Passado e presente



22. Passado e presente


“A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para a frente.”


Soren Kierkergaard


- Sê bem-vindo, Harry.


Eu tentei levantar-me, com o máximo de dignidade que conseguia, depois de ter caído - de uma forma estrondosa - no meio do gabinete do diretor.


Pisquei os olhos e quando finalmente me levantei, vi que o escritório dele encontrava-se igual a quando tinha chegado, naquela manhã. Era grande e circular com janelas espalhadas, sendo que se conseguia ver, inclusive, algumas montanhas e o Estádio de Quiddich. As paredes do aposento estavam cheias de quadros e atrás da mesa do Diretor encontrava-se uma prateleira, cheia de coisas, até de um chapéu velho e esfarrapado.


Eu ouvi alguém limpar a garganta e espantei-me ao ver que afinal não estava completamente igual. Ao pé da porta, encontravam-se duas pessoas, uma jovem – perto da minha idade – e outra adulta.


Eu conhecia vagamente o jovem, relembrando-me daquelas feições. Ele era alto e tinha um cabelo preto curto. Tudo desde a sua postura até ao seu sorriso envergonhado e os seus brilhantes olhos castanhos esverdeados, indicavam que ele era amigável e simpático, acentuados pela sua face redonda. Eu pisquei os olhos, tentando relembrar-me de quando o tinha visto até que me lembrei do episódio da enfermaria e empalideci ao lembrar-me que ele fazia parte dos que sofreram no ataque a Hogwarts.


Ao lado dele encontrava-se a pessoa que tinha limpo a garganta. Ela era alta e estava vestida com umas vestes verde esmeralda. O seu cabelo estava escondido num chapéu pontiagudo e eu vi os seus olhos verdes fixarem-se nos meus, no que parecia ser um olhar de repreensão. Tive um arrepio, ao observar a seriedade que eles tinham e soube naquele instante que ela era uma pessoa que não admitia brincadeiras.


- Boa tarde.- Murmurei, sentindo-me intimidado por aquele olhar e olhei rapidamente para o Dumbledore, querendo sair dali rapidamente. – A aula acabou. Já me posso ir embora?


Acho que disse a última parte demasiado rápido, mostrando a minha ansiedade porque ele abriu um sorriso e os seus olhos voltaram a ter o seu brilho habitual.


- Espera só um pouco. – Ele olhou para os outros dois na sala. – Apresento-te a Professora McGonagall e o Neville Longbottom. Ela é professora de Transfiguração e vice-Directora de Hogwarts além de ser chefe de casa dos Gryffindor. O Neville é um aluno, da casa Gryffindor que está atualmente no teu ano.


Eu assenti, não percebendo porque é que ele me estava a dar aquelas indicações mas presumindo que tinha algum objetivo.


- Eles encontram-se aqui para falarem contigo.


Eu levantei uma sobrancelha, não fazendo ideia do que eles queriam. Contudo, aquele dia estava a mostrar-se cheio de surpresas e, por isso, estava a tentar ser cauteloso.


Eles olharam para mim, parecendo também surpresos e eu voltei a olhar para o Dumbledore, tentando fazer com que ele falasse tudo de uma vez.


- A Professora McGonagall devido a transfiguração. Calculo que esta seja uma das disciplinas que queiras fazer o exame com os restantes alunos do quarto ano, para seres avaliado.


Eu senti a minha expressão suavizar. Então ele só queria falar do meu desejo de realizar alguns dos exames com os alunos do quarto ano para provar que não iria entrar no quinto ano só por ser o Harry Potter.


- Sim, pretendo fazer a todas as principais. Estou atrasado em poções, herbologia e astronomia, contudo, estou dentro do esperado em transfiguração.


Senti os olhos da Professora me perfurarem como se estivesse a tentar ver se eu estava a falar a verdade. No entanto, ignorei-a, olhando outra vez para o Dumbledore.


- Vou ser avaliado a Transfiguração?


Ele abanou a cabeça, contudo, quem falou foi a Professora.


- Não. Eu vim só oferecer a minha ajuda para caso tenha dúvidas.


Eu pisquei os olhos surpreendido pela solidariedade nas palavras dela, apesar do tom mais rígido. Ao ver que não iria falar, ela continuou:


- Eu compreendo caso tenha alguma dúvida ou alguma complicação na matéria tendo só descoberto a magia, recentemente. Por isso, caso não queira fazer o exame ou tenha uma avaliação menos positiva, eu posso ajudar no decorrer do Verão.


  Eu assenti para ela.


- Obrigado pela oferta. Contudo, acredito que tenha capacidades para passar no exame se continuar a estudar neste ritmo. Posso não ter uma avaliação excelente mas será positiva.


Podiam-me considerar arrogante pelas minhas palavras mas em toda a minha vida só existia uma coisa em que eu era bom e era nos estudos. Durante aquele tempo, eu tinha-me aplicado completamente a estudar e apesar de terem razão em dizer que era uma missão quase impossível, eu estava a mostrar-lhes que eu conseguia! Eu acordava, estudava alguma matéria mais teórica sem o Remus, à tarde estudava com o Remus, onde só fazia mais a prática porque já sabia a teoria. Durante a noite ou estudava com a Lily ou continuava a estudar alguma coisa teórica. Era por ter menos prática que estava a deixar para trás poções, astronomia e Herbologia. Poções porque só tinha começado há pouco tempo. Astronomia porque o céu raramente estava limpo e só sabia a teoria. Herbologia porque não tinha um sítio onde estudar e, por isso, também só sabia a teoria.


