –Só a voz do ex-professor o dava náuseas. Draco nem se moveu. Um segundo depois Narcisa entrara correndo no mísero quarto, com uma aparência nada digna de uma Malfoy. Os cabelos desgrenhados e os olhos inchados de tanto chorar.

- Draco, por Merlin, Draco.- Choramingou ela sentando-se ao lado do filho e abraçando-o já entrando em profundas lágrimas novamente.- Você está bem, querido?! Eu sabia que tudo ia acabar assim... E-eu sabia.. Eu sa-sabia...

A mulher parecia desesperada. Draco, pela primeira vez em muitas horas, reagiu e abraçou a mãe. Não conseguia pronunciar nada. Não podia culpar sua mãe. Fora tudo culpa dele... Narcisa se virou bruscamente para Snape.

-Por favor, Severus, eu poderia falar com ele a sós? Por favor? – Os olhos verdes dela lacrimejavam em suplica. Snape a olhou, impassível, encarou-a com o olhar duro. Mas acabou cedendo, cedendo-lhes dez minutos.

Filho e mãe ficaram ali, por um momento, se abraçando, Narcisa chorando. Foi depois de alguns longos segundos que Draco finalmente falou, com a voz rouca e deprimida.

- Desculpe, mãe, você precisa me perdoar... Eu estraguei tudo. Mãe, está tudo acabado, não está?- Soltou a mãe delicadamente e encarou-a nos olhos. Ela não agüentou a verdade vinda da própria boca do filho e começou a chorar novamente. Lágrimas grossas escorriam por sua face. Ela passava a mão sobre a face suja de Draco carionhasemnte.

- Não... não pode estar tudo acabado, Draco. Não para você. – Soluçou ela e acrescentou num sussuro quase inaudível.- Você precisa fugir...

- Não vejo como... Já pensei em tudo. Snape não me deixará fugir. – Lamentou ele baixando os olhos para o assoalho mofado.

-Eu programei tudo. –continuou Narcisa como se o filho não tivesse a interrompido.- Eu tinha uma poção Polissuco guardada em casa, Draco. Tem que ser rápido, Severus logo voltará. Você tem que fugir! – E tremendo descontroladamente ela tirou dois frasquinhos do bolso do sobretudo negro, entregando um a Draco. Ele, enquanto isso, tentava entender o que a mãe queria abobado.

- Você não está...? – começou ele mas Narcisa o interrompeu botando seu dedo indicador fino nos lábios do filho fazendo “shhh” para ele fazer silêncio. Ela arrancou um fio de cabelo sujo de Draco e colocou na própria poção e repetiu o ato na poção do filho, só que tirando um fio de cabelo próprio.

- Você precisa fugir.. –Repetia ela desolada, enquanto as grossas lágrimas não paravam de molhar-lhe a face que seria bonita sem todo aquele sofrimento.

- Não! – protestou Draco entendendo a idéia da mãe. – Não, você está louca?! Você tem que fugir comigo...

- Draco, me escuta. – Interrompeu ela descontrolada – se nós dois tentarmos, vamos morrer na tentativa. Precisamos enganar Severus primeiro para você poder se salvar. Por favor, Draco, me obedeça. –Acrescentou ela num sussuro ao ver os protestos vindos do filho. – Você tem que sobreviver... Salve seu pai.- E falando isso, derramou a poção na boca, bebendo-a até a ultima gota. Draco não queria deixar a mãe ali e ficou vendo-a se transformar desesperado.

Mas aquele era o desejo dela não era? E os dois morreriam se ele não fugisse não era? Se ele fugisse, poderia tentar salvar o pai ao menos... Então, com esse pensamento triste, ele bebeu a poção toda. Seu corpo começou a tomar as formas do da mãe e depois de algum tempo ele se viu no espelho com a aparência de Narcisa Malfoy.

- Precisamos trocar de roupas, rápido. – Ordenou ela já começando a se despir. Draco fez o mesmo, estranhando as formas de corpo que possuía agora. Logo depois colocou a roupa que a mãe estava vestindo. Ninguém notaria.

- Mãe... – falou ele abraçando-a emocionado. – Obrigado.

Narcisa olhou-o pesarosa, sentindo o peso do que estava fazendo. Mas, antes de qualquer outro pensamento Snape entrou brusco no quarto. Ele observou mãe e filho se abraçarem em despedida, desconsolados, e não pode sentir um pouco de remorso de si mesmo. Draco, desfarçado de Narcisa, saiu do quarto cambaleante, fingindo chorar como vira a mãe faze alguns minutos antes. Despediu-se de Snape friamente e saiu para a noite gelada.

Draco Malfoy havia conseguido fugir, porém apartir daquele momento o futuro era incerto e um tanto amedrontador. Ele sentiu a brisa gelada queimar-lhe o rosto e aparatou com um estrépito ensurdecedor na noite silenciosa.

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