"Só eu e você"



Loren se encontrava completamente entediada encarando o teto. Era a última noite na mansão antes de voltarem a Hogwarts. Era extremamente conveniente o aniversário de Carly cair bem no final de semana da Páscoa, mas a ruiva não poderia reclamar... Foram duas longas semanas de “férias” e logo na tarde do dia seguinte eles precisariam embarcar no trem de volta a escola.



“Maldita insônia!” – pensou olhando em volta, todas as garotas dormindo calmamente. Bufou se levantando e indo quietamente em direção a cozinha. Talvez um copo de leite quente ajudasse a dormir, pensou enchendo um copo com leite e o aquecendo com a varinha. Mas quem ela queria enganar? Sua insônia tinha nome e endereço. “Daniel Bruce Fontaine.” – o nome soou em sua cabeça. Parte dela se perguntava se ele havia ouvido a conversa entre ela, Dorothy e Midori alguns dias atrás, outra parte meio que esperava que ele tivesse ouvido. Talvez assim fosse mais fácil. “Quem eu quero enganar? Se ele tivesse ouvido ele pelo menos teria falado alguma coisa, mas ele só agiu como sempre então eu acho que as meninas estão certas e eu estou imaginando coisas.” – ela encarava o leite quente sobre o balcão.



 - Mas que droga! – sussurrou fechando os olhos e bufando. – Para de pensar merda, Loren. Só bebe o maldito leite e vai dormir. – disse a si mesma abrindo os olhos encarando o balcão vazio. – Ué, cadê o...



 - Perdeu, ruivinha. – Daniel disse escorado na mesa atrás da garota com o copo na mão. Ela o olhou, confusa.



 - Quando você...? – ela olhava do balcão ao garoto, mas desistiu de falar. – Quer saber? São 3 horas da manhã e eu preciso do meu leite. – disse pegando copo da mão do garoto que a olhou emburrado. Loren sorriu irônica bebendo um longo gole de lente em seguida. Daniel a encarava com um leve sorriso no canto do lábio. Loren ergueu uma sobrancelha, colocando o copo vazio sobre o balcão e cruzando os braços. Ele permaneceu em silêncio. – Então tá... Boa noite, Daniel. – ela disse se virando pra saída da cozinha.



 - Sabe, eu to curioso, Potter. – Loren se virou de volta para o garoto.



 - Com...?



 - Se você realmente tem um pôster meu no seu quarto. – ele sorriu ao observar o pânico tomando conta do rosto da garota.



 - O-oi? – disse nervosa, tentando fingir não saber do que se tratava. Daniel riu se aproximando da garota que o encarava em silêncio, sentindo seu rosto queimar.



 - Você fica linda até vermelha. – ele praticamente sussurrara antes de passar pela garota, saindo da cozinha. Loren ficou um bom tempo encarando a cozinha vazia, até se dar conta do que acabara de acontecer.



 - Isso realmente acabou de acontecer? – disse pra si mesma ainda cocada.



 No dia seguinte, Loren não pode evitar ficar extremamente sem graça quando Daniel estava por perto, o que não passou despercebido pelas garotas que esperaram até as seis estarem reunidas no trem e longe dos garotos pra confrontar a ruiva que andava mais distraída do que o normal.



 - Abre o bico, Potter. – Carly disse entrando na cabine e fechando a porta. O trem acabara de partir. Loren olhou em volta, todas as cinco a encarando.



 - Ok, ok. Beleza. Vocês venceram. – ela levantou os braços se rendendo. – Eu pago os doces dessa vez. – ela se levantou fazendo menção de ir procurar a senhora com o carrinho de doces, mas Rock a segurou pelo pulso.



 - Vai dizer que não ta escondendo nada, Loren? – Rock perguntou e a ruiva riu.



