Sonhos e Realidade



- Capítulo Treze -

Sonhos e Realidade

Harry piscou bobamente sem entender com clareza o que significavam aquelas palavras douradas, então um único e irritante pensamento se montou em sua cabeça.

- E-ele não me salvou, salvou? - perguntou sentindo algo entalar em sua garganta.

- É...bem,... - Rony hesitava - Podemos dizer que sim!

- Ma-mas eu não ia morrer. - arriscava Harry, olhando de Rony para Hermione.

- Na verdade ia sim, Harry. - continuava Hermione lentamente - Ou você levava a chicotada com o rabo dele ou levava uma chifrada. Ou os dois... Você desviou da chicotada, o que seria mortal se não tivesse desviado, mas ia levar uma chifrada no meio das costas se Draco não tivesse disparado um feitiço estuporante bem no meio do chifre dele... Daí ele bombeou e marchou contra Draco que ainda usou o Feitiço da Visão Embaçada nele. Foi quando você pulou sobre o Hookbooster e causou uma espécie de incêndio dentro dele... Você pôs a varinha exatamente no local em que solta um gás altamente inflamável e nisso houve uma explosão que estraçalhou o casco do monstro e ti jogou direto no chão... Então os olhos do monstro começaram a tocar fogo e ele despencou para o lado, deixando a perna cair sobre seu estômago. - finalizou Hermione, enquanto olhava para o chão, como que sem coragem de encarar Harry.

- E por que VOCÊS não me ajudaram? - Harry dizia os olhos enchendo-se de lágrimas de tanta raiva e o seu sangue queimando.

- Estávamos ocupados demais tentando salvar a Profa. Willa. - disse Rony sem pensar.

- Quer dizer que vocês preferem a vida dela à minha? - ironizava Harry, enquanto suava e o sangue subia-lhe à cabeça.

- Não é bem assim, Harry. Foi tudo muito... - explicava Hermione quando foi interrompida.

- MUITO OBRIGADO POR NADA, SEUS IDIOTAS. GOSTARIAM MESMO QUE EU MORRESSE, NÃO É? SERIA MENOS UMA PREOCUPAÇÃO... VAMOS TODOS MATAR O HARRY PORQUE ELE É MESMO ALGUÉM QUE MERECE ESSA SENTENÇA! - gritava Harry a plenos pulmões, sem se importar se estava ou não em uma sala de aula lotada.

- Harry deixa de ser... - Hermione tentava, os olhos alagando-se de lágrimas.

Ele dera meia volta e saíra em disparada pela porta... Estava em um corredor e os únicos que avistou foram Draco Malfoy e seus comparsas. Harry rumou desesperado em direção à Draco, os punhos semi cerrados e a mente com um único objetivo.

- Muito bem... Aí vem o meu mais novo coleguinha. Se já veio pagar a dívida saiba que...

Harry já estava parado em frente à Draco. Baixou os olhos e avistou os sapatos brilhosos de seu inimigo, então em um piscar de olhos destroçou um soco bem dado no nariz de Draco. Deu as costas e saiu. Antes que pudesse dar um passo completo sentiu duas mãos enormes agarrarem o seu pescoço e apertarem como que querendo arrancá-lo. Instintivamente pegou a varinha em seu bolso e girou-a nos dedos encostando-a no estômago do atacante, pronunciou: Rictusuempra; ao que as duas mãos enormes o soltavam e Crabbe caía, às gargalhadas, no chão. Virando o rosto viu o punho de Goyle vindo em sua direção e chocou-se em seu olho esquerdo, impulsionando-o contra a parede e fazendo com que Harry caísse. Com uma imensa dor de cabeça, e com os óculos partidos em dois, apontou a varinha para alguém que vinha em sua direção e gritou: ESTUPEFAÇA, ao que Goyle caía com um estrondo.

Levantou-se, a visão anuviada, e rumou para o lado de onde viera, os passos acelerados e a varinha empunhada.

- Harry que acontec... - Rony perguntava, mas Harry empurrou-o e prosseguiu o seu caminho.

- Que diabos você está fazendo? - acompanhava Rony, fingindo não ter sido empurrado - Por que está agindo assim com a gente?

