Entre Muralhas e Paredões



- Capítulo Dezesseis

Entre Muralhas e Paredões

Harry achou que de repente ficara surdo. Não escutava gritos, passos, nem mesmo o ruído do vento...; esse silêncio estava tão agudo e entediante que os seus tímpanos pulsavam como que desejando ouvir algum ruído. Lembrou-se de imediato dos dois lampejos que o atingiriam pela frente e por trás e logo entrou em desespero, mas essa atitude foi em vão. Não havia mais lampejos, para falar a verdade, não havia mais nada, nem ninguém.

Olhou inquieto para os lados e percebeu, finalmente, que a antiga escuridão havia se extinguido. O chão não era mais de pedra tosca, não havia mais nenhum portão de metal, parecia estar flutuando em meio a nada.

- Fanny, o que você fez? - dizia Harry para si mesmo, com uma mão procurando o camundongo em suas vestes e com a outra protegendo os olhos da tão forte luz branca emitida de um lugar desconhecido.

Então Harry recordou-se de um local que esteve uma vez, não sabia se foi em um sonho ou em um passado distante, mas recordou-se de um túnel negro... Nesse túnel ele podia flutuar, e voava em direção a um véu, o qual escondia pessoas que falavam sobre ele.

Espelhando-se nessa lembrança moveu os braços lentamente, girando-os, e pondo as mãos em forma conchas, como que querendo apanhar algo no ar. Esse movimento fez com que o mesmo ruma-se vagarosamente para frente, para um lugar alvo até então desconhecido.

Enquanto nadava para qualquer lugar, pensamentos sinistros transpassavam por sua mente, chegou até mesmo a pensar que estava morto... E se realmente estivesse? Percebeu que esse pensamento atrapalhava o sincronismo de movimentação de seu corpo e com isso, aos poucos, inclinava-se para a esquerda.

Quando avistou uma mancha acinzentada a uns quinze metros a sua frente, achou que sua mente pregara-lhe uma peça, pois o mesmo desejava ver qualquer coisa além daquele intrigante branco.

Mesmo achando que podia estar enganado, nadou mais rapidamente em direção a mancha cinzenta, que crescia à medida que ele se aproximava, e escurecia, tornando-se quase negro.

Estava em fronte a mancha negra. Não parecia ser nada além de uma falha em meio aquela brancura. Com a curiosidade atormentando-o, e achando que não devia fazer aquilo, tocou a ponta dos dedos no borrão negro e sentiu, novamente, uma sensação estranhamente familiar... Apesar de tudo ao seu redor parecer ser sólido como uma rocha, o trecho negro, exatamente aquele trecho, era pastoso e passável; algo como um portal.

Imaginando que a situação não poderia piorar mais que a recente, empurrou a mão contra o portal, e sentiu a mesma atravessando-o, porém sem receber nenhuma mancha negra em sua pele. Atravessou ainda os seus braços, e quase todo o seu tronco. Com a cabeça espiou o que o esperava do outro lado e, com uma alegria imensa, percebeu que retornara ao ambiente antigo; um lugar tremendamente escuro, com um solo de pedra tosca e no qual qualquer mísero barulho causaria um estrondo aos ouvidos mais atentos.

Tocou os seus pés no frio chão de pedra e logo apalpou os seus bolsos a procura de sua varinha, mas ela não estava lá. Sozinho e sem nenhum modo de se defender, Harry baixou a guarda e estendendo os braços para frente caminhou vagarosamente em meio as trevas.
À medida que caminhava em direção a qualquer lugar estranho, um frio intenso invadia o seu corpo, deixando-o cada vez mais pesado e tornando simples atos como respirar, uma verdadeira prova de resistência.

Os seus olhos insistiam em não se adaptar a escuridão a sua volta e Harry desejava até mesmo retornar àquele mundo branco que há pouco estivera. Caminhava cada vez mais devagar, pois temia acabar tropeçando e chocando-se com o chão e conseqüentemente deixar cair os seus óculos, o que seria definitivamente uma grande perda.

