Orgulho Ferido



Na semana que se seguiu, minha prioridade era apenas uma: evitar a todo e qualquer custo trocar uma palavra que fosse com o Malfoy.
Eu tentei. Realmente tentei. Mas isso não era fácil. Na segunda-feira até que foi tranqüilo, pude cuidar da minha vida em paz, e ele nem deu sinal de vida. Aproveitei para enviar minha carta para Harry e fui com Hermione até a cidade, depois que demos nossas aulas para os campistas.
Na terça as coisas começaram a se complicar. Logo no café da manhã daquele dia, Malfoy veio falar comigo.
- Bom dia, Gina. - cumprimentou ele normalmente. Seu tom de voz era extremamente trivial. Parecia que simplesmente não havia acontecido nada demais no último sábado.
Eu estranhei aquele comportamento. Pensei que ele fosse ser rude e groso comigo ou até pior. Mas por mais incrível que parecesse, Malfoy me tratava normalmente. Eu já deveria estar acostumada. Ele era realmente incomum mesmo. Afinal, Malfoy não sabia o significado da palavra normal.
Não poderia dar uma resposta curta e grossa para ele na frente de todos os outros monitores e meia dúzia de campistas que estavam presentes no refeitório naquela hora. Apesar de que a minha vontade era de dizer umas boas verdades para aquele imbecil. Mas me contive. Ao em vez disso apenas retribuí com um educado “Bom dia, Malfoy”.
- Malfoy? - questionou ele confuso - Desde quando voltou a me chamar assim?
Das duas opções, uma era verdade: ou Malfoy tinha dupla personalidade e realmente não sabia o que havia feito no sábado ou então ele estava se fazendo de zonzo.
Ou quem sabe uma terceira opção: talvez Malfoy seja tão cara de pau a ponto de vir falar comigo depois de tudo o que aconteceu.
Eu acreditava mais nessa última alternativa. Até porque de zonzo, Malfoy não tinha nada.
Então resolvi dar uma resposta do jeito que Malfoy merecia.
- Ah, é mesmo? Desde quando, não é? - perguntei me fazendo de desentendida - Talvez desde quando você mentiu dizendo que namorava a Hannah... - meu tom de voz era sutil. Afinal, eu não queria transparecer a raiva que eu sentia dele.
Malfoy pareceu esperar aquilo de mim. Apesar disso, tentou fazer cara de quem havia descoberto uma grande revelação.
- E quem te disse que eu menti? - perguntou em tom desafiador.
Malfoy me fuzilou com o olhar e eu não pude deixar de me lembrar de quando nós olhamos nos olhos ao nos beijarmos. Quando aquilo aconteceu, eu pensei que ele me amava. Talvez Malfoy soubesse muito bem disfarçar o seu olhar para enganar as pessoas.
Minha mãe sempre dizia que os olhos não mentem. “Eles são os espelhos da alma, Gina. Se quiser saber se alguém está mentindo, basta olha-la nos olhos” era o que ela falava. Eu sempre acreditei nisso. Até a bem pouco tempo atrás quando Malfoy me enganou, fingindo com seu olhar que gostava de mim.
- E então? Quem lhe disse? - continuou ele, sem alterar o tom de voz. Para qualquer um que visse nós dois naquele momento, acharia que estávamos conversando normalmente. Sorte a minha que a única pessoa que saberia o que estaria acontecendo seria a Mione, pois ela me conhece bem o suficiente, mas ela nesse momento ainda estava dormindo.
- Precisa alguém dizer? Ou você quer que eu me levante dessa mesa e vá perguntar a Hannah se é verdade? - ameacei, mostrando o mesmo tom desafiador que Malfoy tivera comigo.
- Está bem, Gina... Eu sei que você sabe que eu não namoro com a Hannah. E eu falei aquilo no calor do momento... - explicou ele - Eu estava muito confuso naquela hora. Eu não queria ter te tratado daquela forma. Juro que foi sem querer. Você entende, não é mesmo?
- Entendo... Claro que entendo. - falei ironicamente - Entendo que você não precisaria ter me humilhado daquela forma.
- Gina, eu estou tentando te explicar que... - Malfoy começou a falar, mas eu o cortei.
- Aqui não é hora nem lugar para se falar sobre isso, está bem?
- Mas então poderemos concluir nossa conversar outra hora? - perguntou ele.
Pensei por alguns segundos no que diria. Eu ainda não havia me recuperado totalmente do ocorrido no sábado, mas também não havia motivo para que eu começasse a criar uma rixa entre eu e Malfoy.
- Por enquanto o nosso assunto acaba aqui. - falei finalmente, mas logo depois concluí - Mas talvez possamos conversar e pôr essa história em pratos limpos um pouco mais adiante. Por enquanto eu ainda estou muito sentida com tudo o que ocorreu.
- Eu sei o que está acontecendo com você, Gina... - disse ele - Você está com o orgulho ferido...
- Orgulho ferido?! Mas que história é essa? Eu estou muito bem, obrigada. É só que ainda não estou disposta a conversar com você...
Ele me olhou com uma tristeza no olhar evidente. Mas agora isso não significava mais nada. Malfoy sabia muito bem como mentir para mim através do olhar.
- Tudo bem. Eu entendo que esteja se sentindo assim... - falou ele, por fim - Mas eu já esperei uma vez e sou capaz de esperar de novo. E quando o seu orgulho cicatrizar, venha falar comigo.
Depois disso ele se levantou da mesa e saiu do refeitório. Orgulho ferido? Cicatrizar o orgulho? Aquilo era tudo muito confuso para mim. A única coisa que eu sabia era que, por enquanto, eu queria distância do Malfoy.

