9 - Duelo à meia-noite



– Duelo à meia-noite.

– Não gostei nada do nome desse capítulo. – Lily disse cruzando os braços sobre o peito.


– Também não gostei nem um pouco. – Neville disse lembrando-se do cão de três cabeças com um tremor.


– Eu adorei! – Sirius disse feliz em ver que seu afilhado estava seguindo os passos do pai e desafiando as regras da escola.


– Claro que adorou – Alice disse revirando os olhos – você é um irresponsável.


 


Harry jamais acreditara que fosse encontrar um garoto que ele detestasse mais do que Duda, mas isto foi antes de conhecer Draco. Os alunos do primeiro ano da Grifinória, porém, só tinham uma aula com os da Sonserina, a de Poções, por isso não precisavam aturar Draco muito tempo. Ou pelo menos, não precisavam até ver um aviso pregado no salão comunal de Grifinória que fez todos gemerem. As aulas de voo começariam na quinta-feira e os alunos das duas casas aprenderiam juntos.


— Típico — disse Harry desanimado. — É o que eu sempre quis, fazer papel de palhaço montado numa vassoura na frente do Draco.


 


– Você não vai fazer papel de palhaço. – Tiago disse categórico.


– Como você pode ter certeza? – Alice perguntou curiosa.


– Ele é meu filho, nunca faria papel de palhaço sobre uma vassoura. – Tiago disse olhando para Harry orgulhoso, Harry sorriu para ele feliz, em pouco tempo ele saberia que estava certo.


 


Ele estivera ansioso para aprender a voar, mais do que qualquer outra coisa.


— Você não sabe se vai fazer papel de palhaço — disse Rony sensato — Em todo o caso, sei que Draco vive falando que é bom em Quadribol, mas aposto que é conversa fiada.


Draco sem dúvida falava muito de voos. Queixava-se em voz alta que os alunos do primeiro ano nunca entravam para o time de Quadribol e se gabava em longas histórias, que sempre pareciam terminar com ele escapando por um triz dos trouxas de helicóptero. Mas ele não era o único pelo que Simas Finnigan contava, ele passara a maior parte da infância voando pelo campo montado numa vassoura. Até Rony contava para quem quisesse ouvir sobre a vez em que ele quase batera numa asa delta montado na velha vassoura de Carlinhos.


 


– Com certeza a história sobre trouxas e helicópteros é mentira. – Remo disse rindo – Vassouras não vão alto o bastante para alcançar helicópteros, especialmente quando montadas por alguém com menos de onze anos. E posso apostar que Rony estava exagerando quando disse que quase bateu em uma asa delta...


                Rony corou até a raiz dos cabelos, uma clara confissão de culpa.


– O único lugar fora de Hogwarts onde podemos voar é na clareira entre as macieiras e nenhum trouxa com asa delta passa por lá. – Gina disse rindo de Rony – Papai pôs alguns feitiços para os trouxas não se aproximarem das macieiras.


– Sempre soube que era uma mentira. – Hermione disse rindo.


– Não é uma mentira... – Sirius disse rindo – Apenas um ligeiro exagero da realidade.


 


Todos os garotos de famílias de bruxos falavam o tempo todo de Quadribol. Rony já tivera uma grande discussão sobre futebol com Dino Thomas, que também usava o dormitório deles. Rony não via nada excitante em um jogo em que ninguém podia voar e só tinha uma bola. Harry surpreendera Rony cutucando o pôster em que Dino aparecia com o time de futebol de West Ham, tentando fazer os jogadores se mexerem.


 


– Eu tinha onze anos, não conseguia entender por que as pessoas não se mexiam... – Rony disse constrangido.


 


Neville nunca andara de vassoura na vida, porque a avó nunca o deixara chegar perto de uma. No fundo, Harry achava que ela estava certíssima, porque Neville conseguira sofrer um número impressionante de acidentes mesmo com os dois pés no chão.


 


                Alice olhou feio para Harry e Harry encolheu os ombros.


– Não olhe assim para ele. – Neville disse olhando para a mãe com carinho – Ele está certo, eu tinha dois pés esquerdos.


 


Hermione Granger estava quase tão nervosa quanto Neville com a ideia de voar. Isto não era coisa que se aprendesse de cor em um livro, não que ela não tivesse tentado. No café da manhã de quinta-feira, deu um cansaço neles falando sobre macetes de voo que lera em um livro da biblioteca chamado Quadribol através dos séculos. Neville praticamente se pendurava em cada palavra que ela dizia, desesperado para aprender qualquer coisa que o ajudasse a se segurar na vassoura mais tarde, mas todos os outros ficaram muito felizes quando a conferência de Hermione foi interrompida pela chegada do correio.


 


– Não da para aprender a voar em um livro. – Remo disse dando de ombros.


– É bom para ela não ser a melhor em alguma coisa. – Rony disse dando um sorriso de lado para Hermione.


 


Harry não recebera nenhuma carta desde o bilhete de Hagrid, uma coisa que Draco não demorara nada a notar, é claro. A coruja de Draco estava sempre lhe trazendo de casa pacotes de doces, que ele abria fazendo farol na mesa da Sonserina.


Uma coruja de curral trouxe para Neville um pacotinho da avó.


Ele o abriu excitado e mostrou a todos uma bolinha de vidro do tamanho de uma bola de gude grande, que parecia cheia de fumaça branca.


— É um Lembrol! — explicou ele. — Vovó sabe que sou esquecido. Isto serve para avisar que a gente esqueceu de fazer alguma coisa. Olhe, aperte assim e ele fica vermelho, ah... — E ficou sem graça, porque o Lembrol de repente emitiu uma luz escarlate. —... Você esqueceu alguma coisa...


 


– Isso é a cara da minha mãe. – Frank disse rindo – Um objeto que te diz que esqueceu alguma coisa, mas não diz o que.


– Esse foi meu segundo lembrol, esqueci o primeiro no beco diagonal. – Neville disse e todos tiveram que rir da ironia de suas palavras.


 


Neville estava tentando se lembrar do que esquecera quando Draco, que ia passando pela mesa da Grifinória, arrancou o Lembrol de sua mão.


Harry e Rony puseram-se imediatamente de pé. Andavam querendo um motivo para brigar com Draco, mas a Professora Minerva, que era capaz de identificar uma confusão mais depressa do que qualquer outro professor da escola, num segundo estava lá.


— Que é que está acontecendo?


— Draco tirou o meu Lembrol, professora.


Mal-humorado, Draco mais do que depressa largou o Lembrol na mesa.


— Só estava olhando — falou, e saiu de fininho com Crabbe e Goyle na esteira.


Às três e meia, aquela tarde, Harry, Rony e os outros garotos da Grifinória desceram correndo as escadas que levavam para fora do castelo para a primeira aula de vôo. Era um dia claro, com uma brisa fresca e a grama ondeava pelas encostas sob seus pés ao caminharem em direção a um gramado plano que havia do lado oposto à floresta proibida, cujas árvores balançavam sinistramente a distância.


