Reencontro



3. Reencontro


“Eu e tu somos uma coisa só. Não te posso maltratar sem me ferir”


Gandhi


- Ele ainda está a dormir? – Ouvi uma voz sussurrar, preocupada. – Tens a certeza que ele está bem? Dormir tanto, em três dias, não é normal… pode ter algum problema.


- Calma Lily, está tudo bem. – Ouvi a voz calma da enfermeira sussurrar em resposta. – Eu tenho a certeza! – Ela murmurou mais ríspida, provavelmente a cortar alguma resposta da outra pessoa.


- Eles são tão pacíficos juntos. – Ouvi uma voz murmurar que eu reconheci como do Albus Dumbledore. – Nem quero pensar como vão reagir com as notícias.


- Eles mereceram! – Ouvi outra voz masculina murmurar com raiva. – O que aconteceu naquele dia… se eu tivesse chegado mais cedo… eu…. eu… - a voz disse com tanta raiva que eu comecei a sentir-me alerta.


- Prongs, agora não é a hora. Se calhar é melhor voltar mais tarde. – Disse outra voz masculina, parecendo mais calma e cautelosa. – Vamos deixá-los descansar.


 - Não! – Eu reconheci a primeira mulher, a tal Lily dizer, mais alto do que deveria ser necessário, para quando estavam ao pé de duas pessoas a dormir. – Eu recuso-me a abandonar mais uma vez o meu filho, Remus! – Filho? Oh, não… - Eu compreendi que ele precisava de tempo antes de nos encontrar mas eu não aguento mais. Eu preciso de vê-lo… por favor…


Eu ouvi o som de uns soluços e presumi que a mulher tivesse começado a chorar. Ela era realmente uma boa atriz. Fingir assim que se importava comigo não era para qualquer um. Senti o peso no meu peito diminuir e presumi que a minha irmã estivesse a acordar com aquele barulho. Eu não a podia deixar sozinha com os lobos, não era? Por isso, abri também os olhos a tempo de ver que tinha na enfermaria uma pequena assembleia.


Estava lá a enfermeira, com o Director Dumbledore ao lado, com os seus olhos azuis brilhantes e um sorriso que já eram a imagem de marca dele. Ao lado dele encontrava-se um homem com uma aparência cansada, que aparentava ter uns 40 anos, com um cabelo castanho e alguns brancos misturados na sua cabeça. Observava-me com um sorriso no rosto e eu vi espantado que ele tinha uma lágrima no canto do olho quando me viu abrir os olhos. Ao lado dele encontravam-se um casal que eu presumi ser os meus pais. Não consegui evitar abrir a minha boca de espanto ao olhar para ele.


Eu era uma cópia dele mais novo.


Ele tinha um queixo forte e definido, um nariz fino e não muito comprido, umas sobrancelhas grossas e um cabelo revoltado preto, exactamente como o meu e o do meu dito irmão. A única diferença eram os olhos, que nele eram um castanho clarinho e em mim, eram iguais aos da mulher que se encontrava encostada a ele em apoio, a soluçar e que eu tinha visto no primeiro dia.


- H-Harry? – Ouvi a Rose perguntar e eu acordei do meu estado, sentando-me e vendo-a seguir o meu exemplo.


- Está tudo bem, Rose, não te preocupes. – Eu ouvi-me dizer enquanto olhava para a enfermeira como que a pedir uma explicação.


Ela limpou a garganta, sentindo-se intimidade sobre o meu olhar e olhou de volta para o casal.


- Tem visitas, Mr. Potter. Eu vou deixar-vos sozinhos. – Ela murmurou, saindo dali com uma rapidez fenomenal e escondendo-se outra vez na sala. Uma vozinha na minha cabeça disse-me que ela só nos queria dar privacidade, afinal iria ser a primeira conversa entre mim e os meus pais biológicos, mas essa voz foi rapidamente calada quando percebi que ela me tinha chamado Potter. Eu era Smith! SMITH! Maldita cobarde.


