Diferenças



19. Diferenças


 


Se não respeitares as diferenças, jamais descobrirás as semelhanças.


Verônica Clow


- Exacto. E lembra-te do mais importante. – Eu murmurei, afastando-me dela para poder olhar para os seus olhos. – Eu falo sempre a verdade.


Ela sorriu.


- E eu não quero saber!


Ela era realmente a pessoa mais corajosa que eu conhecia e era, por isso, que eu não o podia deixar ver a memória. Quando abri os olhos, vi o Snape outra vez no chão, de joelhos, olhando para baixo. Quando levantou a cabeça, os seus olhos frios, pareceram perfurar-me e eu dei por mim a dar um passo para trás, receoso.


- Muito bem, conseguiste bloquear a imagem completamente. No entanto, ainda consegui ouvir mesmo que não tenha sido tudo. – Disse, levantando-se. – E, principalmente, Potter, eu ainda consigo sentir as tuas emoções. És um livro aberto. – Ele estreitou os olhos, tornando-se ainda mais ameaçador. – Mas isso já era de esperar, sendo uma cópia do teu pai.


Eu senti indignação, ao ouvi-lo falar assim do meu pai, contudo, controlei-me a tempo, espantando-me, com a minha própria reação. Desde quando eu queria proteger assim tanto o James? E pensava nele como meu pai?


Ele ficou mais uns segundos em silêncio e ao perceber que eu não ia falar - estando a tentar controlar-me e não pensar em nada, para caso ele utilizasse outra vez aquele feitiço - ele mexeu no seu robe e espantosamente tirou um livro.


- Agarra! – Ele mandou-me um livro que eu segurei, puramente, por instinto. Ao ver que o tinha seguro na minha mão, voltou a falar com a sua voz monótoma. – Eu acredito que a tua mãe te vai ensinar a meditar. Até à nossa próxima aula, espero que já tenhas lido esse livro que explica as melhores formas de defender a tua mente. Ela vai ser dada em Hogwarts e a data será depois escolhida. Não esperes que seja muito cedo porque eu tenho mais que fazer do que servir de teu babbysitter.


- Porque é que é em Hogwarts?


Ele estreitou os olhos.


- Não preciso de me justificar.


Eu estava a ficar muito irritado com este homem.


- Severus, a Lily quer dar-te uma palavra. – Eu olhei espantando para o Dumbledore que tinha entrado, com o seu sorriso habitual no rosto. – Vai lá enquanto eu esclareço aqui o jovem Harry.


Ele observou friamente o Dumbledore.


- Não tenho nada a falar com a Sra. Potter. Eu vou ensinar-lhe poções.


- A Lily ofereceu-se para fazer isso hoje. – Ele murmurou, com o brilho habitual no olhar. – Por isso, podes dar por concluída a aula.


Ele abriu a boca mas voltou-a a fechar outra vez. Olhou para mim uma vez e deu um ligeiro aceno ao Dumbledore, saindo rapidamente da sala.


- E fala com a Lily. – Ouvi o Dumbledore dizer quando o Snape passou por ele.


Ele não deu nenhum sinal se iria obedecer ou não ao que o Dumbledore tinha dito, contudo, este último somente sorriu, olhando para mim.


- Bem, Harry, eu posso responder às tuas perguntas. No entanto, primeiro, temos que nos sentar que os meus ossos já não são jovens. – Ele murmurou, olhando para a sala que ainda estava sem decoração. Com um gesto da varinha apareceram duas cadeiras confortáveis. – Assim estamos muito melhor. – Disse, sorrindo enquanto se sentava e me via fazer o mesmo. – Estavas a perguntar porque é que a próxima aula vai ser em Hogwarts?


- Sim, acho estranho não ser aqui.


- Isso é devido às proteções que esta casa tem e os horários do Severus. Esta casa só consegue ser acedida por pessoas que têm autorização ou por pessoas que estão a acompanhar pessoas com autorização especial. Isto é, os habitantes da casa, incluindo o Remus e eu. O Severus só conseguiu entrar hoje porque eu o estava a acompanhar.