***

O resto da semana foi um dos mais longos que eu já tive em Stonevalley.
A única coisa em que eu conseguia pensar era em Malfoy. Eu as vezes até podia esquece-lo por um tempo, mas logo eu me lembrava dele.
Tentei ocupar de todas as maneiras possíveis o meu tempo livre e a cada momento eu só pensava que queria voltar o mais rápido que pudesse para casa. Voltar para o Harry.
E pensar que eu quase o traí com o Malfoy. Ou melhor, traí sim! Eu beijei o Malfoy. E um beijo não é apenas um beijo. Por isso me sentia culpada de se quer ter contado a Harry que Malfoy estava no acampamento. Mas agora não havia mais jeito. Se o Harry descobrisse que Malfoy estava aqui e que eu o havia beijado, com certeza ele acabaria tudo comigo na mesma hora. Sem pensar duas vezes...
Porém não havia porque me preocupar com isso. Pois se tudo desse certo, Harry não saberia nada sobre o Malfoy.
Era só nisso que eu pensava a todo o tempo. E o clima que estava instalado no acampamento também não ajudava muito. Os monitores e campistas já se preparavam para o fim do verão e, quase sem exceções, todos estavam tristes. Eu com certeza era um exceção. Há pouco tempo atrás até me sentiria triste de ir embora dali. Só que agora a situação era diferente...
O que salvava o meu dia era dar as minhas aulas de arte para os campistas. No começo dar aulas para as crianças parecia algo muito trabalhoso e entediante. Mas com o tempo eu aprendi a gostar do que eu fazia e tudo ficou mais divertido. Isso era uma das coisas que eu iria sentir falta quando acabasse o verão.
Na quarta-feira chegou a resposta da carta que eu mandei para o Harry no domingo. Eu a recebi assim que acabei de dar minha aula de artes e fui correndo para a cabana. Queria lê-la logo.

Como vai, Gina?

Eu vou bem. Com saudades de você, é claro. Mas mesmo assim estou bem. Eu entendo que esteja muito ocupada. Mas eu também não tenho muito tempo por aqui. Tenho trabalhado muito. Mas se tudo correr bem, logo eu terei uma novidade para te contar que você vai gostar muito. Será uma surpresa, mas no momento certo você saberá.
Todos aqui estão sentindo sua falta. Eu principalmente. Agora falta pouco mesmo, não é? Bem que você disse que ia passar rápido! Pode ter certeza de que estou muito feliz porque logo nos reveremos.

