As Terras de Rhane



Ah, antes de começar, eu queria lembrar que não sou especialista em astrologia, e tudo o que está escrito no fim do capítulo anterior é somente pura ficção. E muito obrigada pela leitura.


I



Depois que as votações para novo Ministro da Magia foram encerradas, o Ministério estava passando por um agitado momento de confusão. Embora tivesse certeza que Amélia Bones certamente administraria o mundo da magia muito melhor que Cornélio Fudge, ele preferia que não tivessem resolvido isso agora.

Harry ergueu os olhos assim que alguém aparatou na sua sala. Conhecia apenas duas pessoas que podiam fazer isso e, sendo que uma delas não haveria de aparecer por ali novamente assim tão cedo, já sabia quem era.

- Quais são as novas? - perguntou, sem levantar-se. Fez um gesto à cadeira vaga em frente à mesa, mas o outro não se sentou.

- A Srta. Weasley acabou de dar continuidade aos Slytherin ontem - disse Dumbledore, sério. - Madame Pomfrey disse que é um garoto.

Harry levantou um pouco mais a cabeça.

- Ela teve o filho?

- Sim. Molly e Arthur me escreveram.

Houve um ruído e a porta se abriu. Segundos depois Rony entrava. O amigo tinha os cabelos despenteados e olheiras, como se tivesse ficado um longo tempo acordado.

- Nasceu - disse, rapidamente, apenas olhando para Harry e o diretor.

- Sabemos - responderam os dois em uníssono.

- E então? Alguma notícia do pai do meu sobrinho? - perguntou, sentando-se onde Dumbledore se recusara a sentar.

Aconteceu um silêncio momentâneo.

- Ainda não. Mas se o que Sibila profetizou ainda o mês passado for concretizado, podemos esperar por sinais de vida em breve - falou o diretor, ainda sério.

- Bem, em todo caso, ele não é o problema maior agora - falou Harry, recostando-se na cadeira novamente. - Draco vai acabar com tudo se não parar de brincar. Ele não faz a mínima idéia do que está fazendo.

- Mas não sabemos se podemos contar com eles ainda, não é? Digo, aquela carta ao Harry, depois a rebelião, o relato da Gina e tudo mais... Talvez seja verdade que... O que foi, Harry?

Rony parara de falar e ele e Dumbledore encararam Harry. Ele levara a mão à cicatriz e apertava os olhos, chamando atenção mesmo que nem tivesse deixado escapar um lamento.

- Não é nada - murmurou ele, afrouxando um pouco o aperto nos olhos. - Sério. É saudades da Gina, o que parece; ele anda sentindo isso toda hora ultimamente...

Dumbledore encarava a cicatriz de Harry, curioso.

- Interessante. Eu não pensava que ele fosse capaz de sentir essas coisas de novo... - comentou baixinho, ainda olhando para Harry. - Consegue ver onde ele está?

Harry apertou os olhos novamente, concentrando-se.

- Não - falou em voz baixa. - Está tudo fraco demais, eu não consigo... Não, espere. Ele não tem os olhos abertos.

Dumbledore deu um suspiro.

- Seria muito mais fácil se ele permitisse... Acha que consegue se comunicar com ele?

Harry abriu os olhos. Se comunicar com Voldemort? Não, ele não pensara nisso. Não sentia tanto ânimo assim em puxar assunto com o assassino de seus pais, ou com o amante da mulher que ele amava. Não, definitivamente não queria ter que fazer isso.

- Eu, ah... perdi o sinal - resmungou rapidamente.

Rony pareceu desapontado e deixou os braços caírem ao lado da cadeira. O diretor, porém, olhou para ele de um modo penetrante, encarando-o nos olhos. Harry teve o cuidado de olhar para o outro lado, mas teve certeza que o outro percebera o que fizera. A cicatriz ainda incomodava-lhe na testa.