- Não lhe podiam dar autorização?


O Dumbledore deu-me um sorriso bondoso.


- É complicado mas o principal motivo para as aulas serem dadas em Hogwarts é o do horário do Severus. Ele tem muitos projectos e ainda vir aqui, faz com que seja extremamente cansativo. Assim, além de facilitar a sua vida faz com que tenhas contato com Hogwarts. Espero que estejas ansioso pela tua estadia lá.


Eu dei um pequeno aceno com a cabeça para ele, a confirmar a suposição dele. Hogwarts, é um sítio que eu desejava ir, ainda por cima, sabendo que a Hermione provavelmente estava lá.


Hermione.


Será que se lhe perguntasse, ele saberia?


Ele era o diretor da escola, por isso, devia ser impossível ele saber todos os alunos que estudavam lá.


- Queres fazer mais alguma pergunta?


Eu suspirei. Não perdia nada em perguntar.


- Sabe se estuda uma Hermione Granger em Hogwarts?


Eu vi surpresa nos olhos dele, por meio segundo, antes de voltar a dar o seu sorriso bondoso.


- Claro que sei. É a melhor estudante do seu ano, estando numa luta direta com a Natalie Black.


Eu sorri orgulhoso, ignorando o Dumbledore que estava a observar a minha reação, atentamente. A Hermione não tinha mudado nada, pelos vistos.


- É uma amiga tua, do mundo Muggle?


Eu neguei com a cabeça. Eu não tinha amigos do Mundo Muggle. Fora a Hermione, que tinha sido uma amizade formada no orfanato e a Rose, que era a minha irmã, eu não quis ter mais amigos.


Amigos eram chatos, queriam saber muito da minha vida e eu não os podia deixar saber do Louis porque seria tirado deles. Por isso, só tinha conhecidos.


- Então como é que sabes esse nome?


Eu suspirei, mentalizando-me que lhe tinha que contar a história.


- É uma… hum, colega, da escola que estudei quando estive no orfanato. A partir dai, perdemos contato. Só perguntei porque sei que ela também praticava magia.


Ele sorriu.


- Estou a ver que tens uma tendência em criar ligações com pessoas do mundo mágico. Se quiseres conversar com ela, posso fazer com que isso seja possível. Também lhe posso falar sobre a verdadeira identidade do Harry Potter.


Ah, Harry Potter. Uma das pessoas mais famosas do mundo mágico e que todos queriam ter mais informações.


- Não é necessário.


- Tens a certeza?


Sim, eu tinha. O Harry Green que ela tinha conhecido estava morto, desde que saiu do orfanato. Eu estava diferente, ela também estaria diferente e com certeza iria ser atraída pela fome de conhecimento dela. Ela iria querer saber sobre o Harry Potter, que era uma pessoa que eu ainda não sabia bem quem era porque eu também não era a mesma pessoa que viveu com os Smith.


- Sim, ela provavelmente nem se vai lembrar de mim. Só perguntei por curiosidade.


Ele olhou para mim com uma expressão amável mas mesmo assim descrente.


- Para saberes que ela praticava magia tinhas que ser um bom amigo.


Eu suspirei. O Snape podia já saber determinados assuntos sobre a minha amizade com a Hermione, no entanto, eu não iria espalhar. Com sorte, ele também não iria falar sobre isso a ninguém.


Se eu e a Hermione voltássemos a falar e a ser o que eramos antigamente, seria porque, simplesmente, aconteceu não porque tinha um bruxo idoso a querer que eu fizesse muitos amigos.


- Não foi nada assim tão memorável. – Eu menti, sentindo o meu coração a bater por estar a dizer uma mentira tão grande. Aquilo tinha sido especial mas o nosso contato não poderia ser forçado. Eu não era o mesmo como aquela mentira provava… “ eu não minto”, era o meu lema naquela altura.


O Dumbledore ficou mais uns segundos em silêncio, para confirmar que eu não ia dizer mais nada e, por fim, voltou a falar.


