A Varinha Incomum



Foram para uma loja de livros – Floreios e Borrões - que, segundo Lily, era a melhor para se comprar.



Estava apinhada de gente, a provável maioria alunos em sua missão de comprar tudo a tempo. Na fila para pagar pelas compras, ficaram atrás de um garoto que não parava de falar. Era magricela, mais ou menos do tamanho de Sarah, com cabelos castanhos, olhos cinzentos, óculos quadrados e aparelho nos dentes.



- É o que todos dizem onde eu moro e não modéstia. Sou um bruxo excepcional para a idade. Já quebrei até rocha sem varinha! Mas a mente domina tudo, e a minha mente é privilegiada. Posso fazer coisas inimagináveis, até mesmo pelos magos mais renomados da nossa sociedade, tão inferior a mim. Posso também fazer muitas coisas ao mesmo tempo e....



A garota que estava na frente dele pagou seus livros e saiu resmungando “idiota”. Sarah concordou com ela. Pior ainda para Tom, que sempre odiou gente que se achava superior.



- Se aquele retardado sair na nossa sala, mudo de escola. – resmungou o amigo.



- Em Hogwarts não são salas, e sim casas. – corrigiu Lily – Se ele estiver no primeiro ano, vamos estudar com ele em algumas aulas, mas se estiver na mesma casa, nós vamos ter que aturá-lo todos os dias. Espero que nós três possamos ficar na mesma casa. – adicionou com um sorriso.



Depois compraram o caldeirão, que tinha de todo tipo na loja, mas Sarah teve de pegar um simples e de estanho. Foram ao boticário em busca do conjunto de ingredientes básicos, frascos e balança, mais as luvas de dragão. E depois pegaram o telescópio, numa loja que vendia apenas objetos sobre Astronomia.



            - Agora só está faltando a varinha. – lembrou Lily - Vamos, é logo ali.



            Ela os guiou até uma lojinha imunda e antiga, que não havia nada exposto na vitrine e tinha uma placa – Ollivanders: Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 a.C. – entraram e um homenzinho magro e muitíssimo velho veio atendê-los. Sarah achou que uma rajada de vento poderia levá-lo para longe, tal era sua fragilidade. Seus olhos azuis primeiramente recaíram sobre ela, brilhando e radiografando cada centímetro da garota.



            - É claro. A menina Schaffor. Achava mesmo que a garota misteriosa viria esse ano.



            - É... Muito prazer, Sr. Ollivander... – disse ela sem jeito, não entendendo muito bem.



Então ele passou para Lily. Tocou de leve os cabelos ruivos dela com um ar curioso.



- E aqui temos a Srta. Potter...



- Prazer, Sr. Ollivander.



- E você... – começou, olhando para Tom e erguendo o dedo para tocar em um dos montes espetados de seu cabelo louro.



- Tom Watson, senhor.



- Muito bem. Veio finalmente comprar a varinha... Hopkins! Temos clientes! – ele chamou. Do meio das últimas prateleiras, vindo dos fundos da loja, apareceu um jovem alto e magro, usando óculos com aros de metal. Parecia ter seus 20 anos com cabelos cor de areia e mãos rápidas.



- Pois não, Sr. Ollivander – ele responder, postando-se ao lado do velho senhor.



- Este é Wayne Hopkins, o tomei como meu aprendiz – apresentou o Sr. Ollivander – Não tive nenhum herdeiro em vida e, como veem, não estou ficando mais jovem. Vou passar tudo o que sei a você, Wayne – ele disse se voltando ao jovem – Ainda vai ser o maior mestre de varinhas, com suas próprias criações.



O aprendiz assentiu, agradecido.



- Comecemos com a Srta. Potter, então. – o velho continuou – Venha até aqui e fique parada.



            Ela foi até onde o Sr. Ollivander pediu e ficou em pé, ereta.



- Com qual mão você usa a varinha?



            - Hã... sou destra.



            - Ótimo. Isso mesmo. Agora vamos precisar tomar suas medidas.



            Hopkins sacudiu a varinha e uma fita métrica encantada começou a medir todas as partes dela, enquanto uma pena anotava números em um pedaço de pergaminho. Sarah arregalou os olhos para aquilo. Demoraria a se acostumar com a rotina dos bruxos. A fita media Lily constantemente, da cabeça aos pés, do ombro à ponta do dedo, um braço até o outro, a cintura, a cabeça...



            - Já chega. – disse Ollivander calmamente. Wayne fez um gesto com a varinha e fita e pena pararam de trabalhar. O velho senhor trouxe uma varinha retirada da prateleira pelo aprendiz. – Tome. Vinte e um centímetros, pinos, pêlo de unicórnio, quebradiça.



