De Volta Aos Planos



I


- Pensando em mulher, Tom?

Ele virou-se devagar para fitar Arkehon e viu que este ria.

- Estou brincando, oras! Certamente que você não ia se meter com esse tipo de coisa - disse o amigo, debochado.

- é que se engana... - respondeu com lentidão, ainda pensativo. - Mas não, não estou pensando em mulher... Estou pensando no meu filho.

Arkehon engasgou-se prontamente com essa resposta. Encarou exasperadamente Tom, com os olhos sem cor cheios d'água.

- Você não está falando sério! - disse com uma vozinha fina de espanto. - Você! Papai?! Não...

Tom deu ombros e voltou-se novamente para olhar o castelo. Mas Arkehon não ia desistir assim tão rápido. Passou por cima das raízes das árvores e foi sentar-se ao lado dele.

- O que fez para conseguir isso? Agarrou uma Comensal? Isso não é sensato, Tom, você sabe que não é legal fazer esse tipo de...

- Eu não agarrei ninguém - cortou ele, ainda olhando as nuvenzinhas cor-de-rosa que passavam por cima da Torre Oeste. - Eu não preciso disso.

- Oh, você é tão humilde, sabia? - debochou o amigo. Então deu uma cotovelada nele. - E então, maldito? Quem é ela?

Tom ainda mirava a Torre Oeste, sem sequer vê-la direito.

"Ela é certamente uma criatura superior à nos dois", respondeu, sorrindo. "Para me aturar até agora..."

Arkehon riu novamente. Disse que Tom certamente ficara biruta da cabeça e se afastara até a árvore em que estavam acampados.

Até então, ele não sentira necessidade de provocar, mas algo o fez dizer, sem se virar:

- Quem é aquela moça que estava com você? A mais velha, de cabelos compridos? - disse, numa voz impassível.

Arkehon demorou um pouco à responder, e sua voz quando o fez deu a Tom certeza de que este estava um tantinho preocupado.

- Naihra - respondeu, cauteloso. - O que tem ela?

Tom não se virou, mas deu um sorrisinho.

- Você gosta dela, não é? - falou, provocante. Como o amigo não respondeu, ele se virou.

"Cuidado, Arkehon... Essas coisas resultam na gente virando 'papai', como você disse", disse, sorrindo cinicamente. O outro parecia não saber o que dizer, por isso revirou os olhos. "E não pense que está enganado alguém, por que não está."

Arkehon mirou-o preocupado, então disse, baixinho:

- Como pode ter certeza?

Tom riu.

- Arkehon, formalidade demais, se é que me entende - explicou, pacientemente. - Eu sei, eu vivi essa experiência.

Mas como o outro continuou com uma cara espantada, ele sorriu e disse:

- Não acha que estamos um pouco velhos demais para ficar tendo esse tipo de conversa? - perguntou ao amigo, que também sorria, agora.

Por mais incrível que parecesse, Tom e Arkehon nunca se interessaram por mulher (nem por homem) enquanto eram jovens. Agora, contudo, alguma coisa parecia estar acontecendo, e pareciam estar vivendo a adolescência que gastaram com outras coisas. E pensando isso, eles achavam graça.

O outro ainda sorria debilmente quando disse:

"Acho."


II


- Draco - chamou Crabbe, metendo a cabeça à porta do seu quarto cautelosamente, depois de bater. - Arkehon Montrihmer está aí, e quer falar com você.

Draco engasgou e pulou da cama. Ele queria não ter ouvido direito.

- Montrihmer? Está aí? - exasperou-se. - E ele parecia bravo? - perguntou por impulso.

Crabbe se espantou com a pergunta.

- Não... Ele não parecia, não - respondeu o outro, confuso.

Draco pegou a varinha na mesa de cabeceira e foi até a porta.

- Venha comigo - falou Draco. Se ele fosse atacado, pelo menos tinha um amigo grandalhão para dar um soco em Arkehon, pensou, com um sorriso bobo.