 - Se mudares de ideia, diz. Quando fores a Hogwarts podemos marcar esse encontro. Lembra-te que a Hermione é uma excelente estudante e de certeza que não se esqueceu duma pessoa que sabe que ela pratica magia. A sua memória é fenomenal.


Eu mexi no cabelo, cansado. Aquele treino com o Snape tinha-me cansado mais do que eu pensava.


- Se ela se lembrar, ela fala comigo em Setembro. Agradecia que não apressasse situações onde não tem as informações todas.


- Vocês estavam chateados, quando se separaram?


Eu neguei com a cabeça.


- Não desejo falar sobre isso. – Disse, levantando-me. – Vou ter agora uma aula de poções?


Ele assentiu.


- Eu vou respeitar a tua opinião apesar de defender que nunca é tarde para corrigir algum erro que tenhamos feito no passado ou para dar uma segunda oportunidade.


Traduzindo, ele pensava que nós estávamos chateados um com o outro mesmo quando eu tinha dito que esse não era esse o caso.


- Não tens mais nenhuma dúvida, Harry?


- Não. – Eu só queria sair dali, o quanto mais rápido, melhor.


- Então eu gostava de falar contigo sobre estas aulas. Acredito que o Snape já falou mas gostava de acrescentar alguns factos.


- Certo.


Ele suspirou, pela minha pouca vontade de falar.


- Harry, eu sei do teu sonho, ou melhor, conversa com o jovem Riddle.


Ah, ele tinha vindo aqui porque queria falar sobre o Voldemort. Como a conversa com o Sirius e a Lily não tinha resultado, ele era o reforço.


- Eu acredito que ele não tenha nos seus planos prioritários, magoar-te de alguma forma, por isso, não estamos a dar prioridade a aprenderes a fechar a mente MAS tens que aprender rapidamente os básicos. Como, acredito que já saibas, aprender a meditar é o melhor plano porque ficas a saber controlar a tua mente. Fazendo isso, acredito que saibas o suficiente para o Tom não conseguir entrar na tua mente, quando quiser. É devido a isto que só vais ter aulas uma vez por mês.


Eu assenti. Eu só precisava de saber o básico para ele não conseguir ter conversas comigo ou eu ter aquelas estranhas visões que podiam, inclusive, ser inventadas.


- No entanto, tens que ter consciência que estás a falar com o antigo Voldemort. Ele é das pessoas mais astutas que eu conheço e tens que ter consciência que ele tem sempre um plano. A bondade, a simpatia e a justiça não existem no mundo dele e ele não age por esses motivos. Ele é incapaz de compreender esses sentimentos e essa é a maior fraqueza dele.


Eu assenti mais uma vez e observei a forma como a sua face se contraiu, por um milissegundo, ao ver o meu silêncio.


- Harry, lembra-te que apesar de terem um passado parecido, tu não és o Tom Riddle. Tu não ages pelo ódio, como ele sempre agiu e és incapaz de magoar alguém, por causa dos teus planos. Tu, felizmente, não sofres da fraqueza dele.


Como é que ele sabia que eu tinha medo de ser parecido com ele? Será que aquele homem, com aparência de bondoso, era na verdade um mestre manipulador, que conseguia analisar e controlar todas as pessoas?


- Harry, - ele chamou-me, levantando-se e ficando da minha altura- só quero que te lembras o que importa na ligação entre ti e o Tom não é as vossas semelhanças e sim as diferenças. Lembra-te disso se algum dia duvidares do teu caminho.


Eu assenti, vendo a forma como ele me queria deixar confortável e à vontade. Ele até podia ser manipulador mas ou era muito bom a fingir ou então, ele era realmente bondoso.


- Porque é que o Senhor é tão simpático e bondoso? – Deixei escapar.


Ele sorriu, apesar dos seus olhos denunciarem cansaço e o que parecia ser mágoa.


- Tiveste uma vida muito complicada para fazeres essa pergunta. – Ele respondeu, parecendo velho, pelo tom da sua voz. – Eu sou assim por diversos motivos, alguns menos nobres. No entanto, eu sou sincero na minha preocupação e oferta de ajuda. Harry, eu, os teus pais, o Sirius e o Remus, não queremos o teu mal e preocupamo-nos com o teu bem-estar.


