5 - O beco diagonal



– O beco diagonal.

– Acho que isso só pode significar que você está indo comprar o material. – Tiago disse feliz.


– É minha primeira incursão ao mundo bruxo. – Harry disse saudoso, lembrava-se perfeitamente de como foi aquela primeira vez maravilhosa no beco diagonal.


– Queria estar com você, comprando seus livros, sua varinha. – Lily disse com pesar.


– Se eu estivesse lá tentaria te ajudar a contrabandear uma vassoura para Hogwarts. – Sirius disse sorrindo para o afilhado. Harry olhou para ele com carinho.


                Lily pigarreou antes de começar a ler.


 


Harry acordou cedo na manhã seguinte. Embora soubesse que já era dia, continuou com os olhos bem fechados.


“Foi um sonho", disse a si mesmo com firmeza. “Sonhei que um gigante chamado Rúbeo Hagrid veio me dizer que eu ia para uma escola de magia. Quando abrir os olhos estarei em casa no meu armário.”


 


– Pessimista. – Gina murmurou olhando para Harry com carinho.


 


De repente ouviu um ruído alto de batidas.


"É a tia Petúnia batendo na porta", pensou Harry, desanimando. Mas, ainda assim, não abriu os olhos. Tinha sido um sonho tão bom.


Bum. Bum. Bum.


— Está bem — resmungou Harry — já estou levantando.


Sentou-se e o pesado casaco de Hagrid escorregou de seu corpo. O casebre estava inundado de sol, a tempestade passara, o próprio Hagrid estava dormindo no sofá desmontado e havia uma coruja batendo com a garra na janela, trazendo um jornal no bico.


Harry ergueu-se de um pulo, sentia-se feliz como se houvesse um grande balão crescendo dentro dele. Foi direto à janela e abriu-a com um puxão. A coruja entrou voando e deixou cair o jornal em cima de Hagrid, que nem acordou. A coruja então voou pelo chão e começou a atacar o casaco do gigante Hagrid.


— Não faça isso.


Harry tentou espantar a coruja, mas ela o ameaçou com o bico e continuou a atacar ferozmente o casaco.


— Rúbeo! — chamou Harry alto. — Tem uma coruja...


— Pague a ela — resmungou Hagrid dentro do sofá.


— Quê?


— Ela quer receber o pagamento pela entrega do jornal. Procure nos bolsos.


O casaco de Hagrid parecia ser feito só de bolsos, molhos de chaves, fichas de metal, rolinhos de barbante, balas de hortelã, saquinhos de chá... E finalmente, Harry puxou um punhado de moedas estranhas.


— Dê a ela cinco Nuques — disse Hagrid sonolento.


— Nuques?


— As moedinhas de bronze.


Harry contou cinco moedinhas de bronze e a coruja esticou a perna para ele enfiar o dinheiro numa carteirinha de couro que trazia presa. Em seguida saiu voando pela janela aberta.


Hagrid bocejou alto, sentou-se, espreguiçou-se.


— É melhor nos despacharmos, Harry, temos muito que fazer hoje, temos que ir a Londres comprar todo o seu material escolar.


Harry revirava as moedas mágicas para examiná-las. Acabara de pensar em uma coisa que o fez se sentir como se o balão da felicidade que havia dentro dele tivesse furado.


— Hum... Hagrid?


— Hum? — respondeu Rúbeo, calçando as enormes botas.


— Não tenho dinheiro nenhum, e você ouviu tio Válter à noite passada, ele não vai pagar para eu aprender magia.


 


– Não precisa se preocupar com isso. – Sirius cochichou e Remo concordou com a cabeça.


 


— Não se preocupe com isso — disse Hagrid, coçando a cabeça enquanto se levantava. — Você acha que seus pais não lhe deixaram nada?


— Mas se a casa foi destruída...


— Eles não guardavam o ouro que tinham em casa, garoto! Não, nossa primeira parada vai ser em Gringotes. O banco dos bruxos. Coma uma salsicha, elas não são ruins frias, e eu não deixaria de comer uma fatia do seu bolo de aniversário.


— Bruxos têm bancos?


— Só este. Gringotes. É administrado por duendes.


Harry deixou cair o pedaço de salsicha que tinha na mão.


— Duendes?


 


– Os duendes me assustaram muito na primeira vez que fui a Gringotes. – Hermione comentou lembrando-se de sua primeira visita ao beco diagonal.


– A mim também. – Lily concordou. – Olhavam para meus pais com desconfiança, só queríamos trocar algumas libras por galeões, mas eles olhavam para nós como se fossemos roubar o banco. – Harry, Hermione e Rony se entreolharam culpados.


– Vocês roubaram o banco? – Sirius perguntou percebendo o olhar que trocaram.


– Realmente não podemos falar sobre isso. – Rony disse parecendo ainda mais culpado.


– Vocês definitivamente roubaram o banco! – Remo acusou.


– Como você pode ter tanta certeza? – Alice perguntou nervosa.


– Passei seis anos com Sirius e Tiago, sei reconhecer culpa. – Remo disse dando de ombros.


– Nós não podemos mesmo falar sobre o que ainda não aconteceu no livro. – Harry disse e fez sinal para a mãe voltar a ler.


 


— É, e por isso que só um louco tentaria roubar o banco, é o que lhe digo. Nunca se meta com duendes, Harry, Gringotes é o lugar mais seguro do mundo para qualquer coisa que você queira guardar bem, com exceção de Hogwarts, talvez. Aliás, preciso mesmo ir a Gringotes. Para Dumbledore. Negócios de Hogwarts. — Hagrid se endireitou, orgulhoso. — Ele sempre me manda tratar de assuntos que acha importante. Buscar você, pegar coisas em Gringotes, sabe que pode confiar em mim, entende? Apanhou tudo? Vamos, então.


Harry seguiu Hagrid em direção ao rochedo. O céu estava bem claro agora e o mar cintilava ao sol. O barco que tio Válter alugara continuava lá, com muita água no fundo depois da tempestade.


— Como foi que você chegou aqui? — perguntou Harry, procurando um segundo barco.


— Voando — respondeu Hagrid.


 


– Definitivamente, não consigo imaginar Hagrid voando. – Tiago disse rindo.


– Até hoje não sei como ele chegou lá voando, – Harry disse pensativo – não foi em uma vassoura, nem na moto.


– Talvez um testrálio. – Gina disse lembrando-se com pesar de quando viajou em um.


– Provavelmente. – Remo disse calmo. – Testrálios aguentam grandes cargas, e são invisíveis a quem não encarou a morte, um meio de transporte ótimo para bruxos que não podem aparatar e não gostam de vassouras.


 


— Voando?


— É... Mas vamos voltar nisso ai. Não tenho permissão de usar mágica depois de apanhar você.


Eles se acomodaram no barco, Harry ainda de olhos arregalados para Hagrid, tentando imaginá-lo voando.


— Mas parece um desperdício remar — disse Hagrid, lançando a Harry um dos seus olhares de esguelha. — Se eu quisesse... Hum... Apressar um pouco as coisas, você se importaria de não dizer nada em Hogwarts?


— Claro que não — falou Harry ansioso para ver mais mágicas.


Hagrid puxou outra vez o guarda-chuva cor-de-rosa, deu duas pancadinhas no lado do barco e eles dispararam em direção ao continente.


— Por que só um louco tentaria roubar Gringotes? — perguntou Harry.


— Feitiços... Encantamentos — disse Hagrid desdobrando o seu jornal. — Dizem que há dragões guardando os cofres de segurança.


 


– Isso é mentira. – Alice disse nervosa. – Não podem ter dragões em Gringotes.


– Não é mentira. – Sirius discordou e recebeu acenos de concordância de Tiago, Rony, Hermione e Harry. – Um dragão guarda o cofre da minha família em Gringotes.


– O da minha também. – Tiago disse concordando.


– Apenas os cofres das famílias mais antigas do mundo bruxo são guardados por dragões. – Sirius completou dando de ombros – Minha mãe está sempre se gabando disso por ai.


                Alice e Lily olharam para eles assombradas, Lily nunca havia entrado em nenhum cofre de Gringotes, e Alice havia estado apenas no de sua família nos níveis superiores.


 


E depois é preciso conhecer o caminho. Gringotes fica embaixo de Londres, centenas de quilômetros abaixo, entenda. Mais fundo que o metrô. Você morreria de fome tentando sair de lá, mesmo que conseguisse pôr as mãos em alguma coisa.


Harry ficou sentado pensando no que ouvira enquanto Hagrid lia o jornal, O Profeta Diário. Harry aprendera com o tio Válter que as pessoas gostavam de ser deixadas em paz quando faziam isso, mas era muito difícil, nunca tivera tantas perguntas para fazer na vida.


— O Ministério da Magia anda aprontando as trapalhadas de sempre — resmungou Hagrid, virando a página.


