Insônia



Eu, Hermione e os outros monitores passamos a noite inteira planejando detalhes sobre como seria o acampamento naquele ano. Draco Malfoy permaneceu quase que o tempo todo calado, só falava quando perguntavam a ele sobre algo. Mas o que realmente fez os pêlos da minha nuca se arrepiarem, foi em um certo momento que o peguei me olhando. Estranhei o fato, mas não comentei nada com Hermione. Malfoy estava cada vez mais estranho. Primeiro, por um acaso do destino, ele vem parar no mesmo acampamento em que eu e Hermione viemos ser monitoras. E depois ainda fica me encarando daquele jeito durante a reunião dos monitores. Havia algo muito errado ali. Resolvi que no dia seguinte iria investigar melhor essa história.
Após a reunião, todos os monitores foram para o refeitório jantar. Aproveitando que o lugar era enorme e que os campistas ainda não haviam chegado, fiz questão de me sentar bastante distante de Malfoy.
- O que você vai fazer amanhã, Gina? – perguntou Hermione durante o jantar.
- Ainda não sei. – respondi enquanto comia minha salada.
- É melhor aproveitar. Hoje já é quinta, e os campistas chegam segunda. Ou seja, só nos restam três dias livres.
- Não era você que estava contando os dias para as crianças chegarem? – perguntei ironicamente a surpreendendo.
- Eu sei, porém isso não significa que não devemos aproveitar esses dias livres.
- Não tenho idéia do que fazer. E você... O quê você planeja fazer amanhã, Mione? – perguntei tentando ter uma idéia de algo divertido para se fazer no meio do mato.
- Estava pensando em ir a uma cachoeira que tem aqui perto... Seria só pela manhã, a tarde nós faríamos outra coisa. – contou Hermione – Nessa cachoeira, podemos ouvir o barulho das águas, ver a bela paisagem de lá e quem sabe até encontrar com “animaizinhos bonitinhos”.
- Vou com você. – confirmei – Só espero que um desses “animaizinhos bonitinhos” não seja uma cobra ou algo do tipo. – brinquei.
Depois de jantarmos, eu fui dormir. Hermione ainda me propusera de ficar com ela, Derek e Joey para jogarem uma partida de pôquer. Eu, como não entendo nada desses jogos trouxas, recusei e voltei para cabana. Não estava muito cansada, pois havia dormido a tarde inteira.
Entrei na cabana e resolvi relaxar um pouco. Tomei um banho e vesti meu pijama. Tentei a todo custo dormir. Me revirava para um lado e para o outro. Depois de meia hora nessa situação resolvi tentar fazer outra coisa.
Ler sempre me dava sono. Então, peguei meu diário em minha mala. Tornara se um hábito meu escrever no diário sobre todas as experiências da minha vida. Desde as mais felizes até as mais tristes. Adorava isso, porque depois poderia reler o que escrevi e saber exatamente como estava me sentindo naquele dia em especial.
Peguei uma pena e um frasco de tinta e me pus a escrever sentada em minha cama. Quando vi já havia escrito três páginas contando sobre tudo o que ocorrera hoje. Tinha sido realmente um dia bastante cheio. Guardei então minha pena e minha tinta dentro da mala novamente e comecei a folhear as páginas do meu diário.
Eu guardava todos eles desde de quando eu tinha dezesseis anos. Era realmente muito bom poder ler naquelas páginas acontecimentos que ocorreram a anos e com isso reviver-los. Nenhum diário comigo durava mais que três meses pois eu escrevia neles todos os dias, sem exceções.
Senti uma certa nostalgia do passado ao folhear o diário. Estava lendo sobre um dia em que Harry havia me feito um jantar romântico surpresa. Ele não era muito de cozinhar porém se esmerara ao máximo para me agradar. Antes que eu pudesse perceber, algumas lágrimas começaram a brotar em meus olhos. Era difícil evitar de não chorar. Às vezes eu me perguntava se havia feito a coisa certa ao vir para o acampamento. “Ah! Que isso! São apenas dois meses!” pensei. Isso me animou um pouco. Dois meses passariam rápido. E é como dizem “A distância aumenta o amor”.
Não sabia o porque de sentir saudades de Harry, sendo que eu o vi pela manhã. Não havia tido nem tempo para sentir a falta dele, mas o meu coração se apertava em saber que eu não estava perto do meu amor.
Continuei lendo meu diário. Como eu já sabia, o melhor remédio para o sono era ler. Fui lendo até quando minhas pálpebras começaram a ficar pesadas. Acabei dormindo com o diário encima de mim.