Beijos,
Harry

“Uma surpresa?”, me perguntei logo depois de ler a carta. Harry tinha muito disso. Ele vivia fazendo “surpresas” para mim. Ele era mesmo muito romântico.
Como eu não tinha mesmo nada para fazer, respondi imediatamente a carta de Harry:

Harry, Harry...

Cuidado com essas suas surpresas... Espero que seja algo que não me assuste. Mas agora você me deixou curiosa. Quero muito saber que “surpresa” é essa.
Bom, mas daqui a menos de duas semanas você poderá me contar isso pessoalmente... Conto cada segundo que falta para nos revermos. Apesar de eu estar adorando aqui, eu gosto muito mais de estar com você.
Sem falar da minha família, do meu trabalho, de tudo... Eu estou sentindo muito falta disso tudo mesmo
E incrível como a gente sente saudade daquilo que as vezes nós nem damos o devido valor, não é mesmo? De qualquer modo, eu conto os segundos que faltam para a gente se rever. Mas em breve isso irá acabar.

Beijos,
Gina

***

O verão estava acabando mais ainda havia duas festas a serem preparadas para os próximos finais de semana. A primeira seria chefiada por ninguém mais, ninguém menos, que o garoto mais idiota da face da Terra: Draco Malfoy.
E eu, assim como todos os outros monitores, teríamos que ajudar na preparação da festa.
Então, assim que terminei de dar minha aula de artes na sexta-feira, me dirigi ao acampamento central afim de cumprir as tarefas que me seriam destinadas por aquele imbecil.
Era um dia nublado, com muitas nuvens cinzas no céu, e provavelmente choveria amanhã, na hora da festa. Bem feito para Draco Malfoy, que teria sua festa arruinada pela chuva!
Quando cheguei, apenas eu, Mione, Kate e Malfoy já estávamos lá.
Hermione estava sentada embaixo de uma árvore, isolada dos outros. Assim que a vi, fui em sua direção.
- Que bom que você já chegou... - falei - Eu não agüentaria ficar aqui sem ter ninguém com quem conversar.
- Hoje não teve aula de natação por causa do tempo. Ao que parece vai chover bastante... - falou ela olhando para o céu de um modo sonhador.
- Sim, vai mesmo. - concordei - Isso vai ser bom, pois pelo menos estragará a festa desse louro seboso.
Mione me analisou da cabeça aos pés e por fim me fitou de um modo peculiar.
- Você ainda está brigada com ele? - perguntou ela inocentemente.
Respondi com a cabeça que sim.
- E nem pretendo me reconciliar com o Malfoy... Daqui a duas semanas eu nem o verei mais. Não fará diferença alguma eu estar brigada com ele.
Ficamos por alguns segundos sem dizer nada, apenas olhando para o céu. Depois de algum tempo, Mione finalmente quebrou o silêncio e perguntou:
- Não te assusta a idéia de que talvez você o ame? - ela foi direta, sem rodeios. Sua voz era ainda mais séria do que a de costume.
- Mione, eu não o amo! - falei firmemente - Tive certeza disso no momento em que eu o tentei beijar. Se eu ele ao menos gostasse de mim, não teria inventado uma desculpa qualquer para me beijar.
- Mas você disse que em um primeiro momento ele correspondeu ao beijo. Isso só podia significar que ele queria te beijar.
A minha situação já não era boa. Mas Mione parecia querer piorar tudo. Ela queria me confundir novamente, assim como da primeira vez. Mas eu não iria cometer o mesmo erro duas vezes.
- Não, Mione! Não faça isso! Eu já sofri demais com essa história... - falei por fim, irritada com toda aquela conversa - Daqui a menos de duas semanas eu estarei com o Harry e tudo estará bem.
- Mas será que é isso mesmo que você quer? - perguntou ela insistentemente.
Olhei ao longe para o Malfoy que no momento começava a distribuir as tarefas que cada monitor deveria cumprir. Será que era mesmo o que eu queria? Será que eu não queria nunca mais vê-lo? E se eu o amasse? Mas também não faria diferença se eu o amasse... Ele não me amava. Se eu insistisse nele, eu apenas me machucaria mais.
- Ah, Mione! Chega desse assunto! Vamos pegar nossas tarefas e acabar logo com isso antes que comece a chover!