Aos poucos o silêncio agudo se dissipava e um grito fino invadia os ouvidos do garoto. Tentou descobrir de qual direção vinha a voz, mas falhou... Marchou para frente. A cada passo que dava arrependia-se de ter ultrapassado a mancha negra, naquele lugar o frio não era tão estridente... O grito tornava-se mais nítido e algumas poucas palavras podiam ser percebidas, mas não compreendidas. Continuou a marcha para frente, pisando firmemente no chão, e de repente sentiu uma breve sensação de estar sendo observado. Ignorou os olhos do suposto espião e aguçou os ouvidos, almejando entender o que a mulher tanto gritava.

- Olá! Tem alguém aí? - gritou, e escutou sua voz responder-lhe com as mesmas palavras. Desejava mais que tudo estar com a sua varinha em punho, sentia-se como se estivesse rumando cada vez mais para o centro de uma armadilha.

Escutou, à suas costas, o barulho de algo se arrastando levemente no chão. Virou-se de imediato e seus olhos finalmente puderam ver. Uma sombra emergia no meio da total escuridão, podia diferenciá-la do resto das trevas, essa era mais escura. A sensação de gelo percorreu cada veia do seu corpo até chegar a sua cabeça; seu coração parou... O grito tornou-se nítido e audível, não vinha de lugar nenhum senão da sua própria cabeça.

- Não machuque o Harry. Não faça nada com ele - escutou os gritos de sua mãe se fazerem em sua cabeça. De imediato uma forte dor na cicatriz se fez e Harry caiu de joelhos no chão, as mãos segurando a testa. Sentiu a sombra aproxima-se cada vez mais de si e a única coisa que desejava era que morresse logo, não iria suportar tanta dor; mal sabia que o seu desejo estava quase se cumprindo.

Uma sensação esquisita invadiu o seu corpo, ou melhor, a sua alma; Harry sentia como se o seu corpo estivesse se dividindo, como se a sombra estivesse sugando a sua alma: era o Beijo do Dementador. A dor da cicatriz já não era nada comparada à agonia que experimentava ao sentir a sua alma saindo aos poucos de seu corpo. Abriu os braços como que se entregando a morte. Suas pálpebras caíram sobre seus olhos, desmoronou duro no chão.


Uma sombra percorria toda a extensão de Azkaban e deixava tudo mais negro que já era. Não havia nenhum rastro de luz, nem cores; parecia que as cores esvaíram e deram lugar para os tons de negro. As chamas que ainda insistiam em ficar acesas apagavam aos poucos e um frio tenebroso alastrava-se por todo aquele lugar.

Escutou o barulho de engrenagens se movendo, e logo o ruído de algo afastando-se aos poucos do solo. De súbito viu um enorme portão de metal elevar-se de um piso de pedra. Nas extremidades desse portão encontravam-se paredes, também de metal, e à medida que o portão ultrapassava a sua altura ele desaparecia magicamente, como que para se igualar ao nível do muro de metal.

Assim que o portão desaparecera por completo, gritos e logo um barulho de marcha difundiu-se no ar. Um grupo de homens e algumas mulheres encapuzados atravessaram a fronteira e colocaram os pés no território de Azkaban. Alguns pareciam temer aquele lugar, outros riam e zombavam. Escutou uma voz que sibilava:

- Está na hora de libertarmos nossos companheiros! Mãos á obra - e nisso o grupo de comensais avexou-se a correr em direção a onde deveria ser as celas dos prisioneiros, outros ficaram para trás juntos com aquele que os ordenou.

- Senhor, o que faremos com aqueles três? - disse um dos encapuzados apontando para um lugar escuro.

- Nosso Lord deve saber. Encontrem-no - e nisso iluminou a ponta de sua varinha e seguiu o primeiro grupo.