Os garotos da Sonserina já estavam lá, bem como as vinte vassouras arrumadas em fileiras no chão. Harry ouvira Fred e Jorge Weasley se queixarem das vassouras da escola, dizendo que havia umas que começavam a vibrar quando voavam muito alto, ou sempre repuxavam ligeiramente para a esquerda.


 


– As vassouras da escola são terríveis. – Tiago concordou com Fred e Jorge.


– Dumbledore aprendeu a voar em uma delas. – Sirius disse arrancando risadas de todos.


 


A professora, Madame Hooch, chegou. Tinhas cabelos curtos e grisalhos e olhos amarelos como os de um falcão.


— Vamos, o que é que estão esperando? — perguntou com rispidez. — Cada um ao lado de uma vassoura. Vamos, andem logo.


Harry olhou para a vassoura. Era velha e tinha algumas palhas espetadas para fora em ângulos estranhos.


— Estiquem a mão direita sobre a vassoura — mandou Madame Hooch diante deles — e digam "Em pé!”.


— EM PÉ! — gritaram todos.


A vassoura de Harry pulou imediatamente para sua mão, mas foi uma das poucas que fez isso.


 


– Se a vassoura subiu rápido quer dizer que confiou em você. – Tiago disse sorrindo – Tem tudo a ver com a segurança na voz.


 


A de Hermione Granger simplesmente se virou no chão e a de Neville nem se mexeu.


Talvez as vassouras como os cavalos, percebessem quando a pessoa estava com medo, pensou Harry, havia um tremor na voz de Neville, que dizia com demasiada clareza que ele queria manter os pés no chão.


 


– E você é realmente inteligente de perceber isso. – Remo disse sorrindo – A maioria das pessoas não entende esse princípio básico.


 


Madame Hooch, em seguida, mostrou-lhes como montar as vassouras sem escorregar pela outra extremidade, e passou pelas fileiras de alunos corrigindo a maneira de segurá-la. Harry e Rony ficaram contentes quando ela disse a Draco que ele segurava a vassoura errado havia anos.


— Agora, quando eu apitar, dêem um impulso forte com os pés — disse a professora. — Mantenham as vassouras firmes, saiam alguns centímetros do chão e voltem a descer curvando o corpo um pouco para frente. Quando eu apitar... Três... Dois...


Mas Neville, nervoso, assustado, e com medo que a vassoura o largasse no chão, deu um impulso forte antes mesmo de o apito tocar os lábios de Madame Hooch.


 


                Alice olhou para Neville pesarosa, o livro fazia seu filho parecer tão desajeitado.


 


— Volte, menino! — gritou ela, mas Neville subiu como uma rolha que sai sob pressão da garrafa, quatro metros, seis metros.


Harry viu a cara de Neville branca de medo espiando para o chão enquanto ganhava altura, viu-o exclamar, escorregar de lado para fora da vassoura e...


— BUM! — um baque surdo, um ruído de fratura e Neville caindo na grama, estatelado.


 


                Alice ofegou.


 


Sua vassoura continuou a subir cada vez mais alto e começou a flutuar sem pressa em direção à floresta proibida e desapareceu de vista.


Madame Hooch se debruçou sobre Neville, o rosto tão branco quanto o dele.


— Pulso quebrado — Harry ouviu-a murmurar — Vamos, menino, levante-se.


Virou-se para o restante da classe.


— Nenhum de vocês vai se mexer enquanto levo este menino ao hospital! Deixem as vassouras onde estão ou vão ser expulsos de Hogwarts antes de poderem dizer "Quadribol". Vamos, querido.


Neville, o rosto manchado de lágrimas, segurando o pulso, saiu mancando em companhia de Madame Hooch, que o abraçava pelos ombros.


Assim que se distanciaram e ficaram fora do campo de audição da classe, Draco caiu na gargalhada.


— Vocês viram a cara dele, o panaca?


 


                Frank olhava para o livro com raiva. Os nós de seus dedos se fecharam com força no livro.


 


Os outros alunos da Sonserina fizeram coro.


— Cala a boca, Draco — retrucou Parvati Patil.


— Uuuu, defendendo o Neville? — disse Pansy Parkinson, uma aluna da Sonserina de feições duras — Nunca pensei que você gostasse de manteiguinhas derretidas, Parvati.


— Olhe! — disse Draco, atirando-se para frente e recolhendo alguma coisa na grama. — É aquela porcaria que a avó do Neville mandou.


Lembrol cintilou ao sol quando o garoto o ergueu.


— Me dá isso aqui, Draco — falou Harry em voz baixa. Todos pararam de conversar para espiar, Draco soltou uma risadinha malvada.


— Acho que vou deixá-la em algum lugar para Neville apanhar, que tal em cima de uma árvore?


— Me dá isso aqui — berrou Harry, mas Draco montara na vassoura e saíra voando. Ele não mentira, sabia voar bem, e planando ao nível dos ramos mais altos de um carvalho desafiou: — Venha buscar, Potter!


Harry agarrou a vassoura.


— Não! — gritou Hermione Granger — Madame Hooch disse para a gente não se mexer. Vocês vão nos meter numa enrascada.


Harry não lhe deu atenção. O sangue palpitava em suas orelhas. Ele montou a vassoura, deu um impulso com força e subiu, subiu alto, o ar passou veloz pelo seu cabelo e suas vestes se agitaram com força para trás e numa onda de feroz alegria ele percebeu que encontrara alguma coisa que era capaz de fazer sem ninguém lhe ensinar. Isto era fácil, era maravilhoso.


 


– Ha! – Tiago gritou com alegria – Eu falei que você conseguiria!


 


Puxou a vassoura para o alto para subir ainda mais e ouviu gritos e exclamações das garotas lá no chão e um viva de admiração do Rony. Virou a vassoura com um gesto brusco ficando de frente para Draco, que planava no ar. O garoto estava abobalhado.


— Me dá isso aqui — mandou Harry — ou vou derrubar você dessa vassoura!


— Ah é? — retrucou Draco, tentando caçoar, mas parecendo preocupado.


Harry de alguma maneira sabia o que fazer. Curvou-se para frente, segurou a vassoura com firmeza com as duas mãos e ela disparou na direção de Draco como uma lança. Draco só conseguiu escapar por um triz. Harry fez uma curva fechada e manteve a vassoura firme. Algumas pessoas no chão aplaudiam.


 


– Você é nato! – Tiago gritou ainda mais feliz. – Ninguém precisou te ensinar nada, você apenas foi lá e conseguiu. – Tiago não conseguia parar de comemorar.


                Severo achou aquilo idiota, o garoto tinha apenas subido em uma vassoura, não era nenhum gênio.