- Espero pela tua avaliação então. – Ela disse e pareceu-me ver uma sombra de um sorriso no rosto dela, contudo, deve ter sido a minha imaginação hiperativa a trabalhar porque quando voltei a olhar já estava com a sua expressão séria.


- Harry, - virei-me para o Dumbledore que olhou para a nossa interação com um sorriso fraternal no rosto – é por causa de uma dessas disciplinas em atraso que está aqui o jovem Longbottom.


Eu olhei para ele em confusão e olhei para o dito jovem e vi-o tão ou mais confuso do que eu. Porque é que o Dumbledore tinha prazer em deixar as pessoas confusas?


- Qual disciplina?


- Herbologia. – Ele respondeu e olhou para o Longbottom quando se ouviu um “Oh” pela sala. – Ele é um aluno prodígio e eu aconselhava-te a não fazeres esse exame com os restantes alunos.


Eu enruguei a testa cada vez mais confuso. O que é que ele ser bom aluno tinha relacionado com eu não fazer o exame? Queriam que ele fizesse por mim, era?


- Não estou a perceber.


O Dumbledore sorriu ainda mais.


- Eu ainda não acabei. Ele é um aluno prodígio e eu acredito que se for ele a ensinar-te terás mais possibilidades de aprender rapidamente, pelo menos na parte prática.


Eu abanei a cabeça, confuso.


- Se não fizeres o exame com os alunos do quarto ano, eu arranjei uma maneira de no Verão ires a casa dele, onde existem estufas que fazem inveja às de Hogwarts e aprenderes com ele a prática. Assim, até lá, podes ir lendo os livros que os teus pais te disponibilizaram, que descrevem a matéria dada nos 4 anos, nos teus tempos livres e focares-te mais nas outras disciplinas.


Eu mordi a bochecha percebendo o que ele queria. Ele achava que era demasiado difícil, eu conseguir fazer o que tinha proposto mesmo estando a mostrar que estava a conseguir seguir o meu planeamento e, por isso, queria libertar espaço na minha agenda. No entanto, o meu orgulho queria falar mais alto ali e só me apetecia responder que eu iria conseguir.


- Presumo que o Mister Longbottom não tenha nenhum obstáculo. – O Dumbledore acrescentou, olhando bondosamente para ele.


Eu olhei para o dito Mister Longbottom e vi-o sorrir timidamente para mim.


- Claro que não. Tenho todo o prazer, no entanto, acho que a professora Sprout seria mais qualificada.


O Dumbledore negou com a cabeça.


- Não. Quando aprendemos por pessoas da nossa idade é mais fácil além de que é mais gratificante.


Aquela última palavra fez-me levantar uma sobrancelha e voltar a lembrar-me da conclusão que tinha chegado no mês anterior. Ele queria que eu fizesse amigos por algum motivo obscuro e só pertencente a ele.


- Eu não quero incomodar. O Longbottom vai estar de férias no Verão e acredito que seja maçador estar a ensinar um novato em Herbiologia quando podia estar a fazer muitas outras atividades não relacionadas a Hogwarts. Eu consigo ter conhecimento próprio além de que o Sirius disse que vai fazer uma estufa nos terrenos perto da minha casa, por isso, isso é desnecessário.


O Dumbledore olhou para o Neville, esperando uma resposta dele e, dessa forma, dando-lhe a hipótese de dizer que o que eu tinha dito era verdade. No entanto, o dito jovem corou e só depois de ver que ninguém iria falar é que respondeu, timidamente.


- Eu passo muito tempo nas estufas, inclusive, no Verão. – Pela forma como falou e pela sua face corada, eu percebi que era verdade. Ele deveria de gostar muito daquilo. – Por isso, não me importo de ter companhia. – Ela parou por um segundo, até continuar, corando ainda mais. – Até seria um prazer.


Algo na forma de ele falar e gesticular fez-me simpatizar com ele, esquecendo-me completamente do nosso primeiro contato e foi essa simpatia que senti, juntando à realização de que me iria facilitar muito a vida não ter que me aplicar tanto a uma disciplina que me fez dar-lhe um sorriso.


- Então acho que aceito a proposta, se eu não for um fardo.


Ele negou rapidamente com a cabeça e o meu pequeno sorriso para ele transformou-se num grande.


- Não és. Vai ser um prazer ensinar-te tudo o que sei.


O Dumbledore deu uma gargalhada e viu toda a atenção dos presentes fixada nele.


- Não é preciso ensinares tudo que eu tenho consciência que sabes muito mais do que o que é dado aqui. – Vi o Neville corar e a minha escolha pareceu cada vez mais acertada. – É claro que se o Harry mostrar o mesmo interesse não tenho nenhum contra.


Ficamos por dois segundos em silêncio, eu observando o Neville que estava ainda ao lado da Professora, corado mas ao mesmo tempo a parecer contente com a escolha. O Dumbledore olhava para a Professora e só depois de trocarem um olhar é que voltou a falar.


- Harry, só tenho mais uma questão, antes de ir. – Quando viu que tinha a minha atenção continuou. – Já escolheste as opcionais?


Eu sorri, assentindo.


- Eu sei que é pouco aconselhável, devido à minha falta de tempo mas eu queria fazer três.


Vi o olhar espantado que o Dumbledore trocou com a Professora mas voltou rapidamente a olhar para mim com um sorriso amigável.