Lily pegou-a, fazendo qualquer movimento e o Sr. Ollivander já tomou dela. Pediu outra caixinha das paredes lotadas, que foi entregue por Hopkins, retirou dela com cuidado uma varinha bonita, feita de uma madeira rosada, e a entregou para a garota.



A varinha produziu faíscas vermelhas e douradas assim que ela a tocou. Ollivander bateu palmas e abriu um enorme sorriso.



- Vinte e cinco centímetros, faia, pena de fênix, maleável. Boa varinha para encantamentos e uma combinação interessante, Srta. Potter. Veja bem, fênix são criaturas de natureza esquiva e independente e a faia é uma madeira cuja varinha muitos gostariam de possuir – ele correu o dedo pelos entalhes da varinha nas mãos de Lily, refletindo – pela sua beleza, mas principalmente por seu legado. Diz-se que o dono da varinha de faia será mais sábio que os demais de sua idade, rico em perspicácia e experiência, mas não deverá ser pobre de espírito ou intolerante, ou ela não funcionará conforme deveria. Acredito que deve ser boa em contornar situações e ver as pessoas, ou não seria merecedora de tal mistura. Espero lhe servir bem, minha querida.



Lily encarou o objeto de forma assombrada e agradeceu ao Sr. Ollivander.



Depois foi a vez de Tom. A primeira que ele tocou já produziu grandes faíscas verdes e douradas. Era de trinta e dois centímetros, lariço, pelo de unicórnio, rígida.



- Uma varinha forte, durável e poderosa. – tornou o Sr. Ollivander – O lariço tem fama de incutir coragem em seu usuário, mas é por outro fator que é distinguível. Ela reconhece talentos escondidos e efeitos inesperados. Você vai descobrindo as camadas. E o pelo de unicórnio, Sr. Watson, me diz que é um ser fiel e leal. Algo realmente raro ultimamente – acrescentou com um suspiro. – Agora...



E parou a frase no meio, pois nesse instante o garoto “modesto” da Floreios e Borrões entrou. Deu uma olhada rápida nos três que estavam ali e foi na direção do Sr. Ollivander.



- Ah, sim – exclamou o bruxo. Estalou os dedos e Wayne, o aprendiz, foi buscar na gaveta da escrivaninha outra caixinha longa e fina, que entregou à mão estendida do Sr. Ollivander – aqui está. Vinte e nove centímetros, nogueira negra, escama de hipocampo, quebradiça. Você sabe, a escama é um cerne relativamente novo, mas com grandes poderes mágicos. Dizem que...



- Eu pesquiso depois, Sr. Ollivander, mas obrigado.



O vendedor olhou-o intensamente por segundos inteiros, então aquiesceu sem desviar seus olhos inteligentes do garoto.



- Como quiser. Espero que use-a bem, Sr. Dickson.



- Vou usar – respondeu o garoto, olhando de esguelha para Sarah. Pegou na varinha e dela saíram faíscas marrons e azuis.



- Perfeita – aprovou o velho, recebendo os galeões do garoto, que logo depois saiu. – Bom, agora vamos ver a Srta. Schaffor.



Sarah teve suas medidas anotadas pela métrica e pena mágicas e logo depois o Sr. Ollivander foi procurar uma adequada.



- Muito bem... Experimente esta. Vinte e dois centímetros, salgueiro, corda de coração de dragão, rígida.



            Sarah fez um movimento com a varinha, se sentindo um pouco ridícula. Mas Ollivander a arrancou dela e entregou outra dizendo:



            - Vinte centímetros, bordo, pelo de unicórnio, flexível.



            Ela mal fez um gesto com ela e o Sr. Ollivander já pegou de sua mão. E assim se sucedeu. Ele lhe entregava uma peça, ela mal a tocava e logo se via de mãos vazias.



            Estavam ali havia algum tempo e não conseguiram encontrar a certa. Tom e Lily tinham até achado um lugar confortável para se sentar e esperar.



            - Vamos achar a varinha perfeita Srta. Schaffor. Mas fique avisada: o bruxo não escolhe a varinha, a varinha escolhe o bruxo. Tome. Vinte e um centímetros e meio, cerejeira, pena de fênix, bem elástica.



            A garota mal a tocara e mais uma vez ele a tirou de suas mãos.



            - Cliente difícil... Vinte e três centímetros, cedro, pelo de unicórnio, quebradiça.