 - Você passaram os últimos dias grudadas comigo. Se tivesse acontecido alguma coisa, vocês iriam saber, ué. – ela disse com mais confiança do que esperava realmente ter. Não sabia direito o porquê, mas preferiu não comentar sobre a noite passada com as meninas. Quer dizer, nem ela entendeu direito o que havia acontecido, provavelmente era só o Fontaine tirando uma com a cara dela e realmente não valia a pena contar isso pras meninas. Elas acabaram mudando de assunto e seguiram conversando sobre os vários acontecimentos das últimas semanas durante a viagem.



~~~~



As férias finalmente chegaram ao fim. Loren estava evitando Jerry Martin desde o início das aulas e Midori já não aguentava mais ser arrastada pelos corredores quando o moreno aparecia por perto.

 - Loren, você precisa terminar com ele logo. - a oriental segurou a ruiva pelos braços. - Você acha mesmo que ele não percebeu que você sai correndo quando ele chega perto?

 - Mas, Midi... - Loren a olhou fazendo birra.

 - Não começa. - ela a interrompeu - Você devia ter terminado antes mesmo da festa. Só vai. - disse a soltando e apontando pro garoto no fim do corredor atrás de Loren.

 - Você sabe que se eu terminar com ele...

 - Sim, eu sei. Mas você também não pode prender ele pra sempre. - Midori afirmou. Loren respirou fundo e começou a caminhar em direção ao rapaz.

 - Jerry, oi. - ela sorriu pro rapaz que conversava com alguns amigos.

 - Loren! Eu tava te procurando. - ele se virou para ela e logo a puxou para um canto mais afastado dos amigos. - Nós precisamos conversar.

 - Precisamos? - ela o olhou confusa por um momento - Quer dizer... É, precisamos. Eu...

 - Vamos terminar. - ele a olhou nos olhos - Eu sei que é meio de repente, mas eu sou o tipo de cara que requer uma certa... Liberdade. - Loren não conseguia formular uma frase sequer. Como assim ELE queria terminar?

 - Mas, Jerry, eu que...

 - Eu sei. É meio do nada e eu tenho te evitado.

 - Quê?

 - Mas você vai superar.

 - Quê?

 - Eu preciso ir agora, tenho treino de Quadribol. Sabe como é. - ele piscou pra ruiva que ainda estava em choque. - A gente se vê, Potter. - ele se despediu e foi em direção ao campo com os amigos que o esperavam. Midori segurava o riso enquanto se aproximava da pequena ruiva incrédula.

 - Como é que é? - ela quase gritou. Midori deixou um riso escapar.

 - Vamos, amiga. Você precisa superar e, nós duas, precisamos encontrar com as meninas. - ela puxou Loren pelo corredor em direção a Sala Precisa.



—---



 - Então...? - Robbie encarava Dorothy, curiosa. As seis estavam sentadas em um tapete formando um circulo numa espécie de sala (que lembrava muito o salão comunal da Grifinória, por sinal). Todas encarando a garota.

  - Então nada, ué. - ela deu de ombros - Ele fica na dele, eu fico na minha e ninguém sai machucado.

 - Como assim "ninguém sai machucado", Dorothy? - Midori começou - Você fica o dia inteiro no quarto, mata metade das aulas e passa longe da biblioteca.

 - Ele também não tá muito legal. - Carly continuou - James me disse que ele tá matando aula pra jogar Quadribol. Ninguém nunca o viu tão sério. E nem com os meninos ele tá falando direito. - Dorothy suspirou encarando as cinco.

 - Vocês esperam que eu faça o quê? Ele já deixou bem claro o quanto ele me acha babaca e ele tem razão. Então eu vou ficar bem longe dele e daquela maldita biblioteca. Fora que minha média está bem acima do necessário pra passar de ano, não tem problema matar algumas aulas.

 - Esse não é o ponto, caramba. - Rock se manifestou. - Nós fizemos muita coisa do avesso. Eu não me arrependo do que fizemos, mas com certeza passamos dos limites algumas vezes. - As meninas ficaram em silêncio por alguns segundos. - Olha, eu sei que é difícil, mas você não acha que já está na hora de vocês dois pararem de agir como crianças e conversar sobre tudo o que aconteceu?

 - É, Dothy... - Loren concordou - Não dá pra ficar assim. Vocês conversam e, seja lá o que resolverem, vai ser melhor para os dois. Você já tinha se decido a conversar com ele. O que aconteceu?

 - Sim. Aconteceu alguma coisa? - Carly afirmou. Dorothy respirou fundo olhando para os próprios pés. Não queria falar com ele ou mesmo vê-lo, mas, no fundo, sabia que era a coisa certa a se fazer.

 - Tudo bem. Eu vou resolver isso. - declarou - Seja lá qual for o resultado, vai ser um ponto final pra essa história.



~~~~



 - Ok, então. – Danny andava de um lado para o outro da arquibancada, deixando James, Ramon, Joey e Wally tontos – Eu sei que eu não sou a delicadeza em pessoa, mas tem alguma coisa errada com o Thomas.



 - A gente sabe. – James o interrompeu.



 - Então por que ninguém fez nada ainda?



 - Danny, ele tá assim por causa da Dorothy. – Ramon declarou – Não tem muita coisa que a gente possa fazer.



 - É, ele não quer falar com ninguém sobre o que aconteceu na festa. – Wallace concluiu.



 - O máximo que o James conseguiu arrancar dele foi “Vocês tinham razão sobre a Cormich.” – Ramon disse. Danny se sentou ao lado dos amigos e os cinco ficaram observando Thomas praticando na vassoura.



 - Vocês não vão gostar, mas eu acho que a única solução é conversar com as meninas. – Joey sugeriu após pensar um pouco.



 - Por falar nelas... – Ramon sorriu ao ver as seis entrando na quadra. Thomas pairou no ar, observando Dorothy subindo a arquibancada com as meninas. Quase como se ela sentisse seu olhar, ela parou e se virou para encara-lo, sinalizando para que ele se aproximasse. O Malfoy franziu a testa, surpreso, negando com a cabeça, pousando a vassoura e seguindo em direção ao vestiário.



 - Uau. Fala sério. – Dorohy cruzou os braços o encarando entrar no vestiário sem nem mesmo olhar pra trás – Quanta maturidade, Malfoy. Parabéns. – gritou para que ele pudesse ouvir, mas este já havia sumido de vista. – Muito bem. – ela se virou pras meninas – Eu tentei.