- Oculus Reparo. - dizia Hermione e os óculos de Harry tornavam-se novos, novamente - Deixa de agir como criança, somos os seus amigos, não somos?

- Verdadeiros amigos não deixariam o amigo à beira da morte. - e acelerando o passo deixou Rony e Hermione para trás.


Os pensamentos de Harry durante àquela tarde concentraram-se apenas na raiva que tinha de Rony e Hermione por deixarem Draco Malfoy salvar a sua vida... Harry sabia o preço que teria que pagar por isso. No terceiro ano em Hogwarts poupara a vida de um bruxo, Rabicho, Comensal da Morte e traidor de seus pais, e o mesmo agora lhe devia uma dívida de bruxo... Era algo muito sério, essa dívida. Para toda a vida e, o pior, tinha de ser cumprida...

A cabeça de Harry parecia prestes a estourar quando pensava que devia um favor à seu maior inimigo de escola...

- Como eles deixaram acontecer isso comigo? Como? - vagavam os pensamentos de Harry, enquanto o mesmo permanecia escondido em um armário de vassouras.

- O Potter. Ele me atacou, junto a Crabbe e Goyle... Não professora, eu não fiz nada, juro. - Harry ouviu a voz sebosa de Draco surgir no corredor.

- Então, me encarregarei de encontrá-lo e puni-lo devidamente. - respondeu a voz de Minerva McGonagall, passando em frente ao armário de vassouras que Harry se encontrava.

- Ele será expulso? - perguntou a voz de Draco esperançosa.

- Não sei. Dumbledore se encarregará disso. - respondeu Minerva.

- Ah, se a decisão depender de Dumbledore ele ficará aqui para sempre. - soltou Draco, a voz ao longe.

As vozes desapareceram e Harry permaneceu parado no armário de vassouras, seus pensamentos ainda vagando e o ódio invadindo a sua cabeça.

- Por que essas coisas têm que acontecer comigo? - pensava Harry, a cabeça encostada em um pano... Aos poucos a paz foi tomando conta de seu corpo e as pálpebras pesavam à medida que o sol se punha no horizonte...


- Desculpe-me por incomodá-lo, milorde, mas o garoto chegou - um homem encapuzado avisava, assustado, à Harry que encontrava-se sentado em uma confortável poltrona em um quarto escuro exceto pela fraca luz da lareira.

- Mande-o entrar. Diga que não tenha medo. Ainda não tenho motivos para matá-lo. - dizia Harry em uma voz fria e adulta, enquanto observava as poucas chamas que restavam crepitarem na lareira.

O homem encapuzado saiu do quarto deixando Harry sozinho naquele lugar, mas em pouquíssimos instantes voltou acompanhado de um rapaz ruivo de uns vinte e um anos, baixo e acanhado, que tremia dos pés à cabeça.

- Apresente-se - sibilava Harry com sua voz adulta.

- S-s-sou Pedro Pettigrew, meu senhor. Gostaria de me unir a seu grupo - sua voz tremia de terror e seus olhos focalizavam, assustado, a face de Harry, que apenas olhou-o dos pés à cabeça com um quê de desprezo.

- O que você poderia oferecer ao Lord das Trevas para receber tamanha graça? - perguntou Harry analisando cada parte do corpo de Pedro, que ainda tremia de tanto terror.

- M-me-meu senhor, eu sei onde estão os Potter! - disse ele em um murmúrio, nisso Harry agitou-se de imediato e pareceu se tornar mais interessado naquele rapaz.

- Tens certeza que sabes o lugar exato em que eles se encontram? - perguntou Harry com curiosidade.

- Sim, senhor. Eles até estão cuidando de um filho, o Harry, um belo garotinho - respondia Pedro, parecendo um pouco mais a vontade.

- Pois diga-me onde eles se encontram, e serei muito grato à você. - dizia Harry com um sorriso falso nos lábios.

- Só direi se me garantir que eu serei um dos seus comparsas - chantageou Pedro, segurando a barra das vestes.

- Se eles estiverem mesmo nesse lugar, serás um dos meus. Palavra de Voldemort - concluiu Harry com um outro sorriso no rosto.