- Muito bem e quais são as disciplinas?


- Runas, aritmancia e Cuidado com as Criaturas mágicas.


Vi o segundo olhar surpreendido que eles trocaram, desta vez demorando mais do que um segundo e vi-o voltar a olhar para mim, mais sério.


- Runas e aritmancia são disciplinas por norma complicadas. Tenho conhecimento que tu só pretendes aprender o conteúdo destas disciplinas no Verão e sei que vai ser complicado, aprenderes nesse curto espaço de tempo, ao mesmo tempo em que aprofundas o teu conhecimento nas restantes.


Eu dei-lhe um pequeno aceno.


- Pessoalmente, ainda não sei bem a dificuldade, no entanto, acho que não é assim tão impossível. Aritmancia é muito parecido com Matemática e eu tinha diversas facilidades nessa, tanto que já li o livro inicial e percebi tudo, sem dificuldades. Runas, estou a tentar perceber o alfabeto e todas as noites, antes de dormir, tento aperfeiçoar uma letra dele. Cuidado com as Criaturas Mágicas, tenho um especial interesse para descobrir quais são as criaturas que realmente existem e os cuidados que tenho que ter. Por isso, mesmo não me tendo aplicado já tenho uma ideia generalizada.


Vi o olhar do Dumbledore preso em mim, parecendo espantado e, estranhamente, preocupado.


- Estou a perceber que tu estás a usar todo o teu tempo livre para estudares. – Não era uma pergunta mas pareceu que tinha uma ligeira repreensão na sua voz que me fez responder.


- Eu tenho que aprender tudo até Setembro.


Ele recostou-se mais contra a cadeira.


- Harry, ninguém espera que consigas ter o conhecimento que os teus colegas, como o Longbottom – disse, apontando para ele com uma mão – têm. Foram quatro anos de conhecimento enquanto tu tens somente uns meses. Se nós virmos que precisas de aperfeiçoar certas disciplinas vão-te ser facultadas aulas extras em Setembro. Por isso, não precisas de te esforçar tanto.


- Mas eu quero.


Ele suspirou e mexeu na sua longa barba com uma mão.


- Ninguém pede isso de ti. Aliás, até pedimos que descanses a aproveitas a paz a que tens direito.


Eu sei que os meus olhos brilharam com raiva incontida ao ouvir aquelas palavras. Paz? Eu admitia que naquele último mês tinha tido paz, estando pacificamente a viver com o que era a minha família biológica, contudo, eu ainda tinha uma sombra atrás de mim. Uma sombra chamada Tom Riddle – que eu não sabia como reagir a ele por estar mudado – e uma sombra ao lembrar-me que uma criança tinha morrido devido à minha existência. Sem falar dos segredos que pareciam perseguir aquela família…


- Eu estou a fazer o que me propus. – Sei que falei com uma voz impessoal, para controlar a minha raiva, no entanto, o Dumbledore deve ter percebido os meus verdadeiros sentimentos porque olhou para os outros dois presentes.


- Eu sei mas eu acredito que deverias pensar noutras coisas como a Senhorita Granger. – Como também segui o olhar do Dumbledore vi a cara surpreendida do Longbottom e da Professora. – Queres que a mande chamar?


Eu senti um sorriso nascer no meu rosto. Então o Snape não lhe tinha contado mesmo o conteúdo dos meus sonhos nem que tinha arranjado uma maneira de eu falar com ela.


- Eu já falei.


O Dumbledore ficou tão surpreendido que até parou de mexer na barba e desencostou-se da cadeira, apoiando-se mais na secretária.


- Já?


- Hoje de manhã.


Ele olhou para mim fixamente até que sorriu, perdendo toda a sua expressão séria e voltou a encostar-se na cadeira.


- Fico feliz. Presumo que ela se lembre de ti?


- Sim.


- Queres voltar a falar com ela?


- Ela vai-me mandar uma carta.


Ele sorriu, voltando à sua personalidade de avô bondoso.


- Ela até podia passar uma parte do Verão contigo.


Eu olhei surpreendido para ele e vi o sorriso dele alargar-se ao ver a minha reação.


- Para te ajudar a estudar. Ela tem uma boa relação com o Mister Longbottom, não é? – Perguntou para ele, sorrindo ao vê-lo assentir, confuso e corado. Tinha saudades de ver uma pessoa tão fácil de ler, comparando-o à Natalie ou ao Snape. – Por isso, podes ter aulas com ele e a Hermione.


Eu pisquei os olhos. Estudar com a Hermione como nos velhos tempos?


- Ela é excecional em todas as matérias por isso vais ser uma boa professora. – Ele disse, continuando. – Além de que vão poder conversar à vontade.


Eu olhei para ele. Ele queria arranjar professores da minha idade para o Verão. Ele achava que eu estava assim tão solitário?


- Porque é que está a arranjar pessoas da minha idade para me ensinar? – Se havia coisa que o Dumbledore tinha como vantagem, comparativamente, ao Snape era que eu podia ser honesto e foi isso que fiz, ao perguntar-lhe aquilo.


O Dumbledore olhou para o Longbottom e para a professora e só depois é que me respondeu, voltando a olhar para mim.


- Sabes qual é a vantagem de estudar numa escola, em vez de estudar em casa quando isso é tão ou mais produtivo, como tu estás a provar?


- É mais barato?


Ele riu.