- Seja como for... - disse Dumbledore, mas ainda encarando-lhe, antes de mudar de assunto e de tom de voz. - Bem, quero ir pesquisar uma coisa amanhã mais tarde, gostaria que vocês fossem comigo, e a Hermione também. Harry, a Profª. Lovegood lhe pediu para entregar isso; Rony, Severo me avisou que ainda tem um pouco daquela poção para achar pegadas, se você quiser passar lá mais tarde; e Minerva disse que quer falar com vocês três sobre o que conversou com Sturgis em Grimmauld Place anteontem. Preciso ir. Até logo.

Harry e Rony acenaram brevemente, Dumbledore entregou uma carta à Harry e desaparatou.

O rapaz e o amigo se entreolharam.


II


Tom abriu os olhos. Embora estivesse ligeiramente magoado, conseguira sem querer interferir em uma conversa de Harry Potter e Alvo Dumbledore. E estavam falando dele.

Escutara uma coisa que fizera confirmar suas suspeitas: Gina dera a luz à um garoto. Seu filho nascera, sim... Seu filho...

E sobre que profecia Dumbledore falara? Não estava sabendo de profecia nenhuma e, pelo que parecera, certamente falava dele. Como podia, ser o principal protagonista de uma profecia e nem saber o que ela falava?

Observou de longe as torres de Basilisk Hall. O céu ficava cada vez mais escuro ao redor e luzinhas fracas iam se acendendo aos poucos dentro do castelo, saindo pelas janelinhas sem vidros. Queria tanto poder pegar Draco Malfoy e estrangulá-lo com as próprias mãos que não pensava que este poderia não sair do castelo. Além do mais, ele queria saber quem eram os cavaleiros que o atacaram no meio da noite e quase o derrotaram. Tinha a ligeira impressão que estavam trabalhando para o Dragão Negro... Esse apelido lhe dava náuseas...

Ele voltou a apoiar o pergaminho nos galhos e reposicionar a varinha acesa de modo que pudesse ler.


Olá.

Não posso mentir que me assustei ao receber a sua carta. Eu nem sei o que dizer. Contanto, o que o senhor me contou foi bem interessante e eu já fiz o que me pediu. Acho que está fazendo muito bem em se associar com Dumbledore; ele vai entender.

E obrigada por me explicar como fazer um Feitiço Para Restringir Cartas, é muito útil!

Quero muito ver Gina depois dessa.



Afetuosamente,

Luna Lovegood




Terminou de ler a carta ligeiramente boquiaberto, as sobrancelhas erguidas. Bem que Gina havia dito que, se quisesse alguma coisa, era só falar com Luna Lovegood. Sinceramente, ele esperava mais que "não posso mentir que me assustei ao receber a sua carta", embora tenha facilitado as coisas. Ele é que se assustara.

Contudo, era ainda melhor assim.

Suspirou e voltou o olhar para o castelo. Talvez estivesse fazendo errado, entregando os pontos, mas sempre crera que Dumbledore sempre dava uma segunda chance para quem quer que seja. Esperava que ele lhe desse agora também. Sem seus amigos para contar, tinha que procurar apoio com os inimigos... E isso era tremendamente irritante.

Mas contava com a resposta de Luna. "Já fiz o que me pediu", ela já fizera o que pedira...

Procurou uma posição mais confortável dentre os galhos da árvore e buscou dormir um pouco. No escuro, devidamente camuflado com suas vestes negras, não teria com o que se preocupar por enquanto.


III


Tinha pouco tempo para conseguir, finalmente, o que queria. Poderia entrar nos terrenos de Basilisk Hall sem ser descoberto, até que chegasse a hora de agir.

Conseguiu transfigurar os fechos de prata de sua capa por uns mais comuns. Conseguiu também uma máscara, para que pudesse se misturar aos Comensais da Morte por um tempo até que conseguisse bisbilhotar o suficiente para ter uma idéia de como atacar.