 


— Aqui não tem Crabbe nem Goyle para salvarem sua pele, Draco — berrou Harry.


O mesmo pensamento parecia ter ocorrido a Draco.


— Apanhe se puder, então! — gritou, e atirou a bolinha de cristal no ar e voltou para o chão.


Harry viu, como se fosse em câmara lenta, a bolinha subir no ar e começar a cair. Ele se curvou para frente e apontou o cabo da vassoura para baixo, no instante seguinte estava ganhando velocidade num mergulho quase vertical, apostando corrida com a bolinha. O vento assobiava em suas orelhas, misturado aos gritos das pessoas que olhavam, ele esticou a mão a uns trinta centímetros do solo agarrou-a, bem em tempo de levar a vassoura à posição vertical, e caiu suavemente na grama com o Lembrol salvo e seguro na mão.


 


– Apanhador? – Tiago perguntou a Harry sorrindo. Ele mesmo era artilheiro, mas já havia jogado de apanhador em algumas ocasiões.


 


— HARRY POTTER!


Ele perdeu a animação mais depressa do que quando mergulhara. A Professora Minerva vinha correndo em direção à turma.


Ele se levantou tremendo.


— Nunca... Em todo o tempo que estou em Hogwarts... — A Professora Minerva quase perdeu a fala de espanto e seus óculos cintilavam sem parar. —... Como é que você se atreve... Podia ter partido o pescoço...


— Não foi culpa dele, professora...


— Calada, Srta. Patil..


— Mas Draco...


— Chega, Sr. Weasley, Potter me acompanhe, agora.


 


– Minerva é louca por quadribol, – Tiago disse confiante – ela não vai te expulsar, nem te punir...


– Não tem como você saber isso. – Lily disse preocupada, – McGonagall não vai deixar Harry escapar de desobedecer a ordens diretas.


– Aposto que ela não vai punir ele! – Sirius disse estendendo a mão para Lily.


– Você quer apostar comigo? – Lily perguntou assustada.


– É claro, Tiago tem a mesma opinião que eu, não tem graça apostar com ele. – Sirius disse sorrindo maroto – Mas você já disse que acha que ele vai ser punido...


– Vamos apostar o que? – Lily perguntou apertando a mão do maroto.


– Se você perder terá que dar um beijo em Tiago. – Sirius disse malicioso.


– Não. – Tiago disse categórico, surpreendendo a todos – Não me envolvam nisso.


– Ok, se Tiago não quer te dar uns beijinhos, – Sirius disse pensativo e Lily revirou os olhos – então você pode dançar como uma galinha em cima da mesa de centro. – Lily arregalou os olhos, não esperava uma aposta tão infantil, mas estava lidando com Sirius, já devia ter imaginado que seria algo assim.


– Tudo bem. – Lily disse dando de ombros – Mas se você perder vai ter que andar a rua principal de Hogsmead quando sairmos daqui, – Sirius sorriu achando a aposta muito fraca – completamente nu.


                Todos os presentes riram da cara de espanto de Sirius.


– Está interessada em saber como vim ao mundo, Evans? – Sirius perguntou sugestivo, mas parou de rir ao perceber o olhar mortal que Tiago lhe lançara.


– Não tenho qualquer interesse no que suas vestes cobrem, Black. – Lily respondeu séria – Tudo que quero é presenciar sua humilhação pública.


– Parece que temos uma marota entre nós. – Remo disse piscando para Lily.


– Por mim tudo bem, está apostado então. Todos aqui são testemunhas. – Sirius disse confiante.


 


Harry viu as caras vitoriosas de Draco, Crabbe e Goyle ao sair acompanhando, espantado, a Professora Minerva, que seguiu para o castelo. Ia ser expulso, sabia. Queria dizer alguma coisa para se defender, mas parecia ter acontecido alguma coisa com a sua voz.


A Professora Minerva caminhava decidida, sem nem olhar para trás ele tinha que correr para acompanhar seu passo. Agora se enrascara.


Não tinha durado nem duas semanas. Estaria fazendo as malas dali a dez minutos. Que iriam dizer os Dursley quando ele aparecesse à porta da casa?


Subiram os degraus da entrada, subiram a escadaria de mármore, e a Professora Minerva continuava a não dizer nada.


Escancarava portas e marchava pelos corredores com Harry trotando infeliz atrás dela. Talvez ela o levasse a Dumbledore.


Pensou em Hagrid, aluno expulso a quem tinham permitido continuar na escola como guarda-caça. Talvez virasse assistente de Hagrid. Seu estômago revirava só de pensar, observando Rony e os outros se tornarem bruxos enquanto ele andava pela propriedade carregando a bolsa de Hagrid.


 


– Você é muito pessimista! – Gina disse olhando para ele com carinho.


– Também acho, seu pai e Sirius fizeram coisas muito piores e nunca foram expulsos. – Remo disse rindo.


 


A Professora Minerva parou à porta de uma sala de aula. Abriu a porta e meteu a cabeça para dentro.


— Com licença, Professor Flitwick, posso pedir o Wood emprestado por um instante?


“Wood?” pensou Harry, intrigado, Wood seria alguma coisa que ela ia usar para castigá-lo?


 


– Wood para mim parece o nome de alguém. – Alice disse e recebeu um aceno de concordância de Frank.


 


Mas Wood afinal era uma pessoa, um menino forte do quinto ano, que saiu da sala de Flitwick parecendo confuso.


— Vocês dois me sigam — disse a Professora Minerva, e continuaram todos pelo corredor, Wood examinando Harry com curiosidade.


— Entrem.


A Professora Minerva indicou uma sala de aula que estava vazia exceto por Pirraça, que se ocupava em escrever palavrões no quadro-negro.


— Fora, Pirraça! — ordenou ela. Pirraça atirou o giz em uma cesta, produzindo um eco metálico e alto e saiu xingando. A Professora Minerva bateu a porta atrás dele e virou-se para encarar os dois garotos.


— Harry Potter, este é Olívio Wood. Olívio... Encontrei um apanhador para você.


 


– Sabia! – Tiago disse levantando-se e puxando Harry para um abraço. – Apanhador! Genial! – completou depois de voltarem para seus lugares.


– Acho que alguém vai ter que dançar sobre a mesa. – Sirius sorriu maldoso.


– Ela ainda pode punir ele... – Lily disse sem nem mesmo acreditar nas próprias palavras.


– Ela não vai. – Tiago respondeu olhando para Lily com pena.


 


A expressão de Olívio mudou de confusão para prazer.


— Está falando sério, professora?


— Seríssimo — resumiu a Professora Minerva. — O menino tem um talento natural. Nunca vi nada parecido. Foi a primeira vez que montou numa vassoura, Harry?


Harry confirmou com a cabeça. Não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas parecia que não estava sendo expulso, e começou a recuperar um pouco da sensibilidade nas pernas.


