A Família Weasley



Quando Sarah acordou no dia seguinte, encontrou uma mesinha de café da manhã toscamente decorada ao lado da cama. Franziu o cenho, demorando um pouco para lembrar onde estava, mas sorriu assim que veio a si o dia que tinham tido. Até ficou tocada pela tentativa do estalajadeiro de fazê-la bem humorada pela manhã com todas as flores estranhas em meio à sua comida.



Sentou-se na beira da cama e se espreguiçou, esfregando os olhos. Moon pulou delicadamente em cima da cama e foi de encontro à dona. Sarah pegou um pouco de leite do seu café e colocou no pratinho próximo à cesta dela. Olhou para a cama de Tom e não se surpreendeu ao vê-lo com a boca escancarada e roncando mais alto que uma serra elétrica. Lily já não estava na cama de armar que colocaram no dia anterior.



- Onde ela foi, Moon? Você vai me dizer?



A única resposta que teve foi um miado baixo antes da gata continuar a tomar seu leite. A garota riu. Resolveu se ocupar da própria alimentação, deixando as coisas que Tom gostava mais para trás, e se lavar para que pudessem descer mais cedo. Assim que estava pronta e de volta ao quarto, encontrou um Tom sonolento que lhe mirou os olhos inchados.



- Onde está Lily? – perguntou em meio a um bocejo enquanto acariciava Moon, que subira com dificuldade na cama dele.



- Não sei. Acordei e a cama dela já estava vazia. – respondeu ela com um dar de ombros.



Ele assentiu coçando a cabeça e foi se aprontar. Depois que estavam ambos decentes e bem despertos, desceram para o bar. Assim que avistou o barman, Sarah foi até ele agradecer pelo café e pedir que alimentasse Moon nas horas corretas. Ele aquiesceu educadamente e saiu para atender um cliente no balcão.



Ela e Tom se viraram a caminho do Diagon Alley e foi quando avistaram uma mesa enorme e cheia de gente. Várias mesas tinham sido agrupadas formando uma só e, como Sarah logo percebeu, ali estava a família inteira de Lily, a família Weasley.



Só chegou a essa conclusão pela quantidade de pessoas com cabelos flamejantes.



- Sarah! Tom! Que bom ver vocês! – gritou alguém da ponta mais afastada. Olharam e lá estava Teddy Lupin, abraçado com uma garota estonteante de olhos azul-claros e rosto esculpido emoldurado por cabelos louro-prateados. Era a garota mais bonita que já vira – Sentem-se conosco – continuou o bruxo, agora mostrando duas cadeiras vazias. Foram até lá e se sentaram, meio sem jeito. Sarah percebeu todos os rostos ali acompanharem seus gestos, sentindo o seu próprio ficando muito quente.



- Você está vermelha – disse uma voz conhecida e ali estava a amiga, sentada defronte dela na mesa. Tinha o lado da boca sujo do que parecia geleia roxa.



Tom se acomodou do lado de um bruxo alto e ruivo e de uma mulher que parecia a versão futura da garota que acompanhava Teddy, com certeza os pais dela. O homem tinha cicatrizes no rosto que pareciam ter sido bem sérias. Sarah também reparou que ele enchera o prato apenas com presunto e uma boa quantidade de bacon mal cozido, ignorando pães e frutas, o que era no mínimo estranho.



- Deixe-me apresentar minha namorada – tornou Lupin – Esta é Victoire – e a garota loura sorriu, fazendo Tom derrubar um copo vazio à frente dele – esses dois são seus pais, Bill e Fleur – o homem acenou e a mulher disse com leve sotaque francês:



- Prazer.



- Meu padrinho vocês já conhecem, Harry Potter – e apontou o Sr. Potter, que estava bem ao lado de Lily. Mostrou também a Sra. Potter, do outro lado da amiga. A mulher lhes sorriu ternamente enquanto apanhava um guardanapo próximo e entregava à filha, que limpou a geleia, ou o que quer que fosse aquilo, com certo constrangimento.