Já estava lá há um tempo, nos jardins, semi-oculto por um grande arbusto. Foi quando ouviu vozes muitos baixas, de gente que parecia se aproximar por trás. Escondeu-se há tempo atras de uma grossa árvore para escutar.

- Vamos ficar aqui e observar. O fedelho já deve estar se borrando de medo de nós. Mais uma noite e atacamos - dizia uma voz agressiva que ele conhecia muito bem.

Um rapaz entrou em seu campo de visão e enterrou uma espada pontiaguda na terra. Ele reconheceu aquelas lâminas como as que o tentaram matar.

- O senhor está com fome, Sr. Montrihmer? - perguntou uma voz feminina e rouca.

- Não - respondeu o homem. - Mais tarde.

Este entrou no seu campo de visão. Apoiou um pé calçado com uma bota negra sobre a raiz de uma árvore e fixou as torres do castelo com seus olhos incolores. Ele bebia água de um cantil e seus longos cabelos cinzentos e desgrenhados estavam soltos. Então parou e disse:

- Poderíamos pegar um desses babacas. Provavelmente o Dragão Negro não gosta de fazer segredo; senti isso da última vez que conversei com ele. É ridículo o modo como administra isso tudo, um grande desperdício! - e deu maior entonação à essa "grande". - Já poderiam ter ganho metade do mundo com os homens que tem, mas não... Esse Draco Malfoy vai fazer questão de perder tudo.

Voldemort cerrou os dentes. Até Montrihmer achava isso. Todo o esforço que tivera para levantar o império da Ordem das Trevas, e o idiota do garoto estava destruindo tudo.

O homem continuou, com desdém.

- Aposto que todos os "morceguinhos" aqui sabem o que ele planeja. Eu gostaria de descobrir, vocês não?

Os outros sorriram e as duas garotas sairam por trás das árvores. O rapaz perguntou:

- Não quer que eu fique aqui, senhor? - perguntou, colocando a mão na bainha da espada.

- Não precisa, Perseus - disse o outro calmamente.

Voldemort sentiu-se triunfal. Quando o rapaz saiu por trás dos arbustos e seus passos não eram mais audíveis entre as folhas secas, ele pegou a varinha nas vestes e esperou Montrihmer se aproximar.

Foi tão rápido o que se seguiu que ele sabia que não teria sido capaz de fazer o que fizera se não estivesse usando o pentagrama. Com um gesto da mão fez com que o outro caísse e, antes que este soubesse o que estava acontecendo, se viu acuado com uma varinha apontando-lhe o rosto.

- Arkehon Montrihmer - disse suavemente, encarando o outro. - Parece que nos encontramos novamente.

Arkehon ficou olhando abobado para seu rosto, até que o reconheceu.
- Voldemort! Você não morreu, seu cão maldito!? - sibilou, cerrando os punhos.

- Não, Montrihmer. Não foi dessa vez - disse gentilmente, mas sorrindo com ferocidade. - Não fique achando por aí que conseguiu me derrotar. Esse dia está longe de acontecer.

Arkehon mirou-o estupefato, o rosto de pele clara corando, parecia ter ficado mudo de repente. Então conseguiu abrir a boca e falou:

- Não me leve à mal, velho amigo, mas fui contratado. Negócios não podem se misturar com a vida social, como você deve se lembrar...

- Claro. Eu sei disso - falou educadamente. - Portanto, eu posso até esquecer que você tentou me fatiar com uma espada se você esquecer o contrato que faz com aquele pequeno idiota. Mesmo porque - comentou com desdém - ele não tem o que te prometeu.

Arkehon pousou os olhos no pingente em seu pescoço e pareceu pensar no caso.

- E se eu desistir dessa obsessão de te matar, seu velho cafajeste, você me dá o pentagrama? - perguntou Arkehon, meio furiosamente indeciso.

Ele observo o outro por um tempo, satisfeito.

- É claro que não!, pensa que fiquei idiota com o tempo ou coisa assim? - disparou, furioso.