— Ele apanhou aquela coisa com a mão depois de um mergulho de mais de 15 metros — a Professora Minerva contou a Wood.


— Não sofreu um único arranhão. Nem Carlinhos Weasley seria capaz de fazer igual.


 


– Carlinhos Weasley é seu irmão, não é? – Remo perguntou a Rony curioso.


– É sim.


– Ele deve ser muito bom para McGonagall falar assim. – Remo disse admirado.


– Carlinhos poderia ter jogado profissionalmente, mas preferiu estudar dragões. – Gina disse orgulhosa do irmão.


 


Olívio parecia agora alguém cujos sonhos tinham virado realidade, todos ao mesmo tempo.


— Você já assistiu a um jogo de Quadribol, Potter? — perguntou excitado.


— Wood é o capitão do time da Grifinória — explicou a Professora Minerva.


— E tem o físico perfeito para um apanhador — acrescentou Olívio agora andando a volta de Harry, examinando-o. — Leve, veloz, vamos ter de arranjar uma vassoura decente para ele, professora, uma Nimbus 2000 ou uma Cleansweep-7, na minha opinião.


 


– Nimbus! – Tiago disse absorto – A série Nimbus é muito superior à Cleansweep.


 


— Vou conversar com o professor Dumbledore e ver se podemos contornar o regulamento para o primeiro ano. Deus sabe que precisamos de um time melhor do que o do ano passado. Esmagado naquele último jogo contra os sonserinos. Mal consegui encarar Severo Snape no rosto durante semanas...


A Professora Minerva espiou Harry com severidade por cima dos óculos.


— Quero ouvir falar que você está treinando com vontade, Potter, ou posso mudar de ideia quanto ao castigo que merece.


Então, inesperadamente, ela sorriu.


 


– Acho que a mesa de centro te espera Lily. – Sirius disse satisfeito.


                Lily levantou-se resignada, subiu na mesa de centro e agachou-se com os braços encolhidos ao lado do corpo imitando uma galinha.


– Você precisa dançar, Lily. – Sirius disse em meio a gargalhadas e começou a cantar – cócó cócócó cócó cócócó. – Todos com exceção de Snape fizeram coro à musiquinha de galinha de Sirius enquanto Lily dançava imitando uma galinha sobre a mesa.


                Ninguém resistiu às gargalhadas quando a garota terminou de pagar a aposta. Lily olhou severa para Tiago, deixando-o preocupado, mas para a surpresa de todos começou a rir com eles, não era mau-perdedora.


– Espero que tenha aprendido a lição. – Tiago disse passando o braço pelos ombros de Lily quando ela voltou a se sentar. – Nunca faça uma aposta com um maroto.


– Não foi tão ruim. – Lily disse sorrindo.


– Não foi ruim por que peguei leve com você. – Sirius disse ainda rindo – Nem obriguei você a fazer uma aposta mágica.


– Não faça apostas mágicas com Sirius – Remo disse sombrio – Ele pensa em consequências malucas demais.


 


— Seu pai teria ficado orgulhoso. Era um excelente jogador de Quadribol.


 


– Eu estou orgulhoso. – Tiago disse sorrindo para Harry. – Muito orgulhoso mesmo.


– Foi muito legal da parte de McGonagall falar isso para Harry. – Lily disse pensando na professora com carinho.


 


— Você está brincando.


Era hora do jantar. Harry acabara de contar a Rony o que acontecera quando deixara os jardins da propriedade com a Professora Minerva. Rony tinha um pedaço de bife e pastelão de rins a meio caminho da boca, mas esqueceu o que estava fazendo.


— Apanhador? — exclamou. — Mas os alunos do primeiro ano nunca jogam, você vai ser o jogador da casa mais novo do último...


— Século — completou Harry, enfiando o pastelão na boca.


Sentia-se particularmente faminto depois da agitação da tarde.


— Olívio me disse.


Rony estava tão admirado, tão impressionado, que ficou ali sentado de boca aberta para Harry.


— Vou começar a treinar na próxima semana — anunciou Harry.


— Só não conte a ninguém, Olívio quer fazer segredo.


Fred e Jorge Weasley entraram nesse momento no salão, viram Harry e foram depressa falar com ele.


— Grande lance — falou Jorge em voz baixa. — Olívio nos contou. — Estamos no time também... Batedores.


 


– Claro que eles seriam batedores. – Sirius disse rindo – Eles fazem bem o tipo.


 


— Sabe de uma coisa, tenho certeza de que vamos ganhar a taça de Quadribol deste ano — disse Fred. — Não ganhamos desde que Carlinhos terminou a escola, mas o time deste ano vai ser brilhante. Você deve ser bom, Harry, Olívio estava quase dando pulinhos quando nos contou.


— Em todo o caso, temos de ir, Lino Jordan acha que encontrou uma nova passagem secreta para sair da escola.


Fred e Jorge mal tinham desaparecido quando alguém menos bem-vindo apareceu: Draco, ladeado por Crabbe e Goyle.


— Comendo a última refeição, Harry? Quando vai pegar o trem de volta para a terra dos trouxas?


— Você está bem mais corajoso agora que voltou ao chão e está acompanhado por seus amiguinhos — disse Harry tranquilo. Não havia nada "inho" em Crabbe nem em Goyle, mas como a mesa principal estava repleta de professores, os garotos só podiam estalar as juntas e fazer cara feia.


— Enfrento você a qualquer hora sozinho — disse Draco. — Hoje à noite, se você quiser. Duelo de bruxos. Só varinhas, sem contato. Que foi? Nunca ouviu falar de duelo de bruxos, suponho?


 


– Espero que não tenha aceitado isso. – Lily disse preocupada. – É uma péssima ideia.


– O que eles podem fazer? – Sirius perguntou rindo – Eles tem onze anos e duas semanas de aula, o máximo que podem fazer é atirar fagulhas um no outro.


– O pai de Draco pode ter ensinado a ele algumas magias das trevas. – Remo disse preocupado. – O pai de Tiago ensinou a ele algumas azarações antes dele entrar na escola...


                Tiago concordou preocupado, é uma tradição entre famílias bruxas ensinar algumas magicas aos filhos antes deles entrarem para a escola.


 


— Claro que já — respondeu Rony virando-se. Vou ser o padrinho dele, quem vai ser o seu?


Draco mirou Crabbe e Goyle medindo-os.


— Crabbe, meia-noite está bem? Nos encontramos na sala de troféus, está sempre destrancada.


Quando Draco foi embora, Rony e Harry se entreolharam.


— O que é um duelo de bruxos? — perguntou Harry. — E o que você quis dizer quando se ofereceu para ser meu padrinho?