— Tem um ministro da Magia? — perguntou Harry antes que conseguisse se conter.


— Claro. Queriam nomear Dumbledore ministro, é claro, mas ele nunca ia largar Hogwarts, então o velho Cornélio Fudge ficou com o cargo. Trapalhão como ele só. Por isso ele bombardeia Dumbledore com corujas, toda manhã, pedindo conselhos.


 


– Fudge? – Frank perguntou desgostoso – Ele é um idiota. Achei que nomeariam Bartô Crouch.


 


— Mas o que é que o Ministério da Magia faz?


— Bom, a principal tarefa é esconder dos trouxas que ainda existem bruxas e bruxos andando pelo país.


— Por quê?


— Por quê? Ora, Harry, todo o mundo ia querer solucionar os problemas com mágicas. Não, é melhor que nos deixem em paz.


Nesse instante o barco bateu suavemente na parede do cais.


Hagrid dobrou o jornal e eles subiram os degraus de pedra que levavam a rua.


As pessoas que passavam olhavam muito para Hagrid enquanto os dois atravessaram a cidadezinha até a estação. Harry não podia culpá-los. Não só Hagrid era duas vezes mais alto do que todo o mundo, como também não parava de apontar para coisas absolutamente comuns como parquímetros e comentar em voz alta:


— Está vendo isso, Harry? As coisas que esses trouxas inventam, hein?


— Rúbeo — disse Harry, meio ofegante de correr para acompanhar o passo dele. — Você disse que há dragões em Gringotes?


— Bem, é o que dizem — Calou Hagrid. — Maneiro, eu gostaria de ter um dragão.


 


– Só Hagrid seria louco o bastante para querer um dragão. – Neville disse suspirando. Ainda lembrava-se a confusão que isso havia causado. Harry concordou suspirando.


 


— Você gostaria de ter um?


— Sempre quis ter um desde pequeno, é aqui que vamos.


Tinham chegado à estação. Havia um trem para Londres dali a cinco minutos. Hagrid, que não entendia o dinheiro dos trouxas, como o chamava, entregou as notas a Harry para comprar as passagens.


 


– O que tem de tão difícil no dinheiro dos trouxas? – Severo comentou amargo – O numero da nota indica o valor.


– O problema é que o dinheiro trouxa é só um pedaço de papel, não vale nada, não tem lastro. – Tiago disse sério. – Isso costuma ser um problema para os bruxos, nunca da para ter certeza de que o dinheiro trouxa não é falso.


 


No trem as pessoas ficaram olhando ainda mais Hagrid quando ocupou dois lugares e se pós a tricotar uma coisa amarelo-canário que lembrava uma lona de circo.


— Você guardou sua carta, Harry? — perguntou enquanto contava as malhas do tricô.


Harry tirou o envelope de pergaminho do bolso.


— Ótimo. Aí tem uma lista de tudo que você vai precisar.


Harry desdobrou um segundo pedaço de papel em que não reparara na noite anterior e leu:


 


ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS



Uniforme:


Os estudantes do primeiro ano precisam de:


1. Três conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas) 


2. Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário


3. Um par de luvas protetoras (couro de dragão ou similar) 


4. Uma capa de inverno (preta com fechos prateados) 


As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome.


Livros:


Os alunos devem comprar um exemplar de cada um dos seguintes:


• Livro padrão de feitiços (1ª série) de Miranda Goshawk


• História da magia de Batilda Bagshot


• Teoria da magia de Adalberto Waffing


• Guia de transfiguração para iniciantes de Emerico Ewitch


• Mil ervas e Fungos mágicos de Fílida Spore


• Bebidas e poções mágicas de Arsênio Jigger.


• Animais fantásticos e seu habitat de Newton Scamander


• As Forças das trevas: Um guia de autoproteção de Quintino Trimble.


Outros Equipamentos:


• 1 varinha mágica


• 1 caldeirão (estanho, tamanho padrão 2)


• 1 conjunto de frascos


• 1 telescópio


• 1 balança de latão


Os alunos podem ainda trazer uma coruja ou um gato ou um sapo.



LEMBREMOS AOS PAIS QUE OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO NÃO PODEM USAR VASSOURAS PESSOAIS.


 


– Espero realmente que você não tenha levado um sapo. – Sirius disse sério. – Só idiotas tem sapos.


– Sirius! – Alice gritou ofendida. – Isso não é verdade. Eu tenho um sapo.


– Acho sapos muito legais. – Neville disse para a mãe feliz. – Eu também tenho um sapo. – O garoto completou contente. Sirius deu de ombros, ainda achava sapos idiotas.


 


— Podemos comprar tudo isso em Londres? — perguntou-se Harry em voz alta.


— Se você souber aonde ir — respondeu Hagrid.


Harry nunca estivera em Londres antes, Hagrid, embora parecesse saber aonde ia, obviamente não estava acostumado a chegar lá pelos meios comuns. Ficou entalado na roleta do metrô e queixou-se em voz alta que os assentos eram demasiado pequenos e os trens demasiado lentos.


— Não sei como os trouxas conseguem se arranjar sem mágica — disse, quando subiam uma escada rolante gasta que levava a uma rua movimentada com saídas dos dois lados.


Hagrid era tão grande que abria caminho pela multidão sem esforço, Harry só precisava segui-lo de perto. Passaram por livrarias e lojas de música, lanchonetes e cinemas, mas nenhuma loja parecia vender varinhas mágicas. Aquela era apenas uma rua comum cheia de gente comum. Seria realmente possível que houvesse montes de ouro dos bruxos enterrados quilômetros abaixo dali? Haveria realmente lojas que vendessem livros de feitiços e vassouras? Não seria talvez uma grande peça que os Dursley tinham pregado?


 


– Pessimista! – Foi a vez de Alice comentar olhando para Harry que ficou corado.


– Não acho que os Dursley tenham criatividade para pregar uma peça dessas. – Remo comentou encolhendo os ombros.


– Na verdade acho que eles não têm senso de humor para pregar qualquer peça. – Sirius concordou.


 


Se Harry não soubesse que os Dursley não tinham senso de humor, poderia ter tirado uma dessas conclusões, mas, por alguma razão, embora tudo que Hagrid tivesse dito até ali fosse inacreditável, Harry não podia deixar de confiar nele.


— É aqui — disse Hagrid parando. — O Caldeirão Furado. É um lugar famoso.


Era um barzinho sujo. Se Hagrid não o tivesse apontado, Harry nem teria reparado que existia. As pessoas que passavam apressadas nem olhavam para aquele lado. Os olhos delas corriam da grande livraria a um lado a loja de discos no outro como se nem conseguissem ver O Caldeirão Furado. Na verdade Harry teve a sensação muito estranha de que somente ele e Hagrid eram capazes de vê-lo. Antes que pudesse comentar isto, Hagrid o empurrou para dentro.


 


– Os trouxas não conseguem ver mesmo. – Frank comentou admirando como Harry com apenas onze anos era muito mais observador do que muitos bruxos adultos.


– Os trouxas conseguem ver se um bruxo mostrar a eles. – Hermione disse e Lily concordou. – A professora Burbage me deu nos deu o endereço em Londres, mas quando chegamos meus pais ficaram completamente confusos por que não conseguiam ver o bar, até que eu os puxei para dentro.


– Comigo foi quase a mesma coisa. – Lily disse sorrindo para Hermione.


 


Para um lugar famoso, o Caldeirão era muito escuro e miserável. Havia umas velhas sentadas a um canto, bebendo pequenos cálices de xerez. Uma delas fumava um longo cachimbo.


Um homenzinho de cartola conversava com o velho garçom do bar, que era bem careca e parecia uma noz viscosa. O zunzum das conversas parou quando eles entraram. Todos pareciam conhecer Hagrid, acenaram e sorriram para ele, e o garçom apanhou um copo, perguntando:


— O de sempre, Hagrid?


— Não posso, Tom, estou a serviço de Hogwarts — disse Hagrid, dando uma palmada com a manzorra no ombro de Harry, o que fez joelhos do garoto dobrarem.


— Meu Deus — exclamou o garçom, fitando Harry. — É... Será possível?


 


– E agora começa o assédio. – Gina comentou suspirando e deixando Harry ainda mais constrangido.


 


O Caldeirão Furado repentinamente parou e fez-se um silêncio total.


— Valha-me Deus — murmurou o velho garçom. — Harry Potter... Que honra.


E saiu correndo de trás do balcão, precipitou-se para Harry e agarrou suas mãos, as lágrimas nos olhos.


— Seja bem-vindo, Sr. Potter, seja bem-vindo.


Harry não sabia o que dizer. Todos tinham os olhos nele. A velha com o cachimbo puxava o fumo sem se dar conta de que o cachimbo apagara. Hagrid sorria radiante.


