Explicações



Numa quinta-feira, 31 de julho, era aniversário do Harry e festa na casa dele. Ron e Hermione foram juntos e voltaram juntos mais tarde.


— Ele merece. É o melhor amigo que um cara poderia ter, e não há nada que possa pagar isso – Ron respondeu, sério, ao comentário que Hermione lhe dirigiu sobre Harry ter gostado muito do presente dele.


— Vai me levar pra passear amanhã? – ela perguntou após um silêncio, em tom divertido.


— Pode ser. Mas eu planejava algo mais especial para o fim de semana – Ronald respondeu, abraçando os ombros dela.


— Justamente por isso, não vai dar. Vou passar o fim de semana no sítio dos meus avós. Meu avô está fazendo 78 anos e quer juntar todos os descendentes antes de morrer – Hermione girou os olhos para o teto.


— Seu avô é uma parada – comentou Ron, que conhecia o velhinho. – Mas isso é realmente ruim... Será que eu não poderia ir junto? – ele perguntou, de repente, com ar esperançoso. Hermione gostou da ideia. Queria-o perto de si.


— Acho que sim... Vou falar com meus pais... Seria ótimo, iríamos nos divertir bastante – disse Hermione. – Mas você tem que lembrar que são todos trouxas...


— Não se preocupe, vou me comportar – ele prometeu. – Adoro os trouxas. Gosto de tudo que me lembre você – o rapaz acrescentou, puxando-a para um beijo.


Dessa forma, Ron viajou com Hermione e os pais dela para a Cornualha, onde ficava o sítio dos Pixar, pais de Ann Granger. Estava toda a parentada lá. Como Ron e Hermione já namoravam há bastante tempo (antes de terminar), todos já o conheciam de alguma forma. Achavam ele bem esquisito, especialmente porque carregava um pequeno bastão (já haviam notado isso, apesar de ele escondê-lo no bolso), mas a prima também nunca fora muito certa. Eles saíram da casa de Hermione de madrugada e chegaram lá de manhã cedo. Os avós de Hermione moravam perto de Lanceston. A parte da manha foi só para os cumprimentos e as novidades.


De tarde combinaram um passeio.


— Mas pra onde? – perguntou Louise Lemoine em tom arrastado. Essa prima de Hermione era loirosa e afrancesada, e não agradava muito à filha dos Granger. Estava usando um chapéu enorme e dava-se ares derretidos de pretensa lady.


— Que tal visitarmos Lanceston? – sugeriu Roderick Pixar, primo desta, que devia ter uns 17 ou 18 anos agora e era loirinho, com olhos azuis e franzino. Tinha cara de anjinho mas aprontava um monte. – Vamos, pai?


— Vão vocês, crianças – disse Giles Pixar, o tio de Hermione, que era magro e de aparência séria, e cujo cabelo outrora preto estava grisalho. – Podem levar o carro. Mas seu irmão dirige – e ele jogou a chave para Andrew, o filho mais velho, de cerca de 23 anos. Andrew era moreno, com os mesmos olhos azuis do irmão, mas mais alto, mais forte e mais sério que ele. Confiável.


— Não vai, Hermione? – perguntou Caroline Pixar, filha do tio Donald, ao ver que a prima ficava para trás. Ela era magra com os cabelos negros e bem lisos, na altura do ombro; bem parecida com a mãe de Hermione. Era uma garota calma e simpática, e Hermione gostava dela.


— Acho que vou ficar, Carol, estou meio cansada – Hermione sorriu. – A menos que o Ron queira ir... – ela acrescentou, olhando para o namorado.


Ele negou com a cabeça.


— Então tchau – Patrick, o irmão mais novo de Louise, que era pintor e tinha cabelos negros e crespos, puxou a prima Carol dali.


— Vão ficar aqui com os velhos, meninos? – perguntou a avó de Hermione, dona Dorothy, com um doce sorriso de velhinha.


— Aproveitem a propriedade, vão esticar as pernas! – sugeriu o avô, Owen, que tinha um jeitão meio brusco. – Na cidade quase não se tem disso – ele falou.


— Vão, podem ir – incentivou a mãe de Hermione, quando esta olhou interrogativamente para ela.


— Mas abre o olho, hein, Weasley! – gritou o pai de Hermione, quando eles se afastavam. Os parentes riram.


— Você não toma jeito mesmo, hein, Lewis! – censurou a concunhada dele, Gwenda, em tom divertido.


— Diz isso porque não tem filhas! – ele replicou.


Ron e Hermione afastavam-se tranquilamente da casa.


— Seu pai adora pegar no meu pé – comentou Ron, com uma careta risonha.


— Ah, ele não tem jeito, como disse a tia Gwen – Hermione sorriu. – Acho que é pior porque eu sou filha única.


— Acho que ele faz de propósito. Nem é mais ciúme de pai.


— Ele gosta de você – falou Hermione. – Mesmo – eles atravessavam um pasto com uma boa quantidade de ovelhas. – Aqui é agradável – ela comentou. – Era um dos poucos lugares de que eu gostava, quando criança.


— É realmente ótimo se você quer tranquilidade.


— Está melhor hoje com a companhia – disse Hermione, abraçando-o. Ron puxou-a para um aprisco ali perto e sentou-se na mureta deste. – Foi bom você ter vindo. Equilibra eu ter que aguentar a Louise.


— Ela é tão insuportável assim? – indagou Ron, com ar divertido. Hermione ergueu as sobrancelhas.