Eles seguiram em silêncio por um momento, até o hall de entrada. Arkehon mirava curioso a gárgula próximo à porta, e nem deu sinal de ter percebido a chegada dos dois. Draco reparou que o outro estava sozinho, e sentiu-se mais seguro por isso.

- Montrihmer - chamou, só par ter certeza que o outro sabia de sua presença. Mas Arkehon não se virou para encará-lo.

- É, Malfoy - respondeu com desdém, de costas. - Geralmente é assim que as pessoas me chamam...

Draco sentiu uma pequena raiva despontar dentro dele. Mas controlou-se e perguntou pacientemente:

- Suponho que queira o pentagrama, não é?

O outro se endireitou, mas ainda assim não saiu do lugar.

- Bem, na verdade não - respondeu o outro, num tom calmo, mas um pouco triunfante. - Aquele pentagrama não está mais no quarto quinze, se é isso que você está pensando.

Draco ergueu uma sobrancelha.

- Não? - admirou-se, desconfiado.

- Não - reafirmou o outro. Então finalmente virou-se. Ele sorria. - Você tem um mês para consegui-lo para mim; caso ache que não vai conseguir, me diga agora que até hoje à tarde Rhane inteira estará atrás de você.

Draco piscou.

- O quê?

Arkehon sorriu.

- Você ouviu, Malfoy. Espero que perceba que estou sendo bonzinho com você - falou, calmamente.

Draco arregalou os olhos.

- E então? Não tenho o dia todo - rosnou o outro. - Vai aceitar minha proposta? - perguntou, sorrindo maliciosamente.

Ele arreganhou os dentes.

- Eu não tenho escolha, não é? - rebateu, furioso.

- É verdade, você não tem - respondeu Arkehon, ainda sorrindo.

Mas Draco não conseguia dizer nada. Um mês? Um mês? E ele não fazia idéia de onde haveria de estar o maldito do pentagrama!

- Então estamos combinados, Dragão Negro - disse Arkehon, colocando palavras na sua boca. - Eu venho daqui à um mês para pegar minha encomenda.

E, com uma reverência, deu um último olhar cruel à Draco e desaparatou.



- Conseguiu?

- O que está falando? É claro que eu consegui - respondeu Arkehon de maus modos. - O idiota está tremendo de medo de mim.

Tom sorriu.

- É, eu imaginei que estaria - comentou, com satisfação.

Arkehon passou por ele apressado.

- E você conseguiu?

Ele fez uma careta, mas endireitou-se quase instantaneamente.

- Não foi problema. Era minha por direito.

- E o resto? - insistiu o amigo.

- Já está tudo resolvido.

Então ficaram em silêncio por um tempo.

- O que vai fazer depois que conseguir a Ordem novamente? - perguntou Arkehon em voz baixa.

Ele deu um breve suspiro.

- Tirar um descanso de tudo isso, que é o que eu deveria ter feito à muito tempo.

Mas o outro ainda mirava-o sob a cascata de cabelos cinzentos.

- Tenho setenta e cinco anos, Arkehon - esclareceu. - Quando olho para tudo que passei, vejo que não aproveitei as boas coisas da vida, você me entende?

Arkehon deu um meio sorriso.

- Nos vemos daqui à alguns dias.

Tom retribuiu o sorriso. Quando virou-se para desaparatar, porém, o outro disse:

- Tom... Boa sorte.


III


Cara Luna Lovegood,

Preciso falar com Harry Potter. Para isso eu preciso da confiança de Dumbledore. Eu quero que conte à ele do plano. Quero que conte à ele que quero falar-lhes pessoalmente.

A segunda parte do que planejamos já está completa. Vou dar alguns dias de prazo para voltar a agir. Então, veremos...

Eu sei que não sou muito melhor que Draco Malfoy, mas posso parar com tudo isso.

Tudo de bom,

Voldemort.

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