Palavras que ferem



George


 


Os meses se passaram logo. E aquela sensação estranha que eu sentia por Hermione ia crescendo. Eu não sabia o que era. Só sabia que me fazia bem, mas ao mesmo tempo não fazia. Era uma incerteza, um nervosismo, uma ansiedade que me dava quando eu pensava nela, quando eu a via e quando não a via também. Quando ela falava comigo, meu coração descompassava e minhas pernas bambeavam. Será que eu estava me apaixonando? Não podia ser. Não pela ex namorada do Rony.


E o pior é não saber se ela também sentia isso. Eu acho que não. A vi junto com Dino Thomas outro dia, ele a paquerava e ela não fingia que não via. Mas também não retribuía. E sinceramente, ele tem mais chances do que eu. Mais bonito, mais rico, as duas orelhas intactas... Será?


Estava precisando de mais um funcionário na loja. Desde que Fred partiu as coisas ficaram mais difíceis, e eu e Verity não estávamos dando conta de tudo. E Hermione está desempregada... Tomei minha decisão: vou chamá-la para trabalhar comigo, e quem sabe me aproximar mais dela. Não que não estivéssemos já bem próximos... Somos bons e grandes amigos.


Marquei com ela de almoçarmos juntos no Caldeirão Furado. Quando faltava 20 minutos para meio dia, fechei a Gemialidades Weasley para o almoço e fui de encontro a Hermione. Esperei por ela sentado em uma mesa, e quando ela chegou meu coração começou a bater naquele ritmo descompassado. Ela estava vestindo uma calça jeans azul, uma sapatilha e uma blusinha. Bem básica e simples, como sempre. Linda, do jeito dela. Ela se aproximou, sorrindo. Me levantei e beijei-a na bochecha. Sendo bem cavalheiro, afastei a cadeira para que ela se sentasse. Ela agradeceu, e me sentei frente a ela.


- Tudo bem, Hermione?


- Sim, e contigo George?


- Bem também. Sabe, queria te fazer uma proposta.


- Proposta? – Perguntou ela, intrigada, no mesmo tempo que o garçom trouxe os cardápios.


- Sim, proposta. Bem, ando precisando de um novo funcionário na loja. Depois que Fred... – Minha voz sumiu. Eu ainda sofria muito com a falta dele. – Bem... Nos deixou, ficou mais difícil coordenar a loja. Preciso de ajuda. E como você está desempregada, pensei em chamá-la pra trabalhar comigo, pois preciso muito de uma pessoa responsável e organizada como você. E não se preocupe com a questão salário, vou pagar tudo certinho. O que me diz?


- É claro! – Disse ela, sorrindo eufórica. Minha mão estava pousada sobre a mesa, e ela pôs a mão dela em cima. Ao perceber, tirou a mão e disfarçou.


O resto do almoço correu muito bem. Combinamos quando ela começaria e tudo mais, e depois mudamos de assunto. Risos e gargalhadas preencheram o Caldeirão Furado, cheio aquela hora, mas a voz de nós dois parecia ser a mais alta no lugar. Não que eu me importasse disso.


À noite, eu estava sozinho em meu quarto, no flat acima da loja. Era diferente morar sozinho, sem a companhia de Fred, isso me machucava, mas eu aprendi a suportar. Cansado, confuso, fui dormir, e tive um sonho que não me ajudou muito.


Estava dentro de uma sala comprida, espaçosa. Mas dentro dela, só havia um espelho. No espelho, eu via a mim mesmo. Espera, eu não tenho uma das orelhas. Então eu estava vendo a mim mesmo antes de perder a orelha, ou estava vendo Fred? Então a minha imagem, ou Fred, começa a conversar comigo. Não foi bem uma conversa, a imagem só disse uma frase:


- Não a perca.


Acordei, arfando. Sentei na cama, e acendi a luz. Apoiei a cabeça nas mãos e fiquei pensando: perder quem? Ou o quê? Era a mim mesmo? Ou era Fred?