- Como a Madame Pomfrey disse eloquentemente, os teus pais não aguentaram mais e quiseram ver-te. – O Director Dumbledore disse, dando um sorriso carinhoso para o casal que estava estupefacto a observar-me como se eu fosse a coisa mais milagrosa do mundo.


Eu suspirei. Presumo que realmente não pudesse fugir sempre deles mas estava demasiado adormecido para ter aquela guerra.


Olhei para o homem que era o meu pai biológico e não consegui evitar lembrar-me do meu sonho de há muito tempo atrás. Eu tinha sonhado exactamente com aquele homem, que me colocava na escola. Qual era a probabilidade de isso ter sido um sonho? Ele era exactamente igual a mim, até no gesto de morder o lábio quando nervoso e remexer no cabelo, para lhe dar força.


- Harry. – Ele murmurou, finalmente falando e parecendo sem palavras.


Vi o outro homem que não se tinha apresentado olhar para o Dumbledore, como que se a dar a ordem para eles saírem para nos dar privacidade. O Dumbledore acenou com a cabeça e estavam já a ir para a porta quando a minha irmã falou e os fez parar.


- Vocês são os pais do Harry?


A mulher soluçou ao ouvir a pergunta frontal dela e o homem só assentiu, abraçando a mulher pelos ombros.


- Porque é que o abandonaram? – Ela voltou a perguntar com uma frontalidade tal que a mulher respondeu sem pensar.


- Nós não o abandonamos! – Disse indignada. - Nós pensávamos que ele estava morto… Se nós soubéssemos…


- Mas ele não morreu! – A Rose voltou a insistir. – E vocês deixaram-no estar, sem o procurar, deixando-o sem pais e a sofrer no orfanato. Se não fôssemos nós ele continuava sem família.


- E que grande família foram vocês. – Murmurou o homem, o meu pai biológico. – A espancá-lo quase até à morte!


- F-foi só uma vez. E-e o meu pai não queria…


- Só uma? – Voltou a insistir o homem, mesmo tendo recebido um aviso do outro homem para parar. – Ele foi agredido por mais de dois anos, se os testes diziam alguma coisa e vocês concordaram todos! Como podem fazer isso com uma criança, como? – Ele perguntou quase gritando.


Eu não tinha conseguido reagir durante a discussão, devido às múltiplas emoções que estava a sentir mas quando vi a Rose soltar um “Ah” chocada e encolher-se sobre si, agarrando as pernas com os braços, eu não aguentei mais. Toda a raiva guardada em mim pelos meus pais, por não terem estado lá comigo como era a obrigação deles, veio ao de cima e eu não me controlei. Levantei-me com rapidez, mesmo tendo uma vozinha que dizia que estava a ser protegido pela primeira vez por um adulto e quando dei por mim estava a 3 passos de distância dos meus pais biológicos.


- Nunca, mas nunca mais fales assim com a minha irmã. – Eu quase que gritei com tanta raiva que o homem se encolheu e eu ouvi algo partir-se. – Ela não é a culpada. Ninguém é.


O homem abriu a boca e voltou a fechar. Vi a mulher largá-lo e ficar só a olhar para mim, com as suas mãos a tremer. Ela estava tão nervosa que até eu admiti que não havia fingimento. O seu lábio inferior tremia, tinha uma lágrima ainda a descer pela face...


- O James não queria dizer isso… a culpa não é dela mas…


- Mas nada! – Eu voltei a insistir. – A culpa não é de ninguém!


- Harry,  - ouvi a voz do outro homem dizer-  acho que todos se devemos sentar e conversar. Estão todos demasiado nervosos para terem uma conversa.


Eu virei-me para o homem, focalizando a minha raiva toda nele.


- E quem é o senhor? Mais um pai perdido?


- Não. – O homem disse simplesmente. – Remus Lupin, um amigo dos teus pais. – Ele disse fazendo-me rir.


