Cale a Boca e Me Escute



I


Gina estava na sala, embalando o bebê para que este dormisse; Fred e Jorge haviam saído essa manhã para a loja; o restante do pessoal estava trabalhando, salvo Gui, que estava de folga, e Molly.

O irmão chegou do quintal, batendo a porta. Com o barulho, Richard começou a chorar novamente. Gui definhou com o olhar maligno que Gina lançou sobre ele e aproximou-se, com ar culpado.

- Desculpe - sussurrou, espantado.

Gina não respondeu. Apenas olhou aborrecida por mais um tempo, antes de abaixar os olhos para o filho.

- Shhh... Rick, quietinho. Não se incomode com titio Gui; ele é um troglodita mesmo...

- Gina! - censurou em voz baixa, mas divertindo-se. - Me dá ele aqui.

Ela simplesmente ergueu uma sobrancelha.

- Como?

- Me dá ele aqui - repetiu o irmão, impaciente.

- E desde quando você cuida de criança? - perguntou Gina, desconfiada.

- Desde que tinha metade da sua idade, sua boba. Acha que eu nunca troquei fralda da "Gininha"? - disse, com um sorriso maroto.

Ela hesitou um pouco, depois deixou que ele pegasse o garoto, com um pequeno receio. Richard berrou mais um pouco quando Gina o entregou e ficou mirando-a, como se perguntasse como a mãe fizera isso com ele. A garota deu um leve sorriso.

- Então, menino feio. Vamos conversar de homem para homem - disse Gui, numa voz brava, olhando para o sobrinho. - Não fique gritando desse jeito. Olhe só o seu tamanho... Acha justo fazer tanto barulho assim, seu nanico folgado?!

- Gui... - começou Gina, duvidando do método do irmão, mas para seu espanto Richard calou-se.

O garoto ficou olhando para o tio, com os olhinhos escuros arregalados, sem piscar. Gui continuou encarando-o por um momento, depois entregou-o de novo à Gina.

- Não deixe ele ficar muito mimado, sim? - disse o irmão, com um ar de quem sabe das coisas.

- Você costumava usar esse tratamento de choque comigo e com Rony quando mamãe não estava olhando? - perguntou Gina, ainda surpresa.

- É - afirmou Gui, sorrindo com mais vontade que nunca. - Sempre funcionava - acrescentou.

Houve um pequeno estalinho e alguém aparatou na cozinha. Segundos depois, Harry aparecia no arco da sala. Gina corou e desviou os olhos.

- Bom dia, Harry. Eu, ah... Acho que vou subir um pouco - falou Gui depressa, e desapareceu na escada.

Gina levantou os olhos brevemente. Era a primeira vez que via Harry desde o dia em que eles se confrontaram em Hogwarts. Na ocasião, ela e Tom enganara os Weasley para conseguir o pentagrama, e Harry fôra o único que não acreditara. Mesmo assim não fôra o suficiente e Rony entregara o objeto. Gina podia ver que Harry ainda não a perdoara, pelo jeito como a olhava.

- Rony não está, Harry - disse Gina, tornando a desviar os olhos para Richard.

Ele não respondeu de imediato.

- Eu sei que não. Vim falar com você.

Gina piscou, mas não levantou os olhos.

- Comigo? - repetiu, embora tivesse escutado muito bem.

Ouviu os passos de Harry se aproximando. Relutava-se intimamente para não erguer os olhos. Viu os pés dele entrarem no seu campo de visão.

- Vim ver como você está. - Ela ouviu a voz de Harry.

Ele viera saber como ela estava!... Esquecera-se de que Harry era uma pessoa decente. Não conseguiria encará-lo nem se quisesse.

- Eu estou bem - murmurou ela.

Harry olhava-a, mas não parecia condená-la.

- Podemos conversar? Não precisa se preocupar agora com o que você fez para mim. Eu não me importo mais - disse Harry, a voz ligeiramente cansada.

Gina então levantou os olhos. Parecia sincero, pensou ela. Mordeu o lábio inferior e ficou mirando-o, pensativa.

- Certo - murmurou. - Se podermos ir para meu quarto... Tenho que fazer Rick dormir.

O outro concordou e os dois subiram. Nenhum deles falou nada até que chagassem ao quarto. Harry abriu a porta para ela e os três entraram.

Gina sentou-se na cama e pediu à Harry que se sentasse na cadeira da escrivaninha. Richard pegara uma mecha de seu cabelo e brincava de puxar, então ela teve que ter uma pequena luta silenciosa com o filho por alguns segundos, até que conseguisse falar com Harry, que tinha um leve sorriso ao vê-la tentar desvencilhar o cabelo das mãos do garotinho.