Aquele treino deve ter mexido mesmo com o meu cérebro porque quando dei por mim, tinha feito mais uma pergunta estúpida.


- Porquê?


Ele riu-se, vendo pela primeira vez, o senhor idoso dar uma gargalhada.


- Essa é uma boa pergunta que gosto muito de debater, no entanto, acredito que seria muito cansativo para ti. Por isso, Harry, a resposta para a tua pergunta tão bem colocada é resumidamente, o motivo porque te preocupas com a Rose Smith. – Ele disse, dando-me mais um dos seus sorrisos calorosos.


O motivo de eu me preocupar com a Rose? Por ela ser a minha irmã?


Vi os olhos dele brilharem, misteriosos e simpáticos e percebi logo o motivo. Porque eu gostava dela.


Eu suspirei cansado e voltei a sentar-me, tendo subitamente uma pergunta.


- É verdade que para conseguir aprender a proteger a minha mente, vou ter que lidar com todas as minhas emoções? Inclusive, as que eu próprio me recuso a sentir? – Perguntei, olhando para a minha mão. Eu não queria fazer aquilo…


Eu ouvi um som e vi o Dumbledore sentar-se, também cansado.


- Para seres um mestre, sim. Para te conseguires defender de um ataque sério do Voldemort, sim. No entanto, por agora, a tua prioridade é aprenderes a deixar a tua mente em branco. Acredito que não seja uma coisa muito difícil, mal aprendas a meditar. – Ele suspirou. – No entanto, Harry, tu tens que aprender a lidar com essas emoções. Se eu presumo, corretamente, a tua forma de lidar com as emoções negativas é ignorá-las. Isso é errado em muitos níveis porque todos temos um ponto de quebra e quanto mais coisas tiveres acumuladas, pior vai ser a tua reação quando a altura chegar. E imagina que esse ponto de quebra é quando estiveres a sofrer um ataque? Ficas completamente perdido. É uma grande vulnerabilidade para uma pessoa que deseja aprender esta arte e tu tens agora pessoas que se importam, genuinamente, contigo. Não precisas de confiar, cegamente. Ninguém te pede isso mas podes ir falando, ouvindo opiniões alheias e ir resolvendo essas emoções. Porque se tu sentes ou sentiste em algum momento essas emoções, então teve que existir um motivo e a única forma de as arrumares definitivamente numa caixinha é aceitares o motivo. Não é simples, não é sem dor mas é a única forma de evoluirmos como adultos.


Eu olhei para ele, vendo a forma como a sua face se contraiu, com dor.


- Parece que fala por experiência.


Vi os seus olhos brilharem, cheios de dor, por alguns segundos.


- Todos fomos jovens e sonhadores um dia, Harry. Por isso, acredita-te na experiência de uma pessoa idosa. – Disse, piscando-me um olho. – Mas voltando ao assunto principal, emoções fortes e oclumencia não combinam.


- E… e se nós de certa forma temos as memórias tão protegidas que nos esquecemos?


Ele deu um sorriso triste.


- Então, infelizmente, este treino vai fazê-las voltar. Eu acredito que o Professor Snape foi cauteloso na sua abordagem devido à tua recém-descoberta do mundo mágico e por ainda não estares preparado. No entanto, nas próximas aulas ele não vai ter essa preocupação e pode despertar essas memórias.


Eu fechei os punhos, involuntariamente. Eu não queria que ele visse essas memórias.


- E se eu não quiser fazer mais este treino.


- Harry, tens que concordar comigo que precisas de aprender a defender a tua mente. Se quiseres que seja sempre a tua mãe ou até eu a ensinar-te, podemos mudar de professor. No entanto, apreenderes a defender é uma coisa que é crucial para o teu desenvolvimento como bruxo.


Eu cerrei o maxilar. A minha mãe ou o Dumbledore? Eles iriam fazer perguntas… pelo menos o Snape não comentava sobre elas.