***

- Isso é tudo o que deve fazer. - disse Draco, me entregando um papel.
Li rapidamente o que estava escrito. Eu teria muito trabalho.
Todos os outros monitores já estavam cumprindo com suas obrigações. Eu fui a última a começar a trabalhar e teria muito o que fazer realmente. Organizar a ornamentação das mesas, checar se o pessoal da cozinha já tinha toda a comida e ainda teria que ajudar Joey a montar o equipamento de som.
Malfoy, por mais incrível que parecesse, estava me tratando cordialmente. Havia parado de insistir em se desculpar para mim e havia me deixado em paz. A conversa que tive com ele durante o café da manhã de terça-feira parecia ter surtido efeitos.
Ele estava bastante calmo comandando a festa e ordenando aos monitores a fazerem o que ele mandava. Apesar disso Malfoy não deixava de cobrar que todos cumprissem suas tarefas com agilidade, assim como todos os outros que comandaram as festas.
- Ótimo, Joseph. Parece que está tudo certo. - falei assim que acabei de checar todos os itens para a festa de amanhã, com Joseph, o chefe encarregado da cozinha - Não faltou nada mesmo?
- Não, não, Gina... - confirmou Joseph.
- Então eu já vou indo. - falei.
Eu já estava saindo da cozinha e assim que eu abri a porta para sair de lá, me deparei com Malfoy.
- Eu estava te procurando! - falou ele com urgência na voz - Preciso da sua ajuda com algo que eu não estou conseguindo fazer para a festa...
- No que exatamente? - perguntei.
- Você vai ver... - falou ele fazendo mistério.
Malfoy estava sendo tão gentil comigo que resolvi ajuda-lo no que fosse. Afinal ainda eram quatro horas da tarde e eu já havia cumprido todas as minhas tarefas.
Quando eu cheguei a área central do acampamento, pude notar que os trabalhos já estavam bem adiantados. E a chuva, que era dada como certa a pouco tempo atrás, parecia algo impossível agora. O tempo clareou e o sol já se mostrava bem mais forte.
O tema da festa seria a natureza. E a inspiração de Malfoy parecia não ter fim. Ele mesmo estava fazendo a confecção de uma espécie de maquete do acampamento.
- Eu preciso que você me ajude com isso aqui. - disse ele apontando para a miniatura de Stonevalley - Eu estou tentando concluir ela, mas eu não estou conseguindo fazer mais nada. Precisa ter uma certa habilidade para fazer isso, que eu não tenho.
A maquete era exatamente igual a Stonevalley, mas bem menor, é claro. As árvores eram feitas de papel verde na ponta e papel marrom na base. Havia também um pedaço de papel azul que representava a cachoeira que certa vez, eu, Malfoy e Mione fomos. O Stonelake também estava lá, no centro de tudo. Em volta dele havia casinhas feitas de pequenos pedacinhos de madeira. No geral, a maquete estava muito bem feita, mas ainda faltavam alguns retoques.
- A sua idéia é bastante interessante. - admiti - Precisa, é claro, de mais algumas ajeitadinhas aqui e ali, mas no final acredito que ficará muito bonita.
- Então, pode me ajudar? - pediu Malfoy, após eu analisar atentamente a miniatura.
- Posso. - falei apenas isso.
- Tudo bem. Então vamos começar a trabalhar. - Malfoy disse.
Após duas horas e muitas idéias aproveitadas e outras tantas perdidas, finalizamos a miniatura.
No fim, o resultado geral foi maravilhoso. Dei a idéia de substituir o papel verde por folhas de verdade o que deu uma realidade bem maior a maquete. Fizemos também várias casinhas com palitos em vez de pedacinhos de madeira. Colocamos até uns bonequinhos como se fossem pessoas no acampamento.
- Muito obrigado pela ajuda, Gina. - agradeceu Malfoy.
- De nada. - respondi - Se não se importa, eu já vou indo. - falei, no mesmo tom cordial de Malfoy.
- Pode ir. Até amanhã. - falou ele - E obrigado de novo pela ajuda.
Apenas dei um sorriso amarelo para ele e fui embora.