— Bom, o padrinho fica lá para tomar o seu lugar se você morrer — disse Rony com displicência, começando finalmente a comer o pastelão frio. Surpreendido com a expressão no rosto de Harry, acrescentou bem depressa:


— Mas as pessoas só morrem em duelos de verdade, sabe, com bruxos de verdade. O máximo que você e Draco conseguirão fazer será atirar fagulhas um no outro. Nenhum dos dois conhece magia suficiente para fazer estragos. Mas aposto que ele esperava que você recusasse.


— E se eu agitar minha varinha e nada acontecer?


— Jogue a varinha fora e meta-lhe um soco na cara — sugeriu Rony.


 


– Sempre uma boa ideia. – Sirius disse levantando o polegar para Rony.


 


— Com licença.


Os dois ergueram os olhos. Era Hermione Granger.


— Será que uma pessoa não pode comer sossegada neste lugar? — exclamou Rony.


Hermione não ligou para ele e se dirigiu a Harry.


— Não pude deixar de ouvir o que você e Draco estavam dizendo...


— Aposto que podia — resmungou Rony.


— E você não deve andar pela escola à noite, pense nos pontos que vai perder para a Grifinória se for pego, vai ser muito egoísmo da sua parte.


— É, para falar a verdade, não é da sua conta — respondeu Harry.


— Tchau — disse Rony.


 


– Você é amiga deles depois deles te tratarem desse jeito? – Alice perguntou a Hermione, Hermione apenas deu de ombros. – Fico me perguntando como isso aconteceu...


– Aposto que vamos descobrir logo. – Remo respondeu sorrindo para Hermione.


 


Em todo o caso, não era o que se poderia chamar de um final perfeito para o dia, pensou Harry, muito mais tarde, deitado na cama sem dormir, percebendo Dino e Simas adormecerem. Neville não voltara do hospital.


 


– Por que você não tinha voltado do hospital ainda? – Alice perguntou aflita – Achei que era apenas um pulso quebrado, Madame Pomfrey conserta isso em segundos.


– Você já vai ver. – Neville respondeu desanimado.


 


Rony passou a noite toda lhe dando conselhos do tipo "Se ele tentar lançar um feitiço, é melhor você tirar o corpo fora, porque não consigo me lembrar como se fecha o corpo".


 


– Você era hilário! – Sirius disse rindo dos conselhos de Rony.


 


Havia uma boa chance de serem pegos por Filch ou por Madame Nor-r-ra, e Harry sentiu que estava abusando da sorte, desrespeitando mais um regulamento da escola no mesmo dia. Por outro lado, a cara de deboche de Draco não parava de lhe aparecer no escuro. Essa era sua grande oportunidade de vencer Draco cara a cara. Não podia perdê-la.


 


– Um verdadeiro filho de Tiago. – Sirius disse com orgulho.


 


— Onze e trinta — Rony cochichou finalmente, é melhor irmos.


Eles vestiram os robes, apanharam as varinhas e atravessaram sorrateiros o quarto da torre, desceram a escada em espiral e entraram na sala comunal da Grifinória. Algumas brasas ainda rutilavam na lareira, transformando todas as poltronas em sombras corcundas. Tinham quase chegado à abertura no retrato quando uma voz falou da poltrona mais próxima.


— Não posso acreditar que você vai fazer isso, Harry.


Uma lâmpada se acendeu. Era Hermione Granger, de robe cor-de-rosa e cara fechada.


— Você! — exclamou Rony furioso. — Volte para a cama!


— Quase contei ao seu irmão — retorquiu Hermione. — Percy, ele é monitor, ia acabar com essa história.


 


– Você era terrível. – Tiago disse olhando para Hermione com pena.


 


Harry não conseguiu acreditar que alguém pudesse ser tão metido.


— Vamos — chamou Rony. Afastou o retrato da Mulher Gorda com um empurrão e passou pela abertura.


Hermione não ia desistir com tanta facilidade. Seguiu Rony pela abertura do retrato, sibilando para os dois como um ganso raivoso.


— Vocês não se importam com a Grifinória, vocês só se importam com vocês mesmos, eu não quero que a Sonserina ganhe a Taça da Casa e vocês vão perder todos os pontos que ganhei com a Professora Minerva por saber a Troca de Feitiços.


— Vai embora.


— Tudo bem, mas eu preveni vocês, lembrem-se do que eu disse quando estiverem amanhã no trem voltando para casa, vocês são tão...


Mas o que eram, eles não chegaram a saber. Hermione se virara para o retrato da Mulher Gorda para tornar a entrar e se viu diante de um quadro vazio. A Mulher Gorda tinha saído para fazer uma visita noturna e Hermione ficou trancada do lado de fora da torre da Grifinória.


— Agora o que é que eu vou fazer? — perguntou com a voz esganiçada.


— O problema é seu — disse Rony. — Nós temos de ir, se não vamos nos atrasar.


Nem tinham chegado ao fim do corredor quando Hermione os alcançou.


— Vou com vocês.


— Não vai, não.


— Vocês acham que vou ficar parada aqui, esperando o Filch me pegar? Se ele encontrar os três, conto a verdade, que eu estava tentando impedir vocês de saírem e vocês podem confirmar.


 


– Você era um bocado cara-de-pau, não? – Remo disse tentando não ofender a garota.


– Você nem imagina. – Rony comentou recebendo um cutucão nas costelas de Hermione.


 


— Mas que cara-de-pau — disse Rony bem alto.


— Calem a boca, vocês dois — disse Harry bruscamente. — Ouvi uma coisa.


Era como se alguém estivesse farejando.


— Madame Nor-r-ra? — murmurou Rony, apertando os olhos para enxergar no escuro.


Não era Madame Nor-r-ra. Era Neville. Estava enroscado no chão, dormindo a sono solto, mas acordou repentinamente assustado quando eles se aproximaram.


 


– O que você estava fazendo dormindo no chão do corredor? – Alice perguntou com pena do filho.


 


— Graças a Deus que vocês me encontraram! Estou aqui há horas, não consegui me lembrar da nova senha para entrar no quarto.


— Fale baixo, Neville. A senha é "focinho de porco", mas não vai lhe adiantar nada agora, a Mulher Gorda saiu.


— Como está o braço? — perguntou Harry.


— Ótimo — disse Neville mostrando. — Madame Pomfrey consertou-o na hora.


— Que bom, olhe, Neville, temos que estar em um lugar, vemos você depois.


— Não me deixem aqui! — pediu Neville pondo-se de pé. — Não quero ficar sozinho, o barão Sangrento já passou por aqui duas vezes.


Rony consultou o relógio e em seguida fez uma cara furiosa para Hermione e Neville.


— Se formos pegos por causa de vocês, não vou sossegar até aprender aquela Poção do Morto-Vivo que Quirrell falou e vou usá-la contra vocês.


Hermione abriu a boca, talvez para dizer a Rony exatamente como usar o Feitiço do Morto-Vivo, mas Harry mandou-a ficar quieta e fez sinal para prosseguirem.


