Paz



Voltei para a cabana depois de ter tido um péssimo encontro com Malfoy. “Aquele garoto me tirava do sério!” pensei. E para completar eu estava ensopada! Tudo graças a aquele idiota!
Assim que entrei na cabana, Hermione me lançou um olhar curioso.
- O que aconteceu com você, Gina? – perguntou ela olhando o meu estado lastimável.
- Mais uma do Malfoy! – respondi irritada enquanto pegava uma toalha e me secava.
- Como assim? Você procurou ele? – questionou minha amiga preocupada.
- Não, ele é que me procurou. Aquele estúpido! – falei.
- Mas isso não explica o fato de você estar toda molhada desse jeito. – disse Hermione.
- Depois a gente conversa sobre isso. – a interrompi pois não agüentava mais aquele assunto – Deixa eu primeiro tirar essa roupa molhada, tomar um banho aí depois eu te explico tudo.
- Está bem. – aceitou Hermione contrariada.

***

Quinze minutos depois eu sai do banho. Hermione já me esperava, com certeza estava bastante curiosa em saber o que havia ocorrido.
- Agora você pode me explicar exatamente o que aconteceu? – pediu minha amiga.
Bufei em desagrado. Por mim, apagaria de uma vez por todas aquele encontro. Mas como havia prometido, teria que contar a ela o que ocorreu. Sentei do lado de Hermione na cama e comecei a narrar os fatos.
- Depois que você foi embora o Malfoy apareceu. Ele veio com um papo de arrependido, me pediu desculpas pelo que havia feito mais cedo. Eu, sem outra opção, aceitei. Então ele propôs que fossemos até o píer em que havia esquecido o meu diário ontem e a idiota aqui foi. – expliquei.
- Tudo bem. Essa parte eu entendi. – disse Hermione – Mas então porque você chegou aqui ensopada?
Olhei com raiva para minha amiga. Ela retribuiu com um olhar interrogativo.
- Não é óbvio? Ele me jogou no lago. – respondi naturalmente.
Hermione ficou em silêncio durante um segundo e tentou pensar sobre aquilo tudo.
- A troco do que? – questionou ela.
Eu já ia abrir a boca para responder a pergunta da minha amiga, mas alguém bateu na porta naquele exato instante.
- Será que é o Malfoy? – perguntei receosa.
- Tem que abrir para saber. – falou ela enquanto caminhava até a entrada da cabana.
Hermione abriu apenas uma frestinha da porta para poder identificar quem era que estava do lado de fora.
- Ah! É você, Kate! – suspirou Hermione aliviada.
- Claro! Quem vocês imaginavam que era? – perguntou ela enquanto adentrava na cabana.
Fiquei mais calma também assim que a vi. Não que eu gostasse muito daquela garota loira e mimada, mas vê-la era melhor do que se encontrar com um certo loiro que eu conhecia.
- Melhor nem falar. – disse Hermione – Mas, o que você quer?
- Vocês se esqueceram? – perguntou Kate – Minha festa é nesse final de semana. Eu estou chamando vocês duas para me ajudarem.
- Nossa! É verdade! Eu tinha me esquecido! – falei.
- O que estão esperando? Vamos logo! Todos os outros monitores já estão trabalhando. – falou Kate.
Eu, Hermione e Kate seguimos em silêncio até a área central do acampamento que era onde todos estavam concentrados, trabalhando nos preparativos da festa. Fiquei até feliz em estar indo para lá . Não que eu gostasse de trabalhar pesado, mas pelo menos eu não teria que continuar a conversar com Hermione sobre o Malfoy.
Todos os monitores realmente estavam lá, sem exceção. Infelizmente Malfoy também estava lá e me fitava de uma maneira estranha que ficava entre a curiosidade e o interesse. Em resposta, lancei a ele um olhar agressivo e revoltado, mas mesmo assim ele continuou olhando para mim.
