Retomando B.Hall



Acho que depois dessa já é o bastante, não? :P

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I


Os dias estavam passando hora rápidos, hora lentos demais. O Dragão Negro agora já se esquecera de grande parte de seus problemas, concentrava-se somente no trabalho que tinha que fazer para Arkehon; suas esperanças que Voldemort continuasse vivo eram mínimas, e Draco acordou faminto. Trocou-se, lavou o rosto e desceu sonolento, esperando um esplendido café da manhã. Mas qual foi sua surpresa ao ver o salão vazio e a mesa limpa?

- Ah, será que não tem comida nessa droga desse castelo!? - berrou, encostando-se na parede. Sua voz ecoou pelas paredes de Basilisk Hall.

Ele ficou um tempo pensando, os olhos fechados. A raiva de início começava a ser substituída por aflição. Draco nunca passara fome em B.Hall antes...

- O que você queria? - perguntou uma voz fria, parecida com a sua, só que um pouco mais rouca. - Brioches?

Draco abriu os olhos cinzentos. Seu pai atravessava o pequeno espaço entre a parede e a mesa, e sentava-se na cadeira da ponta, olhando-o com uma expressão quase divertida.

O rapaz cerrou as sobrancelhas pálidas, indeciso. Lúcio fez um barulhinho de desdém e abriu um meio sorriso.

- Volte para Hogwarts, então, Draco. Lá você nunca passará fome.

Draco desencostou-se da parede de pedras. Queria enfrentar alguém.

- O que o senhor está querendo insinuar? - perguntou, então, cerrando os punhos com força. Enganava-se ou seu pai estava lhe chamando de criancinha?

Mas Lúcio não respondeu o que ele perguntou. Revirou os olhos e ficou mirando o teto por um longo tempo.

Draco deu um impulso para frente e foi sentar-se em uma das cadeiras. Quando fez isso, Lúcio virou a sua, de modo que pudesse ficar de frente para o filho.

- Houve um tempo - começou Lúcio Malfoy, o desdém e a calma na voz apenas superficial, para dar um certo suspense - em que esse castelo era uma um grande centro, uma grande metrópole... Aqui viviam cerca de setecentas pessoas, que iam e vinham todos os dias. Essas pessoas, os residentes, os verdadeiros residentes de Basilisk Hall, tinham uma nobre tarefa: livrar o mundo daqueles que não têm poder e capacidade o suficiente para ser superior, um bruxo... - Draco mirava os olhos claros do pai, sem piscar.

"Nessa época, todos os dias havia comida na mesa esperando para que os chamados Comensais da Morte viessem se servir. Havia uma certa honra nisso, uma certa seriedade, como um ritual. Haviam regras, Draco. Regras para serem seguidas, para que a ordem se mantesse nas quatro alas e nos oito andares deste castelo, que já pertenceu ao maior dos bruxos, Salazar Slytherin."

Ele fez uma pausa. Draco respirava rapidamente, sem conseguir desviar os olhos dos de Lúcio.

- E talvez não fosse as regras que fizessem esse lugar funcionar, Draco... Talvez fosse porque tínhamos um líder que, por mais imperfeito que fosse, passava fome junto com os seus servos, quando faltava comida.

Draco então desviou os olhos. Era isso. Lúcio queria apenas criticar seu governo. Já devia imaginar.

- Ele está morto - resmungou, de mal-humor, os braços cruzados, mirando a mesa.

Mas Lúcio apenas meneou com a cabeça.

- Você acha mesmo? Eu não teria tanta certeza se fosse você, Draco...

O rapaz tornou a levantar os olhos. Seu pai estava sugerindo algo... Sugerindo que Lord Voldemort ainda vivia...

- O que você sabe? - perguntou, apressado, descruzando os braços, debruçando-se sobre a mesa. Lúcio deu um sorrisinho.

- Vai depender muito do que você quer ouvir - respondeu o outro, num tom divertido, tamborilando a mesa com os dedos.

Draco não sabia se admirava ou odiava o homem na sua frente. Durante toda sua vida, este não lhe chamara de filho nem uma vez. Agora, vinha dando conselhos sem fundamento de como fazer as coisas do seu jeito. Havia momentos em que Draco queria ser como ele, mas ao mesmo tampo não queria nem pensar nessa idéia.