- Mas eu agora sou um animal do circo para ser observado por todos? – Eu perguntei. – Não é por ter vencido um bruxo das trevas que VOLTOU que eu o vou fazer outra vez. – Eu disse agora olhando directamente para os meus pais que estavam parados a observar-me. – Eu não sou rico, eu não sou poderoso. Podem-se ir embora! – Eu murmurei estranhamente cansado e virando-lhe as costas para voltar para a minha irmã que olhava para mim espantada.


No entanto, fui parado a meio caminho por dois braços finos que me abraçaram por trás e senti a minha camisola ficar molhada pelas lágrimas da pessoa que me abraçou. Eu acho que paralisei por um segundo, não esperando aquela reacção, só voltando a acordar quando senti os braços apertarem o meu peito, como se a dona tivesse medo de eu fugir.


Eu não me contive e fechei os olhos, imaginando somente como seria se aquele abraço fosse real. Como se houvesse alguém que gostasse o suficiente de mim para não aguentar ouvir as minhas palavras e abraçar-me numa demonstração de amor. Tinha sonhado tanto com aquilo, imaginado tanto, que eu não pude evitar o sentimento de dúvida que ficou no meu coração por dois segundos e o desejo de me virar e a abraçar, com todo o meu amor e desejo para finalmente ter uma família.


Mas isso não iria acontecer.


Eles não me amavam.


Para eles fazer esta cena se calhar era fácil, não imaginando que brincar com os sentimentos alheios não era bonito mas eu não poderia cair na encenação deles. Eu era forte, eu iria conseguir manter a minha posição.


- Não Harry. – Ouvi-a murmurar, atrás de mim, encostando a sua cabeça no meu ombro. – Não sei o que te fizeram para pensar isso mas nós não te queremos por isso. Tu és o nosso filho.


Eu fechei os olhos com dor ao ouvir as palavras dela, tentando ganhar coragem para o que tinha que fazer mas a mão que senti no meu outro ombro não ajudou.


- Sim, - Disse a voz do meu pai biológico – a Lily tem razão. Nós não te queremos porque temos interesse, queremos-te porque gostamos de ti.


Eu fechei os olhos e agradeci por estar de costas para eles, de forma a que não vissem a lágrima que caiu dos meus olhos. Eu queria tanto mas tanto que aquilo fosse real, que a dor era física. O meu coração parecia estar acelerado, batendo com tanta força que eu não me espantava se todos ouvissem mas eu precisava de fazer isto pelo bem da minha irmã. Por isso, limpei a lágrima, esperei um segundo só para memorizar como era sentir-se abraçado pela mãe e soltei-me da mulher e da mão dele, virando-me para eles, sabendo perfeitamente que não conseguia esconder que estava a tremer de emoção.


- Como gostam tanto de mim se me acabaram de conhecer? – Perguntei, sentido um sorriso frio nascer na minha cara ao ver a face chocada deles. – Não esperavam mesmo que eu vos fosse abraçar e tratar como família depois de 13 anos sem me verem, pois não? Provavelmente, nem têm lembranças de mim e as que têm devem de ser para fazer o papel de pais do menino que derrotou o bruxo das trevas. Parem de encenar e sejam adultos. Eu tenho uma família, não preciso de mais. Eu chamo-me Harry Smith não Harry Potter!


Vi-os olharem para mim espantados e a face do homem se contornar numa de raiva.


- Eles maltrataram-te Harry, tu não podes voltar para eles!


- Então deixem-me ser independente. Eu trato de mim e da Rose. Ela vem estudar para aqui, eu também e fora daqui eu trato dela. Eu não preciso de família porque ela é a minha família.


- Mas tu tens-nos a nós!


- Durante 13 anos, 13 ANOS, vocês não se preocuparam comigo! Não me amaram, não me esperaram, nem se lembraram de mim! Como querem que eu acredite em vocês?