O restante marchou em direção ao portão, atravessaram-no e logo estavam de volta ás precipitações de Azkaban. Viram uma sombra arrastando-se pelo chão em direção a um garoto, ia sugar a sua alma. Mas um homem sem capuz apareceu do nada e ordenou:

- Deixe o garoto! A missão de matá-lo não cabe a outro senão a mim. - e nisso a sombra recolheu-se e entrou em Azkaban - Esses dementadores estão com muita sede, temos que conseguir um bom banquete para eles.

- Senhor! - o sem capuz escutou - Senhor! Acho que já consegui um bom banquete para eles. Três garotos, senhor. Foram encontrados exatamente aí onde o senhor está, a poucos minutos. O Sr. Wysle mandou perguntamos ao senhor o que fazer com eles - completou um comensal gaguejando um pouco.

- Quantas vezes terei de dizer que o nome dele não é Wysle? Quanto aos garotos, não será um bom banquete para os dementadores, mas apenas uma refeição comparada ao que tenho em mente - Voldemort anunciava aos comensais. Nisso girou uma varinha entre os dedos e guardo-a nas vestes, depois conjurou cordas de sua própria varinha e elevou o garoto do chão. Caminhou em direção aos comensais - Harry Potter terá que ver a morte de seus amigos antes da sua própria morte, esse será um sofrimento maior - e gargalhando atravessou o portão e marchou em direção aos três garotos desmaiados e recolhidos a um canto.


Havia um camundongo correndo ligeiro no chão. Atravessou os limites do portão e correu em meio ás trevas que mais fortemente se fazia ali dentro. Um dementador aproximou-se dele, mas um brilho prateado emitido por si o espantou. O camundongo estava determinado a chegar a algum lugar e parecia ter uma capacidade extraordinária de enxergar no escuro. Seus olhos brilharam ao ver uma cela trancada por grades e cadeados. Passou por uma brecha entres as grades e encontrou cinco enormes bancos de pedra. De repente o camundongo flutuou a alguns centímetros do solo e elevou-se até a altura dos bancos. Passou por um garoto ruivo, uma garota também ruiva e chegou a um garoto de cabelos negros e despenteados, os olhos do camundongo brilharam ainda mais. Pousou em sua testa e começou a caminhar. Percebendo que o garoto não acordara caminhou com mais força meio que querendo beliscá-lo com suas garras, o garoto ainda dormia. Emitiu uma forte luz azulada que iluminou toda a cela, a luz se esvaiu aos poucos...


Harry sentia algo movendo-se sobre sua testa, Isso não vai ser suficiente para me acordar - pensou. Fortes garras beliscavam o seu rosto, Será que ninguém pode dormir em paz?; um brilho azul se fez no nada e penetrou os seus olhos. A luz logo se desfez, mas Harry não podia mais fingir que estava dormindo. Sentiu que algo estava deitado sobre seu rosto, mas não podia identificar o que era; as trevas impossibilitavam quaisquer tentativas de enxergar naquele lugar. Apalpou a coisa que se acomodara em seu rosto e sentiu pelos macios e suaves tocarem em suas mãos; um fio de esperança se fez em seu coração.

- Será que ele ainda pode estar vivo? - pensou Harry, alisando os pêlos que pareciam ser feitos de lã ou algodão - Fanny! Desejo que ilumine este lugar - arriscou, a esperança crescendo cada vez mais.

Sentiu a coisa peluda retirar-se vagarosamente de seu rosto, depois disso uma luz branca emitiu-se da bola de pêlos. Tudo se iluminou.

- Você é mesmo fantástico - dizia ele observando o camundongo flutuar e pousar lentamente em suas mãos - QUÊ ACONTECEU COM ELES?

Harry olhara para o lado e sob a recente luz emitida por Fanny, lá estavam, deitados sobre bancos de pedra, Rony, Hermione e Gina; desmaiados e aparentemente inconscientes.

- Gina! Rony! Hermione! - dizia ele sacudindo um de cada vez como que querendo acordá-los - Acordem! O que aconteceu com vocês? - perguntava para os três que continuavam desmaiados sobre os bancos.