- Também mas esse não é o principal motivo. – Ele inclinou-se outra vez contra a secretária e eu senti um arrepio ao sentir aqueles olhos azuis perfurarem-me, com uma sabedoria imensa. – A vida pode ser feita de muitas coisas, Harry, inclusive, de estudar. Contudo, existe uma coisa que é obrigatória mesmo que decidas seguir uma vida mais solitária. – Ao ouvir o meu silêncio continuou, com o seu tom calmo e sábio. – Lidar com as outras pessoas e isso, por muito que tentes, não se aprende nos livros. Os livros e os professores até podem ser bons exemplos onde ganhes dicas para lidar com os diversos tipos de pessoas mas nunca te vão dar a experiência que lidar com elas, principalmente, as da tua idade, te irá dar.


Houve um silêncio naquela sala e eu senti o meu coração bater furiosamente no meu peito. Ele queria mesmo que eu fizesse amigos…


- Tu atualmente estás focado nos teus estudos e estás a esquecer-te que a tua vida tem mais do que isso. É por isso que prefiro que aprendas com pessoas da tua idade para que eles te passem o seu conhecimento, tanto de Hogwarts como da sua vida.


Eu mordi a minha língua para não lhe dar a resposta que eu queria. Ele não podia controlar a minha vida daquela forma só porque tinha pena de mim e pensava que estava correto!


- Eu consigo saber o que estás a sentir Harry. – Ele disse, desta vez mais suave. – E percebo a tua irritação mas não penses que escolhi fazer isto por solidariedade com o teu passado. – Eu arregalei os olhos, temendo que ele me estivesse a ler os pensamentos. – Eu estou a fazer porque sei que é o melhor e sei que o teu sentimento de culpa não te permite ser nada além de perfeito.


- Eu não sou perfeito.


Ele sorriu.


- Eu sei. – Apesar das palavras dele, eu senti a minha raiva diminuir, ao ver que ele não hesitou nem um segundo. – Mas vais-me dizer que não te sentes pressionado a saberes tudo sobre todas as disciplinas porque sentes que podes ser atacado a qualquer momento? E nesse ataque podes não conseguir salvar todas as pessoas? – Eu cerrei o maxilar ao ouvir as palavras dele. – Harry, nós os adultos estamos aqui para vos proteger e fazer com que vocês próprios um dia possam ser adultos, para nos substituir nesta tarefa. O teu trabalho agora é aprenderes, sim, mas também relaxares e descontraíres.


Eu não disse nada apenas ouvindo-o, tendo consciência que estava a ter espetadores e que eu não queria que esses ditos espetadores ouvissem esta conversa.


- Posso ir para casa?


Ele olhou para mim, analisando-me e eu vi o suspiro que eu deu quando olhou para os outros dois presentes.


- Peço desculpa, Harry. Deixei-me levar pelas minhas emoções. – Eu continuei impassível a olhar para ele, controlando-me. – Mas aceitas que a Hermione passe uns dias contigo no Verão?


Eu assenti com a cabeça.


- Se não houver problema para os outros moradores não tenho nenhum contra.


Ele sorriu.


- Fantástico. – Ele mexeu numa gaveta e tirou de lá uma caneta. – Esta é a chave de portal. Se precisares de alguma coisa não me hesites em contactar.


Eu assenti e agarrei a caneta. Olhei para os outros dois presentes, o Longbottom que ainda continuava com a sua expressão espantada e a Professora que continuava severa apesar dos seus olhos estarem mais suaves e dei-lhes um aceno, em despedida.


Não me surpreendi quando senti os efeitos da chave e suspirei ao ver que estava outra vez em casa longe do Dumbledore e das suas conversas cansativas. Contudo, esta felicidade passou rapidamente quando fui para a cozinha e vi os presentes. Estavam a Lily e a Serena a falar calmamente, parando quando me viram entrar.


- Olá Harry. Correu bem?


Eu assenti para a Lily, sentindo a minha garganta seca ao lembrar-me das palavras da Natalie. Será que por de trás daquele sorriso, aparentemente genuíno, estava uma tristeza enorme por minha causa?


- Sim. – Disse, lembrando-me que tinha que responder à pergunta. – O Professor Snape disse que vai parar de me ensinar até Setembro.


Ela assentiu, parecendo distraída.


- Então é para eu continuar a ensinar-te técnicas de organizar a tua mente, não é?


Eu dei de ombros.


- Não sei mas presumo que sim.


Ela assentiu outra vez.


- Eu vou ter todo o prazer em ensinar-te. – Disse, piscando-me um olho. – Como correu a avaliação de poções?


Eu abri um pequeno sorriso, orgulhoso.


- Como não disse nada além de que podia passar para o segundo ano presumo que fiz bem as poções. Além de que as pessoas que estavam a vigiar-me também não me disseram nada.


Ela enrugou a testa.


- Pessoas a vigiarem-te?


Eu paralisei por um segundo, lembrando-me que ela não sabia nada de mim e da Hermione.


- Sim, a Natalie e… a Hermione.


Ela levantou uma sobrancelha.


- Quem é a Hermione?


Eu sorri sem jeito, tentando ganhar coragem para ser franco.


- É uma amiga. – Vi-a arregalar os olhos ao ouvir as minhas palavras. Acho que não era muito habitual eu dizer que tinha uma amiga e quando a vi abrir a boca, continuei, adivinhando o que ela ia perguntar. – Eu conheço-a do tempo do orfanato.