- Não, deixe estar.


- Lembra-te que a tua mãe ainda te vai dar algumas aulas. – Ele observou, parecendo ler a minha mente. – Bem, já se está a fazer tarde. Acompanhas-me até à saída? – Ele perguntou, voltando a ter o seu habitual brilho nos olhos.


Eu assenti e levantei-me, vendo como ele fazia o mesmo e com um gesto rápido da varinha fazia desaparecer as cadeiras. Enquanto descíamos, o Dumbledore decidiu quebrar o silêncio da nossa viagem.


- Se mudares de opinião em relação à senhorita Granger, informa-me. Nunca é tarde de mais para voltar a criar uma amizade.


- Ela já não se lembra de mim. Tenho quase a certeza. – E tinha. Para ela, eu devia de ser um menino com quem ela teve uma boa amizade na infância. Nada mais, nada menos.


- Estás a desprezar a memória dela. Uma relação verdadeira, de amizade, não se esquece de um dia para o outro.


Eu suspirei.


- Eu esqueci.


Ele riu.


- Mas lembraste-te. Quem te garante que ela também não se lembra? Quem te garante que ela também não sente saudades?


- Eu não sinto saudades.


Ele riu outra vez.


- Sentes uma ausência de uma pessoa.


Eu cerrei o maxilar, começando a irritar-me pela forma como ele parecia pensar sempre saber tudo.


- Sabe que não sabe tudo, não sabe?


Ele riu outra vez…


- Citando, um famoso pensador Muggle, só sei que nada sei.


Eu revirei os olhos e quando dei por mim, já estávamos na sala de estar, vendo a Lily e o Snape a falarem.


- Severus, por favor…


- Eu não desejo ter mais contato que o necessário.


- Severus


Eu espantei-me ao ver a dor, nas palavras dela e vi o Dumbledore perder o seu ar divertido, parecendo mais sério.


- O passado é o passado, Sra. Potter. – Ouvi o Snape dizer, parecendo ainda mais frio do que tinha sido para mim.


- Mas estás a ajudar o Harry. Porque é que não dás…


- Não! – Ouvi-o quase gritar e a temperatura da sala pareceu diminuir. – Eu não tenho mais nada a discutir consigo. Onde é que está aquele idiota do Dumbledore?


- Obrigado pelo adjetivo carinhoso, Severus. – Ouvi o Dumbledore dizer, com um divertimento que não atingia os seus olhos. – Estás pronto para ir?


- Há muito tempo.


- Então, vamos.


Eu vi o Dumbledore despedir-se da Lily e eles rapidamente saíram, indo por Flu para Hogwarts.


Vi a Lily sentar-se no sofá, parecendo preocupada.


- Está tudo bem?


Ela olhou para mim, surpreendida, como se só me tivesse visto ali, naquele instante.


- Sim.


Eu dei de ombros, não querendo pressionar mas vi a forma como ela apertou o nariz, nervosa e olhou para mim, outra vez.


- Na verdade, não mas isto passa.


Eu pisquei, surpreendido, por ela dizer a verdade.


- Posso ajudar?


Ela sorriu.


- Podes. Vais dar-me o prazer de te ensinar poções. – Ela disse levantando-se. – Vou-te ensinar tudo o que sei. – Disse, vindo ter comigo. – Vais ser um verdadeiro mestre.


Eu olhei para ela, com o seu cabelo ruivo ondulado, enquanto ela me levava até uma sala designada só para fazer poções, naquela mansão gigantesca.


Observei a forma como ela fez conversa de ocasião, perguntado como tinha corrido a aula e o que tinha aprendido e tive uma estranha realização, lembrando-me das palavras do Dumbledore. Eles podiam até gostar genuinamente de mim e havia, estranhamente, alguma parte de mim que se estava a adaptar a eles também. Será que era este o sentimento de ter uma família que se importava connosco?