Então eles ficaram um tempo se encarando; tempo suficiente para ambos caírem na risada.

Quando finalmente recuperaram o fôlego, Arkehon Montrihmer fechou os olhos e disse:

- Eu não devia ter aceitado essa porcaria de associação - falou, sorrindo com amargura. - O povo das montanhas se sentirá honrado em ajudar um velho amigo. Que quer que façamos?

Voldemort sorriu. Abaixou a varinha e ajudou o outro a se levantar.

- Mestre Kahyladon estava perguntando por você, amigo - falou Arkehon, deixando transparecer um pequeno sotaque estranho na voz, sorrindo para ele. - Faz tempo que você não aparece por aquelas bandas. Pensei que tivesse nos esquecido.

- Cheguei a me esquecer, Arkehon - confessou. Então olhou para o castelo, onde a Torre Oeste era visível. - Mas me lembrei de novo nesses dias.

Virou os olhos para o amigo.

"Pode me ajudar dessa vez?"

Pacientemente, contou o que queria ao homem de Rhane.


IV


Rhane não era longe. As extensas terras dos cavaleiros matadores eram, sim, muito bem escondidas. Bem ao norte da Islândia, nas montanhas mais frias e longínquas, habitava um povo antigo e desconhecido aos trouxas, que durante muito tempo se deteve com a maior parte dos conhecimentos mágicos obscuros de todo o mundo. Bruxos e bruxas em procura de poder rumaram para o reino de Rhane, mas poucos chegaram.

Além de bem escondidas, as terras de Rhane eram muito bem protegidas contra magos e feiticeiros indesejáveis, pelo temor que tinham de que alguém pudesse roubar suas sabedorias e usá-los contra eles próprios. Os que chegavam vivos ao reino dos rhanires tinham a permissão para aprender a Magia Negra que se guardava durante séculos naquele povo.

Mas muito antes disso, há muitos e muitos anos atrás, aproximadamente há mil anos, conta-se que um bruxo das Trevas conseguiu cruzar o mar violento e as tempestades que guardavam Rhane, e depois lutou com os cavaleiros guardiões, vencendo todos. Diz a lenda que esse homem vinha das Ilhas Britânicas, refugiado da ira dos velhos amigos, que ele jurou castigar. Esse bruxo era um dos fundadores de uma escola de Magia e Bruxaria, que viria a ser grande e reconhecida, mas que durante muitos anos viveu tempos funestos e sombrios. Esse homem, cujo nome era Salazar Slytherin, vinha mudar a vida dos homens das montanhas. A lenda dizia que Slytherin teria deixado uma missão aos homens de Rhane, o segredo de um poder que poderia ser somente concedido ao seu verdadeiro herdeiro, o único Filho das Trevas. Esse segredo teria ficado sob a guarda do príncipe regente de Rhane, um poderoso mestre feiticeiro chamado Khayladon, e que seria passado de geração em geração, até que chegasse o dia de entregá-lo, como o prometido.

Salazar Slytherin, porém, ao ir embora, depois de dez anos, levava também um filho. Um pequeno descendente de Rhane, que levava o poder adormecido dentro de si. O filho dele o herdaria, e também o filho do filho... até que chegasse a hora do poder se libertar.

Quando Tom Riddle resolveu ir para lá, não sabia de nada disso.

Com certeza fora a melhor aventura de sua vida quando ouviu uma bruxa na Travessa do Tranco dizer que estaria levando três pessoas para Rhane, por trezentos galeões. Ele não tinha trezentos galeões, mas tinha cerca de três meses para conseguir - ou melhor, aprender um forte feitiço de ilusão.

E foi o que fez.