***

Estava frio...
Isso foi a primeira coisa que senti ao acordar. Entrava uma forte brisa pela janela do quarto. Ainda era madrugada e o quarto estava imerso no breu. Levantei da cama e fechei a janela. Percebi que Hermione também já havia chegado e dormia tranqüilamente na cama ao lado da minha.
Tentei voltar a dormir, mas não conseguia. Me revirei para os lados e não consegui. Comecei a ler meu diário para tentar dormir, mas nem isso funcionou. Cansada de toda essa situação, resolvi ir andar um pouco lá fora. Iria esfriar a cabeça e quem sabe quando eu voltasse estaria com sono.
Peguei meu casaco, me cobri com ele e fui embora. Lá fora estava ainda mais frio do que dentro da cabana. Caminhei sozinha pelo acampamento. Sabia que estava violando algumas regras estabelecidas para os monitores, mas eu não estava ligando para isso.
Me sentei na beira do lago e fiquei observando a noite estrelada que fazia. Agora entendia o que Hermione me disse mais cedo. Realmente esse lugar nos fazia pensar sobre as coisas.
Peguei uma pedra ao meu lado e a joguei no lago. Ela quicou algumas vezes na água e depois afundou.
Dez minutos depois, mesmo ainda sem sono, resolvi voltar para a cabana. O frio que fazia não me permitiu permanecer por mais muito tempo no lago. Sem contar que com certeza eu pegaria uma bela gripe se continuasse ao relento. Mas foi então que escutei passos. Eles pareciam um pouco distantes, porém com certeza alguém estava vindo.
Corri para me esconder atrás de uma cabana que ficava ali perto. Foi então que algo me surpreendeu. Draco Malfoy vinha caminhando a beira do lago e se sentou em um lugar perto de onde, minutos atrás, eu havia sentado.
“O que ele está fazendo aqui a essa hora? Será que está com insônia igual a mim?” me perguntei.
Fiquei o observando pelo que pareceram horas. Não poderia sair dali enquanto ele estivesse por perto. Não duvidava de que a primeira coisa que ele faria seria me delatar para o Joey, ou pior, para o Sr. Peterson.
Esperei mais alguns minutos, mas já não agüentava mais. O sono que antes não vinha, me pegou com força total e eu estava quase dormindo em pé. Além disso aquela madrugada estava muito fria e eu não via a hora de estar deitada em minha cama.
Desisti de espera-lo e resolvi ir embora, mesmo correndo o risco de ser pega por ele. Talvez Malfoy fosse ver o amanhecer e eu não iria esperar tanto tempo.
Fui caminhando lentamente na ponta dos pés para não fazer nenhum barulho. Porém eu não sabia o porque de tudo isso. Malfoy parecia hipnotizado com o lago e não tirava os olhos dele. Eu acho que se o acampamento todo explodisse pelos ares ele não iria notar.
Continuei andando e me escondendo atrás das cabanas para não ser descoberta. Algum tempo depois Malfoy já estava fora do meu raio de visão. O que não era muito difícil até porque eu não conseguia enxergar muito além de que dez metros a minha frente.
Voltei para a minha cabana e Hermione parecia não ter sentido a minha ausência. O melhor que eu tinha a fazer era dormir. Já havia perdido muito tempo de sono nessa noite.