Passaram quase voando pelos corredores listrados pelo luar que entrava pelas grades das janelas altas. A cada curva Harry esperava topar com Filch ou com Madame Nor-r-ra, mas tiveram sorte.


Subiram correndo uma escada até o terceiro andar e, nas pontas dos pés, dirigiram-se à sala dos troféus.


Draco e Crabbe ainda não tinham chegado. As vitrines de cristal onde estavam guardados os troféus refulgiam quando tocadas pelo luar. Taças, escudos, pratos e estátuas piscavam no escuro com lampejos prateados e dourados. Eles caminharam rente às paredes, mantendo os olhos nas portas de cada lado da sala.


Harry tirou a varinha da caixa para o caso de Draco aparecer de repente e começar a duelar.


Os minutos passaram vagarosos.


 


– Ele armou para vocês, não é? – Tiago perguntou pesaroso.


– Aposto que sim. – Sirius disse sem se dar ao trabalho de estender a mão, sabia que Tiago não apostaria.


 


— Ele está atrasado, quem sabe se acovardou — Rony sussurrou. Então uma batida na sala ao lado os sobressaltou, acabara de erguer a varinha quando ouviram alguém falar e não era Draco.


— Vá farejando, minha querida, eles podem estar escondidos em algum canto.


Era Filch falando com Madame Nor-r-ra. Horrorizado, Harry fez sinais frenéticos para os outros três o seguirem o mais depressa possível, e fugiram silenciosos em direção à porta mais distante da voz de Filch. As vestes de Neville mal tinham acabado de passar a curva quando ouviram Filch entrar na sala dos troféus.


— Eles estão por aqui — ouviram-no resmungar —, provavelmente escondidos.


— Por aqui! — disse Harry, apenas mexendo a boca, para os outros e, petrificados, eles começaram a descer uma longa galeria cheia de armaduras. Podiam ouvir Filch se aproximando. Neville de repente, soltou um guincho assustado e saiu correndo.
Tropeçou, agarrou Rony pela cintura e os dois desabaram em cima de uma armadura.


A queda e o estrépito foram suficientes para acordar o castelo inteiro.


— CORRAM! — gritou Harry e os quatro desembestaram pela galeria, sem virar a cabeça para ver se Filch os seguia. Fizeram a curva firmando-se no alisar da porta e saíram galopando por um corredor atrás do outro, Harry na liderança, sem a menor ideia de onde estavam nem que direção tomava. Atravessaram uma tapeçaria, rasgando-a e encontraram uma passagem secreta, precipitaram-se por ela e foram sair perto da sala de aula de Feitiços, que sabiam estar a quilômetros da sala dos troféus.


 


– Não fiquem ai. – Tiago falou preocupado – Sabendo as passagens certas ele vai estar ai em poucos minutos.


 


— Acho que o despistamos — ofegou Harry, apoiando-se na parede fria e enxugando a testa. Neville estava dobrado em dois, chiava e falava desconexamente.


— Eu... Disse... A vocês — Hermione falou sem fôlego, agarrando o bordado no peito. — Eu... Disse... A vocês.


— Temos de voltar à torre de Grifinória — lembrou Rony —, o mais rápido possível.


— Draco enganou você — disse Hermione a Harry. — Já percebeu isso, não? Não ia enfrentar você. Filch sabia que alguém ia estar na sala dos troféus. Draco deve ter contado a ele.


Harry achou que ela provavelmente tinha razão, mas não ia dar o braço a torcer.


— Vamos.


Não ia ser tão simples. Não tinham caminhado nem dez passos quando ouviram o barulho de uma maçaneta e alguma coisa disparou da sala de aula à frente deles.


Era Pirraça. Avistou os garotos e soltou um guincho de prazer.


— Cale a boca, Pirraça, por favor, você vai fazer a gente ser expulso.


 


– Péssima ideia. – Remo disse acenando negativamente com a cabeça. – Ele adora colocar alunos em problemas.


 


Pirraça soltou uma gargalhada.


— Passeando por aí à meia-noite, aluninhos? Tsc, tsc. Que feinhos, vão ser apanhadinhos.


— Não se você não nos denunciar, Pirraça, por favor.


— Devia contar ao Filch, devia — disse Pirraça bem comportado, mas seus olhos cintilaram de maldade. — É para o seu próprio bem, sabem?


— Saia da frente — disse Rony com rispidez, baixando o braço em Pirraça. Foi um grande erro.


— ALUNOS FORA DA CAMA! — berrou Pirraça. — ALUNOS FORA DA CAMA NO CORREDOR DO FEITIÇO!


 


– Eles estão no terceiro andar, não é? – Lily perguntou a Tiago. Tiago apenas acenou afirmativamente com a cabeça.


 


Passando por baixo de Pirraça eles saíram desembalados até o final do corredor onde depararam com uma porta... Fechada.


— Acabou-se! — gemeu Rony, empurrando inutilmente a porta — Estamos ferrados! É o fim!


Ouviram passos, Filch correndo a toda em direção aos gritos de Pirraça.


— Ah, sai da frente — Hermione resmungou aborrecida.


Agarrando a varinha de Harry, bateu na fechadura e murmurou:


— Alorromora!


A fechadura deu um estalo e a porta se abriu, eles se atropelaram por ela, fecharam-na e apuraram os ouvidos, à escuta.


 


– Isso não é bom. – Remo disse suspirando – Se a porta estava trancada, provavelmente tinha um motivo.


– Deve ser o corredor proibido do terceiro andar. – Frank disse nervoso, o que quer que estivesse nesse corredor era perigoso.


 


— Para que lado eles foram, Pirraça? — era Filch perguntando. — Depressa, me diga.


— Peça "por favor".


— Não me enrole, Pirraça, vamos, para que lado eles foram?


— Não digo nada se você não pedir "por favor" — disse Pirraça na cantilena irritante com que falava.


— Está bem, “por favor”.


— NADA! Nada haaa! Eu disse a você que não dizia nada se você não pedisse por favor! Ha ha! Haaaaaa! — E ouviram Pirraça voar rápido para longe e Filch xingar com raiva.


 


                Sirius, Tiago e Remo se entreolharam antes de cair na gargalhada.


– Foi Sirius quem ensinou isso a Pirraça. – Remo explicou quando se recuperou das risadas.


– Obrigado. – Harry disse sorrindo para o padrinho.


 


— Ele acha que a porta está trancada! — Harry falou. — Acho que escapamos. Sai para lá, Neville! — Neville puxava a manga do robe de Harry fazia um minuto. — Que foi?


Harry se virou e viu, muito claramente, o que foi. Por um instante teve a certeza de que entrara num pesadelo, era demais depois de tudo o que já acontecera.


Não estavam numa sala, conforme ele supusera. Achavam-se num corredor. O corredor proibido do terceiro andar. E agora sabiam por que era proibido.