- É um prazer conhecer todos – disse Sarah.



- Quero me apresentar também – disse alguém à suas costas. Ela e Tom se viraram e depararam com um homem idoso estendendo a mão para eles – Sou Arthur Weasley, avô da Lily. Como pode ver, temos uma família numerosa – continuou em meio a um sorriso cheio de orgulho.



            - É uma bela família – disse Sarah alegremente, começando a se descontrair.



- Muito... bruxa – disse Tom e Sarah teve de segurar o riso.



            - Mas quanta gentileza! – falou uma bruxa rechonchuda, também bem mais velha, provavelmente esposa do Sr. Weasley – Meu nome é Molly, queridos. Estão com fome?



            - Não, Sra. Weasley, acabamos de tomar café. Obrigada. – disse Sarah com simplicidade.



- Você não sabe do meu estômago – reclamou Tom – Acho que vou aceitar algumas rosquinhas, Sra. Weasley.



- Claro, querido. Ginny, faça o favor de servi-lo por mim? – e saiu andando para longe no momento em que a Sra. Potter enchia um prato de bacon, pão e rosquinhas para Tom.



- Você já viu o Hugo, Sarah? – perguntou Lily – Talvez sejamos colegas. É aquele ali – disse apontando um garoto mais na ponta da mesa. Tinha os cabelos encaracolados e castanhos que lhe caíam sobre os olhos da mesma cor. Mas ele não acenou, sem perceber que falavam dele.



            Depois disso, todos voltaram suas atenções para o café da manhã. Sarah percorreu a mesa com os olhos e parou em dois garotos que brincavam com algo debaixo da mesa e riam alto, a avó de olho neles. Um era moreno e tinha aquela expressão de peste que os “irmãos” adotivos de Sarah às vezes tinham quando aprontavam uma. O outro tinha um rosto bonito e cabelos bem negros e rebeldes que realçavam os olhos castanho-esverdeados. Reconheceu como outro filho de Harry e Ginny, mesmo que não se parecesse especificamente com nenhum deles. Com certeza era James.



            Outro ruivo se levantou, de mãos dadas com uma mulher afrodescendente que lembrava um pouco Roxanne, a prima que conhecera no dia anterior. Sarah reparou que faltava uma das orelhas no homem.



            - Já estamos indo, mamãe – disse ele – Até amanhã na Estação. – Roxanne e o garoto moreno que brincava com James seguiram o casal para fora do bar.



            - Este é o tio George – explicou Lily bem baixinho para Sarah e Tom – ele adora pegadinhas, cuidado. E aquela é a tia Angelina, sua esposa. Roxy, que vocês já conhecem, e Fred. Ele está no segundo ano, junto com James. Atenção com ele também.



            Um outro ruivo se levantou e foi para os fundos. Sarah não conseguiu ver seu rosto, mas pôde reparar que era bem musculoso.



            - Esse é o tio Charlie – continuou Lily – É o que trabalha com dragões, de quem falei. Ele mora na Romênia com a família, mas ficaram em casa esse ano.



- Legal. – disse Tom – Ele já foi mordido alguma vez? – indagou com animação perturbadora, mas Lily se limitou a rir.



- Não, mas ficaria impressionado com a coleção de queimaduras que ele carrega.



Bill e Fleur se levantaram também se despedindo de todos e se dirigiram para a porta. Victoire foi atrás e logo depois uma garota que era a versão menor dela de cabelos loiro-arruivados e um garotinho fizeram o mesmo.



- Victoire está no último ano de Hogwarts, o sétimo. – tornou a amiga – Aquela é Dominique, que está no terceiro... e o Louis. Ele só vai entrar para Hogwarts no ano que vem.



Depois disso, todos se levantaram e, aos poucos, foram se dirigindo para os fundos. Sarah parou por um momento para amarrar o cadarço do sapato que havia afrouxado. Os amigos continuaram sem ela, deixando-a para o final da fila, atrás do Sr. Potter e de outro Weasley.