- Ora, não ria! - disse Gina, exasperada, mas no momento em que levantou os olhos para repreender Harry, Richard pegou outra ponta de seu longo cabelo ruivo e colocou na boca. Ela gastou mais uns preciosos minutos tentando fazer com que o garoto não pegasse mais seu cabelo, o que foi extremamente difícil, porque toda vez que ela dizia "não pode, não pode!", Richard parecia achar que ela estava brincando, ria e puxava mais ainda.

Terminou por caindo na risada e desistindo.

- Ah... - disse ela, conformada. - É teimoso que nem o pai...

- Percebe-se - resmungou Harry, ainda com ar de riso, mas obviamente não arriscando-se a irritar Gina novamente.

Gina olhou para Harry, com curiosidade. O que ele faria se soubesse que poderia agora estar cuidando de Richard como um pai, e que poderia estar casado com ela agora? Quando percebeu, já estava contando tudo.

Harry escutava, parecia atento, interessado, mas Gina não sabia se ele ousava desconfiar ou não. Ele apenas escutava.

- Acredita em mim? - perguntou a garota por fim, tendo Richard finalmente dormido com a falação da mãe, e que ela ainda não percebera.

Harry mirava o chão. Ele não respondeu de imediato, mas então, deu um suspiro e disse:

- Bem, eu já vi tanta coisa que eu cria não existir que eu não duvido de mais nada.

Ele levantou a cabeça e viu Richard.

- Ah, olha, ele dormiu - avisou.

- Oh. Ótimo - suspirou ela.

Levantou-se com cuidado para colocar o bebê no berço recente que estava ao lado de Harry. Richard nem se mexeu quando Gina o deixou lá, o que foi um alívio.

- Mamãe está pegando demais esse garoto... - resmungou ela, mirando o filho. - O que você queria falar comigo, Harry?

Ele esperou ela se sentar novamente para falar o que tinha para dizer.

- Bem... Eu queria pedir desculpas. - Foi somente o que Harry falou.

- Desculpas? - repetiu ela.

- É. Por ter sido meio... er, grosseiro - disse o outro em voz baixa.

Ela sorriu.

- E você acha que eu me importava? Harry, querido... - começou ela, divertida. - Quando se tem uma vida quase conjugal com Lord Voldemort tem que estar preparada para enfrentar, digamos, muito mal humor... - disse, revirando os olhos.

- Só quero que me perdoe. Por tudo - disse Harry, sobrepondo-se.

- Está bem, Harry - falou ela, conformando-se. - E você me perdoa também?

Harry encarou-a.

- ...Por fugir de casa e... Você sabe - completou, sem terminar a frase.

- Mudar de lado? - Ele deu um pequeno sorriso. - É claro. Contanto que paremos de tentar nos matar uns aos outros, não é?

Gina sorriu também.

- É o que espero. Vamos viver em paz, todos nós, depois que essa confusão acabar? Tom já me disse que não vai continuar. E você, Harry?

Ele não respondeu de imediato. Ficara um pouco mais sério.

- Eu não quero confusão, mas eu não disse que já o perdoei por tudo que ele me fez passar - disse secamente.

Gina suspirou.

- Eu imaginei que não. Bem... - Ela levantou-se para espiar pela janela. - É um começo, Harry. Acho que eu também não perdoaria, se estivesse no seu lugar. Por isso não o repreendo.

"Mas só fazer as pazes já é uma grande coisa. Sim, Harry... Acho que senti falta da sua amizade."

Ela se virou e encarou-o. Ambos sorriam.

- Eu também senti sua falta, Gina...


II


Aquela conversa no começo do dia tirara um grande peso de sua consciência. Agora sabia que Gina não o odiava, e que queira-lhe bem. Harry também havia gostado muito do bebê, mesmo sendo filho de seu mais odiado inimigo com a mulher que ele amava. E aquela noite, quando lembrou-se que agora poderia estar casado com a mulher que queria com um filho que não era dele mas era inocente de tudo o que já acontecera, Harry deu um sorriso torto. Ele tinha, então, a plena consciência que não queria viver aquela vida, já que teria uma culpa nas costas imensa - a culpa de ser o assassino que tirara o marido de Gina e o pai de Richard. Ele não saberia viver com isso.

- Harry?

Ele virou a cabeça para mirar os contornou difusos de Rony, bem ao lado no quarto, no escuro.

- Ainda está acordado? - perguntou Harry.

- Não, idiota. Eu sou sonâmbulo - respondeu Rony ironicamente. Harry preferiu não responder, por isso perguntou:

- O que foi?