— Oh... eu não posso pegar muito sol para não estragar o jet bronze, okay? – imitou Hermione, botando as costas da mão na testa. – Ah, Andy, isso é taaaaão interessante! Como eu queria entender disso que nem você!


— Argh. Tem certeza que é sua prima? – zombou Ron. – Não dá pra acreditar que você tenha uma prima tão fútil assim.


— Que é que eu posso fazer; quem mandou minha tia casar com um francês? Temos que cuidar para a Victoire do Gui ter uma educação inglesa – Hermione brincou, acariciando o rosto dele.


— Ah, ele dá um jeito. Não vai querer que a filha seja afrescalhada. Nem eu iria aturar uma sobrinha assim – riu Ron, enlaçando a cintura dela.


— Mas a minha família é legal, de um modo geral. Até esse meu tio francês é interessante. É o tio Pierre, talvez você nem tenha percebido porque ele não tem sotaque. Mas aquele bigodinho... – eles riram; em seguida silenciaram por um momento, fitando-se. – Enfim, é uma família maluca. Por isso eu nasci nela – Hermione, corada, comentou. Ron puxou-a para cima da mureta também. Ela sentou-se a cavalo no murinho, com a cabeça apoiada no peito dele. – Só perde da sua.


— Não é por me gabar, mas... A minha família é uma das melhores que já vi. Tem de tudo... tudo mesmo – disse Ron. – Acho que o mais certinho mesmo é o Percy.


— É. Nunca me esqueço daquele seu tio de quem você herdou o segundo nome... e o que vocês dizem que ele fazia nas festas – Hermione arregalou os olhos. – Não sei por que vocês acham engraçado... Seu tio Bilius devia ser muito bizarro.


— E ele era. Um doido de pedra – confirmou Ron, assumindo uma expressão engraçada no rosto.


— Sabe que dizem que o nome determina um pouco da personalidade da pessoa...? – Hermione murmurou, com um sorriso zombeteiro.


— Sério? Então eu sou um doido de pedra? – ele retrucou, meio distraído.


— Ah, mas nós já sabíamos disso – Hermione ergueu o rosto e beijou-o docemente. – Gosto de você mesmo assim. E adoro sua família. Gostaria de poder trazer todos para cá. Seu pai, mesmo, ia adorar. O que acha, Ron? Eu poderia falar com meus avós... Ron? – ela chamou, como o rapaz não respondia. Ele movia-se atrás dela. – Ron? – ela chamou, de novo.


— Casa comigo? Ele murmurou, num tom muito diferente do que usava na conversa inconsequente anterior. Hermione olhava de olhos arregalados para a caixinha que Ron segurava aberta na frente dela, a qual continha um anel. Hermione quase caiu da mureta, mas Ron a amparava. – Casa comigo? – ele repetiu.



Hermione pegara o anel. Virou-se para ele; realmente não esperava por aquela.


— Tem certeza que quer isso? – ela perguntou, apreensiva.


— Claro – respondeu ele, sereno. Tirou o anel da caixinha e pegou a mão de Hermione para colocá-lo. Ela retraiu a mão num primeiro momento e depois entregou-a. – Eu sempre quis. Mesmo nesse tempo em que estivemos separados, eu nunca deixei de te amar, nem por um instante – ele afirmou, em tom bem sério. Hermione fez uma cara cética, mas achego-se a ele como se tivesse medo de perdê-lo novamente.


— Tem umas coisas que você precisa saber, Hermione – começou Ron. – Todas aquelas coisas que eu te disse, doeu muito em mim dizê-las, mas eu precisei. Eu dizia que não queria mais vê-la e ficava te observando de longe; que tinha enjoado dos seus beijos enquanto era só eles que eu queria... – como pra provar a veracidade disso, ele deu um beijo rápido e ardente na garota. – Eu tinha que te tratar mal porque havia um cara me vigiando, e pode parecer maluco o que eu vou dizer, mas ele ameaçou matar a garota que eu amasse e tinha intenção de cumprir a ameaça. Foi naquela semana em que você viajou para a China... – Ron contou toda a história. Hermione não pôde conter o ar de dúvida no começo, mas depois as coisas começaram a fazer sentido e ela ficou deveras espantada. – Eu tive de escolher entre você minha e você viva – concluiu o rapaz. – E eu preferia viver no mesmo quintal que você casada com o Reed do que vê-la em um caixão.


— Você é maluco, Ron... – murmurou a garota, meneando a cabeça. – Por que simplesmente não me contou?


— Porque você não aceitaria, não se afastaria de mim. Eu te conheço, Hermione. Você diria que podia enfrentar o tal Poldek. Não estou dizendo a verdade?


Hermione corou, e não respondeu.


— Mas não podia. Eu o subestimei e ele quase matou a Gladys, só porque eu pedi que ela passasse uns memorandos. O cara era maluco, tinha o cérebro virado do avesso – Ron arregalou os olhos, depois enterrou o rosto nas mãos. – Passei por umas boas. Acho que se não fosse o Harry do meu lado o tempo todo eu não teria suportado. Temos muito o que agradecer a ele – Hermione abraçou Ron. Ficaram um momento em silêncio.


— Você é o melhor homem do mundo – disse Hermione, então, não no tom de quem faz um elogio, mas de quem anuncia um fato. Ron ergueu os olhos para ela.


— Eu te amo – ele disse, então, no mesmo tom.


Hermione não disse nada. Não precisava.


 

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