- Eles se encontram alojados em Godric´s Hollow. Em uma pequena casa avermelhada. Possui apenas quatro cômodos. Uma sala, uma cozinha, um quarto e um banheiro. Eles moram lá com um filho. Sei disso porque sou grande amigo de Tiago Potter, tanto que fui escolhido como fiel do segredo deles - explicou Pedro, enquanto as suas mãos tremiam e as suas pernas pareciam perder as forças.

- Quer dizer que eles estavam protegidos com o Feitiço Fidelius? Quem foi que os enfeitiçou? - perguntou Harry, o interesse aumentando cada vez mais.

- Alvo Dumbledore, diretor de...

- Sei quem é Alvo Dumbledore. Quer dizer que ele ainda insiste em mim desafiar? - a voz de Harry parecia tremer agora, enquanto falava - Ele terá o que merece. Eu sei disso.

E apontou a mão direita para as chamas que logo se multiplicaram, aquecendo e iluminando cada vez mais aquele cômodo frio e escuro.

- Mandarei verificar se você está mesmo correto, Pettigrew. Se estiver poderá se integrar ao meu grupo de comensais. Gostaria de chamá-lo por algum apelido. É melhor que os meus servos atendam por um nome fictício - Harry observava as chamas crescerem cada vez mais, formando imensas tochas.

- Rabicho. Esse era meu apelido de escola. Pode me chamar de Rabicho, meu senhor - dizia Pedro, fazendo uma reverência tão ridícula quanto às que Dobby fazia - Espero que logo descubram que estou correto e assim poderei me integrar a seu grupo. - Rabicho parecia estar bem à vontade naquele lugar - Se não se importa, boa noite. - e virou-se para a porta se levantando e fazendo menção de sair.

- Para onde você vai? - perguntou Harry, a voz disparada - Só sairá vivo daqui se a sua história for real. Senão, a morte ti aguarda. - Harry caiu em gargalhadas que tremeram a estrutura do quarto e fizeram as chamas encolherem-se a um canto. Os olhos de Rabicho encheram-se de água e suas pernas perderam todas as forças fazendo com que ele caísse, em lágrimas, no chão. Harry observava-o com desprezo, ainda gargalhando e sentindo seu humor melhorar à medida que Rabicho desesperava-se...

Tudo no quarto ficou em silêncio; Harry continuava à gargalhar alto, mas a sua voz não era emitida e os ganidos de Rabicho também não podiam ser ouvidos. Levantou-se de imediato da poltrona, ao que a mesma desapareceu em um piscar de olhos. Já não havia mais paredes nem teto, o cômodo desaparecia velozmente...

- Vem! Estamos aqui, filho! Venha! - sussurrava uma voz feminina.

- M-mãe? Onde você está - a voz de Harry saiu distorcida.

- Estou aqui, filho. À sua frente. Venha! - continuou a voz feminina da mulher, ainda em um sussurro.

Harry olhou para frente e nada viu, na verdade encontrava-se em algum lugar onde tudo era negro; teto, piso e paredes, nada podia ser visto, apenas uma vasta escuridão.

- MÃE! Não estou ti encontrando - gritou Harry em meio àquele cômodo escuro.

Uma sensação esquisita invadiu o corpo de Harry. Sentia-se como se estivesse girando, mesmo estando imóvel, e parecia que aquele lugar estava sendo transportado por uma chave de portal, pois ele experimentou novamente a sensação de um gancho repuxando seu umbigo.

Então uma luz esbranquiçada nasceu em sua frente. Expandiu-se até adquirir uma forma ovulada da altura de Harry e se deteu... E lá estava novamente à sua frente a imagem do próprio Harry com dezesseis anos, flutuando em meio àquele lugar escuro. Algo lhe dizia que não devia fazer aquilo, mas Harry caminhou lentamente em direção ao espelho de luz, observando a própria imagem tornar-se um garoto de doze anos... Estava parado agora em fronte à superfície do espelho observando a si mesmo com um ano de idade, a cicatriz na testa, deitado feliz em um berço.

- Tiago! O Harry acordou. Iremos mesmo ao Bosque dos Unicórnios? - perguntava Lílian ao marido.

- Claro! Ele terá de conhecer logo o encanto desses animais. Dizem que fazem bem para as crianças, que transmitem triunfo. - Tiago dizia sorridente à mulher.

