Lies have short legs



Quando me dei conta, já não estava mais na choupana de Neville, nem mesmo em Londres. Eu demorei a identificar onde estava, mas logo me situei no mapa: estava na França, em uma vila bruxa onde a minha família por parte de mãe vivia. Eu estava sentada em uma praça muito arborizada e tinha alguém ao meu lado. A imagem parecia paradisíaca, mas uma musica muito alta fazia meus ouvidos doerem. Caminhei na direção da musica típica irlandesa, encontrando um bar lotado, com vários casais se beijando e entre estes estava Lysander e minha irmã. Eles se olhavam nos olhos e riam, depois todos do bar apontavam para mim e davam mais risadas, dizendo:


-Mas que menina boba, está sendo traída e nem ao menos assume, hahahahaha!


Eu saí do local em disparada, mas mesmo as pessoas na rua me falavam coisas horríveis. Eu corria a esmo pelas ruas e acabei parando em beco sem saída, onde eu cai. Antes de tocar o chão, eu já estava em Hogwarts, só que em um cenário diferente do usual. Ela estava toda quebrada e tinha fogo por todos os lados, bem como pessoas duelando. Entrei em uma porta qualquer para me proteger e acabei encontrando aquele maldito banheiro. Fiquei paralisada com o que eu poderia encontrar lá, então rumei para a ultima cabine de reservados. Quando abri a porta da mesma encontrei Lysander e Victoire, de novo.


Quando eu acordei estava no meu quarto, da choupana de Neville, me senti bem melhor, mas ainda assim um pouco assustada. Aquelas fotografias, aquela viagem e o dia do banheiro estavam me assombrando, então respirei fundo para me acalmar e livrar-me desses pensamentos. Olhando no relógio de ponteiros na mesa de cabeceira constatei que já estava na hora de levantar, então foi o que eu fiz.


Desci as escadas, encontrando o cômodo central vazio. A mesa da cozinha ainda estava do mesmo jeito que deixamos na noite passada, então resolvi adiantar das coisas para Ana, já que me sentar no sofá e esperar estavam fora de cogitação. Por volta das oito horas, pude ouvir passos no andar de cima, então constatei que o casal havia acordado. O primeiro a descer foi o professor, trajando um roupão azul e pantufas combinando. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, me fazendo pensar que ele sempre acordava antes da esposa. Eu não se porque, mas eu sempre achei Neville um homem muito charmoso, bem como uma pessoa boa. Ele era o sonho de todas as mulheres, me surpreendo como não ouço histórias de que deram em cima dele.


-Bom Dia, Dominique! –disse ele animado. –Eu pensei que você tinha voltado para casa mais cedo quando vi sua cama vazia, fico feliz que não tenha mudado de idéia. –ele completou, me dando um breve abraço. Ah, se meu pai fizesse isso algum dia... Mas a única coisa que ele fazia era brigar e me proibir de fazer as coisas.


A outra pessoa a descer as escadas foi Ana, trajando uma camisola longa de plush e um chinelo de dedos. Seus longos cabelos loiros estavam presos em um meio rabo, deixando seu rosto a mostra. Ana tinha se tornado uma mulher muito bonita, comparada a garota das fotos e, considerando que Neville também não era bonito quando criança, formavam hoje o casal perfeito. Como se o destino estivesse aguardando a hora certa para a beleza de ambos florescerem e enfim se apaixonarem.


-Bom dia, querida! –disse ela toda carinhosa como sempre. –Vamos preparar nosso café da manhã? –perguntou ela olhando para nós dois.


-Vamos, claro!  -eu disse, sorrindo. –Eu tomei a liberdade de já colocar os pratos e xícaras na mesa. –informei.


-Ah, querida, não precisava, eu mesma ia colocar, obrigada! –ela disse, surpresa.


-Dommy acordou mais cedo que nós, acho que ficou entediada aqui sozinha. –Neville disse, rindo.


-Querido, você pode pegar um pouco daquela planta que você adora colocar na calda das panquecas? –ela perguntou, casualmente.


-“Aquela planta que você adora colocar na calda das panquecas”, sei... Posso sim! –disse ele rindo e saindo pela porta da cozinha para o frio cortante das manhãs do litoral.


-Nem eu sei como ele me entende. –disse Ana, depois que eu dei uma risada breve.