Logo houve um grande arrastar de cadeiras e no momento seguinte Harry se viu apertando as mãos de todos no Caldeirão Furado.


— Dóris Crockford, Sr. Potter não acredito que finalmente posso conhecê-lo.


— Estou tão orgulhosa, Sr. Potter, tão orgulhosa.


— Sempre quis apertar sua mão estou nas nuvens. Encantado, Sr. Potter, nem sei lhe dizer o quanto, Diggle é o meu nome, Dédalo Diggle.


— Já o vi senhor antes! — disse Harry, e a cartola de Diggle caiu de tanta excitação. — O senhor se curvou para mim uma vez numa loja.


— Ele se lembra! — exclamou Dédalo Diggle, olhando todos à volta. — Vocês ouviram isso? Ele se lembra de mim!


Harry apertou muitas mãos. Dóris Crockford não parava de voltar para um novo aperto.


Um rapaz pálido adiantou-se, muito nervoso. Um olho trêmulo.


 


– Só eu que acho ou essas pessoas estão realmente exagerando? – Sirius perguntou encarando o livro com desagrado, aquilo não era bom para uma criança de onze anos.


– Eu não sei bem, mas acho que depois de tudo que Voldemort fez de ruim para os bruxos, deve ser emocionante encontrar a pessoa que derrotou ele. – Frank disse pensativo.


– Ouvimos nossa mãe contando a história de como Harry Potter derrotou Voldemort muitas vezes. – Rony disse e Gina concordou.


– Mamãe sempre dizia que se Harry não tivesse derrotado ele, nós talvez nunca pudéssemos ir a Hogwarts, por que ele estava ficando cada dia mais poderoso.


– Vovó dizia o mesmo. – Neville comentou em voz baixa – Depois que Harry venceu Voldemort quando era apenas um bebê, os outros comensais da morte foram levados para Azkaban, então o nosso mundo era um lugar muito mais seguro.


– Essa avó é minha mãe ou a mãe de Frank? – Alice perguntou curiosa.


– Do meu pai. – Neville disse olhando com tristeza para a mãe. – Nunca conheci minha outra avó.


– Minha mãe morreu? – Alice perguntou deixando uma lágrima cair.


                Neville apenas acenou afirmativamente com a cabeça, não queria que sua mãe ficasse triste, mas não poderia mentir para ela.


– Sinto muito. – Neville disse abraçando a mãe com força.


– Quando aconteceu? Como foi? – Alice perguntou soluçando.


– Eu... – Neville gaguejou – Eu não sei.


– Como não sabe? – Frank perguntou confuso enquanto segurava a mão de Alice na dele. – Nós nunca te falamos sobre eles?


– Não posso falar. – Neville disse com os olhos cheios de lágrimas.


– Nós também estamos mortos? – Alice perguntou pensando que esse seria o único motivo para Neville não poder falar.


– Não, mas não posso falar mais nada. – Neville disse triste fazendo sinal para Lily continuar lendo.


 


— Professor Quirrell! — disse Hagrid. — Harry, o Professor Quirrell vai ser um dos seus professores em Hogwarts.


— P... P... Potter. — gaguejou o Professor Quirrell, apertando a mão de Harry — N... n... nem sei o que d... d... dizer que p... p... p... Prazer enorme em c... c... conhecê-lo.


— Que tipo de mágica o senhor ensina, Professor Quirrell?


— D... defesa c... c... contra as a... artes das t... trevas — murmurou o Professor Quirrell, como se preferisse não pensar no assunto. — não que você p... p... precise, hein, Potter? — Ele riu nervoso. – V... Você veio c... comprar o material, suponho? Tenho que c... comprar um livro n... novo sobre vampiros — Parecia aterrorizado só de pensar.


 


– Esse professor é ridículo. – Remo disse revoltado – Parece ter medo da própria matéria.


– Talvez não seja tão ruim. – Lily disse recusando-se a aceitar um professor ruim em Hogwarts. – Talvez ele seja realmente bom em teoria.


– Teoria não é o suficiente em Defesa Contra as Artes das Trevas. – para a surpresa de todos Harry disse isso muito sério.


 


Mas os outros não queriam deixar o Professor Quirrell ficar com Harry só para ele. Levou bem uns dez minutos para o menino se livrar de todos. Finalmente, Hagrid conseguiu se fazer ouvir naquela balbúrdia.


— Precisamos nos apressar. Temos muitas compras a fazer. Vamos, Harry.


Dóris Crockford apertou a mão de Harry uma última vez e eles passaram pelo bar e saíram num pequeno pátio murado, onde não havia nada exceto uma lata de lixo e um pouco de mato.


Hagrid sorriu para Harry.


— Eu lhe falei, não foi? Falei que você era famoso. Até o professor Quirinus Quirrell ficou tremendo de emoção de conhecê-lo, mas, em geral, ele está sempre tremendo.


— Ele é sempre tão nervoso?


— Ah, é, coitado. Uma cabeça brilhante. Foi bem enquanto estudou em livros, mas quando tirou um ano para aprender na prática... Dizem que encontrou vampiros na Floresta Negra e teve um problema feio com uma feiticeira, nunca mais foi o mesmo. Tem pavor dos alunos, tem pavor da matéria que ensina, agora, cadê o meu guarda-chuva?


 


– Um professor que tem medo dos próprios alunos e da matéria que ensina não pode ser um bom professor. – Remo bufou irritado.


 


Vampiros? Feiticeiras? A cabeça de Harry estava girando.


Entrementes, Hagrid contava tijolos na parede por cima da lata de lixo.


— Três para cima... Dois para o lado... — murmurou. — Certo, chegue para trás, Harry.


Ele bateu na parede três vezes com a ponta do guarda-chuva. E o tijolo que tocou estremeceu, torceu-se. No meio apareceu um buraquinho, que se foi alargando cada vez mais. Um segundo depois se viram diante de um arco bastante grande até para Hagrid, um arco que abria para uma rua de pedras irregulares, serpeava e desaparecia de vista.


— Bem-vindo — disse Hagrid — ao Beco Diagonal.


Ele riu do espanto de Harry. Atravessaram o arco. Harry deu uma espiada rápida por cima do ombro e viu o arco encolher instantaneamente e virar uma parede sólida.


O sol refulgia numa pilha de caldeirões à porta da loja mais, próxima. “Caldeirões — Todos os Tamanhos — Cobre, Latão, Estanho, Prata”, dizia um letreiro acima.


— É você vai precisar de um — disse Hagrid —, mas temos de apanhar o seu dinheiro primeiro.


Harry desejou ter oito olhos. Virava a cabeça para todo o lado enquanto caminhavam pela rua, tentando ver tudo ao mesmo tempo: as lojas, as coisas as portas, as pessoas fazendo compras.


 


– Na minha primeira vez no beco diagonal foi assim também. – Remo disse sorrindo bondoso para Harry.


 


Uma mulher gorducha do lado de fora de uma farmácia abanou a cabeça quando passaram por ela e disse:


— Fígado de dragão, dezessete sicles trinta gramas, eles endoidaram...


Um pio baixo e suave veio de uma loja escura com um letreiro onde se lia "Empório de Corujas — douradas, das torres, do campo, marrons e brancas".


Vários garotos mais ou menos da idade de Harry espremiam os narizes contra a vitrine que tinha vassouras.


— Olhe — Harry, ouviu um deles dizer — a nova Nimbus 2000, mais veloz que nunca.


 


– Nimbus 2000? – Tiago perguntou com os olhos brilhando. – Imagino as melhorias que fizeram. Minha Nimbus 1500 é a melhor vassoura do mundo atualmente.


– A Nimbus 2000 é incrível. – Rony disse sorrindo – Mas a Firebolt é muito melhor.


– Ronald. – Hermione chamou a atenção do menino.


– Não vejo que mal pode fazer falar de uma vassoura. – Rony disse a Hermione cruzando os braços.


– Não podemos falar absolutamente nada do que ainda não aconteceu no livro. – Hermione disse séria – Essa vassoura ainda nem foi inventada na parte onde nós estamos.


– Harry, por favor, fala para ela que falar que uma vassoura chamada firebolt é melhor que a Nimbus não faz diferença. – Rony pediu irritado.


– Odeio quando vocês me colocam no meio das brigas de vocês. – Harry bufou – Mas realmente Mione, não tem mau nenhum falar que vai existir uma firebolt.


– E como é essa firebolt? – Tiago perguntou animado.


– Isso não vou falar, – Harry disse sorrindo para o pai – mas vocês vão ver a descrição dela no livro. – Harry fez sinal para a mãe continuar.


 


Havia lojas que vendiam vestes, lojas que vendiam telescópios e estranhos instrumentos de prata que Harry nunca vira antes, janelas com pilhas de barris contendo baços de morcegos e olhos de enguias, pilhas mal equilibradas de livros de feitiços, penas de aves para escrever e rolos de pergaminhos, vidros de poções, globos de...