 - Ah, não. – Midori segurou a garota pelos ombros – Você não vai fazer isso, ok? Já viemos até aqui, agora vai lá e resolve essa merda. – disse irritada. Dorothy a olhou também irritada.



 - Que ótimo conselho vindo de você, Midori Ojean. – ironizou antes de se virar em direção ao vestiário e começar a caminhar. Midori cruzou os braços e revirou os olhos. Por mais que não gostasse de admitir, a amiga estava certa. Mas no caso de Midori, não tinha muito a ser feito. Só restava a ela evitar o garoto a qualquer custo, talvez isso fosse o melhor a se fazer, talvez não... Mas assim ela evitava se machucar mais. Ela olhou o loiro de relance no topo da arquibancada sentado junto aos marotos, ele a encarava com pesar.



 - Eu já volto. – Wallace disse pros meninos enquanto ia em direção a garota.



~~~~



Dorothy sentia seu coração disparar a cada passo que se aproximava do vestiário. Apesar de ter pensado nesse momento durante os últimos dias, não fazia ideia do que realmente dizer ou sequer do que estava fazendo. Praticamente andava no modo automático quando finalmente entrou no lugar, avistando Thomas apoiando os dois braços na pia encarando a água da torneira correr com a camisa jogada sobre o ombro direito. Dorothy congelou. Praticamente implorava a seu corpo a fazer qualquer coisa, dizer qualquer coisa.



 - Oi... – ela disse parada na porta. Ele a olhou pelo canto do olho, fechando a torneira e virando de frente pra ela sem dizer uma palavra sequer. Pela primeira vez desde a festa eles se encararam e silêncio chegava a ser quase mortal. A garota respirou fundo, nunca gostara de papo furado. Sempre fora muito direta, então decidiu falar logo o que precisava falar. Seja lá qual for o resultado, vai ser um ponto final pra essa história. – Eu preciso que você seja extremamente honesto comigo agora. – ela pediu, reunindo forças pra falar cada palavra. Thomas arqueou uma sobrancelha. – As cartas, os livros, tudo... Teve sequer alguma parte que foi verdade? – ela não desviou o olhar do dele por nem um segundo. Tendo a certeza de ser clara em sílaba que saia de sua boca. O garoto ficou um momento em silêncio.



 - Você acha mesmo que eu ia perder meu tempo se eu não fosse honesto em cada palavra que eu dirigi a você? – ele disse levemente irritado, se aproximando da garota. Dorothy sentiu seu rosto queimar a cada passo do garoto. – Acha que eu quis correr atrás de uma garota tão arrogante, complexa e fechada? – ele parou logo a sua frente, só alguns centímetros separavam seus rostos agora e, pela primeira vez, Dorothy se sentiu completamente sem palavras. Seu silêncio fez o maroto soltar um riso seco, jogando a camisa que antes estava pendurada em seu ombro bruscamente contra a parede. – Obrigada por rir as minhas custas, Cormich. E não se preocupe comigo, não vou te incomodar mais. – disse se afastando da garota e pegando a camisa do chão. – Espero que faça o mesmo. – ela fechou os olhos por um longo segundo, estava prestes a explodir. Ela encarava as costas do garoto.



 - Quer saber, Thomas? – ele se virou ao ouvi-la dizer seu primeiro nome – Você é uma criança! – ela praticamente gritava – Eu não acredito que eu realmente achei que a gente pudesse resolver isso, mas você é um imbecil! – ela andou em direção ao garoto – Por Merlin! Que pecado eu cometi pra gostar de um idiota? Isso tudo é culpa sua. – ela apontou para o garoto, quase tocando sua testa. – Eu tava muito bem sozinha com meus livros na biblioteca, mas você PRECISAVA se intrometer e bagunçar toda a minha vida e depois vir com esse papinho de vitima enquanto EU precisei reunir cada gota de coragem que eu tinha no meu corpo pra vir aqui te encarar depois daquela merda de conversa no jardim! ARGH! – disse irritada se virando em direção a porta e o garoto, que há um segundo estava completamente perplexo, não pode evitar em puxá-la pelo braço e segurá-la contra a parede. Ela o olhou, surpresa. Thomas deu um leve sorriso com o canto dos lábios.



 - Eu também gosto de você. – sussurrou logo antes de beijá-la e, pela primeira vez, Dorothy não hesitou em retribuir. Eles se afastaram lentamente e Dorothy o encarou, séria. – Que foi? – ele perguntou.



 - Isso... – ela apontou pros dois – Eu não quero ser mais uma, Thomas. Não dá. Eu não tenho tempo pra isso. – ele franziu a testa, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa ela continuou – Eu preciso saber que é de verdade. Não tem mais cartas e livros, precisa vir de você. Eu quero ouvir você dizer...



 - Eu só quero você, Dorothy. – ele a interrompeu – Sem mentiras, sem brincadeiras, sem frases feitas. – ela sorriu em resposta – Só eu e você.


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