            Mais uma vez Sarah se viu sem uma varinha e sob constantes aprovações do Sr. Ollivander, que ficava mais e mais animado. Wayne correu para as últimas prateleiras e continuou a procurar, pegando mais e mais caixinhas, conforme o vendedor lhe instruía.



            Foi então que reparou em uma caixinha diferente em cima da escrivaninha. Era branca, bordada em dourado e estava entreaberta. Ela foi até lá enquanto eles esvaziavam as estantes e a pegou. Ao contrário das outras, essa se aqueceu de forma considerável em sua mão e produziu faíscas roxas e verdes ao seu toque. O Sr. Ollivander se virou, surpreso, e abriu um sorriso gigante, depois ficou pensativo.



            - Ora, ora, ora... Vinte e seis centímetros, ébano, corda de coração de dragão, inflexível. Ela é o resultado bem sucedido de um experimento que eu andava fazendo há um tempo, com a adição de um líquido do pescoço dos dragões que ainda está em teste, o Shourevan. Dizem que é o que os torna tão indestrutíveis. É a única que fabriquei. Uma varinha complexa e muito trabalhosa. Você vê, a corda do coração de dragão é o cerne mais poderoso que há, que produz os feitiços mais extravagantes, que aprende mais rápido... no entanto é também o mais temperamental e volátil. E então temos a combinação com ébano, que é a madeira adequada para combate e transfiguração, feliz nas mãos de quem tem a coragem de ser elas mesmas, totalmente não conformista. É uma varinha que era encontrada tanto entre os membros da Ordem da Fênix quanto entre os Comensais da Morte. Mas não se assuste, em minha opinião, o par ideal é aquele que vai ater-se às suas crenças, longe de qualquer corrupção. E ainda temos sua inflexibilidade. É difícil conquistar tal varinha, assim como a do Sr. Watson em menor escala, mas são as mais poderosas e leais depois que se consegue, muito improvável que mude de dono ou seja corrompida. Surpreendente, Srta. Schaffor.



Sarah sorriu e rodou o objeto nas mãos. Era linda, quase negra e entalhada belamente. Mesmo que estivesse assustada com o fato de uma varinha daquela tê-la escolhido, sentia-se impressionada por ser a dona dela.



            - Bom... Pelo menos encontramos. – disse com a voz fraca.



            - Vou esperar grandes feitos de você, minha jovem, grandes feitos. Parece ser uma bruxa intrigante... e muito poderosa também.



            Sarah ficou um pouco sem graça, mas nem teve tempo de responder com o pulo impaciente que Tom deu da cadeira, ansioso para sair dali.



Os três pagaram pelas varinhas e assim que saíram da loja, avistaram o menino que saíra antes deles conversando com outros três, que pareciam caçoar dele. Ou discutiam?



- Vocês acham que devemos intervir? – perguntou Sarah.



- Eu que não vou limpar a barra de um Nariz Empinado como aquele. Se estiverem discutindo, deve ser merecido.



- Não sei se concordo com Tom, mas é melhor não nos meter com aqueles três – disse Lily – Eu conheço aquele louro de olho claro. É o Scorpius Malfoy. A família dele já foi comparsa de Voldemort.



- Voldemort? Quem é esse? – perguntou Sarah meio perdida.



- É um pouco difícil de explicar... Resumindo: foi o bruxo mais maligno e temido de todos os tempos. Fez coisas realmente horríveis. Mais que horríveis. Costumava torturar Muggles para diversão, matava bruxos que se opunham a ele...



- Muggles? É a palavra que Teddy usou.



- É como chamamos quem não é bruxo. Eles chamam quem tem pais Muggles de Mudblood. É o pior xingamento para alguém como Tom, mas feito apenas por obtusos, pode ter certeza.



- Se esses garotos aí ousarem discriminar Tom, vão desejar não ter aberto a boca! – disse Sarah olhando ameaçadoramente para os meninos, que agora começaram a chutar os pés do outro.



- É provável que ele seja nascido Muggle. – falou Lily.



- Acho que não – tornou Tom – Ele só é muito chato.



Continuaram andando então. Quando passaram em frente a uma sorveteria, Sarah chamou os amigos para entrarem, pois não tinham comido nada há um bom tempo e estava bastante calor.



Pediram três sundaes e ficaram conversando sobre a escola. Então uma pergunta aflorou na cabeça de Sarah.



- Lily, você tinha dito que os alunos podiam ficar na mesma casa. Como assim?