 


---OLC---


 


Eu bati à porta, sentindo o meu coração bater rapidamente por causa do nervosismo. Tinha passado um mês desde a última vez que tinha visto aquele homem e não podia dizer que tinha saudades. No entanto, esta era a minha missão e tinha o Dumbledore que me observava, atrás de mim, sorridente.


Eu naquele mês tinha aprendido muitas coisas, principalmente, em poções, indo ser avaliado pelo professor Snape, para descobrir os meus pontos fracos e fortes. Sinceramente, considerava que tinha aprendido bem, sendo a Lily uma ótima professora e ei até sabia o que estava a fazer mas mesmo assim, ainda só tinha aprendido a matéria do primeiro ano, por isso, ele conseguiria dificultar-me a vida se desejasse.


Além disso, naquele mês tinha aproveitado para fortalecer a minha relação com o Charles, contudo, tinha feito poucos avanços e ainda não percebia o comportamento dele. Pelo menos a Rose e ele, estavam a formar uma excelente relação. Não me admirava que até irem para Hogwarts, considerassem o outro, o seu melhor amigo.


- Sim. – Ouvi a voz fria do Snape e vi o Dumbledore dar-me um pequeno empurrão, piscando-me o olho e dando meia volta para voltar ao seu gabinete.


Eu suspirei mais uma vez e abri a porta, vendo pela primeira vez a sala de poções.


A sala era muito grande e tinha várias bancadas dispostas em série, estando na frente da sala, uma bancada central, que seria provavelmente o lugar onde o professor dava as aulas. Nas laterais da sala, estavam alguns armários e também existiam alguns frascos que flutuavam por magia, que pareciam conter animais embalsamados. Para contribuir para o aspeto macabro, como a sala era nas masmorras, ela era extremamente gelada e escura.


Senti um arrepio e vi o Snape observar a minha reação com um ar ligeiramente divertido, como se o fato de me assustar, lhe desse prazer.


- Pontual, Potter. Presumo que seja a primeira vez que entras na sala de poções.


Eu assenti, entrando com passos curtos.


- Isso é bom. Nesta parte da manhã, vais ser avaliado nas tuas capacidades de fazer poções, fazendo duas poções simples, de fecha-corte e para fazer o cabelo crescer. As instruções estão no quadro. Acredito que saibas os básicos, afinal a tua mãe é uma pessoa conhecida pelo seu conhecimento em poções.- Pelo que é que a minha mãe não era conhecida? Ela devia de ser uma bruxa realmente poderosa. – Por isso, enquanto estás aqui, vou avaliar trabalhos, ali, dentro do meu escritório. – Disse, apontando para uma porta.


Ele ia-me deixar sozinho a fazer uma poção? Eu tinha confiança nos meus conhecimentos mas todos sabiam que era suicídio pôr uma pessoa com um mês de conhecimento, sozinha, a fazer poções.


Ele suspirou como se esperasse que eu protestasse.


- Da parte da tarde, vou continuar o treinamento que sofreste em tua casa. O teu almoço será entregue aqui e não espero reclamações. Se estiveres cansado ou quiseres desistir podes falar comigo. Tens algum pedido?


Eu pisquei surpreendido. Para ele fazer aquela pergunta, sendo uma pessoa de poucas palavras, ele esperava que eu fizesse algum pedido, mas o que seria que ele estava à espera que eu pedisse?


Ele neguei com a cabeça e ele suspirou, aparentemente, desiludido com o meu silêncio.


- Que tipo de pedido poderia fazer? – Perguntei, finalmente, vendo aqueles olhos de falcão observarem-me.


- Isso terias que ser tu a decidir. – Ele disse, com a sua voz impessoal. Ao ver o meu silêncio, continuou. – Afinal, da última vez fizeste muitas perguntas sobre Hogwarts.


Fiz? Não me lembrava….


Hermione! A única que tinha feito era sobre ela. O que é que ele queria que eu pedisse? O mesmo que o Dumbledore tinha pedido?


- Está a fazer essa pergunta por causa do Dumbledore?


Ele continuou com a sua máscara, no lugar, mas pareceu-me ver surpresa por um instante, na sua face.