- Eles não vão acordar - ouviu um silvo ecoar fora da cela - Não antes de receberem o Beijo do Dementador. Talvez, depois disso, possam aproveitar um pouco mais a vida e não se meter em meus negócios - o garoto viu Voldemort aproximando-se das grades.

- Você não fará nada com eles! Eu sei, Dumbledore não permitirá - dizia encarando o bruxo.

- O que um velho e tolo diretor como ele pode fazer se nem ao menos está aqui? - indagava sorridente.

- Que é que você quer dizer com isso? Eu sei que Dumbledore está aqui... Está apenas tão bem escondido que você não pode encontrá-lo! - argumentava o garoto tentando não demonstrar medo; os olhos de Voldemort estavam mais frios e penetrantes que nunca.

- Os meus dementadores conhecem cada centímetro de Azkaban! Não teria onde aquele velho se esconder. Se até mesmo seu Belly´strong pôde derrotá-lo, imagine a frieza de meus servos - encarava Harry, com um sorriso maldoso.

- É, mas seus dementadores não foram tão espertos ao deixar Sirius escapar, não foi mesmo? - ignorara a questão do Belly´strong e perguntava para si o que aquilo poderia significar; uma dor fez-se em seu coração! Falara de Sirius sem ao menos perceber, há tempos que não falava sobre seu padrinho... Seu coração pareceu apertado, Harry sentiu-se mais só do que nunca. Voldemort encarou-o como se as palavras do garoto tivessem sido um desafio.

- Sirius é passado, garoto! Não passa de uma mera lembrança em mentes inúteis que insistem em lembrar de trastes como ele. A morte foi apenas um pequeno castigo para ele! - a luz que Fanny emitira disseminava-se aos poucos; Harry percebeu a aproximação de novas sombras.

- NÃO FALE ASSIM DO SIRIUS! ELE SIM ERA ALGUÉM CORAJOSO, UM VERDADEIRO BRUXO... AH, SIM! ELE TAMBÉM ERA SANGUE PURO... ERA UM TRASTE SANGUE PURO, COMO VOCÊ MESMO DIZ, NÃO É? PIOR VOCÊ QUE CAÇA MESTIÇOS, MAS NÃO PASSA DE UM SANGUE-RUIM! - Harry não sabia ao certo de onde tantas palavras horríveis tinham vindo, mas sentiu que depois de ter dito aquilo estava livre de um grande encargo.

Foi só a última palavra retirar-se de sua boca que Harry viu quinze varinhas erguer-se e mirarem exatamente em seu rosto. Assustado deu dois passos para trás, Fanny adentrara em seu bolso.

- Você foi longe demais, garoto! Poderia ordenar que meus servos ti matassem agora. Mas esse cargo será só meu. Mas antes de sua morte você terá que sofrer mais um pouco, verá a morte de seus amigos. O que você prefere para eles? O Beijo do Dementador ou a Maldição Cruciatus? Ti dou o poder de escolher a melhor morte para seus companheiros. Vamos! - Voldemort encarara Harry, o sorriso fugira de seu rosto.

Uns três comensais caminharam em direção a cela. Com um toque de varinha, o comensal mais alto destravou os cadeados e logo abriu o portão que dava acesso para o aposento em que Harry estava. Mirou a varinha para o garoto e pronunciou algumas palavras, sentiu o seu corpo paralisar-se; não podia se mover.

Linhas finas brotaram da ponta da varinha de cada comensal e com isso arrastaram Rony, Hermione e Gina para fora da cela; o portão e os cadeados fecharam-se sozinhos, Harry permanecia imóvel.

Jogaram os três no piso, Voldemort falou:

- Busquem os dementadores. Digam que temos um lanche para eles - e nisso os três comensais juntos com outros dois mais baixos saíram em direção ás sombras. Sumiram num piscar de olhos.