Quando chegaram à abertura para o Diagon Alley e todos já haviam atravessado, os dois pararam, não percebendo que ela estava atrás. Sarah teve que esperar a passagem ficar livre, então entreouviu a conversa.



- Mamãe continua com a velha mania de honra da família, acredita? Vive repetindo para Hugo ser monitor. Acho que ele não está gostando muito.



            O homem era o mais alto de todos que vira até em tão, com seu nariz comprido cheio de sardas e jeito meio desengonçado, e foi o que perguntou sobre ela.



            - Essa garota... Não é ela que foi vítima de um ataque e depois desapareceu? Pensei que estivesse morta. Aliás, todos nós pensamos.



            - É. – respondeu Harry – Até hoje ninguém sabe o que aconteceu. Eu mesmo verifiquei tudo, até visitei a casa dos Schaffor, mas não tinha pista alguma, só total bagunça. Ninguém sabe o que houve, podemos apenas supor, mas foi lá que acharam, na mesma noite, o corpo de Roger Pearson. Sem contar de mais dois bruxos num lugar próximo da casa. Eu, como auror, achei tudo muito estranho. Arrisco até em dizer que alguém chegou antes do Ministério e deu um jeito de arrumar tudo, levando as pistas e a garota. Agora, eu só queria saber como um casal vira fumaça deixando um bebê para trás. E como tantos homicídios acontecem sem se ter ideia de quem os cometeu.



            - Eu também não entendo... – retrucou o outro.



            - Mas deixa isso pra lá, Ron. Trabalho é pra outro dia. Vamos logo, os outros já estão longe.



Sarah desejou que continuassem a conversar. Queria saber o máximo possível, mas recomeçaram a andar e ela teve que se contentar. Era a primeira vez que ouvia sobre bruxos mortos na noite em que fora deixada com a Sra. Newell. Seria esse tal de Pearson parte de seu resgate? Se fosse, ele morrera por ela! A cabeça da garota girava.



Chacoalhou a cabeça para se livrar do pensamento, determinada a aproveitar o dia. Alcançou Tom e Lily, que estavam em frente à vitrine de Artigos de Qualidade para Quidditch. Estavam expostos alguns uniformes dos clubes da Inglaterra e, bem no centro, estava a vassoura magnífica que vira de relance no dia anterior. Nunca imaginaria que vassouras também precisassem de sofisticação, mas essa com certeza tinha. Era imponente, feita de madeira quase negra, mas especialmente por seus detalhes em azul safira. Ela leu a descrição abaixo:



 



Sapphire 70



         A mais nova e melhor invenção de sofisticação e tecnologia em vassouras, com cabo aerodinâmico, calda em equilíbrio perfeito, cerdas escolhidas à mão, toda feita em magia moderna com marca bordada a ouro e ornamentada com safiras. Atinge maior altitude que qualquer outra, leve e facilmente maleável, comando total de direção a um toque. A Sapphire 70 não é perfeita somente para qualquer posição de Quidditch, mas também para executar viagens a longas distâncias com total autonomia. Cotação a pedido.



 



Ela ouvia vários comentários feitos pelas pessoas ao redor:



            - Puxa vida! É magnífica!



            - É a mais veloz, a melhor!



            - Ela deve custar mais que um cofre cheio do Gringotts.



            - Pois eu, se quisesse, comprava!



            Todos se sobressaltaram e se viraram para olhar quem tinha dito aquilo, inclusive Sarah. Deparou-se com um menino que parecia ter a sua idade. Era um pouco mais alto que ela, com cabelos castanhos e olhos verdes que se estreitavam em divertimento, incrementado por um ar de malícia enquanto avaliava todos os rostos ao seu redor.



            - O que disse? – falou uma menina – Claro que pode comprar uma, mas entraria numa fria. Acabaria na sarjeta sem dinheiro.