— Gringotes — anunciou Hagrid.


Tinham chegado a um edifício muito branco que se erguia acima das lojinhas. Parado diante das portas de bronze polido, usando um uniforme vermelho e dourado, havia...


— É, é um duende — disse Hagrid baixinho, enquanto subiam os degraus de pedra branca até o duende. Ele era uma cabeça mais baixa do que Harry. Tinha uma cara escura e inteligente, uma barba em ponta e, Harry reparou, mãos e pés muito compridos. O duende os cumprimentou com uma reverência quando entraram.


Em seguida depararam com um segundo par de portas, desta vez de prata, onde havia gravado o seguinte:


 


Entrem, estranhos, mas prestem atenção,


Ao que espera o pecado da ambição,


Porque os que tiram o que não ganharam,


Terão é que pagar muito caro,


Assim, se procuram sob o nosso chão,


Um tesouro que nunca enterraram,


Ladrão, você foi avisado, Cuidado,


Pois vai encontrar mais do que procurou.


 


– Sempre me perguntei se isso é uma maldição verdadeira. – Frank comentou sem esperar resposta.


– É sim. – Sirius respondeu surpreendendo a todos, a não ser Remo e Tiago. – São exatamente 241 caracteres. Somando os algarismos temos 7, o número mágico mais poderoso.


– E são 50 palavras. – Tiago completou – Maldições precisão ter número de palavras em múltiplo de 5, 5 assim como 7 é um número primo.


– Se contar com os espaços temos 283 caracteres, somados os algarismos temos o número 13, mais um numeral primo. – Sirius continuou o raciocínio. – Números primos em geral tem mais poder.


                Harry, Lily e Hermione olharam para Tiago e Sirius impressionados.


– Como vocês sabem disso? – Alice perguntou chocada com a quantidade de informação que eles conseguiam guardar.


– Nós fizemos Aritmancia. – Remo falou com simplicidade.


– Também fiz Aritmancia e não me lembro da professora falar sobre o poema do banco. – Hermione comentou ligeiramente incomodada por não saber disso antes.


– O poema do banco não é estudado em sala de aula. – Remo disse rindo. – Um dia estávamos no beco diagonal, Tiago e Sirius ficaram entediados e fizeram uma aposta com Pedro.


– Ele apostou que não seria uma maldição de verdade. – Sirius completou convencido – Ficamos vários minutos parados em frente à placa contando letras e palavras.


– Depois fizemos os cálculos e vimos que é mesmo uma maldição. – Tiago continuou. – Tem alguns outros aspectos como a simetria e o número de palavras e letras por frase.


– Sempre ouvi falar que Aritmancia é a matéria mais difícil de Hogwarts. – Rony comentou admirado.


– Também sempre ouvi isso, – Alice comentou e olhou para Sirius – pensei que vocês não gostavam de passar o tempo estudando.


– Nós não passamos o tempo estudando. – Sirius respondeu com um sorriso de canto de boca.


– Como conseguem saber tanto então? – Lily perguntou admirada, era uma faceta de Tiago e Sirius que ela nunca havia visto.


– Prestamos atenção nas aulas. – Tiago disse dando de ombros.


– E eles têm uma memória assombrosa. – Remo completou rindo.


                Severo se mexeu incomodado, ele passava noites em claro estudando, enquanto aqueles metidos eram considerados os melhores alunos da escola e nem se davam ao trabalho de pegar no livro.


– Vocês são realmente surpreendentes. – Lily comentou dando um meio sorriso a Tiago antes de continuar lendo.


 


— Não te disse? Só um louco tentaria roubar o banco — lembrou Hagrid.


Dois duendes se curvaram quando eles passaram pelas portas de prata e desembocaram em um grande saguão de mármore.


Havia mais de cem duendes sentados em banquinhos altos atrás de um longo balcão, escrevendo em grandes livros-caixas, pesando moedas em balanças de latão, examinando pedras preciosas com óculos de joalheira. Havia ao redor do saguão portas demais para contar, e outros tantos duendes acompanhavam as pessoas que entravam e saiam por elas. Hagrid e Harry se dirigiram ao balcão.


— Bom dia — disse Hagrid a um duende desocupado. Viemos sacar algum dinheiro do cofre do Sr. Harry Potter.


— O senhor tem a chave?


— Tenho em algum lugar — disse Hagrid e começou a esvaziar os bolsos em cima do balcão, espalhando um punhado de biscoitos de cachorro mofados em cima do livro-caixa do duende.


O duende franziu o nariz. Harry observou o duende do lado direito pesar um monte de rubis do tamanho de carvões em brasa.


— Achei — exclamou Hagrid finalmente, mostrando uma chavinha de ouro.


O duende examinou-a cuidadosamente.


— Parece estar em ordem.


— E tenho aqui também uma carta do professor Dumbledore — falou Hagrid com ar importante, tirando-a do bolso do casaco.


— É sobre Você-Sabe-O-Quê que está no cofre setecentos e treze.


 


– Bruxos têm manias estranhas. – Harry comentou chamando a atenção de todos. – Sabe, quando entrei nesse mundo achava tudo isso muito engraçado. – Harry continuou rindo um pouco. – Você-sabe-o-que, Você-sabe-quem, viver entre bruxos é meio confuso.


                Quando entenderam o que Harry queria dizer todos riram.


 


O duende leu a carta com atenção.


— Muito bem! — Calou, devolvendo a carta a Hagrid. — Vou mandar alguém levá-lo aos dois cofres. Grampo!


Grampo era outro duende. Depois que Hagrid enfiou todos os biscoitos de cachorro de volta nos bolsos, ele e Harry acompanharam Grampo a uma das portas que havia no saguão.


— O que é o Você-Sabe-O-Quê no cofre setecentos e treze? — perguntou Harry.


— Não posso lhe contar — respondeu Hagrid misterioso — Muito secreto. Negócios de Hogwarts. Dumbledore me confiou. Meu emprego vale mais do que à vontade de lhe contar.


Grampo segurou a porta aberta para eles passarem. Harry, que esperara mais mármore, surpreendeu-se. Encontravam-se em uma passagem estreita de pedra, iluminada por archotes chamejantes.


Era uma descida íngreme, em que havia pequenos trilhos. Grampo assobiou e um vagonete disparou pelos trilhos em sua direção.


Eles embarcaram Hagrid com alguma dificuldade e partiram.


A princípio eles apenas viajaram em alta velocidade por um labirinto de passagens cheias de curvas. Harry tentou memorizar, esquerda, direita, direita, esquerda, em frente no entroncamento, direita, esquerda, mas era impossível. O vagonete barulhento parecia conhecer o caminho, porque Grampo não o estava dirigindo.


Os olhos de Harry ardiam no ar frio que passava rápido por eles, mas mantinha-os bem abertos. Uma vez, ele pensou ter visto uma labareda no fim da passagem e se virou para conferir se era um dragão, mas foi tarde demais, eles mergulharam ainda mais fundo, passaram por um lago subterrâneo onde se acumulavam no teto e no chão enormes estalactites e estalagmites.


— Eu nunca sei — gritou Harry para Hagrid poder ouvi-lo — qual é a diferença entre uma estalactite e uma estalagmite.


 


– Por que isso realmente é importante tendo em vista que você acabou de descobrir que toda a sua vida é uma mentira. – Sirius comentou irônico.


– Eram coisas demais para assimilar. – Harry disse encolhendo os ombros.


 


— Estalagmite tem um "m" — disse Hagrid — E não me faça perguntas agora acho que vou enjoar.


Ele realmente estava muito verde e quando o vagonete afinal parou ao lado de uma portinhola na passagem, Hagrid saltou e precisou se apoiar na parede para os joelhos pararem de tremer.


Grampo destrancou a porta. Saiu uma grande nuvem de fumaça verde e enquanto ela se dissipava, Harry ficou sem respirar. Dentro havia montes de moedas de ouro. Colunas de prata. Pilhas de pequenos nuques de bronze.


 


– Para! – Tiago gritou de repente.


– O que foi? – Lily perguntou assustada.


– Por que não te deram tudo? – Tiago perguntou olhando para Harry confuso.


– O que você quer dizer com tudo? – Alice perguntou confusa.


– Toda a fortuna da família. – Sirius disse também se perguntando onde estaria o resto. – E eles não passaram pelo dragão. – Sirius comentou pensativo – Devem ter trocado seu cofre.


– Mas por quê? – Tiago perguntou confuso.


– Vocês podem explicar o que está faltando, por favor? – Lily perguntou olhando de Tiago para Sirius.


– A família Potter é muito antiga, – Sirius explicou – as famílias mais antigas não tem apenas ouro. Os Potter têm joias, troféus, armaduras de ouro, espadas e alguns objetos mágicos de valor inestimável.


– E na verdade nosso cofre não tem uma chave. – Tiago comentou reflexivo.