As trevas voltaram a reinar no local. A única fonte de luz que ali havia era de uma tocha de fogo pendurada em uma parede de pedra logo ao lado da cela de Harry.

- Enquanto a morte não chega para seus amigos, você deve sofrer um pouco por fazê-los ti seguir e assim encontrar a morte - Voldemort sorriu e friamente pronunciou: Crucio.

Harry sentiu como se cada tendão, músculo e osso do seu corpo estivesse afastando-se um do outro e esticando-se até se corromper. Sentiu o seu sangue ferver e o seu coração bater a mil. Sua audição estava quase nula, seu corpo tremia e sangue escorria de sua boca; então parou.

A dor que a pouco o agoniara tanto, sumira como água foge das mãos. Percebeu que estava caído no chão, a cabeça apoiada no piso gelado. Levantou-se com o apoio dos braços e só não gritou de alegria porque os músculos de sua face estavam doloridos demais para fazer tamanha coisa.

Lá estavam Dumbledore e todos os bruxos da Ordem e do Ministério, prontos para lutar contra Voldemort e seus comensais novamente.

- Como você veio parar aqui? - Voldemort perguntava surpreso - Vocês não vigiaram os portões? - virou-se perguntando furiosos aos comensais; a Ordem e os outros sorriam e faziam pose de herói.

- Há coisas que nem mesmo bruxos como você podem compreender, Voldemort! Quando o Belly´strong saltou por sobre os quatro garotos, tenho certeza que você pensou que o feitiço lançado por ele repeliu o meu, o qual iria protegê-los. Mas isso foi apenas mais uma falha que poucos bruxos ainda cometem. Ao contrário do que você pensava, o meu feitiço uniu-se ao do Belly´strong e formou uma força maior. Como a intenção do camundongo era enviar Harry e os outros três para dimensões distintas e assim salvá-los, o meu encantamento serviu de espelho e mandou a todos nós para outras dimensões. Vejo que você fugiu da teia de dimensões compostas pelo Belly´strong e por mim, e nós também! Bom, estamos de volta. Varinhas em punho, COMEÇAR! - Dumbledore explicara calmamente e no último momento gritou feito um soldado em guerra e junto com os seus companheiros disparou lampejos azulados e avermelhados em direção aos comensais. Os encapuzados foram pegos de surpresa e uns quatro ou cinco mais lentos caíram no chão; os outros empunharam varinhas e agilmente ordenaram o Feitiço Escudo.

Harry aos poucos recuperava seus movimentos e assistia todo o duelo de dentro da cela. Enquanto observava os acontecimentos após as grades que o prendiam, viu Rony, Hermione e Gina, ainda inconscientes, caídos no chão. O que pensariam se acordassem exatamente agora e vissem aquela situação?

Fanny movia-se em seu bolso. Segurou-o com as mãos e sentou-se sobre um banco de pedra; em meio aos gritos emitidos de todos os lados, falou: Você poderia abrir esses cadeados para mim?

O garoto observou o Belly´strong, mas ele permaneceu imóvel em suas mãos sem dar o menor sinal de algum resultado mágico. Aproximou-se, com o camundongo em mãos, dos cadeados e falou: Agora, dá para abrir?, mas o Belly´strong apenas fechou os olhos e dormiu.

Lampejos verdes voavam da esquerda em direção a Dumbledore e os outros bruxos. Eles ou se esquivavam ou lançavam o Feitiço Senha Metamorfoses, o qual transfigurava os lampejos em simples feitiços estuporantes, os quais eram repelidos por feitiços escudo bem executados. Em um desses casos um raio vermelho disparou contra Harry, mas chocou-se contra os cadeados. Abriu-os, mas o garoto nem percebeu.

Um frio inenarrável percorreu todos os membros do garoto. Vozes, gritos eram escutados ao longe... Gritos de dor, gritos de terror. A tocha de fogo próxima à cela emitiu a sua última chama. Os cinco comensais que a pouco saíram em busca dos dementadores, retornavam com uma negra companhia. Nada menos que trezentos dementadores marchavam friamente em direção a onde ocorria o duelo, Fanny se escondeu.

