A promessa que fizemos



A condição de Ronald se transformou ao entrar em casa e ser recepcionado pela jovem esposa. Definitivamente, a vida amorosa do rapaz estava mais sossegada nesta versão estranha de sua vida, e, apesar, da calmaria, ele parecia estar feliz. Alegando cansaço, o rapaz se desvencilhou dos abraços e questionamentos da morena e se encaminhou direto para o banheiro. No caminho, um projetinho de gente lhe encontrou agarrando-se em suas pernas. Hugo tentava chamar a atenção do pai, desarmado pela demonstração infantil de afeto, o jogador pegou o menino no colo escutando a frase que se tornaria comum naquela nova e forçada rotina.


 


_ Papai, você fez gol no treino? – perguntou o pequeno.


 


_ Papai, sempre faz gol, Hugo! Mas, agora deixa o pai tomar banho senão a mamãe vai ter que brigar com os dois homens desta casa! – fala segurando o garotinho.


 


Com os braços livres, o jovem retoma a direção do chuveiro ainda escutando a conversa da “mulher” e do filho, que estranhamente, lhe arrancam um sorriso.


 


_ O pai joga muito né, mamãe? – pergunta alegre Hugo.


 


_ Joga sim, filho. Mas, papai precisa descansar quando chega em casa ta bom? – pede Hermione.


 


_ Mas, eu queria joga bola para ficar tão como o papai! – confessa inocentemente o pequeno.


 


Rony fecha a porta do banheiro consternado. Aquela teria sido a sua vida se não tivesse se transferido para o futebol italiano? Será que sacrificar a fama, o dinheiro e a oportunidade de jogar em um grande time seriam compensadas pela chance de ter novamente em sua volta aquelas pessoas? Se, realmente, estava preso naquela espécie de segunda versão de sua vida poderia descobrir se tomou a decisão correta. Independentemente da explicação para a nova atmosfera em que estava incluído, poderia se dar ao menos a possibilidade de vivencia-la intensamente. Pois, no fim das contas não tinha alternativa.


 


Ronald veste qualquer coisa e escuta o chamando de Hermione para a janta. O pequenino Hugo não dá descanso para o “pai” e questiona sobre todos os detalhes do treino e sobre quando veria o pai aparecendo na televisão. Já totalmente envolvido com o menino, Ron pega o filho no colo e explica minuciosamente cada atividade que realizou no treino. Fascinada pela interação dos dois homens de sua vida, Hermione libera o marido de qualquer coisa que geralmente ele faria na cozinha após a refeição. “Ela não pode, realmente, estar cogitando que eu vou ajudá-la a limpar isto aqui”, pensa o rapaz seguindo para a sala com o menino.


 


O menino parecia não se cansar jamais das brincadeiras com o pai naquela noite e exausto pelo treino, Ron termina por conceder a esposa a difícil tarefa de colocar o garotinho na cama. Estranhando, a moça se limita a concordar relevando a estranheza do amado pelo fato de já estar compenetrando no principal jogo de sua carreira. Há mais de 4 anos, Hermione se sentia em debito com o marido.


 


O namoro da adolescência nunca foi devidamente oficializado antes da notícia de que estaria esperando um filho do craque em potencial. Apenas duas semanas de contar a novidade a ele, um clube da Itália oferece dinheiro pelo passe do atleta, entretanto, a jovem em pânico declinou do convite de morarem longe da Inglaterra e ter que, consequentemente, tomar conta sozinha do filho. Com a contratação, sabia que Ronald passaria pouco tempo em casa e mesmo se comprometendo, dificilmente o casamento daria certo. Com a recusa da moça, Ronald a surpreendeu com um pedido de casamento quando a gravidez completou quatro meses.


 


Apesar das palavras nunca terem saído da boca do marido, a jovem sabia que em determinados momentos o rapaz se arrependera de ter atrasado significativamente a sua carreira. As convocações apenas para as categorias de base para a seleção eram as coisas que mais machucavam o rapaz. Enquanto, poderia ter se destacado na Itália e assegurado seu nome na Copa do Mundo, Ron figurou como reserva no pré-olímpico e teria que batalhar para conquistar um espaço entre os 11 titulares pelo menos nos Jogos Olímpicos. Ao contrário de Harry que orgulhava-se de estampar a braçadeira de capitão da equipe sub-23 da Inglaterra.


 


A final poderia representar a segunda chance do marido e Hermione torcia para que ele conseguisse garantir a vitória do modesto Sunderland e a vaga na primeira divisão do Campeonato Inglês, o que poderia tirá-lo do esquecimento no futebol. Contudo, a trajetória do casal não seria de maneira tão desejada alcançada. Ronald acorda com os choros do filho ao seu lado na cama do casal, irritado se dirige diretamente para o banheiro sem ao menos cumprimentar a família no novo dia.


 


O treino seria o último antes da viagem para o grande confronto e de extremo mau humor, o meio-campista do Sunderland seguiu para o treinamento sem sequer direcionar qualquer palavra afetuosa para mulher e filho. Harry nota o semblante carregado do companheiro, mas, pela má vontade em dividir os problemas nem tenta entender a atual situação do amigo.