– Provavelmente não deram tudo por que ele ainda era menor. – Hermione comentou pensativa, nunca havia estado no cofre de Harry.


– Pode ser. – Remo disse – O resto deve estar no cofre da família Potter.


– Harry, – Tiago perguntou nervoso – uma coisa muito valiosa que está na nossa família há muitos anos provavelmente está no cofre. Não posso imaginar que ficou na casa quando explodiu. – ele completou colocando a mãe na testa nervoso. – Por favor, me diga que você recebeu tudo depois que ficou maior.


– Não posso falar. – Harry disse apreensivo.


– Realmente não me importa que as joias e o resto tenham desaparecido. – Tiago disse olhando para Sirius e Remo com um olhar significativo. – Mas está relíquia está em nossa família há muito tempo mesmo. E significa muito para mim.


                Severo ficou ainda mais irritado do que já estava, Potter agora além de um riquinho presunçoso estava quase chorando por causa de uma coisa cara qualquer. Não conseguia entender como Lily não via aquilo.


 


— É tudo seu — sorriu Hagrid.


Tudo de Harry — era inacreditável. Os Dursley com certeza não sabiam da existência daquilo ou teriam tirado tudo mais rápido do que uma piscadela. Quantas vezes tinham se queixado do quanto lhes custava criar Harry? E durante todo aquele tempo havia uma pequena fortuna que lhe pertencia, enterrada no subsolo de Londres.


Hagrid ajudou Harry a guardar um pouco do dinheiro em uma saca.


— As moedas de ouro são galeões — explicou ele. — Dezessete sicles de prata fazem um galeão e vinte e nove nuques fazem um sicle, é bem simples. Certo, isto deverá ser suficiente para uns dois períodos letivos, guardaremos o resto bem guardado para você. — Hagrid virou-se para Grampo. — O cofre setecentos e treze agora, por favor, e será que podemos ir mais devagar.


— Só tem uma velocidade — falou Grampo.


Viajaram mais para o fundo agora e ganharam velocidade. O ar foi se tornando cada vez mais frio enquanto disparavam pelas curvas fechadas.


Sacolejavam por uma ravina subterrânea e Harry debruçou-se para um lado para tentar ver o que havia no fundo, mas Hagrid gemeu e o puxou para trás pelo cangote.


O cofre setecentos e treze não tinha fechadura.


— Para trás disse Grampo com ar de importância. Alisou a porta devagarinho com o seu dedo comprido e ela simplesmente se dissolveu.


— Se alguém que não fosse um duende de Gringotes tentasse o mesmo, seria engolido pela porta e ficaria preso lá dentro — explicou Grampo.


— Com que freqüência você vem ver se tem alguém lá dentro? — perguntou Harry.


— Uma vez a cada dez anos — disse Grampo, com um sorriso maldoso.


Devia haver alguma coisa realmente extraordinária nesse cofre de segurança máxima, Harry tinha certeza, e se curvou para frente pressuroso, esperando ver no mínimo joias fabulosas, mas no primeiro momento achou que estava vazio. Depois notou um embrulhinho encardido no chão. Hagrid apanhou-o e o guardou muito bem no casaco.


Harry tinha muita vontade de saber o que era, mas sentia que era melhor não perguntar.


 


– Eu aposto na Pedra filosofal. – Sirius disse encarando Tiago e estendendo a mão.


– Não sou idiota, Sirius – Tiago respondeu revirando os olhos – o nome do livro é Harry Potter e a Pedra Filosofal. É obvio que essa é a pedra filosofal.


– Fico me perguntando por que não podia ser Harry Potter e o ano completamente normal em que nada de fora do comum acontece. – Rony comentou com um suspiro fazendo Harry, Hermione, Gina e Neville rirem.


– Isso significa que não houve um ano normal na sua vida? – Lily perguntou triste.


– Sinto muito. – Harry disse mordendo o lábio.


 


— Vamos voltar para esse vagonete infernal, e não fale no caminho de volta. É melhor eu ficar de boca fechada — comentou Hagrid.


Depois de mais uma viagem no vagonete descontrolado, eles chegaram à claridade do sol do lado de fora de Gringotes. Harry não sabia aonde correr primeiro agora que tinha uma saca cheia de dinheiro. Não precisava saber quantos galeões perfaziam uma libra para saber que estava carregando mais dinheiro do que jamais tivera na vida inteira mais dinheiro até do que Duda jamais tivera.


— Vamos comprar logo o seu uniforme — falou Hagrid, indicando com a cabeça a loja Madame Malkin — Roupas para Todas as Ocasiões. — Escute aqui, Harry, você se importa se eu der uma corrida no Caldeirão Furado para tomar um tônico? Detesto esses vagonetes de Gringotes. — Ele realmente parecia meio enjoado, por isso Harry entrou na loja Madame Malkin sozinho, um pouco nervoso.


Madame Malkin era uma bruxa baixa, gorda e sorridente, toda vestida de lilás.


— Hogwarts, querido? — perguntou quando Harry começou a falar. — Tenho tudo aqui. Para falar a verdade, tem outro rapazinho agora ajustando uma roupa.


 


– Pelo menos você já pode ir fazendo amigos. – Lily disse com um meio sorriso.


                Harry achou melhor não responder, em poucos minutos ela veria que era melhor que ele não fizesse amizade com aquele garoto.


 


Nos fundos da loja, um garoto de rosto pálido e pontudo estava em pé em cima de um banquinho enquanto uma segunda bruxa encurtava suas compridas vestes pretas. Madame Malkin colocou Harry num banquinho ao lado do outro, enfiou-lhe uma veste comprida pela cabeça e começou a marcar a bainha na altura certa.


— Alô — cumprimentou o garoto. — Hogwarts também?


— É — confirmou Harry.


— Meu pai está na loja ao lado comprando meus livros e minha mãe está mais adiante procurando varinhas — disse o garoto. Tinha uma voz de tédio arrastada. — Depois vou levar os dois para dar uma olhada nas vassouras de corridas. Não vejo por que os alunos de primeira série não podem ter vassouras individuais. Acho que vou obrigar papai a me comprar uma e vou contrabandeá-la para a escola às escondidas.


O garoto lhe lembrou muito o Duda.


— Você tem vassoura? — perguntou o garoto.


— Não.


— Sabe jogar Quadribol?


— Não — respondeu novamente Harry, perguntando-se que diabo seria esse tal de Quadribol.


— Eu sei, meu pai falou que vai ser um crime se não me escolherem para jogar pela minha casa, e sou obrigado a dizer que concordo. Já sabe em que casa você vai ficar?


— Não — respondeu Harry, sentindo-se a cada minuto mais idiota.


— Bom ninguém sabe mesmo até chegar lá, não é, mas sei que vou ficar na Sonserina, toda a nossa família ficou lá, imagine ficar na Lufa-Lufa, acho que eu saia da escola, você não?


 


– Eu acho melhor que você não tenha feito amizade com ele. – Sirius disse categórico encarando Harry e recebendo acenos de concordância de Tiago, Remo e Alice.


 


— Hum-hum — concordou Harry, desejando que pudesse responder algo um pouquinho mais interessante.


— Caramba, olha aquele homem! — falou o garoto de repente indicando com a cabeça a vitrine. Rúbeo estava parado diante dela, rindo para Harry e apontando para dois grandes sorvetes para explicar que não podia entrar.


— É o Rúbeo — disse Harry, contente por saber alguma coisa que o garoto não sabia. — Ele trabalha em Hogwarts.


— Ah ouvi falar dele. E uma espécie de empregado, não é?


— É o guarda-caça — explicou Harry. A cada segundo gostava menos do garoto.


— É, isso mesmo. Ouvi falar que é uma espécie de selvagem. Mora num barraco no terreno da escola e de vez em quando toma um pileque, tenta fazer mágicas e acaba tocando fogo na cama.


 


– Que garotinho arrogante. – Lily disse com raiva.


– Fico realmente feliz que não sejam amigos. – disse Tiago.


– Fico mais feliz ainda. – Hermione cochichou para Rony.


 


— Acho que ele é brilhante — retorquiu Harry com frieza.


— Ah, é? — disse o garoto com um leve desdém. — Porque é que ele está acompanhando você? Onde estão os seus pais?


— Estão mortos — respondeu Harry secamente. Não tinha muita vontade de alongar o assunto com esse garoto.


— Ah, lamento — disse o outro, sem parecer lamentar nada.


— Mas eram do nosso povo, não eram?


— Eram bruxos, se é isso que você está perguntando.


— Eu realmente acho que não deviam deixar outro tipo de gente entrar, e você? Não são iguais a nós, nunca foram educados para conhecer o nosso modo de viver. Alguns nunca sequer ouviram falar de Hogwarts até receberem a carta, imagine. Acho que deviam manter a coisa entre as famílias de bruxos. Por falar nisso, como é o seu sobrenome?


