T. Riddle e a ilustre srta



- Desculpe!
A garota ia virar de costas e seguir em frente, mas não pôde deixar de se deter e sentir um arrepio com a intensidade do olhar com que o famoso monitor-chefe, Tom Riddle, da Sonserina, a fitava.
- Acontece, ele disse friamente, sem piscar nem mover aquele olhar que perdeu gradativamente o brilho caloroso do momento anterior.
Christine baixou a cabeça enrubescendo e saiu apressada. Devia ser normal para qualquer pessoa se sentir insegura perto daquele garoto altivo e um pouco sombrio, já considerado como um bruxo poderoso. Porém, o olhar dele continuou seguindo atentamente a dona da massa de cabelos lisos, negros e brilhantes como a asa de um corvo se afastar... o contato acidental do corpo da moça em sua pele tinha provocado um arrepio... coisa diferente de quando as garotas que ele usava de vez em quando se esfregavam nele para provocar.
- Hum... Tá olhando o quê, Tom?
- Uma garota... alta, pálida, cabelo longo, olhos azuis... deve ser da Corvinal.
- Muito bonita?
- Creio que sim, respondeu Riddle em seu característico tom de voz sério, que imprimia uma certa distância superior nas conversas com seus colegas, mesmo os mais próximos.
- Christine? Prima do Lestrange?
- Eu não conheço, Avery.
- Eu acho que vc está falando da herdeira Lestange Black, Christine Beatrice. Interessa, não? O tom de Avery recebeu do outro como resposta um sorriso tão malicioso quanto.
- Como eu ainda não tinha conhecido? Quer dizer... se tratando da irmã mais nova do Sr. Black... Acho que vale a pena conhecer...
- Como?! Porque mesmo naquele bando de CDF's da Corvinal, ela ainda se supera. Vive sozinha por aí com uma pilha de livros na bolsa. Nem adianta ser bonita, pra viver desse jeito...
Valia a pena investigar. O futuro Lord Voldemort se sentiu atraído pela idéia de que talvez houvesse uma garota exatamente à altura de suas ambições imediatas, ou seja, as que tinham a ver com boas relações sociais no círculo aristocraticamente fechado das família puro-sangue, e talvez uma namorada dona de veias tão nobres servisse para alguma coisa, "Além do mais, faz tempo que eu não agarro ninguém", pensou o ambicioso rapaz com sua expressão gananciosa mais sedutora.
... Sabia que ela não aceitou ser monitora no sexto ano? Continuou Avery, "para não tomar o tempo dos estudos", concluiu fazendo uma voz meio fresca. Mas ande, Riddle. Lembre-se que hoje tem festa no Clube do Slug.
- Mesmo? Por que será que a dona de um nome tão...
Avery ia interromper na hora, mas com o passar do tempo todos se sentiam instintivamente coagidos a calar enquanto Tom Riddle falava.
- ...ilustre nunca esteve entre nós?
- Duvido que tenha sido por falta de convite. É como eu disse: ela é metida a intelectualzinha demais até para uma Corvinal.

O DIÁRIO DE CHRISTINE

"Olá, Isidore, meu caro confidente. Hoje eu descobri mais um fantástico poeta trouxa: Charles Baudelaire, um francês do século XIX que escreveu um livro de poemas chamado "As Flores do Mal" (que título irresistível!!!), e outro "O Poema do Haxixe", onde ele conta suas experiências com uma substância química transcedentora (do tipo que os trouxas chamam “droga”), e eu acho que tem o nome atual de ÓPIO. Pois nossa queridinha Astarte deve estar chegando amanhã com eles a tiracolo pra mim... hahaha... qualquer dia minha coruja me mata (ou morre!) por causa dessas minhas encomendas livrescas. O ruim é que eu gastei meu último dinheiro nisso e vou ficar sem até minha próxima mesada... mas não posso jamais me arriscar a deixar minha família esquisitamente preconceituosa desconfiar que Literatura trouxa é o amor e vício da minha existência.
Ah... falando nisso.. errr... eu não queria mencionar o “fato”, Isidore, meu caríssimo diário, mas hoje eu esbarrei no famoso sonserino Tom Riddle... e foi de arrepiar... ele tem um olhar tão intenso... eu nunca imaginei... se bem que (eu confesso!) esse garoto sempre me intrigou um pouco... ele tem um magnetismo misterioso que me assusta... e, ainda que eu suponha que, em se revelando seu interior, para quem efetivamente se aproximar, ele deva ser tão sombrio quanto um abismo (digo isso por pura intuição... vc sabe que eu sou sensível à certas coisas), acho que ele também deve ser misterioso e profundo na mesma proporção... bem, não serei eu quem irá desvendar tais segredos.
Ok, tudo bem que o "charme das trevas" e aquela ligeira arrogância da criatura em questão (que provavelmente até hoje não sabia que eu existia e deve ter me esquecido um minuto depois) sempre me atraíram, mas, por outro lado, e justamente por isso, eu jamais me aproximaria dele: O contato pode despertar o fascínio e há algo naquele rapaz que me deixaria completamente vulnerável se eu me apaixonasse... eh melhor eu ir parando, né?
Tchauzinho, Isidore! Fique com um poema do pra te enfeitar:

A serpente que dança
Charles Baudelaire «
trad. Ivan Junqueira

Em teu corpo, lânguida amante,

Me apraz contemplar,

Como um tecido vacilante,

A pele a faiscar.

Em tua fluida cabeleira

De ácidos perfumes,

Onde olorosa e aventureira

De azulados gumes,

Como um navio que amanhece

Mal desponta o vento,

Minha alma em sonho se oferece

Rumo ao firmamento

Teus olhos que jamais traduzem

Rancor ou doçura,

São jóias frias onde luzem

O ouro e a gema impura.

Ao ver-te a cadência indolente,

Bela de exaustão,

Dir-se-á que dança uma serpente

No alto de um bastão.

Ébria de preguiça infinita,

A fronte de infanta

Se inclina vagarosa e imita

A de uma elefanta.

E teu corpo pende e se aguça

Como escuna esguia,

Que às praias toca e se debruça

Sobre a espuma fria.

Qual uma inflada vaga oriunda

Dos gelos frementes,

Quando a água em tua boca inunda

A arcada dos dentes

Bebo de um vinho que me infunde

Amargura e calma,

Um líquido céu que se difunde

Astros em minha alma! "

;)



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