Eu não admitia, mas eu ainda estava profundamente abalado com a falta dele. E agora começava a ficar abalado com ela, com uma coisa dentro do meu peito que eu nem sabia o que era.


 


Hermione


 


Confesso: fiquei eufórica, nervosa, ansiosa, felicíssima com a proposta de George. Trabalhar com ele? Seria ótimo! Mas espera... Eu nunca demonstrei ser uma pessoa que gostasse de logros e brincadeiras, e agora iria trabalhar em uma loja de tal coisa? Ah dane-se. Pelo menos estarei perto dele.


Eu não entendo essa minha vontade louca de estar perto dele, de sentir o perfume masculino e ao mesmo tempo suave dele, de ver aquele sorriso torto e os cabelos ruivos bagunçados. Não entendo por que fico tão nervosa quando o vejo, porque meu coração descompassa e a minha respiração fica incerta. Nunca senti isso antes. Será que eu estava me apaixonando? Não podia ser. Não mesmo.


À noite, contei a Gina tudo. Tudo inclusive o que eu estava sentindo. Ela quase gritou e fez um escândalo dizendo que já sabia. Só não o fez porque tampei sua boca antes de qualquer ai dela. Ela ficou me dizendo pra dizer pra ele o que eu sinto, arriscar, porque poderia ser recíproco. Mas e se não fosse? O que aconteceria com nossa amizade? Não poderia se acabar assim. Não agora.


Adormeci, e sonhei com ele. Não sei se foi bem um sonho. Foi confuso. Estava na loja, o ajudando. Então um detonador-chamariz é detonado e tudo muda. Estou caindo, caindo, e acabo caindo nos braços dele. E ele me beija. Mas eu sou tirada de seus braços, e a dor angustia meu coração. Acordo, ofegante.


- Hermione, está tudo bem? – Gina me olhava da cama dela, com uma expressão intrigada. – Acordei com você gritando. E depois gemendo o nome dele. O que houve?


- Sonhei com ele, só isso.


- Só isso? O que você sonhou? – Disse ela, ajeitando-se na cama e me olhando fixamente.


- Sonhei que estava ajudando ele na loja, e um detonador-chamariz é acionado, aí tudo explode e eu começo a cair, cair, e caio nos braços dele. – Gina sorriu maliciosamente. – E ele me beija. – Gina alargou ainda mais o sorriso, levantando uma sombrancelha. – Mas de repente sou tirada dos braços dele e uma dor agonizante toma conta de mim. E só.


- Que coisa mais esquisita. Se bem que a parte do beijo ai... Sei lá né... Sabe, sonhos costumam revelar desejos interiorees... – Disse ela com um tom cínico, me provocando.


Joguei um travesseiro nela.


- Vai dormir Gina, vai.


- Ui, ta bom, ta bom, boa noite, esquentadinha.


- Boa noite, Gina.


Apaguei as luzes e adormeci, e tive sonhos tranqüilos e sem George no meio.


 


As semanas passaram-se rápido. Comecei a trabalhar na Gemialidades Weasley, e ia tudo muito bem. Verdade que aquela sensação estranha estava crescendo cada vez mais e vê-lo todos os dias estava agravando a situação. Estava começando a ter a certeza que estava se tornando sentimento, e algumas pessoas já diziam ser óbvio, de ambas as partes. Eu não acreditava no “ambas as partes”.


Saíamos várias vezes juntos, só nós dois. E às vezes, eu sentia como se fosse me jogar nos braços daquele ruivo baixo, sardento, sem uma orelha, musculoso e lindo a qualquer momento, beija-lo e dizer que eu o amo. Mas eu não podia. Não ainda.


 


George.


 


Desde o sonho, eu comecei a pensar seriamente se não era Hermione quem Fred, ou eu mesmo, estava falando. As coisas dentro do meu peito começaram a ficar descontroladas, eram um misto de emoções, sensações, que eu não conseguia compreender. Como uma garota era capaz de surtir tanto efeito sobre mim? Nem Angelina, a minha ex namorada, fora capaz de causar tanto efeito. Nem com Angelina eu me senti assim.