Houve um silêncio desconfortável onde a Lily ficou perdida nos seus pensamentos e eu e a Serena trocamos um olhar percebendo que estávamos a começar a ir por um caminho extremamente desagradável para nós os dois.


A minha vida antes dos Potter.


- E não mantiveste contato com ela?


Eu neguei com a cabeça.


- Não. – Respondi, olhando de lado para a Serena que desceu o olhar para as mãos que estavam pousadas em cima da mesa. – Eu parei de falar com ela quando fui adotado.


Houve outro silêncio constrangedor, com a Serena a observar as suas mãos como se a sua vida dependesse disso, a Lily a observar-me à espera de mais informações e eu olhava para um ponto da parede, controlando a minha vontade de fugir daquela conversa.


- E já tinhas falado com ela antes?


- Hoje foi a primeira vez que voltei a falar com ela.


Ela olhou para mim, querendo mais informações mas eu não lhe queria dar porque iria ter que falar dos meus tempos antes da adoção e, principalmente, havia o risco de ter que falar de quando estive com os Smith. No entanto, para a minha surpresa a expressão na face da Lily mudou, ficando mais leve e ela sorriu para mim.


- E correu bem?


Eu expirei, sentindo menos nervosismo agora que ela parecia não ter mais interesse pelo meu passado.


- Correu. – Disse, não conseguindo esconder um sorriso que fez a Serena levantar o olhar e a Lily sorrir ainda mais.


- Ainda bem. – A Lily murmurou, parecendo genuinamente feliz pelo meu contentamento. – Não te queres sentar comigo e contares-me mais sobre ela?


Eu pisquei os olhos surpreendido pelo convite dela e estava para recusar quando me lembrei das palavras da Natalie. Se ela tivesse sido sincera, então eles estavam a sofrer devido a eu não querer ser mais amigável com eles. Por um momento, pensei que não valeria a pena arriscar, eles iriam acabar por me magoar afinal eram adultos que tinham os seus interesses próprios como prioridade, no entanto, depois lembrei-me dos outros aspetos deles. Eles tinham desejado trocar a sua vida pela minha, tinham-me apoiado incondicionalmente e ela, a Lily, estava sentada, a olhar esperançosamente para mim, como se ela quisesse mesmo conversar comigo e essa conversa fosse muito importante.


Eu suspirei e sentei-me, decidido a fazer-lhe a vontade. Eu não iria morrer e se aquilo fosse aliviar a preocupação que a Natalie dizia que eles tinham, então porque não?


- O que deseja saber?


Vi até a Serena olhar para mim, parecendo curiosa.


- Tudo. – A Lily respondeu.


Eu sorri para ela, vendo-a fazer o mesmo para mim em reflexo e vi a Serena inclinar a cabeça, continuando em silêncio mas com claro interesse.


Eu suspirei, escolhendo cuidadosamente o que poderia e não poderia dizer e comecei a explicar-lhes como conheci a Hermione na escola primária (não mencionei o Richard e o seus amigos) e criamos uma amizade. Tive um momento estranho quando mencionei que ao ser adotado perdi o contato com ela que fez a Lily me fazer uma pergunta muito inconveniente.


- Mas porque paraste de falar com ela quando foste adotado se a vossa amizade era assim tão forte?


Eu engoli em seco e olhei para a Serena enquanto pensava numa resposta. No entanto, quando ia para abrir a boca para responder ela foi mais rápida e falou no meu lugar, com uma voz séria.


- A culpa foi minha.


Eu pisquei os olhos surpreendido e vi os olhos da Lily escurecerem temporariamente e fixá-los na mulher à sua frente, perdendo todo o seu bom humor.


- Quando adotamos o Harry, – A Serena continuou, observando a chávena de chá como se a sua vida dependesse disso – a assistente social informou-nos que às vezes as crianças nunca se adaptam às suas casas porque estão demasiado presas ao orfanato.


A Serena finalmente levantou a sua face, encarando os meus olhos verdes que a estavam a perfurar devido ao meu desejo de querer saber o lado dela daquela história e, inclusive, tentar perceber o motivo das suas ações. O Louis sempre tinha sido fácil de ler mas ela era completamente diferente. Ora querida ora séria. Ora simpática ora extremamente desagradável.


- Eu hoje sei que o que ela queria dizer era que nós devíamos dar algum grau de liberdade para ele conseguir adaptar-se a uma casa nova mas mesmo assim não perder toda a sua vida antiga. – Ela pausou por mais dois segundos, com os seus olhos azuis a demonstrarem uma tristeza enorme. – No entanto, nós não percebemos isso.


Ela suspirou mais uma vez e eu não aguentei mais o olhar dela e desci-o para as mãos dela que estavam a acariciar a chávena de chá, distraidamente. Ela era uma incógnita para mim mas era uma incógnita que me conseguia fazer sentir humano por causa dos sentimentos conflituosos que ela me causava. Ela não era inocente e ela sabia disso. No entanto, também não conseguia dizer que ela era completamente culpada pela forma como ela sofria devido ao nosso passado em conjunto. Era por isso, por eu não conseguir odiá-la como odiava o Louis mas também por não conseguir amar como amava a Rose que eu a evitava enquanto estava naquela casa. E era por isso que eu estava a sentir um suor frio no meu corpo e tinha uma vontade muito grande de me levantar daquela mesa com uma desculpa qualquer e evitar as próximas palavras delas. No entanto, essa minha insegurança fez com que eu não agisse e, por isso, ouvi o resto do seu discurso.