Depois de algum tempo batendo a massa, peguei uma concha e fritei as panquecas na frigideira enquanto Ana fazia a tal calda, sendo que minutos depois Neville voltou um punhado de folhas de cores exóticas. Quando ele as jogou na panela da calda, a mesma começou a borbulhar e um delicioso aroma que tinha traços de amora, jasmim e canela tomou conta do local, me fazendo inspirar o ar, lembrando-me da minha infância.


-Dommy, por que você se levantou tão cedo? –perguntou Neville, jogando a calda por cima das panquecas recém-feitas.


-Tive sonhos ruins e não quis voltar a dormir. –disse como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo e era.


-Ah, sim, eu vi que você estava agitada quando estava dormindo... -disse Ana.


-Como assim, você foi me observar dormir? –perguntei incrédula


-Fui... –ela respondeu, envergonhada.


-Ana tem o hábito de se levantar durante a noite. –explicou Neville, como se eu fosse a única que ainda não sabia disso.


-Ah, sim... Não tem problema, então. –eu disse sorrindo.


Depois de terminar o café da manhã e de arrumar a cozinha, fui para meu quarto, onde encontrei um elfo domestico arrumando minha cama. Me assustei pois não tínhamos um desses na minha casa. Mandei-o sair e depois troquei meus pijamas por uma saia branca e uma regata rosa bebê. Nos pés, coloquei uma sandália rasteirinha e soltei meu cabelo. Por ter dormido com ele preso em uma trança, ele estava ondulado do jeito que eu gostava. Assim que desci as escadas, encontrei o casal com roupas igualmente frescas. Ana disse que eles iriam para a praia e perguntou se eu queria acompanhá-los. Assenti e, fazendo uma aparatação compartilhada, chegamos rápido na praia deserta.


Assim que pisei na areia grossa, tirei minhas sandálias para sentir os grãos gelados entre meus dedos. Neville andava abraçado com Ana na beira do mar e eu me sentei na areia, olhando para o horizonte, pensando em tudo e sentindo nada. Desviou o olhar quando ouviu alguém chegando, mas logo constatou que era só sua irmã. Victoire se sentou ao lado de Dominique e começou a chorar. A garota a abraçou e disse entre soluços:


-Eu... Euconteitudopramamãeelaficoumuitobravaequermecolocarpraforadecasae... –ela disse tudo tão rápido que eu mal pude entender.


-Calma, Vickie, calma... –disse, tentando acalmá-la, passando a mão pelos longos cabelos loiros da irmã. –Respira fundo e me conta tudo o que aconteceu, vai...


Victoire respirou fundo e me disse:


-Eu não estava mais agüentando, então eu contei tudo para a mamãe. Você saiu de casa e eu não tive mais com quem conversar, ai eu contei que eu estou grávida. Grávida de Teddy. Ai ela começou a chorar e disse que era um absurdo, porque eu só tenho 16 anos e tudo mais...  Ela disse que não vai contar nada pro papai ainda, mas que eu vou ter que contar quando der para perceber.


-E que história é essa de querer te colocar pra fora de casa? –perguntei, assustada.


-É o que ela acha que papai vai fazer.


Respirei fundo, afastando este pensamento de minha cabeça. Se ela saísse de casa, o que seria de mim aguentando Gui sendo tão chato comigo e com Loius? E o que nosso irmãozinho iria pensar vendo a irmã mais velha grávida antes da hora? Fiquei conversando com Vickie o resto da tarde e me dei conta de que estava com fome por volta das 16h, então voltei para casa de Neville, dizendo a minha irmã que ela poderia ir para lá quando quisesse. Ela disse que não iria porque mamãe a proibiu de sair de casa e de ver Teddy nessas férias. Ao menos eu podia ver Lysander... Não podia?


Assim que cheguei na choupana de Neville, ele me entregou uma carta, dizendo que esta tinha chegado hoje na hora do almoço. Quando a abri, me deparei com a letra de Lurcan.


Querida Dominique,


Você disse para Lysander não lhe enviar mais cartas porque não estaria em casa, mas não falou nada sobre mim. Demorei um pouco pra descobrir onde você estava, mas agora eu já sei. Lysander está arrasado e nem está se interessando pela nossa caçada aos pequenos duendes das moedas. Mamãe acha que deve mandá-lo de volta para Londres, mas eu acho melhor que ele fique. A viagem está muito divertida, você deveria ter vindo. Meu pai acha que Lys está bravo com ele por causa dos animais que ele acha que existem, mas não existem. Me mande noticias!


Com Amor, Lurcan.

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