Os olhos de alguns bruxos da Ordem e do Ministério giravam, como se estivessem ficando tontos, e aparentavam estar cada vez mais cansados; Dumbledore não dava o menor sinal de fraqueza e continuava a atacar e a se proteger dos feitiços lançados pelos comensais.

Harry vasculhava o chão á procura de uma pedra, queria arrombar os cadeados e ajudar Dumbledore contra os comensais e os dementadores... Um grito fazia-se dentro de sua cabeça.

Não encontrando nenhuma pedra grande ou resistente o suficiente para quebrar os cadeados, o garotou pensou em apelar novamente à Fanny, mas antes que pudesse fazer isso se deu conta de uma coisa: Onde se meteram Neville e Luna?

Guardou o camundongo no bolso e olhou para o lado de Dumbledore. Viu o diretor e mais uns dez ou doze bruxos de pé, o restante haviam sido submetidos ao efeito estonteante dos dementadores. Não viu sequer Luna ou Neville, e outra dúvida fez-se em sua cabeça: Por que ainda não fui afetado pelos dementadores?

Escorou-se nas grades próximas ao portão e o simples impacto provocado por esse ato foi suficiente para fazer com que os cadeados já arrombados e soltos tombassem no chão. Os olhos de do garoto brilharam e com um pouco de força escancarou a barra metálica que cerrava a cela. Abriu o portão e saiu.

Arrependeu-se no mesmo instante de ter abandonado a cela. Sofrera um tremendo impacto térmico e mental ao tocar os pés no piso pós-cela. Um ar mais gélido do que se pode imaginar estava solto por ali e, além disso, gritos e lembranças terríveis invadiram seu ser... Sentiu vontade de vomitar.

- Garoto! Apanhe a varinha. Qualquer ajuda é bem vinda - dizia um bruxo que aos poucos se entregava ao efeito dos dementadores. Jogou a sua varinha na direção de Harry. O garoto a apanhou.

Os dementadores pareciam não surtir efeito nos comensais. Apenas três tinham sido imobilizados por magias lançadas por Dumbledore, uns quatro estavam feridos e o restante, uns vinte ou trinta, duelavam em pé com a fortíssima ajuda dos dementadores. Dumbledore tinha apenas seis companheiros, dentre eles Harry. O garoto não tinha muita certeza do que deveria fazer, só sabia que devia livrar-se e proteger os bruxos caídos no chão.

- Expecto Patronum - disse, imaginando quando finalmente poderiam derrotar Voldemort. Um imenso rastro de luz prata percorreu os bruxos ao lado de Dumbledore, notava-se que o ar perdera um pouco de sua frieza.

Escoltado por um bruxo do ministério, Harry empenhou-se em acordar os bruxos caídos no chão e aos poucos Dumbledore ganhava ajudantes; o cervo prateado marchava contra os dementadores.

A nova meta de Harry já não era mais acordar bruxos, já haviam dois encarregados a fazer isso. Pensava simplesmente em ajudar aqueles três jovens que estavam a mercê da sorte e caídos por entre as garras de Voldemort; tinha que salvá-los. Como? Ele não sabia.

- Prof. Dumbledore! Rony, Gina e Hermione estão inconscientes. Temos de ajudá-los - Harry gritava para o diretor.

- Harry, não podemos pensar nisso agora! Ajude Wansborn e Merlinda a acordar os outros bruxos, JÁ! - ordenou Dumbledore mirando, com o braço que não segurava a varinha, dois bruxos agachados os quais tentavam acordar os bruxos inconscientes. Harry jogou-se no chão, desviando de um lampejo acinzentado e pronunciou: Enervate ao que mais um bruxo acordava lentamente.

- Accio varinha - gritou uma voz vinda do bando de Voldemort, a varinha do bruxo que Harry acabara de despertar disparou em direção a um bruxo de cabelos da cor de ouro, Harry respondeu: Accio varinha!; mas o comensal era mais forte e a varinha não retornou.

