Novo Ron



Hermione Granger passou os dias seguintes sem se ausentar da rota trabalho-casa. Mesmo almoçar, ela o fazia no escritório. Estava desiludida e desistira até de tentar qualquer coisa com Will depois do fracassado encontro. Não podia dar-lhe esperanças falsas. Voltara a ler muito, e já tinha apanhado tanto que se resignara com essa situação. Mas junho não findou sem que seus amigos a procurassem.


Ela passava no Beco Diagonal uma tarde, indo para casa, quando a chamaram da loja de George. Ela apressou o passo, mas Ammy veio atrás dela e postou-se em seu caminho.


— Por que é que você não me recebe, não responde as minhas cartas e não atende o telefone? – quis saber a prima. Hermione olhou-a friamente.


— Ainda pergunta? – questionou, indignada. – Eu não estou mais com ele, é verdade, mas jamais esperaria isso de você. E você sabia o motivo Ammya, você me viu aquele dia. Pare de se fazer de sonsa.


— Se você tivesse parado pra me escutar alguma vez, eu já teria te explicado isso há muito. Aquilo era uma encenação, a trabalho. Estávamos em uma missão – contou Ammy, sincera. – Não acredito que achou mesmo que eu seria capaz...


— Não achei, eu vi – respondeu Hermione, seca. – Se me contassem não acreditaria.


— Ah, é? Tá, e o que eu estava fazendo agora na loja do George? Com certeza estaria tudo bem entre eu e ele se eu o tivesse traído com o irmão – Ammya ironizou, cruzando os braços. Hermione olhou para a loja. George estava parado um pouco atrás delas, e confirmou as palavras de Ammy. Hermione corou e olhou para a prima, sem graça.


— Desculpe. É que eu não sabia, e vi, e estava tão perturbada... Dele eu já espero tudo, perto do que ele já fez – justificou-se Hermione.


— Tudo bem – perdoou Ammy. – Eu provavelmente faria o mesmo se me colocassem na mesma situação. Você tem que voltar a almoçar conosco. Harry e Gina estão morrendo de saudades; nem na casa deles você aparece.


George aproximara-se, e abraçou Ammy pela cintura.


— É porque não quero encontrar ele – disse Hermione, enfatizando o “ele”.


— Vocês deviam conversar – intrometeu-se George.


— Não mais. Já desci demais, cansei de ouvir pedrada. Tentei várias vezes falar com ele; só serviu pra me deixar deprimida.


— Tenho um palpite que dessa vez vai ser diferente.


— Humpf! – duvidou Hermione.


— Mas promete então que você vem almoçar com a gente amanhã – pediu Ammy. – Se o Ron aparecer, botamos ele pra correr, mas venha!


Hermione riu, e prometeu que viria. No dia seguinte ela e Ammy estavam conversando, e Hermione estava mais animada. Já estava superando os choques. Então Harry chegou, e junto ao oi dele Hermione ouviu um outro que a fez congelar. Harry sentou ao lado de Hermione e Ron ao lado dele. Ela imediatamente ficou quieta e baixou os olhos para o prato, após uma rápida resposta a Harry. Ron também estava quieto, mas diferentemente de Hermione, sorria, e tinha cara de quem estava vendo tudo pela primeira vez. Ele olhava para Hermione atentamente, e uma hora cochichou algo para Harry. Este o olhou com ar de dúvida e virou-se para Hermione.


— Hermione, meu amigo Ron, aqui, quer que eu te apresente pra ele. Esta é Hermione Granger. Ronald Weasley – apresentou Harry, sob o olhar surpreso das duas meninas. Ron estendeu a mão para Hermione, sorrindo.


— Muito prazer. Estou encantado em conhecê-la. A senhorita é muito atraente.


— Que palhaçada é essa? – perguntou Hermione, sem paciência. Ron não se afetou.


— Ele perdeu a memória também? – questionou Ammy, visto que isso já tinha acontecido com alguns dos amigos. Ela dirigia-se a Harry.


— Infelizmente, não – respondeu Ron, sério. – Mas o Ron que vocês conheciam morreu. Eu o matei, porque era estúpido demais e muito grosseiro com as pessoas, e tomei o lugar dele. Tenho certeza que vocês vão gostar mais de mim – Ron completou.




Hermione deu um muxoxo de desdém. Quando acabaram o almoço, Ron aproximou-se dela, enquanto Harry e Ammy afastavam-se “distraidamente”. Ele convenceu Hermione a deixar que ele carregasse seus livros até o trabalho. Foi até lá fazendo perguntas gerais, que Hermione respondia com monossílabos mal-humorados, sem entender qual o sentido daquela (como ela considerava) brincadeira dele.


— Meus livros, por favor – ele falou, interrompendo-o, quando chegaram em frente ao PD. Ron entregou.