Os olhos de Harry enchiam-se de lágrimas ao ver o seu pai apanhá-lo no berço e guiá-lo à seus braços.

- Quero os meus pais! Quero ficar junto deles! Eu VOU ficar junto deles. - um pensamento se formou na cabeça de Harry, e o mesmo tocou na superfície do espelho de luz, que tremeu transformando-se em uma consistência pastosa e mudando de branco para prata. Atravessou a mão direita, sentindo um gelo invadi-la e vendo através do espelho que a mesma tornara-se pequena como a de um bebê. Atravessou todo o seu tronco e pernas, deixando apenas o pé esquerdo de fora... Passou-o.

Um frio invadiu cada pedaço de seu corpo e sentiu uma forte e gélida brisa alisar os seus cabelos... Todos os pensamentos e lembranças de seu futuro apagavam-se de sua cabeça à medida que Harry enfim percebia que virara um bebê. Tentava falar, mas seus ouvidos escutavam apenas palavras soltas e sem sentido e era tão pequeno e sem forças que nem mesmo ficar em pé conseguia direito...

- Vamos Lílian. - disse Tiago pegando Harry nos braços - É bom irmos cedo para assim voltarmos cedo.

- Será que hoje terão muitos visitantes? - perguntava Lílian a Tiago, enquanto, com um aceno de varinha, a roupa de Harry era trocada para uma espécie de macacão azul com uns babadinhos.

Lílian e Tiago, que levava Harry nos braços, rumaram em direção a uma lareira na cozinha. Lílian pegou um pouco de um pó em um jarro de flores e jogou nas chamas vermelhas que queimavam na lareira. As mesmas ficaram verde esmeralda.

- Bosque dos Unicórnios. - dizia ela adentrando na lareira e logo desaparecera com um pouco de fumaça.

Tiago fez o mesmo. Jogou um punhado de pó nas chamas, entrou e ao dizer o seu destino desapareceu, rodopiando junto a Harry por entre as lareiras. Harry sorria, divertindo-se com aqueles rodopios malucos enquanto passavam por mais e mais lareiras.

Os rodopios pararam e Tiago pôs os pés em chão firme, onde a poucos passos encontrava-se Lílian.

- Teremos que entrar na fila. Hoje é um dia de muito movimento por aqui. - dizia Lílian sorrindo abertamente para Tiago.

Os olhos de Harry começaram a pesar alguns minutos depois. A fila parecia não querer andar... O sono invadiu a mente de Harry e sonhos infantis formaram-se em sua cabeça.

Havia um palhaço colorido, dançando de lá para cá, e soltando uma fumaça cheirosa da ponta da varinha...

- Venham crianças... Venham. Aproveitem o Circo da Magia! - sorria o palhaço executando um feitiço e fazendo andorinhas coloridas voarem pelo ar - Sim, Alvo Dumbledore me mandou procurá-lo. Está muito preocupado por onde ele deve ter se metido! - a voz alegre do palhaço era trocada por uma voz grave, adulta e enraivada.

- Quero que procure-o em todos os lugares, Argo. Potter não pode ter simplesmente desaparecido do castelo. - ecoava uma outra voz odiosa e atinada.

- Pode deixar, Prof. Snape. Ele não pode ter ido muito longe. Já vistoriei quase todas as salas e classes. Inclusive algumas passagens secretas. Ele deve estar escondido em um lugar fácil. - passos se aproximavam dos ouvidos de Harry.

- Quem me dera simplesmente abrir esse armário e encontrá-lo. - dizia Snape abrindo a porta de um armário de vassouras e assustando-se de surpresa - Ora, ora. Olha quem está aqui! O Sr. Harry Potter resolveu deixar a torre da Grifinória e vim morar em um armário de vassouras, foi? - ironizava Snape, olhando maliciosamente para Harry.

- Acho que ele está dormindo, Prof. Snape. - dizia Filch admirado.

-Acorde Potter! Acorde! - Snape sacudia Harry, que ainda estava mergulhado em um sono profundo - Enervate!

Os olhos de Harry se abriram instantaneamente. Sua cabeça girava. Parecia que sua mente estava voltando ao seu corpo...

- Você está bem? - perguntou Snape assustado ao ver a cara pálida de Harry.