***

A primeira coisa que fiz ao chegar a cabana foi tomar uma ducha bem demorada. Hermione ainda estava terminando de preparar a festa, o que me deu um tempo para ficar sozinha.
Terminei meu banho, coloquei uma roupa qualquer e me deitei em minha cama.
Eu não tinha a menor intenção de dormir, é claro, pois ainda eram seis e meia da noite. Mas meu corpo estava muito cansado. Apesar de ter terminado cedo os preparativos para a festa, o dia havia sido exaustivo. A medida que o tempo passava foi me dando sono. Eu queria dormir, mas eu ainda não havia jantado. Estava apenas esperando que Mione chegasse para que fossemos juntas até o refeitório.
Quando o relógio marcou sete e meia eu resolvi ir jantar sem a Hermione mesmo. No momento em que eu me levantei da minha cama para ir até o refeitório, Mione chegou.
- Finalmente... - falei com complacência - Pensei que não vinha mais!
- Eu e a Kate tivemos uns problemas na hora de verificar as bebidas para amanhã. A listagem que a gente tinha não batia de jeito nenhum com a do pessoal da cozinha. Ficamos uma hora para resolver essa confusão. - justificou ela.
- Então agora vamos jantar. Eu estou faminta! - declarei para ela, já tomando o caminho até a porta.
- Eu estou toda suja, Gina! Preciso tomar um banho primeiro. - falou Mione e completou ao ver minha cara de zangada - Prometo que não demoro. É rápido.
O rápido de Hermione não era exatamente como o rápido de todo mundo. Somente vinte minutos depois ela terminou o banho, demorou mais dez minutos para colocar uma roupa e depois de meia hora, aí sim, fomos jantar.
O refeitório estava quase vazio. Todos os campistas já haviam jantado, e além de nós duas, havia apenas a Kate e o Derek.
- Desse jeito você vai engasgar, Gina! - me advertiu Hermione, ao me ver comer como se eu não me alimentasse à dias. Realmente eu estava com fome.
- Non emxe, Meône - falei com a boca cheia.
Mione me olhou com uma cara divertida. Em resposta, eu sorri para ela também.
- Sabe, eu fiquei curiosa com uma coisa... - disse ela mansamente.
- Côn ô que? - perguntei, ainda com um monte de purê de batatas na boca.
- Você e o Malfoy se entenderam? - perguntou Mione durante o jantar.
Antes de responder, eu engoli o purê de batatas que estava na minha boca e parei de comer por um instante.
- Por que você acha isso? - perguntei com uma certa curiosidade.
- Eu vi vocês dois. Juntos. Trabalhando na maquete de Stonevalley. - justificou ela e em seguida completou - Nenhum dos dois parecia incomodado com a presença do outro. E também não pareciam estar brigando.
Olhei perplexa para Mione.
- Você deu agora para ficar me espionando? - perguntei com ironia.
- Não foge da pergunta, Gina! Você e o Malfoy se entenderam ou não?
- Depende do sentido de “se entenderam”...
- Quero saber se vocês são amigos de novo. - ela refez a pergunta.
- Não, eu não o perdoei. - falei solenemente - Mas também não tenho motivos para ficar com raiva dele. O que passou já passou. Eu superei aquele assunto do beijo.
- Ele não insistiu para que vocês voltassem a ser amigos? - perguntou ela.
- Não. - respondi prontamente - E se continuar assim, está ótimo. Ele do lado de lá, eu do lado de cá. A gente se entende muito bem assim.