 


Entretanto, dentro do gramado, Ronald se encontra consigo mesmo e é disparado o melhor jogador do time. Com o coletivo encerrado, o treinador frisa que na próxima manhã, todos deveriam se apresentar cedo no Centro de Treinamento para o encaminhamento para o embarque. Animado em deixar aquela rotina, Ronald chega em casa e corre para ajeitar sua mala, contudo, é surpreso ao encontrar a esposa já ocupada com a tarefa.


 


_ Achei que você chegaria cansado e já quis adiantar o seu serviço. – fala calmamente Hermione.


 


_ É, o treino foi meio cansativo... Mas, não precisava se incomodar... – responde, estranhamente, de maneira educada.


 


_ Imagina, Ron. Eu sei melhor do que você as roupas que prefere usar nas concentrações. – sorri – Então, que horas vocês vão amanhã?


 


_ Tenho que estar no estádio antes do meio-dia. – afirma o rapaz.


 


_ Fazia tempo que você não ficava tantos dias fora... Essa casa vai ficar tão silenciosa sem você e o Hugo quebrando as coisas com aquela bendita bola. – fala tristonha.


 


_ Achei que você já estivesse acostumada... – reluta em demonstrar alguma emoção.


 


_ Como se acostumar a estar longe do marido toda semana? – ela se aproxima – Eu sei que você adora o que faz, mas, não tenho como não sentir a sua falta, querido.


 


_ Você já pensou se eu tivesse ido para a Itália? – questiona.


 


_ Várias vezes e em todas, eu nunca imaginei como estaríamos juntos ainda. Nós tínhamos apenas 18 anos e um bebê para cuidar. Nós não estávamos prontos. Quero dizer, eu não estava pronta para abandonar todos aqui e muito menos... Para correr o risco de te perder. – confessa a jovem.


 


_ Seria tudo muito diferente do que temos hoje... Não que o que nós temos seja pouco... Só penso que seria diferente... – revela o craque.


 


_ Diferente não significa que seria bom. E eu nunca me senti tão feliz, tão realizada como quando você apareceu na porta da minha faculdade com aquela aliança e esse seu sorriso que eu tanto amo... Eu percebi que poderia enfrentar qualquer coisa com você. – confidencia a jovem.


 


_ Até mesmo a final do Campeonato? – brinca o jogador se referindo a mais importante partida de sua carreira naquela realidade.


 


_ Acho que sim. – sorri Hermione – Nervoso? – ele nega com a cabeça. – Milagrosamente, o seu filho dormiu cedo e eu pude começar a arrumar a sua mala... Mas, acho melhor terminarmos agora, não é?


 


_ O Hugo está dormindo? Hum... – sorri matreiro o jogador abraçando a esposa – Eu acho que quero aproveitar o meu tempo com você de outra maneira.


 


Hermione sorri da mudança de planos provocada pelo marido, mas, estranha a forma com que ele se porta. Diferentemente, da calmaria habitual, o beijo é intenso, precipitado, estranho demais. Contrariada, freia a obvia intenção do rapaz.


 


_ Ei! O que deu em você? – pergunta divertida.


 


_ Estou com pressa para ter você nos meus braços. Algum problema nisso, Hermione? – responde ironicamente.


 


_ Para, Ron. – interrompe novamente a troca de carinhos – Deste jeito... Eu... Não... – é calada por um beijo – Chega, Ronald! – repele o avanço do marido com irritação. – Eu não estou entendendo o seu jeito, ultimamente. – levanta-se incomodada.


 


_ Fala sério! Você fica cheia de declarações para mim até agora e quando eu tento qualquer coisa você me rejeita? Meu Deus! Não é como se eu tivesse que te conquistar toda vez que vamos transar... – fala ríspido.


 


_ Idiota! – Hermione pragueja antes de se retirar do quarto – Vê se arruma a sua mala, logo! – grita da sala.


 


Ronald esbraveja jogando roupas para dentro da mala semi-pronta. O que mais ela esperava dele? Eles não haviam se casado? Ele não havia jogado fora a chance de sua vida por ela e aquela criança? O que mais Hermione Granger poderia esperar dele? Decepcionada, Hermione inspeciona a cozinha atrás de alguma coisa para preparar para a janta do marido. Em seis anos de relacionamento, Ronald agira poucas vezes de maneira tão agressiva e inesperada. Desde que havia se entregado a ele, jamais permitiu que ele lhe tocasse sem antes reafirmar que a amava, que era completamente apaixonado por ela. Pela primeira vez em quatro anos de casados, ela se perguntou se aquela era realmente a vida que merecia ter.


 


 


 


 


 


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Mais um capitulo postado. A história é reduzida, apenas 5 capitulos. Então, agradeço pelos comentários e pelos leitores que estão acompanhando. Qualquer dúvida ou sugestão, por favor, comentem. Anima muito cada comentario postado! Até mais.


 

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