- Gu gu, dá gu, dadá! - respondeu Harry à Snape e assustando-se com o dito pôs as mãos em sua garganta.

- Que é que você disse? Se acha mesmo que vai me fazer de idiota está muito enganado. Menos vinte pontos para a grifinória por essa sua brincadeirinha sem graça. Agora me responda: você está bem?

Harry não respondeu. Não estava a fim de perder mais pontos para a Grifinória. Levantou-se do balde no qual estava sentado e passou por Snape e Filch, saindo assim do armário.

- Volte aqui, Potter. Para onde você pensa que vai? - perguntou Snape, quando Harry saiu correndo velozmente do corredor - Volte já aqui, Potter. Detenção! - Snape gritava enquanto corria atrás de Harry.

Estava com um único objetivo em mente: chegar de imediato na ala hospitalar. Harry corria o máximo que as suas pernas, e a sua ânsia e dor nos ossos, permitiam e alguns minutos depois deparou com a porta de entrada da Ala Hospitalar; escancarou-a e entrou. Da última vez que estivera ali era pelo mesmo motivo que estava agora: tocara em um portal do tempo. Olhou de um lado para o outro à procura de Madama Pomfrey, mas não encontrou ninguém. Jogou-se em uma cama e logo se cobriu com um cobertor. Agora que estava deitado e descansando pode finalmente perceber a besteira que fizera. Já havia sido advertido de nem se aproximar de um portal do tempo, e o mesmo não só o tocara, mas atravessara. Sentia-se estranho como se as suas lembranças e pensamentos antigos estivessem se apagando e dando lugar para palhacinhos e bolinhas coloridas...

- Guda dá! - tentava Harry inultimente falar alguma coisa dando um soco de tanta raiva na cômoda ao lado da cama. Arrependeu-se depois de ter dado esse soco, pois a dor do impacto junto com a dor de seus ossos se tornou insuportável.

- Sr. Potter, sinto em dizer que você está com uma semana de detenção comigo. - dizia Snape farto de tanto correr - Por que saiu correndo para cá? Por que não me avisou que estava doente?

Harry resmungou para si mesmo e deu outro soco, só que agora no macio colchão da cama. Olhou para Snape como que pedindo que pelo menos uma vez deixasse-o em paz. Snape pareceu entender.

- Por que você quer ficar sozinho? - dizia ele perfurando Harry com um olhar.

- Gudá dagu! - resmungava Harry, socando mais uma vez o colchão.

- Por que você está falando como uma criança, Potter? Você foi enfeitiçado? Foi isso? - Snape perguntava aproximando-se da cama.

Harry balançou a cabeça positivamente. Esse gesto fez Snape aproximar-se mais ainda, parecendo interessado.

- Quem ti enfeitiçou? - perguntou Snape em um murmúrio.

- Com licença, Prof. Snape. Tenho que cuidar desse garoto. O que você está sentindo, Harry? - perguntava Madame Pomfrey à Harry.

- Gudu gudadá - respondeu Harry rapidamente à Madame Pomfrey.

- Não acredito que você se meteu de novo com um portal do tempo, Harry. Todos aqueles meus esforços para você ficar melhor foram em vão. Tenho que avisar a Dumbledore, só ele poderá resolver isso. - e saiu apressada pela porta da Ala hospitalar, deixando Harry e Snape mais uma vez sozinhos naquele lugar.

- P-potter, que é que você está sentindo? - Snape perguntou novamente ao garoto.

Harry pensou como poderia existir alguém tão idiota como Snape...

- Será que você não está vendo que estou sem condições de falar? - pensou para si mesmo.

- Dessa vez você passou dos limites, Harry. Quantas vezes terei de pedir para não se aproximar de nenhum portal do tempo? - dizia a voz rouca de Alvo Dumbledore.

Os olhos de Harry brilharam, ele não soube dizer bem o porquê, mas ao encarar Dumbledore uma enorme felicidade invadiu todo o seu corpo.

- Vamos, Papoula. Repetiremos aquele ritual. Severo, precisaremos da Poção do Morto-Vivo e da Poção Cadeado Dimensional. Enervate! - bradou Dumbledore apontando a varinha para o corpo de Harry, o qual sentiu-se imediatamente mais vivo e forte - Fenesco - bradaram Madame Pomfrey e Dumbledore juntos, ao que dois raios dourados foram emitidos de suas varinhas e atingiram os olhos de Harry. Ele se sentiu enjoado e enojado, enquanto uma tontura invadia a sua cabeça e estômago...