- O que nós percebemos com aquela frase foi que o Harry devia de dar como morto o seu passado e viver só o seu presente. Então, dissemos-lhe para esquecer o orfanato porque ele finalmente iria ter uma família.


Houve uma pausa que fez a cozinha ficar com um silêncio constrangedor. Eu levantei os olhos para a face dela e vi-a paralisada num olhar para a Lily que estava com uma expressão assustadoramente séria.


- É claro que não fizemos um bom trabalho. – Ela murmurou, finalmente, cortando aquele olhar para olhar para mim, com a sua expressão infinitamente triste. – Até acho que estavas melhor se nunca nos tivesses conhecido. – Ela mordeu o lábio, nervosa e vi-a levantar uma mão até ao pescoço, um sinal de desconforto.


- Eu… - Eu queria aliviar um pouco aquele desconforto, no entanto, ela não me deixou continuar.


- Não, Harry. Eu hoje sei o quão nobre és e o quão errada eu estava e o quanto eu te prejudiquei por causa disso. - Ela fechou os olhos dolorosamente e a minha vontade de sair dali e correr para bem longe estava cada vez mais forte. – A partir do momento em que decidimos adotar-te para poderes ser um modelo para a Rose, devido às tuas excelentes notas, nós erramos. – Ela murmurou, abrindo os olhos, ainda infinitamente azuis e infinitamente perdidos num mundo de dor. – Nós devíamos ter feito essa escolha pela pessoa que tu eras. Leal, simpático e, principalmente, íntegro. Um filho que nós nunca tivemos mas que tínhamos todo o orgulho em ter.


Eu vi-a negar com a cabeça os seus pensamentos e fechei os punhos tentando conter as minhas emoções. O meu coração queria explodir do meu peito, sentia as minhas mãos suadas e sabia que a Lily observava aquele momento como se a sua vida dependesse disso. Estávamos a falar do meu passado que eu me recusava a discutir. Contudo, eu não queria ter aquela discussão ali e em nenhum lugar. O meu passado estava no passado e aquela discussão não iria trazer nada de bom. Só dor e insegurança. Porque é que ela não se calava?


- Eu acho que nós nem se quer pensávamos em ti como uma criança nossa como devíamos ter pensado. Porque nós nunca nos esquecíamos que tu tinhas sido um órfão. Era tão fácil pôr as culpas em ti quando a culpada era a Rose ou até não havia culpado. Era tão fácil pensar que o meu casamento infeliz, as coisas estranhas que aconteciam com a Rose, a revolta dela, eram culpa tua que nós nem pensámos duas vezes. Era tão fácil dizer que aquilo tudo era culpa tua porque não sabias como era viver numa família e já estavas demasiado crescido para aprender a comportar-te. E, principalmente, era tão fácil ignorar o que o Louis te fazia porque tu não te queixavas, tu não olhavas para mim com recriminação e tu não pedias explicações. Tu, simplesmente, aceitavas como se fosses o verdadeiro culpado e como não parecias sofrer, eu simplesmente ignorava e aceitava.


Houve mais um momento silencioso na cozinha, onde eu temia que o bater do meu coração fosse ouvido pelos outros presentes. A Serena estava quieta, paralisada nas suas lembranças e eu vi a forma como a sua cara se contraiu para não chorar. A Lily estava a agarrar a chávena como se aquilo fosse vital para a sua sobrevivência e eu estava preso nos olhos azuis oceano da Serena e na sua face sem falhas que estava paralisada numa expressão de tristeza.


Se aquilo a fazia sofrer tanto porque é que ela continuava? Eu também não queria ouvir aquilo e relembrar aqueles momentos. Eu só me queria ir embora daquela cozinha…


- Eu não te vou pedir mais desculpas porque ainda não fiz nada para merecer o teu perdão. – Ouvi-a murmurar, olhando para mim, com duas lágrimas a caírem da sua face. – No entanto, saber que o meu comportamento te fez perder ainda mais uma coisa… uma amizade verdadeira, ainda por cima. – Ela desviou o olhar para um ponto da mesa e eu vi mais lágrimas caírem da sua face. Ela estava com dor então porque é que ela não se calava de vez?? – É imperdoável.


Houve outro silêncio forçado na mesa e eu não aguentei mais.


Ela estava a sofrer e eu estava a sentir aquele conjunto de sentimentos que queria matar e, por isso, só vi uma solução.


Levantei-me, pronto a sair daquela maldita cozinha e ir para o meu quarto onde iria fazer de tudo para ignorar as palavras dela.


- Harry….


Eu estava preparado para lhe virar as costas e não falar mais disso, continuando com a nossa existência em conjunto, fácil mas pelos vistos ela não me ia deixar.


- Isso está no passado. Não vale a pena viver nele.


Eu virei as costas, sentido todos os bocadinhos do meu corpo por causa do nervosismo que estava a sentir.


- O problema é que não fazes isso, pois não?


Eu já estava a começar a andar para a porta mas aquela pergunta paralisou-me.


- Tu não consegues esquecer o teu passado.


Aquela frase, dita sem dúvidas e sem pausa fez a minha irritação crescer. Ela não sabia nada sobre mim!


- Eu consigo tu é que não! – Eu resmunguei, girando nos meus calcanhares e olhando diretamente para a face dela. – Eu não precisava deste discurso todo sobre ele. Ele está morto e não quero pensar mais nele. É assim tão difícil de compreender?