***

- Acorda, Gina!
Alguém acabara de me acordar. Logo notei quem era. Quem mais podia ser? Era lógico, Hermione. Ela estava muito animada e pulava em minha cama tornando difícil uma tentativa minha de voltar a dormir.
- Vamos logo! Levanta! – disse Hermione.
Fuzilei ela com meus olhos. Odiava ser acordada e era a segunda vez que ela fazia isso em menos de vinte e quatro horas.
- Não sei como você pode estar com sono. – comentou Hermione – Quando cheguei você já estava dormindo.
- É, mas você não sabe o que aconteceu depois... – falei ainda meio sonolenta. Me levantei da cama e procurei uma escova. Meu cabelo estava um horror.
- O quê aconteceu? – perguntou Hermione arqueando a sobrancelha. Senti um certo tom de curiosidade em sua voz.
- É que estava meio frio de noite, então eu acordei de madrugada... – comecei lentamente a falar.
Hermione olhou para mim como se dissesse “continua logo”.
- E mais o quê? – perguntou ela.
- Como você sabe que tem algo a mais nessa história? – perguntei.
- Faça me o favor, Gina... Você está duvidando da minha capacidade mental? É lógico que tem algo a mais. – afirmou.
Fiquei um pouco receosa de contar o que fizera na noite passada, mas pensando bem não havia feito nada de muito errado naquilo.
- Depois que me levantei e fechei a janela, não consegui voltar a dormir... – continuei – Aí então resolvi ir lá fora um pouco arejar a cabeça.
- Isso é proibido, Gina! Não se pode ficar andando por aí depois das onze! – disse Hermione. Ela parecia realmente muito chocada com minha atitude.
- Eu sei... Mas eu ainda não contei tudo. – falei.
- Tem mais? Então a coisa é pior do que eu pensava... – comentou ela.
- Não é nada demais... – falei tentando manter minha amiga calma. Quebrar alguma regra para ela era realmente muito sério.
- Você matou alguém e depois jogou o corpo no lago? – satirizou Hermione.
Dei um sorriso amarelo para ela e depois continuei.
- Engraçadinha... É lógico que não. – respondi – Eu apenas me sentei no lago e fiquei observando a água.
- É só isso, Gina?
- Mais ou menos... Eu já ia embora quando ouvi passos. Era o Malfoy que estava chegando.
- Malfoy? Que horror! Imagina se ele vê você. Na hora te delatava.
- Eu sei disso, mas o pior era que só tinha eu e ele lá. O Malfoy podia fazer coisa bem pior se me descobrisse.
- Eu imagino... – disse Hermione pensativa – Mas ele não te viu, né?
- Não... acho que não... – respondi sem muito certeza.
- Menos mal... – disse Hermione – O melhor que temos a fazer agora é ir para a cachoeira e curtir nosso passeio. – falou ela já sem muita empolgação na voz. Estava um pouco séria e pensativa devido as últimas descobertas.
Apesar do que havia acontecido comigo na noite anterior, eu e Mione passamos horas maravilhosas na cachoeira. Lá era realmente um lugar lindo e a queda d’água era enorme. Ficamos a manhã inteira naquele lugar paradisíaco e voltamos ao acampamento para almoçar.
Já no refeitório, Hermione ficou estranha e se calou. Percebi que minha amiga olhava fixamente para Malfoy durante todo o tempo em que estivemos comendo.
- Eu acho que nós devemos investigar o motivo do Malfoy estar aqui. – comentou Hermione assim que deixamos o refeitório.
- Eu concordo com você, e estava pensando até em usar essa nossa tarde livre para isso. – falei.
- É uma boa idéia. Mas como nós vamos descobrir algo sobre ele? Não podemos simplesmente chegar para ele e perguntar. – disse Hermione enquanto caminhávamos rumo a nossa cabana.
- Por que não podemos? – perguntei em tom de brincadeira.
Hermione me repreendeu com um olhar severo.
- Agora não é hora para suas piadas. – condenou-me Hermione – A gente podia ir até a administração e roubar a ficha dele. – sugeriu.
Olhei espantada para minha amiga. Mione me retribuiu com um olhar de “o quê que há de mal nisso?”.
- Há pouco você havia me repreendido porque eu apenas dei uma voltinha noturna pelo acampamento e agora vem me propor de entrarmos na administração e roubarmos a ficha do Malfoy. Você pirou, Hermione? – perguntei horrorizada.
- Eu não pirei, só estou tentando arranjar uma solução. Ou você tem alguma idéia melhor? – perguntou.
- Não, eu não tenho idéia melhor. Mas, vamos apenas supor que nós fizéssemos isso que você propôs... – comecei calmamente – De que adiantaria? Ou você acha que Malfoy, quando preencheu o cadastro, disse a absoluta verdade?
- O pior é que você está certa. – concluiu Hermione – Não ia adiantar de nada mesmo.
- Precisamos conversar com alguém do mundo mágico para nos ajudar a descobrir o porque dele estar aqui. – falei enquanto olhava para os cantos para ver se ninguém ouvia nossa conversa.
- Sim, mas quem? E não pode ser o Harry, porque se não ele viria até aqui louco de preocupação.
- Eu realmente não consigo pensar em ninguém com quem pudéssemos confiar essa missão. – falei enquanto pensava em alguém que pudesse buscar alguma informação sobre Malfoy.
- Acho que tenho uma idéia melhor. – disse Hermione – A gente poderia observar o Malfoy de longe e ver o que ele vai fazer.
- Como assim? – perguntei sem compreender o que minha amiga estava propondo.
- Eu estou querendo dizer para nós seguirmos o Malfoy. Você sabe... espiona-lo.
- Talvez seja realmente uma boa idéia, porque assim nós saberemos o que ele planeja!
- Porém temos que ser discretas. – explicou Hermione.
- O problema maior é que não podemos estar em todos os lugares que ele estiver. Nós não podemos simplesmente entrar na cabana dele e revirar os seus pertences.
- Nisso você está errada, Gina. Eu descobri que ele divide a cabana com o Derek.
- Derek? O garoto do pôquer de ontem? – perguntei.
- Sim, desde quando eu cheguei aqui nós ficamos muito amigos. Eu, ele e Joey inclusive jogamos a nossa partida de ontem na cabana onde o Derek, e por conseqüência o Malfoy, dorme.
- Então com isso você tem passe livre para vasculhar as coisas do Malfoy... – conclui o pensamento dela.
- Exatamente! – exclamou ela.
Hermione quando botava algo na cabeça, ninguém conseguia detê-la. Sempre descobria o que queria. Eu tinha certeza de que se Malfoy estivesse articulando algum plano, mais cedo ou mais tarde, nós iríamos descobri-lo.

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