- T-tu estavas morto!


- Eu sei essa história toda! – Eu quase que gritei para ela. – Eu não estava nos registos das crianças e ninguém sabe como eu sobrevivi visto que o quarto explodiu mas se vocês gostassem mesmo de mim, tinham pelo menos tentado procurar-me porque não conseguiam viver com a ideai que o vosso filho tinha morrido. Não foi tão mais fácil só me dar como morto e seguir com a sua vida?


- Harry… - O outro homem começou mas eu calei-o.


- É verdade! – Eu exclamei virando-me para ele. – E por bem ou por mal, os Smith são a minha família. Foram eles que me deram comida, trataram de mim e me viram crescer. Não foram vocês! – Eu disse, virando-me para eles e vendo com satisfação, os dois ficarem sem reacção, chocados. – Tudo o que vocês querem é o vosso filho que tem magia. Como é bonito que vocês me conseguiram encontrar mal eu tenha descoberto a magia. Agora que sou um mago vocês já me querem outra vez. Não acham que é uma coincidência perfeita?


- Nós não sabíamos! Nós só descobrimos porque fizeste magia acidental. – Murmurou o homem. – E quando eu cheguei e te vi, eu soube que eras o meu filho…. És tão parecido comigo.


Eu estreitei os olhos para ele.


- Tu nunca me procuraste nem nunca me quiseste, se não tinhas-me achado. Eu não vou voltar para vocês! – Eu disse decidido, virando-lhe as costas e sentando-me na cama, ao lado da Rose que olhava chocada para mim.


- Preferes voltar para os Smith do que para nós? – Perguntou a mulher.


- Eu nem sei os vossos nomes. – Disse, olhando para eles com desprezo. – Acho que prefiro a minha família de sempre do que vocês, que são o tipo de pais que só se finge importar quando vos dá jeito. Com eles eu sei o que esperar, de vocês… nem quero pensar. – Murmurei, olhando para a Rose e vendo a dor nos olhos dela. – Saiam! Não vos quero ver mais!


- Mr. Potter, os seus pais…


- EU NÃO ME CHAMO POTTER! – Gritei para o Director, que se encolheu ao ver que a minha aura branca voltava com força e tudo ao meu lado parecia palpitar. – Eu não sou um maldito brinquedo que vocês vão manipular como quiserem. Eu chamo-me Smith, S-M-I-T-H.- Soletrei. – Eu não quero saber se tenho pais, irmãos ou o quer que seja biológicos. Eu não me interesso por eles e nunca me vou interessar por isso eles que desapareçam!


Eu vi os meus pais biológicos olharem para mim, para a Rose, e para o Dumbledore, que só murmurou:


- É melhor saírem. – Disse e eles saíram, dando-me mais um olhar cheio de dor.


Eles eram a minha família biológica e se eu não estava enganado eu tinha acabado de perder qualquer oportunidade de me restabelecer como uma família com eles. Tinha passado muito tempo desde que tinha sentido uma vontade tão forte de chorar como aquela. A mulher, a Lily, a minha mãe, parecia estar realmente feliz por me ver. Eu conseguia ver o nervosismo dela que podia ser fingimento mas não sei porquê não duvidei que ela amasse aquela criança que tinha vindo cá anteriormente. A criança que eu podia ter sido se eles se tivessem preocupado comigo e me tivessem procurado…


- Harry, acho que precisamos de falar. – Murmurou o Dumbledore, despertando-me dos meus pensamentos.


Eu olhei para o homem que continuava ao lado do Dumbledore que parecia estar também há beira das lágrimas.


- E ele? Não vai sair?


O Dumbledore limpou a garganta e negou com a cabeça.