Já havia acordado mais uns seis bruxos e Harry achava que já estava em tempo de salvar alguém que realmente lhe interessasse. Olhou preocupado para os três amigos, novamente gritou:

- Prof. Dumbledore! Precisamos salvá-los agora!

- Não deixe o garoto pegá-los! Leve-os aos dementadores - ouviu a voz de Voldemort ecoar. Harry agora que percebera que seu patrono se esvaíra e os dementadores retornavam com força total.

Um bruxo deu um toque de varinha e atou os três garotos inconscientes e, assim, levou-os em direção aos dementadores, Harry bradou:

- Desatis! - ao que as linhas fortes e finas soltaram-se - Accio varinha! - e a varinha do bruxo distraído voou para as mãos de Harry. Entregou-a a um bruxo que estava sem varinha e disparou correndo o máximo que podia em direção a Voldemort, os comensais, os dementadores e, acima de tudo, seus três amigos; não sabia porque tinha feito aquilo, mas uma parte de si enchia-se de força e o incentivava a correr em direção a seus amigos.

Quinze vozes bradaram Avada Kedavra e o mesmo número de lampejos verdes vieram em sua direção. Parou e fechou os olhos concentrando-se, apontou a varinha para os lampejos e gritou:

- Senhis Metamorfus - antes mesmo que qualquer coisa pudesse ocorrer, o destino final dos lampejos tornou-se outro. Harry ouviu o estrondo grave de algo despencando no chão. Abriu os olhos e viu Rabicho caído em sua fronte, os olhos esbugalhados e a boca aberta, seus braços estavam estendidos para frente. Uma lágrima brotou dos olhos de Harry e deslizou por toda a sua face.

Correu com a imagem de um Rabicho morto tomando conta de sua mente. Parecia que ninguém mais se importava em azarar ou amaldiçoar Harry; todos os olhos, até mesmo os de Voldemort, focalizaram o corpo de Rabicho largado no chão. Logo após o duelo recomeçou.

Em meio a toda a confusão de um duelo, ninguém percebera que Rony, Hermione e Gina estavam caídos sem a guarda de qualquer comensal. Jogou-se no chão desviando de apenas um lampejo cinza e aproximou-se dos três. Observou os rostos dos amigos e mais uma lágrima escorreu de seus olhos.

- Como pude arriscar assim tão fácil a vida de vocês? - pensou para si, um rio de lágrimas descendo de seu rosto - Espero que me perdoem por essa minha idiotice.

- Não poderão fazer isso quando estiverem mortos! - escutou uma voz grossa e viu um comensal vindo em sua direção, empunhava uma varinha e mirava o peito do garoto. Um peso se fez em seu coração.

Logo o peso tornou-se um medo gigantesco e um frio invadiu todo seu corpo novamente. Os olhos de Harry de um lado viam uma varinha apontando para si e para seus amigos, do outro trezentos comensais deslizando em sua direção, suspirou. Escutou a voz de Dumbledore gritar:

- Segure isso, Harry! - e um sapato voou em sua direção. Só havia um motivo para Dumbledore mandar-lhe um sapato em situação como aquela, Harry sabia qual; era uma Chave de Portal. Pôs um braço em cima das pernas de seus colegas e com o outro apanhou o sapato. Uma voz ao longe ameaçou:

- Solte-os ou você também morrerá.

O frio dissipava-se aos poucos, a imagem do comensal sumia aos olhos. Harry sentiu a conhecida sensação de um gancho em seu umbigo e logo suas pernas abandonaram o frio piso de pedra de Azkaban. A última coisa que viu foi um lampejo verde vindo em sua direção. Seu corpo girou velozmente e logo sentiu as suas pernas tocarem em uma superfície sólida, e junto com Rony, Gina e Hermione viu-se sentado em um tapete de veludo vermelho no Salão Comunal da Grifinória.

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