- O Dumbledore não falou comigo a respeito da vossa conversa. Existe alguma coisa que eu deva ter conhecimento?


Pelos vistos não tinham conversado sobre a Hermione.


- Não.


Ele assentiu e olhou para o relógio.


- Potter, como disse, eu tenho que avaliar umas poções e uns trabalhos, por isso, não te vou poder ajudar na preparação, só avaliando as poções no final. Contudo, não vais estar desacompanhado, sendo que vais ter pessoas a observar o teu trabalho. Estão proibidas de te ajudar, por isso, não peças.


- Pessoas? – Eu perguntei, sentindo o meu coração a bater. Que pessoas é que iriam ficar a saber que estava ali, quando tudo sobre mim era secreto?


Naquele instante, ouvi alguém bater à porta e vi o Snape dar um sorriso frio.


- Entra, Black.


Eu olhei espantado quando vi a Natalie entrar, com a sua figura memorável. Tinha o cabelo preto solto, a sua cara parecia ainda mais pálida, no entanto, continuava com a aparência esbelta e perigosa, como eu a conhecia. Vi os seus olhos cinzentos fixarem-se, primeiro, no Snape, dando um aceno de cabeça e só depois olharem para mim.


Ela ainda não era uma mestre a esconder todos os seus sentimentos, como o Snape e, por isso, eu vi a reação surpresa que ela teve ao me ver. Só porque podia, dei-lhe um sorriso irónico que a fez colocar a sua máscara, indiferente.


- Estou aqui por causa dos créditos extra. – Ela murmurou para o professor, decidindo ignorar-me.


Ele assentiu.


- O teu trabalho é olhar para o Mister Potter e evitares alguma catástrofe, devido ao seu baixo conhecimento em poções. Se ele tiver o talento do pai, vai explodir a sala em 5 minutos, por isso, não te distraias. – Eu senti-me fechar os punhos, vendo-o ofender outra vez o meu pai. O que é que ele tinha contra ele? – É uma situação de vida ou de morte, Black.


Ela assentiu, um pouco a contragosto.


- Pensei que o trabalho fosse diferente. – Ela murmurou.


- Vai ser desafiante o suficiente. Tanto que vais ter ajuda.


- De quem? Não devia ser secreto? – Ela perguntou cautelosa.


- E é. – Ele disse, sem dispensar um olhar para mim. É, continuem a ignorar-me que eu devo de ser invisível…- A pessoa que te vai ajudar, foi a que levou uma detenção na última aula. Acredito no secretismo que essa pessoa tem relacionado a esta situação.


Vi a Natalie cerrar os olhos, como se não tivesse muito acreditada.


- Não sei se é uma boa ideia.


- Tens medo da concorrência, Black? – Ele perguntou com um sorriso frio. – Pensei que te tivesse ensinado melhor.


- Não, mas…


- Eu sou o professor aqui. – Ele disse, autoritário, cortando-a. - Essa pessoa deve chegar daqui a 5 minutos, por isso, prepara-o. Não faças a poção por ele, por muito que ele seja irritante. Ensina-lhe se for necessário e lembra-te que se fizeres alguma coisa que não esteja nas regras, eu vou saber!


Ele esperou pelo acento que ela deu e deu meia volta, preparando-se para sair.


- Potter, se explodires a sala, ficas a servir de ingrediente para uma poção experimental. – Foi a última coisa que ele disse, saindo pela porta, para o seu escritório, com a capa a esvoaçar.


Eu olhei para ele, provavelmente, de boca aberta.


– Ele sabe ter saídas dramáticas.


A Natalie ignorou-me, lendo as instruções no quadro.


- As poções são relativamente simples. – Ouvi-a dizer, olhando do quadro para mim, com frieza. – Por isso, espero que não tenhas dúvidas.


Eu dei-lhe o meu melhor sorriso.


- Olá, também para ti, querida Natalie. Como têm sido as aulas? Calorosas, com a excepção desta sala que parece um frigorífico?


Eu vi-a estreitar os olhos.


- Nós não somos amigos, Potter, por isso, pára com essa conversa!