No dia marcado, apareceram várias pessoas interessadas, mas apenas cinco com dinheiro. Um deles foi descoberto, usando dinheiro falso, e depois disso ele nunca mais viu o homem, que foi encurralado por um bando em algum beco... Uma jovem desistiu, acovardando depois do que viu. Um homem com aparentemente mais de trinta anos pareceu pagar com dinheiro verdadeiro. Uma mulher estranha pagou com um grosso colar que tinha no pescoço, que parecia feito de ouro e rubis. Ele fora o único que pagara com trezentas pedrinhas, mas também o único que via trezentas pedrinhas. E Tom conseguiu uma oportunidade perfeita de ir para a terra da Magia Negra.

Por um momento receou que tivesse feito um péssimo negócio e que estaria pagando pelos próprios nuques. A viagem foi em uma porcaria de jangada velha, a chuva caia torrencialmente e o vento soprava sem piedade. Imaginou como é que a caloteira daquela bruxa pensava que aquela imitação de embarcação encharcada chegaria na Islândia inteira.

Ele vira outros barcos de bruxos no litoral. Eram todos grandes e reforçados, com mágica em cada canto. Quando lhe disseram que o seu era aquele pedaço de madeira lascada e úmida, pensou realmente em pedir seu dinheiro de volta, quando se lembrou que eram apenas pedras. E foi.

Agora tinha um ligeiro arrependimento de sua escolha. Para completar sua perplexidade, no meio da trajetória a mulher fizera questão de abaixar a vela e remar. Sendo que estavam sob ondas agitadas de mais de três metros de altura, não foi uma idéia muito bem vinda. Os três reagiram, resistiram e foram completamente ignorados.

- Ah, é?! Então porque não olham para a esquerda de vocês? - disse a bruxa, já irritada com as tentativas dos passageiros de impedi-la.

Tom olhou desinteressado, mas boquiabriu-se quase que imediatamente. Uns dez barcos gigantescos vinham do lado contrário. Vários das grandes embarcações que ele vira saindo do cais estavam indo paralelamente em encontro à eles. Um relampejar cinzento e o navio da frente afundava. Outro relampejar e o que vinha logo atrás também naufragava. Paralisado, demorou um tempo para perceber que eram os barcos grandes que vinhas da ilha que estavam atirando.

- Genial! - exclamou, rouco, cuspindo um bocado de água. - Assim os barcos grandes não vão nos ver!

- É isso que eu estava tentando dizer, bobinho - retrucou a bruxa mal-humorada, fazendo força para remar.

Por mais incrível que possa parecer, eles conseguiram passar por entre os grandes navios quase invisíveis, e, o que pareceu a ele muitas horas depois, conseguiram colocar os pés em terra firme, ou melhor, gelo, mais molhados do que nunca.

Então olhou ao redor e não via nada, à não ser neve e mais montanhas de neve. Quando virou-se para perguntar à bruxa que direção tomar, reparou que ela já se afastava com a canoa de volta para o continente.

- Aonde pensa que vai? - gritou para a mulher, que tinha um misto de medo e satisfação no rosto. - Como espera que voltemos para o continente?
A bruxa abriu um sorriso nervoso, mas claramente malvado, e gritou em resposta.

- Eu não vou ficar, tenho medo deles. Os trezentos galeões eram só de ida. Se quiserem voltar, me paguem mais trezentos! - E então riu com a cara deles.

Virando-se, viu uma pequena trilha que quase desaparecia sob a neve que caía. O caminho estava cheio de pegadas de pelo menos cem pessoas. Então Tom a seguiu, atento à qualquer movimento que não fosse da neve caindo. Às costas, escutava os passos dos outros dois colegas de viagem.

De alguma forma sabia que tinha gente por perto. Talvez mais de uma pessoa. Sentia algo, uma presença estranha, maligna... poderosa...

Do nada, então, repentinamente surge algo ao longe, algo negro no meio da imensidão branca, aparecendo por cima de um monte de gelo. Por mais que ele fixasse os olhos na figura, não conseguia ver por causa da neve que caia insistentemente. Mais tinha a impressão que, o que quer que fosse, tinha olhos, e estes estavam fixos nele.

