"Mentiras e Arrependimentos" o

Alguns meses haviam se passado, Wallace e Midori acabaram juntos de alguma forma, após passarem o Natal na mansão Malfoy. Era um relacionamento fofo até, Midori fazia de tudo pra passar o tempo perto do namorado e, como não conhecia direito mais ninguém, era o que ela acabava fazendo. Wallace dividia seu tempo entre jogar Quadribol, após ter passado no teste no início do ano letivo, seus amigos e a oriental. A maior parte do tempo em que estava com os meninos, a garota acompanhava. Não entenda mal, Os Marotos a adoram e até se divertem com ela, isso a faz se sentir muito bem vinda no grupo. Acontece que após um tempo, cerca de quatro ou cinco meses de relacionamento, as brigas vieram. A garota sempre cedia e pedia desculpas, por mais que ela soubesse que não tinha culpa alguma e que o erro fosse, a maior parte, dele. O que mais ela poderia fazer? Não tinha mais ninguém lá pra ela, pra confortá-la e ampará-la. Ela tinha que aguentar tudo sozinha, os momentos que ele a largava sozinha pra ir se divertir e aprontar com os meninos, os momentos em que ele exigia demais dela, mesmo ela não fazendo ideia do que fazer, até os momentos em que ele sabia que estava errado e mesmo assim chegava a deixá-la chorando sozinha, por não saber o que dizer ou o que fazer. A verdade era que Midori era complicada e Wallace era simples. Dois opostos extremos, dois orgulhos diferentes. Uma garota que não podia se virar sozinha num mundo que acabara de conhecer e um garoto que buscava novas visões, tinha seu próprio ritmo, mas não conseguia se expressar muito bem. Ele era apenas um garoto, certo? E ela apenas uma garota.

Após outra discussão, Midori já estava cansada de tudo isso, mas resolveu que era melhor se redimir, fazer as pazes. Ela odiava a ideia de ficar sozinha naquele dormitório infeliz onde ninguém se importava com a existência dela.

– Deus, eu sou tão invisível assim? – pergunto pra si mesma, deitada em sua cama. Decidiu ir atrás do garoto, tentar resolver isso. ‘Essa é a última vez que eu corro atrás’ – repetia mentalmente. Seguiu em direção ao campo de quadribol, sabia que ele ia praticar pra esfriar a cabeça. Todas as vezes fora assim. Mas, pra sua surpresa, ele não estava lá. Foi procurá-lo pelo castelo. Entrou em várias salas e decidiu ir pro Salão Comunal, por fim. Se sentou no parapeito da janela ao lado da lareira, observando o sol começando a se por. Respirou fundo. Não sabia porque insistia em uma coisa que não daria certo. Ficou lá imaginando se ele gostava tanto dela quanto ela gostava dele.

– Qual é, Wally? – ela ouviu a voz de James. Não se surpreendera com o Sonserino ali, não seria a primeira vez que os marotos invadem casas alheias. – Vocês brigaram de novo?

– Pois é, cara. Não quanto mais vou ter que aguentar isso. – Wallace respondeu subindo as escadas com o amigo.

– Acaba com isso logo. – Midori pôde ouvir James dizer antes de fechar a porta atrás de si. Congelara. Parecia difícil até respirar naquele segundo.

‘Ele nem sequer reparou que eu estava aqui’ – pensou com os olhos cheios de lágrimas. O mais ela precisava fazer pra ele lhe dar valor? Não. Já fizera mais que o suficiente. Estava exausta e deprimida. Foi nesse momento que percebeu que não podia contar com mais ninguém além de si mesma. Limpou as lágrimas que teimavam a escorrer por seu rosto e foi para seu quarto.

No dia seguinte, após passar a noite pensando e repassando esse último ano em Hogwarts, Midori havia se decidido. Esperou o sol nascer e foi se arrumar. Era uma plena segunda feira e ela nem sequer tomou seu café da manhã. Ficou sentada perto do escritório da diretora, esperando a mesma chegar.

– Senhorita Ojean? – a diretora disse se aproximando da garota que tratou de se levantar.

– Bom dia, Diretora McGonagall. – disse com a voz um pouco cansada.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou, preocupada.

– Podemos conversar? – pediu, tímida. Logo ambas entraram no antigo escritório de Dumbledore.