Eu vi como a face dela se contorceu numa de dor mas passou rapidamente a uma decidida.


- É. – Ela disse, levantando-se, com convicção.


O meu cérebro congelou por um segundo, devido à resposta curta mas decidida dela. Vi a forma como a Lily, que estava sentada numa cadeira ao meu lado olhava de mim para a Serena e vi a forma como a Serena olhava para mim.


Cheia de dor e culpa.


- Então não posso fazer nada para te ajudar nisso. – Murmurei, finalmente, recuperando do choque que a palavra dela tinha-me causado.


- Eu não quero que me ajudes. – Ela disse rodeando a mesa até chegar à minha frente. – Eu quero que tu te ajudes. – Ela disse aquela frase mais baixo e eu vi, espantado, ela passar por mim e ficar ao lado da Lily. Ela em pé, a Lily sentada numa cadeira.


- Eu estou bem.


Ela sorriu. Um sorriso triste que não mostrava os dentes mas mesmo assim, um sorriso.


- Não, não estás. Harry, isto que eu te disse não é para tu ficares a pensar que eu estou a sofrer e, por isso, precisas de me perdoar. Nem é para tu pensares em mim, se quer. É para tu pensares em ti e finalmente aceitares o teu passado.


Eu olhei em choque para ela. Era para eu aceitar o meu passado?


- Eu já aceitei o meu passado.


- Não, não aceitaste! Tu foges do teu passado como estavas para fazer agora ou vais-me dizer que estou enganada?


Eu cerrei o maxilar não conseguindo negar.


- Harry, eu durante este tempo todo estive demasiado presa na minha culpa para fazer alguma coisa mas eu agora finalmente percebi.


Eu olhei para ela em confusão. Ela não estava a fazer sentido nenhum.


- Eu fiz-te infeliz. – Ela parou, observando-me. - Eu fiz de ti um adolescente com demasiado medo para amar as outras pessoas porque era mais fácil ignorar todas as minhas ações. Mas agora chega!


Eu neguei com a cabeça, não a querendo ouvir e não a compreendendo.


- Harry, eu e o Louis erramos. O que fizemos não tem perdão mas como tu és diferente dos outros adolescentes, os outros adultos são, felizmente, diferentes de nós. Olha para mim.


Eu fiz o que me foi pedido, observando-a, com o seu cabelo loiro bem arranjado, os seus olhos azuis, cheios de dor e a sua cara sem marcas mas com algumas lágrimas nela.


- Agora olha para ela.


Eu olhei surpreendido para onde ela estava a olhar. A Lily que estava sentada, olhando em choque para ela.


- Nós somos diferentes. Tão diferentes que até é difícil ver as parecenças. Eu fui uma mãe horrível para ti, não te apoiei, não te tratei como um filho e só te fiz sofrer. Mas ela… ela é uma mãe excecional que pensou durante anos que tinha perdido o seu filho e mesmo assim, depois desses anos todos, nunca o tinha esquecido. Harry, ela ama-te incondicionalmente, como só um amor de mãe pode ser e tu não te permites aceitar esse sentimento por minha causa. – Ela voltou a olhar para mim, outra vez com uma lágrima a cair pela sua face. – Aceita o teu passado comigo para poderes viver com ela. Aceita esse ódio que tu queres esquecer e põe uma face nele. A minha.


Eu continuei em choque a olhar para ela. Eu não compreendia o que ela estava a dizer mas por outro lado eu compreendia.


- E Harry… aceita esse amor que tu sabes que ela sente por ti e corresponde. Tu podes ser feliz. Aceita esse facto e vive como deverias ter vivido quando eu te chamei de filho.


Eu mordi a parte de dentro da bochecha sem saber como reagir. Aqueles olhos azuis dela era tão expressivos, tão cheios de dor. Eu não queria aceitar aquelas palavras e foi por isso que comecei a dar passos para trás, até ela andar em frente e pôr as suas mãos nos meus ombros, obrigando-me a ficar ali, a olhar para ela. Mas eu não queria….


- Eu sou a Serena Smith e casei-me com o Louis por livre e espontânea vontade. Fui eu e o Louis que te fizemos mal, tanto fisicamente como verbalmente. Nós. – Ela proferiu aquela palavra com tanta convicção que eu não consegui desviar o olhar, paralisado. – Ela é a Lily Potter casada com o James Potter. Ambos são os teus verdadeiros pais que te amam incondicionalmente. Não os culpes pelo que eu e o Louis fizemos. Se eles não te viram crescer foi porque não sabiam que estavas vivo porque se soubessem tratavam-te como trataram o Charles. Com amor e carinho. – Eu continuei sem reação, simplesmente, olhando para ela e sentido o aperto das mãos dela nos meus ombros aumentar. – Tu não és um órfão aqui, Harry. És o filho amado. Aceita e vive.


Eu cerrei o maxilar com força querendo combater os sentimentos que me estavam a atingir. Eu não queria sentir aquela dor, aquela vontade de chorar e de me deixar vencer pelos meus sentimentos. Eu não podia! Porque eles eram adultos e iriam acabar por me magoar. Eu sabia que eles iam!


- Eu… eu não….


- Não! – A Serena cortou-me, severa. – Tu podes e tu deves! Nós somos diferentes. Odeia-me mas ama-a. Ela não precisa de sofrer pelos meus pecados.