Hermione começou a trabalhar comigo. Eu não conseguia desprender meus olhos dela. Era uma ótima funcionária, responsável, organizada... A loja estava organizada como nunca fora. Às vezes, eu a provocava dizendo que uma caixa de fogos básicos estava torta na fileira, que um detonador chamariz estava posto errado, só para ver sua expressão irritadinha quando perceber que era uma provocação.


Eu a convidava frequentemente para almoçar comigo. Eram almoços muito agradáveis. Aliás, qualquer coisa era agradável ao lado dela. Às vezes, eu sentia uma vontade quase incontrolável de tomá-la em meus braços e não deixa-la partir. Mas ao mesmo tempo, alguma coisa me prendia, me impedia. E eu não sabia o que era.


Certo dia, Harry passou na loja. Hermione tinha saído para buscar umas coisas para mim, já que o movimento estava fraco naquele dia.


- Olá Harry! No que posso te ajudar?


- Eu queria conversar com você.


- E já não está conversando? – Sorri.


- Bem, em particular.


- Ah sim, vamos pro meu escritório. – “O que ele quer?” pensei.


Assim que chegamos no escritório, sinalizei para que ele se sentasse em uma cadeira e sentei em outra.


- O que você queria, Harry? Aconteceu alguma coisa?


- Parece estar acontecendo.


- O quê?


- Você e Hermione.


- Como assim?


- Ah, George, todos já perceberam que há alguma coisa entre vocês.


- Mas somos apenas amigos.


- Algo além de amizade, eu quis dizer.


- Como eu disse, somos apenas amigos.


- Então quer dizer que você não sente nada por ela? Não fica nervoso, ansioso, com borboletas no estômago quando a vê? – Aquela pergunta pegou-me desprevenido. Não esperava que ele soubesse como eu me sinto. Hesitei, e ele se encostou na cadeira, cruzando os braços e me olhando como se dissesse “te peguei”.


- Bem... É. Sinto.


- Dá pra ver no olhar, você não consegue esconder. E ela também não.


- Ficou louco, Harry? Eu e Hermione?


- Eu não sei de nada entre vocês, vocês que se entendam. Mas saiba de uma coisa: não a perca. E cuide bem dela. Bom dia.


E se retirou, deixando-me sozinho, confuso e pasmo. Eu não podia estar apaixonado por ela. Ou podia? E ela, será que estava apaixonada por mim? Eu teria que descobrir... Mas como? Me envolvendo mais? E se não fosse, como eu ficaria? Com certeza ficaria arrasado, e eu não preciso mais de sofrimento. Mas o que eu poderia fazer? Será que eu deveria me declarar? E se fosse, como me declararia? Espera, estou mesmo apaixonado? Pela Hermione? Logo ela, o contrário de mim?


 


Hermione.


 


Cheguei na loja com caixas e mais caixas no braço. Verity me ajudou a empilhá-las em um canto, e então vejo Harry descendo as escadas do escritório do George.


- Harry!


- Mione! – Exclamou ele, vindo ao meu encontro, sorrindo. O abracei forte e perguntei:


- O que veio fazer aqui?


- Falar com George e ver você. Está tudo bem?


- Sim, e com você?


- Também.


- Mione, desculpa não poder ficar mais, mas é que eu tenho uma entrevista de emprego daqui a pouco e eu realmente tenho que ir. Mas se cuida, mais tarde a gente se vê na Toca.


- Se cuida também, Harry, e boa sorte!


- Obrigado! – Agradeceu ele, sorrindo e saindo pela porta.


Continuei meu serviço, e vi que George não saía de seu escritório. Resolvi subir e ver se estava tudo bem. Subi as escadas devagar, e bati na porta três vezes. “Toc,toc,toc”. Não ouvi barulho algum lá dentro. Resolvi entrar. Girei a maçaneta, e empurrei a porta. Encontreio-o olhando para fora da janela. Me aproximei devagar, pisando leve e quase não fazendo barulho. Coloquei a mão no seu ombro e o senti estremecer.