- Se o senhor pensa que vai fazer minha cabeça, para que a Ordem das Trevas gire em torno dos seus caprichos, pode pensar direito, pai - rosnou, cerrando os punhos e rilhando os dentes. Mas Lúcio permanecia inabalável.

- Draco, quantas pessoas você já matou com suas próprias mãos? - perguntou Lúcio, sorrindo enviesado.

Draco arregalou os olhos e, pensando bem, sentiu que não queria responder.

- Você não matou uma única sequer criatura, Draco. Se quiser ver, saberá ver. Se você reconhece que está afundando todos os Comensais da Morte, ótimo. Se não, acho que é hora de abrir seus olhos. O Lord das Trevas é mais forte do que você pensa, garoto.

E, dizendo isso, numa voz um tanto agressiva, levantou-se e saiu.

Draco mirava a parede, agora que Lúcio se retirara, e nada mais ocultava a sua visão. Mas ele não a via. Draco pensava no que acabara de ouvir.


II


- Garoto idiota! Vai ferrar tudo, e não é por falta de aviso!...

Era Lúcio Malfoy sibilando pelo corredor. Ele saíra do Salão de Refeições aparentemente calmo, mas à meio caminho da trajetória que pretendia fazer, estacou e fechou as mãos, para que não tremessem tanto de fúria.

Não era a admiração que tinha pelo jeito do Lord das Trevas de liderar as coisas que o deixava furioso. Não. Era saber que ele iria voltar, e, quando isso acontecesse, Draco estaria mais do que perdido.

Sentiu náuseas. Talvez devesse dar mais atenção ao filho, mais apoio... Lúcio simplesmente não conseguia. E, assim como o pai, Draco era simplesmente fraco demais para o cargo que estava ocupando...

Então cansou-se de tentar identificar qual era o sentimento dominante naquele momento, parado de pé no meio do corredor Leste do terceiro andar, deu meia volta e recomeçou a andar. Depois de descer duas levas de escadas, viu, então, uma porta entreaberta.

Ele passaria reto, não fosse o detalhe que ela estava sem a maçaneta.

Aproximando-se lentamente, olhando para os lados para ver se ninguém espiava, caso aquilo fosse algum truque que consistisse em fazer de bobo o primeiro que fosse olhar, Lúcio chegou na frente da porta e empurrou-a.

Estava escuro o suficiente para ver apenas contornos difusos das coisas no aposento, mas Lúcio Malfoy não se importava com isso no momento, porque sentia-se claramente rendido com uma varinha apontada para sua cabeça.

- Curiosidade demais sempre foi o grande mal da maioria dos Comensais, não é, Lúcio?

Ele sentiu o sangue coalhar. Como poderia esquecer aquela voz? Virou-se cautelosamente.

- ...Mestre? O senhor está vivo? - admirou-se, tentando enxergar além do filete claro de luz do corredor que mostrava-lhe apenas o porque devia temer.

- É - respondeu o outro, numa voz displicente, com uma risada. - Eu estou, Lúcio, mas você...

Ele engoliu em seco. E agora? Devia tentar reagir?

- À quem está sua lealdade, Malfoy? - perguntou o outro, a voz fria saindo da penumbra à sua frente.

Mesmo o Dragão Negro sendo seu filho, ele não conseguiu hesitar.

- Ao Lord das Trevas, como sempre, milorde - respondeu, solenemente.

Lentamente, a varinha que apontava para entre seus olhos abaixou. Ele só temia que o outro não tivesse acreditado, mesmo que tivesse dito a verdade, sabendo que nesse caso não haveria o porque de tanto medo.

- Acredito em você, Lúcio.

Ele, então, soltou a respiração, aliviado.

- O que posso fazer pelo senhor, mestre?

- Chame-me quem do grupo cinco ainda obedeça às minhas ordens - disse o Lord das Trevas, lentamente.

"Está na hora de voltarmos ao trabalho..."