- Muito bem, pessoal! – começou Kate – Estou muito feliz por todos estarem aqui para que possamos preparar a festa.
Alguns monitores mais entusiasmados soltaram gritos de alegria.
- Então agora vou dizer a cada um de vocês o que deverão fazer. – falou Kate enquanto pegava uma prancheta e começava a escrever em uma folha presa nela.
Depois disso, não ouvi mais nada. Apenas me virei para olhar o que Malfoy estava fazendo. Ele continuava me olhando e eu já estava ficando irritada com aquilo. Lancei a ele um olhar de fúria para que ele pudesse ver o quão irada eu estava e queria também que ele sentisse um pouco de medo de mim.
Mas parecia tudo em vão. Malfoy não se intimidava facilmente. Ele então começou a rir das minhas tentativas frustradas de botar medo nele. Que ódio eu senti naquela hora! Detestava quando as pessoas riam de mim. Eu quase parti para cima dele para quebrar a cara daquele idiota, só não o fiz porque naquele exato momento Kate veio falar comigo:
- Gina! Dá para você olhar para mim? – pediu Kate enquanto eu finalmente a ouvia.
- Me desculpe. Eu estava um pouco distraída. – justifiquei.
- Tudo bem, não tem problema. Pois bem, o importante agora é que cada um faça sua parte para que a minha festa seja maravilhosa.
- Está certo. E o que eu vou ter que fazer? – perguntei.
- Você terá que checar com o pessoal da cantina todas as comidas para amanhã. Saber se está tudo certo, conferir se vai dar tempo para eles preparem os pratos. – explicou Kate - É uma tarefa muito simples. Entendeu ou quer que eu repita? – perguntou ela.
- Não precisa. Eu entendi. – respondi.
- Ótimo! E fique com isso aqui... – disse ela me entregando uma prancheta – É só marcar cada item depois de vistoria-lo.
- Tá bom. Então eu já vou indo logo começar isso. – falei enquanto dava meia-volta e ia embora.
- Ei! Espera! Eu ainda não acabei!
Voltei para ver o que mais a Kate queria.
- Eu já entendi tudo. Não vou esquecer. – resmunguei contrariada.
- Não, não é isso. É que o Draco vai te auxiliar nessa tarefa... – disse Kate.
- O Malfoy?! – perguntei desesperada.
- É, o Draco Malfoy. Algum problema? – perguntou Kate.
- É lógico que tem algum problema. – respondi revoltada – Eu não suporto ele. O Malfoy é o garoto mais chato de toda a face da terra.
Kate olhou para mim estranhamente como se não entendesse as minha palavras.
- Mas isso é muito estranho! Foi o próprio Draco que pediu para trabalhar com você! – falou Kate.
Fiquei surpresa em descobrir que havia sido ele mesmo que pediu para trabalhar comigo. Isso só significa uma coisa: ele me irritava de propósito. Mas aquilo não iria ficar barato, não mesmo. Se o Malfoy queria guerra, guerra ele iria ter.
- Foi ele mesmo quem pediu? – perguntei como se nem de longe eu desconfiasse quais eram as reais intenções daquele idiota.
- Foi sim. Que estranho, não? – perguntou ela.
- Muito... Realmente me surpreendeu. – respondi ironicamente, apesar disso Kate não notou a mudança no meu tom de voz.
- Pois bem, agora não posso fazer nada. Você terá que trabalhar ao lado dele pois todos já estão realizando sua tarefas.
- Compreendo. – falei fingindo aceitar tudo. Mas Malfoy iria ver. Eu iria dar uma lição naquele loiro idiota para que ele aprendesse de uma vez por todas que ninguém se mete com Virgínia Weasley.