Enquanto observava, mais dois borrões pretos despontaram no topo do morro branco. A má impressão que tinha já o fizera agarrar a varinha dentro do bolso da capa. Então um voz alta, que ecoou pelas geleiras ao redor, disse, com um forte sotaque estranho:

- Vocês ousaram invadir as terras de Rhane, estranhos.

Então ele enxergou, muito difusamente a silhueta de três homens imensos, com longas capas, sobre cavalos negros.

- Quem são vocês? - perguntou, em voz alta, que ecoou como a do outro.

- Nós? Somos os guardiões da Terra Perdida.

E inesperadamente, sem dizer mais nada, os homens vieram cavalgando em sua direção. Rápidos.

Um brilho de uma lâmina o alertou quando estavam à menos de cinco metros de distância. Tom jogou-se para o lado e rolou à tempo de evitar ser pisoteado pelos cascos duros de um dos cavalos. O lugar onde estivera inicialmente estava com um profunda fenda e um homem com um capuz grande de peles arrancava uma espada pesada do chão.

Ele viu rapidamente os outros dois que haviam chegado com ele. O homem acabava de receber uma espadada que varara seu peito e, no instante seguinte, a neve já não estava mais tão branca.

A mulher fora mais esperta. Proclamara um tipo de maldição que fez um tanto considerável de fumaça escura anuviar a visão de todos. Por um momento pensou que conseguira escapar, mas quase na mesma hora a viu tropeçar de joelhos ao seu lado e um dos cavalos baixar as patas dianteiras diretamente na sua cabeça.

Sabendo que era o único visitante que restara da recepção de boas vindas, resolveu se mexer. A fumaça se dissipava e ele pode ver os cavaleiros. Um deles estava muito próximo e levantava a espada para ele.

- Impedimenta - bradou, levantando-se, a voz rouca de tanto engolir água gelada na vinda.

O homem estacou e caiu do cavalo no meio da neve, duro como pedra. O cavalo negro sem cavaleiro trombou com outro dos homens e o derrubou também. Agora o guardião enfurecido vinha em sua direção, a pesada espada prateada erguida acima da cabeça.

Pensou em um milésimo de segundo. O homem ganhou velocidade e deferiu o golpe contra o outro, que foi praticamente decapitado. O detalhe é que Tom Riddle já desaparatara momentos antes, e quem foi acertado foi o homem imobilizado ao chão.

Rindo, apareceu três metro atrás do outro. Este virou-se urrando, completamente coberto de sangue do outro guardião. Tom ia matar o homem do modo mais pratico, mas foi atirado no chão pelo terceiro cavaleiro, que passou por ele rápido, mas não o suficiente para impedir de conseguir chutá-lo.

Ele virou-se de costas à tempo o suficiente de ver que estava para ser esmagado como a outra bruxa.

- Transmorphus! - gritou, esticando a varinha à tempo.

O cavalo foi encolhendo rapidamente e, quando saiu voando em forma de um corvo, o homem que estava em cima simplesmente capotou pelo chão, mas, para infelicidade de Tom, não foi o suficiente para quebrar-lhe o pescoço.

Apenas deu tempo para que corresse para longe antes que o homem conseguisse levantar. Quando se viu de pé, o outro cavaleiro já estava com a espada levantada bem em frente dele, o que o obrigou a desviar e girar por trás deste. Quando parou às suas costas, enquanto o guardião tentava puxar a espada da neve, ele mirou a varinha e disse:

- Avada Kedavra.

Um simples raio de luz verde e este desabou de borco na frente do outro, que finalmente tirava a cara do gelo.

O homem cuspiu um tanto de neve e perguntou, espantado:

- Quantos anos você tem?

- Dezenove - respondeu, apontando-lhe a varinha, mas o homem não parecia querer reagir, agora que estava sozinho. - E o que isso te interessa?