Eu abanei a cabeça, negando com todas as minhas forças o que ela estava a dizer. Ela não me amava incondicionalmente. Isso era impossível. Ela iria-me fazer sofrer. Eu era e sempre seria um órfão para os adultos. Ela estava errada! Ela tinha que estar…


- Harry, acorda! – Ela continuou, ao ver a forma como eu negava. – Ela é a tua mãe. A tua mãe!


Eu continuei a negar a cabeça, não me acreditando.


- Não… Eu sou um órfão.


- Tu és amado!


- Não, isso é….


Eu queria continuar a dizer o quanto aquilo era impossível mas todo o meu corpo congelou ao ver que a Lily estava ao lado da Serena, em pé a observar-me com os seus brilhantes olhos verdes e a proferir as palavras que fizeram todo o meu ser ficar congelado.


- Eu amo-te, filho.


A Serena tirou as mãos dos meus ombros, parecendo segura que aquilo já não era uma batalha sua e eu fiquei completamente paralisado a olhar para a Lily, a minha mãe.


- Tu nunca paraste de ser o meu filho ao longo destes anos e nunca pararás de ser mesmo que nunca me aceites como tua mãe. Eu só quero que tu sejas feliz.


Eu só quero que tu sejas feliz.”


Será possível que ela estivesse a ser verdadeira? Que ela me amasse? E só quisesse que eu fosse feliz? Que eu fosse para ela o que a Rose era para a Serena? Que ela me amasse como amava o Charles?


Eu senti-a aproximar-se de mim, devagar como se eu fosse um animal selvagem. Vi-a agarrar a minha mão e apertá-la.


- Nunca duvides que eu amo-te e faço qualquer coisa por ti.


Eu senti o aperto na minha mão desaparecer e o corpo dela aproximar-se cada vez mais de mim para me dar um abraço. Eu estava tão assustado por estar a sentir aquilo, com tanto choque pelas emoções que tinha sentido que fiz o que eu sabia que era seguro. Corri, - não para dentro da casa como tencionava inicialmente mas até à porta que dava para a rua - e fui para lá e corri até ao lago que estava congelado. Sentei-me lá e estava tão exausto mentalmente, a sentir tantas coisas ao mesmo tempo que me deitei, ignorando o frio e fechando somente os olhos, tentando descansar.







N.A. Bem, mais uma vez no último dia da data prevista mas hoje tenho uma desculpa. Fui passar o fim-de-semana a casa (estou a estudar noutra cidade) e esqueci-me de trazer uma pen para poder colocar o capítulo online. Só cheguei hoje e é provável que tenha erros porque só revi na diagonal. Se encontrarem digam.


Agora, sobre o capítulo. Esta fic está mesmo a ter vida própria. Esta conversa e a conversa que vai aparecer no  próximo capítulo com a Lilynão eram para acontecer. No entanto, enquanto eu escrevia esta cena eu não imaginava ela desenrolar-se de outra forma. Eu própria estava a torcer para que o Harry não fugisse mas é impossível, sendo o Harry quem é.


Bem, antes que demore mais tempo, despeço-me aqui. Espero que gostem, comentem (quantos mais comentários mais probabilidades existe de eu acabar o próximo capítulo o mais rapidamente possível) e até ao próximo capítulo, onde este dia vai finalmente acabar =).


PS: Data máxima: 1 de Novembro

Vinicius saldanha bastos: Obrigada :D. Eu, sinceramente, acho que escrever livros diferentes do normal é mais engraçado, até porque nos dá-nos novas prespectivas para observar o mundo. Por isso, não desista =).

Milton Geraldo da Silva Ferreira: Por acaso, não foi de propósito mas neste capítulo já vemos como será a futura relação dele com o Neville (no Verão). Sobre as habilidades mágicas irão ser mencionadas nos exames mas não será nada de excepcional. Até a guerra vai ser muito política antes de ser sanguinária (depois irão compreender). Espero que continue a gostar e obrigada pelo comentário :D.

Bethany Jane Potter: Também não acho que o par romântico dele irá ser uma grande surpresa, eu só estou decidida é a fazer suspense xD. Sobre o Snape, provavelmente, ele ainda será mais discutido até porque ele tem motivos para agir assim. No entanto, isso só será discutido em Hogwarts. Muito obrigada e espero não a desiludir com este e os próximos capítulos ^^.

 Neuzimar de Faria: Eu não gostava muito do Snape até o último livro onde se descobriu os motivos dele. Por isso, acho que essa visão que eu tenho dele vai influenciar muito este Snape porque para mim, ele não é uma má pessoa, no entanto, também não é a nossa ideia de bom da fita. É diferente e isso fá-lo ser especial. Em relação aos gémeos... eles têm os seus planos malucos de conquistar o mundo que o Harry vai ter que lidar quando for para Hogwarts mas acho que não é nada muito nocivo xD.

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Comentários (3)

  • Bethany Jane Potter

    Nunca me decepciona.Otimo capitulo.Amei,amei.Ta ficando cada vez melhor.Esperando muito ansiosa pelo proximo capitulo.Beijão. :D

    2013-10-27
  • Neuzimar de Faria

    Excepcional! É a palavra que melhor define este capítulo. Tomara que o Harry consiga acessar de verdade a sua dor, comprende-la, aceitá-la e finalmente deixá-la no passado. Estou na torcida, parabéns pelo capítulo!

    2013-10-21
  • Milton Geraldo da Silva Ferreira

    Obrigado e no aguardo dos próximos capítulos...

    2013-10-15
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