- Ele tem coisas a tratar contigo. – Ele olhou para a Rose e dei-me por mim a puxa-la contra mim, como que para a proteger do olhar dele. – A conversa que vou ter vai interessar os dois, Mr. e Miss. Smith. – Ouvi, com um estranho prazer, ele chamar-me por aquele nome. – O Senhor Louis Smith foi preso pelos maus-tratos a menores. A vossa mãe –ele pareceu ter engolido um limão ao murmurar o vossa mas eu preferi ignorar – está com um processo devido a ter auxiliado e não ter feito nada para parar. Não tenho dúvidas que vão ser considerados culpados afinal os aurores, que podem considerar a polícia bruxa, ajudaram a investigação e têm provas precisas, sem margem para erro. A Senhora Smith deve de ficar presa só 3 ou 4 anos mas o marido vai ter uma pena muito mais pesada. – Ele deu-nos uns segundos para assimilar a informação e eu vi o meu aperto na Rose ser mais forte. – Por isso, Harry, eles perderam automaticamente a tua guarda. Apesar desta discussão os teus pais biológicos vão lutar por ela, no entanto, se preferires podes ficar aqui em Hogwarts nos próximos tempos, até esta confusão assentar. Rose, tens a opção de ir para a casa dos teus avós, que se envergonham pela atitude da filha ou ficares com o mesmo destino do Harry. Não duvido que os pais dele também te adotassem. – Eu abri a boca para protestar mas ele impediu-me. – E não vale a pena pedir para tirar as queixas, elas já foram feitas, investigadas e o processo já está a decorrer. Não há nada que possa ser feito.


Eu senti a Rose chorar e olhei desesperado para o Dumbledore:


- Por favor, digam que a culpa é minha. – Supliquei. – Mas não a façam ficar sem pais.


O Dumbledore fechou os olhos, como se ele também sofresse com a decisão mas quando os abriu, estavam decididos e eu soube que não iria responder à minha súplica.


- Eu não fico feliz em separar famílias. Foi uma tristeza quando te deram por morto e eu sei o sofrimento que os teus pais tiveram mas neste caso não há outra hipótese. Eles bateram-te, maltrataram-te, física e psicologicamente e quase que mataram vocês os dois. Eles vão ser culpados e não posso dizer que não é merecido.


Eu engoli em seco e separei-me da Rose para ver o que ela dizia:


- Desculpa, Rose, - murmurei, sentindo algumas lágrimas caírem dos meus olhos, pela confusão com os meus pais biológicos, por isto, por tudo… - eu… eu não queria que nada disto acontecesse.


Ela olhou para mim por uns segundos, sem saber o que fazer mas quando falou eu fique completamente espantado pelo que disse:


- Não fiques chateado Harry… o que eles fizeram… eles iam-te matar. E a mãe não fazia nada se eu não me tivesse posto no meio. Eles são culpados e merecem! E-eu.. – A voz dela fraquejou e ela não conseguiu dizer mais nada, só olhando para as mãos.


- Vocês podem pensar nas vossas escolhas até ao ano novo. Os estudantes vão-se embora brevemente e vamos ter acomodações para vocês aqui preparadas, até depois do ano novo. Se precisarem de alguma coisa, chamem-me a mim ou a quem quiserem pela Madame Pomfrey. Harry, tenho mais uma notícia para ti. – Eu olhei para ele e não devo ter conseguido esconder o meu medo porque ele sorriu, aliviando a expressão na sua face, para uma mais amigável.- Esta, se está no meu alcance dizer, é uma boa notícia. Pensaste na minha proposta de vir para Hogwarts no início do próximo ano lectivo, com a tua irmã?


Eu assenti. Com as notícias dele, a única certeza que tinha era que queria voltar com ela para esta escola, para pelo menos conseguir estar junto dela aqui.


- Sim, eu quero vir para Hogwarts.


Ele sorriu.