O homem continuava mirando-o com os olhos arregalados.

- Você derrotou três guardiões de Rhane sozinho - admirou-se com aquele sotaque estranho.

- Eu ainda não acabei com você - rosnou Tom, aproximando-se lentamente.

O homem xingou alguma coisa em algum dialeto que ele não conhecia. Quando levantou a varinha para acabar com o último guardião, este disse rapidamente:

- Você não seria o último descendente de Salazar Slytherin, seria?

Ele parou à meio caminho do que estava fazendo.

- O que sabe sobre Slytherin? - perguntou, esquecendo-se da cautela. Sua curiosidade era maior que o seu senso de perigo.

O outro deu uma risada breve e rouca.

- Praticamente tudo.

Ele continuou mirando o homem, sem saber o que dizer. Este sentou-se na neve e ficou fitando-o de um jeito irritantemente calmo.

- Mas não me diga, você é o Lord das Trevas - disse o guardião. Escorria um filete de sangue de sua boca, provavelmente do tombo, mas ele sorria. - Não é? O descendente de Slytherin? Vamos!, tenho ordens para reconhecer e levá-lo para Rhane.

Tom começou a indagar se este estaria falando a verdade.

- Se eu disser que sim, como pode provar que eu sou a pessoa que procuram? - perguntou, desconfiado.

- Já vi o bastante - respondeu o outro numa voz rouca. - Você matou meus dois amigos aqui. - Ele apontou para os outros dois, mortos. - Acho que ainda não nos apresentamos - disse o homem, voltando o rosto claro novamente para ele. - Sou Hildren Täyh, Primeiro Guardião da Trindade Wethühad que protege a entrada Hknät de Rhane, membro da Guarda Real do Supremo Khayladon XIV.

Tom não entendeu metade do que ele disse, mas mesmo assim respondeu:

- Tom Riddle; ou melhor, Voldemort - apresentou-se, simplesmente. Como o outro continuou interrogando-o com os olhos, cerrou as sobrancelhas e completou, com relutância. - Está bem, então... Sou o herdeiro de Slytherin. Está satisfeito agora?

O outro sorriu.

- Yïht. Sabe montar?

- Não. Por que não posso simplesmente aparatar? - perguntou, meio contrariado.

Hildren Täyh sorriu novamente.

- Há muito o que aprender, jovem mestre. Não se pode simplesmente entrar aparatando em Rhane.

Mesmo assim ele assobiou duas vezes diferentes e os cavalos negros que estavam trotando pela neve sem rumo vieram em direção aos dois.

- É fácil. Já está selado. É só por o pé aí e dar um impulso para cima - explicou o guardião.

- Não me diga - murmurou com ironia, obedecendo contra a vontade. O cavalo era extremamente obediente e ficou quase imóvel enquanto ele subia.

Até conseguir, o outro já estava montado observando-o.

- Terá tempo para aprender - comentou. - Venha comigo, Khayladon lhe explicará tudo, assim espero.

Enquanto avançavam por entre as montanhas, o guardião abaixou o capuz e Tom pode ver que este tinha cabelos lisos amarrados na nuca tão brancos quanto a neve à sua volta, embora suas feições não fossem velhas.

O guardião olhou-o, com olhos claríssimos de pupilas amarelas.

- Sabe o que é estranho? Este cavalo que está montando e o mais rebelde da guarda, milorde.

Ele olhou atentamente par ao outro. Estava indo para Rhane, a terra onde o basilisco de Hogwarts lhe dissera para ir. Estava montado em um cavalo maluco que ficara bom de repente e nunca tivera toda essa admiração de alguém. Mas estava gostando...