 


Lily ficou tão irritada com o que o garoto havia falado que quase rasgou o livro. Tiago que não estava muito melhor que ela conseguiu segurar sua mão e acalma-la.


 


Mas antes que Harry pudesse responder, Madame Malkin anunciou:


— Terminei com você, querido.


E, Harry, nada frustrado com a desculpa para interromper a conversa com o garoto, pulou do banquinho para o chão.


— Bom, vejo você em Hogwarts, suponho — disse o garoto de voz arrastada.


Harry ficou muito quieto enquanto comia o sorvete que Hagrid trouxera (chocolate e amora com nozes picadas).


— Que foi? — perguntou Hagrid.


— Nada — mentiu Harry.


Eles pararam para comprar pergaminho e penas. Harry se animou um pouco quando descobriu um vidro de tinta que mudava de cor enquanto a pessoa escrevia. Quando saíram da loja, perguntou:


— Rúbeo, o que é Quadribol?


— Caramba, Harry, vivo me esquecendo que você não sabe quase nada, raios, não saber o que é Quadribol!


— Não faça eu me sentir pior, — e contou a Hagrid sobre o garoto pálido na loja de Madame Malkin. —... E ele disse que nem deviam permitir a gente que pertence à família de trouxas...


— Você não pertence a uma família de trouxas. Se ele soubesse quem você é... Ele cresceu sabendo o seu nome se os pais dele forem bruxos. Você viu o pessoal do Caldeirão Furado. Em todo o caso, o que é que ele sabe das coisas, alguns dos melhores bruxos que já conheci vinham de uma longa linhagem de trouxas. Veja a sua mãe! Veja só quem é irmã dela!


 


                Algumas lágrimas escaparam dos olhos de Lily quando ela leu isso. Harry deu um sorriso para a mãe enquanto Tiago afagava seus cabelos.


 


— Então, o que é Quadribol?


— É o nosso esporte. Esporte de bruxos. É como o futebol no mundo dos trouxas. Todos praticam Quadribol. A gente joga no ar montado em vassouras com quatro bolas. É meio difícil explicar as regras.


 


– Não é nada difícil explicar as regras. – Tiago disse interrompendo Lily bruscamente. Quadribol para ele era um assunto sério. – São sete jogadores, sendo...


– Silêncio! – Remo disse apontando a varinha para Tiago que levou as mãos à garganta enquanto tentava continuar falando e não conseguia. – Se deixasse ele continuar falando de quadribol nunca acabaríamos de ler esse capítulo. – ele disse se explicando.


 


— E o que são Sonserina e Lufa-Lufa?


— Casas na escola. São quatro. Todo mundo diz que Lufa-Lufa só tem panacas, mas...


— Aposto que estou na Lufa-Lufa — disse Harry — deprimido.


— É melhor a Lufa-Lufa do que a Sonserina — sentenciou Hagrid, misterioso. — Não tem um único bruxo nem uma única bruxa desencaminhados que não tenham passado por Sonserina. Você-Sabe-Quem foi um deles.


 


– Hagrid está enganado. – Lily disse olhando Severo nos olhos. – Nem todos os bruxos das trevas foram da Sonserina. Todas as casas tiveram bruxos das trevas. E nem todos da Sonserina são ruins.


– Mas uma maioria esmagadora é. – Sirius concluiu dando de ombros.


– Lily está certa. – Gina disse pensando em como um Grifinório tornou-se um traidor para aquelas pessoas.


 


— Vol... Desculpe... Você-Sabe-Quem esteve em Hogwarts?


— Há muitos e muitos anos.


Eles compraram os livros escolares de Harry em uma loja chamada Floreios e Borrões, onde as prateleiras estavam abarrotadas até o teto com livros do tamanho de paralelepípedos encadernados em couro, livros do tamanho de selos postais com capas de seda, livros cobertos de símbolos curiosos e alguns livros sem nada. Até Duda, que nunca lia nada, teria ficado doído para pôr as mãos em alguns desses livros. Hagrid quase teve de arrastar Harry para longe do “Pragas e Contrapragas (Encante os seus amigos e confunda os seus inimigos com as últimas vinganças: perda de cabelos, pernas bambas, língua presa e muitas, muitas mais) do Professor Vindicto Viridiano.”


 


– Meus pais tiveram que me arrastar para fora da Floreios e Borrões. – Hermione disse sorrindo saudosa.


– Já tinha imaginado. – Rony disse fazendo Neville, Harry e Gina rirem.


– Também é uma das minhas lojas favoritas. – Remo disse olhando para Hermione, bondoso.


 


— Eu estava tentando descobrir como rogar uma praga para o Duda.


— Não vou dizer que não é uma boa ideia, mas você não pode usar mágica no mundo dos trouxas a não ser em situações muito especiais — disse Hagrid — De qualquer modo, você ainda não poderia lançar nenhuma dessas pragas, vai precisar de muito estudo antes de chegar a esse nível.


 


– Nisso o Hagrid está enganado. – Sirius disse rindo – Tiago já era capaz de lançar essas azarações no trem.


– Meu pai me ensinou algumas coisinhas antes de eu entrar para a escola. – Tiago disse passando a mão pelos cabelos.


                Severo bufou, Potter tinha tudo, dinheiro, uma família que o amava e a mulher que ele queria. O mundo era um lugar injusto demais.


 


Hagrid não deixou Harry comprar um caldeirão de ouro maciço tampouco ("Diz estanho na sua lista”),


 


– E para que você queria um caldeirão de ouro? – Gina perguntou levando as mãos à cintura exatamente da mesma forma que sua mãe fazia.


– Eu tinha onze anos e nunca tive tanto dinheiro na minha vida. – Harry disse em tom de desculpas, fazendo Severo pensar que ele era exatamente como o pai.


 


mas compraram uma balança bonita para pesar os ingredientes das poções e um telescópio desmontável de latão. Visitaram a farmácia, que era bem fascinante para compensar seu cheiro horrível, uma mistura de ovo estragado e repolho podre. Havia no chão barricas de coisas viscosas, frascos com ervas, raízes secas e pós coloridos cobriam as paredes, feixes de penas, fieiras de dentes e garras retorcidas pendiam do teto.


 


– Eu adoro a farmácia. – Lily disse com um sorriso sonhador e Severo acenou em concordância.


 


Enquanto Hagrid pedia ao homem atrás do balcão um conjunto de ingredientes básicos para preparar poções para Harry, o próprio Harry examinava chifres de prata de unicórnios, a vinte e um galeões cada, e minúsculos olhos faiscantes de besouros (cinco nuques uma concha).


Ao saírem da farmácia, Hagrid verificou a lista de Harry mais uma vez.


— Só falta a varinha. Ah é, e ainda não comprei o seu presente de aniversário.


Harry sentiu o rosto corar.


— Você não precisa...


— Eu sei que não preciso. Vamos fazer o seguinte, vou comprar um bicho para você. Não vai ser sapo, os sapos saíram de moda há muitos anos, todo mundo ia rir de você, e não gosto de gatos, eles me fazem espirrar. Vou lhe comprar uma coruja. Todos os garotos querem corujas, são muito úteis, levam cartas e tudo o mais.


 


                Alice bufou irritada, nem mesmo Hagrid que amava animais respeitava os sapos. Neville sorriu para a mãe.


 


Vinte minutos depois, eles saíram do Empório de Corujas, que era escuro e cheio de ruídos e brilhos e olhos que cintilavam como joias. Harry agora carregava uma grande gaiola com uma bela coruja branca como a neve, que dormia profundamente, a cabeça debaixo da asa. Ele não parava de agradecer, parecia até o Professor Quirrell.


— Não tem do quê — respondia Hagrid rouco. — Acho que você nunca ganhou muitos presentes dos Dursley. Agora só falta Olivaras, a única loja de varinhas, Olivaras, e você precisa ter a melhor varinha do mundo.


Uma varinha mágica... Era realmente o que Harry andara desejando.


A última loja era estreita e feiosa. Letras de ouro descascadas sobre a porta diziam “Olivaras Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 A.C.” Havia uma única varinha sobre uma almofada púrpura desbotada, na vitrine empoeirada.


Um sininho tocou em algum lugar no fundo da loja quando eles entraram. Era uma lojinha mínima, vazia, exceto por uma única cadeira alta e estreita em que Hagrid se sentou para esperar.


Harry teve uma sensação esquisita como se tivesse entrado em uma biblioteca muito exclusiva, engoliu um monte de perguntas novas que tinham acabado de lhe ocorrer e ficou espiando os milhares de caixas estreitas arrumadas com cuidado até o teto. Por alguma razão, sentiu um arrepio na nuca. A própria poeira e o silêncio ali pareciam retinir com uma magia secreta.