- Brilhante, é ai que o Senhor Lupin entra. Quando entrares vais estar no quinto ano, se tudo correr bem e para isso vai ser necessário aprender muito até Setembro. Não tenho dúvidas que vais conseguir, observando os registos das tuas antigas escolas, mas de forma a passar nos exames, que vais fazer em Julho, vais ter um ensino intensivo com alguns Professores que eu escolhi, estando dentro deles o Sr. Lupin, - disse apontando para o homem, que só sorriu fracamente – e o Sr. Black que não está aqui por causa de um problema familiar mas deve de estar a chegar. – Ao ouvir aquilo o Lupin só revirou os olhos, fazendo-me pensar que problema familiar era aquele. – Como já são horas de almoço eu vou-lhe dizer para vir depois de almoço. Eu agora vou-vos deixar para descansarem. Um bom almoço. – Ele disse dando um aceno de cabeça, sendo seguido pelo Sr. Lupin.


Eu e a Rose ficamos por um minuto em silêncio cada um preso nos seus pensamentos até que a Rose perguntou:


- O que vamos fazer Harry?


- Eu não sei. – Eu disse abraçando-a para lhe dar conforto. – Mas tudo vai ficar bem, não te preocupes. – Disse-lhe dando um beijo na testa e pensando no que iriamos fazer.


O mundo estava cheio de oportunidades para nós mas não estava a gostar de nenhuma delas. Eu tinha acabado de expulsar os meus pais, a Rose tinha acabado de perder os pais dela e quase de certeza que nós íamos ficar separados. A única coisa que eu não queria que acontecesse… tudo por causa daquele maldito mundo!


 *****


- James, espera! – A Lily gritou, agarrando-o pelo braço.


Ele virou-se para trás, fazendo-a ver o queixo cerrado e a raiva que não conseguia conter dentro dele.


- James, por favor, acalma-te. – Suplicou.


Ele só fechou os olhos, tentando se controlar e pensando na melhor maneira de sair dali antes de explodir com a mulher e dizer alguma coisa que se arrependeria para todo o sempre.


- O Harry… - Ouviu-se a murmurar. – Ele… - Ele fechou os olhos vendo que não conseguiria continuar devido às emoções diversas que o estavam a atingir.


Por um lado, tinha o Harry, o bebé que tinha voltado e estava um homem. O quanto ele não dava para poder voltar atrás no tempo e ter procurado por ele e tê-lo visto a crescer … Mas já era demasiado tarde, ele estava um homem, marcado por aqueles Muggles nojentos que o agrediram e não os reconhecia como pais porque eles não o procuraram! E ele não podia dizer que não compreendia, afinal a função deles como pais, dele, como pai, era de nunca desistir dele e ele tinha feito isso. Era verdade que tinha ficado tão preso na dor de perder um filho que por muito que sonhasse e imaginasse como seria a sua vida com o Harry vivo, ele nunca imaginou que isso fosse verdade. Nunca fez nada para caso isso fosse verdade. Mas como é que ele podia ter pensado que era verdade quando passou pela sala e viu a Marlene morta e o quarto do seu filho, do seu bebé completamente destruído. Só restava um pouco da porta. Era impossível sobreviver aquela explosão e ainda se estavam a criar teorias do que tinha acontecido ali realmente, no entanto, só duas pessoas sabiam e uma não queria ouvir falar dele e a outra só o queria morto…


- Eu sei, James. – A Lily murmurou, abraçando-o e deixando-se chorar nos braços dele. – Ele está tão grande! Ele está igualzinho a ti!


O James não conseguiu evitar sorrir ao ouvi-la dizer aquilo. Tinha dito exactamente a mesma coisa quando o viu pela primeira vez na enfermaria. Ela tinha-se recusado a sair dali até ver o que o Harry acordava e estava bem e teimosa como só ela sabia ser, tinha convencido até o Dumbledore. Sempre que se lembrava dela a chegar ao quarto onde eles estavam em Hogwarts, com lágrimas nos olhos e uma felicidade que não via desde a morte… morte não, desaparecimento do Harry, ficava com o seu coração mais leve.