— Nem percebi que ainda estava com eles. Sabe, hoje eu saio mais cedo, poderia passar aqui e carregá-los até a sua casa, se você quiser – ele sugeriu.


— Eu os deixo no escritório. Só levei hoje para mostrar umas coisas para a Ammy. E pare de fingir que não sabe muito bem disso e de todo o resto, Ronald Weasley – ela respondeu, cortante. – Não tem nada de engraçado nisso. Passar bem – concluiu ela, dando-lhe as costas e subindo. Wilfred Reed passou por Ron parado ali e lançou-lhe um olhar torto, subindo também.


Mas Ron não ia desistir. Importunou Hermione por quatro dias, nas horas de almoço, até conseguir que ela o deixasse acompanhá-la até em casa. Embora ainda magoada, Hermione foi se acostumando a esse novo jeito de Ron que, diga-se de passagem, estava muito mais gentil e atencioso. Já conversavam amigavelmente, e com alguma familiaridade. Depois de uma semana nisso, Hermione finalmente aceitou um convite de Ron para sair. Quando contou isso à mãe, esta a olhou como que dizendo “Você é quem sabe”, com um ar meio reprovador; mas Hermione foi mesmo assim.


No sábado ele tocou a campainha da casa dela 19:30h, meia hora antes do combinado. A Sra Granger atendeu.


— Hermione, o Ronald Weasley está aqui!


— Ah, eu não estou pronta ainda! – ela reclamou.


— Coloque algo mais social – sugeriu Ron, berrando perto da escada. – Quero te levar a um lugar chique.


— Desça aqui um instante – disse a mãe dela, olhando para o belo buquê de orquídeas e a caixa de chocolates nos braços de Ron.


— Já vou! – respondeu Hermione, exasperada.


Dali a vinte minutos ela desceu. Estava bem arrumada, bem vestida. Aproximou-se de Ron e olhou para ele, que sorria, depois para as coisas que ele trouxera, e perguntou secamente, cruzando os braços.


— Acha que pode me comprar, Ronald Weasley?


O garoto ficou verdadeiramente confuso. Arregalou os olhos e corou, gaguejando:


— Não era minha intenção, eu só queria te dar um presente... Se você não gostou, eu faço desaparecer num instante – ele disse, tirando a varinha. Mas Hermione estava lendo a caixa de chocolates.


— Meio-amargo com licor de hortelã... – ela murmurou. – Parece que você não esqueceu tudo. Vamos – ela falou, largando a caixa. Ron pegou a mão dela e eles saíram.


Foram jantar em um restaurante bruxo elegante com vista para o Tamisa. A conversa girou primeiro em torno do trabalho. Ron contou algumas coisas que fizera, inclusive, por cima, o caso dos traficantes de dragão. Hermione falou da viagem à China. O assunto foi se desviando, desviando, e chegou a um ponto que Ron podia usar a seu favor.


— Mas “não há lugar como nosso lar” – citou Hermione.


— Sim, a Inglaterra tem muitas belezas – comentou Ron.


— Como esse rio – Hermione disse, olhando o Tamisa.


— Ou como você – disse Ron, por sua vez. Hermione sorriu ironicamente. – É sério – ele acrescentou. – Esta noite, mesmo, você ofusca as estrelas.


Hermione olhou para ele, mantendo o sorriso irônico. Tinha certeza que ele vira aquela frase em algum livro ou revista. Ron não ligou para o ar irônico dela. Inclinou-se sobre a mesa e deu-lhe o melhor beijo que ela já recebera dele em todo o tempo que tinham estado juntos, impregnado de saudade e ardor acumulados. Eles se afastaram e, antes que passasse a perplexidade da garota, o rapaz disse com firmeza, olhando-a fundo nos olhos:


— Quero que seja a minha garota. Você me aceita?


Hermione apenas fez que sim com a cabeça, ainda em choque.


— Senti sua falta – ele murmurou, em tom ardente, beijando-a na testa. Não explicou mais nada, nem Hermione pediu explicação. Brigou muito consigo mesma, mais tarde, antes de dormir, por ter aceitado. Mas sabia que não seria capaz de agir de outra forma.


Os pais de Ron adoraram quando souberam que eles tinham voltado. Os de Hermione também, porque apesar de tudo gostavam de Ron, consideravam-no um bom rapaz, difícil de achar.


Eles estavam num namoro estável. Visitavam-se quase todos os dias e saiam juntos ao menos uma vez por semana. Ronald tornara-se extremamente gentil, um namorado exemplar, e Hermione sentia-se cada vez mais envolvida por ele. Não esquecera as ofensas, mas perdoara. Ela era feliz, embora no fundo estivesse apreensiva, porque ele, nessa nova fase, nunca tinha dito que lhe amava, e ela tinha medo que de uma hora para outra ele resolvesse largá-la, como fizera da outra vez. Hermione não sabia se suportaria uma segunda rodada. Mas continuava com ele, porque ela o amava.


 

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