Rony não respondeu de imediato. Parecia estar pensando para falar.

- É que eu, bem... andei pensando... - disse o amigo, baixinho, meio sem graça. - Será que... Hermione gostaria que eu a pedisse em casamento, depois que tudo isso acabar?

Harry também não respondeu de imediato. Então ele sorriu, meio que perdido em seus pensamentos.

- Ronald Weasley! - brincou ele.

- O quê? - perguntou o outro, em tom de desafio, embora Harry tivesse certeza de que estivesse claro Rony estaria totalmente corado.

- Já devia tê-la pedido, seu lerdo! - disse, num tom sério, embora o escuro escondesse seu sorriso. - Veja bem, ela pode se cansar de esperar...

- Cale essa boca, Harry - pediu Rony, furioso.

Mas Harry deu uma risadinha. Seus dois melhores amigos iam se casar, e ele ficaria sozinho... mais uma vez.

Por um instante considerou a idéia de ter Gina de volta; ele sabia como conseguir isso. Era apenas concluir o que já dizia a profecia, e honrar o nome de seus pais, ter a merecida glória que desejava à tanto tempo...


III


Luna acabara de receber a carta. Saiu de seu quarto devagar, os chinelos de pelúcia nos pés e o robe roxo com estampas negras de bufadores de chifres enrugados (Nota: não pude resistir ^^' ). Os cabelos compridos e louros estavam presos em um rabo de cavalo e ela levava um pergaminho amassado na mão.

Foi andando pelo corredor um pouquinho apresada. Já passavam das oito da noite, e não viu nenhum aluno por aí. Quando se lembrou que adorava sair por aí na calada da noite, fugindo dos professores, principalmente se era para ir às aulas de AD, deu um sorriso sozinha. Ora, nunca imaginara que seria um dos que ficaria caçando alunos fora da cama.

Demorou bem uns cinco minutos para, na sua velocidade, chegar à sala de Dumbledore.

- Aspirina - recitou, e a gárgula de pedra moveu-se para o lado.

Ela pegou uma carona na escada automática e, segundos depois, estava lá em cima. Bateu uma vez na porta.

Demorou um pouco para que a porta fosse atendida. Luna escutava o que poderia ser uma conversa aos murmúrios, que parou na hora em que ela bateu.

Então a porta se abriu. Ela não se deparou com Dumbledore, mas sim com um homem de cabelos negros até os ombros, uma cara de poucos amigos e que ela reconheceu como Snape.

- Boa noite, professor - disse ela, calmamente. Então espiou pelo canto e viu Dumbledore à escrivaninha. - Eu gostaria de falar com o senhor, diretor. É importante.

Ele e Snape se entreolharam por um momento, e então Dumbledore fez um sinal positivo. O professor de Poções afastou-se para o lado e permitiu que Luna entrasse. Antes que ela abrisse a boca, Snape perguntou:

- Devo me retirar, professor?

Dumbledore olhou para ela. Luna respondeu por ele.

- Creio que isso não haverá de ser segredo para os membros da Ordem da Fênix - disse, de costas para o colega.

Houve um momento onde ninguém falou nem fez nada. Então Snape fechou a porta e voltou a se sentar na cadeira prostrada em frente à escrivaninha de Dumbledore. O outro conjurou uma cadeira para Luna.

Ela tomou fôlego e disse:

- Ele me escreveu de novo.

Os dois homens se entreolharam. Os quadros ouviam curiosos.

- O que ele quer? - perguntou-lhe Dumbledore.

- Ajuda - respondeu simplesmente. - Me pareceu sincero. Diz que não aprova o Malfoy na liderança, e diz que tudo aconteceu porque ele queria desfazer a Ordem das Trevas.

- Sabemos disso - disse Snape em voz baixa.

Ela encarou-o.

- Só estou dizendo o que eu sei - sibilou.

Dumbledore pigarreou antes que Snape respondesse.

- Por favor, vocês dois - disse, com censura. Eles voltaram a olhar para o diretor, com má vontade.

- Bem, ele pergunta se pode contar com o senhor para o plano que está fazendo para pegar Malfoy - continuou Luna, como se não tivesse havido interrupção.

O diretor pensou um pouco, então perguntou:

- E que plano é esse?

Luna simplesmente sorriu.


IV


Harry viu-se com uma enxaqueca no momento em que se viu em um prédio trouxa antigo e escuro, subindo as escadas (porque o edifício não tinha elevador) para supostamente ter uma conversa com Lord Voldemort. Ele respirou fundo, tentando compreender como tivera a capacidade de acreditar naquela loucura, as sobrancelhas cerradas com força.