III


Estava estendendo roupas no varal. O dia estava claro e sem nuvens, perfeito para que os lençóis secassem. Gina sentia a brisa suave e fria da manhã brincarem com seus longos cabelos ruivos; as borboletas saiam de seus esconderijos e iam a caça das poucas flores que restaram da primavera fria desse ano e enfeitavam involuntariamente o gramado verde-ouro que se estendia até as colinas mais próximas, através dos pinheiros altos e imponentes que enfeitavam as redondezas d'A Toca.

"Gina."

A garota estacou um momento, depois virou-se. Não havia ninguém. Alguém a estava chamando ou ela estava ficando louca?

Virou-se, atenta à qualquer ruído. Tirou outro prendedor da barra da sua blusa branca e levantou-se na ponta dos pés para colocá-lo na oura ponta do lençol.

"Gina."

Agora decididamente ela ouvira alguém a chamar, e não estava ficando louca. Virou-se, a varinha em punho.

"Não seja ridícula, Gina. Pense duas vezes."

Então ela entendeu subitamente. Como não reconhecera aquela voz de primeira?

- Tom... - disse ela. - Como?... O que você?...

"Não tenho tempo para explicações", disse uma voz, como se estivesse muito próxima ao seu ouvido. "Venha para B.Hall agora."

Gina estranhou, mas não quis discutir. Olhou para ver se não havia ninguém em volta e desaparatou.



- Olhe apenas para frente.

Era a voz de Bellatrix Lestrange que chegava aos seus ouvidos. Mal aparatara, sentia alguém atirar-lhe uma longa capa preta.

- Vista-se, antes que alguém nos veja.

Gina apressou-se em prender o fecho na sua blusa branca de algodão. Levantou o capuz e olhou pela primeira vez com atenção para a Comensal.

- O que está acontecendo? - perguntou, num sussurro, mas a outra apenas colocou o dedo indicador na frente dos lábios e fez sinal para seguí-la.

Gina subiu três escadarias, até a Ala Leste. Bellatrix parou em frente à uma porta e espiou para os lados, para ver se ninguém olhava. Depois de certificar-se, fez sinal para Gina entrar, que ela obedeceu, apertando a varinha dentro do bolso.

A garota se viu num aposento escuro, as janelas fechadas e as cortinas de veludo negro corridas. Mas uma única vela no centro da saleta iluminava o suficiente para ela enxergar quem estava ali.

A primeira pessoa que viu foi Narcissa. Esta atraiu seus olhos porque parecia estar tremendo. Lúcio estava logo ao lado dela. Um rápido olhar a fez ver que aparentemente todo o grupo cinco se encontrava ali. Bellatrix fechara a porta e atravessara o cômodo para ir se sentar ao lado do marido, Rodolphus, mas antes disso passara na frente de um homem que estava em pé com as mãos apoiadas em sua cadeira, e era aquele a pessoa o qual ela procurava ver desde que aparatara naquele castelo.

- Tom - murmurou, com alívio, adiantando-se a ir abraçá-lo.

Todos ficaram em silêncio por um tempo, em quanto os dois, mesmo que quietos, matassem as saudades naquele abraço. Gina simplesmente fechou os olhos e encostou o rosto no peito dele. À tanto tempo que não o abraçava, sentia seu cheiro, o calor dos seus braços...

- ...Como está o bebê? - perguntou Tom num sussurro, ao seu ouvido.

Gina sorriu. Ele se preocupava com o filho...

- Muito bem, querido - murmurou ela, suspirando.

- Está tudo bem com você? - perguntou ele, segurando seu queixo entre o indicador e o polegar, de modo que pudesse fitar seus olhos mesmo na sala escura.

- Claro que sim - respondeu ela, abrindo um grande sorriso. - E você?

- Falamos sobre isso depois - respondeu ele em voz baixa, com um sorriso triste.

Gina encarou-o por um momento, então eles tiveram que se desvencilhar porque ficar de carinhos na frente dos Comensais da Morte não era lá uma opção muito decente.

Ela sentou-se na cadeira onde ele estava apoiado quando ela entrou. Gina sorriu quando sentiu a mão com luvas dele no seu ombro, por baixo de seus cabelos.

Tom olhou para todos ao redor, que fitavam-no sem piscar.

- Então... - começou ele, num tom um tanto quanto triunfante - o velho grupo cinco está [i]reunido novamente[/i]...


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