Estavam encarando os olhos de um cachorro monstruoso, um cachorro que ocupava todo o espaço entre o teto e o piso. Tinha três cabeças. Três pares de olhos que giravam enlouquecidos. Três narizes, que franziam e estremeciam farejando-os. Três bocas babosas, a saliva escorrendo em cordões viscosos das presas amarelas.


 


– Quem foi o louco que colocou um cão gigante de três cabeças dentro de uma escola? – Alice perguntou revoltada, seu filho havia estado com aquele cão gigante.


– Dumbledore? – Gina sugeriu dando de ombros.


– Sempre achei Dumbledore um tanto excêntrico demais. – Alice disse bufando.


– O cão com certeza tem um bom motivo para estar lá. – Tiago disse com um suspiro.


 


Estava muito firme, os olhos a observá-los, e Harry sabia que a única razão por que ainda estavam vivos era que o seu repentino aparecimento apanhara o cachorro de surpresa, mas ele já estava se recuperando e depressa, não havia dúvida quanto ao significado daqueles rosnados de ensurdecer.


Harry tateou a procura da maçaneta. Entre Filch e a morte, ficava com o Filch.


Retrocederam. Harry bateu a porta e eles correram, quase voaram pelo corredor, Filch devia ter tido pressa para procurá-los em outro lugar porque não o viram em parte alguma, mas nem se importaram. A única coisa que queriam era abrir a maior distância possível entre eles e o monstro. Não pararam de correr até chegarem ao retrato da Mulher Gorda no sétimo andar.


— Onde foi que vocês andaram? — perguntou ela, olhando para os robes que caiam soltos dos ombros e os rostos vermelhos e suados.


— Não interessa. Focinho de porco, focinho de porco — ofegou Harry, e o quadro girou para frente. Eles entraram de qualquer jeito na sala comunal e desmontaram, trêmulos, nas poltronas.


Levou algum tempo até um deles falar alguma coisa. Neville, então, parecia que nunca mais voltaria a falar.


— Que é que vocês acham que eles estão querendo, com uma coisa daquelas trancada numa escola? — perguntou Rony finalmente. — Se existe um cachorro que precisa de exercícios é aquele.


Hermione tinha recuperado tanto o fôlego quanto o mau humor.


— Vocês não usam os olhos, vocês todos, usam? — perguntou com rispidez. — Vocês não viram em cima do que ele estava?


 


– O cachorro devia estar protegendo a Pedra Filosofal. – Severo falou com se fosse obvio.


                Tiago e Sirius não queriam concordar com ele, mas tinham que admitir que era o mais provável.


 


— No chão? — arriscou Harry. — Eu não fiquei olhando para as patas, estava ocupado demais com as cabeças.


— Não, não estou falando do chão. Ele estava em cima de um alçapão. É claro que está guardando alguma coisa.


Ela se levantou olhando feio para ele.


— Espero que estejam satisfeitos com o que fizeram. Podíamos ter sido mortos, ou pior, expulsos. Agora, se vocês não se importam, eu vou me deitar.


 


– Vocês tem razão, – Hermione disse espantada – eu realmente tinha um problema com prioridades, não é?


– Que bom que você mesma pode admitir isso. – Sirius disse dando uma piscadela para a garota.


 


Rony ficou olhando para ela, de boca aberta.


— Não, não nos importamos. Qualquer um pensaria que nós a arrastamos conosco, não é mesmo?


Mas Hermione tinha dado a Harry algo em que pensar quando voltou para a cama. O cachorro estava guardando alguma coisa...


Que era que Hagrid tinha dito? Gringotes era o lugar mais seguro do mundo quando se queria esconder alguma coisa, com exceção talvez de Hogwarts.


Parecia que Harry descobrira onde o pacotinho encalombado do cofre setecentos e treze tinha ido parar.


 


– E por que você está pensando nisso? – Lily perguntou a Harry com um olhar severo – você devia estar preocupado em se divertir e estudar...


– Desculpa. – Harry disse sem conseguir esconder um sorriso.


– Lily, você tem noção de que esse é só o primeiro livro, de sete? – Remo perguntou observando os outros livros sobre a mesa de centro.


– E esse é o mais fino. – Sirius disse observando também.


– Suponho que cada um conte um ano seu em Hogwarts? – Tiago perguntou curioso.


– Mais ou menos isso... – Harry disse dando de ombros.


– Vamos comer, por favor? – Rony implorou – Estou morrendo de fome.


–Você sempre está com fome. – Gina disse dando língua para o irmão.


                Todos se sentaram à mesa para o almoço. Severo não conseguia tirar os olhos de Lily e Tiago, cada toque que os dois trocavam, mesmo que sem qualquer intenção, fazia as mãos de Severo tremerem de raiva.


                Lily estava se deixando levar por Tiago, para ela parecia certo estar ao lado dele. Era confortável. E Tiago não podia deixar de aproveitar toda essa proximidade.


– Vamos continuar então? – Frank perguntou quando todos terminaram – Ainda temos muito para ler. E estou ficando um tanto curioso.


                Rony pegou o livro quando todos voltaram para seus lugares e abriu no próximo capítulo.


– Capítulo X – O dia das bruxas.