 


– Isso é realmente impressionante. – Frank comentou observando Harry – Com apenas onze anos você era capaz de sentir a magia do local. A maioria dos bruxos nunca consegue.


                Harry sorriu constrangido encarrando os próprios pés.


– Meu filho é especial. – Lily disse transbordando de orgulho.


 


— Boa tarde — disse uma voz suave. Harry se assustou. Hagrid devia ter-se assustado também, porque se ouviu um rangido alto e ele se levantou rapidamente da cadeira alta e estreita.


Havia um velho parado diante deles, os olhos grandes e muito claros brilhando como duas luas na penumbra da loja.


— Alô — disse Harry sem jeito.


— Ah, sim — disse o homem. — Sim, sim. Achei que ia vê-lo em breve. Harry Potter. — Não era uma pergunta. — Você tem os olhos de sua mãe. Parece que foi ontem que ela esteve aqui, comprando a primeira varinha. Vinte e seis centímetros de comprimento, farfalhante, feita de salgueiro. Uma boa varinha para encantamentos.


 


                Lily pegou a varinha e para demostrar o que Olivaras havia dito fez uma chuva de pétalas de rosas no meio da sala arrancando aplausos de todos.


 


O Sr. Olivaras chegou mais perto de Harry. Harry desejou que ele piscasse. Aqueles olhos prateados lhe davam um pouco de medo.


— Já o seu pai, deu preferência a uma varinha de mogno. Vinte e oito centímetros. Flexível. Um pouco mais de poder e excelente para transformações. Bom, digo que seu pai deu preferência, na realidade é a varinha que escolhe o bruxo, é claro.


 


                Tiago retirou a varinha do bolso e apontou-a para um copo que jazia esquecido sobre a mesa. O copo em poucos segundos se transformou em um sapo verde que ele fez flutuar até Alice.


– Um presente para você. – Tiago disse sorrindo para a garota que sorriu de volta feliz.


 


O Sr. Olivaras chegara tão perto que ele e Harry estavam quase encostando os narizes. Harry viu-se refletido naqueles olhos.


— E foi aí que...


O Sr. Olivaras tocou a cicatriz feita pelo relâmpago na testa de Harry com um dedo branco e longo.


— Lamento dizer que vendi a varinha que fez isso — disse ele suavemente. — Trinta e cinco centímetros. Nossa. Uma varinha poderosa, muito poderosa nas mãos erradas... Bom, se eu tivesse sabido o que a varinha ia sair por aí fazendo...


Ele sacudiu a cabeça e então, para alivio de Harry, viu Hagrid.


— Hagrid! Hagrid, Hagrid! Que bom ver você de novo... Carvalho, quarenta centímetros, meio mole, não era?


— Era, sim senhor.


— Boa varinha, aquela. Mas suponho que a tenham partido ao meio quando o expulsaram? — disse o Sr. Olivaras repentinamente sério.


— Hum... Partiram, é verdade — disse Hagrid, arrastando os pés. — Mas ainda guardo os pedaços — acrescentou animado.


— Mas você não os usa? — perguntou o Sr. Olivaras severo.


— Ah, não senhor — respondeu depressa Hagrid. Harry reparou que ele apertou o guarda-chuva cor-de-rosa com força ao responder — Hum — resmungou o Sr. Olivaras, lançando um olhar penetrante a Hagrid. — Bom agora, Sr. Potter vamos ver. — E tirou uma longa fita métrica com números prateados do bolso. — Qual é o braço da varinha?


— Hum... Bom, sou destro — respondeu Harry.


— Estique o braço. Isso. — Ele mediu Harry do ombro ao dedo, depois do pulso ao cotovelo, do ombro ao chão, do joelho à axila e ao redor da cabeça. Enquanto media, disse, — Toda varinha Olivaras tem o miolo feito de uma poderosa substância mágica, Sr. Potter. Usamos pelos de unicórnio, penas de cauda de fênix e cordas de coração de dragão. Não há duas varinhas Olivaras como não há unicórnios, dragões nem fênix iguais. E é claro, o senhor jamais conseguirá resultados tão bons com a varinha de outro bruxo.


Harry de repente percebeu que a fita métrica, que o media entre as narinas, estava medindo sozinha. O Sr. Olivaras andava rapidamente em volta das prateleiras, descendo caixas.


— Já chega — falou, e a fita métrica afrouxou e caiu formando um montinho no chão. — Certo, então, Sr. Potter. Experimente esta. Faia e corda de coração de dragão. Vinte e três centímetros. Boa e flexível. Apanhe e experimente.


Harry apanhou a varinha e (sentindo-se bobo) fez alguns movimentos com ela, mas o Sr. Olivaras a tirou de sua mão quase imediatamente.


— Bordo e pena de fênix. Dezoito centímetros. Bem elástica. Experimente.


Harry experimentou, mas mal erguera a varinha quando, mais uma vez, o Sr. Olivaras a tirou de sua mão.


 


– Ele consegue ser realmente irritante quando faz essas coisas. – Alice disse olhando para Harry, compreensiva.


 


— Não, não. Tome, ébano e pelo de unicórnio, vinte e dois centímetros, flexíveis. Vamos, vamos, experimente.


Harry experimentou. E experimentou. Não fazia ideia do que é que o Sr. Olivaras estava esperando. A pilha de varinhas experimentadas estava cada vez maior em cima da cadeira alta e estreita, mas, quanto mais varinhas o Sr. Olivaras tirava das prateleiras, mais feliz parecia ficar.


— Freguês difícil, hein? Não se preocupe, vamos encontrar a varinha perfeita para o senhor em algum lugar, estou em duvida, agora... É, por que não? Uma combinação incomum, azevinho e pena de fênix, vinte e oito centímetros, boa e maleável.


Harry apanhou a varinha. Sentiu um repentino calor nos dedos. Ergueu a varinha acima da cabeça, baixou-a cortando o ar empoeirado com um zunido, e uma torrente de faíscas douradas e vermelhas saíram da ponta como um fogo de artifício, atirando fagulhas luminosas que dançavam nas paredes. Hagrid gritou entusiasmado e bateu palmas e o Sr. Olivaras exclamou:


 


– Você ouviram isso? – Tiago perguntou entusiasmado – Fagulhas douradas e vermelhas!


– Grifinório nato! – Sirius falou com orgulho. E Harry não pode deixar de sorrir para o pai e para o padrinho.


 


— Bravo! Mesmo, ah, muito bom. Ora, ora, ora... Que curioso... Curiosíssimo...
Repôs a varinha de Harry na caixa e embrulhou-a em papel pardo, ainda resmungando:


— Curioso... Curioso...


— O senhor me desculpe — disse Harry —, mas o que é curioso?


O Sr. Olivaras encarou Harry com aqueles olhos claros.


— Lembro-me de cada varinha que vendi, Sr. Potter. De cada uma. Acontece que a fênix cuja pena está na sua varinha produziu mais uma pena, apenas mais uma. É muito curioso que o senhor tenha sido destinado para esta varinha porque a irmã dela, ora, a irmã dela produziu a sua cicatriz.


 


– Sua varinha é gêmea da varinha de Voldemort? – Tiago que foi o primeiro a se recuperar do susto perguntou a Harry nervoso.


                Harry apenas acenou afirmativamente com a cabeça.


– Isso só pode significar que vocês tem algum tipo de conexão. – Remo disse pensativo – Essa história com as varinhas não pode ser coincidência. E ainda não tem nenhuma explicação para ele ter tentado te matar e não conseguir... – continuou ele mais para si mesmo que para os outros.


– Por que nada pode ser normal na sua vida? – Lily perguntou afagando o rosto de Harry com carinho.


 


Harry engoliu em seco.


— E, tinha trinta e quatro centímetros. Puxa. É realmente curioso como essas coisas acontecem. A varinha escolhe o bruxo, lembre-se... Acho que podemos esperar grandes feitos do senhor, Sr. Potter. Afinal, Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear realizou grandes feitos, terríveis, sim, mas grandes.


Harry estremeceu. Não tinha muita certeza se gostava do Sr. Olivaras. Pagou sete galeões pela varinha e o Sr. Olivaras curvou-se à saída deles.


O sol de fim de tarde quase chegara ao horizonte quando Harry e Hagrid refizeram o caminho para sair do Beco Diagonal, atravessar a parede e passar novamente pelo Caldeirão Furado, agora vazio. Harry não disse uma palavra enquanto caminhavam pela rua, nem ao menos reparou quantas pessoas se boquiabriam para eles no metrô, carregados que estavam com todos aqueles pacotes de formatos esquisitos, a coruja branca adormecida no colo de Harry. Subiram a escada rolante para a estação de Paddington, Harry só percebeu onde estavam quando Hagrid bateu em seu ombro.


— Temos tempo para comer alguma coisa antes do trem sair — falou.