            - Pois eu posso comprar e continuar muito rico, meu pai pode muito bem me dar tudo o que quero e vou pedir uma dessa a ele.



            Todos lhe deram as costas e voltaram a atenção à vassoura.



            - Mas que metido! – exclamou alguém.



            De súbito, o tal garoto se virou para Sarah e os amigos, que continuavam a encará-lo, e os avaliou. Sarah sustentou seu olhar, decidida, já presumindo que não iria gostar nada dele. Ele tinha um forte sotaque estrangeiro, mostrando que não era do Reino Unido. Sarah se perguntou que país teve a felicidade de se livrar de tal arrogância.



            - Ei! Vocês vão começar a cursar Hogwarts esse ano? – disse ele em um tom superior de dar nos nervos.



            - Sim – respondeu Lily friamente. Talvez ela soubesse de alguma coisa que Sarah e Tom ignoravam.



            - Eu também. Eu ia para uma escola próxima de casa, mas não era boa o bastante. E quase não fui para Hogwarts também. Vocês veem, meu pai me disse que essa escola aceita Mudbloods. Fiquei muito contrariado, mas as outras são muito longe, então tive que me matricular nesta. Vocês não são a favor de Mudbloods cursarem uma escola de magia, são?



            - É claro que somos! Significa que nasceram diferentes, assim como nós. – disse Sarah.



            - O quê? Você é a favor? – ele a olhou com nojo – Pois é idiota em pensar assim. Ou é nascida Muggle?



            - Não sou, mas não tenho nada contra eles. Você é que está errado! Deveria lavar a boca antes de falar alguma coisa pois são tão poderosos quanto qualquer outro!



            O menino contorceu a cara fazendo desaparecer o sorrisinho de desdém.



            - Ele é um Mudblood, não é? – disse com desdém, apontando Tom – Querem defender o amiguinho de sangue podre?



            - Seu grande imbecil! – exclamou Sarah sentindo o rosto quente de raiva. Tom segurou seu pulso, por precaução.



            - Sabe com quem está falando, sua traidora do sangue?



            - E deveria saber? – zombou ela



            - Eu sou Michael Slade! Filho de Gregory e Demelza Slade, nossa família é de alto escalão e bem relacionada com o Ministério da Magia. Se eu quiser te expulsar da escola é só eu dar uma choradinha e eles fazem o que eu quiser. – disse, devolvendo ao rosto o horroroso sorrisinho.



            - Pois continue com suas birrinhas. Gente covarde é que corre pedindo socorro aos papais. A gente se vê na escola, Slade. – e se virou pra sair.



            - Espere! Você ainda não me disse seu nome. Talvez eu precise para o futuro. – e mirou Sarah da cabeça aos pés. Foi aí que o reconheceu do dia anterior como um dos três garotos que estavam escorraçando o tal Dickson no meio da rua. Gostou menos ainda dele, se isso fosse possível.



            - Pois não tem nada a ver lhe informar meu nome. – disse em tom zangado – Sarah Schaffor. E pode anotar bem. Se continuar a ofender a mim ou a meus amigos, vai ter problemas com ele.



            E saiu decidida, seguida de perto por Lily e Tom.



            Encontraram Lupin conversando com James. Albus e Rose brincavam ali por perto.



            - Aí estão vocês! Estava agora mesmo comentando com James o último jogo de Quidditch. Foi emocionante. – ele sondou o relógio de pulso e suspirou – Vou ter que correr até Knockturn Alley. Comportem-se. Tchau pra vocês – e se foi mais rápido que uma piscadela.



- Tchau pra vocês. – ecoou James e saiu andando



- E onde é que você vai? – indagou Lily.



- Vou encontrar David, avisa a mamãe pra mim, Lily. – e foi embora.



            - Odeio quando ele faz isso. – disse ela. Depois levou os amigos para dentro de uma loja de Logros onde tudo vendido eram coisas inventadas por Muggles, só que melhoradas com mágica. Sarah sorriu. Achava que nunca se cansaria daquele mundo.


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