***

Sem outro remédio, tive que me juntar a Malfoy para começar a vistoriar todos os itens na lista de Kate. Mas nem foi preciso eu ir até ele pois assim que terminei de falar com ela, o insuportável apareceu.
- Acho que vamos trabalhar juntos, não é mesmo? – perguntou ele inocentemente.
- Coincidência, não é? – perguntei ironicamente.
- Com certeza... – disse ele como se não soubesse de nada – Deve ser o destino...
Olhei para Malfoy que fazia uma falsa cara simpática para mim. Tive vontade naquele momento de partir para cima dele. Mas respirei fundo e me controlei. Havia maneiras melhores de machucar alguém, eu não precisaria apelar para a agressão física.
- Destino, não é? Engraçado... Não sabia que você tinha mudado de nome. – falei sem nenhuma emoção na voz.
- Como assim? – perguntou ele fingindo não entender sobre o que eu falava.
- É que a Kate me falou que foi você quem pediu para trabalharmos juntos. – continuei a tentar controlar minha vontade de bater nele, mas não pude evitar de abrir um sorriso assim que ele ficou sem palavras para responder à minha afirmação.
- Eu? – perguntou ele se fazendo de ofendido – Por que eu faria isso?
Olhei desdenhosamente para Malfoy. Sentia pena dele. Era um coitado, fracassado, cuja sua única diversão sempre foi tentar humilhar as pessoas. Mas comigo ele não conseguiria nada.
- Você se acha muito esperto, não é mesmo Malfoy? – eu estava calma naquele momento. Tinha que parecer inabalável mesmo que ele começasse a falar as piores coisas do mundo sobre mim.
- Como assim? – perguntou ele já mais sério.
- Gente como você se sente melhor colocando os outros para baixo. Fazendo as pessoas ao seu redor se sentirem mal. Caçoando de todos por qualquer motivo por mais superficial que seja. É só assim que pessoas como você se sentem bem. – falei ainda sem perder a calma.
- Do que você está falando, Weasley? – perguntou ele já começando a dar sinais de nervosismo. Eu comecei a ficar mais alegre, sabia que eu estava o atingindo.
- Você sabe muito bem do que eu falo, Malfoy... Só porque é alguém frustrado na sua vida acha que pode humilhar os outros para se sentir melhor. Mas saiba de uma coisa, você não vai conseguir me atingir. – disse rispidamente.
- Você não sabe nada da minha vida, garota! Se enxerga! – respondeu Malfoy irritado.
Com certeza eu tinha um lado em mim que também adorava humilhar as pessoas, que não tem compaixão, que é vingativo. Afinal todos nós temos esse lado. Continuei me divertindo com aquela cena. Agora a situação havia se invertido. Eu perturbava o Malfoy e ele ficava nervoso. Mas isso era para ele apreender a nunca mais fazer isso comigo.
- Eu só disse verdades até agora, Malfoy. Não disse? Pois bem, façamos o seguinte. Você não vai conseguir me atingir, então desista... Eu não sou fácil, não. Por isso, eu vou fazer a checagem na cozinha sozinha e você vai para outro lugar qualquer aonde eu não precise te ver. – ordenei.
- Olha aqui garota, eu não nasci para obedecer aos caprichos de uma menininha idiota igual a você! Eu sou muito superior! – disse ele revoltado.
- Superior? Não faça-me rir. Acho melhor você melhorar essa sua arrogância antes que ele ainda lhe faça mal. – respondi insolentemente - Tudo bem.... Não quer fazer o que eu falo, não é? Mas vai me fazer o favor de manter distância de mim. E pouco me importa o que você venha a dizer a partir de agora, pois para mim você não existe. – respondi ainda calmamente, pois apesar de toda aquela conversa que estávamos tendo, eu permaneci inatingível.
- E se eu não quiser me manter distante? – perguntou ele em tom de desafio – E se eu me aproximar de você?
- Você não vai querer saber... – respondi ameaçadoramente – Eu acho melhor você nem tentar descobrir.
- Tudo bem, vamos encarar isso como uma trégua temporária. Eu vou para o meu lado, você vai para o seu. – propôs ele - Mas isso não quer dizer que a guerra acabou. Eu não vou desistir assim tão fácil. – garantiu Malfoy.
- Pois que assim seja. – falei enquanto estendia a minha mão para selarmos o nosso pacto temporário de paz.
- Que assim seja. – respondeu ele apertando a minha mão.
Eu realmente não sei porque aceitei dar trégua para o Malfoy justo na hora em que eu estava ganhando. Talvez porque eu quisesse um pouco de sossego, já não suportava mais aquela situação. Afinal, é como dizem: “Os amigos perto, os inimigos mais perto ainda”.

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