Comprou um hambúrguer para Harry e se sentaram em bancos de plástico para comê-los. Harry não parava de olhar a toda volta. Por alguma razão tudo parecia tão estranho.


— Você está bem, Harry? Está muito calado — comentou Hagrid.


Harry não tinha muita certeza de poder explicar. Tivera o melhor aniversário de sua vida, porém... E mastigava o hambúrguer, tentando encontrar as palavras.


— Todo o mundo acha que sou especial — disse finalmente. — Todas aquelas pessoas no Caldeirão Furado, o Professor Quirrell, o Sr. Olivaras... Mas eu não conheço nadinha de mágica. Como podem esperar grandes feitos de mim? Sou famoso e nem ao menos me lembro o porquê. Não sei o que aconteceu quando Vol... Desculpe... Quero dizer, na noite que meus pais morreram.


Hagrid se debruçou sobre a mesa. Por trás da barba e das sobrancelhas desgrenhadas tinha um sorriso bondoso.


— Não se preocupe, Harry. Você vai aprender bem depressa. Todos começaram pelo começo em Hogwarts, você vai se dar bem. Seja você mesmo. Sei que é difícil. Você vai ser discriminado e isso é muito duro. Mas vai se divertir a valer em Hogwarts. Eu me diverti: e ainda me divirto, para dizer a verdade.


 


– Hagrid sempre sabe o que dizer para alegrar alguém, não é? – Alice perguntou a Harry, bondosa. – Sempre que eu ficava triste ele tinha uma palavra de apoio.


 


Hagrid ajudou Harry a embarcar no trem que o levaria de volta aos Dursley, então lhe entregou um envelope.


— A sua passagem para Hogwarts. Primeiro de setembro, na estação de Kong's Cross, está tudo na passagem. Qualquer problema com os Dursley me mande uma carta pela coruja, ela saberá onde me encontrar... Vejo você em breve, Harry.


O trem parou na estação. Harry queria ficar espiando Hagrid até ele desaparecer de vista, levantou-se, espremeu o nariz contra o vidro da janela, mas quando piscou os olhos Hagrid tinha desaparecido.


 


– Mas o Hagrid não pode aparatar, pode? – Frank perguntou confuso.


– Harry era criança, – Gina comentou dando de ombros – pode não ter percebido pra onde Hagrid foi, ou algo do tipo...


– Mas isso não vem ao caso. – Sirius interrompeu a menina – Sua varinha é gêmea da de Voldemort, isso é meio assustador.


– Completamente assustador. – Lily disse segurando a mão de Tiago com um pouco mais de força.


– Isso me deu muito em que pensar. – Remo comentou colocando a mão na têmpora. – Talvez devêssemos comer alguma coisa e dormir.


                Severo concordou com ele em silêncio. Também tinha muito em que pensar. O que aquele garoto tinha de especial para ter essa ligação estranha com o Lord? Como ele poderia impedir Lily de morrer? Muitas perguntas sem respostas pipocavam em sua mente, e ele gostaria de um tempo para pensar em tudo antes de continuar.


– Não. – Tiago disse sério – Vamos dormir depois que Harry estiver em Hogwarts.


– Então vamos pelo menos fazer uma pausa para comer alguma coisa? – Alice perguntou a Tiago com calma – Estou faminta.


– Tudo bem. – Tiago disse resignado.


                Lily saiu do braço de Tiago com estranheza, as coisas estavam indo meio rápido entre eles e ela nem havia percebido quão próximos estavam até levantar-se. Tinha consciência de que Tiago devia estar esperando algo mais. Mas não sabia se estava pronta para isso, mal tinha cogitado dar uma chance a ele.


                – Quero falar com você. – Lily segurou a mão de Tiago antes que ele chegasse à mesa com todos os outros. Lily puxou-o até o pequeno corredor que levava ao quarto e ao banheiro. – Há algum tempo estava pensando em te dar uma chance. – a garota disse constrangida com o sorriso que Tiago abriu instantaneamente – Não quero que pense que estou falando isso por causa de um livro.


– Não se preocupe Lily. – Tiago disse carinhoso – Não vou forçar nada por causa do livro...


– Obrigada. – Lily disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha – Há algum tempo vinha percebendo que você não é como eu pensava. Achava você um metido sem coração.


– Reconheço que você tinha motivos para pensar assim. – Tiago disse encarando os próprios pés.


– Mas antes das férias já tinha percebido que talvez estivesse errada. – Lily disse dando a ele um meio sorriso – Ia aceitar sair com você. Mas não estou pronta para mais do que isso.


– Eu entendo. – Tiago disse olhando para Lily com um sorriso – Também não estou pronto para ser um homem casado e com filhos, e não espero isso de você. Podemos nos conhecer, ser amigos, deixar as coisas acontecerem.


– Talvez já sejamos mais do que amigos. – Lily disse passando a mão pelo rosto do maroto.


– Só se você quiser ser mais do que minha amiga. – Tiago disse sorrindo sedutor.


– Vamos apenas deixar as coisas acontecerem... – Lily disse e deu um beijo na bochecha de Tiago antes de dar as costas para ele e juntar-se aos outros. Tiago passou mais alguns minutos ali parado com a mão sobre o local onde sua amada Lily havia beijado.


                Severo que comia sozinho em um canto tinha percebido que Lily e Tiago estavam sozinhos e resistia ao impulso de ir atrás deles quando Lily voltou sozinha com um sorriso feliz no rosto. Snape odiou com todas as suas forças que Potter fosse quem dava a Lily aquele sorriso. Não podia deixar que nada do que aquele livro contava acontecesse. Lily precisava ser dele.


                Lily viu Severo comendo sozinho e aproximou-se dele. Tudo o que queria era que as coisas ficassem bem entre Severo, Tiago e ela.


– Tudo bem, Sev? – Lily perguntou sentando-se ao lado dele.


– Não. – Severo respondeu seco. – Você está caindo no papinho do Potter. – Snape disse com nojo. – Ele vai usar você igual usa todo mundo e depois você vai se sentir uma idiota.


– Não é assim Severo. – Lily disse triste por seu amigo mais antigo não conseguir compreender. – Ele não é uma pessoa ruim.


– Não é ruim? – Snape respondeu ríspido – Não se lembra de todas as vezes que ele me atacou sem motivo algum?


– Não se faça de idiota Severo – Lily disse ficando irritada – você também não perdia uma chance de atacá-lo!


– Você não entende? – Severo disse agressivo – Você não pode ficar com ele, você vai morrer por que ele é um idiota presunçoso que não sabe o seu lugar.


– E você prefere as Artes das Trevas nojentas aos seus amigos. Não sei por que sou tão idiota a ponto de ainda pensar em te dar uma chance. – Lily deu as costas a Snape com lágrimas nos olhos e aproximou-se de Harry que conversava com Sirius e Remo do outro lado da mesa.


                Severo arrependeu-se no mesmo momento em que Lily virou as costas, já devia saber que se queria convencê-la a esquecer essas besteiras de enfrentar o Lord das Trevas, não poderia ser agressivo.


– Vamos – Lily disse com a voz ainda triste – quero acabar esse capítulo logo para podermos dormir.


                A louça do jantar desapareceu e todos voltaram a seus lugares. Tiago sentou-se ao lado de Lily preocupado, a garota parecia feliz quando estavam se falando. E depois de poucos minutos com o Ranhoso sua alegria desapareceu.


– Tudo bem? – Tiago sussurrou preocupado quando se sentou ao lado de Lily.


– Eu já devia saber que não se pode ter tudo. – Lily disse cabisbaixa aconchegando-se a Tiago. – Severo não consegue compreender que quero realmente ficar perto de você.


– Se é tão importante assim à amizade dele, – Tiago disse acariciando o cabelo de Lily – talvez você não deva desistir. – dizer aquilo custava muito a Tiago, mas doía nele ver sua Lily tão infeliz.


– Não sei se ele merece mais chances. – ela respondeu admirando Tiago ainda mais.


– Você quem sabe. – Tiago disse conformado.


– Harry, – Gina disse sorrindo ao ver o garoto olhando os pais com carinho – comece logo o capítulo, estamos todos ficando com sono.


Capítulo VI – Embarque na plataforma nove e meia.

                                                              ~~ x ~~ 

 Agadeço a Luiza Snape, MionGinnyLuna, Clenery Aingremont e Arthur lacerda pelos comentários que sempre me incentivam a postar e escrever.
 Clenery Aingremont: Já estou no terceiro capítulo do segundo livro, pretendo escrever os sete (boa sorte para mim) e pretendo te ver lendo os sete! =)
 Comentem para me fazer feliz! Até o próximo capítulo. 

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Comentários (11)

  • JuanZ

    Adorei esse capítulo, principalmente a parte sobre o poema do beco diagonal e o cofre dos Potter!Estou gostando muito da forma como você escreve e ficando curioso para ler mais!! 

    2013-10-23
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