Eu cruzei os braços.


- Nunca disse que erámos. Também não queria mesmo que oferecesses. – Disse dando de ombros.


- Eu nunca iria oferecer!


- Ainda bem porque já somos dois. – Disse, teimoso. Havia nela, alguma coisa que me irritava e me fazia sair da minha personalidade, mais fria. Eu simplesmente, amava provocá-la e ver os seus olhos faiscarem, com raiva incontida, parecendo uma cobra prestes a atacar. Além disso, apesar de não ter orgulho, ter estado aquele tempo todo, a viver com a influência do Sirius, que amava interromper as aulas da Lily para fazer algum disparate, fizeram-me ficar mais descontraído.


- Esta conversa é inútil. Trabalha Potter!


- E se eu não quiser? E se eu só trabalhar se fores educada para mim?


Ela bufou.


- Eu vou chamar o professor!


- Ah, vais queixar-te ao professor a correr porque não consegues fazer o teu trabalho como deve de ser. Continua assim Black, que vais num bom caminho.


Para meu terror, ela tirou a varinha.


- Eu vou-te mandar um silencio que não estou aqui para ouvir a tua voz irritante.


Eu sorri, irónico e tirei a minha varinha, que pareceu faiscar.


- Eu já não sou tão indefeso como era Natalie, querida. – Eu murmurei, estreitando os olhos.


- Também não te sabes defender, para estares com o conhecimento de um primeiro ano. – Ela murmurou, com desprezo.


Para meu espanto senti alguém limpar a garganta e olhei para a porta, vendo boquiaberto, uma visão que não pensava ver em muito tempo.


A agarrar ainda a maçaneta da porta, encontrava-se uma rapariga adolescente, relativamente alta e esbelta, com cabelo castanho ondulado e uns olhos, cor de mel, que se arregalaram ao olhar para os meus verdes. Tinha uns lábios finos que se separaram, pelo espanto de me ver. As suas bochechas coradas contrastavam com a sua pele pálida e eu vi-me a sorrir, ao reparar que a Hermione tinha crescido para se transformar numa pessoa forte, confiante e bonita.


N.A. Ok, eu sou um bocado maldosa por ter acabado aqui mas tive uns atrasos nesta semana e para cumprir o que tinha dito (pôr até hoje o capítulo) tive que acabar aqui. Prometo que vou tentar ser rápida a pôr o próximo capítulo que é o reencontro deles.


Acho que não tenho mais nada a dizer, além de que no próximo capítulo vão ver que o Harry foi mais afectado pela personalidade do Sirius do que ele pensa ;). Espero que gostem e qualquer coisa, comentem :p.


PS: Data limite: 19 de Setembro (provavelmente, daqui a uma semana).

Bethany Jane Potter: Muito obrigada e acredite que pretendo continuar a surpreender xD. Espero que não a desilude no próximo capítulo quando for o reencontro e que continue a gostar ^^. 

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Comentários (3)

  • Neuzimar de Faria

    Atualizei a leitura e você está escrevendo cada vez melhor, sua história está ainda mais envolvente! O Harry, me parece, está, mesmo sem querer, começando a se sentir em família, que bom! Agora, estou muito curiosa em relação ao Harry e a Hermione, torcendo muito para que fique apenas no campo da amizade, uma grande e incondicional amizade. É que eu gosto muito dos casais tradicionais da saga. Enfim, vamos aguardar os próximos acontecimentos. Até lá!

    2013-09-05
  • Willian Itiho Amano

    Vc é muito má em terminar assim o capítulo.

    2013-09-03
  • Bethany Jane Potter

    Nossaaa!!!Ameiiii,simplesmente amei o capitulo!!Essa Historia me faz imaginar tudo,todas cenas,os olhares,as reações..Perfeita!!!Vou esperar ansiosamente pelo proximo capitulo...O final me deixou super Feliz...Lindooo!!!O reencontro do Harry e da Hermione,vai ser perfeito,tenho certeza.Você é uma otima escritora,sua fic estar muito boa.Beijos.

    2013-09-03
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