- Mas tem os teus olhos amor, exactamente como quando em bebé. – Disse, puxando-a mais contra si e abraçando-a com toda a sua força.


Eles ficaram ali abraçados por um tempo, ignorando a discussão que o filho tinha tido com eles e só pensando no quão bom era ele estar vivo.


- James, achas que ele nos vai perdoar? – Ouviu a Lily perguntar, afastando-se dele para olhar directamente para os olhos amendoados do marido, que não conseguiam esconder a dor que estava a sentir.


- Não. – O James murmurou baixando o olhar para o chão para não observar a face da mulher. – Eu pelo menos sei que eu nunca me vou perdoar.


Ele largou-a e estava para se virar outra vez quando a viu agarrar o braço outra vez.


- E o que vais fazer? O que vamos fazer? – Ele sentiu o aperto no seu braço aumentar enquanto a Lily esperava atenciosamente pela solução.


Ele mexeu no cabeço com a mão livre, nervoso e confuso. O Harry estava vivo e ele daria tudo para poder ficar com ele e finalmente agirem como uma família mas sabia que isso nunca aconteceria. O Harry queria independência e não mostrava confiança nenhuma neles. Como é que eles podiam ser uma família, se ele nem os queria reconhecer como pais? Se nem sabia os nomes dos pais?


- Eu não sei Lily. – Disse fechando os olhos com dor e sentido uma vontade enorme de chorar. Chorar de raiva, de dor, de tudo. Porque é que ele não podia ter uma vida simples por uma vez na vida? Porque é que lhe tinham tirado o Harry? Eles só queriam ser uma família e ele não podia dizer que eram. Tinham sido muito protectores do Charles, quando 3 anos depois do Harry desaparecer, ele nasceu. Foi graças a esse bebé que eles conseguiram sair da depressão e o James não estava orgulho em dizer, mas se não fosse esse bebé provavelmente eles já não eram um casal. Esse bebé e a Natalie, a bebé que eles passaram a amar como se fosse uma filha quando a mãe dela morreu para proteger o Harry. Mas mesmo assim, ele não podia dizer que eles foram uma família normal. Sempre se recusaram a falar do herói do mundo mágico ao Charles que cresceu, vendo os seus pais tristes e sem energia nas datas de festa. A Lily nunca mais tinha sido a mesma, tendo sempre uma sombra no olhar que nunca ninguém conseguiu tirar e ele sabia que também não foi o mesmo. Ainda era brincalhão e descontraído mas tudo isso era artificial e as pessoas sabiam. Tinha-se tornado mais activo na luta contra os bruxos das trevas do que alguma vez foi, conseguindo assim chegar à sua posição de Auror Chefe e meteu-se nas políticas para caso o Voldemort retornasse, como o Dumbledore dizia que iria acontecer, ele poder complicar-lhe a vida. No entanto, nada disso fez efeito quando viu, há um ano, o seu filho ser raptado e viu o Voldemort vivo outra vez! Estava fraco se a descrição que o seu filho tinha dito era verdade, a ganhar a sua magia de volta, que foi a sorte para ele ter conseguido chegar a tempo naquela noite, quando estavam prestes a matar o Charles. Nisso tinha que agradecer o facto de ser demasiado protector, se não fosse a pulseira que indicava onde é que ele estava, nunca imaginaria que ele estava num cemitério a ser vitima de um ritual que o Pettigrew fez para retornar o seu mestre… Aquele rato maldito…. Não o tinha conseguido apanhar há 13 anos mas quando ele lhe pusesse as mãos em cima…


- James, não podemos desistir. – Ouviu a Lily dizer, ao não ter uma resposta sua, com a determinação típica dela. – Eu não vou desistir! – Ela disse, com um fogo no olhar que ele tinha saudades de ver, no entanto, ele ainda continuava sem ideias para saber o que fazer e o seu desânimo fez com que ela lhe largasse o braço. – James, nós finalmente encontrámos o nosso filho, eu não vou desistir dele!