***

Acordei no dia seguinte me sentindo muito bem disposta. Hermione ainda dormia na cama do lado. Fazendo pouco barulho para não acorda-la, me dirigi até o banheiro e entrei debaixo do chuveiro.
Depois de um banho rápido, me vesti e fui tomar o café da manhã.
Eram sete horas da manhã ainda. Eu havia quase madrugado! Mas mesmo assim o refeitório já estava aberto. Alguns campistas, além de Joey, Derek e Malfoy estavam lá.
Peguei minha refeição no balcão, e me sentei em um canto. Isolada de todos. Mas não por muito tempo, pois logo Malfoy se aproximou de mim e se sentou ao meu lado.
- Bom dia, Gina. - cumprimentou ele cordialmente porém sem emoção alguma na voz.
- Bom dia. - retribuí.
Malfoy me fitava apreensivamente. Seus olhos cinzas naquele momento estavam quase brancos. Se eu não o conhecesse bem, diria que ele estava com medo de algo. Mas eu sabia que ter medo não era nada típico dele.
- Isso aqui é para você ler... - falou ele, quase que em um sussurro, me entregando um papel dobrado em quatro - Não, não abra isso aqui! - Malfoy me advertiu ao ver que eu desdobrava o papel - Quando eu sair do refeitório você poderá ler.
- Mas para que tanto mistério? - estranhei, já meio que desconfiada. Vindo do Malfoy, coisa boa não haveria de ser.
- É simples. É porque eu não quero que você leia isso agora. - falou ele categoricamente - Eu ficaria envergonhado.
- O que pode ter de tão vergonhoso no que está escrito aqui? - perguntei curiosa, contendo a vontade que eu tinha de desdobrar aquele papel e lê-lo logo.
- Você vai ver. - disse ele, se levantando da mesa e saindo do refeitório.
Como Malfoy não estava mais lá, e eu estava bastante interessada no que estava escrito naquele bendito papelzinho, não esperei mais um segundo. O desdobrei na hora. Tomei um susto logo de cara. O papelzinho na verdade era um bilhete endereçado a mim:

Gina,

Você deve estar muito curiosa de saber o motivo desse bilhete, mas é só esperar mais um pouco que você entenderá.
Para começar, preciso declarar algo. Desde aquele último sábado, aonde eu e você nós beijamos, eu me sinto muito culpado. Não culpado por tê-la beijado, mas sim por ter sido um completo idiota e por ter magoado você. Logo você que é tão especial para mim. Eu não namoro e nem nunca namorei a Hannah. Acho que você já deve saber disso. Só inventei aquela desculpa estúpida porque eu estava assustado.
Na hora em que nos beijamos eu senti algo diferente. Algo que eu nunca havia sentido. Era como se fosse uma explosão dentro de mim. Uma explosão de felicidade! Mas eu fiquei confuso, e fui idiota o suficiente para não entender o sentimento tão puro que era aquele. Ah! Aquilo era o amor! Eu nunca havia amado antes, por isso todo aquele meu espanto. O amor é algo tão esplêndido que quando a gente o sente fica até meio desnorteado.
Olha, talvez você não acredite no que está escrito aqui (e eu não digo que eu não te dei motivos para isso) mas eu só tenho uma coisa para te dizer. Eu te amo, Gina Weasley! E eu quero gritar isso para que todo mundo saiba. Já não agüento mais guardar isso só para mim.
E se você também me ama, do mesmo modo que eu, vai entender o quão confuso pode ser o amor, que nunca é exato. Afinal, o amor é algo irracional, impensado. O amor é totalmente impulsivo. Se realmente me ama, vai entender também os motivos que me levaram a agir daquele forma quando nos beijamos.
Gina, já perdemos tempo demais! Por que não nos damos uma chance para ser feliz e esquecemos o passado? Da minha parte, isso é tudo o que eu mais quero. E se esse for o seu desejo também, você sabe aonde me encontrar.

Draco Malfoy

A minha primeira reação ao ler a carta foi de quase cair para trás. Aquele papel era uma declaração de amor do Draco! Ele disse com todas as palavras que me amava!
Levei minhas mãos até meu rosto em sinal de desespero. “Draco me ama!” pensei, “Draco Malfoy me ama”. Eu nunca que iria imaginar isso! Mas... será que eu o amo? Entretanto, ainda tinha o Harry nessa história. O mesmo Harry que eu namorava a dois anos e que eu tinha a certeza de que me amava. Mas Draco mexeu com os meus sentimentos. E nesse momento eu não estava certa de nada.
Não pude evitar que uma lágrima solitária rolasse do meu rosto. E agora? O que eu vou fazer?

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