V


Os sete anos que ficara em Rhane fora o suficiente para aprender tudo o que queria e mais um pouco. Khayladon era o bruxo mais poderoso que conhecera, com a exceção, talvez (relutava-se em admitir), de Dumbledore. Espantara-se com o tanto de poder que fora capaz de controlar. Aprendeu as Maldições Imperdoáveis e aperfeiçoou as que já sabia, aprendeu táticas de batalha, aprendeu como concentrar o poder para transportar pessoas e quebrar barreiras anti-aparatação, descobriu técnicas incríveis de decifrar o futuro, aprendeu a ser mais frio e cruel do que antes e, o melhor de tudo, aprendeu praticamente tudo sobre o seu passado e os Slytherin.

Na época em que chegara, Khayladon XIV tinha somente mais um aprendiz: Arkehon Montrihmer. O outro era um rapaz ainda mais estranho que ele. Tinha cabelos lisos (quando resolvia pentear, para variar) e cinzentos até a cintura, olhos completamente brancos, tirando os dois pontinhos negros reconhecíveis abaixo das sobrancelhas quase transparentes de tão claras, uma expressão na cara de poucos amigos e uma mania horrível de querer ser melhor do que Tom. Fazia de tudo para que fosse o aprendiz favorito de Khayladon e nunca dizia não para o mestre, ao contrário de outras pessoas, à qual pouco se importava de olhar no rosto ou responder alguma informação. Arkehon era uns dois anos mais novo que ele estava treinando desde os cinco anos, pelo que soubera, o que significava que, de certa forma, Arkehon era melhor do que ele. Infelizmente, para ira do outro, o mestre não achava isso.

Por outro lado, Arkehon sempre fora desajeitado demais para cumprir as tarefas que mestre Khayladon lhes propunha, e também não sabia falar inglês direito, o que dava a oportunidade de Tom falar coisas que o outro não entendia sempre que passava por perto, com um sorriso idiota. Mas com o tempo ele foi aprendendo e ele não podia mais fazer isso. Terminados os sete anos, Tom iria embora, e Arkehon ficaria treinando por mais muito tempo, para entrar para a guarda de Rhane.

Tirando que o colega era mais obcecado em competir do que conversar, Arkehon era um cara legal. Também gostava de matar, o que era um ponto em comum, e também era de sua família. Pelo que soubera, os Montrihmer eram durante muitas gerações parentes dos Slytherin. Parecia que um Montrihmer era irmão da mulher de Salazar, e desde então todos eles eram obcecados em entrar para a guarda de Rhane.

Hildren Täyh também se revelara um ótimo amigo, mais até que admirador oficial. O guardião sempre ficava os vendo treinar quando tinha seu tempo livre. Ele se encantara com a forma como Tom conseguira matar dois guardiões rigorosamente treinados em menos de dez minutos.

Quando Tom estava para ir embora, na última semana, ouve um pequeno banquete na modesta casa de Khayladon (cerca de algumas centenas de metros de terreno no centro do reino, um discreto palácio de seis andares), onde, depois, teve uma séria conversa com o mestre. Este lhe dissera que havia uma morada que lhe pertencia, ao norte da Inglaterra, chamada Basilisk Hall, de acordo com a informação que deixara Slytherin na sua estada no reino. Disse também o que era preciso fazer para encontrá-la, porque, como tudo o que era secreto, Basilisk Hall estava muito bem escondida. Disse também que seria bem vindo se quisesse algum dia voltar para Rhane, e concedeu-lhe o direito de escolher dois homens do reino para acompanhá-lo em sua saga.

Tom, ou melhor, agora oficialmente Voldemort, pensou um pouco. Gostaria de levar Arkehon, mas este não haveria de querer deixar sua terra. Sentindo que não devia forçar o outro à nada, mesmo porque seria uma tarefa dos diabos fazê-lo obedecer suas ordens, também devia algum respeito à amizade que fizera. Por fim decidiu levar apenas Hildren. O guardião sentira-se lisonjeado e aceitara na mesma hora.

Então partiu, deixando Rhane para trás. Não sabia que viria a encontrar o velho amigo algum dia novamente, e que neste encontro haveriam de estar um contra o outro.

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