– Pois não. – disse sentando-se na enorme cadeira de carvalho atrás de uma mesa do mesmo tipo.

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Midori saiu da sala da diretora com um sorriso fraco no rosto, mas sabia o que precisava fazer agora. Foi em direção ao salão comunal da Grifinória e lá permaneceu, sentada no sofá, observando a lareira apagada e pensando no que iria dizer. Já era fim da tarde e o sol estava se pondo novamente. Ela finalmente viu chegar quem ela mais esperava. Wallace passou pelo quadro. Ela sabia que ele estava com pressa, que o jogo era em meia hora e ele precisava se preparar e sabia que, por esse mesmo motivo, iria ser rápida, pra que não houvesse tempo pra desculpas, para que ela pudesse despejar sobre ele o que entalou-se em sua garganta por muito tempo.

– Wallace, posso falar com você um instante? – disse confiante, sabia o que dizer.

– Claro, Midori. – ele respondeu. Por um instante Midori pôde perceber o leve pesar que Wallace se sentava no sofá, ao seu lado. Como se já tivesse visto essa mesma cena milhares e milhares de vezes. Como se estivesse tão cansado quanto a oriental de passar pelos mesmos problemas, de novo e de novo.

– Olha, eu tenho uma coisa importante pra te dizer... – começou olhando para suas próprias mãos - ...e não existe um jeito melhor de falar isso. – ela respirou fundo e o encarou.

– Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou preocupado, franzindo a testa. Ele já sabia que algo parecia estranho. Não parecia como das outras vezes que ela o chamou pra conversar após uma discussão.

– Eu... – ela respirou fundo ainda fitando o chão – Eu ouvi você conversando com o James ontem a noite.

– Como assim? – ele a olhou, confuso.

– Sabe, quando você disse que estava cansado de mim e nem se preocupou em olhar se eu estava por perto. – ela apontou a janela. Ele parecia finalmente entender.

– Midori, por favor, você entendeu errado! Eu... – ele começou, preocupado. Tentando se explicar, em vão.

– Eu estou terminando com você. – ela o interrompeu, segurando com todas as forças as lágrimas que brotaram no canto de seus olhos.

– Midori, você não pode estar falando sério, eu não quis dizer eu isso, eu só estava...

– PÁRA! – ela o interrompeu, permitindo que uma lágrima escapasse, seguida por outra e mais outra - Você não vê? Você só faz coisa errada! Coisas ESTÚPIDAS! Você magoa as pessoas que gostam de você! Você não assume seus erros idiotas! Você mente o TEMPO TODO! TODAS AS COISAS ERRADAS QUE VOCÊ FAZ, VOCÊ COLOCA A CULPA NOS SEUS AMIGOS! – ela parou, respirando fundo e voltando a controlar sua voz – Assuma seu erro, pelo menos dessa vez. – falou com a voz um pouco embriagada por causa do choro.

– Mas é verdade. Midori eu... – ele tentou se explicar, mas se calou ao receber um olhar de decepção da garota.

– Chega. Eu vim aqui achando que de alguma forma patética você diria a coisa certa, finalmente, e acabariam as mentiras, acabariam as brigas. Só que eu estava errada, cega por achar que alguém iria me querer e que eu só precisava ser aquilo que quisessem que eu fosse e tudo seria mais fácil. –disse enxugando o rosto com as costas da mão - Não use as pessoas, Wallace. – acabando de dizer isso, se levantou. –Ah, é. Não que eu te deva alguma satisfação depois disso, mas... Eu vou embora amanhã. – terminou, indo em direção ao seu dormitório. Wallace apenas abaixou a cabeça, ficou parado, provavelmente pensando em tudo o que fez de errado, provavelmente um pouco magoado, mas não importava mais. Ela iria embora e, claramente, não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso.

Então ela se foi. Pegou suas coisas as pressas no dia seguinte e saiu se despedindo apenas da diretora que a acompanhara até o trem. Midori sabia que precisava pensar, longe dali. Sabia que precisava mudar, ser mais forte, melhor. Ela não sabia exatamente o que iria lhe acontecer, mas de uma coisa ela tinha certeza...

– Eu vou voltar. – disse observando o castelo se distanciar pela janela da cabine vazia que estava sentada.

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