- George, está tudo bem? – Perguntei suavemente. Ele se virou pra mim, com uma expressão um pouco confusa.


- Está sim. Só estava pensando em algumas coisas.


- Problemas? Posso ajudar? – Ele suspirou.


- Não, não, está tudo bem.


- Ok então, qualquer coisa estarei lá embaixo na loja.


Ele sorriu pra mim e se sentou na sua cadeira. Saí fechando a porta, e desci obviamente com uma expressão intrigada, pois Verity percebeu imediatamente.


- Hermione, aconteceu alguma coisa? Ele está bem?


- Não aconteceu nada não. Aparentemente ele está bem.


- Aparentemente?


- É. Ele disse que está tudo bem, mas a cara dele não estava das melhores. Perguntei se eu podia ajudar, mas ele disse que estava tudo bem. Então saí, e disse que  qualquer coisa estaria aqui em baixo.


- Entendi.


Verity deu de ombros e voltou para o balcão. De repente, ela pergunta alto, na frente de dois clientes.


- Você gosta dele, não gosta?


- Verity, ficou louca? Eu? Gostando dele?


- Não sei né, só me veio esse pensamento. Não precisa se alterar.


- Mas eu não estou alterada!


- Só extremamente afobada. – Disse ela, rindo. Os dois clientes riram brevemente também, fazendo-me corar.


 


George.


 


Estava de pé em frente à janela. Não sabia exatamente o que estava olhando, só sei que estava perdido em pensamentos. Pensamentos destinados a ela. Ainda perdido, ouvi uma leve batida na porta. Ignorei. Ouço a porta abrir, e passos delicados se aproximarem de mim. Sinto então uma mão pequena e delicada tocar meu ombro, e estremeço com o contato. Eu sabia que era ela. Não precisava olhá-la para saber disso.


- George, está tudo bem? – Ela pergunta, com a voz suave. Sim era ela. Era Hermione. Me virei para ela, com uma expressão um pouco confusa, e admirei aqueles olhos castanhos que me mostravam o infinito.


- Está sim. Só estava pensando em algumas coisas.


- Problemas? Posso ajudar? – Perguntou ela. Sempre tão prestativa, sempre tão preocupada. Suspirei.


- Não, não, está tudo bem.


- Ok então, qualquer coisa estarei lá embaixo na loja.


Sorri, e me joguei na minha cadeira. Ela deu as costas e saiu. Ouvi seus passos, agora um pouco mais fortes, descerem as escadas. Respirei fundo. Decidi que devia ocupar um pouco a cabeça e resolvi descer. Assim que cheguei no topo da escada, ouvi a conversa dela e de Verity.


- Você gosta dele, não gosta? – Verity perguntou. Aposto que estava com aquela expressão calma como se estivesse perguntando qualquer coisa. Ela era assim, às vezes. Ou a maioria das vezes.


- Verity, ficou louca? Eu? Gostando dele? – Hermione respondeu, com um tom surpreso e como se estivesse explicando o óbvio. Não entendo o porque, mas aquelas palavras me feriram como brasas na pele. Minha vista ficou embaçada por lágrimas, e antes que eu pudesse me controlar, elas desciam pela minha face. Voltei para meu escritório, trancando-me lá dentro e me jogando na cadeira com uma força um pouco maior. Apoiei minha cabeça nas mãos e deixei as lágrimas rolarem. Afinal, o que estava acontecendo comigo? Porque tinha ficado tão abalado com as palavras dela?


“Você está apaixonado” – Uma voz na minha cabeça respondeu. Ou era a voz do coração?

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Comentários (2)

  • Artemis Granger

    gostando da história, mas q cap triste.... :(

    2012-01-26
  • Nathy Evans

    Que do dele....vc não vai deixar esse mal entendido por muito tempo,né????Posta logo  XD

    2011-09-05
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