Ela engoliu o sorvete que tinha na boca e explicou:



- É que lá em Hogwarts, os alunos são selecionados no primeiro ano para determinada casa. James, meu irmão, já me explicou tudo. São quatro casas: Gryffindor, Hufflepuff, Slytherin e Ravenclaw. Se nós três sairmos na mesma, vamos ter a mesma sala comunal, os mesmos horários de aulas, as mesmas atividades. Se sairmos separados, vamos ter apenas determinadas aulas juntos.



- Humm... E como somos selecionados? – quis saber Tom.



- Não sei. Nenhum dos meus primos quis me dizer.



Nesse momento, um garotinho chegou correndo até Lily e a abraçou. Vinha com os cabelos negros grudados na testa suada enquanto bufava. Possuía alguns traços de Lily, como o formato dos olhos e o nariz, mas ao contrário dos de Lily, os olhos dele eram verde vivo.



- Oi, Albus! – exclamou ela – O papai e a mamãe já estão aqui?



- Sim. Eu e Rose estamos procurando você faz um tempão...



Nesse momento, uma garotinha magricela chegou tropeçando. Respirou fundo, tirou os cabelos muito ruivos e cheios do rosto e arregalou grandes olhos azuis para eles.



- Encontrei Hugo do outro lado da rua, Albus – disse ela numa vozinha fina.



- Então vamos lá! – gritou ele e os dois saíram correndo. Sarah e Tom talvez estivessem com caras indagadoras, pois Lily explicou logo depois:



- Albus é meu irmão e Rose é minha prima. Eles têm nove anos já. Eu e meus primos tínhamos vindo antes do resto da família para o Diagon Alley, pra comprar o material. Hugo, de quem eles estão falando, também vai para o primeiro ano com a gente. É outro primo meu...



- Ahã... E quantos primos você tem? – indagou Tom.



- Humm... Contando os três da Romênia, tenho doze primos, só em primeiro grau – e riu – Uma família enorme que sempre se junta nas férias, na casa da vovó. Então vêm todos juntos pra cá todo ano.



- Puxa. Deve ser legal ter uma família assim, tão grande – comentou Tom.



Sarah bufou pelo nariz, mas não comentou. Se Lily gostava, era problema dela.



- É bem legal, mas às vezes atrapalha. – respondeu a ruiva, o que Sarah achou apropriado, considerando que eram todos sangue dela e não completos estranhos como na sua casa.



 



Passaram o resto do dia explorando aquele lugar mágico. Sempre tinham o que ver ou visitar. Encontraram alguns tios de Lily, mas só de passagem. Conheceram também os pais dela: Harry e Ginny Potter. O Sr. Potter parecia a versão adulta de Albus usando óculos de aro redondo; era alto, com aquele porte ao mesmo tempo intimidante e acolhedor que agora reconhecia na família da nova amiga. Tinha também olhos que transmitiam uma sensação de que já haviam visto demais. A Sra. Potter era muito bonita em seus cabelos flamejantes e olhos castanhos. Lily se parecia com ela.



No final do dia, os três voltaram para o Leaky Cauldron e encontraram lá os pais de Lily com toda sua bagagem.



- Ah, ótimo... Vou ter que ficar junto com as minhas primas... – resmungou ela – Elas são estranhas, sabe. Só pensam em garotos. Sem ofensas, Tom, mas não vejo nada de muito interessante em vocês.



- Era o que eu dizia na sua idade, Lily – disse uma voz atrás deles. Quando se viraram, depararam com uma garota morena de cabelo castanho comprido e olhos grandes e escuros.



- Acho que não vou mudar minha opinião tão cedo, Roxanne. Pode ficar tranquila.



- Pense o que quiser agora – e subiu a escada que dava para os andares superiores, seguindo atrás de outra garota que parecia ser no máximo um ano mais nova, com seu cabelo castanho escuro e olhos verdes.



- A mais morena é a Roxanne, ou Roxy – explicou Lily – ela já está indo para o quinto ano de Hogwarts. E a outra, de olhos verdes, é a Lucy, que vai para o quarto. Mais primas. Se ficarmos aqui até todos chegarem, vocês vão conhecer a família toda, o que vai demorar um bocado.



- Não, obrigado – disse Tom, já subindo as escadas. Sarah achou graça de sua pressa enquanto babava por Roxanne e Lucy, que iam logo à frente.



- Não quer ficar no nosso quarto? – ofereceu Sarah, dirigindo-se a Lily – Assim vai se livrar das conversas.



A garota pareceu ponderar a oferta, então sorriu brevemente e foi conversar com a mãe. Ficaram um tempinho pesando as condições e logo depois Lily voltou saltitando para perto dos amigos.



- Ela deixou! – disse mostrando a bagagem nas mãos – Vamos!


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