Deu um encontrão em alguém. Então subitamente reparou que os outros três haviam parado num patamar e Rony lhe olhava com aborrecimento. Haviam quatro portas velhas e gastas entre as paredes descascadas e cinzentas. Dumbledore mirava um número "25" em tinta prateada em uma das portas, e depois voltou os olhos para os três.

- Parece que é aqui.

Aquelas palavras soaram tão idiotas que o rapaz se segurou para não dar uma gargalhada e desaparatar. O que estava fazendo ali? Tinha coisas realmente mais importantes à fazer do que ficar sendo feito de bobo por Voldemort. Ele mirou o diretor tocar a campainha.

Porém, no momento em que ficaram esperando, uma dorzinha aguda na cicatriz começou a alfinetar-lhe a testa e foi aumentando de intensidade progressivamente. O que isso significava? O mesmo que pensava que significava?

Ele não via direito o que estava acontecendo. Ouviu o barulho de trancas sendo abertas do modo trouxa, por chave, e no instante seguinte a porta se entreabria, presa pela corrente, momento o suficiente para meio rosto espiar. Com uma cara de quem não preferia estar fazendo isso se tivesse escolha, o residente do apartamento abriu a porta e deixou-os entrar.

Parcialmente assombrado, Harry fitava Voldemort, a aparência de uns vinte anos, alto, pálido, os cabelos tão negros quanto os dele, com roupas que definitivamente não eram de bruxo, embora tivesse certeza que este deliberadamente evitava encará-lo.

Mesmo com a cicatriz palpitando na testa, Harry conseguiu ver que o apartamento era muito pequeno e escuro. Havia apenas um sofá, umas quatro cadeiras, uma mesinha e uma estante. Ao lado havia apenas uma porta, que poderia ser a de um único quarto. Havia uma bancada e uma pequena geladeira, uns poucos pratos empilhados, todos com migalhas de pão, a única indicação de que haveria comida naquela casa. As cortinas da janela estavam corridas.

- Receberam a carta de Lovegood, pelo que vejo. Bem, sentem-se - falou Voldemort, num tom meio seco, quando voltava da porta, à qual tivera o cuidado de trancar as três trancas que estavam nela. - Eu não vou impedir.

Ele, porém, não sentou-se. Ficou encostado na parede, encarando-os todos, menos Harry. Então falou:

- Eu não vou servir café, se é isso que estão esperando.

- Que lugar é este, Tom? - perguntou Dumbledore, curioso.

Voldemort fez uma cara que dizia perfeitamente que estava lutando para não fazer uma careta realmente feia. Então ele resmungou:

- Era do meu pai. Usava para trazer mulheres, pelo que soube...

Então ele, obviamente querendo mudar de assunto, olhou para Rony e perguntou:

- Como está Gina? Está vendo-a, suponho?

- É - respondeu Rony, um pouco nervoso. - Ela está bem. Ela e o garoto - acrescentou.

- Bom. Pelo menos isso... - disse, lentamente.

Ele olhara para Hermione com uma cara de absoluto desprezo e Harry imaginou o quão terrível devia estar sendo para ele receber uma "Sangue Ruim" em sua casa, mas ele nem falou nada. Então virou os olhos para Harry, para sua infelicidade, que sentiu a dor na cicatriz aumentar.

"Então... Finalmente entrincheirado como um rato, num apartamento trouxa e imundo... Você deve estar adorando, não é, Potter?", falou Voldemort, displicentemente.

- É claro - respondeu o rapaz com ferocidade, encarando-o de volta com determinação. Pela primeira vez então viu um sorrisinho encrespar o canto da boca do outro.

Então ele voltou a olhar para os outros.

- Vamos direto ao assunto. Acho que é do conhecimento de vocês que não me agrada nem um pouco recebe-los aqui, e por isso vamos logo com isso. - Ele inspirou breve e profundamente. - Aceitam me ajudar a acabar com Draco Malfoy, mesmo que seja num plano arriscado? Como recompensa, nunca mais irão ver meu nome nos jornais, nem o do - ele deu um sorrisinho cínico - Dragão Negro.

E perder Gina para sempre?, pensou Harry, à contragosto. É, faz sentido...

Ele olhou para os lado e encontrou os olhos de Rony. Os dois se entreolharam, questionando-se com o olhar.


Nota: Para quem ta acompanhando, minhas sinceras desculpas pela demora, embora eu não tenha mais culpa que o site... Continuem lendo e comentando. Epero que estejam gostando! Beijos, até o próximo capítulo!

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