- Venha Harry. Estamos aqui, filho! - chamava a voz de Lílian.

- Filho, hoje iremos ao Bosque dos Unicórnios - dizia Tiago animado.

- Rabicho! Fique onde está, e não se mexa! Ou vai pretender morrer? - gritava Sirius em uma rua trouxa movimentada.

- Eu confiaria a Hagrid minha vida - respondeu Dumbledore.

- Meia noite, é lua cheia. Lupin vai se transformar. - dizia Tiago à Sirius.

- Eu ti odeio Potter. Você sempre quer ser o tal, mas não passa de um perfeito idiota - gritava Lílian à Tiago.

- Há coisas na vida que é melhor guardá-las dentro de nosso coração - dizia Dumbledore sabiamente.

- Dumbledore. O Snape foi visto com Comensais da Morte! - anunciava McGonagall.

- Vou matá-la pelo que fez com os Longbottom! - gritava Moody no Salão Principal.

- Admitirei apenas os corajosos em minha casa. Ensinarei-os tudo que sei e formarei nobres bruxos. - dizia Godrico Grifinória à Salazar Sonserina.

- Viva! Viva! Viva o menino que sobreviveu! - gritavam juntos um bando de bruxos no meio de uma rua.

Todas essas vozes bombardeavam a mente de Harry... Diálogos quase inaudíveis, pessoas que nem conhecia conversando... Harry sentia-se cada vez mais confuso e tonto... Os seus ossos doíam duas vezes mais que antes de chegar à Ala Hospitalar, sua cabeça estava prestes a explodir e ele não conseguia enxergar quase nada com aquela vista embaçada. O corpo de Harry de repente começou a tremer sacudindo toda a cama. Um enorme peso tomou conta de seu corpo e pálpebras. Adormecera.

Estava em frente a um túnel negro que se estendia até se perder de vista no horizonte. Harry percebera que ele não andava, nem ao menos tocava o chão. Flutuava a alguns centímetros sem fazer o menor esforço. Guiou-se para frente adentrou naquele esquisito túnel, afastando-se de suas extremidades que se moviam de forma gótica. Continuou flutuando em frente e nada via, apenas mais e mais escuridão. Sua mente não pensava em outra coisa a não ser alcançar o final desse túnel e seu corpo parecia não querer se mover, concentrava-se apenas em continuar a marcha.

- Não acredito. Ele se atreveu mesmo? Que garoto ingênuo! - ouviu uma voz fria e gótica ecoando no túnel.

- Pois é, ele está vindo para cá. Mais um em nossa sociedade! - respondia uma outra voz mais gótica que a anterior.

Uma brisa leve perpassou pelo túnel, afastando os cabelos de Harry dos olhos e deixando tudo mais assustador que antes. Já devia ter caminhado umas duas horas e o túnel parecia, aos poucos, tornar-se mais claro e as vozes aumentavam à medida que Harry se aproximava de um suposto fim de caminhada.

Os olhos de Harry focalizaram uma coisa esquisita no final do túnel. Havia umas luzinhas flutuantes cercando o que devia ser um portal que levava para uma sala. A única coisa que impedia de ver o que havia do outro lado era um véu muito velho e esfarrapado.

- Espero que nenhum Roskurt ataque-o no túnel - dizia uma voz estranhamente familiar.

Harry nem parou para pensar o que seriam um Roskurt mais voou mais veloz, à medida que aquela voz adentrava em sua cabeça. Tinha uma estranha sensação de que sabia de quem era a voz e que sabia o que esperava além daquele portal. Flutuou o mais veloz que pode em direção à sala escondida atrás do véu que balançava com uma brisa inexistente.

- Está dando tudo certo! Seja bem vindo, Harry! - dizia a mesma voz, mais clara e forte do que nunca.

Estava a três metros do véu. Podia ver cada pedaço rasgado de sua superfície. Sentiu-o em suas mãos e, com os olhos cheios de lágrimas, atravessou-o.

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