                                                                  ~~ x ~~ 


Aqui estou eu para mais um capítulo.
Muito obrigada a todos que leram, e um obrigada especial a todos que comentam e fazem minha vontade de escrever cada dia maior:
Clenery Aingremont: A morte que mais chorei foi a de Sirius. (É meu personagem favorito), lembro de estar no cinema com minha mãe na estreia de OdF e começar a chorar muito tempo antes dele realmente morer, só por saber o que estava para acontecer, aliás, sempre choro quando leio a morte dele, e a de Tiago e Lily no último livro...
Guilherme L.: Eu amo toda a história, eu amo cada ideia que se passou na cabeça de JK enquanto ela escrevia, acho tudo absolutamente perfeito do jeito que é (claro que sofri horrores com as mortes de Sirius, Fred e Remo), mas acho que na hora de colocar o nome no pobrezinho do filho do Harry ela deu uma vacilada muito grande. Não entendo como tanta gente gosta de Snape. Tenho que me controlar para não escrever ele com muita raiva (para me manter fiel ao que JK escreveu).
MionGinnyLuna: Alvo Remo não fica bem mesmo, mas não acho que Alvo Severo fique muito melhor... Dumbledore tem uns cinco nomes que podiam ser usados e talvez ficassem bons com Remo (ou com John que é o nome do meio do Remo). E não entendo por que as pessoas idolatram Snape, acho que ele não fez mais do que a "obigação" dele no final.
Luiza Snape: Os Marotos são muito espertos (tem que ser para se tornar animagos no quinto ano)... Acho que a única vez que não foram espertos foi colocando Rabicho como fiel do segredo, mas ninguém é perfeito, não é?
Gi Molly Weasley: Não gosto do Snape, mas não deixo de te respeitar por gostar, apesar de não entender o por que... Gosto de todos os personagens também, mas é uma coias tipo: "eu amo odiar a Umbridge" (aliás, torci mais pela morte dela do que pela de Voldemort, pena que ela não morreu).
Akemi Lilith Homura: Vamos lá então, vou tentar responder tudo:
- Se se refere a madame Nor-r-ra, ninguém além de Filch parece gostar dela, nem mesmo Hagrid que gosta de animais a suporta, isso diz muito sobre ela, não é?
- Se parecer com Hermione em alguns sentidos é uma coisa boa, a não ser que queira dizer que se sente solitária por ser mais inteligente que todo mundo e não ter amigos...
- Todos vão descobrir o por que, resta saber qual será a reação de cada um, acho que Tiago não vai aceitar muito bem...
- Trecho do livro sobre a sala cheirando a alho: não entendi nada .-. precisarei de uma explicação sobre o comentário...
- Concorda com ele que Quirrell é um imbecil? Todos concordamos que ele é um verdadeiro fracote, acredito que Lupin ficará muito feliz lá pelo terceiro livro, pelo menos nesse ponto.
- Nem Dumbledore conseguiria controlar todos juntos, e isso é muita coisa.
- E por fim a leitora: As vezes também sinto pena de Snape, porém acredito que ele escolheu o destino dele, de todos, ele foi o único que tinha outra opção.
(Acho que consegui responder tudo!)
Karine Daniele da Silva: Já escrevi a morte de sirius (apesar de ainda estar no segundo livro) e confesso que foi dificil demais para mim.
LULU789: Ideias sempre serão bem vindas, quanto à conversa de pai e filho, é uma ótima ideia, pode se encaixar perfitamente no quinto livro, nas memorias de Snape, ou quando Harry começa a se aproximar de Cho. Já a parte de Teddy acabar aparecendo lá de alguma forma acho dificil que aconteça, afinal, vira-tempos apenas te transportam no tempo e não no espaço, não é? E acho dificil o pequeno Teddy estar em Hogwarts com apenas um ano. Mas enviar mais alguém é algo a ser considerado!


 
 Não deixem de comentar! Até o próximo.

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Comentários (9)

  • Slytherin Solitária

    Sabe, eu acho interessante mandar a Luna!Aí você colocava ela como namorada do Neville.Mas mande no sext livro!Estou amando a fic,mal posso esperar por hp 3, qual vai ser a reação dos marotos ao saber que o Sirius:12 YEARS!IN AZKANNNNNN!!!!KKkkm vai ser hilario.Eu amo o Sev, acho que ele so se aliou ao Voldmort pq nunca foi feliz, a não ser pela amizade da lilan e ele ss ecaso com o Tiago,, mas pra mim ele foi o mais corajoso das aga imagina a cara dos marotos no hp 7!Msm assim axo que o harry nao escolheu bem os nomes Alvo Severo?Ou Alvo ou Severo.James Sirius?Nao ficou legal Lilian Luna Os filhos dele nao tem culpa se o pai viveu uma vida loka e terem esse nomes, pkr que ele nao 3scolhe umnome novo concordo com vc parabens pela fic!!! 

    2014-05-16
  • vitoria67

    bem a morte do fred foi a que mais me ........arrasou. sabe entre todos.a dos gemeos a qua e nada ver,sirius, lupim e tonks ........chega a dar raiva...mais adoro sua fic ja disse ela e muito boa

    2013-11-22
  • Clenery Aingremont

    A morte que mais chorei também foi a de Sirius. Até que veio a morte da Tonks e do Remus. Sabe, eu adoro a Tonks! É minha personagem preferida e me identifico muito com ela. Já que sou igualmente desastrada. Sou uma mistura de Hermione com Tonks, porque sou muito estudiosa, igual a Hermione. Enfim! Desculpe a "demora" para comentar, mas cortaram minha internet na Segunda e ela só retornou agora. Espero que não tenha atualizado há muito tempo :) Aguardo o próximo capítulo!

    2013-11-08
  • LuLu Weasley Potter

    Esse sirius... Kkkkkk, tinha que ser ele pra gostar do título antes mesmo de ler o cap... AMEI O CAP. principalmente a aposta... Coitada da lily, se preoculpando com o harry por causa desse pequeno duelo, imagina quando chegar no livro CDF ou no da ODF... Se bem que acho que o extinto assassino dela vai aflorar e muito no livro da ordem... O que eu mais to anciosa é pela reação dos marotos quando souberem da traição do Pedro e tambem das piadinhas que eu tenho certeza que Tiago e sirius vao fazer quando souberem que no HP7 o remo finalmente se rende ao amor... Mais uma vez tenho que dizer que sua fic ta incrível e que vc é uma autora maravilhosa... Continue assim... GI MOLLY WEASLEY eu apoio a sua ideia de dois caps por semana...kkkkkkkkk...

    2013-11-07
  • JuanZ

    Adorei o capítulo, principalmente a parte da aposta entre Lily e Sirius... E a Gi Molly Weasley está errada, Tiago não era apanhador, JK falou em uma entrevista que ele era artilheiro mesmo, como você escreveu! 

    2013-11-07
  • Mary Lilian Potter

    Adorei o cap, coitada a lily nao sabe nem metade do que eles aprontaram, quero ver a reaçao dela no final.Concordo muito com sirius, rony é hilario.Achei muito boa a aposta entre a lily e o sirius agora ela aprendeu a nao aposta com o sirius...Espero ansiosa o proximo cap.

    2013-11-07
  • Gi Molly Weasley

    Acabei agora de ler e AMEI os comentário! Sério! Só uma coisinha errada ali no meio: o Tiago também era apanhador em Hogwarts. Mas eu amei mesmo. E continuo com a minha opinião de que você devia postar duas vezes por semana haha Beijos, até o próximo capítulo ;D ;*

    2013-11-07
  • Gi Molly Weasley

    Tipo, eu acho que gosto do Snape porque eu tenho um espírito de vingança quando as pessoas fazem algo comigo. E é o que ele faz com o Harry desde o começo. Se vinga dele por ser filho do Tiago. Aconteceu comigo a mesma coisa que você em relação à Umbridge. Acho que todo mundo torceu mais pela morte dela do que pela morte do tio Voldy haha (Corri pra ver as respostas antes de ler, mas depois que eu ler, vou comentar de novo kkk)

    2013-11-07
  • Guilherme L.

    Haha a Lily nem tem ideia de como isso vai piorar mais pra frente. Outro bom capítulo =]] como eu disse antes, ainda bem que você não para de frase em frase pra escrever algo, isso torna o capítulo bem cansativo de ler. (por sinal, não me lembro do próximo capítulo de HP1, que absurdo kkkk)

    2013-11-07
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