Ele suspirou, ela podia estar forte e decidida mas ela não estava a ver a verdade, o Harry detestava-os e qualquer atitude deles seria interpretado negativamente por ele.


- Eu não sei o que fazer Lily. O nosso filho odeia-nos.


- Se me permitem dizer, ele não vos odeia. – Ouviu uma voz atrás da Lily dizer, muito mais velha do que eles e mais sábia. Era o Dumbledore que retornava com o com Remus ao lado. – Nós não sabemos o que o Harry passou mas sabemos sem dúvidas que ele ainda gosta de vocês.


- Ele expulsou-nos Albus! – Ouviu-se a dizer, vendo a sua mulher ganhar esperanças parvas pelas palavras dele.


O Albus só suspirou, não ficando muito desanimado com a resposta.


- Que seria de esperar. Ele nunca ouviu falar disso e eu vi toda a conversa e a resposta dele. Ele é frio, é verdade mas ele sente alguma coisa por vocês. – Disse, finalmente parando ao lado deles. – Ele está só a tenter proteger a Rose Smith.


- Ele realmente gosta dela, não gosta? – Perguntou a Lily impressionada com a lealdade do filho, fazendo o Dumbledore sorrir.


- Sim, ele trata-a como a uma irmã, extremamente protetor. Quando a notícia assentar e eles acalmarem-se, acredito que vocês possam ter uma conversa mais civilizada. Isto ainda foi demasiado cedo.


- Eu precisava de o ver Albus… ele é o meu filho! – Suplicou a Lily fazendo o Albus sorrir, simpático.


- Eu sei e compreendo. Treze anos a pensar que o vosso filho morreu… 13 anos sem esperanças para descobrir que ele estava vivo mas mal tratado, não foi uma coisa leve para descobrir e eu compreendo. Mas vocês precisam de se pôr do lado dele. Ele precisa de tempo.


Eles ficaram em silêncio, processando as palavras do Dumbledore até que ouviram passos e viram a figura do Sirus Black a correr até eles, parando ao lado deles, espantado.


- Eu não cheguei muito tarde pois não? – Ele perguntou ofegante pela corrida. – A Natalie teve mais uma crise e eu não a conseguia fazer compreender que eu era necessário aqui. – Ele parou, ao ver a dor nos olhos da Lily e do James e começou a ter um mau pressentimento. – O que aconteceu? Vocês já foram falar com ele? Correu bem? O que se passou?


- Calma Sirius. – Murmurou o Remus, vendo o amigo estar quase sem ar por fazer tantas perguntas, sem respirar. – Nós já falamos e vamos-te contar tudo enquanto comemos. Encontraste-te com ele há tarde.- Disse desviando o olhar para o James e a Lily. – Vão descansar que estes dias tem sido muito stressantes para vocês. Vão ver que tudo se resolve. – Disse dando um pequeno sorriso no entanto, eles não corresponderam estando demasiado preocupados com o seu filho. Contundo, agora tinham uma certeza, se tinham achado finalmente o filho, não iriam desistir dele por nada neste mundo. Podia não dar em nada mas pelo menos tinham tentando! E se o Dumbledore dizia que eles podiam ser perdoados, quem eram eles para o desmentir?


 


N.A. Vocês se calhar vão achar estranho os anos que eu disse que os pais da Rose iriam ter, no entanto, o James é Auror Chefe e tem poderes no mundo Muggle, por isso, tem a certeza que a pena dos dois vai ser alta. É a vingança dele pelo que fizeram ao Harry.


Bem, qualquer dúvida avisem. No próximo capítulo, é as consequências do que foi dito aqui e as respostas. Digam o que acham da fic e até lá =).

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Comentários (1)

  • Neuzimar de Faria

    Estou achando sua história bem interessante, até aqui. Bastante curiosa em relação ao que vai acontecer agora. Aguardando o próximo capítulo. Até!

    2013-01-12
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